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HISTÓRIA DA ARTE E DO DESIGN Jana Cândida Castro dos Santos Introdução ao conceito de arte Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Definir arte. � Identificar a arte como um reflexo da cultura e da história. � Listar os diferentes tipos de arte. Introdução Ao longo da história, o homem sempre produziu inúmeros artefatos para o seu dia a dia, concebidos de forma harmoniosa, a partir da combinação de cores e texturas. Mas, além de produzir objetos cotidianos, ele criou obras para expressar os seus sentimentos diante da vida e a sua visão da realidade, nas mais diversas linguagens. A arte nasceu com o homem e deu a ele a consciência de sua capaci- dade de criar, de sua possibilidade de interpretar, imaginar e se comuni- car. Assim, a necessidade de manifestar-se artisticamente acompanha a evolução humana desde a Pré-História. Desse período datam as primeiras manifestações estéticas, ainda relacionadas aos rituais de conquistas. Neste capítulo, você vai estudar o conceito de arte e conhecer di- ferentes expressões artísticas. Além disso, vai ver que a arte pode ser compreendida como um reflexo da cultura e da história da humanidade. O que é a arte? Para começar a refletir sobre o tema deste capítulo, você deve se questionar o que é a arte. Para o crítico inglês John Ruskin (apud PROENÇA, 2009, p. 6), “[...] as grandes nações escrevem sua autobiografia em três volumes: o livro de suas ações, o livro de suas palavras e o livro de sua arte”. Ele ainda acrescenta que “[...] nenhum desses três livros pode ser compreendido sem que se tenham lido os outros dois, mas desses três, o único em que se pode confiar é o último”. Partindo dessa colocação, você pode entender a arte como reflexo da so- ciedade, ou seja, como algo profundamente ligado à cultura e aos sentimentos de um povo. É por isso que, aos olhos de Ruskin, o livro da arte é o mais confiável. Por meio da arte, o homem pode se manifestar expressivamente e registrar a sua vida em diferentes aspectos. Ele pode, por exemplo, retratar uma festa, um nascimento, um trabalho, uma manifestação religiosa, assim como momentos de ilusão, ou ainda devaneios, sátiras e críticas. Em geral, as atividades humanas em algum momento foram elementos de representação artística, nas mais diversas linguagens, temas e técnicas de produção. A palavra “arte” vem do latim ars e corresponde ao termo grego tékhne (“técnica”), que significa “[...] toda atividade humana submetida a regras em vista da fabricação de alguma coisa” (CHAUÍ, 2003 apud FERREIRA, 2011, p. 61). A arte é um meio de fazer, de produzir. Nesse sentido, ela pressupõe um conhecimento prévio inerente ao ser humano. Veja: A arte é muitas coisas. Uma das coisas que a arte é, parece, é uma transforma- ção simbólica do mundo. Quer dizer: o artista cria um mundo outro — mais bonito ou mais intenso ou mais significativo, ou mais ordenado — por cima da realidade imediata [...]. Naturalmente, esse mundo do outro que o artista cria ou inventa nasce de sua cultura, de sua experiência de vida, das ideias que ele tem na cabeça, enfim, de sua visão de mundo [...] (GULLAR apud FERREIRA, 2011, p. 61). A arte, apesar de ser um conceito subjetivo, pode ser compreendida como um saber. Ela alia conhecimentos teóricos e práticos de modo a expressar os sentimentos de um povo intrínsecos ao seu contexto social. A arte é um reflexo da sociedade que a produz, pois ilustra o que é a realidade no momento em que foi representada. Introdução ao conceito de arte2 As obras de arte apresentam diferentes temas. Você pode considerar que elas: � retratam elementos naturais, como é o caso das pinturas nas cavernas de Altamira, na Espanha (Figura 1); Figura 1. Pinturas pré-históricas encontradas nas cavernas de Altamira, Espanha. Fonte: Proença (2005, p. 7). � expressam os sentimentos religiosos do homem, tal como o quadro Natividade, do pintor renascentista Sandro Botticelli (Figura 2), ou a máscara do Deus-Morcego criada por uma antiga civilização pré- -colombiana do México (Figura 3); 3Introdução ao conceito de arte Figura 2. Natividade (cerca de 1501), de Sandro Botticelli. Galeria Nacional, Londres. Fonte: Proença (2005, p. 7). Introdução ao conceito de arte4 Figura 3. Máscara do Deus-Morcego (200 a.C.