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Manual de da Educação Física aos Esportes Primeiros Socorros Ednei Fernando dos Santos O papel do Educador Físico no atendimento de Socorro Novas Recomendações Copyright © 2014, by Ednei Fernando dos Santos Direitos Reservados em 2014 por Editora Interciência Ltda. Diagramação: Wilma Gesta de Andrade Lima Revisão Ortográfica: Lara Alves Ferreira de Souza Maria Paula da M. Ribeiro Capa: Rejane Megale Figueiredo CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ S233m Santos, Ednei Fernando dos Manual de primeiros socorros da educação física aos esportes: o papel do educador físico no atendimento de socorro / Ednei Fernando dos Santos. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Galenus, 2014. 128 p.; il.; 23 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-63960-08-5 1. Educação física – Estudo e ensino. 2. Educação física – Avaliação. 3. Aptidão física – Testes. I. Título. 14-13147 CDD: 796.4 CDU: 796.42 É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização por escrito da editora. Galenus é um selo da Editora Interciência www.editorainterciencia.com.br Editora Interciência Ltda. Rua Verna Magalhães, 66 – Engenho Novo Rio de Janeiro – RJ – 20710-290 Tels.: (21) 2581-9378 / 2241-6916 – Fax: (21) 2501-4760 e-mail: vendas@editorainterciencia.com.br Impresso no Brasil – Printed in Brazil DEDICATÓRIA Dedico primeiramente esta obra a Deus, meu grande prote- tor, que me proporciona fé, força e sabedoria. A minha mãe Vilma e as minhas irmãs Rosângela e Regiane. A minha esposa Vanessa, que me acompanha nas batalhas do dia a dia. Aos familiares, amigos, colegas e meus alunos, que de alguma forma me motivam a continuar em minha trajetória. AgRADECImEnTos Agradeço primeiramente a Deus, pela oportunidade e por ser meu refúgio e minha fortaleza. Não poderia deixar de mais uma vez agradecer a toda minha família pelo apoio, da qual muitas vezes me ausentei de momentos e encontros familiares na busca incondicional deste projeto. Também agradeço meus mentores acadêmicos e profissionais, em espe- cial ao meu grande mestre Waldecir Paula Lima pelo ensinamento e por nos honrar com seu belo prefácio. Ao amigo Claudinei Ferreira da Silva, por compartilhar todo seu conhecimento e sempre acreditar no meu trabalho, proporcionando-me crescimento profissional e pessoal. Ao Capitão Diógenes Munhoz por confiar no meu trabalho junto ao Laboratório de Resgate da Escola Superior de Bombeiros e ser um grande incentivador dos meus projetos, além de nos honrar com suas palavras no segundo prefácio deste livro. À minha grande amiga e madrinha acadêmica, Profa. Érica Verderi, pessoa maravilhosa, com um coração enorme, a primeira pessoa a acre- ditar no meu potencial, me apoiou e contribuiu muito para a conquista desta obra. Agradeço a minha coorientadora, Profa. Maria Rita Aprile, pelas orientações e por me guiar em minha formação acadêmica, exemplo de ética e honestidade. VIII Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes À Mariana Cristina Silva Rojo, amiga e aluna dedicada que contri- buiu no processo de revisão escrita. Aos amigos de trabalho que compartilham todos os dias de meus sonhos e ideais. Aos amigos Vandilson Amador da Silva e João Souza Gomes, pela disponibilidade em contribuir com as imagens. Ao amigo e Mestre Roger Dionízio, por ceder seu espaço de traba- lho para a confecção das fotos e sempre apoiar meus projetos. Ao Professor Eliseu Aleixo, que sempre acreditou no meu potencial profissional, amigo conselheiro e incentivador. Ao Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, pela oportunidade de servir nesta grandiosa e valiosa corporação que tanto me proporciona conhecimento e novas experiências. PREfáCIo I Como pesquisador e professor universitário nas áreas de Educação Física e Saúde, tenho, ao longo desses meus 25 anos de carreira, conhe- cido inúmeros profissionais nestas e em áreas correlatas, tendo tido a oportunidade de colaborar na formação de muitos deles. Nesse universo acadêmico, contudo, poucos se destacam como indivíduos capazes de rea- lizar, de forma combinada, as atividades de pesquisa científica, docência e extensão com a mesma qualidade e o mesmo empenho apresentados por Ednei Fernando dos Santos. Essas qualidades por ele compartilhadas e que abrangem todos os aspectos da dedicação de um estudioso à so- ciedade são, certamente, não só decorrentes da grande vontade de gerar e transmitir conhecimento desse pesquisador/educador, mas também de seu caráter irretocável. A obediência a essa linha de conduta refletiu em mais uma produção científica e acadêmica do autor: um livro denomina- do Manual de Primeiros Socorros da Educação Física ao Esporte − O papel do Educador Físico no atendimento de socorro. A maioria das publica- ções semelhantes disponíveis não enfatiza a participação do profissional de Educação Física nas diversas situações do pronto-socorrismo. Desta forma, o presente livro vem suprir uma grande lacuna, justamente no momento em que se torna clara à comunidade científica e à sociedade civil a grande relação entre as ações desempenhadas por um profissional de Educação Física e a área da saúde. Não resta dúvida de que o autor, X Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes até por sua ampla experiência como socorrista profissional do Sistema de Resgate do Corpo de Bombeiros de São Paulo, é a pessoa mais adequada para promover essa discussão nesta publicação, que permite ao leitor co- nhecer os mais variados aspectos dos fenômenos em questão. A honra de ter colaborado na formação acadêmica do Ednei só é sobrepujada pela sa- tisfação em elaborar o prefácio de uma publicação tão necessária e atual. Waldecir Paula Lima Doutor em Ciências pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo – ICB/USP. Professor Titular do Instituto Federal de São Paulo – IFSP. Conselheiro do Conselho Regional de Educação Física da 4a Região – CREF4/SP. PREfáCIo II Foi com muito orgulho que recebi o convite do autor para escrever algumas breves palavras em um dos prefácios deste valoroso livro. Ao me deparar com a presente obra, Manual de Primeiros Socorros da Educação Física ao Esporte − O papel do Educador Físico no atendimento de socor- ro, constatei de imediato que se trata de uma obra farta de noções atuais de primeiros socorros, sendo uma abordagem atual, com linguagem dife- renciada e esclarecedora. Já conheço o autor há cerca de cinco anos e sei de sua competência na área operacional do Corpo de Bombeiros, e tam- bém tenho presenciado seu destaque como instrutor da Escola Superior de Bombeiros na cadeira de Atendimento Pré-Hospitalar, pois tem sido alvo de inúmeros elogios por parte do corpo discente dessa Escola. Creio que tal compêndio, além de ser muito atual, vem suprir uma lacuna com relação à abordagem e à estabilização de vítimas decorrentes de traumas e emergências médicas, pois infelizmente em nosso país ainda não se tem a consciência do socorro correto e eficaz. Casos como o do ex-jogador Serginho, na época profissional do time de São Caetano, não devem nunca mais fazer parte de nosso cenário esportivo, pois, como já é de conhecimento, um correto atendimento na área pré-hospitalar aumenta, em muito, as chances de sobrevida da víti- ma e deve ser amplamente divulgado. Hoje, em alguns países do mundo, temos o Atendimento Pré-Hospitalar como matéria curricular nos ban- XII Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes cos escolares, porém, aqui no Brasil esta realidade ainda é diferente, e iniciativas como a do nosso autor aproximam o leitor do conhecimento fundamental para o desenvolvimento de uma consciência coletiva em estabilizar e transportar de modo preciso vítimas decorrentes das diversas urgências neste livro apresentadas. Acredito fielmente que esta obra vem ao encontro de tais aspirações sociais e que direta ou indiretamente irá contribuirpara o seu fim maior, que é SALVAR VIDAS! Diógenes Martins Munhoz Capitão do Corpo de Bombeiros. Chefe do Departamento de Resgate e Emergências Médicas da Escola Superior de Bombeiros de São Paulo. APREsEnTAção Este livro foi elaborado com muita dedicação e entusiasmo, para servir como orientação e referência aos profissionais de educação física, treinadores, técnicos e demais especialistas envolvidos em atividades es- portivas e recreativas. Ao longo desta jornada de mais de 13 anos atuando como socorrista profissional e professor de educação física, pude perceber a deficiência de informações e orientações teórico-práticas de primeiros socorros aos profissionais desta área de atividades esportivas de competição ou não. Há também notícias de acidentes e ocorrências em meios esportivos re- latadas com frequência pela mídia. Fatos como estes me chamaram a atenção, tamanha a problemática, e percebi que precisava idealizar algo que pudesse incentivar, mediante o conhecimento de técnicas, mudanças nesse cenário e contribuir de forma positiva para o crescimento e aperfei- çoamento dos educadores físicos e pessoas ligadas ao esporte. Apresento o Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes − O Papel do Educador Físico no Atendimento de Socorro, obra que aborda conceitos, legislação e conduta profissional do educador fí- sico e orientações importantes diante de uma emergência. O livro traz inovações no ensino prático dos primeiros socorros, no qual o leitor con- segue acompanhar os procedimentos através de imagens claras e objeti- vas, o que facilita a leitura e a compreensão. XIV Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes O profissional de Educação Física e Esportes, independente de sua especificidade, deve ter conhecimento adequado sobre socorros, tanto nas emergências clínicas como traumáticas, para que este possa prestar um atendimento imediato e eficaz durante uma situação inesperada de emergência. É válido lembrar que geralmente o socorro é prestado por aquele que imediatamente chega ao local do fato, e no caso dos esportes ou aulas de educação física é o professor, técnico ou treinador, e “a vida da vítima está nas mãos de quem presta o primeiro socorro”. Esta obra contribuirá significativamente para que os profissionais da área de educação física, esportes e demais leitores desempenhem com mais confiança e clareza os procedimentos de primeiros socorros sempre que necessário, o que tornará o local de trabalho mais seguro. Uma excelente leitura! Ednei Fernando dos Santos sumáRIo Prefácio I .................................................................................... IX Prefácio II ................................................................................... XI Apresentação............................................................................... XIII Capítulo I PRIMEIROS SOCORROS .................................... 