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1 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Mecanismo do Parto Tempos do mecanismo do parto Tempos principais Insinuação/encaixamento Descida Desprendimento Tempos acessórios Flexão Rotação Deflexão A cabeça fetal insinua fletindo, desce rodando e se desprende defletindo. INSINUAÇÃO É a passagem da maior circunferência da apresentação fetal pelo estreito superior da bacia materna. Será necessário haver redução dos seus diâmetros: movimentos de flexão e orientação dos diâmetros. A maioria dos fetos irão encaixar em posição transversa: occipto-direito- transverso ou occipito-esquerdo-transverso. Geralmente a insinuação ocorre no plano zero de De Lee. Em algumas mulheres que possuem pelve mais rasa ou profunda pode haver variação. Insinuação em sinclitismo A sutura sagital tem a mesma distância (equidistante) do promontório e da sínfise púbica. Insinuação em assinclitismo Assinclitismo anterior ou obliquidade de Nagele: quando a sutura sagital se desloca para trás, o parietal anterior penetra primeiro no canal do parto. Ao tocar sente-se o parietal anterior do feto, porém a sutura sagital está deslocada para posterior, em relação a bacia da mãe. Assinclitismo posterior ou obliquidade de Litzmann: quando o deslocamento da sutura sagital é anterior, o parietal posterior desce primeiro. Ao tocar sente-se o parietal posterior do feto, porém a sutura sagital está deslocada para anterior em relação a bacia da mãe. Primigesta → a tendência é a insinuação ocorrer alguns dias antes do trabalho de parto (em torno de 15 dias antes). Multípara → a insinuação costuma ocorrer já durante o trabalho de parto. Para identificar se está insinuado, realiza-se o toque e irá sentir a cabeça, ao empurrar a cabeça ela não se moverá, estará encaixado. 2 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Flexão Quando o feto encaixa, ele precisa realizar o movimento de flexão (para encaixar o menor diâmetro - suboccipitobregmático), por isso a maioria dos trabalhos de partos são em apresentação cefálica fletidas. DESCIDA Insinuação mais profunda, a cabeça do concepto continua na sua progressão pelo canal do parto. A descida, na realidade, ocorre desde o início do trabalho de parto e só termina com a expulsão total do feto. O movimento complementar da descida é a rotação interna da apresentação fetal, e simultaneamente, a penetração das espáduas no estreito superior da bacia. A medida que o polo cefálico roda, vai progredindo no seu trajeto descendente. Rotação interna Levará a sutura sagital a se orientar no sentido anteroposterior da saída do canal. Geralmente nasce em occipito-púbica Visa colocar o occipital do concepto sob o púbis materno e possibilitar a deflexão da cabeça fetal. Variedade anterior (OEA ou ODA) = 45° Variedade posterior (ODP ou OEP) = 135° ou OET ou ODT = 90° Ocorre quando o vértice do polo cefálico ultrapassa o estreito médio. O objetivo é apoiar o occipito fetal na arcada púbica materna. DESPRENDIMENTO Último tempo do trabalho de parto. Movimento acessório: DEFLEXÃO Na variedade OP, a cabeça do concepto toma como ponto de apoio a sínfise púbica materna e desliza ao seu redor. Finalizando com o movimento de RESTITUIÇÃO OU ROTAÇÃO EXTERNA DA CABEÇA do concepto. Uma vez fora da genitália, a cabeça do feto realiza movimento de ¼ a 1/8 de circunferência, voltando o occipital para o lado onde se encontrava por época da insinuação. Rotação interna das espáduas – quando as espáduas chegam ao assoalho pélvico, rodam até orientar o biacromial no sentido ântero-posterior da saída do canal de parto: O ombro anterior vai se colocar sob a arcada púbica e o posterior voltado para o assoalho pélvico, impelindo para trás o cóccix da mãe. Primeiro se desprende o ombro anterior, sob o pube. Para o desprendimento do ombro posterior, o tronco sofre movimento de flexão lateral, continuando a progredir em direção a saída do canal de parto. 