Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Síndromes Colestáticas, Defeitos Diafragmáticos e Defeitos da Parede Abdominal I. Síndromes Colestáticas: 1. Atresia das Vias Biliares Rara (1:14 000 a 19 000 NV). Discreta predominância sexo feminino. Obstrução da via biliar. Indicação mais comum de transplante hepático nas crianças. Mecanismo etiológico desconhecido Não é considerada distúrbio hereditário. Formas sindrômicas (tipo embrionário) – 10 a 20 %. Formas não sindrômicas (tipo perinatal). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Classificação: Classificação é feita de acordo com os aspectos morfológicos obtidos pela Colangiografia injeta contraste no colédoco para visualizar a anatomia das vias biliares. Tipo corrigível problema apenas no hepático comum (é o IIa). Tipo não corrigível todos estão estenosados (I, IIb e III). Histopatologia: MACRO: - Fígado aumentado, firme e verde. - VB pequena, cheia de muco ou completamente atrésica. MICRO: - Trato biliar com células inflamatórias e fibrosas ao redor dos ductos reação inflamatória. - Parênquima hepático fibrótico e com sinais de colestase. - Cirrose de estágio terminal (se drenagem biliar não for obtida – pode entrar em falência hepática). * Alterações iniciais inespecíficas pode confundir com hepatite neonatal e doenças metabólicas. Clínica: Icterícia que persiste além de 2 semanas (não é fisiológica); Fezes hipo ou acólicas; Urina marrom escura. Hepatomegalia. Anemia / Desnutrição / Retardo do crescimento Má absorção de vitaminas lipossolúveis. Diagnóstico: Elevação de bilirrubina direta (pois é um problema na excreção da bilirrubina que já foi conjugada). Biópsia hepática (mais confiável, porém invasiva). Cintilografia hepatobiliar agentes marcados de tecnécio Captação dos nucleotídeos pelos hepatócitos é rápida; Excreção intestinal ausente. USG abdome (primeira escolha) Deve ser realizada em todos RN com icterícia; Exclui cisto de colédoco e síndrome da bile espessa. Colangiografia (anatomia da árvore biliar) Vias de acesso: Laparoscopia, Percutânea, Laparotomia. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Achados no USG abdome: Ductos intra-hepáticos não dilatados (processo inflamatório). VB pequena, reduzida e não contrátil. Aumento da ecogenicidade do fígado. Presença de poliesplenia associada é patognomônica. VB ausente ou de contorno irregular é sugestivo Não visualização da VB pode ser agenesia VB. Impossibilidade de visualizar o ducto cístico não é diagnóstico de atresia biliar. Porta hepatis com área triangular bem definida (alta ecogenicidade) Sinal do cordão triangular (Remanescentes fibróticos do ducto). Tratamento Cirúrgico: Antes da cirurgia Doses diária de vitamina K e ATB largo espectro. Cirurgia de Kasai Dissecção lateral prolongada ao redor da porta hepatis com uma anastomose muito ampla (portoenterostomia ampliada). Cuidados Pós-op Corticóides (diminui formação de cicatriz no local da anastomose); ATB; Coleréticos: ácido ursodesoxicólico (ursacol – faz a quebra dos sais biliares); Vitaminas lipossolúveis (A D E K); Alimentação por fórmula enriquecida com triglicerídeos de cadeia média. *Observar coloração das fezes (volta da cor normal das fezes indica sucesso da cirurgia)! Repetição da Portoenterostomia hepática: - Pacientes selecionados. - Bom fluxo biliar interrompido repentinamente. - Pacientes que beneficiam de um adiantamento do transplante. Complicações: Colangite (mais frequente): Resulta da infecção bacteriana na árvore biliar. - Elevação de bilirrubina; - Leucocitose; - Fezes normais ou acólicas; - Febre; - Colestase (lentificação da passagem da bile) é o principal fator de risco; - Tratamento imediato pelo risco de lesão hepática progressiva ATB, Pulso de corticoide, Reconstrução com Y de Roux (alongamento da alça para promover um afastamento das bactérias intestinais). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Cessação do fluxo biliar Perda do pigmento biliar nas fezes com portoenterostomia funcionante. Realizar: Pulso de corticoide ou Re-operação / Transplante. Hipertensão portal Fibrose hepática persistente; Varizes esofágicas; Hiperesplenismo; Ascite. - Hipertensão parece diminuir com o tempo (abordagem não cirúrgica); se não resolve = transplante. Cistos intra-hepáticos Causam colangite recorrente. Tratamento é ATB e ursacol para prevenção. Em alguns casos transplante. Síndrome hepatopulmonar Derivação/shunt intrapulmonar difuso (compostos vasoativos na circulação mesentérica não desativados no fígado); Cianose, Dispneia de esforço, Hipóxia, Baqueteamento digital - Resolve com transplante hepático. Malignidade hepática Carcinoma hepatocelular / Colangiocarcinoma; Cirrose biliar de longa duração após portoenterostomia. Outras: Pela doença hepática residual: - Problemas metabólicos associados à má absorção de gordura, proteínas, vitaminas e oligominerias. - Pelo prejuízo do fluxo biliar para o intestino Deficiências de ácidos graxos essenciais e Raquitismo. - Monitoramento a longo prazo e suplementação nutricional adequada. Determinantes do resultado satisfatório: Idade na cirurgia inicial. Obtenção efetiva do fluxo biliar pós-operatório. Presença de estruturas ductais microscópicas no hilo. Grau de doença parenquimatosa no diagnóstico. Fatores técnicos da anastomose (ex: anastomose com tensão favorece evolução para cirrose). TRANSPLANTE HEPÁTICO – Indicações: Ausência de drenagem biliar. Sinais de retardo do desenvolvimento ou suas sequelas. Complicações/efeitos colaterais socialmente aceitáveis. - Estabelecer o momento ideal (individualizado). 