1 1.1 Aspectos Legais dos Primeiros Socorros ......................... 5 1.2 Omissão de Socorro ...................................................... 6 1.3 Leis do Bom Samaritano ............................................... 7 1.4 Protocolos .................................................................... 8 1.5 Lesões por Atividades Esportivas ................................... 9 1.6 Princípios de Primeiros Socorros na Educação Física ..... 11 1.7 Atuação do Profissional de Educação Física ................... 13 1.8 Dinâmica dos Acidentes na Educação Física .................. 15 1.9 Atualizações e Limitações .............................................. 17 1.10 Avaliação da Vítima .................................................... 17 XVI Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes Capítulo II PROCEDIMENTOS DE PRIMEIROS SOCORROS ........................................................................ 23 2.1 Precauções Universais ................................................... 25 2.2 Acionamento do Serviço de Emergência ........................ 27 2.3 Avaliação Inicial de Vítima ........................................... 28 2.4 Reanimação Cardiopulmonar ....................................... 30 2.5 Hipertermia (Insolação e Intermação) ........................... 40 2.6 Desmaio ....................................................................... 41 2.6.1 Sinais e Sintomas que Antecedem o Desmaio .... 42 2.7 Crise Convulsiva .......................................................... 43 2.8 Intoxicações .................................................................. 45 2.9 Queimaduras ................................................................ 50 2.9.1 Principais Causas da Queimadura ..................... 50 2.9.2 Classificação das Queimaduras .......................... 51 2.9.3 Extensão da área Queimada ............................. 52 2.9.4 Primeiros Socorros nas Queimaduras Químicas .. 55 2.10 Acidentes com Eletricidade ......................................... 55 2.11 Acidentes com Animais Peçonhentos........................... 56 2.12 Desobstrução de Vias Aéreas Superiores ...................... 60 2.12.1 Técnicas de Compressões Abdominais para Vítimas Conscientes (Manobra de “Heimlich”) .. 62 2.13 Afogamento ................................................................ 66 2.13.1 Fases do Afogamento ...................................... 67 2.13.2 Graus de Afogamento ..................................... 68 2.14 Acidente Vascular Encefálico ....................................... 72 2.14.1 Fatores de Risco para o AVE ........................... 73 2.14.2 Sinais e Sintomas ............................................ 73 2.14.3 Sinais Clássicos do AVE (Estudo de Cincinnati) . 74 Sumário XVII 2.15 Hipertensão ................................................................ 77 2.15.1 Sinais e Sintomas ............................................ 77 2.16 Infarto Agudo do Miocárdio ....................................... 78 2.16.1 Sinais e Sintomas ............................................ 78 2.17 Hemorragia ................................................................ 79 2.17.1 Hemorragia Externa ....................................... 81 2.17.2 Hemorragia Interna ........................................ 82 2.18 Choque ...................................................................... 84 2.18.1 Tipos de Choque ............................................ 85 2.18.2 Sinais e Sintomas do Choque .......................... 86 2.19 Ferimentos ................................................................. 88 2.19.1 Curativo e Bandagem ..................................... 88 2.19.2 Tipos de Ferimentos e Curativos ..................... 89 2.20 Fraturas ...................................................................... 91 2.20.1 Mecanismo de Trauma .................................... 91 2.20.1 Sinais e Sintomas ............................................ 92 2.21 Traumatismo Cranioencefálico (TCE) ......................... 95 2.21.1 Tipos de TCE ................................................. 96 2.21.2 Sinais e Sintomas do TCE ............................... 97 2.22 Trauma de Coluna Vertebral ....................................... 99 2.22.1 Sinais e Sintomas de Trauma de Coluna .......... 100 2.23 Transporte de Vítimas ................................................. 102 2.23.1 Transportes de Vítimas em Situações de Emergência .................................................... 102 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................... 107 Capítulo I PRIMEIROS SOCORROS Capítulo I • Primeiros Socorros 3 Podemos conceituar “Primeiros Socorros” como sendo o tratamento imediato e provisório ministrado a uma vítima de trauma ou doença fora do ambiente hospitalar. São procedimentos de emergência que devem ser aplicados a uma pessoa em perigo de vida, incluem reconhecer condiçõesque ameacem a vida, evitar o agravamento das lesões e manter as funções vitais até que se obtenha atendimento médico adequado. O termo PRIMEIROS SOCORROS refere-se a um atendimento pré-hospitalar que corresponde à contribuição que o Educador Físico, desde que devidamente informado, pode ministrar em situações ines- peradas do cotidiano. Primeiro socorro não significa apenas agir com rapidez e imediatismo, mas, sobretudo, competência e clareza quanto aos procedimentos a serem realizados. O primeiro socorro consiste na assistência prestada fora do ambiente hospitalar em todos os casos de lesões graves e que não substituem um profissional médico, enfermeiro ou bombeiro, aspecto este importante que deve ser enfatizado aos Educadores Físicos. Uma vez prestados os pri- meiros auxílios, posteriormente devemos transferir o acidentado ao recur- so hospitalar adequado para o tratamento definitivo. Na maioria dos pe- quenos incidentes não chega a demandar assistência médica, mas requer atendimento que não pode ser negligenciado. Atender uma vítima sem observar as técnicas adequadas e os protocolos estabelecidos, como Ame- rican Heart Association ou American College of Surgeons, significa quebra de protocolo e pode implicar processos judiciais além do agravamento das lesões. Os principais objetivos dos primeiros socorros são: 9 Reconhecer situações que ameacem a vida em curto espa- ço de tempo. 9 Acionar precocemente o serviço de emergência local. 9 Aplicar procedimentos que restabeleçam a circulação e a respiração, quando necessário. 4 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes 9 Controlar sangramentos e tratar dos ferimentos. 9 Minimizar o risco de agravamento de lesões e compli- cações. 9 Evitar infecções. 9 Promover o maior conforto possível para a vítima. Todo tipo de treinamento em primeiros socorros trará benefícios para as pessoas que assim necessitarem deste atendimento, como, por exemplo, nossos alunos, familiares, amigos, colegas de trabalho, clien- tes e desconhecidos. Para o socorrista tem um valor especial quando as técnicas forem empregadas de maneira correta e precisa e resultarem no salvamento da vítima assistida. Como socorrista, você deve ter em mente algumas palavras que irão direcioná-lo em uma possível situação de emergência: 9 Bom-senso. 9 Equilíbrio. 9 Voz de comando. Deve ser capaz de assumir a liderança em uma situação de emergên- cia e ser proativo, manter a calma enquanto trabalha sob pressão e orien- tar as demais pessoas a fazerem o mesmo. Demonstre tranquilidade e competência, escolha palavras de incentivo e ganhe a confiança e o apoio das pessoas presentes para que elas colaborem com os procedimentos empregados por você. O reconhecimento das situações de emergência é item fundamental no atendimento ao acidentado, pois o tempo de socorro é fator preponderante para a recuperação desta vítima e o aciona- mento precoce das equipes médicas possibilitará o tratamento hospitalar adequado e seu retorno às atividades da vida diária. Capítulo I • Primeiros Socorros 5 1.1 Aspectos LegAis dos primeiros socorros Todo profissional que tenha obrigatoriedade de prestar socorro, como, por exemplo, médicos, enfermeiros, dentistas, bombeiros, poli- ciais, professores e comissários de voo, estão sujeitos aos estatutos legais que regem a prestação de socorro. Estes profissionais, se assim omitirem socorro, estarão sujeitos a processos penais e responderão sempre pela consequência de sua omissão. A vida e a saúde são bens jurídicos indisponíveis, o dever de agir significa que existe obrigação legal de prestar socorro ou proporcionar atendimento de emergência, sendo que estes profissionais têm a posição de garantir a integridade da vida e não devem omitir a partir do mo- mento que aceitaram voluntariamente ou de forma contratual o dever de atuar. Assim, diante do exercício profissional, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado danoso e por este responderá. Dessa forma, os deveres durante o atendimento podem ser definidos legalmente da seguinte maneira: 9 Todo cidadão tem o direito de receber socorro em situa- ções de emergência. 