3 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Assistência ao Parto O parto é o processo através do qual os produtos da concepção são expelidos do útero e da vagina para o ambiente externo, a partir de 22 semanas de gestação. DIAGNÓSTICO DO TRABALHO DE PARTO 1. Contrações dolorosas, rítmicas (mínimo 2 cont./10’/50 a 60”); 2. Primíparas: colo apagado e com 2cm dilatado; Multíparas: colo semi-apagado e com 3cm dilatado; 3. Formação da bolsa das águas; 4. Perda do tampão mucoso. FASES CLÍNICAS DO PARTO Pré-parto ou período prodrômico Fase de dilatação ou 1º período Fase de expulsão ou 2º período Secundamento ou 3º período PRÉ-PARTO O início do trabalho de parto segue uma sequência de eventos preparatórios que é denominado pré-parto, período prodrômico ou premonitório. Descida do fundo uterino (2 a 4 cm); Eliminação vaginal de muco com perda ou não de sangue; Amolecimento e apagamento do colo uterino; Modificações na orientação do colo uterino; Metrossístoles dolorosas, incoordenadas e irregulares. Fase latente do trabalho de parto → fase final do pré-parto ou início do trabalho de parto, as metrossístoles apesar de rítmicas, são incapazes de promover a dilatação da cérvice uterina. Falso trabalho de parto → após acompanhamento cuidadoso da gestante por certo tempo, se as metrossístoles desaparecerem ou o colo do útero não se apagar e não dilatar. TRABALHO DE PARTO DILATAÇÃO OU PRIMEIRO PERÍODO O período se inicia com contrações dolorosas e regulares que acontecem a cada meia hora; A medida que o trabalho de parto progride, tornam-se mais frequentes e intensas, chegando a ocorrer, no final do primeiro período, a cada dois ou três minutos e durar de 45 a 60 segundos. - Apagamento e Dilatação Quando a cérvice se apaga, ela sofre processo de encurtamento e incorpora-se a cavidade uterina. Durante a dilatação, afastam-se progressivamente as bordas da cérvice. Primíparas → o colo primeiro se apaga e depois dilata; Multíparas → os dois processos se processam simultaneamente; 4 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP A bolsa das aguas forma-se exclusivamente durante o trabalho de parto e é formada pelas membranas ovulares (âmnio e cório) prévias a apresentação fetal e descoladas do istmo. EXPULSÃO OU SEGUNDO PERÍODO Alcançada a total dilatação da cérvice, passa a existir continuidade entre segmento inferior, o colo uterino e o canal vaginal; No curso dessa etapa, as metrossístoles são intensas, com duração de até 60 segundos, e atingem frequência de 5 contrações a cada 10 minutos. Insinuação ou encaixamento → o concepto inicia sua descida e ultrapassa o estreito superior da pelve materna. Nas nulíparas ele dura em média 50 minutos; Nas multíparas, 20 minutos. SECUNDAMENTO OU TERCEIRO PERÍODO Após a expulsão do feto, observa-se súbita redução do volume uterino e retração de suas paredes, processo que descola a placenta nele inserida. No ponto em que se iniciou o descolamento forma-se hematoma retroplacentário, que se expande e permite a placenta prosseguir descolando a cada onda contrátil. - Dequitadura ou Dequitação 1. Mecanismo de Baudelocque – Schultze: Placenta está inserida no fundo uterino; Retração da área de sua inserção uniforme; Hematoma retroplacentário na parte central; Se apresenta pela face fetal; O sangue só extravasa para o exterior após a expulsão da placenta. 2. Mecanismo de Baudelocque – Duncan: Placenta está inserida na parede lateral do útero; Retração da área de sua inserção é desigual; Hematoma se forma na periferia; Apresenta-se pela face materna; O sangue flui para o exterior antes da expulsão da placenta. - Aceita-se que o processo de dequitadura, descida e expulsão placentária dure entre10 e 20 minutos, sendo considerado prolongado quando ultrapassa 30 minutos. QUARTO PERÍODO DO PARTO 1º hora após o secundamento; É nele que se processa a hemostasia fisiológica da ferida uterina decorrente do deslocamento placentário. Mecanismos de hemostasia Miotamponagem – ligaduras vivas de Pinard Oclusão dos