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Bruna Lago Santos CLIMATÉRIO O climatério consiste na fase de transição entre o período reprodutivo e não reprodutivo da mulher, que se caracteriza por mudanças endócrinas, biológicas e clínicas, englobando parte da menacme até a menopausa. o CLIMATÉRIO é o período fisiológico que se inicia desde os primeiros indícios de insuficiência ovariana, mesmo que os ciclos continuem regulares ou até ovulatórios, e termina na senectude ou senilidade que, por sua vez, se inicia aos 65 anos. Portanto, cada mulher pode iniciar seu climatério de forma diferente, tanto em cronologia quanto em relação aos sintomas (FEBRASGO). Vale ressaltar que nem sempre o climatério é sintomático. o PERIMENOPAUSA é o período "ao redor da menopausa", ou seja, é o período que compreende os anos que precedem a menopausa, já na presença de distúrbios da duração do ciclo menstrual e os doze meses que se seguem após o término das menstruações, até a confirmação definitiva da interrupção das menstruações. Pode preceder a última menstruação em dois a oito anos. o MENOPAUSA é um evento fisiológico e inevitável que ocorre devido ao envelhecimento ovariano e sua consequente perda progressiva de função. Geralmente, ocorre de forma natural no final da quarta e início da quinta década de vida, com variações devidas a diferenças étnicas, regionais, ambientais e comportamentais, como o tabagismo. A menopausa que acontece antes dos 40 anos, de forma espontânea ou artificial, é denominada de insuficiência ovariana prematura. É tardia, quando ocorre após os 52 ou 55 anos, dependendo da referência bibliográfica. o PÓS-MENOPAUSA é o período que se inicia 12 meses após a última menstruação e vai até os 65 anos. • CLASSIFICAÇÃO DAS ETAPAS DA VIDA REPRODUTIVA FEMININA: STRAW + 10 Essa classificação se divide em três categorias – reprodutiva, transição menopausal e pós-menopausa – e suas subdivisões, totalizando dez categorias descritas para uma terminologia padrão. O marco zero é representado pela menopausa. Esses critérios foram estabelecidos para auxiliar o diagnóstico e tentar uniformizar a nomenclatura utilizada em âmbito mundial. A BASE PARA DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO nos estágios reprodutivos são as mudanças observadas no ciclo menstrual. Os sintomas apresentados e critérios de apoio descritos (contagem de folículos antrais, dosagem de hormônio antimülleriano, inibina B e hormônio folículo-estimulante – FSH) NÃO são utilizados como critérios diagnósticos para mulheres saudáveis. Já para aquelas portadoras de ginecopatias, como a Síndrome de Ovários Policísticos (SOP) e insuficiência ovariana primária, ou aquelas submetidas a procedimentos cirúrgicos capazes de alterar o ciclo menstrual sem determinar o esgotamento total dos hormônios ovarianos (ablação endometrial, ooforectomia unilateral ou histerectomia), o diagnóstico e a classificação devem ser realizados baseando-se nos critérios de suporte e sintomas, pois mudanças no ciclo menstrual podem ser explicadas pela doença de base. • EPIDEMIOLOGIA De acordo com pesquisa do IBGE em 2015, a expectativa de vida ao nascer para as mulheres é de 79,1 anos, determinando aproximadamente metade da vida no período peri e pós-menopáusico, além do aumento exponencial do número absoluto de mulheres nessa fase. Em um estudo de base populacional realizado no sudeste do Brasil com mulheres entre 45 e 60 anos, a média de idade de ocorrência da menopausa foi de 46,5 ± 5,8 anos. Bruna Lago Santos • PATOGENIA Apesar de poder ser influenciada pelo eixo hipotálamo-hipofisário, a menopausa é um evento ovariano secundário à atresia fisiológica dos folículos primordiais. Ela pode ocorrer de forma natural ou artificial, após procedimentos clínicos ou cirúrgicos que levam à parada da produção hormonal ovariana. ➢ DINÂMICA FOLICULAR NAS ETAPAS DA VIDA DA MULHER o Durante a vida fetal, em torno da 20ª semana de gestação, existem aproximadamente sete milhões de folículos primordiais. Cada um deles contém um oócito "paralisado" na PRÓFASE da primeira divisão meiótica (diplóteno), até que o processo de ovulação se inicie. o Este pool de folículos imaturos vai se reduzindo dramaticamente, até que, ao nascimento, cada ovário possua cerca de um milhão de folículos primordiais. o Por ocasião da menarca, eles se restringirão a 300.000 a 400.000 folículos em ambos os ovários. o Durante a menacme, em cada ciclo menstrual, quase 1.000 folículos são recrutados e quase a totalidade deles sofre atresia ou morte celular programada ou apoptose, pois, em geral, apenas um é predestinado à ovulação. Desta forma, durante a vida reprodutiva, apenas 300 a 400 folículos serão ovulados. o O declínio paralelo da quantidade e qualidade dos folículos ovarianos contribui para a diminuição da fertilidade. Além disso, o consumo de pool folicular com o passar dos anos determina alterações hormonais importantes, responsáveis pelas modificações fisiológicas características do período peri e pós-menopausa. ➢ TRANSIÇÃO MENOPAUSAL Essa fase se caracteriza pela irregularidade do ciclo menstrual devido à variabilidade hormonal e ovulação inconstante. A diminuição maciça do número de folículos ovarianos resulta na queda gradual da inibina B que, por sua vez, desativa o feedback negativo sobre a hipófise, liberando a secreção do hormônio folículo-estimulante (FSH) na tentativa de aumentar o recrutamento folicular. Bruna Lago Santos O resultado dos níveis elevados de FSH é a aceleração da depleção folicular até o seu esgotamento (Fluxograma 1). Enquanto houver folículos suficientes, a ovulação ainda é mantida e os níveis de estradiol permanecerão dentro da normalidade. A contínua perda da reserva folicular diminui os níveis de estradiol que não são mais suficientes para estimular o pico de hormônio luteinizante (LH), encerrando, assim, os ciclos ovulatórios. Sem a ovulação propriamente dita, não há formação do corpo lúteo e, consequentemente, produção de progesterona. Além disso, os níveis de estradiol não são suficientes para estimular o endométrio, levando à amenorreia. ➢ PÓS-MENOPAUSA Na tentativa de estimular uma adequada produção de estradiol pelos ovários, a hipófise é ativada por picos de hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) e secreta grandes quantidades de gonadotrofinas, levando a um estado de hipogonadismo hipergonadotrófico. Devido à redução da resposta ovariana às gonadotrofinas, os