9 O atendente não deve interferir nos primeiros socorros administrados por outros profissionais, e sim ajudar. 9 A vítima, em condições de entender os fatos, tem direi- to de recusar atendimento, e, neste caso, o atendimento não deve ser forçado, exceto em situações potencial- mente fatais. 9 Logo após o início do atendimento voluntário, não deve este interrompê-lo nem deixar o local até que seja dispen- sado por uma pessoa qualificada e responsável que admi- nistre o atendimento em um nível igual ou superior. 6 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes 9 Todo socorrista deve seguir procedimentos de emergência reconhecidos e aceitos que constem em protocolos atuali- zados sobre primeiros socorros, tais como: American Heart Association, National Safety Council e American College of Surgeons. 9 Durante o socorro deve-se respeitar e manter a privacida- de da vítima, revelando informações confidenciais somen- te quando questionado por profissionais especializados e desde que estas informações sirvam para o completo aten- dimento da vítima. 1.2 omissão de socorro O Código Penal (CP) brasileiro assim estabelece: Omissão de socorro, Artigo 135: Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública. Pena. Detenção de 01 (um) a 06 (seis) meses, ou multa. Parágrafo único. A pena é aumentada pela metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. Os primeiros socorros iniciam-se legalmente no momento em que a vítima é auxiliada. De acordo com o nível de treinamento, o socorrista tem o dever de prestar atendimento e permanecer no local até a chegada do pessoal qualificado, como o serviço de resgate do Corpo de Bombei- Capítulo I • Primeiros Socorros 7 ros ou SAMU. Será considerado abandono da vítima caso saia do local antes da chegada deste. Todo atendente de primeiros socorros deve lembrar-se que não foi trei- nado para elaborar diagnóstico médico para predizer as condições de estabi- lidade da vítima ou mesmo determinar o tratamento definitivo. Todavia, deve agir conforme as técnicas de atendimento pré-hospitalar estabele- cidas para o seu nível de treinamento e estar ciente de que poderá ser responsabilizado nos casos de: – Negligência: atender uma vítima sem observar as técnicas adequadas e os protocolos estabelecidos, provocando com isso agravamento ou lesões adicionais. – Imperícia: executar procedimentos acima do seu nível de treinamento, próprios da área médica ou de enfermagem, ou para os quais não foi devidamente habilitado. – Imprudência: não seguir adequadamente os padrões de atendimento ou executá-lo sem o devido zelo. 1.3 Leis do Bom sAmAritAno No aspecto jurídico a intenção também é analisada; como a vida é o bem maior, toda boa intenção de ajudar é analisada diante dos fatos. Visando proteger as pessoas que prestam os primeiros socorros contra possíveis processos judiciais, foi criada uma lei denominada lei do bom sa- maritano. Esta lei tem como objetivo proteger o socorrista, a menos que ele seja considerado culpado por negligência, ou seja, falta de cuidado, desatenção, indiferença, omissão ou descuido acidental. Classificamos como bom samaritano a pessoa que age com boa-fé durante uma situação de emergência, desprovida de maldade e malícia, 8 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes com a intenção de ajudar a vítima, e não espera receber em troca qual- quer recompensa financeira ou promocional. Não é negligente e sempre trabalha de acordo com protocolos de primeiros socorros atualizados.O socorrista deve ser solidário, respeitar a vítima, agir conforme seu treina- mento e dedicar-se da melhor forma possível e com competência. 1.4 protocoLos São manuais didáticos nos quais estão inseridos todos os procedimentos de Primeiros Socorros e que são orientados por padrões estabelecidos em con- selhos mundiais, através das maiores autoridades médicas internacionais no assunto. Ao atender uma vítima, deve-se utilizar os procedimentos estabele- cidos nos protocolos, aqueles que são ensinados em cursos de primeiros socorros. Caso contrário, haverá uma descaracterização do socorro, bem como se falhar ao aplicar as técnicas adequadas descritas onde outro so- corrista, nas mesmas circunstâncias e com o mesmo nível de treinamento teria realizado com sucesso. Por exemplo, sugar o veneno de serpente após uma picada já caracteriza descumprimento de protocolo, pois tal procedimento não é aplicado, não há comprovação da eficiência deste ato e tampouco está descrito em protocolos de atendimento, além dos riscos de infecção e contaminação tanto do ferimento como do prestador de socorro. Em relação ao agravamento de lesões e sofrimento, através do uso de técnicas e manipulações incorretas ou desatualizadas, constitui-se uma circunstância na qual o atendente, além de descumprir as recomenda- ções estabelecidas em manuais didáticos de atendimento, provoca dor e sofrimento tanto de ordem física como mental, gerando angústia, medo, aflição, entre outros, aumentando o tempo de recuperação e os custos hospitalares. Capítulo I • Primeiros Socorros 9 1.5 Lesões por AtividAdes esportivAs Muitos esportes ou atividades recreativas, como vôlei, basquete, handebol, futebol, tênis, mergulho e artes marciais, podem provocar lesões graves, e muitas destas podem ser causadas por força de desace- leração súbita ou por compressão excessiva, torção, hiperextensão ou hiperflexão. Nos últimos anos diversas variedades esportivas passaram a ser praticadas por um grande número de participantes ocasionais e recreativos, desprovidos em muitos casos de treinamento, condiciona- mento físico necessário e equipamento de proteção apropriado para a prática. Esportes e atividades recreativas incluem participantes de todas as idades, gêneros e classes sociais. Alguns esportes envolvem atividades po- tencialmente de alta velocidade, impacto e desaceleração, como skate, esqui aquático, ciclismo, patinação, rúgbi, lutas, baseball, passeios com veículos para qualquer tipo de terreno, etc. Tais tipos de atividades ex- põem os praticantes aos riscos do meio e de novas situações, o que leva à probabilidade de ocorrências traumáticas. As lesões de vítimas envolvidas em colisões com altas velocidades que são ejetadas de um patim, uma bicicleta ou um skate são semelhan- tes àquelas apresentadas quando a pessoa é ejetada do automóvel com a mesma velocidade, pois a quantidade de energia é a mesma. Quando o mecanismo de lesão envolve impacto com alta velocidade entre dois atle- tas, como, por exemplo, no choque entre dois ciclistas, fica difícil recons- truir a sequência exata de eventos com tanta precisão e com informações de testemunhas oculares. Em tais colisões, os traumas apresentados por um dos ciclistas servem como pistas para a identificação das lesões do segundo atleta. No geral, o socorrista necessita saber analisar a cena do acidente, avaliar todos os aspectos que envolveram o acontecimento, to- dos os meios envolvidos, pois através desta análise conseguirá associar o ocorrido aos ferimentos, às regiões do corpo do atleta que sofreram 10 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes traumas; por exemplo, se a cabeça de um dos atletas atingiu a região ab- dominal do segundo atleta, pode-se encontrar no local do acidente uma vítima de traumatismo cranioencefálico e outra vítima de hemorragia interna por trauma abdominal. Outro aspecto que se deve destacar são os equipamentos de proteção quebrados ou danificados, que também são importantes indicadores de traumatismos e que devem ser incluídos na avaliação da cena e na análise dos mecanismos de lesões. O capacete esportivo de proteção quebrado pode ser evidência da energia de impacto com que foi atingido. Como geralmente os materiais de proteção para esportes são feitos com materiais altamente duráveis, um desses equipa- mentos quebrados indica que houve um grande deslocamento de energia sobre este corpo, mesmo quando o mecanismo de lesão parece ser insig- nificante para gerar um trauma. Todo socorrista deve considerar seriamente os ferimentos provoca- dos por grande deslocamento de energia de impacto e assim realizar a avaliação inicial da vítima antes mesmo que ela seja removida do local do acidente, observando o mecanismo do trauma, como a energia que foi deslocada sobre a vítima, verificar se o atleta estava utilizando equipa- mento de proteção e se este equipamento foi danificado. Geralmente a capacidade de atletas suportarem impactos, quedas e desaceleração deve-se muito à prevenção, tanto no aspecto do profissio- nal de Educação Física que planeja sua aula, seu treino com segurança, como também por parte dos praticantes que utilizam equipamentos de proteção individual. Para que o socorrista perceba o potencial de lesão em vítimas de traumas relacionados a esportes, deve este iniciar o atendimento através da avaliação inicial da vítima, observando os princípios da biomecânica de cada modalidade esportiva e considerar cuidadosamente a sequência exata e o mecanismo das lesões. Capítulo I • Primeiros Socorros 11 1.6 princípios de primeiros socorros nA educAção FísicA O crescimento populacional desordenado dos grandes centros ur- banos resulta no aumento da necessidade de profissionais aptos na pres- tação de primeiros socorros, considerando ainda o tempo como fator preponderante no salvamento efetivo de vidas. Em razão de que a gran- de maioria da população não detém conhecimento técnico na área de atendimento de pronto