Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE PEDAGOGIA SELMA DA SILVA MENEZES 202008076102 PCC AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NOVA PONTE - MG 2021 SELMA DA SILVA MENEZES 202008076102 PCC AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL Relatório apresentado como componente curricular da disciplina de Avaliação Institucional do curso de Pedagogia. Orientadora: Caroline Kern NOVA PONTE - MG 2021 AMBIENTES DE APRENDIZAGEM Segundo Pozo (2002, p. 25), cada sociedade gera as próprias formas de aprendizagem, sua cultura da aprendizagem. Para ilustrar tal afirmação, podemos citar os povos indígenas que utilizam, desde muito cedo, a participação das crianças em atividades práticas que envolvem a caça, a pesca, o plantio e a coleta de alimentos, nos quais os adultos são os responsáveis por passar às novas gerações os seus conhecimentos tradicionais. A participação das crianças nas diversas atividades tem, ainda, um caráter lúdico, porém já inspira responsabilidade. Nesse processo de aprendizagem, existem muitos rituais que caracterizam as tradições dos povos indígenas, que, de acordo com outras culturas, em alguns casos, poderiam ser interpretadas como sendo de extrema violência e agressividade. Em contrapartida, temos outras sociedades, entre elas as ocidentais, que colocam as crianças distantes do que chamam de “coisas de adultos”, como trabalhos que envolvem lavar, passar, cozinhar e atividades profissionais diversas. Tais sociedades protegem suas crianças em relação a esses trabalhos, por meio de leis e estatutos. Nessas condições não poderíamos afirmar que um povo ou o outro é o certo, sem levarmos em consideração a cultura envolvida. A aprendizagem está sob a influência e o controle da sociedade e da cultura que a envolve. Poderíamos ficar aqui buscando muitos outros estudiosos contemporâneos para ilustrar a relação entre a aprendizagem e o desenvolvimento humano, mas, a partir de agora, convidamos você a percorrer conosco um pouco da história das antigas civilizações para que possamos, juntos, remontar ao processo histórico da aprendizagem e, consequentemente, ao seu desenvolvimento. Partiremos, em nossas reflexões, de 3000 a.C., momento em que encontramos as primeiras culturas que diríamos urbanas, assentadas ao longo do delta dos rios Tigre e Eufrates, onde constatou-se o primeiro sistema de escrita conhecido pela humanidade. Esse sistema tinha o objetivo do registro das produções agrícolas, assim como o registro da história daquela sociedade, em tabuinhas de cera de abelha. Esse avanço em relação à forma de registro, originou o que vamos chamar de “um novo ofício”, o ofício da pessoa que fazia o registro, que, além de saber os códigos, tinha de ser uma pessoa de extrema confiança, pois, na maioria, só ela sabia “ler” o que registrava, só ela tinha o domínio de suas “anotações”! Originava-se, assim, a profissão do escriba. Com o desenvolvimento social e econômico desses povos, nascia a necessidade também da ampliação dos registros. Mas como fazer isso? Foi necessário formar novos escribas e, junto com eles, a necessidade de passar o ofício para outros. Assim, era preciso ensinar a escrever, e, por meio do seu conhecimento prático, o escriba ensinava como fazer. Com a necessidade acentuada dos bens e o aumento dos registros, foi preciso ampliar também a profissão dos escribas. E assim, com o tempo, foram surgindo as casas das tabuinhas que formavam os novos escribas, o que podemos entender como as primeiras escolas. Nelas, o ensino formalizava o ofício dos escribas. Caracterizada, em seu processo de aprendizagem, pela utilização da memória e pela repetição, a aprendizagem nesse modelo era reprodutiva, sem a intenção de libertar a memória. A escrita, por muitos séculos, não veiculou a liberdade da memória; ao contrário, trouxe, para os poucos que a dominavam, uma sobrecarga de responsabilidade, pois eram o que hoje chamamos de “memória viva” de uma época e, como tal, utilizavam cada vez mais a “sua” memória para guardar as informações. Foi na Grécia e em Roma que surgiu, muito tempo depois, uma nova tecnologia, capaz de aliviar a memória. Essa tecnologia