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educação, cultura e diversidade, tema 1 - questões de religiosidades

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DEFINIÇÃO 
Análise das questões sociais e dos seus impactos no processo educativo, por meio do debate sobre 
minorias, periferias e percepções religiosas, considerando a educação local nos diferentes ambientes 
e contextos sociais. 
PROPÓSITO 
Apresentar uma percepção diferenciada dos debates que envolvem os conceitos de minorias, 
periferias e religiosidade no contexto educativo. 
OBJETIVOS 
 
 
Reconhecer o conceito de minoria nos contextos social e educacional brasileiros 
 
 
Identificar os debates sociais de religiosidade e os mecanismos de construção da tolerância no 
ambiente escolar 
 
 
Reconhecer o conceito de pluralidade da periferia como alternativa às concepções de 
homogeneização dos processos educativos 
INTRODUÇÃO 
Assista ao vídeo e perceba do que se trata este tema. 
Reconhecer o conceito de minoria nos contextos social e educacional brasileiros 
DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE MINORIA E SEU ESPAÇO NO CONTEXTO EDUCACIONAL 
Segundo o Dicionário Online de Português, entende-se por minoria: subgrupo religioso, social, 
étnico, cultural, racial que, numa sociedade, é considerado inferior ou diferente do grupo maior 
(maioria), sendo por ele discriminado, não possuindo seus mesmos direitos ou oportunidades. 
Também é possível definir minoria como um conjunto de pessoas que não compartilha do conceito, 
da forma de viver ou dos valores adotados pela maioria da sociedade. Esse conceito se distancia da 
noção de grupo em menor número, comumente dada à minoria. 
ENTÃO... O QUE FAZER COM AS MINORIAS? 
Submetê-las à vontade da maioria, democraticamente. 
Segregá-las, permitindo que vivam como entenderem, sem afetar o interesse da maioria. 
Criar formas de tolerância para suas práticas, com o Estado defendendo o direito a suas 
individualidades. 
QUANDO O DISCURSO HEGEMÔNICO É MASCULINO, MAS AS MULHERES TÊM NUMERICAMENTE 
MAIS ENTES, O QUE SIGNIFICA? QUANDO O CONCEITO DE MINORIA LEGITIMA POLÍTICAS 
SEGREGACIONISTAS HISTÓRICAS, COMO AS AMERICANAS E AS SUL-AFRICANAS, ELE AINDA SERVE? 
ESSE CAMINHO, APESAR DE SER O CLÁSSICO, NÃO NOS LEVARÁ AO DEBATE DO QUAL 
PRECISAMOS. CONCEITUAREMOS MELHOR ESSA TAL DE “MINORIA” NESTE MÓDULO. 
Teremos um caminho construtivo e a todo momento você participará da elaboração dos conceitos. 
Não receberá respostas prontas, mas será convidado a pensar sobre o que representa essa questão. 
Sua leitura será uma análise constante de suas relações sociais e da revalidação de conceitos 
preestabelecidos. A ideia de definição é, na verdade, uma provocação. Não cabe ao autor, por mais 
que vivencie e faça parte desse universo, delimitar e fechar um ponto em comum sobre um 
conceito. 
O objetivo de definir o conceito de minoria é destacar os processos, as reflexões e as análises que 
permeiam sua aplicação. A urgência em falar sobre esse conceito não pode suprimir sua relevância 
para a vida das pessoas. Um conceito que é finalizado, fechado e trabalhado de maneira 
equivocada pode fortalecer os processos de segregação. 
FAÇA UMA PAUSA NA LEITURA E REFLITA SOBRE ESSE CONCEITO: QUAL A SUA COMPREENSÃO 
SOBRE MINORIA E QUAL O SIGNIFICADO DESTA EM SEU COTIDIANO? VOCÊ FAZ PARTE DESSA 
HISTÓRIA. 
Quando apresentamos um conceito, não podemos silenciar a construção que ele possui nas vozes 
sociais. Por exemplo, pense em uma conversa maliciosa que teve início há um tempo. As pessoas 
começam a compartilhar esse assunto sem analisar os pontos ou perceber os preconceitos e, então, 
passam a legitimar aquilo em suas vidas. O assunto ganha tamanha proporção e assume o lugar de 
verdade naquele grupo. 
VIDAS 
Muitos autores chamam o nosso momento de a era da pós-verdade, cuja noção afirma serem mais 
importantes as crenças individuais, baseadas nos valores pessoais, do que necessariamente as 
investigações e os debates. As fake news são exemplos disso. 
Para algumas pessoas, o impacto do enraizamento de um conceito ocorre apenas nos campos 
teórico e acadêmico, mas para outras, aquelas que são alvo dos assuntos maliciosos, o que poderia 
ser uma simples conversa delimitará seu espaço na sociedade. 
ASSUNTOS MALICIOSOS 
Assuntos que levam alguém a se sentir mal. 
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Fonte: Shutterstock 
A conversa de um bairro, uma vizinhança, um prédio, uma comunidade, uma favela, uma vez levada 
do campo teórico ao boca a boca, ou ao post em post da sua rede social favorita, ajuda a fomentar 
assuntos maliciosos. Esse é um exemplo de impactos micros (locais), mas que podem receber uma 
amplitude geral, tornando-se devastadores com a proliferação das falas. 
EXEMPLO 
Leia um caso que exemplifica uma triste consequência da intolerância religiosa. 
CONSEQUÊNCIA DA INTOLERÂNCIA NO GUARUJÁ 
Foi informado, em uma comunidade de rede social em Guarujá, que uma mulher estava 
sequestrando crianças para fazer magia negra. Não foram apresentadas provas; tratava-se de um 
boato, um alerta à comunidade. 
Um grupo de pessoas avistou uma mulher com características semelhantes às da suposta bruxa, com 
cabelos vermelhos, de meia-idade, feia, portando um livro embaixo do braço. Uma pessoa primeiro 
chamou, alertou os outros de sua presença, outra pessoa agrediu, pois soube que era a mulher que 
fazia mal às crianças, e aquilo se tornou um linchamento, resultando na morte da mulher. 
Provas? Nenhuma; o livro era uma Bíblia. A comunidade não se responsabilizou, cada um 
individualmente negou, afirmando a tentativa de ajudar a mulher, ainda que as câmeras de 
segurança provassem o contrário. Esse é o efeito das crenças, da naturalização da visão maliciosa. 
Imagine esse mesmo processo numa dimensão maior, na mídia e na sociedade brasileira, e verifique 
como esse tom limitado pode impactar a vida educacional de milhares de pessoas. Ao percebermos 
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as atitudes que são reproduzidas nas metodologias de ensino, nos currículos escolares e nas práticas 
docentes, podemos rever esse ciclo vicioso de proliferar visões limitadas sobre a vida e a cultura de 
outras pessoas. 
Uma vez solidificado na sociedade, o conceito faz parte das relações e dos cotidianos. Romper com 
um ciclo de conversas maliciosas é uma tarefa difícil, ainda mais se esse processo ocorre em uma 
concepção global, como, por exemplo, interceptar visões limitadas sobre raça, gênero e classes 
sociais e diminuir o impacto dos mitos gerados pelas limitações. 
Para fomentar o nosso debate e apresentar outros olhares, é necessário desvelar as conversas 
limitantes e as visões do senso comum a fim de diluir as construções coletivas e as barreiras que 
são impostas a determinado grupo e trazer novas concepções sobre os diversos grupos sociais 
brasileiros. Para destacar o risco que corremos ao estabelecer um discurso unilateral sobre as 
minorias, propomos a seguinte reflexão: no interior das políticas públicas educacionais, que visão 
das minorias é reforçada? 
Refletiremos sobre a construção de um cenário social tendencioso que demarcava o lugar da escola 
voltada para essas pessoas e construiremos outras definições para esse conceito: uma visão pautada 
na história das pessoas e em suas contribuições para a sociedade brasileira; uma superação dos 
limites, com destaque às possibilidades de aprendizagem vivenciadas nas experiências locais; 
pessoas que existem para além da categoria social que a elas são demarcadas, não podendo ser 
limitadas por separações que impactam os processos formativos cotidianos. 
IDENTIDADE E PERTENCIMENTO 
Corremos o risco de distorcer o papel do pertencimento em nossa sociedade; ele não deve ser 
utilizado como um espaço restritivo. Portanto, devemos atentar para as subjetividades e ao que é 
peculiar e necessário para a construção das identidades coletivas. As minorias são forjadas em seu 
território, em seu conjunto de experiências e em seu fortalecimento cultural. 
 
Fonte: Shutterstock 
Não podemos utilizar o conceito de minoria para fomentar discursos preconceituosos. Devemos iralém das conclusões imediatas para identificar os mecanismos de produção de determinado 
posicionamento frente às relações sociais. Lembre-se: uma ideologia é tecida de maneira complexa e 
deve ser compreendida distante de simples generalizações. 
A linguagem detém um papel crucial na reprodução do racismo. Isso equivale a dizer, 
primeiramente, que a linguagem opera na construção do racismo, ou seja, ela desempenha um 
papel ativo na forma como o racismo se constitui, daí porque podemos falar em uma dimensão 
discursiva do racismo (MARTINS, 2007). 
Ao se destacar o papel do discurso e das linguagens na proliferação de visões racistas sobre os 
grupos minoritários, somos convidados para a retomada constante dos significados que são 
reproduzidos em nossas relações; como o direcionamento profissional pode ser impactado por um 
olhar racista e limitador. 
Quer entender melhor a dinâmica entre minoria e identidade? Vamos ver um exemplo de 
manifestação cultural: o movimento Funk. 
 
Geramos leituras constantes sobre os discursos estabelecidos em nossa sociedade, inclusive, 
estando atentos às estratégias de pulverização das experiências vivenciadas pelos grupos 
minoritários. Atuaremos, portanto, como agentes que poderão analisar os conjuntos de 
experiências, reforçando a relevância das vozes das minorias no espaço escolar e denunciando as 
concepções racistas a elas associadas. 
Para falarmos do conceito de minoria, não podemos ignorar os grupos étnicos, culturais, religiosos e 
de gêneros. Mas, só não ignorar não é o bastante, é necessário agir como um pesquisador de 
campo, percebendo as peculiaridades e afirmando a validade dos conhecimentos protagonizados 
por esses grupos. 
UMA DEFINIÇÃO GLOBAL NÃO FAZ COM QUE AS PRÁTICAS RACISTAS SEJAM MINIMIZADAS EM 
NOSSA SOCIEDADE. 
É basilar que o racismo seja concebido como algo inaceitável e o que propomos é a reflexão 
constante das ações. O ciclo constante de rever as respostas que estabelecemos às experiências do 
outro é o que poderá garantir a sua superação. O racismo faz parte do conjunto ideológico que 
determina as ações sociais. Por um lado, toda a sociedade compreende seu impacto negativo, mas 
ao mesmo tempo ela reproduz atos que fortalecem suas raízes e excluem as minorias. 
ATENÇÃO 
Os grupos minoritários têm denunciado a naturalização dos preconceitos e reivindicado globalmente 
sua eliminação, atitudes que geraram um conjunto de leis internacionais. As organizações 
estabelecidas nos coletivos afirmam cada vez mais suas identidades e cobram do sistema político 
uma proteção social. Nessa perspectiva, percebe-se que a sociedade está organizada em prol da 
eliminação do racismo, denunciando os mecanismos de exclusão. 
PARA COMPREENDERMOS OS PROCESSOS DE MOBILIZAÇÃO VIVENCIADOS EM NOSSO PAÍS, 
DEVEMOS REVISITAR ALGUNS PROCESSOS HISTÓRICOS DA FORMAÇÃO DO NOSSO POVO E 
ANALISAR AS INICIATIVAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AFIRMAÇÃO OU SEGREGAÇÃO DE UM 
GRUPO. 
Durante um longo período de nossa história, o processo colonizador português foi associado ao 
salvacionismo protagonizado pelos europeus. Tratava-se de uma visão romântica da escravidão 
africana e indígena, que valorizava as relações econômicas estabelecidas entre o Brasil Colônia e 
Portugal. 
 