socorrismo, costumeiramente nada é realizado entre o momento do ocorrido até a chegada das equipes de socorro. Tal lapso de tempo pode significar a diferença entre a vida ou a morte do ser humano. Portanto, é fundamental que o Educador Físico esteja alta- mente capacitado para intervir de forma correta e precoce em situações de emergências, possibilitando a redução de sequelas, o aumento da so- brevida e o retorno precoce dos acidentados as atividades esportivas ou diárias. Podemos dizer que o destino do acidentado está nas mãos de quem faz o primeiro atendimento. Os acidentes não escolhem hora e lugar para acontecerem e por isso deve-se ter o mínimo necessário de conhecimento em primeiros socor- ros. Nem todos os professores ou técnicos possuem a técnica apropriada sobre atendimento de socorro, e geralmente estes, quando se deparam com uma situação emergencial em sua aula, não sabem como proceder e optam por não fazer nada e aguardar o socorro especializado chegar, ou ainda optam por agir sem conhecimento, o que pode trazer sérios com- prometimentos ao estado da vítima. Existem alguns princípios básicos no momento de atender alguém em risco iminente: 9 como saber avaliar os aspectos de segurança relacionados ao próprio socorrista, se este tem os equipamentos básicos 12 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes de proteção individual, como luvas, óculos e máscara des- cartável; 9 preservar a segurança da vítima e verificar se está em local seguro para o atendimento; 9 verificar a segurança do local para todos que ali estão; 9 acionar o serviço de emergência da sua região; 9 saber utilizar o kit de primeiros socorros de forma correta; 9 ter autocontrole e assumir adequadamente a situação. No século passado, a grande maioria das pessoas vítimas de acidentes que davam entrada nos hospitais morria em decorrência de um atendimento inadequado de primeiros socorros, por vezes demorado ou inexistente.Atualmente, com a evolução médica e o atendimento adequado e seguro prestado pelas equipes de atendimento pré-hospitalar, conseguiu-se reduzir as taxas de mortalidades decorrentes de grandes traumas, possibilitando um retorno saudável às atividades diárias. Isto tudo também é válido na Educação Física, pois muitos atletas retornam às suas atividades esportivas devido ao atendimento correto. Ocorrências de mal súbito e traumas podem acontecer a qualquer momento em uma aula de Educação Física, o que pode levar à morte antes mesmo de a vítima chegar ao hospital. Os primeiros socorros têm como objetivo prevenir tais fatos, bem como diminuir as sequelas cau- sadas. A assistência começa no local da emergência e continua durante o trajeto até o hospital. A forma correta de atendimento de urgência no esporte através dos recursos básicos até a chegada dos recursos avançados é fundamental para evitar o agravamento das lesões, o mal súbito e outras intercorrências gra- ves, como, por exemplo, a parada cardiorrespiratória. É imprescindível a compreensão e o conhecimento de modo detalhado sobre primeiros Capítulo I • Primeiros Socorros 13 socorros pelo profissional de Educação Física, visando sempre à respon- sabilidade que devemos ter com os nossos alunos e atletas, sendo preciso em uma eventual emergência. 1.7 AtuAção do proFissionAL de educAção FísicA Alguns estudos realizados pela National Athletic Trainer’s Associa- tion – NATA (1989) demonstram que as taxas de lesões são relativamen- te altas nas escolas e nos clubes, onde o número aproximado de lesões sofridas por atletas e alunos é de 1,3 milhão por ano. Isso significa que mais de um em cada cinco atletas ou alunos podem necessitar de primei- ros socorros. Nas escolas, o professor é a primeira pessoa a presenciar o acidente, e como normalmente não há profissionais da área de saúde por perto, o professor de Educação Física deve prestar o socorro imediato, é possível afirmar que “A vida do acidentado está nas mãos da primeira pessoa que presencia o acidente”. A inclusão de disciplinas da área de saúde na grade curricular do curso superior de Educação Física, por exemplo, anatomia, fisiologia, estudo dos movimentos corporais, nutrição, estudo das doenças, primei- ros socorros, entre outras, vêm revelando atuações desses profissionais nas áreas biomédicas uma tendência bastante diferenciada nos tempos atuais. A lei pressupõe que, ao aceitar voluntariamente a função de pro- fessor de Educação Física, indiretamente você aceitou prestar os primei- ros socorros para qualquer acidente em seu ambiente de trabalho, sendo trauma ou emergência clínica sofrida por qualquer aluno sob a sua su- pervisão. Portanto, se não houver pessoas mais qualificadas para tal aten- dimento o professor de Educação Física é o responsável pela assistência emergencial. 14 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes Esse, ao atender uma vítima de acidente, deve adotar os procedi- mentos padrões que são aqueles descritos em protocolos atualizados de primeiros socorros e que são utilizados mundialmente nos cursos. O professor de Educação Física deve atuar também na prevenção de acidentes e lesões, mediante o uso de métodos de treinamentos adequa- dos, instrução segura e eficiente sobre as técnicas esportivas, supervisão próxima e constante, o que evita danos posteriores aos atletas lesionados e possibilita que recebam atendimento pré-hospitalar e hospitalar ade- quados. O Educador Físico atua como um elo entre os profissionais da emergência, e o atleta lesionado, através da assistência emergencial, na falta de um profissional da área da saúde. A prevenção de acidentes na Educação Física deve-se iniciar pela avaliação física e médica dos prati- cantes até a elaboração de um plano de emergência, que deve ser confec- cionado antes de os acidentes ocorrerem. Sabemos que nos esportes um bom planejamento pré-jogo é muito importante para o sucesso do atleta ou da equipe; isto também se aplica aos primeiros socorros na Educação Física. Entretanto, para lidar com as lesões e os acidentes de forma eficiente, o professor deve estudar muito e fazer um ótimo planejamento, no momento do acidente já deve possuir o conhecimento prévio em primeiros socorros, para não atuar através do método de tentativa e erro. As ações tomadas durante os primeiros minutos são cruciais, pois pode haver perda de sangue, edema, dificuldades respi- ratórias, fraturas, além de uma série de problemas colaborativos que po- dem agravar ainda mais o estado da vítima. Se as ações forem imediatas e de forma precisa, pode-se minimizar os danos causados pelos traumas, colaborando no processo de recuperação e consequentemente acelerar o retorno às atividades esportivas. Um plano de emergência correto deverá conter fichas médicas e anamnese dos alunos, conferir as instalações e os equipamentos do local de trabalho, equipar uma maleta com materiais de primeiros socorros, ter uma lista com todos os telefones úteis visíveis a todos, como Corpo de Capítulo I • Primeiros Socorros 15 Bombeiros, SAMU, Polícia Militar, hospitais, além de elaborar um bom plano de atuação contendo todos os passos a serem seguidos durante uma emergência. 1.8 dinâmicA dos Acidentes nA educAção FísicA A maioria dos eventos pode ser evitada através da prevenção de acidentes e conhecimentos em primeiros socorros, eliminando o risco de perdas humanas e materiais. Identificar o problema dos acidentes, a correção de erros passados para excluir acidentes futuros, garantindo crescimento sustentado do mercado esportivo, de recreação e também a credibilidade do profissional de Educação Física e assim interpretar a dinâmica dos acidentes, é quesito necessário a um bom e estratégico planejamento de aula. Os acidentes ocorrem em grande número e não escolhem hora e tampouco local, onde frequentemente temos a banalização dos mesmos, a maioria não é notificada ou divulgada. Poucas escolas, academias ou clubes investem em treinamentos e infraestrutura de emergência, sendo ainda raro encontrar kit de primeiros socorros e profissionais capacitados a utilizá-los da forma correta. As ocorrências mais comuns estão relacionadas ao mau planejamen- to, a subestimar o meio de atuação, o desrespeito às normas de seguran- ça, a falta de preparo técnico, os equipamentos adequados, o desconhe- cimento dos protocolos corretos e atuais para a prestação de primeiros socorros e a falta de liderança e controle emocional. Esta realidade po- derá ser revertida mediante a prevenção, que inclui respeito ao próximo e às regras de segurança, informação e treinamento adequado, educação continuada, qualificação e atualização, organização e planejamento e, so- bretudo, profissionalismo. 