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Modelo de Fichamento

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Nome:
R.A. :
Turma:
Texto: TOSI, Giuseppe. “Aristóteles e a escravidão natural”, Boletim do CPA, Campinas, no. 15, jan/jun 2003, pp. 71-100.
	No presente texto, o autor Giuseppe Tosi afirma que, apesar de não ter dedicado um tratado específico ao tema, Aristóteles foi um dos primeiros filósofos a tratar explicitamente da escravidão e de sua legitimidade. (TOSI, 2003, p. 72) Em seu livro “Política” descreve a escravidão no âmbito da administração doméstica (oikonomia), diferenciando essa administração das relações políticas. “Ora, aqueles que acreditam que o homem de governo (politikon), o rei (basilikon), o chefe de família (oikonomikon) e o senhor de escravos (despotikon) são o mesmo, não se expressam bem; [...].” (ARISTÓTELES apud TOSI, 2003, p. 72) Seu intuito é caracterizar as diversas formas de governo nas quais preserva-se o espaço da liberdade, já que cidadãos não deveriam ser governados como escravos. Neste âmbito, Aristóteles contrasta argumentos sobre o caráter natural ou não da escravidão, tendo em vista sua frequente ligação com a violência. É aqui que surge a distinção entre “escravos por lei” (conquistados, vencidos em guerra, de acordo com a lei do mais forte) e “escravos por natureza”. (TOSI, 2003, pp. 74-75)
	O intuito de Tosi é apontar que Aristóteles não conseguiu demonstrar de modo satisfatório a legitimidade dessa escravidão natural, sendo ela fruto unicamente da força e, portanto, não justificável. (Ibidem, p. 76). Para tal, inicialmente, o autor problematiza quatro definições de escravo por natureza na obra de Aristóteles:
	1. Objeto de propriedade e instrumento de produção. Seriam os escravos nada mais do que instrumentos animados, que permitem aos senhores sua plena realização como seres humanos: “[...] um ser que, por natureza, não pertencea si mesmo, mas a um outro.” (ARISTÓTELES apud TOSI, 2003, p. 79)
	2. “Alguns, desde o nascimento, são destinados a comandar, outros a serem comandados.” (TOSI, 2003, p. 80) Afirma-se, desse modo, a existência de uma natural hierarquia entre dominantes e dominados, que garante a unidade e harmonia do todo. Segundo o autor, entretanto, Aristóteles consegue justificar, no máximo, a diversidade, mas não a desigualdade. (Ibidem, p. 82)
	3. “Aqueles que diferem entre si como a alma do corpo e o homem do animal”. (Ibidem, p. 83) Nesse contexto, caberia à alma o governo do corpo e ao homem o dos animais.
	4. “Quem pode perceber, mas não possui a razão”. (Ibidem, p. 85) A escravidão seria, aqui, justificada mediante a existência de diferentes graus de racionalidade, sendo um escravo incapaz de cuidar de si mesmo. Seria essencialmente diferente dos animais, já que tem a razão, mas essa seria apenas passiva. Essa definição, segundo Tosi (2003, pp. 86-87), seria difícil de ser operacionalizada, uma vez que gera confusão com outros tipos de domínio, o que, no fim das contas, apenas confirmaria que Aristóteles não consegue demonstrar adequadamente as características essencias/naturais da alma de um escravo, que justificariam sua escravidão. 
	Surge, em seguida, a questão se, para Aristóteles, escravos são humanos de fato, podendo exercer algum tipo de virtude ou mesmo manter amizades, ou alguma forma de sub-humanos. A argumentação aristotélica gira em torno de diferenças qualitativas, não quantitativas, entre os homens, culminando com a afirmação de que essas distinções valem apenas para os povos bárbaros, uma vez que gregos nunca são escravos por natureza. (Ibidem, p. 90)
	Diante das diversas falhas e inconsistências expostas, o autor afirma que a explanação aristotélica não busca ser plenamente racional, mas mais uma justificação ideológica da escravidão legal. Essa falta de rigor racional pode ser percebida no tipo de método utilizado por Aristóteles, chegando a um ciclo dialético entre pressupostos e o que pretende demonstrar (Ibidem, pp. 94-95) Trata-se, assim, não de uma verdade absoluta e inquestionável, mas de uma espécie de opinião qualificada, fruto de um consenso na aplicação específica de um conceito mais geral, no caso, a desigualdade natural entre seres humanos. Essa opinião, por sua vez, está inserida no contexto de patente degeneração da polis grega e o gradual surgimento de ideais de igualdade entre seres humanos, seja em termos religiosos (cristãos) ou de direito natural. (Ibidem, p. 99)

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