vasos miometriais gerados pelas contrações. Trombotamponagem Formação de trombos nos grandes vasos uteroplacentários que se prolongam pelos coágulos intrauterinos. Indiferença miouterina Caracterizada pela contração e relaxamento das fibras miometriais e ocorre na primeira hora pós-parto. Contração uterina fixa – globo de segurança de Pinard Surge com o fim desse período e o maior tônus muscular ajuda a manter a homeostasia e o retorno do útero para o estado pré- gravídico. ASSISTÊNCIA AO PARTO TRANSPÉLVICO Procedimentos de internação Tricotomia Enteróclise Instalação de acesso venoso Posição da parturiente Alimentação Período de dilatação Monitoração da higiene fetal Cardiotocografia 5 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Estetoscópio de Pinard Sonar-Dopler Alivio da dor – analgesia peridural Sistematização do acompanhamento do parto Partograma: o registro deve ser iniciado quando a paciente estiver na fase ativa da parturição (2 a 3 contrações coordenadas em 10’ e dilatação cervical mínima de 3 cm). PARTOGRAMA Funcionalidade do Partograma Função primordial: diferenciar trabalho de parto NORMAL daquele de evolução ANORMAL. Funcionalidade: independe do período da maternidade e facilita a assistência a parturiente. TRABALHO DE PARTO FISIOLÓGICO Dilatação cervical Primípara = 1cm/h Multípara = 2cm/h Contrações uterinas Eficazes ↑ intensidade / duração e frequência Concordante com a fase do TP Progressão do polo cefálico Descida da pelve materna → 1cm/h Encaixamento do polo cefálico Primípara → 5 a 7 cm Multípara → pode ocorrer no período expulsivo CURVA DE FRIEDMAN Linha azul: descida fetal. Linha vermelha: dilatação cervical. ACOMPANHAMENTO CLÍNICO PARTOGRAMA Tempo como parâmetro fundamental Dilatação Descida Contratilidade Friedman (1954) Análise gráfica Philpot & Castle (1972) Linhas de alerta e ação O partograma serve para orientação, ele não dita a conduta. Periodicidade das avaliações Toques vaginais a cada 1 ou 2 horas; Dinâmica uterina a cada 1 hora; Batimento cardíaco fetal a cada 30 min. 6 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP OBS: As linhas de alerta e de ação nos sinalizam quando a dilatação não está evoluindo. PERÍODO DE DILATAÇÃO Correção dos desvios da atividade uterina A melhor posição para a parturiente é em decúbito lateral esquerdo (DLE) Controle da dor Uterotônico → medicamentos que causam contração uterina. Aminiotomia A amniotomia, por definição, é a rotura ou ruptura artificial das membranas ovulares através de um instrumento esterilizado inserido na cérvice por meio do toque vaginal, que pode ser realizada no início, 7 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP durante ou no final do trabalho de parto, sendo indicado como método de indução de parto e também recomendado em presença de gestação a termo e estando o colo favorável e amadurecido com apresentação cefálica insinuada. Dentre os efeitos produzidos pela amniotomia, em termos de alteração na dinâmica uterina, destacam-se: a indução na liberação de prostaglandina do líquido amniótico para o interior da cavidade uterina, sem aumento de ocitocina endógena; o encurtamento das fibras miometriais (decorrente da diminuição volumétrica do líquido amniótico no interior da bolsa) e o aumento na duração e intensidade das contrações uterinas. Ainda é uma intervenção contestada na prática obstétrica. Deslocamento das membranas para estimular o trabalho de parto O descolamento de membranas é feito por através do exame de toque e movimentos de varredura. A ideia é separar o saco amniótico do útero para estimular a liberação de prostaglandina. PERÍODO EXPULSIVO Episiotomia – indicações: Prematuridade; Períneo pouco distensível, com musculatura tensa; Primiparidade; Exaustão materna; Fórcipe; Sofrimento fetal agudo; Apresentação pélvica. Assistência a expulsão fetal O ambiente há de ser climatizado; Ausculta fetal; Solicitar a gestante que urine espontaneamente; Manobra de Rigten modificada; Manobra