–200 d.C.). Museu Nacional de Antropologia, Cidade do México. Fonte: Hernandez (2011, documento on-line). 5Introdução ao conceito de arte � retratam situações sociais, como A família de Retirantes, do pintor brasileiro Candido Portinari (Figura 4). Figura 4. Retirantes, de Candido Portinari. Museu de Arte de São Paulo. Fonte: Proença (2005, p. 239). Introdução ao conceito de arte6 � sugerem diferentes impressões a quem as contempla, como as pinturas de Tomie Ohtake (Figura 5). Figura 5. Composição (1974), de Tomie Ohtake. Fonte: Proença (2005, p. 8). A arte como um reflexo da cultura e da sociedade A obra de arte se situa entre o particular e o universal da experiência humana. Cada obra é tanto um produto cultural de determinada época quanto uma criação singular da imaginação humana, cujo valor é universal. A obra de arte revela para o artista e ao mesmo tempo para o espectador uma possibilidade de existência e comunicação, além dos fatos e relações habitualmente conhecidos. 7Introdução ao conceito de arte Dessa maneira, a criação artística pode se distinguir das demais modali- dades de conhecimento por promover a comunicação entre os seres humanos, com a utilização particular das suas formas de linguagem. Como você pode perceber, a obra de arte dialoga com o seu observador. Para tanto, basta que ele se detenha em sua análise. Para Arthur Schopenhauer (2003), filósofo alemão do século XIX, caberia à arte expor ideias e assim explorar o verdadeiro conteúdo do mundo. A arte, para ele, se definiria como a “exposição de ideias” ou o modo de consideração das coisas independentemente do princípio da razão. Ela seria o conhecimento cristalino dos graus de objetivação da vontade. Pela arte, o gênio, faculdade comum a todos em menor ou maior grau, intuiria “[...] o essencial propriamente dito do mundo, o conteúdo verdadeiro de seus fenômenos [...]” (SCHOPE- NHAUER, 2003, p. 15). Ou seja, para o filósofo, a arte seria a maneira mais efetiva de explorar o conteúdo do mundo. Além disso, a arte pode ser entendida como um modo privilegiado de conhecimento e aproximação entre indivíduos de diferentes culturas. Afinal, ela favorece o reconhecimento das diferenças e semelhanças, expressas nos produtos artísticos e concepções estéticas, num plano mais profundo que o do discurso verbal. Por meio da análise de objetos e imagens produzidas pelo homem no de- correr dos tempos, você pode, além de obter um retrato das transformações, ver os registros das descobertas proporcionadas pela ciência, sistematizadas pela geografia, registradas pela história, desenvolvidas pela matemática. Por meio da história da arte, é possível compreender a relação do homem com o seu tema e o seu espaço. As manifestações artísticas são exemplos da diversidade cultural dos diferentes povos, expressando a riqueza criadora dos artistas de todos os tempos e lugares. Os trabalhos de arte muitas vezes expressam as questões humanas, tais como problemas sociais e políticos, sonhos, medos, perguntas e inquietações das mais diversas. Também documentam fatos históricos e manifestações culturais particulares. Como afirma Ferreira (2011, p. 67): Introdução ao conceito de arte8 O artista, através de sua obra de arte autêntica, pode protestar contra as barbáries do mundo, transformando a submissão em ato de luta, buscando resgatar a dignidade humana, o ser humano pleno, rumo a uma sociedade melhor, mais justa e mais democrática, onde todos possam ter acesso aos bens culturais de consumo e ao lazer. Nesse sentido, a arte não se restringe a produzir o belo ou o útil, o prazer. Mas do que isso, a “[...] arte podecontribuir para a compreensão do mundo real e expressão da verdade” (FERREIRA, 2011, p. 67). Quando a arte surgiu? Como você pode notar, o ser humano, seja