níveis de FSH e LH são marcadamente elevados nos primeiros anos após a menopausa, decrescendo com o envelhecimento. O Hormônio Antimülleriano (AMH ou HAM), marcador do número de folículos ovarianos em crescimento, diminui para níveis indetectáveis na pós-menopausa. Em estudos recentes, o AMH tem se mostrado um ótimo preditor do envelhecimento ovariano. Com a diminuição da massa folicular, ocorre relativo aumento no estroma ovariano, porção responsável pela produção de androstenediona e testosterona. Em geral, a síntese dos esteroides androgênicos está diminuída, mas a produção remanescente é suficiente para manter os ovários ativos. Esses androgênios, principalmente a androstenediona, servem como substrato para a aromatização periférica. Na pós-menopausa, a mulher não é totalmente desprovida de estrogênio, que segue sendo sintetizado em níveis muito menores. No ovário, a produção de estradiol é quase nula. Já no tecido adiposo, por meio da aromatização periférica da androstenediona, a produção da estrona é mantida e, mesmo em pequenas concentrações circulantes, passa a ser o principal estrogênio na pós-menopausa. Quanto à progesterona, não há mais produção. ATENÇÃO: O diagnóstico do climatério é clínico. Não há necessidade de dosagens hormonais para confirmá-lo quando há irregularidade menstrual ou amenorreia e quadro clínico compatível. No entanto, níveis de FSH acima de 40 mUI/ml e de estradiol (E2) menores do que 20 pg/ml sãocaracterísticos do período pós-menopáusico. • CONSEQUÊNCIAS DO HIPOESTROGENISMO Existem receptores estrogênicos em diferentes concentrações em vários locais do organismo, como na pele, ossos, vasos, coração, diversas regiões do cérebro, mama, útero, vagina, uretra e bexiga. A redução nos níveis de estrogênio circulante produz efeitos diferentes em cada mulher. As características individuais determinam perfis diferentes de biodisponibilidade de estrogênios com repercussões próprias no metabolismo e quadro clínicolaboratorial de cada paciente, podendo resultar no comprometimento da qualidade de vida. Somente cerca de 15% das mulheres não apresentarão sintomas no período do climatério. ➢ ALTERAÇÕES NO CICLO MENSTRUAL A irregularidade menstrual é, em geral, a manifestação inicial da transição menopausal, com alteração na intensidade do fluxo, na frequência ou na duração da menstruação. Essa irregularidade resulta dos ciclos anovulatórios cada vez mais comuns e, Bruna Lago Santos consequentemente, as alterações no padrão de secreção tanto do estrogênio quanto da progesterona tendem a se iniciar com encurtamento dos ciclos e progredir para períodos de amenorreia cada vez mais longos até a parada total. A amenorreia prolongada é característica da deficiência de estrogênio. O padrão de fluxo menstrual também pode variar, sendo comum a ocorrência de sangramento aumentado. Na perimenopausa, o desenvolvimento de ginecopatias, como miomas e pólipos, é favorecido e, nos casos de sangramento intenso, é obrigatória a investigação e exclusão de afecções endometriais com atenção às hiperplasias e ao câncer de endométrio. ➢ SINTOMAS VASOMOTORES De acordo com algumas fontes, correspondem aos sintomas mais comuns da peri e pós-menopausa inicial. São encontrados em mais de 80% das mulheres. Consistem nos episódios de fogachos e suores noturnos. Os sintomas vasomotores parecem se associar ao aumento de risco cardiovascular, cognitivo e ósseo, além do impacto negativo na qualidade de vida. o FOGACHO: Manifesta-se como uma sensação súbita de calor intenso que se inicia na face, pescoço, parte superior dos troncos e braços, e se generaliza. Além disso, é seguida por enrubescimento da pele e subsequente sudorese profusa. Observa-se aumento do fluxo sanguíneo cutâneo, taquicardia, aumento da temperatura da pele devido à vasodilatação e, eventualmente, palpitação. Sua fisiopatologia não é totalmente conhecida. No entanto, sabe-se que a redução dos níveis séricos de estrogênio provoca alterações em neurotransmissores cerebrais, causando instabilidade no centro termorregulador hipotalâmico, tornando-o mais sensível a pequenos aumentos da temperatura corporal relacionados a alterações intrínsecas e ambientais. Outros fatores parecem estar relacionados, como as alterações nas concentrações hormonais e nos sistemas serotoninérgico, noradrenérgico, opioide, adrenal e autonômico. Cada episódio dura aproximadamente dois a quatro minutos e ocorre diversas vezes no decorrer do dia. É especialmente comum à noite, prejudicando a qualidade do sono e contribuindo para irritabilidade, cansaço durante o dia e diminuição na capacidade de concentração. A partir da transição menopausal, a duração média dos sintomas vasomotores é de 7,4 anos. Desse total, 4,5 anos são vivenciados no período pós- menopáusico. O tempo varia conforme a etnia. O início dos fogachos em estágios precoces da transição menopausal é o melhor preditor independente para a duração dos sintomas vasomotores. Também se relacionam à maior duração dos sintomas: Índice de Massa Corporal (IMC) elevado, tabagismo, grau de sensibilidade aos sintomas, ansiedade, percepção de estresse e sintomas depressivos. o ALTERAÇÕES NO SONO: Distúrbios do sono, incluindo menor duração, aumento nos episódios de despertar noturno e menor eficácia do sono, estão presentes em até metade das mulheres na pós-menopausa, com ênfase no período da perimenopausa, devido à flutuação hormonal. Os fogachos têm papel definido no quadro clínico, pois os episódios noturnos aumentam o número de despertares noturnos, contribuindo para um sono de menor qualidade. A menor duração do sono é responsável por sequelas orgânicas, como aumento da prevalência de hipertensão e diabetes mellitus. Além disso, consequências psicológicas são evidentes, produzindo cansaço e prejudicando atividades diárias. Depressão e ansiedade também estão correlacionadas. o ALTERAÇÕES NO HUMOR: Cerca de 65 a 89% das mulheres que buscam atendimento no período do climatério o fazem por sintomas depressivos. A variação dos níveis séricos de estrogênio parece estar mais associada com efeitos depressivos do que com a própria concentração hormonal Bruna Lago Santos absoluta. As mudanças evidentes desse período, a perda da capacidade reprodutiva e o próprio envelhecimento predispõem a distúrbios psicológicos associados, que também podem contribuir para o quadro depressivo ou ansiolítico. o ALTERAÇÕES COGNITIVAS: Na perimenopausa, há um aumento evidente