 
 Carregadores de café a caminho da cidade, Jean-Baptiste Debret, 1826. 
Para ilustrar esse assunto, é comum pesquisadores brasileiros ou africanos apresentarem, em 
universidades tradicionais portuguesas, trabalhos acadêmicos pautados no impacto do processo 
escravocrata português e na exclusão social da população negra fomentada por esse sistema. 
Imagine chegar à terra do colonizador e dizer, em uma instituição que nutre afetos com as 
experiências coloniais nos continentes americano e africano, que as mazelas que vivenciamos 
atualmente são culpa do Estado monárquico português. As respostas obtidas nas apresentações 
públicas indicavam que os trabalhos não possuíam teor acadêmico, e o corpo docente estruturava 
mecanismos de embotamento das falas ali apresentadas. 
Essa experiência serve para demonstrar a falta de reflexões que existe por lá, mas também para 
introduzir a ingenuidade política que persiste por aqui no Brasil; uma ingenuidade intencional 
utilizada para justificar a exclusão das minorias, as quais não assistem todos esses processos de 
maneira passiva. Exemplos disso são as mobilizações coletivas, como estratégia de afirmação, para 
viabilizar seu ingresso na cultura nacional. O movimento negro brasileiro foi uma das principais 
ações que contribuíram para o crescimento da luta por igualdade de direitos. Sua história é marcada 
por uma série de respostas que se propuseram à formação social dos mais jovens, tradição herdada 
da cultura africana, segundo a qual a oralidade é o caminho para a manutenção dos valores. 
Na superação do olhar colonialista, os movimentos negros, como exemplo de mobilização coletiva, 
afirmavam o saber e o ser fundados nos princípios africanos. Uma maneira de retomar as vozes 
negadas na formação de nossa sociedade e destronar os processos de efetivação da ideologia 
colonial portuguesa, gerando uma remodelação dos projetos políticos e combatendo de maneira 
intensiva os limites das políticas públicas. 
Em nossa formação, devemos atingir um amadurecimento a fim de construir uma ligação entre os 
conceitos que poderão auxiliar em uma leitura diferenciada de nossa sociedade. Para entender as 
vozes presentes nos grupos minoritários, devemos estabelecer associações conceituais. 
O FATO DE ESTARMOS ESTUDANDO OS CONCEITOS DISSOCIADOS E REPARTINDO OS PRECEITOS 
IDEOLÓGICOS NÃO SERIA UMA ESTRATÉGIA PARA DIMINUIR AS REFLEXÕES COLETIVAS? 
A resposta está na formação do pensamento racista brasileiro — que partia da separação simplista 
de fácil compreensão —, pois, para os negros, o racismo é algo que os separa dos outros membros 
da sociedade e produz uma diferença em suas colocações sociais. Os diálogos que poderiam 
fomentar uma reflexão coletiva eram negados pela determinação de um processo excludente 
particular. 
As minorias silenciadas atualmente e no começo de nossa história como, por exemplo, as mulheres e 
as populações indígenas, foram duplamente ignoradas nos processos históricos coloniais. Primeiro, 
por não terem o direito a uma identidade de grupo e, segundo, pela separação que estabelecia o 
silenciamento de suas subjetividades. No saber diário em Educação é necessário reverter esse 
processo, potencializando a validade de todas as subjetividades que permeiam as relações sociais. 
É preciso alinhar o conceito de minoria, que tem na sua existência e base uma ideia de oposição com 
o de maioria. O dilema que vivenciamos é uma definição macrossocial das minorias que serão 
legitimadas e a superação do silenciamento dos outros movimentos identitários que existem e 
devem ser notados, determinados por raça, cor, gênero e fatores sociais. 
Devemos denunciar essa separação e afirmar as mobilizações coletivas enquanto resposta para os 
sistemas segregacionistas. Uma pessoa pode, por exemplo, fazer parte de diversos grupos 
minoritários. O risco que corremos é considerar as peculiaridades e pensar o que é mais crítico na 
conjuntura social. Devemos fugir desse processo e respeitar as manifestações individuais. 
Atualmente, as minorias possuem consciência de seu lugar. Porém não se trata de relação passiva, 
mas de denúncia das dívidas históricas e de luta por reparação, surgindo, assim, os movimentos 
sociais organizados que denunciam os processos de exclusão social e reivindicam a construção de 
políticas públicas inclusivas. Um exemplo é o direito a creche, que foi conquistado pela luta 
organizada das mulheres negras trabalhadoras das favelas. Perceba que essas mulheres não 
aceitaram o lugar de grupo minoritário e foram além das classificações étnicas, sociais e de gênero. 
Organizaram-se e denunciaram as limitações na ausência de um serviço que atendessea suas 
demandas. 
Podemos visualizar, portanto, a polifonia dos movimentos sociais; seus discursos percebem suas 
marcas enquanto grupo, mas não estão restritas às classificações deterministas. 
O cenário foi organizado, os atores já estão em cena, mas na ótica dos grupos minoritários o roteiro 
não pode ser unilateral. Assim, as oposições são ramificadas e os grupos possuem a autonomia para 
exercer suas atuações dentro dos processos e em sua vida. Não existe a possibilidade de atuar 
apenas num papel, mas assumir o protagonismo do espetáculo e apresentar uma performance de 
denúncia dos processos de exclusão social. 
O CONCEITO DE MINORIA NÃO CONTEMPLA AS RAMIFICAÇÕES SOCIAIS QUE A ELE SÃO 
ASSOCIADAS. 
ATENÇÃO 
Devemos fugir da limitação pautada no preconceito e escutar os processos particulares dos 
diferentes grupos sociais. Não pense que numa comunidade escolar as pessoas estarão 
acompanhadas de seus rótulos. Os impactos por fazer parte da minoria serão vividos e enfrentados 
sob múltiplas performances. 
Não teremos os grupos separados, eles estarão no ambiente social e esperam que você faça a leitura 
de suas subjetividades e traduza os mecanismos de exclusão que pesam sobre seus processos 
formativos. 
Vou contar hoje uma história do passado, que meus avós herdaram de seus pais. Uma história que 
pertence à nossa família e que deve ser compartilhada, para manter o afeto e as lições que ela traz. 
Um menino veio para o Brasil, obrigado, preso num navio e recebeu o nome de escravo. Esse menino 
nunca entendia por que ele deveria trabalhar e obedecer. Um dia ele ouviu uma conversa entre os 
que o aprisionavam. Ele não entendia, mas ouviu uma palavra que nunca esqueceu: diferente. Ele 
não sabia o que era ser diferente, não havia em sua língua algo parecido, afinal em sua terra eles 
acreditavam na igualdade. 
Quando o menino cresceu e a escravidão acabou, ele perguntou àquele homem que o deixou preso: 
“Moço, eu ouvia, sempre em silêncio, você dizer que meu povo era diferente. Você pode explicar o 
que é isso?”. O homem nem ouviu a pergunta, riu do rapaz e o mandou ir embora. Sua pergunta 
ficou no ar, uma simples resposta era o que ele queria e não pôde escutá-la. Ele decidiu seguir seu 
caminho, caminhar era sua única opção; com a pergunta enraizada em sua alma, seguiu para sua 
nova vida. 
Ao colocar seu pé esquerdo na cidade, no lugar em que viveria sua liberdade, sentiu o que era ser 
diferente. Era uma resposta simples, algo presente nos olhares daqueles que julgavam seus pés 
descalços e a cor da sua pele. Ele se sentia separado e afastado de toda a gente. Então pensou: “Ser 
diferente é a resposta que essa gente escolheu para me separar; antes, negro e escravo; hoje, liberto; 
sou pobre e nessa terra minha cor não tem lugar”. O lugar onde ele nasceu era um sinal de 
separação. Tratou de trabalhar, lutou para estudar e fez questão de a todos de sua família essa 
história contar. Tanto lutou que essa história chegou até vocês. 
Evidentemente que, ao contar essa história para um grupo de crianças, havia todo um cenário com 
música e bonecos, além da encenação. Depois de ouvir tudo com muita atenção, debater e 
conversar, o grupo conseguiu entender e disse: “Nós somos diferentes, somos minoria e temos que 
ensinar que isso não pode mudar nossa vida”. 
FALAR DA PRÁTICA EDUCATIVA É UMA TENTATIVA DE ILUSTRAR AS MEDIAÇÕES QUE PODEM SER 
FEITAS NO ESPAÇO ESCOLAR. 
Essa experiência serve para ilustrar o conceito e demonstrar a vivência escolar num espaço em que 
convivem as minorias. O profissional da educação deve superar esse conceito, sem ignorar as 
subjetividades. Não podemos considerar que as configurações sociais serão iguais em todas as 
unidades escolares do país. É preciso fazer uma leitura do lugar no qual você atua; conhecer a 
história da comunidade, os grupos étnicos que formaram raízes, os fluxos migratórios, os conflitos e 
as reinvindicações. 
AO ESTABELECER UMA ESCUTA DESSE TERRITÓRIO, VOCÊ CONSEGUIRÁ REALIZAR UMA LEITURA 
DAS PRESENÇAS CULTURAIS E TERÁ UM DESAFIO: TRAGA SUAS SUBJETIVIDADES PARA ESSA 
RELAÇÃO! NÃO TENHA MEDO DE EVIDENCIAR SUAS VULNERABILIDADES NUM CENÁRIO 
EDUCACIONAL PARA QUE ELE SEJA PAUTADO NO RESPEITO E NA INTEGRAÇÃO, ROMPENDO 
ASSIM COM AS ESTRUTURAS HIERÁRQUICAS. 
Um profissional que atua com as minorias e insere suas subjetividades em seu cotidiano não deve se 
abrigar na estrutura tradicional docente. As minorias se reconhecem nos encontros que fazem no 
terreno escolar. A comunidade escolar espera que o professor ou o educador seja honesto e deixe 
evidente seu pertencimento social. 
O CONCEITO DE MINORIA EXISTE NUMA CATEGORIZAÇÃO DE QUE UMA MAIORIA PODE EXERCER 
O PODER SOBRE OUTRAS PESSOAS? 
Para responder a esse questionamento, é preciso romper com essa separação. Para isso, não é 
necessária a exposição, mas a afirmação de sua identidade como profissional e a legitimação das 
histórias dos alunos e de sua família. 
Um profissional que atua com as minorias e insere suas subjetividades em seu cotidiano não deve se 
abrigar na estrutura tradicional docente. As minorias se reconhecem nos encontros que fazem no 
terreno escolar. A comunidade escolar espera que o professor ou o educador seja honesto e deixe 
evidente seu pertencimento social. 
A MULHER NEGRA ESTÁ FORTEMENTE PRESENTE NA FORMAÇÃO MATERIAL E ESPIRITUAL DA 
SOCIEDADE BRASILEIRA. COMO UM IMPORTANTE PILAR DE RECONSTRUÇÃO DINÂMICA DOS 
ESPAÇOS SUBJETIVOS E OBJETIVOS DA MEMÓRIA DO POVO NEGRO. COMO SÍNTESE DE UMA 
TRAJETÓRIA HUMANA NÃO CAPITULADA E PROGRESSIVAMENTE ASCENDENTE EM DIREÇÃO À 
LIBERDADE. 
(GONZALEZ, 1981) 
 