utilizava a associação de lugares conhecidos com as informações que necessitavam ser guardadas ou a formação de imagens mentais associadas ao que precisava ser lembrado posteriormente. Foram introduzidos, além da aprendizagem de conteúdos básicos como a ciência e a matemática, outros conteúdos, tais como a arte, a música, a ginástica, entre outros. Em Atenas, surgiram comunidades de estudos muito fechadas, em busca da verdade absoluta, cujo objetivo era a formação de uma elite pensante! Poucos poderiam formalizar a sua aprendizagem, geralmente os que tinham acesso a essa elite pensante já tinham uma ligação com ela. Outro modelo de aprendizagem foi criado, cujo processo de formação era lento, no qual o mestre tinha que repassar ao aprendiz o que dominava. Ao aprendiz cabia-lhe imitar ou copiar o que o mestre lhe passava. Na Idade Média, a característica principal do processo de aprendizagem foi a apropriação da Igreja de todas as formas do saber e, com isso, ocorria uma seleção rígida pelos religiosos do que poderia ser aprendido pelos homens, pela sociedade da época. Isso gerou, para a humanidade, uma restrição à informação e, como resultado, um atraso no processo formal da aprendizagem. Muitas críticas existiam em relação à aprendizagem memorística ou repetitiva utilizada com primor na Idade Média, principalmente pelos religiosos, a qual só servia para decorar listas e mais listas, sem sentido, sem relação com a realidade de quem as decorava. Tempos melhores vieram com a Revolução Industrial. A ampliação do processo de aprendizagem teve a sua marca registrada junto com mudanças marcantes na sociedade. Entre essas mudanças, a aceleração da imprensa possibilitou uma ampliação da divulgação das informações, assim como a generalização do conhecimento, que passou a ser acessível para uma grande parte da sociedade. Mas o fator diferencial dessa época foi a liberação da memória da função de conservação do conhecimento, uma vez que o conhecimento com a imprensa passou a ser livre e criativo. O conhecimento também passou a ser amplamente divulgado na sociedade. A memória humana passou a ser utilizada para outras aprendizagens. Desta feita, a sociedade sofreu transformações acentuadas, o conhecimento que, até então, ficava centrado nas mãos de poucos – da elite intelectual – tornou-se, incontrolavelmente, popular. Ao romper as barreiras do controle da Igreja, “se esparramou” para os quatro continentes e trouxe muitos benefícios para a humanidade, já que o conhecimento não era mais um fator de controle social. A cultura da aprendizagem rompeu verdades absolutas que eram restritas a uma minoria. Mediante este cenário, a educação oferecida a todos não se adapta à realidade dos aprendizes. O que vemos acontecer é uma educação generalizada, com muitas cobranças por novos conhecimentos, em uma sala repleta de alunos que nem sempre estão amadurecidos o suficiente para aprender o conteúdo ali exposto pelo professor. Ou seja, sem considerar o amadurecimento e a prontidão dos aprendizes. Essa situação desencadeia um desinteresse por parte dos alunos em relação às aulas diárias, que, muitas vezes, são ineficazes, quando deveriam ser um compromisso da escola com os seus aprendizes e desses para com a escola. Novos ambientes de aprendizagem surgem a cada dia e os recursos tecnológicos são inseridos nos modos de ensinar. Como exemplo, temos o caso dos alunos que frequentam as aulas de informática que permitem o acesso à internet nas escolas, ampliando os recursos pedagógicos e as possibilidades de informação por meio de diversossites, bibliotecas virtuais, revistas eletrônicas, entre outras facilidades que aceleram as informações que chegam até o aluno. A informalidade da prática cotidiana também não é diferente. O acesso ao mundo virtual, por parte dos educandos, é crescente e em grande velocidade, o que rapidamente provoca a saturação de informações com baixa elaboração e construção de conhecimentos. As informações cotidianas chegam muitas vezes de forma mais interessante e prazerosa do que na escola, em que conteúdos densos e descontextualizados, na maioria das vezes, chegam pelas mãos do professor, que se vê