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Habilidades Clínicas – G.O. I 1 Daniela de Paula L. Antunes RA: 833042 Fases do Parto e Distocias Fases Clínicas do Parto Parturição O parto é caracterizado por contrações das fibras miometriais, cuja principal função é a dilatação cervical e expulsão do feto através do canal de parto. O processo fisiológico de parturição pode ser dividido em quatro etapas: Quiescência (fase 1): caracterizada por ausência de agentes que determinam a contratilidade uterina. Ela se inicia com a implantação do zigoto e perdura por quase toda a gestação. Ativação (fase 2): prepara o útero para o trabalho de parto e caracteriza-se pela descida do fundo uterino. Estimulação (fase 3): pode ser dividida em três períodos (dilatação, expulsão e dequitação), cujo fenômeno mais importante são as contrações uterinas efetivas. Involução (fase 4): destaca-se o puerpério. Seu início ocorre após a dequitação e é caracterizado pela involução uterina. Dilatação O primeiro período inicia-se com as contrações dolorosas e termina com a dilatação completa do colo uterino (10 cm), para a passagem fetal. Essas modificações abrangem dois fenômenos distintos: o esvaecimento do colo e a dilatação cervical propriamente dita. Nas primíparas, ocorrem nessa ordem, sucessivamente: primeiro o esvaecimento, de cima para baixo, e depois a dilatação do orifício externo; já nas multíparas, são simultâneos. Esvaecimento: consiste na incorporação do colo à cavidade uterina. Habilidades Clínicas – G.O. I 2 Daniela de Paula L. Antunes RA: 833042 Dilatação: a dilatação do orifício externo do colo tem como principal finalidade ampliar o canal de parto e completar a continuidade entre útero e vagina. A dilatação cervical é representada por uma curva sigmoide dividida em fase latente e fase ativa de três subdivisões: Aceleração: em que a velocidade de dilatação começa a modificar-se e a curva se eleva. Dilatação ou aceleração máxima: quando a dilatação passa de 2 a 3 cm para 8 a 9 cm. Desaceleração: que precede a dilatação completa. Expulsão Na segunda fase do parto, o feto é expelido do útero através do canal de parto por meio da ação conjugada das contrações uterina e das contrações voluntárias dos músculos abdominais. Nesse período, ocorre a maioria dos fenômenos do mecanismo de parto. A descida do polo cefálico pelo canal de parto compreende duas fases: Fase pélvica: caracteriza-se pela dilatação completa do colo uterino e pela apresentação acima do plano +3 de De Lee Fase perineal: apresenta a cabeça rodada em um plano inferior a +3 de De Lee Dequitação Nesse período, também chamado de secundamento, o útero expele a placenta e as membranas (após o nascimento do feto). Há dois tipos clássicos de descolamento: Baudelocque-Schultze: descolamento central, onde a primeira face placentária visualizada na rima vulvar é a face fetal. É o mais frequente e apresenta sangramento após a dequitação Baudelocque-Duncan: descolamento margi- nal ou periférico, onde a primeira face placentária visualizada é a face materna. Sinal de Fabre = sinal do pescador Sinal de Kustner = elevação do corpo e não elevação do cordão Manobra de Jacobs = rodar a placenta Habilidades Clínicas – G.O. I 3 Daniela de Paula L. Antunes RA: 833042 Primeira Hora Pós-Parto Também chamada de período de Greenberg, inicia-se imediatamente após a dequitação, sendo a primeira hora do puerpério. Nesse período, ocorre a estabilização dos sinais vitais e a hemostasia uterina. Essa primeira hora caracteriza-se pela ocorrência dos fenômenos de miotamponamento, de trombotamponamento, pela indiferença miouterina e pela contração uterina fixa que a segue. A contração do útero causa oclusão dos vasos miometriais (miotamponamento) e foi descrita por Pinard como ligaduras vivas, ou globo vivo de Pinard. O trombotamponamento é a segunda linha de defesa contra a hemorragia e tem como característica a formação de trombos nos grandes vasos uteroplacentários. Partograma Definição O partograma é uma representação gráfica do trabalho de parto que permite acompanhar sua evolução, documentar e diagnosticar alterações e indicar a necessidade de condutas