de Kristeler. Manobra de Ritgen Consiste na proteção do períneo através de preensão do mesmo por parte do médico ou enfermeiro obstetra utilizando uma de suas mãos com a ajuda de uma compressa. A outra mão deve ser utilizada para sustentar o occipito do bebê. 8 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Manobra de Kristeller É uma técnica realizada com o objetivo de acelerar o trabalho de parto em que é realizada pressão sobre o útero da mulher, diminuindo o período expulsivo. Essa manobra desregula a contratilidade uterina e produz hipertonia, repercutindo de maneira prejudicial na vitabilidade fetal. Seus riscos incluem ruptura uterina, lesões perineais graves, tocotraumatismos e maior hemorragia maternofetal. Não recomendada. Secundamento Não tracionar o cordão umbilical Procedimento de Harvey Manobra de Credé Artifício de Jacob-Dublin Procedimento de Harvey Tração controlada do cordão associada a sustentação do útero através da parede abdominal, quando houver demora na dequitação. Manobra de Credé Manobra de Jacob-Dublin É a rotação da placenta repetidas vezes se ela sair em modo de Schultze, até que ela saia por inteiro, com as membranas. É uma manobra para a retirada das membranas. Essas retiradas são importantes porque qualquer pedaço de cordão ou placenta é um corpo estranho e pode gerar infecção. INDUÇÃO DO PARTO Induz-se o parto quando, por meios farmacológicos ou mecânicos, são produzidas metrossístoles efetivas capazes de desencadear a parturição. ÍNDICE DE BISHOP Sistema desenvolvido para avaliar as chances de sucesso quando se pretende induzir o trabalho de parto. 9 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Efeitos adversos da indução do parto: Taquissistolia Hipertonia Sofrimento fetal São dose-dependentes e podem ser controlados facilmente com suspensão ou diminuição da ocitocina. O2 nasal, hidratação venosa e mudança de decúbito. Distocias do Trajeto, Desproporção Cefalopélvica e Distocia de Ombros DISTORCIAS DO TRAJETO As muitas considerações patológicas do canal do parto dificultam a evolução do trabalho e constituem as distocias do trajeto, que ocorrem nas partes moles (distocia do trajeto mole) ou no arcabouço ósseo da pelve (distocia do trajeto duro – vícios pélvicos). Distocias do trajeto mole Anomalias localizadas em qualquer uma das porções do canal do parto colo vagina vulva Tumorações prévias, genitais ou extragenitais. Distocias do colo Rigidez Dureza, resistência e inextensibilidade do colo Primigestas idosas, pacientes de cervicites ou como consequência de operações plásticas e cauterizações. Dificulta ou impede a dilatação → amputação espontânea do órgão → contrações uterinas comprimem a apresentação e produzem zona isquêmica na porção intravaginal do colo Cesariana é necessária Aglutinação Decorre de processos infectuosos que, destruindo os epitélios da cérvice, determinam a justaposição das bordas do orifício externo. Ao toque, no parto adiantado, percebe-se, em vez de orifício, tubérculo ou depressão punctiforme, circunscrito por anel resistente. Limitando-se a aglutinação ao orifício externo, o colo se apaga completamente; ele é delgado e, muitas vezes, são percebidas, através dele, suturas e fontanelas,o que leva o parteiro inexperiente a supor que a dilatação esteja completa. A pressão do dedo, seguida de movimentos em espiral, para desfazer bridas e deslocar o polo inferior do ovo, é uma técnica singela, mas capaz de resolver a maioria dos casos. No entanto, devido a aderências mais fortes (conglutinação), essa medida pode ser ineficaz e, nesse caso, a operação cesariana é o melhor caminho; extraído o feto, é necessário, por via retrógrada, restabelecer o canal cervical. 