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Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 Diabetes Mellitus Gestacional O Diabetes Melittus Gestacional (DMG) é considerada a complicação mais comum do período gestacional. Isso ocorre pelo fato dessa condição determinar maior índice de morbimortalidade perinatal, além de propiciar um maior risco de malformações congênitas, macrossomia, óbito fetal e desenvolvimento de DM tipo 2 após a gestação. A gestação é caracterizada por acréscimo na resistência periférica à insulina. A resistência à insulina aumenta durante a gestação em virtude da secreção placentária de alguns hormônios considerados diabetogênicos, como hormônio do crescimento, cortisol e hormônio lactogênico placentário e com isso há um consequente incremento na produção de insulina pelas células-beta pancreáticas. Na gestação, o metabolismo energético pode ser dividido em duas fases: 1. A primeira é conhecida como fase ANABÓLICA, comandada por estrogênio e progesterona. Corresponde por um período de armazenamento de gordura e glicogênio hepática, para formar uma reserva energética. Somando a isso temos um consumo contínuo de glicose pelo feto. Essas alterações levam a uma redução da glicose basal e hipoglicemia de jejum -> Até 24 semanas 2. A segunda fase é a CATABÓLICA materna, acompanhada pela fase de anabolismo fetal, com crescente consumo de nutrientes maternos pelo feto, que foram armazenados na primeira fase. Nela torna-se evidente o aumento da resistência periférica à insulina, devido aos hormônios contrainsulínicos (hPL e cortisol). A segunda fase é um período de neoglicogênese além disso, o hLP induz a lipólise, resultando em um aumento dos ácidos graxos causando resistência periférica à insulina, com hiperglicemia pós-prandial e hiperinsulinemismo compensatório. Quando as modificações na função pancreática não são suficientes para vencer a resistência à insulina, ocorre o DMG. Uma eventual hiperglicemia materna provoca uma hiperglicemia fetal. Assim o pâncreas fetal leva à hiperinsulinemia e possível macrossomia. Adicionalmente, a osmolaridade plasmática elevada gera poliúria fetal aumentando a quantidade de líquido amniótico (polidrâmnio). São definidos quatro grupos: diabetes mellitus tipo 1, diabetes mellitus tipo 2, diabetes mellitus de outros tipos e diabetes mellitus gestacional. No diabetes tipo 1, a destruição das células-beta pancreáticas é o fator etiológico que responde pela deficiência completa de insulina. Esse tipo da doença se manifesta antes dos 30 anos de idade e mais frequentemente durante a adolescência. O diabetes tipo 2 é a forma mais comum da doença. É caracterizado por deficiência na secreção e na ação da insulina e ocorre com maior frequência após os 40 anos de idade. Caracteriza-se pelo predomínio da resistência à insulina, com deficiência relativa da sua secreção. Muitos desses casos têm a obesidade como um dos fatores desencadeantes do aumento da resistência periférica à insulina, o que faz com que a orientação nutricional seja suficiente para que se consiga o controle glicêmico. Reconhecer o momento de manifestação do diabetes (prévio à gestação ou durante a gestação) é importante, pois o mau controle da doença na fase periconcepcional aumenta o risco de malformações fetais. Outra classificação bastante útil na assistência a gestantes que apresentam diabetes mellitus foi a proposta por Priscilla White, para orientar no momento do parto nos casos de gestantes com DM. Atualmente, não é mais utilizada para esse fim e é empregada como forma de estimar o risco gestacional. Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 Atualmente, o diabetes diagnosticado durante a gravidez é classificado de duas formas: diabetes pregresso desconhecido (DM pré-gestacional ou overt diabetes) e DMG. • DMG: Mulher com hiperglicemia detectada pela primeira vez durante a gravidez, com níveis glicêmicos sanguíneos que não atingem os critérios diagnósticos para DM • Overt Diabetes (DM prévio desconhecido, diagnosticado na gestação): mulher sem o diagnóstico de DM, com hiperglicemia detectada na gravidez e com níveis glicêmicos sanguíneos que atingem os critérios da OMS para DM na ausência de gestação. O DM prévio à gestação está mais associado ao risco de malformações fetais (cerca de 6-10%, sendo as anomalias cardíacas as mais comuns), ocorrência de abortamento e de oligodrâmnia. Na gestante diabética, há um risco aumentado para ocorrência de ITU, devido a glicosúria. Devido ao acúmulo de glicogênio na mucosa vaginal, há uma acidificação do meio, propiciando maior risco de candidíase vaginal. Os principais riscos gestacionais são: abortamento, morte fetal tardia, polidrâmnio. Complicações fetais: anomalias congênitas, distúrbios do crescimento, distocia de ombros, sofrimento fetal, prematuridade. Complicações neonatais: prejuízo no amadurecimento