Fonte: Shutterstock 
Estudar o conceito de minoria associado à educação é uma oportunidade de ampliação do lugar 
social destacado para as minorias. O diálogo estabelecido aqui pode servir como um mecanismo de 
legitimação das subjetividades, como um caminho para a valorização das diversidades e da 
necessidade de compreender a atuação desses sujeitos na luta por uma política pública 
contextualizada. 
VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. O CONCEITO DE MINORIA POSSUI UMA CARACTERÍSTICA RECORRENTE ORIUNDA DO SENSO 
COMUM: GRUPO MENOR. QUANDO, NO ENTANTO, DEBATEMOS MINORIA À LUZ DAS 
PERSPECTIVAS DAS CIÊNCIAS HUMANAS, COMO A SOCIOLOGIA E A EDUCAÇÃO, ESSA LEITURA 
TORNA-SE MUITO MAIS COMPLEXA. A IMPORTÂNCIA PARA A EDUCAÇÃO DO ESTUDO SOBRE AS 
MINORIAS PODE SER PERCEBIDA EM SEU PAPEL DE: 
Manter um padrão em nossa sociedade. 
Construir práticas educativas unilaterais. 
Fomentar os movimentos sociais das minorias. 
Reforçar as diversidades e ampliar o papel das mobilizações coletivas. 
2. ESTUDAMOS A NECESSIDADE DE FUGIR DAS GENERALIZAÇÕES SOBRE AS MINORIAS E 
RESPEITAR AS MANIFESTAÇÕES SUBJETIVAS. LEIA AS OPÇÕES ABAIXO E ESCOLHA AQUELA QUE 
NÃO REFORÇA ESSA GENERALIZAÇÃO: 
Pautar o planejamento apenas numa realidade cultura. 
Ignorar as ações cotidianas. 
Compreender as peculiaridades dos sujeitos. 
Seguir um roteiro de ações único para todas as comunidades. 
GABARITO 
1. O conceito de minoria possui uma característica recorrente oriunda do senso comum: grupo 
menor. Quando, no entanto, debatemos minoria à luz das perspectivas das ciências humanas, 
como a Sociologia e a Educação, essa leitura torna-se muito mais complexa. A importância para a 
Educação do estudo sobre as minorias pode ser percebida em seu papel de: 
A alternativa "D " está correta. 
 
 
O conceito de minoria deve ser retirado do lugar de uma simples conclusão. Para fugirmos de 
práticas educativas unilaterais é necessário reforçar as diversidades e ampliar as mobilizações 
coletivas. 
2. Estudamos a necessidade de fugir das generalizações sobre as minorias e respeitar as 
manifestações subjetivas. Leia as opções abaixo e escolha aquela que não reforça essa 
generalização: 
A alternativa "C " está correta. 
 
 
Ao ampliarmos o conceito de minoria, percebemos que as relações vão além de uma categorização 
estabelecidapor padrões. Por isso, nas ações educativas é urgente compreender as peculiaridades 
dos sujeitos. 
 
Identificar os debates sociais de religiosidade e os mecanismos de construção da tolerância no 
ambiente escolar 
A ESCOLA E A RELIGIÃO 
Conceitualmente, religiosidade é o conjunto de práticas religiosas em uma sociedade. A definição 
apontada historicamente por Max Weber (1864-1920) em sua sociologia da religião aponta para 
relação entre a dinâmica dos sujeitos e das instituições. Na proposição de Weber, os sujeitos, na 
busca de uma conformação (integração) social, buscam se inserir em grupos de modo a serem 
aceitos. A religião, por meio do estabelecimento de padrões morais, do reconhecimento de valores 
coletivos e principalmente da rede de proteção que ela estabelece, fomenta um caminho recorrente 
do sujeito. 
Uma religião se forma a partir da consolidação de uma mensagem “mágica” que passa a ser 
reconhecida e institucionalizada. Os níveis de institucionalização representam o maior ou menor 
sucesso de uma religião. Assim, uma religião hegemônica em uma sociedade convive sempre com 
manifestações religiosas periféricas, podendo ser conflitantes ou não. 
MAX WEBER: 
Max Weber (1864-1920) foi um importante sociólogo e destacado economista alemão. Suas grandes 
obras são A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo e Economia e Sociedade. Dedicou sua vida 
ao trabalho acadêmico, escrevendo sobres assuntos variados, como o espírito do capitalismo e as 
religiões chinesas. 
Fonte: E-biografia. 
OS SUJEITOS SE INSEREM NA RELIGIÃO BUSCANDO SUAS REDES DE PROTEÇÃO. LOGO, GRUPOS 
MARGINAIS EM UMA SOCIEDADE TENDEM A SE INTEGRAR AOS PADRÕES RELIGIOSOS MAIS 
FORTES E INSTITUCIONALIZADOS COMO FORMA DE SEREM ASSIMILADOS E PROTEGIDOS, MAS 
TAMBÉM PODEM, POR TRADIÇÃO OU RESISTÊNCIA, VINCULAREM-SE A RELIGIÕES PERIFÉRICAS. 
Esse conceito, no entanto, precisa de materialidade. Nesse sentido, vamos tratar da prática docente 
relacionada a essa dinâmica. Afinal, os alunos contemporâneos não estão fora da dinâmica 
sociológica há muito estudada e trabalhada por Weber. Trilharemos uma relação dialógica entre a 
prática de ensino e as subjetividades inerentes às comunidades escolares. A princípio, foram 
destacados os processos para a definição do conceito de minoria e agora vamos para o debate 
sobre as religiosidades. 
EXPERIENCIAR PARA CONSTRUIR 
O diálogo, o respeito e a tolerância serão as marcas das reflexões propostas. Para esse movimento 
de formação, adotam-se uma escuta sensível e uma estratégia humanizada para as experiências 
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religiosas. Uma proposta de mediação que não abarca a interpretação dos significados e nem insere 
em suas leituras análises comparativas. Ao pensarmos em religiosidade, o nosso papel como 
educadores é ouvir, respeitar e conviver. 
As escolas públicas são as experiências profissionais que legitimam as práticas docentes e o 
saber/fazer de um professor pesquisador. Considere a situação hipotética: um professor nota que, 
nas diferentes turmas em que atua, há uma pergunta recorrente feita pelos alunos e, dependendo 
da resposta, seu comportamento e sua rotina naquela escola mudam; “Professor, qual é a sua 
religião?”. 
 
Fonte: Shutterstock 
Assim que iniciam a trajetória docente, por conta da inexperiência, muitos professores não 
entendem a dimensão da pergunta e preferem ignorar. Além disso, acreditam que não cabe esse 
tipo de questionamento na relação professor-aluno. Entretanto, com o estabelecimento das práticas 
educativas e o amadurecimento teórico da função social da prática docente, os professores 
começam a responder à questão e a demarcarem suas crenças. Geralmente, são fornecidas 
respostas diretas e simples, seguidas de uma observação de como o grupo recebe tal manifestação 
de fé. 
 
Fonte: Shutterstock 
Muitos alunos fazem questão de, no primeiro contato, afirmar sua fé, seja por não participarem de 
atividades tradicionais da rotina escolar ou por manifestarem o desejo de fornecer suporte religioso 
aos colegas de sala. Essa pergunta pode ser uma imposição, uma tentativa de diagnosticar o ponto 
de ruptura ideológica entre o aluno e o professor. 
O medo de ser caracterizado como diferente pode moldar o silenciamento das respostas iniciais. 
Reconhecer o fato de não saber os limites do preconceito religioso presente nas comunidades 
escolares capacita o professor a perceber o risco do prolongamento da distância entre a prática 
docente e as pessoas desse grupo. 
As respostas proferidas devem ser honestas, não impondo o respeito hierárquico que a prática 
docente imputa na sociedade brasileira; os alunos também podem ser honestos. Esse processo 
surge como um investimento, uma abertura da janela discursiva para a construção de um debate 
social sobre religião; a viabilidade de manifestar os preconceitos era o que poderia facilitar a 
reflexão e a ação sobre eles. Nessa abordagem, cabe a fuga do politicamente correto. Não é válida 
uma aceitação parcial que poderia velar os verdadeiros estigmas religiosos locais. 
As respostas dos alunos são muito enriquecedoras para o processo educativo, como por exemplo 
“cruz credo”, “Deus te proteja!”, “Deus me livre!” seguido de uma breve oração pela alma do 
professor descrente. Ao demarcar a particularidade de crenças, eles podem reproduzir no coletivo 
seus movimentos cotidianos. Essas falas fazem parte de sua vida e, provavelmente, estariam 
presentes nos conflitos protagonizados entre seus pares de religiões diferentes. 
A ESCUTA SENSÍVEL DEVE ESTAR PRESENTE NO MAPEAMENTO DAS RESPOSTAS E NA 
COMPREENSÃO DE QUE ELAS SÃO REPRODUÇÕES COLETIVAS. NESSA VERTENTE, NÃO CABE UMA 
BRONCA OU UMA AFIRMAÇÃO DIRETA DO RESPEITO. A TOLERÂNCIA DEVE SURGIR NOS 
INTERCÂMBIOS E NA AVALIAÇÃO DE VALORES SOLIDIFICADOS. 
Abre-se um espaço para a conversa e o estabelecimento dessa escuta sensível. Talvez o professor 
não seja o único praticante de outra fé ou alguns colegas, silenciados por serem de um grupo 
minoritário, não sentiam segurança em manifestar sua fé. Ao abrir o canal para falar das 
subjetividades religiosas, outros alunos podem se manifestar e, com uma orientação, construir um 
debate mais respeitoso e edificante. O enfoque é a obtenção do diálogo e a formação de atores que 
valorizem a argumentação sistematizada de seus preceitos. 
ROMPENDO O CICLO VICIOSO DO SILENCIAMENTO AO FAVORECER OS INTERCÂMBIOS 
IDEOLÓGICOS 
Todo educador deve fugir da passividade, apropriar-se desse conceito e mediar conflitos que 
permeiem a vida dos alunos. Não adianta estabelecer um processo formativo nessa ótica apenas 
para a obtenção de um grau acadêmico; o enfoque central é diluir preconceitos por meio da 
(re)construção do canal dialógico nas comunidades escolares. 
O debate sobre religião é uma ferramenta educativa (para tal urge o seu estabelecimento), além de 
componente curricular em sua transversalidade que atinge as práticas sociais. Por exemplo, durante 
a formação religiosa, os mais velhos nos educam a nunca discutir política e religião. Contudo, temos 
ansiedade para ouvir sobre uma série de dogmas que permeiam o cotidiano, entre eles a migração 
de núcleos familiares do Candomblé para as igrejas evangélicas. 
O professor não precisa seguir esse tutorial do passado, ele deve transpor os limites. Não adianta 
trazer uma série de conceitos ancorados sem fundar o debate nas memórias autorais e estimular os 
colegas para que façam o mesmo durante seu processo formativo. A pergunta dos alunos pode gerar 
estranhamento porque a religião era (ou ainda é), de acordo com as concepções do senso-comum, 
um lugar de silenciamento e de um discurso restritivo. 
Será que religião não se discute? Quando olhamos e ouvimos sobre isso no cotidiano escolar ficamos 
bem surpresos com o tamanho do problema. 
 