nas queixas referentes ao declínio das funções cognitivas, com ênfase nas queixas de redução da atenção e alterações da memória. Durante a transição menopausal, 44% das mulheres reportam esquecimento. Surpreendentemente, esse percentual cai para 41% na perimenopausa tardia e pós-menopausa. Existem também queixas de piora na perda de memória verbal, processamento rápido de informações e demência. Com o passar dos anos, modificações no âmbito cognitivo são mais prevalentes. No entanto, o envelhecimento de forma isolada não explica completamente as alterações percebidas no período peri e pósmenopausa. É conhecido o papel modulador do estrogênio nos sistemas neurotransmissores, influenciando o desempenho nas tarefas de aprendizagem e memória, bem como sua ação no hipocampo e lobo temporal. Apesar do hipoestrogenismo estar intrinsecamente relacionado às alterações cognitivas, a fase de transição, que cursa com oscilações hormonais, parece ser a mais sintomática. Após período de piora da performance cognitiva na perimenopausa, observa-se retorno da capacidade usual no período pós-menopausa. Assim, o efeito do hipoestrogenismo nas funções cognitivas não parece ser permanente nas mulheres após a menopausa natural. Para aquelas que sofreram menopausa artificial, em virtude da queda abrupta dos níveis séricos dos esteroides ovarianos, incluindo os androgênios, os efeitos na cognição são mais importantes e parecem responder à TH quando iniciada no momento da ooforectomia. Convém pontuar que há controvérsias quanto aos benefícios da TH na cognição em mulheres na pós- menopausa recente. Quando iniciada próxima à transição menopausal, parece reduzir o risco de doença de Alzheimer em mulheres saudáveis. Quando iniciada em mulheres com mais de 65 anos, parece aumentar o risco de demência, não melhorando o desempenho cognitivo e não prevenindo a doença de Alzheimer. Por fim, não há dados conclusivos comparando os tipos de TH e seus efeitos no Sistema Nervoso Central (SNC). ATENÇÃO: O uso de TH não está indicado apenas com o objetivo de melhorar a função cognitiva. o ALTERAÇÕES EM PELE E FÂNEROS: CABELO Torna-se mais fino e pode aumentar o padrão de queda. ALTERAÇÕES OCULARES A síndrome do olho seco se caracteriza por irritação ocular, ressecamento, pressão, sensação de corpo estranho, aspereza, queimação e fotofobia. Esses sintomas parecem decorrer tanto da diminuição dos níveis de estrogênio quanto de androgênios. ALTERAÇÕES AUDITIVAS diminuição auditiva. PELE Também sofre os reflexos do hipoestrogenismo. Há um declínio do colágeno e da espessura da pele, principalmente nos primeiros cinco anos após a menopausa. Isto resulta no aumento da flacidez e das rugas e na redução da elasticidade da pele. Por outro lado, a pele seca é condicionada ao envelhecimento. PESO CORPORAL × CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINALO ganho de peso costuma ser erroneamente associado à menopausa. Na verdade, as mudanças hormonais se relacionam com o aumento da circunferência e da gordura abdominal e total, mesmo em mulheres magras. O padrão de distribuição da gordura passa de ginecoide para androide, o que propicia o acúmulo na região abdominal. A quantidade de gordura visceral também aumenta. ATENÇÃO: A circunferência abdominal representa a quantidade de gordura visceral e subcutânea e se correlaciona com o risco de doença cardiovascular e dislipidemia. o ALTERAÇÕES ATRÓFICAS: Duas alterações importantes merecem ser destacadas: a síndrome geniturinária (SGM) e a disfunção sexual, que podem se associar a efeitos psicológicos. Bruna Lago Santos SÍNDROME GENITURINÁRIA DA MENOPAUSA: A SGM, também conhecida por Atrofia Vulvo vaginal (AVV), corresponde a alterações histológicas e físicas da vulva, vagina e trato urinário baixo devido à deficiência estrogênica. Trata-se de uma condição comum que acomete quase metade das mulheres na menopausa. Possui comportamento progressivo se o tratamento adequado não for prescrito, afetando a saúde, a sexualidade e a qualidade de vida das mulheres acometidas. A vulva perde tecido adiposo dos grandes lábios e a pele se torna mais fina e plana, com rarefação de pelos pubianos. Os pequenos lábios perdem tecido e pigmentação. Em casos de atrofia intensa, pode ocorrer coalescência labial. A vagina passa a ser mais curta e estreita, diminui suas rugosidades, principalmente na ausência de atividade sexual. O epitélio vaginal torna-se fino e a lubrificação resultante do estímulo sexual fica prejudicada em decorrência da redução da secreção glandular. O epitélio também se torna bastante friável, com sangramento ao toque, e vulnerável a traumas. O pH vaginal está alcalino, com diminuição do número de lactobacilos, o que predispõe a infecções e vaginite atrófica. A uretra se encontra proeminente e hiperemiada. ● Genitais: ressecamento, ardência e irritação; ● Sexuais: ausência de lubrificação, desconforto ou dor (dispareunia e piora da função sexual); ● Urinários: urgência miccional, disúria, infecções recorrentes do trato urinário, piora da incontinência urinária preexistente. Em virtude do hipoestrogenismo, a piora das distopias genitais é facilitada. DISFUNÇÃO SEXUAL: É um reflexo dos quadros de dispareunia e do ressecamento vaginal. A vascularização vaginal é reduzida e a lubrificação não é efetiva. o ALTERAÇÕES ÓSSEAS E ARTICULARES: A osteoporose é uma doença sistêmica que se caracteriza pela diminuição da densidade óssea e alterações em sua microarquitetura, levando à fragilidade e predispondo a fraturas por baixo impacto. O equilíbrio entre formação e reabsorção óssea está afetado, resultando em perda de massa óssea de forma acelerada. Além do status menopausal, outros fatores de risco estão envolvidos, como sexo feminino, idade avançada, etnia branca ou oriental, baixo IMC, história pessoal ou familiar de fratura, baixa Densidade Mineral Óssea (DMO), uso de glicocorticoide oral, tabagismo, abuso de bebidas alcoólicas, sedentarismo e baixa ingestão de cálcio. As fraturas mais comuns relacionadas à osteoporose são as de rádio distal (Colles), de coluna vertebral e de fêmur proximal (quadril). Alterações articulares, além das fraturas ósseas, também fazem parte das queixas comuns das mulheres de meia-idade. Cerca de 50 a 60% das mulheres nesse período referem dor ou rigidez articular, que parece estar relacionada ao status menopausal. Receptores de estrogênio foram isolados nas articulações e sua ação nesses tecidos