2. Cisto de Colédoco O cisto de colédoco é uma dilatação que pode ocorrer em qualquer porção do trato biliar. Predominância no sexo feminino (3,2:1). ETIOLOGIA: - Congênitos: Durante a vida fetal; Defeito estrutural pré-natal no ducto biliar. - Adquiridos: Canal pancreático biliar comum longo (caminho muito longo, refluxo de sais pancreáticos) Refluxo de secreções pancreáticas para a árvore biliar; Lesão epitelial e mural com fraqueza e dilatação do colédoco. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Classificação de Todani: Clínica: Difere com a idade de início e tipo de cisto Massa abdominal / Icterícia (comum no lactente); Dor abdominal (crianças mais velhas); Forma cística: massa abdominal; Fusiforme: dor abdominal. Complicações: Pancreatite (comum). Perfuração e hemobilia são raras. Complicação tardia: Alteração maligna. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Diagnóstico: USG: método inicial de escolha Contorno e posição do cisto; Estado dos ductos proximais; Anatomia vascular; Ecotextura hepática. CPRE Definição excelente do cisto, Anatomia da junção pancreático-biliar, Invasiva / Complicações (Pancreatite; Perfuração do trato duodenal ou biliar; Hemorragia e Sepse). O ideal seria a colangioressonancia, mas no nosso meio é difícil. Assim a escolha é o USG. Tratamento Cirúrgico: Excisão do cisto. Anastomose bílio-entérica. Preparo pré-op Tratar infecção biliar, Vitamina K, Corrigir TP alongado, Eliminação de Ascaris em áreas endêmicas. Cuidados pós-op Alimentação oral quando possível (2 a 3 dias) e Dreno abdominal removido 5 dias (quando sem vazamentos). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Complicações da cirurgia: Precoces: - Sangramento; - Fístula da anastomose; - Fístula pancreática (Drenagem; ATB; SNG; Nutrição parenteral); - Obstrução intestinal. Complicações tardias: - Colangite; - Estenose da anastomose; - Cálculos intra-hepáticos. 3. Colelitíase Doença hemolítica Anemia falciforme e Esferocitose hereditária. NPT de longa duração. Desidratação. Fibrose cística. Síndrome do intestino curto. Ressecção ileal. Uso de ACO. Obesidade. Clínica: Dor abdominal superior direita após refeição gordurosa. Náuseas e vômitos. Sintomas atípicos (especialmente crianças mais novas) Dor abdominal vaga pouco localizada. Diagnóstico USG abdominal. Tratamento cirúrgico Colecistectomia. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C II. Defeitos Diafragmáticos: 1. Hérnia Diafragmática Congênita – HDC (Bochdalek) Defeito póstero-lateral do diafragma. Também chamada Hérnia de Bochdalek. Hérnia diagramática precoce (detectada cedo na vida intrauterina pelo USG) compromete a ramificação normal da árvore traqueobrônquica (pulmão hipoplásico). VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Hérnia diagramática precoce Compressão pulmonar Hipoplasia pulmonar Hipertensão pulmonar Hipofluxo pulmonar (baixa oxigenação) Hipóxia tecidual. INCIDÊNCIA: 1 em 2500. Predominância pelo sexo masculino. LATERALIDADE 80% à Esquerda; Aproximadamente 20% à Direita; Apenas 2% Bilateral. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Diagnóstico ! Pré-natal: USG. Suspeita clínica: Abdome escavado, Assimetria torácica, Ausculta de ruídos hidroaéreos em tórax; Criança nasce com desconforto respiratório ao nascimento (nesse caso realizar a intubação, nunca VPP). Confirmação: Rx de tórax. Não realizar VPP em crianças com HDC, pois o máscara não é seletiva, ou seja, ela possibilitará entrada de ar não apenas no pulmão, mas também no TGI (que está ocupando parte do tórax), fazendo com o coração e os pulmões fiquem ainda mais comprimidos a caixa torácica. Caso haja desconforto respiratório nessas crianças, deve optar-se pela IOT. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Tratamento Cirúrgico: Acesso abdominal. Redução do conteúdo herniado. Inclui Apendicectomia tática (ceco móvel), pois se essa criança tivesse apendicite futuramente, a dor não seria na localização característica (diagnóstico retardado = risco de sepse); assim, retira-se o apêndice como forma de precaução. Reparo do defeito com pontos inabsorvíveis. Se a distância entre as bordas for grande Uso de prótese/tela se defeito grande. Obs.: Drenagem torácica não está indicada. Não é uma emergência cirúrgica. Aguarda estabilidade clínica. Não melhora função pulmonar pulmão malformado (hipoplásico). Sobrevida > 80%. Fatores de pior prognóstico: Diagnóstico pré-natal precoce (se o defeito aconteceu mais cedo, maior será a hipoplasia pulmonar). Polidrâmnio. Prematuridade. Baixo peso ao nascimento (< 2kg). Baixo Apgar do 5° minuto (< 5). IOT com menos de 6 horas de vida. Ventilação com máscara e pressão positiva. Hipercarbia PCO2 admissional > 60mmHg. Malformações associadas e Síndromes genéticas. Defeitos diafragmáticos grandes. 2. Hérnia Diafragmática de Morgagni Defeito diafragmático anterior Fracasso da fusão das porções crural e esternal do diafragma. Saco herniário tipicamente presente. Conteúdo que normalmente hernia Omento, Intestino delgado e Cólon. Associação Síndrome de Down e Pentalogia de Cantrell (defeito cardíaco, onfalocele, coração ectópico e defeito diafragmático anterior que se estende ao pericárdio). Clínica: Assintomática (maioria) Descoberta incidental. Desconforto epigástrico / Vômitos (obstrução intermitente). Tosse. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Apresentação aguda Isquemia intestinal com necrose e perfuração; Volvo gástrico; Herniação para pericárdio – tamponamento cardíaco. RX de tórax em AP e Perfil. Tratamento cirúrgico: Redução das vísceras herniadas. Excisão do saco herniário. Aproximação do diafragma para a bainha posterior do músculo reto na margem costal * Defeitos grandes podem requerer uso de prótese. 3. Eventração Diafragmática Elevação anormal do diafragma Movimento paradoxal durante a respiração: Interfere na mecânica pulmonar. Eventração Congênita: - Resulta do desenvolvimento incompleto do tendão central ou porção muscular do diafragma. - Grandes eventrações podem interferir no desenvolvimento pulmonar Pulmão hipoplásico. - Mais comum à E. - Músculo geralmente fino. Eventração Adquirida Paralisia do nervo frênico: Tumores do mediastino ou Cirurgia cardíaca congênita. Clínica: Aguda Dificuldade respiratória e Taquipneia. Curso indolente Infecções respiratórias de repetição e Chiado no peito. Assintomáticos com descoberta incidental. RN Intolerância alimentar (incoordenação sucção-respiração). Crianças mais velhas Intolerância ao exercício. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C TC nunca é bom na pediatria! Só deve ser feita se houver indicação real! Tratamento: Suporte respiratório Fisioterapia respiratória. Cirurgia: Plicatura diafragmática: Via torácica ou abdominal; utilização de fio inabsorvível. III. Defeitos congênitos da Parede abdominal - Onfalocele geralmente anomalia cardíaca associada. - Tratamento cirúrgico da Gastrosquise é urgente pois tem sofrimento intestinal. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Embriologia: Onfalocele: falha das vísceras em retornar à cavidade abdominal. Gastrosquise: falha da mesoderme para se formar na parede abdominal anterior Possíveis fatores causais: Tabaco, Exposições ambientais, Idade materna baixa, Baixo nível socioeconômico. 1. Gastrosquise 1:4000 NV. USG 20° semana de gestação Alças intestinais flutuando livremente no líquido amniótico e Defeito na parede abdominal à direita do cordão umbilical normal. Anomalia associada mais comum Atresia intestinal; Necrose intestinal e Perfuração intestinal. Tratamento: Embrulhar bebê em plástico (com a cabeça para fora) Evitar perda significativa de água por evaporação: Cavidade abdominal aberta e Intestino exposto. Acesso intravenoso adequada. Reposição volêmica. SOG (evitar distensão). Cirurgia Retornar vísceras para cavidade abdominal, Pressão intra-abdominal elevada (pois as alças intestinais estão edemaciadas – pode levar a hipertensão abdominal), - Fechamento primário preferencial; caso não seja possível = fechamento retardado: Colocação de silo / Reduções seriadas. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Cuidados pós-op: - Jejum. - SOG. - Dieta parenteral. - Alimentação enteral quando retorno da função intestinal. Sugerem hipertensão abdominal: - Observar edema e empastamento de MMII. - Oligúria. - Dificuldade respiratória. 2. Onfalocele 1:4000 a 6000 NV. USG com 18 semanas de gestação. Anomalias associadas (frequente). Tratamento: Rastrear anomalias associadas Ecocardiograma e USG abdominal (anomalias renais). Cobertura impermeável do RN (evitar perda de calor e líquido). SOG. Cirurgia: Fechamento depende do tamanho do defeito, Idade gestacional do RN e Anomalias associadas. - Defeito menor 1,5 = hérnia de cordão Pode ser reparado logo ao nascimento. - Defeitos medianos Cuidado quando fígado está herniado pois adere à membrana; Risco de sangramentos significativos. - Defeitos grandes Fechamento primário; Fechamento estagiado: silo; Escarificação.
Compartilhar