EM BUSCA DE SOLUÇÕES 
Ao delimitar o que pode ou não ser dito sobre religião, a sociedade quer possivelmenteevitar os 
embates, mas com isso perde o potencial dialógico que uma conversa imprime. A experiência 
vivenciada no contexto escolar nos alerta para o risco de um discurso que segue um conjunto de 
verdades. 
No primeiro contato com a sala de aula, a delimitação das vozes sobre religião pode determinar as 
práticas e silenciar o debate sobre a diversidade da fé, construindo assim um conjunto de regras que 
defende o restrito. A sala de aula não é para esse tipo de conversa e os educandos não devem 
filosofar sobre religião. 
Nas primeiras aulas, a abordagem pode ser limitada a essas construções tradicionais sobre o tema a 
fim de que o grupo vivencie a restrição permanente vigente sobre as vozes. O silêncio se estabelece 
até que haja a reflexão e a construção de uma condução diferenciada, centrada na diluição dos 
preconceitos e na remodelação dos discursos. 
 
Fonte: Shutterstock 
TODO SISTEMA DE EDUCAÇÃO É UMA MANEIRA POLÍTICA DE MANTER OU MODIFICAR A 
APROPRIAÇÃO DOS DISCURSOS, COM OS SABERES E OS PODERES QUE TRAZEM CONSIGO. 
(FOUCAULT, 2004) 
Os mecanismos de efetivação de uma rede de verdades são as suas aceitações. 
A FIGURA DOCENTE PODE ASSUMIR SEU PAPEL DE LEGITIMAR AS RAÍZES DISCURSIVAS QUE 
DELIMITAM AS VOZES OU PODE RETOMAR O CONTROLE SOBRE OS DISCURSOS, ESTABELECENDO 
ASSIM UMA COMUNICAÇÃO PARALELA. PARA ISSO, É NECESSÁRIO PERCEBER O IMPACTO DE SUA 
ATUAÇÃO NA VIDA DOS EDUCANDOS E NA AFIRMAÇÃO DO DIREITO À LIBERDADE DE PROFESSAR 
SUA FÉ. 
QUAIS SÃO OS MECANISMOS QUE VÃO LEGITIMAR ESSA ATUAÇÃO? COMO O DOCENTE PODE 
PROTEGER SUA ATUAÇÃO PERANTE O CENÁRIO DE INTOLERÂNCIA QUE VIVEMOS EM NOSSO 
PAÍS? 
Começando pela lei 10.639/2003, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, um 
mecanismo que legitima a quebra dessa estrutura impositiva sobre a religião no espaço escolar. 
 
Fonte: Shutterstock 
O processo de construção dessa lei em si, é pautado na militância do movimento negro, que 
percebia um embranquecimento do discurso religioso nas escolas brasileiras. As religiões de matriz 
africana eram segregadas e os alunos que as viviam eram marcados pelo preconceito. A 
implementação de uma lei que afirma o direito a conversar, estudar e compreender contribuiu para 
a redução do racismo e para a construção de leituras respeitosas. 
Apesar do conjunto de restrições e do silenciamento, a religião nunca esteve de fora dos currículos 
escolares; os calendários pedagógicos estão repletos de atividades que afirmam o Cristianismo; 
muitos símbolos estão presentes em instituições públicas; cultos, missas e outras atividades 
religiosas são praticadas no terreno escolar. 
Diversas entidades religiosas assumiram em nossa sociedade a função de educar no interior da 
filosofia cristã. Elas estão centradas em promover uma educação escolar organizada em seus 
princípios, formando gerações de brasileiros que vivenciaram uma fé padronizada em suas salas de 
aula. O silêncio era utilizado apenas para as religiões que não estivessem dentro do legitimado, que 
eram ou são categorizadas como inferiores, estabelecendo assim um currículo homogêneo pautado 
numa fé que regula o sistema de crenças brasileiro. 
É SEMPRE NA MANUTENÇÃO DA CENSURA QUE A ESCUTA SE EXERCE. ESCUTA DE UM DISCURSO 
QUE É INVESTIDO PELO DESEJO, QUE SE CRÊ - PARA SUA MAIOR EXALTAÇÃO OU MAIOR 
ANGÚSTIA - CARREGADO DE TERRÍVEIS PODERES. 
(FOUCAULT, 2004) 
O que poderia ser chamado de currículo oculto, revela-se, em uma simples visita às instituições 
escolares de todo o país, como algo estabelecido e legitimado. Por isso, fugindo da ingenuidade 
intelectual, devemos destacar os avanços que vivenciamos com as ações do movimento negro, mas 
que ainda precisam da atuação de docentes que compreendam o impacto da tolerância religiosa no 
cotidiano escolar. 
O sistema de verdades sobre a religião deve ser debatido para ampliar as vozes das crenças 
historicamente silenciadas e para identificar os mecanismos de silenciamento estabelecidos, os 
quais ainda são utilizados para minimizar a fé diferente. 
Um exemplo de mecanismo é a associação do que não é padrão à figura do mal. Para ilustrar, em 
diversos momentos das aulas, as crianças que seguiam o Candomblé eram associadas à figura do 
diabo. 
Essa associação segue os princípios racistas enraizados em nossa sociedade. O que os alunos fazem 
com seus colegas na escola é de certo modo um retrato do que seus pais vivenciam na comunidade 
e seus ascendentes viveram durante o processo colonial. A estrutura racista não foi quebrada, ela 
está presente em ritos cotidianos e é legitimada pelas práticas de segregação da fé alheia. 
CANDOMBLÉ 
Segundo Barros (2009), “o Candomblé é uma religião criada no Brasil por meio da herança cultural, 
religiosa e filosófica trazida pelos africanos escravizados, sendo aqui reformulada para se adequar e 
se adaptar às novas condições ambientais. Tem como função primordial o culto às divindades - 
inquices, orixás ou voduns -, seres que são a força e o poder da natureza, sendo seus criadores e 
administradores.” 
VAMOS PENSAR NO CONCEITO DE FÉ? FAÇA UMA PAUSA NA LEITURA E REFLITA SOBRE SEU 
SISTEMA DE CRENÇAS. O QUE MOTIVA SUA RELIGIOSIDADE PODE, DE ALGUMA MANEIRA, 
OPRIMIR O DIREITO DE OUTRAS PESSOAS DE MANIFESTAR SUA FÉ? 
Essas perguntas devem ser feitas a todo momento para verificar se nossas convicções não são um 
impedimento à liberdade de expressão religiosa do outro. 
UM RETORNO À TEORIA 
Vamos retomar Max Weber e a Sociologia da Religião. Segundo o autor, quando uma religião atinge 
um conjunto hegemônico em um campo de atuação, ela passa a monopolizar os aspectos morais, 
estéticos, políticos e até mesmo artísticos em determinada sociedade. Quando um conjunto 
religioso como esse atinge um grau efetivo de dominação, acaba sendo permissivo à atuação das 
minorias por não se sentir ameaçado. Dessa forma, entendemos como o Brasil foi fortemente 
católico a ponto de permitir, sem grandes embates, manifestações religiosas afrodescendentes. 
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Fonte: Shutterstock 
SAIBA MAIS 
Para explorar mais essa questão, leia a obra O Pagador de Promessas, de Dias Gomes. 
No entanto, nas décadas de 1980 e 1990, nota-se um expressivo processo de migração religiosa, 
ainda que sem rompimento de matriz – do Cristianismo católico para o Protestantismo –, bem como 
um incremento das ondas neopentecostais. Esses debates foram intensos na época, tendo episódios 
marcantes como o de um pastor evangélico chutando a imagem de uma santa católica. 
Na década de 1990, houve um crescimento religioso das correntes protestantes nas periferias das 
cidades brasileiras, com destaque para Rio de Janeiro e São Paulo. Se na primeira onda a disputa no 
campo religioso era em relação a essa grande maioria de católicos, percebe-se que na década de 
1990 a tradição religiosa volta-se à crítica das tradições afro-brasileiras. Um grande questionamento 
é o porquê desse fenômeno. Mais uma vez, Weber nos ajuda a resolver e a entender essa questão. 
CAMPO RELIGIOSO: 
Conceito utilizado por um importante teórico da religião chamado Pierre Bourdieu (1930-2002). Em 
sua Teoria da Ação ele percebe que as sociedades se estruturam em campos de poder. 
Internamente, esses campos têm práticas comuns e disputam os mesmos bens simbólicos (no caso 
da religião, a salvação, o conforto, os sistema de proteção). 
Se antes, pela hegemonia católica, o credo marginal afro-brasileiro era uma forma de identidade 
alternativa, agora ele passa a ser entendido como uma identidade negativa. O desejo de se sentir 
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aceito diante de uma mudança do reconhecimento social dos grupos evangélicos ofereceu a grupos 
sociais marginalizados uma possibilidade nova de inclusão. 
IDENTIDADE NEGATIVA: 
A pesquisadora Flávia Pinto dá um dos exemplos mais duros para entender esse fenômeno. Se você 
está em uma comunidade carente onde há forças policiais, em que situação é mais fácilvocê passar 
sem ser abordado: se estiver ostentando guias de contas vinculadas a religiões afro-brasileiras no 
pescoço ou se estiver com um terno simples e uma bíblia embaixo do braço? 
ESSE MOVIMENTO É DIREITO DO GRUPO, NÃO TEM TOM CRÍTICO NA MIGRAÇÃO, NO ENTANTO, 
QUANDO ISSO TRANSFORMA A RELIGIÃO EM UM CAMPO DE CONFLITO, TEMOS, PORTANTO, UM 
PROBLEMA QUE PRECISA SER ESTRUTURADO EM OUTRAS FORMAS DE SOLUÇÃO. 
OPOSIÇÃO ÀS MATRIZES AFRICANAS 
As escolas passaram a ser palco desse novo cenário. Notavelmente, os novos protestantes tinham 
intenção clara de atuar em oposição às matrizes africanas numa disputa clássica entre os 
representantes de Deus versus os representantes do diabo. 
Grupos que tradicionalmente vivenciaram a fé nos terreiros começam a ser atacados por essa 
corrente e ocorreu um intenso processo de migração para a nova fé. Foi um movimento de disputa 
ideológica que fechou muitas casas de santo e as pessoas se viam sem opção para manifestar sua 
crença. Evidentemente que surgiram núcleos de resistência que se organizaram, mas muitas pessoas 
acataram a nova regra e o padrão estabelecido para a favela. Foram, então, frequentar as igrejas e 
deixar de lado a crença nos orixás. 
CONTRAMOVIMENTO 
Esse movimento foi reproduzido em diversas cidades brasileiras. Muitos líderes religiosos de matriz 
africana se organizaram para fortalecer seu direito a fé e começaram a denunciar os abusos que 
ocorriam e ainda ocorrem nesse percurso. As pessoas possuem a liberdade para seguir a corrente 
religiosa que as convém, mas um princípio não deve se sobrepor a outro. Nota-se o 
contramovimento. Grupos vinculados a movimentos intelectuais passaram a ver nas religiões afro-
brasileiras uma forma de resistência, aumentando sua presença nos terreiros e em manifestações 
religiosas. 
A dinâmica sociológica de disputas sociais se manifestando na religião não é incomum, acontece e 
faz parte da dinâmica social. O desafio é que a escola não pode, ou ao menos não deve, fomentar o 
campo de disputas. 
As religiões, independentemente das escolhas familiares em suas matrizes, deveriam coexistir e as 
perguntas sobre essas mudanças poderiam ser respondidas de maneira natural, entendidas como 
escolhas. 
A oposição religiosa não é algo legítimo; a fé é o ponto em comum e deve ser o centro de 
aglutinação. No interior do universo cristão, existem diversas denominações, com regras, sistemas 
de organização e lideranças diferentes, que se respeitam e convivem em suas diferenças. Por que 
não estender essa mesma relação pacífica em prol da superação da ideia de maldade associada à 
crença diferente? 
Conceitualmente falando, a religião é entendida como um sistema de verdade. Quer dizer, existe um 
discurso que se constitui como dogma e é seguido socialmente pelos seus membros que acreditam 
nele. O problema se dá quando a tal verdade estabelece sua base na negação do outro. Quando uma 
religião necessita da exclusão do outro para existir dentro de uma sociedade democrática, ocorre 
um hiato polêmico. 
 