protege a estrutura biomecânica, mas ainda é controversa a associação da insuficiência estrogênica com a evolução das doenças que envolvem as cartilagens e as articulações. Evidências sugerem que o estrogênio exerce efeitos positivos sobre o metabolismo dos ossos, dos músculos e da sinóvia que, em conjunto, melhoram a saúde das articulações. o ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES E METABÓLICAS: Doenças Cardiovasculares (DCV), principalmente o Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), são as principais causas de morte em mulheres com mais de 50 anos no Brasil e no mundo. Os principais fatores de risco para DCV incluem a presença de ateroesclerose de grandes vasos, história familiar de DCV, hipertensão arterial (HAS), tabagismo, diabetes e a chamada Síndrome Metabólica (SM) – obesidade central, resistência à insulina, hipertrigliceridemia e dislipidemia. Na pós-menopausa, em função do hipoestrogenismo, o perfil hormonal passa a ser androgênico e a prevalência da SM aumenta, o que pode justificar parcialmente o aumento da incidência de DCV após a menopausa. Em virtude do novo perfil hormonal, perde-se a atividade protetora do estrogênio Bruna Lago Santos para eventos endoteliais e há o desenvolvimento de componentes da SM. Observa-se aumento da adiposidade central (intra-abdominal) e mudança para um perfil lipídico e lipoproteico mais aterogênico, com o aumento da concentração de colesterol total – às custas da lipoproteína de baixa densidade (LDL), dos Triglicerídeos (TG) e da redução de lipoproteína de alta densidade (HDL) – que consiste no principal preditor para eventos cardíacos isquêmicos. Constata-se também aumento da glicemia e dos níveis de insulina. • PROPEDÊUTICA DO CLIMATÉRIO ➢ AVALIAÇÃO CLÍNICA E EXAMES COMPLEMENTARES ANTES DO INÍCIO DA TH Anamnese + exame clínico: são essenciais antes do início da TH, pois orientarão a realização de outros exames complementares se houver suspeita de alguma contraindicação à medicação. Neste contexto, deve-se intensificar as precauções em relação ao sedentarismo, controle da pressão arterial e glicemia, tratamento da dislipidemia e das tireoidopatias, interrupção do tabagismo, tratamento da obesidade e investigar a história familiar em relação a doenças crônicas e neoplasias. Exames laboratoriais: recomenda-se a dosagem de colesterol total, HDL-colesterol, triglicerídeos e glicemia de jejum antes do início da TH. Mamografia (MMG): indicada na faixa etária dos 40 aos 74 anos, preferencialmente com técnica digital. ATENÇÃO: Embora a Ultrassonografia Transvaginal (USGTV) permita a avaliação da espessura endometrial e dos ovários, não há evidências que justifiquem a necessidade de sua realização antes do início da TH em mulheres assintomáticas. • TERAPÊUTICA HORMONAL CONVENCIONAL O termo Terapêutica Hormonal (TH) do climatério é usado para descrever durante a peri e a pós-menopausa: a) a terapia isolada com estrogênios, b) a terapia combinada de estrogênios/progestogênios, c) a terapia combinada de estrogênios/bazedoxifeno ou d) o uso de tibolona em mulheres. Os riscos e benefícios da TH diferem entre as mulheres na transição da menopausa em comparação àquelas com muitos anos de menopausa. O início da TH em mulheres com mais de dez anos de pós-menopausa pode se associar ao aumento do risco de Doença Cardiovascular (DCV). Por outro lado, se iniciada na peri e pós-menopausa inicial, a TH pode diminuir o risco cardiovascular, conceito conhecido como "janela de oportunidade", e reduzir a mortalidade geral. ➢ BENEFÍCIOS DA INDICAÇÃO DE TH Os benefícios do uso da TH incluem suas indicações consagradas e respaldadas por diversas sociedades médicas: ● Sintomas vasomotores; ● Síndrome geniturinária do climatério; ● Prevenção da osteoporose e de fraturas osteoporóticas, incluindo as vertebrais e de quadril; ● Insuficiência ovariana prematura. Outros benefícios da TH são apontados por evidências atuais: ● Melhora dos sintomas geniturinários; ● Melhora dos distúrbios da função sexual (libido, lubrificação vaginal e dispareunia); ● Redução da DCV (efeitos benéficos sobre a função vascular e níveis lipídicos); ● Redução de diabetes mellitus (efeitos benéficos sobre o metabolismo da glicose pela redução da resistência à insulina); ● Melhora da qualidade de vida.ATENÇÃO: Os benefícios secundários da TH (sobre os sintomas geniturinários, distúrbios da função sexual, na redução da DCV e diabetes), embora reconhecidos, não são considerados suficientes para indicação do seu uso na ausência das indicações consagradas. Bruna Lago Santos ➢ INDICAÇÕES DA TH As principais indicações da TH são para o tratamento dos sintomas vasomotores e da atrofia vulvovaginal e a prevenção da osteoporose e de fraturas osteoporóticas. SINTOMAS VASOMOTORES: O tratamento desses sintomas é considerado indicação primária para TH, especialmente para mulheres sintomáticas abaixo dos 60 anos e com menos de 10 anos de menopausa, sendo unânime em todos os recentes consensos sobre TH do climatério. ATROFIA VULVOVAGINAL: O principal objetivo do tratamento na atrofia vulvovaginal é o alívio dos sintomas, principalmente o ressecamento vaginal. Evidências apontam que os estrogênios tópicos vaginais são mais eficazes no alívio das manifestações atróficas vaginais em comparação ao placebo ou aos géis não hormonais. PERDA DE MASSA ÓSSEA: As evidências indicam que a TH, combinada ou isolada, pode ser indicada para prevenir e tratar a osteoporose em mulheres de elevado risco antes dos 60 anos ou dentro dos primeiros anos de pós-menopausa. No entanto, iniciar a TH com o único propósito de prevenir fraturas em mulheres após os 60 anos não é recomendado. Na manutenção da TH em mulheres após os 60 anos para prevenção ou tratamento da osteoporose, devem ser considerados os riscos em longo prazo quando comparada a outros tratamentos não hormonais de comprovada eficácia. SINTOMAS URINÁRIOS: Segundo as evidências disponíveis, mulheres na pós-menopausa que apresentam infecção urinária de repetição poderiam se beneficiar do uso da TH local com estrogênios vaginais, pelos seus efeitos na normalização da flora e de redução do risco de recorrência de infecções urinárias por paciente ao ano. FUNÇÃO SEXUAL: A TH sistêmica, ou estrogenioterapia local, pode melhorar a satisfação sexual por aumentar a lubrificação vaginal, o fluxo sanguíneo e a sensibilidade da mucosa vaginal e melhorar a dispareunia. Se a TH sistêmica está indicada