10 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Distopias As alterações da estática uterina, espontâneas ou determinadas pelas operações corretoras de prolapso ou retroversão, podem acarretar expansão desigual do segmento inferior, na maioria das vezes com predominância de sua parede anterior, ocasionalmente da posterior ou das laterais, originando saculação que produz desvio do colo para trás, para a frente ou para os lados. Trata-se da dilatação saciforme, confundida com a bolsa das águas e a dilatação completa. Por meio do segmento, muito fino, é possível notar suturas e fontanelas. Dilatação saciforme do segmento inferior. A. Desvio do colo para a frente. B. Desvio posterior. Edema É observado nos partos prolongados, por compressão do colo entre a apresentação e a pelve. No geral, abrange toda a cérvice e é predominantemente encontrado no lábio anterior. A infiltração edematosa dificulta a dilatação, chegando a impedi- la; caso a situação se prolongue, pode ocorrer necrose dos tecidos cervicais. Nos casos simples, com dilatação avançada, a conduta consiste em arregaçar o lábio anterior, levando-o para cima da apresentação. Quando a dilatação permanece estacionária, é preciso realizar operação cesariana. Distorcias da vagina Septos Geralmente congênitos Longitudinais ou transversais Completos ou incompletos Os longitudinais são mais frequentes e, muitas vezes, vêm acompanhados de outras anomalias do aparelho genital. Os septos longitudinais totais quase sempre se associam ao útero duplo, havendo dois orifícios cervicais e duas cavidades uterinas independentes. Poderá surgir gravidez em um ou em outro hemiútero (a ocorrência em ambos é rara) e o parto evoluir normalmente. Quando distocia se interpõe, geralmente é motivada pelo hemiútero vazio e não pelo septo vaginal. Distocias da vulva Em geral, não causam dificuldades consideráveis ao desprendimento da apresentação, sendo, em sua maioria, resolvidas pela episiotomia. Varizes Não acarretam maiores transtornos; no entanto, é necessário ter atenção quanto a rupturas, que ocasionam hematomas vulvovaginais, próprios do sobreparto, embora também ocorram na gravidez. Cistos e abscessos da glândula de Bartholin Em pequenas dimensões, não costumam causar distocias; caso estejam muito desenvolvidos, devem ser extirpados ou incisados. Condilomas acuminados Não costumam dificultar a expulsão do feto, mas acarretam rupturas complicadas, difíceis de reparar. A episiotomia será feita em local livre de vegetações; conforme a extensão, indica-se a cesárea. Linfogranulomatose venérea Durante o período expulsivo, a infiltração e a reduzida elasticidade dos tecidos vulvoperineais e perirretais dificultam a progressão e a 11 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP expulsão; esta ocorre à custa de rupturas importantes, cuja cicatrização é lenta devido à infecção. O traumatismo do parto é também desfavorável à evolução da doença, o que facilita a disseminação. A operação cesariana evita esses agravos e outras complicações. Hímen Casos de parturiente com hímen normal e íntegro são exceções. Não há razões médicas para indicar cesariana. O hímen anormal é uma condição que oferece considerável resistência ao desprendimento da apresentação e constitui ponto de origem de grandes rupturas, sendo necessário seccionar o anel fibroso ou desinseri-lo à ponta de tesoura. Tumorações prévias Denominam-se prévias as tumorações que ficam à frente da apresentação fetal e, por sua localização, dificultam ou impedem a progressão do móvel. Distinguem-se em genitais e extragenitais, sendo as primeiras mais frequentes. Miomas uterinos raramente obstruem o canal do parto, somente os subserosos, com grande pedículo, tendem, eventualmente, a penetrar na pelve. Os nódulos que se desenvolvem no segmento inferior, por sua situação mais baixa que a apresentação, costumam prejudicar ou impedir o parto transpélvico. Não é rara a ascensão do tumor durante a gravidez ou no decurso do trabalho, tornando possível a passagem da cabeça fetal. No parto, deve-se atentar para a possibilidade de ocorrer ruptura uterina quando a parturição é obstruída. Nos miomas prévios bloqueantes, a via única é a abdominal, cesárea seguida ou não de ablação do tumor (miomectomia