pressionado em relação à grande quantidade de conteúdo a ser ministrado. Essa situação desencadeia um verdadeiro desconforto na relação professor-- -aluno- conhecimento. E o professor, muitas vezes, em vez de contribuir para a construção do conhecimento de seus alunos, passa a disputar com eles o território da informação. Ele precisa vencer o conteúdo e o aluno precisa se ver livre desse conteúdo para então buscar o prazer, ao adquirir informações mais interessantes, atualizadas e contextualizadas nos ambientes digitais! Diante dessas reflexões, podemos dizer que não paramos para selecionar o que iremos acessar, mas o hábito do acesso diário nos encaminha em direção a determinadas buscas, a determinados endereços eletrônicos, pois, quanto mais informações, mais necessidade sentimos de obtê-las. Nos empanturramos de informações que não nos levam à aquisição do conhecimento, na mesma velocidade que nos leva à informação. Ao trabalharmos de forma interdisciplinar e com novos recursos e estratégias da aprendizagem, estaremos criando “novos” ambientes de aprendizagem. Assim, conseguimos elaborar uma proposta pedagógica com a integração de maior número de conteúdos, de forma prazerosa. A aprendizagem, assim, torna-se significativa. Dessa forma, o conteúdo da aprendizagem formal é ministrado de maneira contextualizada, na qual o professor estimula, media e facilita a compreensão do conteúdo estudado, utilizando para isso atividades que despertam prazer no aprendiz. Ao professor caberá conduzir a atividade de acordo com os objetivos pedagógicos que quer alcançar, ou seja, caberá a ele a elaboração do planejamento da atividade. A ação dos aprendizes será encaminhada em direção à reflexão do conteúdo, o que permitirá a discussão, a participação e a contribuição dos alunos em seu processo de aprendizagem. Os educandos terão, assim, a oportunidade de compreender, na prática, a utilidade do que estão aprendendo e poderão ampliar e aplicar no cotidiano, cada vez mais, essa rede de conhecimentos. Atualmente, temos a nosso dispor muito o que aprender e, também, uma diversidade de contextos de aprendizagem. Não há como permanecermos fechados entre quatro paredes, apossados apenas do livro didático. Os fatos ocorrem fora do contexto pedagógico, como já falamos anteriormente, numa velocidade descomunal. Segundo Pozo (2002), estamos vivendo a sociedade da informação. Ela permite o acesso livre aos mais variados tipos de informações, que não se classificam em ordem crescente de complexidade. Qualquer pessoa, desde a mais tenra idade, se souber acessar a informação, a terá em rede, mas isso não significa, necessariamente, que ela a compreenderá. Esse livre acesso cria um clima de insegurança, ao mesmo tempo que nos dá liberdade de adquiri-las, porque nem sempre as informações nos chegam por nossa escolha ou seleção, pelo contrário, poderíamos dizer que uma grande parte dessas informações tem chegado de forma invasiva. Se antigamente sofríamos por falta de informações, hoje estamos sofrendo por seu excesso e pela falta de controle em relação ao seu acesso. Isso tem nos causado transtornos sérios no que diz respeito às nossas tradições e aos nossos valores. Os elementos culturais hoje não permanecem apenas em sua comunidade, mas diríamos que eles estão sendo fortemente influenciados pelas comunidades virtuais que ultrapassam as barreiras geográficas do planeta e a cultura dos povos. Ao ampliarmos os ambientes de aprendizagem, ao construirmos novas estratégias pedagógicas, temos que contextualizá-las, dando a “nossa cara”, mesclando características pessoais, culturais e as inovações tecnológicas de forma que possam estar em cooperação com o enriquecimento profissional e científico. Tivemos a oportunidade de refletir sobre o processo de aprendizagem e sua relação com as características do século XXI. Fizemos algumas reflexões sobre o papel do professor diante dessas mudanças, porém é importante vermos como está esse importante fator da educação no processo acelerado e tecnológico de mudanças dos nossos tempos. REFERÊNCIAS POZO, Juan Ignacio. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002, p. 25.
Compartilhar