Fonte: Shutterstock 
O QUE FAZER? 
Entender que uma religião não pode ser um conjunto de regras imposto a todos. Seus códigos e 
pertencimentos são uma escolha pessoal, dos alunos e do professor. 
O docente deve tratar de um processo interior de reflexão, explicar e lidar com o direito do outro, 
sem que isso gere uma ofensa a si ou ao grupo. 
Como fazer isso na prática? Fomentar o debate? Perguntar! Perguntar e esclarecer. 
Os sujeitos que fazem o percurso de responder às perguntas proibidas e revisitam suas memórias no 
interior de uma fé podem perceber os limites da oposição. Os ritos que são julgados pela nova fé 
estão na história de sua vida e fazem parte dos processos de sua construção religiosa. Pergunte aos 
alunos, por exemplo, quem segue um grande credo, mas que é pequeno no Brasil, como o 
Islamismo; mostre que a segunda maior religião do mundo em número não tem representantes, ou 
tem poucos. Por quê? Porque a religião é escolha, faz parte da vivência e das experiências. 
O objetivo é notar que o silenciamento, tradição brasileira ao lidar com a religião, não vai resolver 
o problema e a dinâmica de negação da escola. O debate sobre a religião precisa ser naturalizado, 
vivenciado. 
Não responder a questionamentos sobre religião com o velho chavão de que “religião não se 
discute” é uma maneira de negar a legitimidade daquela experiência e de determinar o lugar de 
esquecimento. Por isso, ao exercer sua prática docente, formule perguntas, sem constrangimento, 
descubra as perguntas proibidas e elabore respostas coletivas. Ao fugir do código restritivo, a 
tolerância será construída num fluxo constante que tem início na legitimação das memórias e atinge 
diretamente as ações cotidianas. 
Retomando à conversa inicial, com o cenário da sala de aula e as cabeças dos alunos ávidas por 
saberem a concepção religiosa de seu professor: uma resposta que poderia parecer simples, e até 
desnecessária, transformou-se no combustível para ressignificação de valores. O debate é uma 
ferramenta legítima da sala de aula. Um momento de estabelecer respostas e construir discursos 
que fogem dos sistemas restritivos. O discurso negado e a voz silenciada norteiam as diretrizes do 
saber religioso. 
 
Fonte: Shutterstock 
EXEMPLO 
Por exemplo, as presenças quilombolas em diversas favelas de nosso país. O conceito de quilombo 
está conectado ao conceito de religião periférica. Você já ouviu falar de quilombo em sua vida 
acadêmica? 
QUILOMBO 
Segundo Santos (1994, p.157): “todas as entidades, de qualquer natureza, e todas as ações, de 
qualquer tempo fundadas e promovidas por pretos e negros. Entidades religiosas, assistenciais, 
recreativas, artísticas, culturais e políticas; e ações de mobilização política, de protesto anti-
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discriminatório, de aquilombamento, de rebeldia armada, de movimentos artísticos, literários e 
‘folclóricos’ – toda essa complexa dinâmica, ostensiva ou encoberta, extemporânea ou cotidiana, 
constitui movimento negro”. 
Quilombos são as comunidades de resistência da cultura negra no Brasil. Existem centenas de 
comunidades espalhadas pelo território brasileiro ancoradas na luta pelo fim da escravidão. 
Foram essas comunidades que receberam milhares de escravos fugidos e nesse processo formaram 
sociedades organizadas que lutaram pelo fim da escravidão. Devemos frisar que os quilombos foram 
os primeiros atos de afirmação coletiva de negação da escravidão e de acolhimento dos sujeitos 
dominados. Os aquilombamentos surgiram como um espaço de agregação étnico-cultural e 
formularam uma cultura negra peculiar. Era a oportunidade de criar pequenos pedaços da África no 
Brasil. 
AQUILOMBAMENTOS 
Segundo Fiabani (2005, p.30), “a fuga era uma negação da sociedade oficial, que oprimia os negros 
escravos, eliminando a sua língua, a sua religião, os seus estilos de vida. O Quilombo era uma 
reafirmação da cultura e do estilo de vida africanos, organizados aos moldes dos estados africanos... 
um fenômeno contra aculturativo, de rebeldia contra os padrões de vida impostos pela sociedade 
oficial e de restauração dos valores antigos.” 
QUAL A CONEXÃO ENTRE OS QUILOMBOS E O DEBATE PROPOSTO AQUI? A IDENTIDADE 
QUILOMBOLA É UMA POSIÇÃO IDEOLÓGICA E PODE SER DEFINIDA COMO UMA MOBILIZAÇÃO DO 
MOVIMENTO NEGRO NO PERÍODO COLONIAL QUE SE ESTENDE ATÉ A ATUALIDADE. ESSA 
ORGANIZAÇÃO ERA UMA AFIRMAÇÃO DA FÉ NOS ORIXÁS E EM TODO CONJUNTO FILOSÓFICO DE 
SEUS PRECEITOS RELIGIOSOS. 
Esse movimento de autoafirmação possui relação íntima com os movimentos de resistência para 
manifestação da fé a que assistimos atualmente. Poderíamos ir além e dizer que, no conceito de 
quilombo, a tradição de militância religiosa do passado e do presente são ininterruptas. Um 
conhecimento que está presente na vida das pessoas negras brasileiras. 
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A ESCUTA SENSÍVEL NA PRÁTICA DOCENTE 
 