para alívio dos sintomas vasomotores e a paciente relata diminuição da libido, as formulações transdérmicas são preferíveis à via oral. A TH não é recomendada como tratamento isolado da disfunção sexual. SISTEMA CARDIOVASCULAR: Dados atuais sugerem que os benefícios da estrogenioterapia isolada ou associada ao progestogênio superam os seus riscos, com menos eventos da DCV em mulheres saudáveis na peri e pós-menopausa inicial. DM: O risco de DM tipo 2 parece diminuir com uso da TH pela redução da resistência à insulina não relacionada ao Índice de Massa Corpórea (IMC). QUALIDADE DE VIDA: Neste contexto, a TH pode melhorar a qualidade de vida em mulheres na peri e pós- menopausa sintomáticas em resposta à melhora obtida com tratamento sobre os sintomas vasomotores e direcionados às desordens da função sexual, do sono e do humor. Entretanto, não existem evidências de que a TH melhore a qualidade de vida em mulheres assintomáticas. ➢ RISCOS DA TH Em consenso, a Associação Brasileira de Climatério (SOBRAC) considera que não há duração máxima obrigatória para o uso da TH. Ela deve ser suspensa quando os benefícios não forem mais necessários ou quando a relação risco-benefício for desfavorável. Situações de risco: CÂNCER DE MAMA: O aumento do risco de câncer de mama associado à TH é pequeno e estimado em menos de 0,1% ao ano, ou seja, uma incidência absoluta de menos de um caso por 1.000 mulheres por ano de uso. Esse risco é semelhante ou menor do que o aumento do risco associado a fatores como inatividade física, obesidade e consumo de álcool. Bruna Lago Santos TROMBOEMBOLISMO VENOSO: Embora seja raro em mulheres até 60 anos, o risco relacionado à TH para eventos tromboembólicos venosos graves aumenta com a idade e está associado positivamente com a obesidade e trombofilias. O uso de estrogênio transdérmico associado à progesterona natural parece ser mais seguro com relação à TEV, especialmente em mulheres de alto risco para eventos tromboembólicos venosos. Com base nas evidências atuais disponíveis, a terapia estrogênica transdérmica deve ser a primeira escolha em mulheres obesas com sintomas climatéricos. DOENÇAS DA VESÍCULA BILIAR: O uso da TH por via oral aumenta o risco de doenças da vesícula biliar. A via de administração transdérmica parece apresentar menor risco de doenças da vesícula biliar. ➢ INÍCIO E MANUTENÇÃO DA TH O momento do início da TH, a dose e a via de administração têm importante papel na tomada de decisão. A prescrição da TH exige a presença da clara indicação e a ausência de contraindicações, e deve ser instituída no início da insuficiência ovariana, na menor dose efetiva, visando melhorar a qualidade de vida da mulher, ou nos primeiros dez anos após a menopausa, dentro do conceito de "janela de oportunidade". Na avaliação de benefícios e riscos da TH, o tempo de manutenção do tratamento deve ser considerado de acordo com os objetivos da prescrição e com os critérios de segurança na utilização. CONTRAINDICAÇÕES: ● Presença de sangramento vaginal de causa desconhecida. ● Antecedentes pessoais de neoplasia hormônio-dependente (ex.: câncer de mama e câncer de endométrio). ● Lesão precursora para o câncer de mama. ● Doença hepática descompensada. ● Antecedentes pessoais de doença coronariana e cerebrovascular. ● Doença trombótica ou tromboembólica venosa – levar em conta a via de administração. ● Lúpus eritematoso sistêmico com elevado risco tromboembólico. ● Porfiria. ● Meningioma (apenas para o progestogênio, ou seja, para TH combinada de estrogênio e progestogênio). NÃO SÃO CONTRAINDICAÇÕES: ● Hipertensão arterial controlada. ● Diabetes mellitus controlado. ● Hepatite C. ● Antecedente pessoal de neoplasia hematológica. ● Após os cânceres: » De pele; » Ovariano (exceto subtipo endometrioide); » Cervicouterino escamoso; » Vaginal ou vulvar; » Colorretal; » Pulmonar; » Tireoidiano; » Hepático; » Renal; » Gástrico. ➢ REGIMES TERAPÊUTICOS CONVENCIONAIS o TERAPÊUTICA ESTROGÊNICA ISOLADA E COMBINADA A TH pode ser dividida em duas categorias: a) a terapêutica estrogênica isolada para mulheres histerectomizadas, e b) a terapêutica estroprogestacional, conhecida como terapêutica combinada. A adição do progestogênio para pacientes com útero é necessária para proteção endometrial, contrabalançando os efeitos proliferativos do estrogênio e diminuindo, dessa forma, os riscos de hiperplasia e câncer endometrial. TIPOS DE FORMA COMBINADA DE TH: Forma combinada do tipo sequencial: O estrogênio é administrado continuamente; e o progestogênio, durante 12 a 14 dias consecutivos ao mês. No esquema combinado sequencial, a taxa de sangramento é maior, aproximadamente 70% nas doses convencionais (2 mg de E2 ou 0,625 mg de EC), mas sendo previsível ao final do ciclo progestacional. Uma variante do regime sequencial é a administração intermitente do progestogênio cíclico, por 12 a 14 dias, a cada três/seis meses. Forma combinada contínua: O estrogênio e o progestogênio são administrados diariamente. No esquema combinado contínuo, as chances de sangramento são menores, porém a imprevisibilidade caracteriza sua Bruna Lago Santos eventual ocorrência. Os regimes combinados sequenciais são indicados na transição menopausal até os primeiros anos de pós-menopausa, e os combinados contínuos, na pós-menopausa. VIA ORAL: Na TH sistêmica, os estrogênios frequentemente empregados são os Estrogênios Conjugados (EC) e o estradiol (E2), na forma de 17β-estradiol micronizado, ou o valerato de estradiol. O E2 pode ser empregado por via oral, transdérmica (adesivo) ou percutânea (gel), enquanto o EC apenas pela via oral. Na via oral, o estrogênio é absorvido pelo trato digestório,atingindo o fígado pelo sistema porta para, após, atingir os órgãos-alvo pela circulação sistêmica, o que é denominado primeira passagem hepática. O fígado metaboliza o estrogênio absorvido, transformando-o em estrogênios menos potentes ou inativos. Como consequência, há menor biodisponibilidade, necessitando-se de doses maiores pela via oral do que pela via transdérmica ou percutânea. Além disso, os níveis hepáticos elevados de estrogênios ativam algumas vias metabólicas, resultando no aumento da globulina carreadora dos hormônios sexuais (SHBG), o que pode reduzir níveis séricos das frações livres do androgênio, assim como há aumento nos valores séricos de triglicerídeos e da lipoproteína de alta densidade (HDL) e redução da lipoproteína de baixa densidade (LDL). Pode