ou histerectomia), conforme o caso. Distocia por mioma uterino. A. Neste caso, o tumor não impede a parturição. B. Neste caso, assume as características de tumor prévio. Cistos e tumores do ovário Ocasionalmente, podem tornar-se bloqueantes, impedindo o parto pela via natural. Ao contrário dos miomas, apenas excepcionalmente sofrem deslocamento espontâneo para cima. A ruptura dos cistos papilíferos pode causar a disseminação das papilas epiteliais pela cavidade peritoneal; elas aderem ao peritônio e proliferam. A indicação adequada é a laparotomia, para histerotomia e ooforectomia parcial. Tratamento A operação cesariana resolverá os casos impeditivos do parto vaginal. Distocias do trajeto duro (vícios pélvicos) A pelve viciada apresenta acentuada redução de um ou mais de seus diâmetros, ou modificação apreciável de forma. Diagnóstico Os vícios pélvicos de grande porte são facilmente diagnosticados durante os exames pré-natais, pela pelvimetria externa ou à simples inspeção; causam transtornos já durante as últimas fases da gravidez – a cabeça se mantém alta, provocando dificuldades respiratórias. Esses distúrbios são mais acentuados nas cifoescolióticas, porque o espaço abdominal apresenta-se diminuído devido à descida do tórax; não é raro o 12 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP nivelamento das costelas com os rebordos da pelve. Em tais circunstâncias, há comprometimento da circulação e diminuição da ventilação pulmonar, motivos de mau prognóstico. Defeitos mais discretos costumam ser rastreados somente no decurso do trabalho, que não progride, apresenta- se distócico, sendo incapaz de se resolver pelas vias naturais. Parto no vício pélvico Neste caso, é muito difícil estabelecer o prognóstico; deformidades ligeiras podem possibilitar o parto natural. O tamanho reduzido do feto, a plasticidade da cabeça (se a apresentação for cefálica) e a boa cinética uterina tornam possível a expectação armada. Os graves vícios obrigam, desde logo, à via alta. O parto prolongado e os tocotraumatismos ameaçam a higidez do feto e da mãe. Como norma, está indicada a operação cesariana; nos casos duvidosos, no entanto, pode ser tentada a prova de trabalho, comentada mais adiante. DESPROPORÇÃO CEFALOPÉLVICA A desproporção cefalopélvica (DCP) implica a falta de proporcionalidade entre a cabeça fetal e a pelve materna. Nas apresentações cefálicas, a desproporção decorre do volume demasiado ou da atitude viciosa da cabeça. Mulheres de pequena estatura com fetos grandes correm o risco de desenvolver o problema, além de fraturas prévias da pelve ou doenças ósseas metabólicas. As relações da cabeça com a sínfise púbica. A. Boa proporcionalidade cefalopélvica. B. Pequena desproporção. C. Grande desproporção. A. Cabeça passando pelo estreito inferior normal. B. Bacia afunilada: ângulo subpúbico angustiado, deslocando a cabeça para trás; o diâmetro sagital posterior do estreito inferior é amplo e possibilita a parturição. C.Ângulo subpúbico muito estreitado, não compensado pela amplitude do diâmetro sagital posterior; o parto não ocorre. Avaliação clínica da insinuação da cabeça fetal Primípara → caso a cabeça não se insinue antes ou até a proximidade do parto, fica caracterizada a suspeita de desproporção cefalopélvica. Multípara → o polo costuma se encaixar no período expulsivo, não tendo significado maior sua persistência, alta e móvel, no início do trabalho de parto. Considera-se a cabeça insinuada quando o vértice alcança ou ultrapassa a altura das espinhas ciáticas, plano “0” (zero). O aprofundamento da cabeça na escavação é anotado pelo número de centímetros que se distanciam desse ponto ao ápice da apresentação. Para cima: “–1”, “–2” etc., para baixo: “+1”, “+2” etc. Suspeita-se de desproporção cefalopélvica se: O progresso do parto for lento e arrastado, apesar da eficiente contratilidade uterina Não houver insinuação da cabeça fetal (nas primíparas) O toque vaginal revelar moldagem acentuada da cabeça e bossa serossanguínea A cabeça estiver deficientemente aplicada ao colo. Sinal de Farabeuf: Pelo toque vaginal, é possível procurar esse sinal, ele mostra apenas a altura do ápice da apresentação. 