apropriadas para a correção de desvios da normalidade. O partograma atualmente utilizado pela OMS, baseado no modelo de Philpott & Castle. Nessa ficha consta, além do partograma, informações como frequência cardíaca fetal, as características das contrações uterinas, as condições da bolsa das águas e líquido amniótico, a infusão de líquidos e as especificações da analgesia. Distocias A seguir, estão ilustradas as distócias que podem ser diagnosticadas, com base nas linhas de ação do partograma: Distócias no período de dilatação: 1. Fase ativa prolongada 2. Parada secundária da dilatação 3. Parto precipitado Distócias no período pélvico: 4. Período pélvico prolongado 5. Parada secundária da descida Fase Ativa Prolongada Na fase ativa prolongada ou distocia funcional, a dilatação do colo uterino ocorre lentamente, numa velocidade menor que 1cm/hora. A curva da dilatação ultrapassa a linha de alerta e, ás vezes, a linha de ação. Essa distocia geralmente decorre de contrações uterinas não eficientes. Não é uma indicação imediata de cesariana, uma vez que a correção pode ser feita com o emprego de técnicas humanizadas de estímulo ao parto normal, por Habilidades Clínicas – G.O. I 4 Daniela de Paula L. Antunes RA: 833042 exemplo, estimulando-se a deambulação e, se necessário, posteriormente procedendo à administração de ocitocina ou à rotura artificial da bolsa. Parada Secundária da Dilatação A parada secundária da dilatação é diagnosticada por dois toques sucessivos, com intervalo de 2 horas ou mais, estando a mulher em trabalho de parto ativo. Nesse tipo de distocia, a dilatação cervical permanece a mesma durante duas horas ou mais, ultrapassa a linha de alerta e, por vezes, a linha de ação. Há risco de sofrimento fetal, agravando o prognóstico perinatal. A causa principal é a desproporção céfalo-pélvica (DCP) relativa ou absoluta. Na vigência de DCP absoluta, a resolução é feita por cesárea. Parto Precip itado O parto precipitado ou taquitócico é diagnosticado quando a dilatação cervical e a descida e expulsão do feto ocorrem num período de 4 horas ou menos. O padrão da contratilidade uterina é de taquissistolia e hipersistolia e, caso a placenta esteja no limite de sua função, pode ocorrer o sofrimento fetal. Lacerações do trajeto também são mais frequentes nesse tipo de parto, pois não há tempo para acomodação dos tecidos pélvicos, ocorrendo descida e expulsão do feto de modo abrupto. O parto taquitócico pode ser espontâneo em multíparas, sendo mais raro em primíparas. Habilidades Clínicas – G.O. I 5 Daniela de Paula L. Antunes RA: 833042 Período Pélvico Prolongado O período pélvico prolongado manifesta-se no partograma com a descida progressiva da apresentação, mas excessivamente lenta. Nota-se dilatação completa do colo uterino e demora na descida e na expulsão do feto. Essa distocia geralmente está relacionada à contratilidade uterina deficiente, e sua correção pode ser obtida pela administração de ocitocina e rotura artificial da bolsa das águas. Parada Secundária da Descida A parada secundária da descida é diagnosticada por dois toques sucessivos, com intervalo de 1 hora ou mais, desde que a dilatação do colo uterino esteja completa. Considera-se que há parada secundária da progressão da apresentação quando ocorre cessação da descida por pelo menos 1 hora após o seu início. Há necessidade de se reavaliarem as relações feto-pélvicas, pois a causa mais frequente desse tipo de distociaé, novamente, a DCP relativa ou absoluta. A presença de desproporção absoluta leva à indicação de cesárea. Na vigência de desproporção relativa, com polo cefálico profundamente insinuado e cérvicodilatação completa, é válida a tentativa de fórcipe de tração ou rotação, dependendo da variedade de posição. Habilidades Clínicas – G.O. I 6 Daniela de Paula L. Antunes RA: 833042 Distocias Introdução As distocias são definidas como anormalidade no desenrolar do trabalho de parto, sendo a indicação mais comum de cesárea em primigestas. Tem com causa alterações em um ou mais dos três fatores determinantes para o sucesso do parto: força, trajeto e objeto. Anormalidades na Força Contrátil Distocia Funcional