pulmonar, propiciando a síndrome da angústia respiratória. Ao nascer o neonato filho de mãe diabética, acostumado a um regime hiperglicêmico e hiperinsulinêmico, perde o aporte de glicose materna, podendo sofrer hipoglicemia neonatal. O TOTG é realizado com a ingestão de 75g de glicose anidra, diluídos em 100 a 200ml de água, e a realização das medidas de glicemia em jejum, após 1hora e após 2horas da ingestão da glicose. O rastreamento é feito na primeira consulta de PN, idealmente antes de 20 semanas, por meio da glicemia de jejum. O TOTG de 75g é reconhecido como teste de escolha para o diagnóstico de DMG. Deve ser realizado entre 24 e 28 semanas para os pacientes que ainda não tiveram o diagnóstico de DM confirmado. Overt Diabetes -> Critérios para DM prévio, porém descoberto na gestação GJ ≥126mg/dL Hb Glicada ≥6,5% TOTG 2hrs ≥ 200mg/dL Glicemia > 200 + sintomas (poliúria, polidipsia, polifagia) Maria Eduarda de Souza Trigo Fernandes - 9º Semestre - Internato Obstetrícia 2022 A monitorização glicêmica deve ser realizada desde o diagnóstico até o pós-parto. O método mais indicado é a automonitorização da glicemia capilar com glicosímetro (dextro), com isso, devem anotar todos os valores e mostrar os resultados para serem avaliados na consulta médica. DMG: 4x/dia (perfil glicêmico simplificado) – Jejum, 1hr pós-prandial (café da manhã, almoço e jantar) Limites de glicemia capilar em pacientes com DMG Horário Jejum Pré- Prandial 1hr pós- prandial 2hrs pós- prandial Limites de Glicemi a <95mg/d L <100mg/d L <140mg/d L <120mg/d L No trabalho de parto e durante o parto: 70- 120mg/dL Pré-gestacional (tipo 1 ou 2) ou uso de insulina: 7x/dia (perfil glicêmico completo) – Jejum, pré-prandial (almoço e jantar), 1hr pós-prandial (café da manhã, almoço e jantar) e madrugada. • Medidas Gerais O tto envolve orientação dietética (30kcal/kg/dia) e prática de atividade física (3x por semana por 30min). Orienta-se evitar ganho de peso exagerado, cortar todos os tipos de doce, diminuir ao máximo o consumo de carboidratos, se possível fazer dieta com o acompanhamento de um nutricionista, diminuir refrigerantes e sucos, e usar adoçante no lugar do açúcar (preferível o uso de sucralose, aspartame ou stevia com moderação). Tais medidas devem ser tomadas, e uma reavaliação é necessária em 15 dias. Caso a paciente não atinja os alvos, é necessário fazer o tto medicamentoso. • Insulinoterapia A insulina humana é sempre preferida pelo menor risco imunogênico e pela segurança verificada após anos de uso. As insulinas mais utilizadas são: a NPH, de ação intermediária, utilizada para o controle da glicemia de jejum e pré-prandiais e, a Regular, de ação rápida, indicada para o controle das glicemias pós-prandiais. A Sociedade Brasileira de Diabetes recomendaa dose inicial entre 0,3 e 0,5 UI/kg/dia, via SC, de NPH (ação intermediária), preferencialmente em mais de uma dose diária, devendo ser realizados ajustes a cada 15 dias até a 30ª semana, e, semanalmente, após a 30ª semana, tomando-se como base os resultados da monitorização glicêmica. Dependendo da dose diária calculada, ela pode ser dividida em múltiplas aplicações diárias, com maior concentração pela manhã, antes do café da manhã (dois terços pela manhã e um terço à noite). Deve-se associar, se necessário, insulina de ação rápida. Para aquelas gestantes que usam insulina à noite, deve- se reforçar a necessidade de realizar uma ceia contendo 25g de carboidratos, proteínas e lipídios, para prevenir a ocorrência de hipoglicemia. Não há recomendação para o uso de hipoglicemiantes orais, ainda há dúvidas quanto à segurança. ACOMPANHAMENTO OBSTÉTRICO Além da avaliação da glicemia capilar pela própria gestante, é recomendado que ela compareça a consultas quinzenais até 30º a 34ª semana, e, em seguida, semanalmente, a fim de avaliar a PA, circunferência abdominal e o ganho de peso. Devido ao risco de malformações fetais, o acompanhamento obstétrico envolve a realização de USG morfológico e ecocardiograma fetal (24 a 28 semanas, para gestantes previamente diabéticas), para detecção de possíveis alterações. Para pacientes com DM prévio, deve-se proceder com a realização trimestral de: função renal, proteinúria, urocultura e fundo de olho. Como visto, o polidrâmnio e a macrossomia são possíveis complicações. Dessa forma, durante o acompanhamento obstétrico (a partir das 28 semanas), recomenda-se realizar USG seriadas, avaliando o peso e o índice do líquido amniótico (ILA). É necessário acompanhar a vitalidade fetal em gestantes com DM pré-gestacional. Nesse campo, a partir da 32º semana, pode-se optar por realizar um perfil biofísico fetal (PBF) semanalmente, ou uma cardiotocografia a cada 3 dias. Orienta-se a mãe a realizar o mobilograma, ou seja, a contagem dos movimentos fetais em 1hora, sendo normal, no mínimo, seis movimentos.
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