de que época for, sempre produziu e se cercou de artefatos e utensílios para o uso cotidiano e para a expressão de seus sentimentos diante da vida. Os primeiros registros da cultura humana datam da Pré-História. Foram encontrados objetos, pinturas e gravações no interior de muitas cavernas espalhadas pelo mundo. Por meio deles, antropó- logos e historiadores puderam reconstituir a vida dos ancestrais pré-históricos do homem. Devido à sua longa duração, a Pré-História foi dividida por historiadores, segundo Proença (2009), nos seguintes períodos: � Paleolítico (Idade da Pedra Lascada) — do surgimento do ser humano até cerca de 12 mil anos atrás; � Neolítico (Idade da Pedra Polida) — de 12 até 6 mil anos atrás; � Idade dos Metais — de 6 mil anos atrás até o desenvolvimento da escrita. A arte no Paleolítico: o naturalismo Esse período também é chamado de Idade da Pedra Lascada. Nele, grupos de homens produziam armas e instrumentos de pedra, que eram lascadas para adquirirem bordas cortantes. As primeiras manifestações artísticas desse período de que se têm registro são as pinturas encontradas nas cavernas de Chavet e Lascaux, na França (Figura 6), e de Altamira, na Espanha. 9Introdução ao conceito de arte Figura 6. Pintura rupestre proveniente da Sala dos Touros, na caverna de Lascaux, na região Dordogne, na França. Fonte: Proença (2009, p. 9). As primeiras expressões de arte consistiam em traços feitos nas paredes das cavernas ou em mãos em negativo (Figura 7). Somente depois de muito tempo é que o ser humano da Pré-História passou a desenhar e a pintar animais. Figura 7. Mão em negativo: pintura rupestre. Fonte: Proença (2009, p. 10). Introdução ao conceito de arte10 Para a técnica das mãos em negativo, o artista do Paleolítico utilizava um pó colorido obtido a partir da trituração de rochas. Com um canudo, soprava esse pó sobre a mão encostada na parede da caverna. Assim, a área em volta da mão ficava colorida, ao contrário da parte coberta, produzindo a silhueta da mão, como você pode ver na Figura 7. Os desenhos e as pinturas desse período apresentam como principal carac- terística o naturalismo, pois a natureza e os seres vivos eram representados tal como vistos pelo homem paleolítico. Diferentemente do que aconteceu em outros períodos, o artista retratava somente o que via. As chamadas pinturas rupestres (do latim rupes, “rocha”) representavam animais, muitas vezes aqueles que eram temidos, como o bisão (Figura 8). Figura 8. Pintura rupestre de um bisonte encontrada numa das grutas de Altamira, na Espanha. Fonte: Proença (2009, p. 10). 11Introdução ao conceito de arte Para produzir pinturas como a da Figura 8, eram utilizados óxidos mi- nerais, ossos carbonizados, carvão, vegetais, além de sangue de animais. O ser humano das cavernas esmagava os elementos sólidos e os dissolvia na gordura dos animais caçados. Inicialmente, utilizava os próprios dedos para pintar. No entanto, também há indícios do emprego de pincéis produzidos com penas e pelos. Outro aspecto que chama a atenção nesse período são as esculturas. Elas retratam predominantemente figuras femininas, como a Vênus de Willendorf (Figura 9). A pequena escultura de pedra foi encontrada pelo arqueólogo Josef Szombathy, perto de Willendorf, na Áustria, em 1908. Figura 9. Vênus de Willendorf, estatueta de 11 cm de altura. Museu de História Natural, Viena. Fonte: Lefteris Tsouris/Shutterstock.com Na Figura 9, você pode observar alguns aspectos: não há diferenciação evidente da cabeça em relação ao pescoço, os seios são volumosos, assim como o ventre e as nádegas, que têm forma arredondada. Introdução ao conceito de arte12 O documentário A Caverna dos sonhos esquecidos (2010), produzido pelo diretor alemão Werner Herzog, mostra imagens impressionantes das pinturas rupestres do interior da caverna Chauvet, no sul da França. A caverna reúne desenhos intocados e surpre- endentemente realistas de cavalos, bois e leões, que ganham vida por um momento pela luz das tochas. Para conferir, acesse o link a