13 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Sinal de Farabeuf para o diagnóstico da insinuação. A. A cabeça está apenas adaptada ao estreito superior: três dedos podem ser introduzidos entre o vértice da apresentação, o plano do cóccix e o do períneo. B. Apresentação insinuada: apenas dois dedos podem ser colocados. C. Cabeça profundamente insinuada: somente um dedo. Atualmente, o diagnóstico da DCP baseia-se: observação de trabalho de parto protraído “paradas de progressão” durante a fase ativa. Estas, por sua vez, podem decorrer de distocias funcionais, malposições (p. ex., deflexão, assinclitismo) ou apresentações anômalas (p. ex., mento posterior, fronte), condições mais frequentes que a DCP em si. Na prática, após o diagnóstico da parada de progressão, a primeira medida deve ser otimizar a atividade uterina com amniotomia e ocitocina. Caso a contratilidade uterina já tenha sido otimizada e o parto permaneça distócico, devem ser implicadas causas mecânicas. O uso do partograma é indispensável para monitorar o progresso do parto, tornando possível a identificação de anormalidades e a realização de intervenções adequadas. Em geral, as alterações de parada secundária da dilatação e parada secundária da descida auxiliam na suspeita da possibilidade de DCP, especialmente quando o feto não está insinuado. Tratamento Pode ser permitida a prova de trabalho, embora a cesariana seja o procedimento de escolha. É importante ressaltar: o fórceps é péssimo instrumento na desproporção cefalopélvica. DISTOCIA DE OMBROS A distocia de ombros ocorre quando a extração dos ombros não se realiza após a tração de rotina, sendo necessárias manobras adicionais. Na maioria dos casos, a distocia ocorre no ombro anterior impactado na sínfise materna. Trata-se de verdadeira emergência obstétrica, pois quase 50% dos fetos morrem por hipoxia/acidose dentro de 5 min da liberação da cabeça. Predição e prevenção Embora haja inúmeros fatores de risco associados à distocia de ombros, na verdade, ela é imprevisível; até mesmo a macrossomia fetal, o principal fator de risco, não é bom preditor. A maioria dos bebês > 4.500 g não desenvolve a distocia de ombros e quase 50% dos bebês com essa complicação pesam menos de 4.000 g. Além disso, a ultrassonografia de terceiro trimestre tem apenas 60% de sensibilidade para macrossomia (peso > 4.500 g). Fatores de risco associados à distocia de ombros A cesárea eletiva para evitar a distocia de ombros somente está indicada em pequeno grupo de mulheres com diabetes e suspeita de macrossomia fetal (peso estimado > 4.500 g). Igualmente, a cesárea eletiva está indicada sempre que o peso estimado fetal for maior que 5.000 g. 14 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Complicações A morbidade e a mortalidade perinatal estão elevadas, assim como a morbidade materna, especialmente pela hemorragia pós-parto e lacerações de períneo de 3º e de 4º graus. A complicação fetal mais frequente é a paralisia do plexo braquial, seguida da fratura de clavícula e do úmero. Praticamente todas as paralisias se resolvem em 6 a 12 meses, mas 10% se tornam definitivas. Estiramento do plexo braquial por distocia de ombro. Tratamento A distocia de ombros é óbvia quando a cabeça fetal se exterioriza e se retrai, o que é comumente referido como “sinal da tartaruga”. Conforme já mencionado, a distocia de ombros é emergência obstétrica e são necessárias manobras imediatas para solucioná-la. As técnicas obstétricas podem ser divididas em: 1ª linha, 2ª linha e 3ª linha. São consideradas medidas preliminares: Requisição de obstetra mais experiente, auxiliares, anestesista e neonatologista A episiotomia por si só não soluciona a distocia de ombros, que é problema ósseo; no entanto, ela pode ser necessária para