16 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes A manutenção dos registros de acidentes ou incidentes é parte es- sencial de um programa de segurança e prevenção. A documentação e o registro de relatórios auxiliam o desenvolvimento de treinamentos, equi- pamentos, atividades e condutas relacionadas ao mercado da Educação Física e do esporte. Os relatórios de acidentes devem ser preenchidos sempre que ocor- rer um acidente durante a atividade registrando-se todo o ocorrido, com data, hora e local, pessoas envolvidas, idade e número de vítimas, causa imediata e fatores contribuintes, tipo de lesão, consequências, ações to- madas e análise do ocorrido. Já nos relatórios de incidentes, transcreve todo o ocorrido em si- tuações estas sem vítimas, porém, que poderia ter ocasionado lesões. O relatório é também utilizado para repassar informações importantes para futuras atividades, prevenindo possíveis acidentes. Outro aspecto importante a ser comentado são os formulários de emergências, que devem ser utilizados durante ocorrências que requerem assistência ou socorro médico. O formulário deve ser desenvolvido de forma a ser preenchido rapidamente, contendoinformações necessárias para as equipes profissionais de socorro e resgate e para autoridades, vi- sando fornecer informações sobre o aluno ou atleta; tipo dados pessoais, telefone de contato, problemas preexistentes, tratamento médico, uso de medicamentos, alergias, grupo sanguíneo, entre outras informações. Este relatório pode ser substituído por uma ficha de anamnese ou ficha de avaliação de saúde do aluno/atleta, as quais são mais utilizadas pelos profissionais de saúde e que geralmente devem ficar em local de fácil acesso. Dessa forma, os danos, sejam eles materiais, ambientais ou huma- nos, muitas vezes são irreparáveis, porém, muitos deles podem deixar sequelas irreversíveis. Para familiares que perdem algum ente querido, não há dinheiro ou bem material que substitua o vazio deixado. Enten- demos a real importância que a educação, o treinamento, a qualificação Capítulo I • Primeiros Socorros 17 e a conduta ética dos profissionais de Educação Física consigam apontar para o real caminho a ser trilhado, para que todos possam juntos discutir claramente sobre vários aspectos que envolvem os acidentes nos esportes, desta forma podendo desfrutar de uma excelência inigualável da profis- são Educador Físico. 1.9 AtuALizAções e LimitAções Constantemente os profissionais da área médica se aperfeiçoam, e o Educador Físico não deve aprender os primeiros socorros uma vez e pensar que isso vale para a vida toda. Pode ter certeza de que as técnicas utilizadas no futuro serão muito diferentes e melhores do que os métodos ensinados hoje em dia, pois os protocolos de atendimento de primeiros socorros estão em atualizações constantes. Portanto, é muito importante que o professor de Educação Física mantenha-se atualizado em relação às novidades na área de primeiros socorros, leia artigos científicos, livros atualizados, participe de palestras, cursos e seminários e aprenda as téc- nicas atuais e modernas. Mesmo que se tenha adquirido bastante conhecimento sobre primeiros socorros, nunca tente realizar tarefas que cabem aos profissionais médicos, enfermeiros ou que estejam acima de seu nível de treinamento, pois será pu- nido por estes procedimentos. Reconheça suas limitações. 1.10 AvALiAção dA vítimA Ao chegar ao local do acidente, deve-se observar a biossegurança do socorrista, da vítima, e o local; em seguida, torna-se necessário realizar a avaliação inicial da vítima, onde se segue um processo ordenado de avaliação que visa identificar e tratar de imediato os problemas que 18 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes ameacem a vida em curto espaço de tempo. Esta avaliação também se torna importante para comprovar se não há outras lesões importantes. Assim, por exemplo, é possível saber se o acidentado caiu de cer- ta altura ou foi atropelado por um veículo, então, buscaremos traumas diversos. Rapidamente poderá determinar se há hemorragia externa ou interna, dificuldade respiratória, circulação, perda dos sentidos ou estado de choque, e que por sua gravidade deva ser atendido imediatamente. ¾ Deve-se inicialmente, sem antes tocar na vítima, observar a po- sição do corpo; se um membro apresenta posição muito anor- mal, provavelmente há fratura ou luxação. Também devemos observar a cor e a temperatura da pele, que poderá estar pálida, azulada, avermelhada, fria ou quente. ¾ Devemos priorizar o início da avaliação pelo crânio, observando se há ferimento no couro cabeludo ou saliências e depressões; verifica-se também hemorragias no ouvido, o que indicará pro- vável fratura de base de crânio. Convém examinar a boca para determinar se há corpos estranhos, como dentes quebrados ou prótese dentária solta, que na vítima inconsciente podem causar obstrução de vias aéreas superiores. ¾ No caso de envenenamento, o exame da boca pode mostrar queimadura por cáusticos. Enquanto se procede este exame, deve-se notar o hálito, que pode ajudar a determinar a causa da perda dos sentidos. Assim, por exemplo, o cheiro cetônico nos fará pensar em coma diabético, entre outros casos. ¾ Em seguida palpa-se a região cervical, para verificar ocorrências de irregularidades ou não na coluna cervical. O mesmo se bus- cará ao avaliar simultaneamente clavículas e ombros; observe a presença ou não de fraturas, luxações ou ferimentos. O exa- Capítulo I • Primeiros Socorros 19 me da coluna vertebral é um ponto muito importante, pois no caso de haver fratura. A falta de cuidados especiais ao mover ou transportar a vítima de forma inadequada pode causar danos irreversíveis. Se a vítima estiver consciente, poderá sentir dor aguda nas vértebras, caso sejam esmagadas. Esta dor pode irra- diar para os lados do corpo, às vezes em forma de cinturão, dor em toda cintura. Se a fratura comprimiu ou lesou a medula es- pinhal, pode haver perda de movimento e de sensibilidade nos membros inferiores, ou mesmo dos superiores. ¾ Continue o exame por toda região torácica e abdominal. Ob- serve se existem anormalidades, alterações de temperatura e coloração, sensibilidade, e se há ou não rigidez dos músculos da parede abdominal. Caso a vítima venha a apresentar alguns desses sinais e sintomas, deve-se suspeitar de lesões internas, provavelmente ruptura de algum órgão, tais como: rins, baço ou intestino. Dificilmente é encontrado afundamento das cos- telas, todavia, frequentemente observamos as fraturas que se manifestam, sobretudo por dor e desconforto respiratório, que aumenta com as inspirações profundas, com tosse e espirros ou na avaliação através da apalpação. Todos estes procedimentos podem ser realizados entre um ou dois minutos, dependendo da experiência do atendente. ¾ No entanto, para o exame detalhado da cabeça aos pés, pro- põe-se uma apalpação e inspeção visual realizadas pelo socor- rista, de forma padronizada, para identificar na vítima sinais de uma lesão ou um problema médico. Deve-se proceder ao exame da cabeça aos pés, com observação a ocorrência de: ferimentos ou deformidades, crepitação óssea, resistência ou dor ao movimento, instabilidade da estrutura óssea, sensibilidade, incapacidade fun- cional; deve-se obedecer à sequência: 20 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes 9 cabeça; 9 pescoço; 9 tórax e coluna; 9 abdome; 9 pelve e nádegas; 9 extremidades inferiores e superiores. Nestes anos de atuação profissional como bombeiro e professor, vejo a importância dos primeiros socorros diariamente, pois, diferente do que muitos pensam, o profissional mais importante durante o aci- dente não é necessariamente o bombeiro, o médico ou o enfermeiro, e sim aquele que primeiro se depara com a ocorrência, e que presta- rá a assistência imediata e posteriormente acionará apoio. Pude ainda neste tempo observar a necessidade de se efetuar uma boa avaliação da cabeça aos pés, onde, através do exame detalhado, o Educador Físico que prestar o atendimento inicial poderá identificar a lesão e não deixar despercebido nenhum tipo de trauma, informação importante também para as equipes de apoio como Resgate ou SAMU. Durante um de meus estágios da graduação de Educação Física, em uma academia, eu e ou- tro professor fomos acionados para prestar assistência a um aluno que havia desmaiado no vestiário; ao chegar no local, afastamos os demais que estavam ali e iniciamos a avaliação primária, com a qual verifica- mos que estava respirando e com batimentos cardíacos. Posteriormente iniciei o exame detalhado da cabeça aos pés, momento este em que fui questionado por colegas (“o que está fazendo, estagiário?”). Não me im- portando com isto, continuei, e ao retirar o boné do aluno e examinar detalhadamente sua cabeça encontrei um corte profundo na região occi- pital, juntamente com fratura de crânio, o que me levou rapidamente a priorizar o acionamento das equipes de emergência, informando via telefone as condições da vítima, e continuei a monitorar os sinais vitais.Capítulo I • Primeiros Socorros 21 Em acompanhamento ao caso, posteriormente fomos informados de que o mesmo teve traumatismo craniano e que se recuperava bem. Nossa atitude foi fator primordial nesta recuperação, toda a equipe médica agradeceu os primeiros socorros que foram prestados a este aluno, que hoje já realiza suas atividades da vida diária normalmente e sem sequelas. Em muitos casos, pessoas não preparadas ou com nível de conhe- cimento insuficiente para prestar socorro, mesmo em situações não tão graves, se colocam em um nível de estresse muito alto e entram em de- sespero, perdem o controle da situação e não conseguem manter a calma para realizar uma avaliação detalhada do acidentado, deixando para trás dados importantes, que podem agravar as lesões, ou mesmo não perceber a ausência de sinais vitais, como frequência cardíaca e respiratória. Capítulo II PROCEDIMENTOS DE PRIMEIROS SOCORROS Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 25 2.1 precAuções universAis Ao prestar os socorros imediatos, todo profissional deverá ter em mente que o acidente já ocorreu e não pode mais ser evitado. Sua presen- ça é para ajudar e minimizar os danos ocorridos e não se tornar a segunda vítima. Para isso, esteja atento a todas as medidas preventivas (figura 2.1), onde não haja riscos. Figura 2.1 Priorize a segurança do socorrista, da vítima e do local. O socorrista, ao prestar os primeiros socorros, deve utilizar barreiras de proteção (figura 2.2), conhecidas como EPI (Equipamento de Pro- teção Individual), básicas a todo atendente de primeiros socorros. São estes: ¾ luvas descartáveis; ¾ óculos de proteção; ¾ máscara descartável; ¾ avental descartável. 