seguir. https://goo.gl/FxNURi A arte no Neolítico: um novo estilo O Neolítico também foi denominado Idade da Pedra Polida. Nesse período, os homens produziam armas e instrumentos polindo as pedras por atrito, deixando-as, assim, mais afiadas e eficientes. Foi nessa época que aconteceu a chamada Revolução Neolítica. Segundo Proença (2009), ela marcou o início da agricultura e da domesticação de animais. Isso permitiu ao homem subs- tituir a vida nômade por uma vida mais estável. Como você pode imaginar, essa mudança alterou profundamente a história humana. Com a fixação dos grupos, a população cresceu rapidamente e desenvolveu seus primeiros núcleos familiares. Além disso, ocorreu a divisão de trabalho nas comunidades. Você deve considerar que: Há, então, uma diferença básica entre o Paleolítico e o Neolítico, embora o homem ainda dependesse da pedra como o material de seus principais utensílios e armas. A nova forma de vida deu origem a um grande número de habilidades e invenções, muito antes do surgimento dos metais: a cerâ- mica, a tecelagem e a fiação, métodos básicos de construção arquitetônica. Sabemos tudo isso a partir dos povoados do Neolítico que foram revelados por escavações (JANSON; JANSON, 1996, p. 17). A importante passagem da caça para a agricultura de subsistência prova- velmente foi a causa de profundas alterações na maneira de o homem ver a si próprio e o mundo. Segundo Janson e Janson (1996, p. 17), “[...] deveria haver, aqui, um enorme capítulo sobre o desenvolvimento da arte que, no entanto, se perdeu, simplesmente por que os artistas do Neolítico trabalhavam com ma- deira e outros materiais perecíveis”. No entanto, há uma exceção: Stonehenge, o grande círculo de pedra localizado no sul da Inglaterra (Figuras 10 e 11). 13Introdução ao conceito de arte Figura 10. Stonehenge (3100·a 1100 a.C.). Diâmetro do círculo: 29,5 m. Altura das pedras acima do solo: 4,11 m. Planície de Salisbury, Wiltshire, Inglaterra. Fonte: Janson e Janson (1996, p. 17). Figura 11. O grande círculo de Stonehenge. Planície de Salisbury, Wiltshire, Inglaterra. Fonte: Janson e Janson (1996, p. 17). O Stonehenge é considerado o mais bem preservado dos monumentos megalíticos ou "de grandes pedras". Aparentemente, ele é de cunho religioso, já que o esforço contínuo necessário para construí-lo só poderia ter sido man- tido pela fé. Sua estrutura inteira volta-se para o ponto exato em que o Sol se levanta no dia mais longo do ano, o que leva a crer que deve ter se prestado a um ritual de adoração do Sol (JANSON; JANSON, 1996, p. 18). Introdução ao conceito de arte14 Para saber mais sobre esse assunto, você pode assistir ao documentário Os Mistérios de Stonehenge (2017), do History Channel Brasil, disponível no link a seguir. https://goo.gl/2CQkyn As conquistas técnicas do homem neolítico certamente se refletiram nas suas pinturas, pois o estilo naturalista deu lugar a um estilo mais simples e geométrico. O novo estilo mais sugeria do que representava fielmente os seres (Figura 12). Você pode observar que essas pinturas do Neolítico não buscavam imitar a natureza; suas figuras possuem poucos traços e poucas cores. Além das formas representadas, os temas também sofreram mudanças: as atividades cotidianas e coletivas passaram a ser representadas. Note que na cena representada na Figura 13 há a clara intenção de transmitir a ideia de movimento, de dar vida à cena representada por meio da posição das pernas e dos braços. Figura 12. Pintura rupestre nas cavernas de Tassili n’Ajjer, na Argélia. Fonte: Proença (2009, p. 12). 