Fonte: ShutterstockNas práticas docentes, partindo da escuta sensível, muitos alunos afirmavam seus preconceitos 
sobre as religiões, um posicionamento pautado no discurso coletivo unilateral. Porém, no decorrer 
de um percurso didático, esses mesmos alunos traziam dados importantes quanto à presença da fé 
quilombola em suas vidas. As manifestações preconceituosas não conseguiam limitar o 
pertencimento ideológico. 
ESCUTA SENSÍVEL 
Conceito de Carl Rogers (1902-1987), que considera a escuta sensível mais como uma arte do que 
uma ciência. Ouvir é um momento silencioso que pretende estabelecer uma relação de confiança 
que, por sua vez, prepara uma ambiência para interpretação. 
Quando as atividades pedagógicas recorrem ao diálogo e não à tolerância para desconstruir 
representações dominantes e construir outras, contribuem para uma melhor compreensão dos 
processos que as determinaram e com isso transformam tanto os estudantes quanto o sentido da 
representação. 
A escola é uma arena política e cultural onde formas de experiência e de subjetividade são 
constatadas, mas também ativamente produzidas, tornando-a um poderoso agente da luta a favor 
da transformação de condições de dominação e de opressão. As implicações práticas da escuta 
sensível se dão pelo modo que os professores acolhem as experiências e as vozes dos estudantes. 
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SAIBA MAIS 
Um excelente material que faz esse debate é o livro: SILVA, T. T.; MOREIRA, A. F. B. (Orgs.). 
Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis, RJ: Vozes, 
1995. 
EXEMPLO 
Você sabe quem são as benzedeiras? 
CONHECIMENTO DAS BENZEDEIRAS 
A presença das benzedeiras, mulheres que recebiam um conhecimento ancestral das ervas e suas 
indicações para o tratamento de problemas de saúde, ocuparam as lacunas do sistema público de 
saúde oferecendo a cura pela fé com suas rezas e uma ciência tradicional aprendida oralmente, na 
educação racial e coletiva. Nesse movimento, exemplifica-se os conhecimentos das ervas, que são 
repassados e ampliados. 
As ervas fazem parte da biblioteca medicinal dessas comunidades e são utilizadas como recurso aos 
medicamentos que são, na maioria das vezes, inacessíveis. Independentemente da concepção 
religiosa, as famílias utilizam as mesmas ervas que as comunidades tradicionais e com a mesma 
destinação. 
A distância geográfica das comunidades e a evolução histórica não deixou esse conhecimento ser 
diluído e a fé nas ervas permaneceu redundante nesse chão. O conteúdo foi repassado, aprendido e 
compartilhado. Mesmo com a mudança para outra filosofia religiosa, as ervas e os conhecimentos 
agregados continuaram a ser vivenciados. 
As vozes presentes aqui retratam uma proposição de observar um problema local, brasileiro, mas 
que pode ser ampliada para os debates pedagógicos. A professora Vera Candau propõe um passo a 
passo para tratar temas complexos que possam ser abordados de forma prática: 
1- DESCONSTRUIR 
Para uma construção intercultural que permita o rompimento vivido atualmente, é necessário 
desconstruir o outro como inimigo... 
2- ARTICULAR 
... articular experiências... 
3- RESGATAR 
... resgatar processos, história e experiências... 
4- PROMOVER 
... para, enfim, promover o diálogo. 
Associam-se as proposições de Carl Rogers sobre a escuta sensível a fim de construir significações, 
superando o quadro vago da ideia de tolerar a existência do outro. Nesse percurso, busca-se 
estabelecer as conexões com as convicções subjetivas e a ampliação dos conceitos – formulados e 
reformulados pelos alunos. Para isso, é necessário que, a todo momento, você compreenda os 
limites do discurso impositivo e perceba as intercessões que acontecem no campo da fé. O espaço 
de coexistência das verdades é estabelecido quando os estudantes quebram as estruturas 
tradicionais e ampliam as diretrizes do que é vigente sobre a vida e a cultura do outro. 
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VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. AO FALARMOS DE RELIGIOSIDADE NO CONJUNTO SOCIAL, IDENTIFICAMOS UM CONJUNTO DE 
TRAJETÓRIAS SINGULARES. NO BRASIL, VIVEMOS UM CLIMA DE TENSÃO ENTRE SEGMENTOS DE 
RELIGIÕES CRISTÃS E GRUPOS DE RELIGIÕES AFRODESCENDENTES. DIANTE DESSE QUADRO, É 
RECORRENTE ALUNOS INTERESSADOS EM SABER QUAL O SEGMENTO RELIGIOSO DO PROFESSOR, 
OU AINDA, A RESISTÊNCIA A COLEGAS POR PERTENCEREM A GRUPOS DIFERENTES. SOBRE A 
ATUAÇÃO DOCENTE NA IDENTIFICAÇÃO DESSES PROBLEMAS EM SALA DE AULA, SUA ATITUDE 
DEVE SER: 
Adotar a técnica da escuta sensível para desenvolver empatia e ter a oportunidade de compreender 
a essência do problema. 
Promover um debate sobre a tolerância e a necessidade de aceitação do outro, pois é o que 
determina a Constituição Brasileira de 1988. 
Bloquear os debates relativos à religião, uma vez que, por serem foco de constantes tensões, evitar 
esses debates ajuda a promover um esquema de paz e irmandade na escola. 
Permitir que os alunos se manifestem e debatam sobre a questão, garantindo assim que as opiniões 
diversas sejam manifestadas e demonstrando que a escola é um ambiente plural. 
2. SILENCIAMENTOS. ESSE CONCEITO NEM PARECE UM CONCEITO. MAS TODOS NÓS JÁ OUVIMOS 
QUE “RELIGIÃO NÃO SE DISCUTE”; ESSA É A CONSTRUÇÃO DO SENSO COMUM SOBRE O DEBATE 
RELIGIOSO EM QUALQUER LUGAR, INCLUSIVE NA ESCOLA. NO ENTANTO, A AÇÃO NA ESCOLA 
PRECISA SER DIFERENTE. O PAPEL DE ROMPER COM O SILENCIAMENTO NA ESCOLA PRECISA SER 
FEITO UMA VEZ QUE: 
A escola é a responsável pela educação, logo, deve abordar todos os aspectos da vida cotidiana, 
inclusive a religião. 
Na tradição histórica brasileira, pautada em uma sociedade em que o preconceito é velado, a 
religião faz parte dos currículos escolares e precisa ser explicada como conteúdo aos alunos. 
As crises religiosas, marcadas por atentados fundamentalistas, precisam ser apresentadas de forma 
a promover a tolerância religiosa e o respeito mútuo. 
É preciso dialogar sobre fé cotidianamente, realizando as mediações necessárias para a superação 
do preconceito. 
GABARITO 
1. Ao falarmos de religiosidade no conjunto social, identificamos um conjunto de trajetórias 
singulares. No Brasil, vivemos um clima de tensão entre segmentos de religiões cristãs e grupos de 
religiões afrodescendentes. Diante desse quadro, é recorrente alunos interessados em saber qual 
o segmento religioso do professor, ou ainda, a resistência a colegas por pertencerem a grupos 
diferentes. Sobre a atuação docente na identificação desses problemas em sala de aula, sua 
atitude deve ser: 
A alternativa "A " está correta. 
 
 
O debate sobre a religiosidade deve ser pautado numa escuta dedicada do profissional da educação 
para construir suas interpretações e ele precisa ouvir atentamente as falas dos alunos e não oferecer 
julgamentos. A adoção de conceitos como o de Carl Rogers permite que seja superada a ilusão da 
tolerância por uma construção de significações própria dos alunos. 
2. Silenciamentos. Esse conceito nem parece um conceito. Mas todos nós já ouvimos que “religião 
não se discute”; essa é a construção do senso comum sobre o debate religioso em qualquer lugar, 
inclusive na escola. No entanto, a ação na escola precisa ser diferente. O papel de romper com o 
silenciamento na escola precisa ser feito uma vez que: 
A alternativa "D " está correta. 
 
 
Na superação dos prejuízos impostos às minorias religiosas e na obtenção de uma comunidade 
escolar pautada na tolerância, é necessário fugirmos do silêncio. Precisamos conversar de maneira 
direta sobre a diversidade ideológica. 
 
Reconhecer o conceito de pluralidade da periferia como alternativa às concepções de 
homogeneização dos processos educativos 
O PAPEL DA PERIFERIA DENTRO DO COMPLEXO CÍRCULO SOCIAL 
O conceito de minoria e os debates sociais sobre religiosidade fazem parte de todos os contextos 
sociais brasileiros. As formações culturais e as identidades se encontram e estabelecem suas 
relações no ambiente social. Mas,ao falar de periferia, esses dois conceitos devem receber uma 
atenção especial. Faça uma reflexão das leituras estabelecidas até aqui, como em todo o nosso 
percurso formativo, e conexões com as suas janelas de experiências. 
MINORIAS 
PERIFERIAS 
RELIGIOSIDADES 
QUAL A CONEXÃO QUE VOCÊ CONSEGUE PERCEBER ENTRE ESSES TRÊS TEMAS? 
Simples, o conceito de homogeneização. 
As escolas lidam com o seu papel de homogeneizar, criar sujeitos vinculados a elementos comuns. 
Todas as experiências e trocas relatadas são resolvidas com o objetivo de criar um padrão de 
cidadão geral, que reconheça os mesmos valores, que reafirme as mesmas ideias. 
Consideremos, apenas neste momento, a construção comum de periferia, a visão geral e do senso 
comum. Ao falar desse conceito, conseguimos contemplar todas as comunidades brasileiras e as 
vivências culturais inerentes a esse lugar. 
Uma periferia do Nordeste do país tem a mesma formação étnica-cultural que uma periferia da 
região Sul? 
 
Fonte: Shutterstock 
 Periferia de Curitiba, Região Sul do país. 
 
Fonte: Shutterstock 
 Periferia de Fortaleza, Região Nordeste do país. 
Na concepção tradicional, a resposta seria sim. O ponto de interligação seria firmado na pobreza e 
em muitos preconceitos que em sua reflexão podem ter sidos revisitados. 
É importante que você consiga avaliar essas afirmações e responder às suas questões. Sabemos que 
as compreensões distorcidas podem interferir nos processos educacionais. Utilize este texto como 
um processo de revalidação de seus conceitos e na proliferação de um olhar que compreenda as 
realidades socioculturais das periferias brasileiras. 
AO LONGO DA DIVISÃO SOCIAL DO TERRITÓRIO BRASILEIRO, EM NOSSA HISTÓRIA, UM MASSIVO 
CONTINGENTE DE NEGROS FOI EXCLUÍDO DO DIREITO À TERRA. ENTENDER ESSA ETAPA DA 
CONSTRUÇÃO SOCIAL E POLÍTICA DO NOSSO TERRITÓRIO É RELEVANTE PARA O ESTUDO DOS 
SABERES E FAZERES EM EDUCAÇÃO. A EXCLUSÃO HISTÓRICA DOS DESCENDENTES DOS AFRICANOS 
ESCRAVIZADOS E NEGROS EM GERAL FEZ COM QUE ESSAS PESSOAS FOSSEM AGLUTINADAS NAS 
FAVELAS. 
DIVISÃO GEOGRÁFICA, SEGREGAÇÃO ESPACIAL 
Na formação do tecido urbano das grandes cidades, ocorreu uma divisão geográfica, natural para 
alguns, demarcando uma divisão que separa socialmente as pessoas. Dizer que essa divisão é apenas 
geográfica e social poderia ser ingenuidade, mas devemos começar a olhar o conceito de periferia 
por esse ponto. Pense na divisão nos mapas tradicionais de nossas cidades e nas divisões políticas. 
No processo de exclusão territorial, ocorre uma (re)divisão que não é demarcada de maneira oficial. 
Nos mapas oficiais, existe a definição das zonas nobres, dos centros urbanos e dos outros lugares, os 
quais demarcam o privilégio. Os outros lugares são classificados como regiões periféricas, um espaço 
onde mora a maioria das famílias brasileiras que não possui renda para residir nas proximidades das 
zonas mais prósperas. Surge, então, outro ponto de demarcação: os limites financeiros. 
 