26 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes Figura 2.2 Equipamento de proteção individual completo. Os equipamentos de proteção individual objetivam proteger o so- corrista do contato com fluidos corporais que o acidentado apresente, como sangue, vômito, saliva, entre outros. Uma vez em contato com mu- cosas corporais (olhos, boca e nariz), estes fluidos podem trazer alguns riscos de doenças, assim, a proteção é fundamental. O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 135 – “Omissão de Socor- ro” afirma que o risco não pode ser produzido por aquele que tem o dever de garantir o atendimento. Assim, todo Educador Físico, como profissional da saúde e bem-estar, deve ter no mínimo um par de luvas em sua bolsa ou ambiente de trabalho. Desta forma estará preparado para atuar em uma situação inesperada e não alegar omissão por risco pessoal. Uma vez paramentado com o EPI, observe a vítima, se esta se en- contra em local seguro, caso haja risco de um novo acidente ou uma nova lesão, providencie a segurança da vítima, acione apoio e tente eliminar riscos potenciais. O local deve estar seguro tanto para o socorrista como para a ví- tima e os demais que estejam pelo local, se necessário, isole o local do acidente, afaste aqueles que não estão envolvidos e tenha certeza de que o socorro pode ser iniciado com segurança. Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 27 Após efetuar todas as medidas de segurança para o atendimento de primeiros socorros com eficiência: ¾ Peça o kit de primeiros socorros, caso tenha no ambiente de trabalho. ¾ Solicite que alguém acione o apoio necessário, RESGATE ou SAMU. ¾ Providencie a ficha de anamnese do acidentado. Obs.: Nesse momento já se deu início ao atendimento de primeiros so- corros. 2.2 AcionAmento do serviço de emergênciA Acione rapidamente o serviço de emergência de seu município pelos telefones 192 (SAMU) ou 193 (RESGATE) (figura 2.3). O Sistema 192 do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) é um serviço de atendimento médico de urgência, utilizado em casos de emergências com o foco clínico, como infarto, acidente vascular encefálico, crise convulsi- va, desmaios, entre outras. Já o serviço prestado pelo Corpo de Bombei- ros, através do sistema RESGATE – 193, tem como atuação as ocorrên- cias em vias ou logradouros públicos, aquelas catalogadas como acidentes de trânsito com vítimas; acidentes com lesões corporais traumáticas; ten- tativa de suicídio e afogamento. Não atuando em atendimentos domi- ciliares; transferências de pacientes entre hospitais; atendimento a casos psiquiátricos sem lesão corporal; prevenção e controle de pânico. 28 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes Figura 2.3 Ligue 192 ou 193 conforme a emergência. 2.3 AvALiAção iniciAL de vítimA Ao se deparar com uma emergência em aula, aproxime-se do aci- dentado e: 1) Estabilize manualmente a coluna cervical, impedindo que o mesmo realize qualquer tipo de movimento que possa agravar suas lesões, caso este seja uma vítima de trauma (figura 2.4). Figura 2.4 Estabilização manual da coluna cervical. Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 29 2) Verifique o nível de consciência, chamando-o três vezes: – (Nome) está me ouvindo, você me ouve, posso te ajudar? RESPONDEU: classifique como consciente. NÃO RESPONDEU: classifique como inconsciente. Acione as equipes de emergência (192 ou 193) e transmita esta informação, dados como esses são de extrema importância para os socorristas profissionais. Caso a vítima esteja consciente: 9 Apresente-se para a mesma, caso não a conheça; se conhe- cer, pergunte se lembra de você. 9 Questione sobre o ocorrido. 9 Informe que vai prestar o socorro e já acionou as equipes especializadas. 9 Se não tiver nenhum tipo de trauma, coloque-a em decú- bito lateral esquerdo. 9 Caso tenha trauma mantenha em decúbito dorsal com estabilização da coluna cervical; tendo o colar cervical, coloque-o no acidentado. 9 Trate as lesões e os ferimentos. Caso a vítima esteja inconsciente: ¾ Verifique os sinais de circulação. Verifique sinais de circulação que constatem circulação sanguínea, como movimentos oculares, respiratórios, movimentação de membros superiores e/ou inferiores, sons, tosse e gemidos, ou mesmo através da 30 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes apalpação do pulso carotídeo para adultos e pulso braquial para bebês. Faça uma inspeção rápida e precisa, não exceda mais de 10 segundos para esta constatação (profissional da saúde). Obs.: Se a vítima não atende quando chamada e não apresenta sinais de que esteja respirando e com batimentos cardíacos, após acionado o serviço de emergência, priorize o CAB (compressão/liberação das vias aéreas/boa ventilação), procedimento para reanimação cardiopulmonar. 2.4 reAnimAção cArdiopuLmonAr Consiste em um conjunto de procedimentos que visa reestabelecer os sinais vitais, usado quando são constatados ausência de batimentos cardíacos e movimentos respiratórios com inconsciência. Ao iniciar a avaliação de vítima usando a regra de memorização do CAB o socorrista ganhará tempo, possibilitando maiores chances de re- versão do quadro clínico da parada cardiorrespiratória. Inicie os procedimentos: • C – COMPRESSÕES TORÁCICAS Quando verificado que não há sinais de circulação: ¾ Exponha o tórax da vítima (figura 2.5). Figura 2.5 Exposição do tórax da vítima. Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 31 ¾ Coloque as mãos no centro do tórax, sobre o osso esterno e inicie as compressões (figura 2.6). (a) (b) (c) Figura 2.6 (a) Coloque 1 (uma) das mãos no centro; (b) Coloque a outra mão sobreposta à primeira; (c) Entrelace uma sobre a outra e comprima o centro do tórax. ¾ Verifique a idade da vítima e empregue a técnica adequada das mãos: 9 Bebê – utilize dois dedos. 9 Criança – uma das mãos. 9 Adulto – duas mãos sobrepostas. Bebê (0 a 1 ano) (figura 2.7) (a) (b) Figura 2.7 (a) Dois dedos para bebê, indicador e médio – técnica empregada com um socorrista; (b) Técnica dos dedos polegares, utilizada em dois socorristas. 32 Manual de Primeiros Socorros da EducaçãoFísica aos Esportes Criança (1 a 8 anos) (figura 2.8) Figura 2.8 Utilizar uma das mãos para realizar as compressões. Adulto (acima de 8 anos) (figuras 2.9) (a) (b) Figura 2.9 (a) Emprego das duas mãos para adulto; (b) Toda vítima deve estar sobre uma superfície plana e rígida. ¾ Desenvolvendo um ritmo de 30 compressões. ¾ Comprima rápido e forte (profundidade de compressão míni- ma de aproximadamente 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax, o que para o adulto e a criança equivale a cerca de 5 cm, e para o bebê, 4 cm) (figura 2.10). Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 33 Figura 2.10 Compressão torácica em criança, observando a profundidade de 1/3 da largura do tórax. IMPORTANTE: Durante as compressões permita que o tórax retorne totalmente (isto favorece o retorno venoso). ¾ Mantenha uma frequência mínima de 100 compressões por mi- nuto. Minimize as interrupções durante as compressões torácicas, quanto mais bombeamento fornecer ao coração maiores as chances de sobrevida. • A – VIAS AÉREAS Certifique a permeabilidade das vias aéreas superiores. Utilize a ma- nobra adequada para liberar as vias aéreas superiores. ¾ Vítima de Trauma: anteriorização da mandíbula (figura 2.11). ¾ Vítima de Emergência Clínica: inclinação da cabeça e elevação do queixo (figura 2.12). 34 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes Figura 2.11 Anteriorização da mandíbula para vítimas de trauma. Fonte: www.bombeirosemergencia.com.br Figura 2.12 Inclinação da cabeça e elevação do queixo para vítima de emergências clínicas. Fonte: www.bombeirosemergencia.com.br Rapidamente faça inspeção visual da cavidade oral, observando al- gum tipo de objeto, líquido ou corpo estranho que possa impedir a pas- sagem de oxigênio; caso tenha, retire rapidamente (figura 2.13). Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 35 Figura 2.13 Inspecione a cavidade oral da vítima; caso encontre algo que possa obstruir a respiração, retire rapidamente. • B – BOA VENTILAÇÃO Realize duas ventilações de resgate: ¾ Utilize barreira de proteção, como máscaras de ventilação (figu- ra 2.14a) ou insufladores manuais (figura 2.14b). (a) (b) Figura 2.14 (a) Máscara de ventilação com válvula unidirecional; (b) Insuflador manual. 36 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes ¾ Vede perfeitamente a máscara no rosto da vítima para o ar não escapar. ¾ Realize uma ventilação cada 6 a 8 segundos. ¾ Observe a expansão do tórax a cada ventilação; isso demonstra eficiência na ventilação, caso contrário, o ar não está passando corretamente para os pulmões. Verifique se não há obstrução das vias aéreas, libere novamente as vias e vede novamente a máscara ou insuflador. Todo procedimento de RCP pode ser feito por um ou dois socor- ristas; caso esteja em dois, enquanto o primeiro faz as compressões o segundo ventila (figura 2.15). Figura 2.15 Reanimação cardiopulmonar com dois socorristas, onde o primeiro socorrista comprime o tórax, e o segundo executa as ventilações ao final de 30 compressões. Realize todos estes procedimentos durante 2 (dois) minutos, ao final deste período verifique se a vítima retomou os sinais vitais (verifi- Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 37 cando pulso e respiração); não constatando retorno, inicie novamente todo o procedimento. A vítima deve estar posicionada sobre superfície rígida e plana, e a cada dois minutos deve-se trocar as funções dos socorristas (figuras 2.16 e 2.17). Figura 2.16 Priorize a RCP em dois socorristas, isto aumenta a eficiência dos procedimentos. Figura 2.17 Ao final de cada dois minutos, troque as funções entre os socorristas (rodízio). 