15Introdução ao conceito de arte Figura 13. Pintura rupestre nas cavernas de Tassili, região do Saara. Fonte: Proença (2009, p. 12). A arte na Idade dos Metais: um novomaterial Na Idade dos Metais, com a dominação do fogo, o artista passou a trabalhar com o metal e a produzir peças mais complexas e elaboradas. Para a produção de esculturas de metal, ele utilizava principalmente a técnica com a forma de barro e a técnica da cera perdida. As primeiras esculturas foram encon- tradas na Escandinávia e na Sardenha, representando guerreiros e mulheres e documentando costumes do período (Figura 14). Introdução ao conceito de arte16 Figura 14. Escultura neolítica de bronze encontrada na Sardenha. Museu Pigorini, Roma. Fonte: Proença (2009, p. 13). Que tal conhecer as técnicas utilizadas pelos artistas da Idade dos Metais? Técnica da forma de barro: utilizava-se uma forma de barro em que era despejado o metal já derretido. Depois do esfriamento do metal e da quebra da forma, obtinha-se uma escultura com o formato previamente dado ao barro. Técnica da cera perdida: primeiro, construía-se um modelo em cera, que depois era revestido de barro, com o cuidado de deixar nele um orifício. Assim, quando o modelo era aquecido, e com o calor do barro, a cera derretia e escorria pelo dado orifício, formando um objeto oco. Posteriormente, o mesmo orifício era preenchido com o metal derretido. Após o esfriamento do objeto, quebrava-se o molde de barro, sobrando apenas a escultura em metal moldada em cera pelo artista. 17Introdução ao conceito de arte Tipos de arte Para se manifestar artisticamente, o homem usa o som (música), a linguagem verbal oral ou escrita (literatura), a linguagem visual e a linguagem corporal (dança). Ele pode, ainda, expressar-se por meio da combinação de várias lin- guagens. É possível classificar a arte de diversas maneiras. Para Schopenhauer (apud BARBOZA, 2001, p. 94), por exemplo, haveria uma hierarquia entre as artes — a menos relevante seria a arquitetura, seguida pela escultura, pela pintura, pela poesia e, por fim, pela música, a mais interessante das expressões. Portanto, segundo ele, entre as artes estaria a arquitetura, capaz de lidar com formas e proporções, expondo ainda o conflito entre gravidade e resistência. Para a boa e bela arquitetura, seria necessário traduzir a tensão da natureza com o material típico, a pedra. Na hierarquia do filósofo, a jardinagem ainda estaria numa posição superior à da arquitetura. Em patamares mais elevados que a arquitetura e a jardinagem estariam a escultura e a pintura histórica, capazes de representar a fisionomia e o corpo humano com genuína beleza estética. Nessa hierarquia, a poesia estaria em posição superior à das artes plásticas e seria inferior somente à música. A poesia, para Schopenhauer (2003), possibilita a exposição da vontade em sua objetivação mais elevada, permitindo uma dinâmica narrativa das ações e semblantes superior à das artes plásticas. A última arte na hierarquia e a mais excelsa de todas elas seria a música, pois se conhece aí “não a cópia, repetição de alguma ideia das coisas do mundo”, mas a “linguagem universal” da coisa em si. De modo geral, você pode considerar a classificação das artes apresentada a seguir. � Artes plásticas: englobam alguns tipos de artes visuais. Referem-se a expressões artísticas que utilizam técnicas de produção que manipulam materiais para construir formas e imagens. A ideia é que tais formas e imagens revelem uma nova concepção estética e a visão poética do artista plástico. Entre as artes plásticas, estão: arquitetura, pintura, desenho, escultura, gravura e fotografia. � Artes cênicas: consistem no estudo das expressões performáticas apresentadas em um palco e relacionadas com a dança, o teatro, a linguagem verbal ou a música. � Artes visuais: são todas as artes que apresentam realidade ou imagi- nação percebida pelo olhar como processo criativo. Introdução ao conceito de arte18 Em 1912, o intelectual italiano Ricciotto Canudo propôs, em seu Manifesto das Sete Artes e Estética da Sétima Arte, que o cinema fosse considerado a sétima arte. O manifesto foi publicado posteriormente, em 1923, apresentando as artes, ou seja: arquitetura, escultura, pintura, música, teatro, poesia e cinema. Mais tarde, também foram consi- deradas a fotografia, a história em quadrinhos, os jogos de vídeo e de computador e a arte digital. Aqui, o foco são as sete primeiras artes. � Arquitetura: é a arte de projetar e edificar espaços — a partir