ocorrer também estimulação do sistema renina-angiotensina e fatores de coagulação. Por fim, o efeito do metabolismo de primeira passagem hepática do estrogênio pode, potencialmente, resultar em alterações hemostáticas prótrombóticas, mas elas não são observadas em usuárias de estrogênio por via não oral. Essa é a explicação para o aumento do risco de TVP nas usuárias de estrogênios por via oral e o menor risco em mulheres com estrogênio não oral. VIAS TRANSDÉRMICA E PERCUTÂNEA: Os estrogênios administrados por via não oral atingem diretamente a circulação sanguínea, com nível hepático inferior à via oral, não ocorrendo a primeira passagem hepática e suas consequências metabólicas. Dados sugerem menor risco de TVP com a via transdérmica do que com a via oral do estrogênio. VIA VAGINAL: A via vaginal representa a primeira opção de tratamento na atrofia vulvovaginal para efeitos locais dos estrogênios. Apesar do efeito ser predominantemente local, os Estrogênios Conjugados (EC) e o estriol podem apresentar absorção sistêmica a depender da dose e do tempo de uso. A absorção do promestrieno não é considerada clinicamente significante. A estrogenioterapia vaginal consiste em uma dose diária de ataque de duas semanas (Ministério da Saúde), seguida por redução para um regime de manutenção de duas a três vezes por semana até alcançar a mínima dose que mantenha a integridade vaginal. Pode ser usada durante um a três meses para alívio dos sintomas, embora estes possam reaparecer após a interrupção do tratamento. Bruna Lago Santos Com a terapia estrogênica vaginal não é preciso associar progestogênios para proteger o endométrio nem recomendar monitoração endometrial, pois as baixas doses das preparações vaginais não apresentam absorção sistêmica significativa. o PROGESTOGÊNIOS Os progestogênios empregados na TH são agentes que induzem a modificações secretoras no endométrio previamente estimulado pelo estrogênio. São compostos sintéticos com atividade progestogênica obtidos a partir de modificações na molécula da própria progesterona, da testosterona ou da espirolactona. As características desejáveis. na escolha do progestogênio são: adequada potência progestacional, segurança endometrial e capacidade de preservação dos benefícios estrogênicos com mínimos efeitos colaterais Todos os progestogênios empregados na TH têm um efeito em comum, o efeito secretor no endométrio, selecionados por apresentarem adequada atividade após administração e biodisponibilidade. Entretanto, diferenciamse entre si quanto a outros efeitos que possam desempenhar. Não existem diretrizes claras para a escolha do progestogênio. A tendência atual é preferir os progestogênios mais seletivos aos receptores de progesterona. Os progestogênios mediam seus efeitos intracelulares modulando a transcrição de genes-alvo em células específicas através da ligação não apenas ao receptor da progesterona, mas também pela afinidade variada a outros receptores esteroides, tais como os glicocorticoides, mineralocorticoides e androgênicos. Podem apresentar efeito androgênico parcial (levonorgestrel, acetato de noretisterona) ou antiandrogênico parcial (ciproterona, drospirenona), com ação glicocorticoide parcial (AMP) ou antimineralocorticoide parcial (drospirenona), ou serem agonistas puros seletivos do receptor para progesterona (didrogesterona, trimegestona). Os progestogênios mais seletivos, como a progesterona natural ou a diidrogesterona, são menos antagônicos ao efeito de melhora do perfil lipídico observado com os estrogênios. Por sua vez, os progestogênios estruturalmente relacionados à testosterona, como a noretisterona, diminuem os benefícios sobre o perfil lipídico. Outra diferença entre os diversos progestogênios pode ser observada com a drospirenona, pelo seu efeito antimineralocorticoide, pela ação antagonista ao receptor de aldosterona e que pode resultar em diminuição da pressão arterial em mulheres hipertensas. Bruna Lago Santos SISTEMA INTRAUTERINO LIBERADOR DE LEVONORGESTREL: O sistema Intrauterino Liberador de Levonorgestrel (SIU-LNG) tem sido empregado como forma alternativa de proteção endometrial em regime de estrogenioterapia. A segurança da administração local da progesterona no endométrio está bem documentada ao longo de muitos anos de seguimento na contracepção e os benefícios do SIU-LNG, na TH, justificam sua utilização em mulheres na pós-menopausa. o TIBOLONA É considerada uma forma de TH, mas com características próprias. É um esteroide sintético derivado da 19- nortestosterona, com propriedades progestogênica (1/8 do acetato de norestisterona), estrogênica (1/10 do estinilestradiol) e androgênica (1/50 da metiltestosterona). Esses efeitos se dão por meio de três principais metabólitos, 3-alfa e 3-beta-hidroxitibolona, com afinidade pelo receptor estrogênico, e o delta 4-isômero, com afinidade pelo receptor progestogênico e androgênico. Esse mecanismo de ação tecidual específica da tibolona a difere da terapia estroprogestativa. Ela é empregada para alívio dos sintomas climatéricos e da atrofia vulvovaginal, e na prevenção da perda de massa óssea e de fraturas osteoporóticas. Em mulheres na pós-menopausa, a tibolona apresenta efeitos positivos sobre a sexualidade, o bem-estar e o humor. Ela pode melhorar a função sexual devido à ação androgênica da molécula e, indiretamente, por redução da SHBG e o aumento da testosterona livre com maior repercussão sobre os sinais e sintomas da deficiência androgênica como perda da libido, fadiga, sarcopenia e redução do bem-estar. Diferentemente da TH estroprogestativa, estudos relatam que a tibolona não estimula a proliferação mamária e não aumenta a densidade mamográfica, com baixa incidência de mastalgia. • TERAPÊUTICA HORMONAL BIOIDÊNTICA Terapêutica Hormonal Bioidêntica (THB) é aquela que se faz por meio de hormônios com estrutura química idêntica à observada naqueles naturalmente produzidos pela mulher. No entanto, o termo tem sido utilizado erroneamente apenas para os hormônios formulados em laboratórios de manipulação. Não há evidências científicas para sugerir e apoiar as alegações de que as manipulações dos denominados "hormônios bioidênticos" são mais seguras ou eficazes para tratar sintomas vasomotores e atrofia urogenital associada à síndrome climatérica do que à TH convencional. Por fim, convém pontuar que testes salivares para dosar esteroides sexuais não devem ser utilizados com o objetivo de adequar e