38 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes IMPORTANTE: Observe todas as regras de execução das compressões torácicas citadas acima, comprima o tórax rápido e forte, na frequência de no mínimo 100 compressões por minuto, com profundidade de cerca de 1/3; o movimento de compressão deve ser de cima para baixo, com o socorrista mantendo o alinhamento dos braços e a vítima sobre superfície plana e rígida (figura 2.18). Figura 2.18 Técnica correta para a execução eficiente dos procedimentos de reanimação cardiopulmonar. A reanimação cardiopulmonar só deve ser interrompida: ¾ quando a vítima retomar os sinais vitais; ¾ durante a troca de socorristas ao final dos 2 (dois) minutos (não excedendo 10 segundos para a troca); ¾ ao passar a responsabilidade do atendimento para as equipes de emergências que chegarem ao local ou ao recurso hospitalar. Obs.: Em qualquer outro caso a RCP não deve ser interrompida. Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 39 Quadro 2.1 Resumo dos principais procedimentos de RCP RECOMENDAÇÕES DE PROCEDIMENTOS EM PARADA CARDIOPULMONAR ATUAÇÃO BEBÊ (0-1 ANO) CRIANÇA (1-8 ANOS) ADULTO (ACIMA DE 8 ANOS) COMO RECONHECER ? INCONSCIÊNCIA AUSÊNCIA DE BATIMENTOS CARDÍACOS AUSÊNCIA DE MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS SEQUÊNCIA DE ATENDIMENTO DA RCP C A B (COMPRESSÃO/VIAS AÉREAS/BOA VENTILAÇÃO) RELAÇÃO COMPRESSÃO E VENTILAÇÃO 30 × 2 1 SOCORRISTA 15 × 2 2 SOCORRISTAS 30 × 2 1 SOCORRISTA OU 2 SOCORRISTAS FREQUÊNCIA MÍNIMO DE 100 COMPRESSÕES POR MINUTO PROFUNDIDADE DE COMPRESSÕES MÍNIMO 1/3 DO DIÂMETRO ANTEROPOSTERIOR DO TÓRAX MÍNIMO 1/3 DO DIÂMETRO ANTEROPOSTERIOR DO TÓRAX MÍNIMO 5 CM RETORNO TORÁCICO PERMITIR RETORNO TOTAL A CADA COMPRESSÃO CICLOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE ALTERNAM SOCORRISTAS A CADA 2 MINUTOS LIBERAÇÃO DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES VÍTIMA DE TRAUMA – ANTERIORIZA MANDÍBULA VÍTIMA CLÍNICA – INCLINAÇÃO DA CABEÇA E ELEVAÇÃO DO QUEIXO VENTILAÇÕES 2 VENTILAÇÕES – 1 SEGUNDO POR VENTILAÇÃO ELEVAÇÃO VISÍVEL DO TÓRAX 40 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes 2.5 HipertermiA (insoLAção e intermAção) São acidentes provocados no organismo pela exposição prolongada ao calor ou ambientes malventilados. Diferencia-se a insolação da inter- mação, pois a primeira corresponde ao excesso de raios solares agindo diretamente no indivíduo, enquanto a segunda traduz a ação do calor em ambientes pouco arejados, durante um trabalho muscular intenso. Os fatores abaixo concorrem para o surgimento desses tipos de aci- dentes: ¾ Umidade – quanto maior a umidade relativa do ar mais difícil será a evaporação cutânea e, consequentemente, o corpo acu- mulará maior quantidade de calor. ¾ Ventilação – sem circulação constante do ar, o resfriamento torna-se difícil, ocasionando esses acidentes em indivíduos que trabalham em fundições, padarias ou próximos a caldeiras. ¾ Condições físicas – o excesso de trabalho aumenta a produção de calor pelo organismo, enquanto a fadiga muscular acumula substâncias tóxicas nos tecidos. A associação de ambos predis- põe ao acidente. ¾ Alimentação excessiva – aumenta também a produção de calor corporal. ¾ Vestuário – as roupas escuras e a lã favorecem o acúmulo de calor. Os sintomas decorrentes dos acidentes pelo calor são muito varia- dos. Podem aparecer de forma abrupta, levando a vítima a cair ao solo desacordada. Pode também apresentar palidez, elevação de temperatura corporal, insuficiência respiratória, cianose e até coma profundo. Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 41 Em casos leves podem surgir, dores de cabeça, náuseas, vômitos, dores abdominais, pele seca, quente e tonturas. COMO SOCORRER: ¾ Mantenha a pessoa em local arejado. ¾ Coloque a pessoa em decúbito dorsal. ¾ Afrouxe as vestes. ¾ Realize análise dos sinais vitais. ¾ Baixe a temperatura corporal utilizando compressas de água (temperatura ambiente). ¾ Se necessário dê banho de água na temperatura ambiente. ¾ Hiperventilação (abane a vítima com uma revista ou um jornal). 2.6 desmAio O desmaio consiste na perda transitória da consciência e do tônus muscular, fazendo com que a vítimacaia no chão. Pode ser causado por vários fatores, como subnutrição, cansaço físico e mental, exposição pro- longada ao calor, estresse, privação do sono, queda da pressão arterial, muito tempo em pé. Pode ser precipitado por nervosismo, angústia e emoções fortes, além de ser proveniente de alguns tipos de doenças, situa- ções estas que diminuem a oxigenação cerebral. Para facilitar o retorno da circulação periférica mais rápido para a parte central, mantenha a vítima deitada, verifique se há algum objeto em sua boca que possa atrapalhar sua respiração (bala, chiclete, prótese, entre outros) e retire. Jamais promova estimulação através de cheiro (com 42 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes álcool, éter, gasolina), pois se a pessoa for alérgica pode apresentar rea- ções adversas; evite estímulos dolorosos, como tapas ou beliscões. 2.6.1 sinais e sintomas que Antecedem o desmaio ¾ Tontura. ¾ Vertigem. ¾ Sensação de mal-estar. ¾ Náuseas. ¾ Pele fria, pálida e úmida. ¾ Suor frio. ¾ Fraqueza. ¾ Tremores. COMO SOCORRER: Diante de uma vítima que sofreu desmaio, devemos proceder da seguinte maneira (figura 2.19): ¾ Mantenha a vítima em decúbito dorsal. ¾ Libere as vias aéreas superiores. ¾ Monitore os sinais vitais (batimentos cardíacos e respiração). ¾ Mantenha o ambiente ventilado. ¾ Afrouxe as vestes da vítima. Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 43 ¾ Não permita aglomeração de pessoas no local para não atrapa- lhar e expor a vítima. ¾ Hiperventile (jornal ou revista). ¾ Não ofereça líquidos e alimentos. ¾ Encaminhe ao recurso hospitalar. Figura 2.19 Vítima de desmaio recebendo atendimento de primeiros socorros. 2.7 crise convuLsivA A crise convulsiva é um distúrbio no funcionamento cerebral provo- cado por alterações transitórias das funções cerebrais, que pode desenca- dear espasmos musculares involuntários, rápido piscar de olhos, salivação excessiva, alteração da frequência respiratória, preensão dentária (dentes cerrados), descontrole dos esfíncteres, podendo a vítima urinar e defecar no local, e se não for socorrida corretamente pode apresentar outras se- quelas, como fraturas, luxações, estiramentos musculares, além de outros traumas. 44 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes Várias situações podem desencadear uma crise convulsiva, por exemplo: ¾ epilepsia; ¾ intermação; ¾ envenenamento; ¾ hipoglicemia; ¾ febre alta em criança; ¾ fatores psicológicos; ¾ overdose (dose excessiva de drogas); ¾ abstinência alcoólica; ¾ lesão cerebral, tumor ou AVE; ¾ reações alérgicas; ¾ doença de Alzheimer. COMO SOCORRER: ¾ Proteja o corpo e principalmente a cabeça da vítima, pois os movimentos bruscos e involuntários podem fazer com que se machuque ao colidir com objetos ao seu redor. Deve-se então afastar tudo e amparar a cabeça da vítima. ¾ Afrouxe as roupas, especialmente ao redor do pescoço. ¾ Posicione a vítima de lado, se possível, para que escorra a saliva pela boca, colocando um pano/toalha embaixo da cabeça (figu- ra 2.20). Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 45 ¾ Nunca coloque a mão na boca de uma pessoa que estiver con- vulsionando e também nenhum objeto que possa se quebrar e machucar a boca e os dentes da vítima, ou serem engolidos, causando um engasgamento. Não há necessidade de puxar a língua da vítima, pois esta não vai “enrolar”. Figura 2.20 Durante uma crise convulsiva é importante que o socorrista preste assistência de imediato, impedindo sequelas adicionais como traumatismos e engasgamento. 2.8 intoxicAções Alguns casos de intoxicação (envenenamento) são ocasionados por tentativas de suicídio, muitos outros são acidentes e envolvem princi- palmente crianças. A identificação do agente tóxico e um conhecimento preciso do seu potencial de toxicidade são pontos-chaves para o atendi- mento inicial da vítima. O socorrista, ao avaliar a cena da emergência, pode suspeitar de intoxicação ao perceber recipientes no local, líquidos derramados, com- primidos, substâncias venenosas, cheiro forte no local, nas vestes e na vítima, ou naturalmente membros da família ou conhecidos informam o fato durante o socorro. 46 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes Além disso, os sinais e sintomas apresentados pela vítima podem indicar o caso de intoxicação ou overdose de drogas. Tóxico ou Veneno – é qualquer substância que afeta a saúde ou cau- sa a morte por ação química quando interage com o organismo. Intoxicação – é a emergência médica caracterizada por distúrbios funcionais ou sintomáticas causados pelo contato, pela ingestão, pela injeção ou pela inalação de substâncias tóxicas de natureza diversas. a) SUBSTÂNCIAS GERALMENTE ENVOLVIDAS ¾ Medicamentos – antidepressivos, analgésicos, estimulantes. ¾ Derivados de petróleo – gasolina, graxa, naftalina, cola. ¾ Cosméticos – esmalte, acetona, talco. ¾ Plantas venenosas – comigo-ninguém-pode, trombeta. ¾ Pesticidas, raticidas, agrotóxicos. ¾ Outros – drogas, alimentos contaminados, acidentes com ani- mais peçonhentos, produtos domésticos. b) VIA DE INGRESSO DO AGENTE NOCIVO ¾ Ingestão – deglutição de substâncias químicas, acidental ou in- tencionalmente. ¾ Inalação – aerossóis, pós, fumaças, gases. ¾ Absorção – contato com a pele. ¾ Injeção – inoculada através de seringas ou animais peço- nhentos. Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 47 c) ABUSO DE DROGAS ¾ Estimulantes – produzem excitação, pulsação e outros sinais vi- tais aumentados, boca seca, fala rápida, pupilas dilatadas, sudore- se e queixa de estar sem dormir por muito tempo. Exemplos: an- fetaminas, cafeína, drogas antiasmáticas, vasoconstritores e crack. ¾ Depressores – provocam lentidão, sonolência, falta de coorde- nação motora adequada, fala desarticulada, e os sinais vitais são diminuídos. Exemplos: diazepam, fenobarbital (sedativos). ¾ Alucinógenos – provocam pulsação rápida, pupilas dilatadas e face úmida. A pessoa relata “ver coisas”, “ouvir vozes” que não existem, têm pouca noção de tempo e podem não reconhecer o ambiente. Frequentemente a fala não tem sentido, muitos mos- tram sinais de ansiedade e medo. Algumas vítimas mostram-se agressivas, enquanto outras tendem a fugir. Exemplos: LSD, STP e outros ácidos. ¾ Narcóticos – provocam pulsação e respiração diminuídas e normalmente a temperatura corpórea é baixa, as pupilas estão diminuídas, os músculos relaxados e a sudorese são intensos. A vítima sente sono e não sente vontade de fazer qualquer coisa. Em overdoses, o coma é comum e pode ocorrer parada respirató- ria. Exemplos: morfina, heroína e ópio. ¾ Substâncias químicas voláteis – a vítima apresenta perda tem- porária com a realidade e pode entrar em coma; as membranas oral e nasal podem estar inchadas, a vítima relata formigamen- to ou entorpecimento dentro da cabeça, bem como enxaqueca. Pode ser notado um odor químico na respiração, na pele ou nas roupas da vítima. Exemplos: solventes em geral, substâncias de limpeza, cola de sapateiro e gasolina. 48 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes ¾ Álcool – é uma droga, apesar de socialmente aceita; o abuso de álcool, como qualquer outra droga, pode conduzir a enfermi- dades. Lembre-se que diabetes, epilepsia, ferimentos na cabeça (TCE), febres e outros problemas clínicos podem fazer a vítima parecer alcoolizada. Os sinais indicativos do abuso de álcool são os seguintes: • Odor de álcool no hálito ou em suas roupas; certifique-se de que o hálito não é cetônico, característica de um diabético. • Falta de equilíbrio e com movimentos instáveis sem coordenação. • Fala desarticulada. • Rubor, suor e queixa de calor. • Náuseas e vômitos. Obs.: A vítima pode apresentar crise de abstinência de álcool (Delirium Tremens), resultado da retirada súbita de álcool, nestecaso, notamos: 9 confusão e inquietação; 9 comportamento atípico de fúria ou agitação intensa; e 9 tremor nítido nas mãos e até crise convulsiva. Os sinais e sintomas gerais de intoxicação são: ¾ Queimaduras ou manchas ao redor da boca. ¾ Formação excessiva de saliva ou espuma na boca. ¾ Odor inusitado no ambiente, no corpo ou nas vestes. ¾ Respiração rápida e superficial. Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 49 ¾ Pulso alterado na frequência e no ritmo. ¾ Sudorese. ¾ Alteração do diâmetro das pupilas. ¾ Dor abdominal. ¾ Náuseas e vômitos. ¾ Diarreia. ¾ Hemorragias digestivas. ¾ Distúrbios visuais. ¾ Tosse. ¾ Reações na pele, desde irritação até queimaduras. ¾ Coceiras e ardência na pele. ¾ Picadas e mordidas visíveis na pele com dor ou inflamação. ¾ Convulsões. COMO SOCORRER: ¾ Não se esqueça de utilizar os equipamentos de proteção indivi- dual, principalmente nestes tipos de ocorrências, pois o socor- rista também pode ter contato com o meio tóxico. ¾ Remova a vítima do local de risco, atenção a locais com fumaça e gás. ¾ Realize análise dos sinais vitais. ¾ Remova as roupas do acidentado. 50 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes ¾ Nos casos de contato da pele com substâncias químicas, lave com água limpa ou soro fisiológico, a fim de remover o máximo de substâncias. ¾ Mantenha a temperatura corporal estabilizada. ¾ Vítimas que não sofreram trauma e estão inconscientes devem ser posicionadas e transportadas em posição de recuperação (de- cúbito lateral esquerdo). ¾ Vítimas conscientes que apresentem dificuldade respiratória de- vem ser posicionadas e transportadas em posição semissentada. ¾ Transporte junto com a vítima resto da substância, recipientes, aplicadores de drogas ou vômitos para o pronto socorro. 2.9 QueimAdurAs A queimadura é uma lesão produzida nos tecidos de revestimento do organismo (pele) e pode ser causada por agentes térmicos, químicos, elétricos, radioativos e biológicos. As queimaduras podem lesar a pele, os músculos, os vasos sanguíneos, os nervos e os ossos. 2.9.1 principais causas da Queimadura ¾ Térmicas – por calor (fogo, vapores quentes e objetos quentes) e por frio (gelo e objetos congelados). ¾ Químicas – substâncias ácidas e substâncias álcalis. ¾ Elétricas – materiais energizados e descargas atmosféricas. Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 51 ¾ Substâncias radioativas – césio-137, cobalto-60 e criptô- nio-85. ¾ Luz intensa – raios ultravioletas e raios solares. ¾ Biológicos – águas-vivas, lagartas. 2.9.2 classificação das Queimaduras As queimaduras são classificadas quanto a sua profundidade e à extensão de área atingida da pele. ¾ Profundidade Primeiro grau – atinge somente a epiderme (camada mais super- ficial da pele). Caracteriza-se por dor local e vermelhidão (ardência). Exemplo: queimaduras solares. Segundo grau – atinge a epiderme e a derme. Caracteriza-se por dor local, vermelhidão e aparecimento de bolhas. Terceiro grau – atinge todas as camadas (tecidos) de revestimento do corpo, como também os tecidos subcutâneos adjacentes e os vasos sanguíneos. Caracteriza-se por pouca ou quase nenhuma dor, devido à destruição das terminações nervosas da sensibilidade, pele seca, caracte- rísticas de carbonização da pele, áreas de vermelhidão devido às queima- duras de 1o e 2o graus ao redor da queimadura de 3o grau. Quarto grau – neste tipo de queimadura as lesões são mais pro- fundas, e geralmente ocorre carbonização; além de todas as camadas da pele destruídas, existe comprometimento dos tecidos muscular, adiposo, 52 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes ósseo, podendo atingir também órgãos internos, o que pode implicar incapacidade funcional da região acometida. O diagnóstico da profundidade da queimadura e extensão de área cutânea atingida representa uma das prioridades durante o atendimento a este tipo de vítima. 2.9.3 extensão da Área Queimada A extensão da área queimada é estimada através da porcentagem da área da superfície corporal atingida. Nesse caso, é aplicado o método da regra do nove que parte do princípio que as grandes regiões do corpo do adulto representam 9 % da área de superfície corporal total, sendo o pe- ríneo correspondente a 1 % e nas crianças as grandes regiões representam 18 % de área de superfície corporal (tabela 2.1). tabela 2.1 Classificação da Regra do Nove região do corpo Adulto criança Cabeça e pescoço 9 % 18 % M.M.S.S. 18 % 18 % Tronco anterior 18 % 18 % Tronco posterior 18 % 18 % M.M.I.I. 36 % 27 % Genitais 1 % 1 % total 100 % 100 % Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 53 COMO SOCORRER: ¾ Avalie as condições de segurança do local. ¾ Interrompa o contato da vítima com o agente lesivo (térmico, químico, elétrico). ¾ A irrigação da área queimada com grande volume de água à temperatura ambiente representa o método mais efetivo e ade- quado no atendimento de primeiros socorros às vítimas de queimaduras (figura 2.21). Figura 2.21 Irrigue a área queimada com soro fisiológico ou água na temperatura ambiente. ¾ Além disso, é muito importante remover qualquer tipo de obje- to (p. ex., anéis, pulseiras e relógios). ¾ Finalmente, a região acometida deve ser coberta (protegida), pre- ferencialmente com gaze ou pano limpo e umedecido, para se evi- tar a contaminação da lesão (figura 2.22). Nas grandes queima- duras, caso necessário, aqueça a vítima, prevenindo a hipotermia. 54 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes Figura 2.22 Cubra o local da queimadura com gaze ou pano umedecido. ¾ Caso ocorra a formação de bolhas, não perfure estas. Impeça a aplicação de qualquer tipo de substância imprópria que possa agravar ainda mais a lesão. Evite aplicar gelo sobre as queimadu- ras e priorize o transporte ao recurso hospitalar. ¾ Caso haja acometimento da face (queimadura de pele, cabelos, pelos do nariz e das pálpebras ou fuligem nas regiões nasal e oral) ou possibilidade de que a vítima tenha inalado fumaça ou gases, dê especial atenção às vias aéreas e à respiração, pois há a possibilidade de intoxicação associada. ¾ Se houver queimadura de face com comprometimento da visão, deve-se cobrir os olhos da vítima com gaze umedecida em soro ou água limpa. ¾ Em caso de queimaduras envolvendo mãos ou pés, separe os de- dos com pequenos rolos de gaze umedecida em soro fisiológico ou água. Vítimas de queimaduras com 30 % ou mais da área corpórea atingida podem apresentar hipotermia. Capítulo II • Procedimentos de Primeiros Socorros 55 2.9.4 primeiros socorros nas Queimaduras Químicas ¾ Primeiro é necessário o socorrista usar EPI adequado. ¾ Deve-se identificar o agente agressor. ¾ Retire as vestes da vítima e irrigue a pele com água corrente (5 minutos para ácidos e 15 minutos para álcalis). ¾ Se o produto for seco (pó) retire-o manualmente sem friccionar (figura 2.23). Figura 2.23 Em caso de queimaduras por substâncias sólidas, retire o excesso com um pano antes de irrigar o local. IMPORTANTE: Em queimaduras não devemos furar bolhas, passar substâncias caseiras (pasta de dente, pó de café, gelo, entre outros), pois pode agravar a lesão, também não se deve retirar as vestes que estejam coladas às queimaduras. 2.10 Acidentes com eLetricidAde A eletricidade é a energia que pode fluir sob a forma de corrente elétrica entre dois pontos; nos condutores esta corrente flui com maior facilidade como água, metais e seres vivos. 56 Manual de Primeiros Socorros da Educação Física aos Esportes Os efeitos da corrente elétrica sobre o organismo são: Queimaduras – observam-se em geral pontos de entrada e saída da corrente elétrica, podendo haver lesão de tecidos, especialmente múscu- los e vasos. Lesão no coração – resulta na alteração do ritmo normal do cora- ção (arritmia). Lesões associadas