São Luís - MA 
 
São Paulo - SP 
 
Belo Horizonte - MG 
 
Salvador - BA 
As zonas centrais têm o custo de vida elevado e não permitem a presença de pessoas que não 
possuem condições de custear sua manutenção. Uma determinação definida, inicialmente por 
questões econômicas, mas vamos percorrer o texto e descobrir outros pontos de segregação 
espacial. 
A PERIFERIA SURGE INICIALMENTE COMO UM LUGAR DE SEPARAÇÃO FINANCEIRA E GEOGRÁFICA. 
MAS NÃO PODEMOS CORRER O RISCO DE CENTRAR NOSSO DEBATE APENAS NESSES PONTOS. É 
URGENTE DEMONSTRAR OUTROS FATORES HISTÓRICOS QUE SÃO BASILARES PARA A 
DETERMINAÇÃO DAQUELES QUE VÃO RESIDIR NAS PERIFERIAS DE NOSSO PAÍS. 
ATENÇÃO 
Nosso país ainda é considerado, no contexto político global, como uma região periférica. No sistema 
econômico vigente no mundo, somos um país pobre, cujos índices nos categorizam como uma nação 
periférica. Essa fala é válida para este momento, mas a retomada dos processos históricos da 
formação brasileira é necessária. 
PERIFERIA BRASILEIRA 
A partir do século XVI, o Brasil inicia sua história – ao menos como Brasil. Quem nós éramos? Uma 
colônia portuguesa! Isto é, o Brasil era considerado a periferia de Portugal que, apesar de certo 
sucesso durante um momento, era periferia na Europa. Com a função de fornecer riquezas e 
matéria-prima à capital, a nova colônia era classificada como um local de proliferação de doenças. 
Com a evolução desse processo, várias estruturas foram construídas para criar pedaços da Europa 
no Brasil e favorecer a permanência da elite que aqui construía suas riquezas. 
A grande periferia começava a ganhar ares de civilidade e de demarcação de lugares. No primeiro 
momento, a expulsão e o extermínio das populações indígenas para, em seguida, a construção de 
um conjunto de valores que justificaria a escravidão dos recém-chegados africanos. As senzalas 
assumem nesse processo o lugar de periferias no interior das fazendas em oposição clara ao modo 
de vida dos portugueses. 
Os quilombos surgem como resistência ao modelo escravagista, não que as senzalas funcionassem 
como espaço de harmonia e passividade. As populações africanas, das diferentes etnias, não eram 
passivas na divisão do espaço urbano colonial. Esse lugar periférico foi uma opção viável de retorno 
à cultura africana. Fugir para as comunidades quilombolas, estabelecer grupos organizados nas 
florestas ou criar estratégias para permanecerem escondidos nas matas da cidade. Uma forma clara 
de subverter a ordem política vigente e afirmar uma identidade que deveria ser, na concepção do 
sistema colonial, passiva e obediente. 
 
 
 Pintura de Johann Moritz Rugendas. 
Persistindo como sujeitos periféricos em um regime opressor, os quilombos são um exemplo de 
periferia que se afirmava e atacava claramente o modelo social central. Por meio da afirmação 
cultural, ideológica, religiosa e educacional, esses espaços estabeleceram uma identidade paralela e 
fomentaram ataques ao regime colonial. 
A determinação física surge como uma barreira a qual classifica e restringe as relações na sociedade 
brasileira. Vimos que as questões sociais, culturais e religiosas também são determinantes para a 
polarização. As ideologias periféricas são construídas em um protesto claro ao sistema social padrão 
e estabelecem uma alternativa de sobrevivência para todos que por ele são excluídos. 
FALAR EM PERIFERIA É COMPREENDER UMA DIVISÃO EXISTENTE NO TECIDO SOCIAL. O MODO DE 
SER PERIFÉRICO FOI ESTABELECIDO E É VIVENCIADO EM SEU TERRITÓRIO, CONSEGUINDO 
QUEBRAR AS BARREIRAS QUE DETERMINAVAM A INFERIORIDADE. ESSA TRANSITORIEDADE É 
INERENTE À CULTURA BRASILEIRA; MUITAS DAS PESSOAS QUE RESIDEM NAS PERIFERIAS ATUAM 
PROFISSIONALMENTE NAS REGIÕES CENTRAIS E SÃO ATORES NECESSÁRIOS PARA O 
FUNCIONAMENTO ECONÔMICO DESSA REGIÃO. 
COMUNIDADES PERIFÉRICAS 
Conectando as linhas do tempo, as construções históricas de definição de periferia vão impactar 
diretamente na divisão das cidades contemporâneas. O ato de estabelecer uma cidade central 
possui o objetivo evidente de segmentar a sociedade que o tempo não foi capaz de diluir. Em um 
movimento de utilizar esses fatores, os quais seriam determinantes da exclusão social, mas que 
podem e são utilizados para ressignificação, as comunidades periféricas continuam existindo, 
porém estabelecem mecanismos de oposição e de afirmação de sua identidade. Os ataques ao 
sistema central vão ocorrer na denúncia das ausências do poder público. 
Precisamos conversar sobre as favelas, as quais, na maioria das vezes, não estão distantes 
geograficamente, mas se localizam em espaços formados no interior das regiões nobres, nos altos 
dos morros e nas ocupações. Trata-se de uma estratégia para diminuir o deslocamento para o 
trabalho e manter uma maior proximidade com o centro financeiro das cidades. 
Essa invasão e negação da repartição do tecido urbano da cidade são de extrema importância para avisibilidade das comunidades. A Rocinha, na cidade do Rio de Janeiro, é uma afirmação territorial da 
identidade de favela. Sua presença no espaço nobre da cidade faz com que todos os cidadãos 
revejam cotidianamente seus conceitos e percebam o impacto de uma política pública limitadora. 
As favelas são ramificações importantes para a economia e representam a negação dessa barreira 
social. Uma forma de existir dentro das regiões nobres e excludentes sem perder a subjetividade e 
com um sistema econômico próprio. As redes que existem no interior das favelas ampliam o espaço 
das periferias nas cidades e interferem diretamente nas dinâmicas culturais. Em algumas regiões, as 
favelas são vizinhas de imóveis hipervalorizados, o que não determina o mesmo acesso ao emprego, 
aos serviços públicos e à compreensão de direitos sociais. 
As favelas, ao deturpar esse processo restritivo, invadem os limites impostos e se estabelecem 
enquanto grupo paralelo ao sistema social vigente. São alvo de um controle social e de uma política 
pública que decide diariamente quem será alcançado pelos serviços públicos. 
Precisamos romper com a linearidade do conceito de periferia e debater sua construção social para 
além dos processos históricos. Uma leitura desse conceito deve ser estabelecida em seus 
movimentos, em seus processos e nas remodelações que são feitas pelos atores periféricos. A 
periferia não pode ser associada a um lugar de passividade. Os processos educativos são 
protagonizados para além do espaço da educação formal. 
Os movimentos sociais são reunidos nesse espaço e constroem estratégias educativas que vão desde 
fomentar a inclusão no mercado de trabalho a ensinar práticas culturais locais. Os moradores das 
favelas possuem voz e são capazes de avaliar os projetos políticos coletivos construindo linhas de 
oposição e de afirmação coletivas. 
 
 
EDUCAÇÃO E PERIFERIA 
 
 
 Escola Municipal em Lauro de Freitas, Bahia. 
O profissional de educação, sob essa ótica, não deve atuar de maneira tradicional; deve ser um 
agente que entenda os discursos orgânicos do território, fugindo dos canais de silenciamento das 
tensões identitárias e percebendo o papel dos conflitos na formação das identidades locais opostas 
ao que é estabelecido. 
Existem impulsos para a aglutinação dos sujeitos, contudo, na formulação de uma abordagem 
educativa, esse direcionamento não deve centrar as ações. Não devemos reproduzir no ambiente 
escolar uma concepção limitante, e sim descrever os processos de superação das conjunturas 
tradicionais de exclusão. 
Nas definições de favela e de periferias brasileiras, as relações sociais não são homogêneas. Desse 
modo, as micropolíticas precisam fazer parte do currículo escolar. As culturas não são determinadas 
por um padrão, mas por processos de intercâmbio, como, por exemplo, os fluxos de migração 
ocorridos em nosso país, a entrada de novos ritos e as lideranças que estão em disputa no local. 
As interações e as ações periféricas podem ser vistas e revistas e são ações vivas, vejamos o exemplo 
desta escola em São Paulo. 
QUER ENTENDER MELHOR ESSA QUESTÃO? 
Assista ao vídeo do Prêmio Territórios, do Instituto Tomie Othake. 
 
A periferia não segue um padrão cultural, por isso, traz para o campo da educação uma pluralidade 
de desafios. Para formular uma educação coletiva e contextualizada, é fundamental a identificação 
dos signos coletivos agregados ao ser periférico de cada uma das comunidades. 
As pessoas das comunidades estão cada vez mais inseridas no universo escolar, seja na luta por um 
currículo antirracista ou no acompanhamento do conjunto das ações educacionais estabelecido nas 
escolas. Agentes locais buscam fiscalizar a educação formal e, ao mesmo tempo, ampliar as 
possibilidades de aprendizagens distantes dos formalismos pedagógicos. 
As escolas estão em processo de fiscalização constante e não podem reproduzir em seus materiais 
didáticos, ou nas ações, práticas racistas e segregacionistas. Os olhos da mobilização coletiva estão 
centrados nesse espaço formador das gerações futuras para evitar a repetição dos erros do passado. 
As juventudes estão conscientes de seu pertencimento e denunciam a rigidez da escola pública. Isso 
delega uma responsabilidade maior aos docentes, os quais não podem reproduzir nos espaços 
escolares os mecanismos tradicionais de exclusão. Uma alternativa seria o fortalecimento desse 
lugar. 
ATENÇÃO 
A escola pertence às comunidades; os projetos políticos pedagógicos devem ser debatidos nas 
quadras; as lideranças locais devem fazer parte dos processos cotidianos de educação. Os muros das 
escolas devem ser apenas estruturas físicas e o movimento dessas instituições deve ser o 
enraizamento nos saberes locais, numa clara relação entre os saberes acadêmicos e os 
conhecimentos tradicionais. 
DEBATENDO A REALIDADE SOCIAL 
Ao falarmos de periferia, devemos fugir da visão preconceituosa e entender a diversidade desse 
conceito; fugir das concepções e análises que são distantes da realidade social e debater a 
complexidade dos conceitos. A lente que observa a vida do outro deve ser isenta de preconceitos. As 
periferias são um lugar de produção de conhecimento e os currículos escolares devem ser pautados 
em sua cultura. 
É urgente compreender as projeções assumidas por esse conceito no interior do campo, seja na 
fundamentação de paradigmas ou no fortalecimento de diretrizes educativas. 
A periferia deve ser entendida além dos mecanismos de exclusão. O que deve ser evidenciado é o 
processo de afirmação estabelecido nesses lugares, nas retomadas que servirão de fortalecimento 
das mobilizações coletivas. 
As dualidades, as quais são comumente o ponto central da análise precisam sair de cena. Não é 
necessário pensar os saberes locais partindo do centro; os significados das mobilizações estão em 
seu território e apenas nele pode ser traduzido. É preciso reforçar as vozes locais na tentativa de 
enxergar a educação além dos preconceitos. 
Os jovens precisam ser compreendidos além das questões sociais, pois sua importância dentro da 
dimensão política extrapola crises inerentes à pobreza ou às vulnerabilidades, marcas utilizadas 
para determinar a inferioridade dos saberes e excluir o caráter educativo de suas ações. 
A educação é um palco social, logo, reproduz nossos principais sistemas sociais. A escola está imersa 
na sociedade, como a professora Nilda Alves coloca, e reproduz no cotidiano escolar as dinâmicas 
do cotidiano social, inclusive seus sistemas de exclusão. O momento é de ressignificar as relações 
entre escolas e favelas, tendo em contrapartida as experiências da educação popular como um 
espaço de libertação. O desafio para os educadores é fomentar e inserir a educação popular nas 
ações cotidianas, numa ruptura com a dualidade e na inserção das subjetividades nas relações de 
aprender e ensinar. 
NILDA GUIMARÃES ALVES 
Doutora em Ciências da Educação pela Université Paris Descartes. Em sua obra, importantes noções 
emergem para as pesquisas em Educação, bem como para as práticas educativas, estas últimas 
sempre valorizadas e pensadas a partir do que são e têm, e não de suas lacunas e problemas. 
Fonte: Perfis da Educação. 
 