manobras internas Não deve ser aplicada força em excesso sobre a cabeça ou o pescoço nem exercer pressão no fundo do útero, porque essas manobras não deslocam o ombro impactado e podem lesionar a mãe e o feto Colocar as nádegas da paciente na borda da mesa. Manobras de 1ª linha Manobra de McRoberts Flexão e abdução das coxas em direção ao abdome materno. Essa posição retifica o ângulo lombossacro e roda a sínfise púbica em direção cefálica, fazendo com que o ombro posterior caia na concavidade do sacro. A manobra de McRoberts é a intervenção isolada mais efetiva, com taxa de êxito de 90%, e deve ser a primeira a ser tentada. Posição de McRoberts Pressão suprapúbica Deve ser utilizada simultaneamente com a manobra de McRoberts. A pressão suprapúbica reduz o diâmetro biacromial e o roda para um dos diâmetros oblíquos da pelve; assim, o ombro é capaz de deslizar por baixo da sínfise com a ajuda da tração de rotina. A pressão suprapúbica externa é aplicada para baixo e para o lado, de modo a empurrar o ombro anterior em direção ao tórax fetal. 15 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Manobra de McRoberts. Hiperflexão e abdução das coxas sobre o abdome materno (seta horizontal) e pressão suprapúbica simultânea. Manobras de 2º linha Manobras de rotação interna São manobras que tentam manipular o feto e rodar o ombro anterior para um plano oblíquo da bacia, a fim de desvencilhá-lo da sínfise materna. Compreendem: Manobra de Rubin II, que consiste em inserir os dedos atrás do ombro anterior, tentando rodá-lo em direção ao tórax fetal Manobra de saca-rolha de Woods, na qual o parteiro coloca a mão atrás do ombro posterior do feto, tentando rodá-lo a 180°. Manobra de Rubin II. A. O diâmetro biacromial é mostrado como a distância entre as duas setas pequenas. B. O ombro anterior é empurrado em direção ao tórax fetal, reduzindo o diâmetro biacromial e liberando o ombro anterior encravado. Manobra de Woods. A mão é colocada atrás do ombro posterior do feto, que é então rodado progressivamente a 180°, de maneira similar ao movimento de um saca-rolha, de modo a desencravar o ombro anterior. Extração do braço posterior A mão do operador é introduzida na vagina. O cotovelo fetal é flexionado e o antebraço é liberado em movimento de varredura sobre a parede anterior do tórax fetal. A mão é segurada e o braço é estendido ao longo da face fetal, liberando-o da vagina. Isso encurta o diâmetro biacromial e possibilita que o feto caia na concavidade sacra, liberando o ombro anterior impactado. Remoção do ombro posterior. A. A mão do operador é introduzida na vagina e segura o braço posterior, mantendo o cotovelo flexionado, trazendo o braço fletido em movimento de varredurasobre o tórax. B. A mão fetal é apreendida e o braço é estendido ao longo da face. C. O braço posterior é extraído da vagina. Manobra da posição de 4 Consiste literalmente em colocar a paciente em posição de 4, resultando frequentemente no desencravamento do ombro anterior. Certamente, essa manobra é mais apropriada em mulher magra e móvel, sem o efeito de anestesias de condução. 16 MARC 8 – Heloísa Paraíso 7ºP Manobras de 3ª linha São manobras heroicas, de exceção, propostas na última tentativa de evitar o óbito fetal. São consideradas de 3ª linha: Clidotomia (fratura deliberada da clavícula anterior) Manobra de Zavanelli (recolocação da cabeça fetal no útero, seguida de cesárea) Sinfisiotomia (secção da cartilagem fibrosa da sínfise sob anestesia local). A manobra de Zavanelli talvez seja mais apropriada para os casos raros de distocia de ombros bilateral, quando ambos os ombros estão impactados – anteriormente acima do púbis e posteriormente sob o promontório sacro. Manobra de Zavanelli. Sob tocólise, é o polo cefálico rodado para OP ou OS, flexionado e impulsionado para refazer o caminho pela fieira pélvica. A cesárea é o proximo passo. Algoritmo para o tratamento da distocia de ombros.
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