individualizar as doses de hormônios, por demonstrarem imprecisão e não possuírem efetiva correspondência de valores hormonais séricos. • TERAPÊUTICA HORMONAL ANDROGÊNICA ● A indicação primária para o uso da testosterona é o tratamento das queixas sexuais (desejo, excitação e orgasmo), excluídas outras causas; ● Até o presente momento, não é recomendado o uso de testosterona em mulheres não estrogenizadas; ● Em mulheres com útero, o uso de testosterona não exclui a necessidade da utilização de progestogênio para proteção endometrial; ● A dosagem de androgênios séricos não deve serutilizada com o objetivo de se diagnosticar insuficiência androgênica; ● A terapia androgênica deve ser preferencialmente realizada por via transdérmica, com a finalidade de se evitar a primeira passagem de metabolismo hepático e suas consequências, e na menor dose suficiente para a resposta clínica adequada; ● Não se recomenda a utilização por mulheres de apresentações formuladas para o sexo masculino, pela dificuldade de ajuste de dose e risco de fornecer doses suprafisiológicas. Até o momento, não existe nenhum produto aprovado no mercado brasileiro para utilização feminina; ● A manutenção da terapia androgênica em mulheres na pós-menopausa deve ser condicionada à melhora dos sintomas que motivaram a indicação da prescrição. Bruna Lago Santos • FITOESTRÓGENOS Frente à enorme popularidade que estas substâncias adquiriram após os resultados não encorajadores dos estudos HERS e WHI, consideramos importante tecer alguns comentários a seu respeito. São definidos como compostos naturais semelhantes ao 17-β-estradiol encontrados em plantas e que, em tese, poderiam produzir efeitos similares aos estrógenos no organismo. Um grande número de classes destas substâncias já foi descoberto, sendo as mais extensivamente estudadas as isoflavonas e lignanos. Embora alguns estudos demonstrem uma melhora em sintomas vasomotores e na prevenção da osteoporose, a maioria dos trabalhos não revelou um efeito benéfico dos fitoestrógenos nos sintomas climatéricos. No entanto, por serem medicações inócuas e sem efeitos colaterais, muitos ginecologistas as prescrevem. Além disso, esta classe de medicamentos parece depender da transformação da daidzeína (fitoestrógeno) em equol por bactérias intestinais para exercer sua atividade e somente 30 a 50% das pessoas possuem estas bactérias, o que na prática as torna pouco úteis para a maior parte das mulheres. As principais plantas utilizadas como fitormônios na alimentação e como medicamentos ou suplementos alimentares para emprego em mulheres climatéricas são: soja (Glycine max), rica em isoflavonas e óleos essenciais; trevo-vermelho (Trifolium pratense), que tem entre seus componentes isoflavonas, óleos vegetais, derivados cumarínicos e óleos voláteis; raiz-daíndia (Cimicifuga racemosa), sendo os triterpenos os principais componentes e, em pequena quantidade, isoflavonas, resinas e taninos; yam mexicano (Dioscorea) rico em esteroides, fitogeninas, triterpenos e carotenoides; Vitex agnus castus (Verbenaceae), composto de flavonoides, terpenoides, óleos vegetais e iridoides; linhaça (Linum usita tissimun), rica em óleos essenciais, resinas, glicosídeos e lignanos; dong quai (Angelica sinensis), composta por esteroides, ácido linoleico, flavonoides; ginseng (Panax), cujo componente é o próprio ginseng; alcaçuz (Glycyrrhiza glabra), composta de isoflavonas, flavonoides, resinas e tanino; prímula (Oenothera biennis), rica em ácido linoleico. • TERAPÊUTICA NÃO HORMONAL PARA SINTOMAS VASOMOTORES MUDANÇAS DE ESTILO DE VIDA: Apesar de possuir efeitos benéficos sobre diversos aspectos da saúde física e psicológica do indivíduo, a realização de exercícios físicos aeróbicos não tem efeito benéfico comprovado sobre os sintomas vasomotores. Medidas de senso comum, como diminuição do consumo de álcool e cafeína, ingesta de alimentos e bebidas refrescantes, preferência por ambientes com temperatura amena e uso de roupas leves, são recomendáveis, apesar da escassez de dados provenientes de ensaios clínicos bem estruturados. ACUPUNTURA: Uma metanálise recente concluiu que a acupuntura é um tratamento complementar, ou isolado, para reduzir os sintomas vasomotores e melhorar a qualidade de vida, com a ressalva de que seu benefício clínico associado pode ser devido, em parte ou totalmente, a efeitos inespecíficos. Sua segurança no tratamento dos sintomas vasomotores não foi rigorosamente examinada, mas não parece haver danos potenciais significativos. FITOTERÁPICOS: As isoflavonas são uma classe de fitoquímicos que se ligam aos Receptores de Estrogênio (RE). Tem maior afinidade para RE-β do que por RE-α e possuem propriedades tanto como agonistas quanto antagonistas do estrogênio. As isoflavonas incluem genisteína, daidzeína, gliciteína, biochanina e formononetina. A genisteína e a daidzeína são encontradas em quantidades elevadas na soja e em produtos desta, assim como no Trifolium pratense L. (Red clover) kudzu e no amendoim. A eficácia terapêutica da suplementação de soja pode variar com base nas quantidades relativas de genisteína e daidzeína contidas nos diferentes suplementos. A Cimicifuga racemosa ou Actaea racemosa L. (Black cohosh) também é uma terapia medicamentosa alternativa utilizada para tratar os sintomas vasomotores, porém, os dados de ensaios clínicos sobre eficácia e segurança de uso são conflitantes. Outras composições contendo medicamentos alternativos, como erva-desão-joão, gingko biloba e ginseng, não tem eficácia comprovada contra os sintomas vasomotores. Não há segurança quanto ao consumo de soja ou isoflavonas por mulheres com histórico de câncer de mama. Atualmente, os fitomedicamentos aprovados pela ANVISA para o tratamento Bruna Lago Santos dos sintomas do climatério são os derivados de Glycine max L. Merr. (soja), Trifolium pratense L. e Actaea racemosa L. ou Black cohosh. Há uma grande quantidade de estudos sobre a eficácia desses produtos, porém, os dados têm pouco poder estatístico em razão de amostras pequenas, diferentes formulações, dosagens e duração de seguimento variada. Os processos de fabricação são múltiplos e a composição é variável. Portanto, são necessários mais estudos para comprovar se os suplementos com isoflavonas são eficazes para mulheres com sintomas vasomotores. FARMACOLÓGICOS: ISRS e ISRSN = Dentre as terapias farmacológicas, incluem-se alguns Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS), como