 
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VERIFICANDO O APRENDIZADO 
1. NOSSAS LEITURAS E CONVERSAS SOBRE PERIFERIA ATENTARAM PARA A DIVERSIDADE DO 
CONCEITO. ASSINALE A ÚNICA OPÇÃO QUE CONSEGUE AFIRMAR A COMPLEXIDADE DO CONCEITO 
DE PERIFERIA. 
Todas as comunidades periféricas são iguais. 
É necessário criar uma definição nacional para o conceito. 
A ideia de totalidade é uma resposta para a leitura do conceito. 
A leitura do conceito deve ser plural e centrada nas subjetividades. 
2. AS PERIFERIAS ESTÃO ASSOCIADAS DIRETAMENTE ÀS MOBILIZAÇÕES SOCIAIS COLETIVAS, E AS 
ESCOLAS DE NOSSO PAÍS PRECISAM INSERIR ESSES MOVIMENTOS NO CURRÍCULO ESCOLAR. 
APRESENTAMOS ALGUMAS SITUAÇÕES DO COTIDIANO ESCOLAR QUEREFORÇAM A AFIRMAÇÃO 
APRESENTADA ACIMA. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CONTENHA UMA PRÁTICA QUE NÃO 
CORRESPONDE A ELA: 
A comunidade escolar deve fazer parte das constituições das práticas educativas. 
As ações locais são cotidianas e oferecem ao educando um acolhimento no tocante às suas 
subjetividades. 
As periferias devem receber uma política pública padronizada e as escolas não precisam incluir as 
memórias locais em suas ações. 
As periferias possuem diversas mobilizações e sua complexidade não pode ser ignorada. 
GABARITO 
1. Nossas leituras e conversas sobre periferia atentaram para a diversidade do conceito. Assinale a 
única opção que consegue afirmar a complexidade do conceito de periferia. 
A alternativa "D " está correta. 
 
 
Nas construções cotidianas e no saber/fazer em educação, os profissionais precisam atentar para as 
diversidades e fugir das generalizações, entendendo que a leitura do conceito deve ser plural e 
centrada nas subjetividades. 
2. As periferias estão associadas diretamente às mobilizações sociais coletivas, e as escolas de 
nosso país precisam inserir esses movimentos no currículo escolar. Apresentamos algumas 
situações do cotidiano escolar que reforçam a afirmação apresentada acima. Assinale a alternativa 
que contenha uma prática que não corresponde a ela: 
A alternativa "C " está correta. 
 
 
O conceito de periferia pode ser confundido com o de ações coletivas tendo em vista que a 
sobrevivência desse grupo está associada às suas mobilizações. São as organizações que vão 
denunciar os limites das políticas públicas e fornecer ao grupo uma legitimidade social. A escola 
precisa compreender esses processos e negar a visão que diz: as periferias devem receber uma 
política pública padronizada e as escolas não precisam incluir as memórias locais em suas ações. 
CONCLUSÃO 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Quando lidamos com temas complexos, como minorias e desigualdades, em especial tocando em 
aspectos tão marcantes no Brasil, como as periferias e as tensões religiosas, a discussão é sempre 
um desafio. Para lidar com temas tão íntimos, é necessário ultrapassar a possibilidade de se 
entender como um intelectual de gabinete e pensar, na prática, como essas demandas se 
manifestam no cotidiano escolar. 
Primeiro debatemos o conceito de minoria, mostrando que não é uma mera questão numérica, e 
sim um processo sociológico, conceitual e que, uma vez definido, descortina um conjunto de 
debates que dialoga com a educação, a história e a cultura de uma sociedade. As minorias 
representam, de alguma forma, um campo de exclusão, mas podem também assumir um processo 
identitário, fortalecendo os grupos. 
Quando passamos a analisar como isso se manifesta, chegamos à religião e à periferia. Para a 
religião, aplicando a noção de que a experiência média nos cala, faz-nos evitar o debate sobre esse 
assunto, pois isso não seria útil para lidar com o problema. A introdução de conceitos como o da 
escuta ativa e o entendimento da naturalização do debate no cotidiano escolar é o proposto. Por 
fim, percebemos o que é periferia, dentro do complexo círculo social, como o centro e as áreas que 
aspiram ao centro trocam culturas. Apontamos que a escola não pode ser o espaço de ratificação 
das condições periféricas, mas um potencial de superação e, embora não represente uma solução, 
permite um processo de discernimento. 
 
FALA MESTRE 
Os Desafios das Diferenças Culturais 
Sinopse: Zico fala sobre os desafios de trabalhar com culturas diferentes a partir de sua experiência 
no Japão e no Iraque, e conta com descontração como fez para driblar essas dificuldades. 
Sinopse: Zico fala sobre os desafios de trabalhar com culturas diferentes a partir de sua experiência 
no Japão e no Iraque, e conta com descontração como fez para driblar essas dificuldades. 
AVALIAÇÃO DO TEMA: 
CONTEUDISTA 
Ricardo Luiz da Silva Fernandes 
CURRÍCULO LATTES 
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REFERÊNCIAS 
ALVES, N. Cultura e cotidiano escolar. In: Revista Brasileira de Educação, n.23. Rio de Janeiro: UERJ, 
2003. 
BARROS, M. O Candomblé bem explicado (Nações Bantu, Iorubá e Fon). Rio de Janeiro: CIP-BRASIL, 
2009. 
CANDAU, V. Didática crítica intercultural: aproximações. Petrópolis: Vozes, 2012. 
FIABANI, A. Mato, palhoça e pilão: O quilombo, da escravidão às comunidades remanescentes 
[1532-2004]. São Paulo: Expresso Popular, 2005. 
FOUCAULT, M. A ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de 
dezembro de 1970. Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 2004. 
GONZALEZ, L. Mulher negra. In: Mulherio, São Paulo, ano I, n. 3, 1981, p. 4. 
GONZALEZ, L. De Palmares às escolas de samba, estamos aí. In: Mulherio, São Paulo, ano II, n. 5, 
1982. p. 3. 
GONZALEZ, L. Beleza negra, ou ora yê-yê-ô. In: Mulherio, São Paulo, ano II, n. 6, mar/abr., 1981, p. 4. 
MARTINS, A. R. N. Racismo e Imprensa: argumentação no discurso sobre as cotas para negros nas 
universidades. In: Coleção educação para todos. Brasília: Ministério da Educação, 2007. 
MINORIA. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Consultado em meio 
digital em 28 abr. 2020. 
NASCIMENTO, A. O Quilombismo. Rio de Janeiro: Fundação Cultural Palmares, 2002. 
ROGERS, C. R. (1977a). Pode a aprendizagem abranger ideias e sentimentos? (R. Rosenberg, Trad.). 
In: ROGERS, C. R.; ROSENBERG, R. A pessoa como centro (pp. 143-161). São Paulo: EPU. (Original 
publicado em 1974). 
SANTOS, J. R. Movimento negro e crise brasileiras. Brasília: Ministério da Cultura/Fundação Cultural 
Palmares, 1994. 
 
 
EXPLORE+ 
Para ampliar seu conhecimento sobre o tema apresentado, pesquise as indicações abaixo, que 
poderão auxiliar o docente na construção do processo formativo e fomentar mais debates: 
• A lei 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que altera a lei 9.394 para incluir no currículo oficial da 
Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá 
outras providências. 
• O perigo de uma única história, palestra da escritora Chimamanda Adichie no TED Talks. 
• Movimento negro no Brasil: mobilização social e educativa afro-brasileira, de Ricardo Luiz da 
Silva Fernandes, publicado na Revista África e Africanidades - Ano 2 - n. 6 - Agosto. 2009. 
• Educar para a diversidade étnica e cultural – investigação e ação, de Ricardo Luiz da Silva 
Fernandes, publicado na Revista África e Africanidades - Ano I - n. 3 - Nov. 2008. 
• O debate sobre os conceitos de raça na formação do professor de ensino fundamental, de 
Ricardo Luiz da Silva Fernandes, publicado na Revista África e Africanidades - Ano X - n. 25 – 
out-dez 2017. 
• O pensamento científico na Educação Básica, reportagem de Larissa Altoé para o website da 
MultiRio, publicado em 13 fev. 2020. 
• Ciranda, clipe musical da banda Heavy Baile. 
• Encontro com Milton Santos (2006), entrevista com o geógrafo e intelectual baiano Milton 
Santos, gravada quatro meses antes de sua morte e dirigida por Silvio Tendler. 
 
 
	DEFINIÇÃO
	PROPÓSITO
	OBJETIVOS
	INTRODUÇÃO
	DEFINIÇÃO DO CONCEITO DE MINORIA E SEU ESPAÇO NO CONTEXTO EDUCACIONAL
	ENTÃO... O QUE FAZER COM AS MINORIAS?
	QUANDO O DISCURSO HEGEMÔNICO É MASCULINO, MAS AS MULHERES TÊM NUMERICAMENTE MAIS ENTES, O QUE SIGNIFICA? QUANDO O CONCEITO DE MINORIA LEGITIMA POLÍTICAS SEGREGACIONISTAS HISTÓRICAS, COMO AS AMERICANAS E AS SUL-AFRICANAS, ELE AINDA SERVE? ESSE CAMINHO,...
	FAÇA UMA PAUSA NA LEITURA E REFLITA SOBRE ESSE CONCEITO: QUAL A SUA COMPREENSÃO SOBRE MINORIA E QUAL O SIGNIFICADO DESTA EM SEU COTIDIANO? VOCÊ FAZ PARTE DESSA HISTÓRIA.
	VIDAS
	ASSUNTOS MALICIOSOS
	EXEMPLO
	CONSEQUÊNCIA DA INTOLERÂNCIA NO GUARUJÁ
	IDENTIDADE E PERTENCIMENTO
	UMA DEFINIÇÃO GLOBAL NÃO FAZ COM QUE AS PRÁTICAS RACISTAS SEJAM MINIMIZADAS EM NOSSA SOCIEDADE.
	ATENÇÃO
	PARA COMPREENDERMOS OS PROCESSOS DE MOBILIZAÇÃO VIVENCIADOS EM NOSSO PAÍS, DEVEMOS REVISITAR ALGUNS PROCESSOS HISTÓRICOS DA FORMAÇÃO DO

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