da har- monia de proporções, da seleção de materiais e de soluções estruturais — em vista da plástica arquitetônica. � Escultura: é a técnica de representar figuras ou de organizar formas em três dimensões, esculpindo ou combinando elementos. � Pintura: é caracterizada pela técnica de aplicar tintas sobre uma superfí- cie, geralmente plana, representando figuras conhecidas ou imaginárias, cuja cor é um elemento básico. Exemplos: quadros, painéis, murais. � Música: é a combinação harmoniosa e expressiva de sons e ritmos, cuja compreensão se dá na esfera do sensível e do intuitivo, por meio da audição. É a arte de se exprimir por meio de sons, cuja forma e conte- údo variam de acordo com cada cultura e contexto social. Essa prática cultural foi desenvolvida em diferentes sociedades desde a Pré-História. � Teatro: é o ofício ou arte de atuar, que percorreu a história da humani- dade, unindo por vezes dança e música. O teatro surge com a evolução dos rituais relacionados à caça e à colheita (agricultura). Posteriormente, os ritos teatrais remetem a cerimônias dramáticas, com expressões de cunho espiritual. � Poesia (literatura): utiliza recursos linguísticos e estéticos para a expressão dos sentimentos, questões humanas e/ou situações cotidianas. Tem como objetivo retratar o real ou o imaginário, de forma lírica, veiculando informações ao receptor. � Cinema: denominado “sétima arte”, surge com os irmãos Lumière, na França, em 1895, a partir do cinematógrafo, inspirado na ideia de domínio fotográfico e de síntese do movimento com a proposição sonora. Aos poucos, a arte foi retratando grandes eventos sociais. Hoje, cada vez mais filmes e documentários transmitem e veiculam imagens e mensagem para informar e provocar seus espectadores. 19Introdução ao conceito de arte Como você viu, o artista pode se expressar de diversas maneiras, seja pela linguagem visual, pela linguagem cênica ou pela linguagem plástica, ou ainda pela mistura de várias linguagens. Assim, as diferentes manifestações de arte estão profundamente ligadas à cultura de um povo, pois ora retratam elementos do meio natural (como nas pinturas pré-históricas), ora retratam temas religiosos, situações sociais, etc. As manifestações artísticas revelam a visão do homem sobre o espaço, assim como a sua relação com o seu meio e o seu tempo. Ou seja, as obras de arte são reflexos da cultura e da história. Para aprender mais sobre o assunto deste capítulo, você pode assistir a dois programas muito interessantes da SescTV: � Artes Visuais: Esculturas (2012) — apresenta artistas que têm como expertise a criação de esculturas. São eles: Saint Clair Cemin, Erika Verzutti, Emanoel Araújo e Rodolpho Parigi. https://goo.gl/W16sLF � Artes Visuais: Performances (2012) — mostra quatro artistas brasileiros falando sobre diferentes formas de performance. A arte performática, de fato, surgiu de várias fontes: dança, teatro, cinema, poesia, artes plásticas, música e internet. Sua força reside na sua natureza indefinível. https://goo.gl/m3Avja 1. Qual é a principal diferença entre a criação artística e as demais modalidades do conhecimento humano? a) A principal diferença é o tipo de linguagem, visto que a criação artística utiliza elementos gráficos. b) A principal diferença são as técnicas utilizadas para a produção. c) A principal diferença é a comunicação entre os seres humanos propiciada pela obra de arte. d) A principal diferença são os temas representados, já que as obras de arte representam elementos da natureza e as demais representam aspectos da vida humana. Introduçãoao conceito de arte20 e) A principal diferença é a expressão cênica, visto que as obras de arte sempre utilizam recursos teatrais, unindo por vezes dança e música. 2. Por que a arte pode ser considerada reflexo da cultura e da história da humanidade? a) Porque apresenta diversas linguagens, sejam elas visuais, plásticas ou cênicas. b) Porque tem como finalidade principal retratar fielmente objetos, pessoas e elementos naturais. c) Porque atende principalmente às questões da imaginação do artista. d) Porque o homem, ao longo dos séculos, representou com a arte o meio em que vivia, bem como as suas inquietações e os seus sentimentos. e) Porque surge unicamente como oportunidade de proporcionar experiência especial para quem a aprecia. 