Presença de anormalidade do fator contrátil durante o trabalho de parto, o que influencia a progressão da dilatação cervical. Distocia por hipoatividade: trabalho de parto de evolução lenta, com contrações uterinas fracas e ineficientes. Na distocia por hipoatividade primária, o trabalho de parto se inicia de forma ineficaz e lenta. Em sua forma secundária, após início de contrações uterinas adequadas ou exageradas, ocorre diminuição significativa da atividade uterina. Na terapêutica dessa condição, utilizam-se medidas ocitócicas (administração de ocitocina e amniotomia) que promovam a adequação das contrações uterinas, estimulando-as. Distocia por hiperatividade: atividade uterina exarcebada, traduzida pelo aumento na frequência e na intensidade das contrações uterinas. Distocia por hiperatividade sem obstrução: é comum em multíparas e caracteriza-se pela evolução rápida (menos que 3 horas) do trabalho de parto. É conhecida como parto taquitócico. As principais complicações descritas são, para a mãe, lacerações do canal de parto e, para o feto, maior risco de hemorragia intracraniana, em decorrência do rápido desprendimento do polo cefálico, e também de prolapso de cordão umbilical. A terapêutica para essa situação tem por objetivo evitar ou tratar possíveis traumas maternos e fetais decorrentes do trabalho de parto de curta duração, e para isso utiliza amniotomia tardia, analgesia precoce, revisão cuidadosa do canal de parto e observação rigorosa do recém-nascido. Distocia por hiperatividade com obstrução: ocorre quando existe processo obstrutivo impedindo o trânsito do feto pelo canal de parto, como ocorre na desproporção Habilidades Clínicas – G.O. I 7 Daniela de Paula L. Antunes RA: 833042 cefalopélvica. Uma vez diagnosticada a presença dessa forma de distocia, deve-se indicar a cesárea, evitando-se assim a ocorrência de rotura uterina. Distocia por hipertonia: A hipertonia uterina, além de impedir a progressão da dilatação do colo uterino, dificulta a oxigenação do feto. Ela se subdivide em polissistolia, superdistensão e descolamento prematuro de placenta (DPP). Polissistolia: caracteriza pela presença de mais de cinco contrações em 10 minutos, sendo subdividida em: o Hiperestimulação: cinco ou mais contrações em 10 minutos ou contrações com duração superior a 2 minutos e intervalo inferior a 1 minuto entre as contrações. o Taquissistolia: aumento do número de contrações uterinas (> 5) sem alterações na BCF. Superdistensão: ocorre em casos de gestação múltipla e polidrâmnio. Na gemelidade, o tratamento é iniciado com amniotomia e administração de ocitocina para corrigir as irregularidades da contração uterina. DPP: classicamente acompanhado de hipertonia. Distocia de dilatação: características de ausência de dilatação cervical ou progressão lenta. Trata-se de incoordenação de algum segmento uterino. Anormalidades do Trajeto Distocias Ósseas Presença de anormalidade na forma, na dimensão ou na inclinação da pelve que dificulte ou impossibilite o parto vaginal. As anormalidades ósseas da pelve podem ocorrer isolada ou simultaneam ente nos estreitos superior, médio e inferior. Anormalidades (vícios) do estreito superior: na ocorrência de distocia de estreito superior, é comum que a apresentação se mantenha alta, apesar das contrações uterinas eficientes; observa-se também maior frequência de apresentações defletidas e de situação transversa; Anormalidades (vícios) do estreito médio: as anormalidades do estreito médio associam-se frequentemente a partos prolongados nos quais, apesar da insinuação do polo cefálico, da ocorrência de moldagem e das contrações uterinas efetivas ou até mesmo exacerbadas, não se obtém progresso no trabalho de parto. Anormalidades (vícios) do estreito inferior: rara; na maioria das vezes, observa-se ocorrência concomitante com anormalidades ósseas do estreito médio. Distocias de Partes Moles Vulva e períneo: são situações capazes de dificultar a evolução do parto: veias varicosas, estenose vulvar, edema de vulva e condiloma acuminado extenso. Raramente essas condições serão impedimento para a via baixa, mas em geral se associam a maior risco de