paroxetina, escitalopram, citalopram, sertralina, e Inibidores Seletivos da Recaptação de SerotoninaNorepinefrina (ISRSN), como venlafaxina e desvenlafaxina, medicações que aumentam os níveis de serotonina e norepinefrina, ambas implicadas na origem das ondas de calor. Apesar de alguns dados conflitantes, tais antidepressivos se mostraram efetivos na redução dos fogachos em mulheres climatéricas. Metanálises recentes indicam que paroxetina, citalopram, escitalopram, venlafaxina e desvenlafaxina são os mais efetivos, reduzindo em cerca de 65% a frequência e a gravidade das ondas de calor, enquanto a fluoxetina e a sertralina parecem ser menos efetivas ou apresentam eficácia duvidosa. VENLAFAXINA É um antidepressivo inibidor da recaptação de serotonina-norepinefrina que tem sido estudado nas doses diárias de 37,5 mg, 75 mg e 150 mg para tratar as ondas de calor. Doses de 37,5 e 75 mg mostraram-se efetivas na melhora tanto da frequência quanto da gravidade das ondas de calor. Os efeitos adversos da venlafaxina incluem náusea, cefaleia, sonolência e boca seca, sendo mais comuns com altas doses da medicação. DESVENLAFAXINA O succinato de desvenlafaxina também é um ISRSN efetivo no tratamento dos sintomas vasomotores associados ao climatério. Mulheres pós-menopáusicas com ondas de calor moderadas a graves tratadas com desvenlafaxina, na dose de 100 a 150 mg, apresentam rápida redução de sintomas que se manteve mesmo após um ano do início do tratamento. O número de despertares noturnos também foi significativamente reduzido durante o tratamento. O perfil de tolerabilidade da desvenlafaxina é semelhante e consistente com outros ISRS/ISRSN, mas estudos não têm mostrado evidências de aumento de peso ou disfunção sexual, efeitos colaterais normalmente associados a tal classe de fármacos. PAROXETINA É um antidepressivo inibidor da serotonina que tem demonstrado ser um dos antidepressivos mais eficazes para tratamento das ondas de calor em doses que variam de 7,5; 10; 12,5e 20 mg/dia. Estudos sugerem que é adequado iniciar o tratamento com doses mais baixas, aumentando-se a dose se não houver resposta clínica. Os efeitos adversos mais frequentes do tratamento com os ISRS incluem náusea, sonolência, tonteira, boca seca e diminuição da libido, melhorando com o decorrer do uso. ESCITALOPRAM Nas doses de 10 a 20 mg/dia, tem se mostrado efetivo na melhora dos sintomas vasomotores. CITALOPRAM Existem poucos ensaios clínicos com número adequado de participantes que tenham avaliado os efeitos do citalopram de 10, 20 e 30 mg/dia comparado ao placebo. Houve melhora da frequência e intensidade das ondas de calor independentemente da dose utilizada. A dose de 30 mg não é recomendada para essa indicação em razão da toxicidade e dos poucos benefícios, em relação a doses menores. SERTRALINA Tem sido utilizada na dose de 50 mg/dia para tratamento das ondas de calor. Alguns estudos têm mostrado melhora significativa na frequência e intensidade das ondas de calor com essa dosagem. Entretanto, outros estudos não mostram uma melhora significativa. É importante ressaltar que todos os estudos usando sertralina para ondas de calor apresentam limitações significantes, o que dificulta a interpretação dos resultados. FLUOXETINA Na dose de 20 a 40 mg, tem mostrado resultados conflitantes. Alguns estudos indicam alguma melhora das ondas de calor, entretanto, resultados de metanálises mostram que a fluoxetina não diminui a frequência de ondas de calor diárias ou é pouco efetiva quando comparada ao placebo. Bruna Lago Santos AGONISTA ALFA-ADRENÉRGICO COM AÇÃO ANTIHIPERTENSIVA CLONIDINA É um agonista alfa-adrenérgico com ação anti-hipertensiva que atua mediante redução das reatividades vasculares central e periférica, e mostrou alguma efetividade na redução dos sintomas vasomotores. Alguns dos efeitos colaterais incluem boca seca, insônia e sonolência. Comparada aos antidepressivos, sua eficácia é menor. Por sua baixa eficácia e alguns efeitos colaterais, como tontura, hipotensão, cefaleia e boca seca, observados particularmente com doses mais elevadas, seu uso para tratamento dos sintomas vasomotores é limitado. A dose relatada é de 0,1 a 0,2 mg/dia. ANTICONVULSIVANTE GABAPENTINA (NEURONTIN ®) É um anticonvulsivante análogo do ácido gama-aminobutírico (GABA), cuja ação, embora pouco conhecida, parece envolver um efeito direto no centro termorregulador do hipotálamo, apresentando também efetividade para tratar os sintomas vasomotores. Sabe-se que atravessa a barreira hematoencefálica e mimetiza as ações do GABA. Tem sido estudada nas doses que variam de 900 mg/dia (divididas em três doses diárias de 300 mg) a 2.400 mg/dia, com redução de 50% nas ondas de calor. Os efeitos adversos mais comuns com o uso da gabapentina são tonteira, sonolência e edema periférico, mais frequentes nas primeiras semanas, mas melhoram com a continuidade do uso. A gabapentina, os ISRS e os ISRSN têm efeito parecido na redução dos fogachos. • CONSIDERAÇÕES FINAIS 1. A indicação primária de TH é para tratamento de sintomas climatéricos moderados a intensos (vasomotores). 2. Quando os sintomas forem somente vaginais, dá-se preferência à via vaginal de TH. 3. Progestogênios devem sempre ser indicados em mulheres com útero. 4. Jamais a TH deverá ser empregada apenas como prevenção primária ou secundária de doenças cardiovasculares. Não há evidência de benefício da TH em doença cardiovascular instalada, mas existe potencial para prevenção se iniciada na transição menopáusica (com base em estudos de observação). No entanto, não se recomenda a indicação da terapêutica apenas com a finalidade de proteção cardiovascular. 5. A TH não é indicada para prevenção de demência ou Alzheimer. 6. A TH deve ser sempre administrada no menor tempo e dose necessários para alívio dos sintomas. Vale lembrar que as baixas doses não foram testadas quanto à segurança e que, na verdade, seu uso se baseia em uma extrapolação: "já que a dose é menor, deve fazer menos mal”. 7. Sempre examinar por completo as pacientes antes do início da TH, dando-se ênfase ao sistema cardiovascular e à busca de um câncer de mama oculto. 8. Já antecipando um dos tópicos do próximo capítulo, ao se usar na prevenção da osteoporose, recomenda- se sempre pesar os riscosbenefícios e procurar terapias alternativas se a mesma tiver de ser mantida por mais de cinco anos Bruna Lago Santos
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