3. Para se manifestar artisticamente, o homem pode usar o som, a linguagem verbal oral ou escrita, a linguagem corporal, ou ainda a combinação de várias linguagens. Sobre os tipos de arte existentes, é possível afirmar que: a) a arquitetura tem como princípio a organização de formas em três dimensões, esculpindo-as ou compondo-as a partir da combinação de elementos. b) o cinema utiliza recursos linguísticos e estéticos combinados de forma harmoniosa a sons e ritmos. c) a escultura, a partir da harmonia de proporções, da seleção de materiais e das soluções estruturais, visa à plástica arquitetônica. d) a pintura, como arte, se propõe a modelar e transformar materiais a partir do contato com superfícies planas. e) a poesia utiliza a linguagem humana para expressar sentimentos e emoções. 4. A arte é um meio de fazer, de produzir. Nesse sentido, ela pressupõe um conhecimento prévio inerente ao ser humano. Sobre a definição de arte, assinale a alternativa correta. a) As manifestações artísticas são exemplos da diversidade cultural dos diferentes povos. b) A arte envolve somente abstração, por ser expressão das experiências e dos sentimentos do artista. c) A arte apresenta-se somente como um fiel registro das atividades humanas e de seus rituais. d) A obra de arte apresenta caráter somente particular, por ser um produto cultural de determinada época e determinado contexto histórico. e) A arte surge unicamente como forma de homenagear deuses, ligada sempre à religião. 5. Por meio da análise de objetos e imagens produzidas pelo homem no decorrer dos tempos, pode-se, além de obter o retrato das transformações, ver os registros das descobertas nos diferentes campos do conhecimento humano. Sobre a história da arte, é correto afirmar que: 21Introdução ao conceito de arte BARBOZA, J. A metafísica do belo de Arthur Schopenhauer. São Paulo: Humanitas, 2001. FERREIRA, R. M. R. A. Da arte e sua utilidade. Revista Pandora Brasil, n. 34, p. 60-67, set. 2011. HERNANDEZ, A. Mascara Dios Murcielago.jpg. Wikimedia Commons, the free media repo- sitor, 30 ago. 2011. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_Zapoteca#/ media/File:Mascara_Dios_Murcielago.jpg>. Acesso em: 25 set. 2018. JANSON, H. W.; JANSON, A. E. Iniciação à história da arte. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática, 2005. PROENÇA, G. História da arte. São Paulo: Ática, 2009. SCHOPENHAUER, A. Metafísica do belo. São Paulo: UNESP, 2003. Leituras recomendadas DEWEY, J. A arte como experiência. São Paulo: Martins Fontes, 2010. FONTANA, V. F. Metafísica do belo segundo Schopenhauer. Acta Scientiarum. Human and Social Sciences, Maringá, v. 27, n. 1, p. 41-46, 2005. GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC, 1999. MATTOS, P. B. A arte de educar: cartilha de arte e educação para professores do ensino fundamental e médio. São Paulo: Antonio Bellini, 2003. OLIVEIRA, J.; GARCEZ, L. Explicando a arte: uma iniciação para entender e apreciar as artes visuais. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. a) deve ser analisada de forma objetiva, pois a arte é um verdadeiro testemunho histórico, retratando somente situações sociais. b) permite compreender a relação especial do homem com o seu tempo e o seu espaço. c) pauta-se no princípio da razão, já que nas obras de arte se aplicam princípios matemáticos e geométricos. d) analisa somente as questões subjetivas expressas nas manifestações artísticas produzidas ao longo do tempo. e) está ligada unicamente à religião, visto que as grandes obras de arte homenageiam deuses e que muitas das imagens e objetos produzidos completam os cenários das cerimônias religiosas. Introdução ao conceito de arte22 Conteúdo:
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