sangramento e infecções. Vagina: a presença de septos vaginais pode dificultar ou impedir a progressão do parto vaginal: septos transversos geral�mente impedem o parto vaginal, enquanto os longitudinais, caso não se desloquem com a passagem do feto, podem ser seccionados. Colo: as alterações cervicais que podem estar associadas à ocorrência de distocias são hipertrofia do colo do útero, estenose cervical e edema de colo. Tumores prévios: miomas, o carcinoma de colo de útero e os tumores de ovário. Anormalidades do Objeto Tamanho Fetal O tamanho fetal poderá impedir a progressão normal do trabalho de parto tanto em situações de peso fetal acima de 4.000 g como nos casos em que, mesmo com peso fetal inferior ao descrito, ocorre desproporção entre o objeto (feto) e o trajeto (pelve), constituindo a desproporção cefalopélvica. Distocia de Biacromal A distocia de biacromial se dá quando a apresentação é cefálica e o polo cefálico já se desprendeu, mas os ombros não se soltam e não se observam quaisquer outras dificuldades. Assistência à distocia de biacromial: Os procedimentos relacionados a seguir são difíceis e Habilidades Clínicas – G.O. I 8 Daniela de Paula L. Antunes RA: 833042 devem ser realizados pelo obstetra de maior experiência no local: Não tracionar a cabeça: essa atitude pode levar à distensão do plexo braquial ou do bulbo, com graves complicações neurológicas. Ampliar a episiotomia. Realizar a manobra de McRoberts, que consiste na hiperflexão e abdução das coxas, com consequente deslocamento cranial da sínfise púbica e retificação da lordose lombar, liberando-se o ombro impactado. São necessários dois auxiliares para a execução dessa manobra. Realizar pressão supra púbica (manobra de Rubin), com pressão contínua sobre o ombro anterior do feto, que desliza sob a sínfise púbica. Tentar girar os ombros fetais do diâmetro sagital para o diâmetro oblíquo. Dessa maneira, o ombro posterior e o anterior poderão ser desprendidos respectivamente do sacro e do púbis. Para desprender o ombro posterior, pode-se utilizar a manobra de Jacquemier. Após suspender o polo cefálico, introduz-se a mão pela concavidade do sacro, apreende-se o antebraço e, por deslizamento, este é retirado pela face anterior do tórax. Em seguida, abaixa-se o tronco, que liberará o ombro anterior. Se houver dificuldade em liberar o ombro anterior, deve-se segurar o polo cefálico com uma das mãos e o braço posterior com outra, enquanto um auxiliar desloca o dorso do feto para o lado e roda o feto em 180º, para o lado do dorso, a fim de transformar o braço posterior em anterior (manobras de Ahlfeld e Barnum). Habilidades Clínicas – G.O. I 9 Daniela de Paula L. Antunes RA: 833042 Outra opção é a manobra de Woods. O obstetradeve girar o tronco em 180º, em sentido horário. Após o ombro posterior ser liberado, roda-se o tronco em sentido anti- horário, 180º, soltando-se o outro ombro. Como alternativa, pode-se utilizar a manobra de Matthes. A paciente deve adotar a posição genupeitoral. Nessa posição, o ombro posterior torna-se anterior, permitindo que o braço seja facilmente apreendido e trazido para fora da vagina pela mão do obstetra. Se o dorso do feto está à direita, introduz-se a mão direita; se estiver à esquerda, a mão esquerda. Retirado o braço sacral, promove- se uma rotação de 180 º, levando-o para o púbis. Desprende-se o ombro anterior, agora sacral, retira-se o braço e finaliza-se o parto. Manobras que diminuem o diâmetro biacromial: Fratura de clavícula: deve-se exercer pressão no meio da clavícula, de preferência a anterior. Clidotomia: utiliza-se tesoura para cortar a clavícula. Quando for impossível alcançar o ombro, a cesárea está indicada. Diante dessa situação, deve-se rodar a cabeça para a variedade occipitopúbica, fleti- Habilidades Clínicas – G.O. I 10 Daniela de Paula L. Antunes RA: 833042 la e reintroduzi-la lenta�mente na pelve materna, até as espinhas isquiáticas (manobra de Zavanelli). Assistência a Distocia de Ombro: A - Ajuda S – Supra púbica (pressão) A – Alternar posição (4 apoios – K = Gaskin) I – Internas (manobras internas) D – Desprender ombro posterior A – Avaliar manobras de resgate