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Conteudista: Prof.ª Dra. Bruna Amorin Revisão Textual: Prof.ª Ma. Sandra Regina Fonseca Moreira Objetivo da Unidade: Compreender os processos envolvidos na obtenção das amostras de �uidos biológicos, as etapas do seu processamento e o signi�cado biológico das suas alterações para a determinação de possíveis patologias. Material Teórico Material Complementar Referências Análise Laboratorial de Fluidos Biológicos: Líquor e Sêmen Coleta, Manuseio e Diagnóstico Laboratorial a partir de Líquor e Sêmen Líquor Formação O líquor, também denominado Líquido Cefalorraquidiano (LCR) ou ainda Líquido Cerebrospinal (LCE), é um �uido salino secretado pelos plexos coroides que circula através dos ventrículos cerebrais para dentro do espaço subaracnóideo pelos espaços perivasculares e através do canal da medula espinal. Ao bombear sódio e outros solutos a partir do plasma para os ventrículos, as células do plexo coroide criam um gradiente osmótico que permite a formação do líquor. Depois, o �uido é reabsorvido através de vilosidades especializadas que estão presentes na membrana da meninge aracnoide, o que possibilita seu retorno ao sangue (Figura 1). Um adulto produz cerca de 500mL de líquor ao dia, o que permite a renovação do �uido três vezes ao dia, uma vez que o volume total circulante gira em torno de 90 a 150mL. Do volume total, a maior parte encontra-se no espaço subaracnóideo e apenas uma pequena porção (cerca de 25mL) apresenta-se circulante nos ventrículos cerebrais. 1 / 3 Material Teórico Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Aspectos Anatômicos e Fisiológicos Diferentes funções são exercidas pelo líquor, que auxiliam na homeostase do Sistema Nervoso Central (SNC). São elas: Leitura Antes de continuarmos nosso estudo, você gostaria de revisar a Histologia do Tecido Nervoso? Atente às informações sobre os ventrículos e meninges apresentadas na leitura a seguir Proteção e suporte físico: em virtude da sua �utuabilidade, o líquor reduz em 30 vezes o peso do encéfalo, de cerca de 1500g para apenas 50g. Proteção química: a composição química do líquor difere do plasma sanguíneo em virtude da característica seletiva do plexo coroide. Vale ressaltar que o líquor também realiza trocas iônicas com o líquido intersticial do SNC. Proporciona excreção de resíduos: um mecanismo importante, uma vez que não há vasos linfáticos dentro do SNC. https://www.ufrgs.br/livrodehisto/pdfs/4Nervoso.pdf Figura 1 – Anatomia do plexo coroide, secreção e reabsorção do líquor Fonte: SILVERTHORN. 2017 Coleta e Manuseio de Líquor A obtenção da amostra de líquor ocorre a partir de uma parancentese espinal, mais conhecida como “punção lombar”, de cisterna ou lateral-cervical, ou através de desvios ou cânulas ventriculares. O médico responsável pela coleta deve anotar, além da história clínica do paciente, o local onde foi realizada a punção, uma vez que os padrões bioquímicos e citológicos podem variar conforme o sítio de coleta. Também é importante registrar que esse procedimento não deve ser realizado na presença de alguma dessas condições: pressão intracraniana aumentada, hipertensão, bradicardia e edema do disco óptico (papiledema). Importante! Em virtude das trocas iônicas seletivas do plexo coroide, o líquor possui concentração química diferente do plasma. Inclui-se maior concentração de cloreto e menores concentrações de potássio e cálcio. Consequentemente, uma amostra de líquor possui valor clínico muito importante em doenças que atingem o SNC, tais como infecções e até mesmo a presença de sangue no LCR, pois trata de um indicador das concentrações químicas encefálicas. Antes da coleta, é necessário �xar um manômetro, que irá registrar a pressão de abertura, sendo os valores normais em adultos de 90 a 180mm de água (mmH2O) e de 10 a 100 mmH2O em crianças, considerando posição de decúbito lateral com as pernas e pescoço em posição neutra (Figura 2). Essa pressão tem variações em virtude de diversos fatores, como alterações posturais, pressão sanguínea e alteração do �uxo sanguíneo cerebral. Com a respiração, por exemplo, a pressão de abertura pode variar em 10mm. Em indivíduos obesos, pode-se registrar até 250mmH2O de pressão de abertura, sendo que valores acima de 250mmH2O já são considerados como casos de pressão intracraniana aumentada. Esse diagnóstico pode ser decorrente de diversos fatores como infecções (exemplo: meningite), presença de tumores no SNC e hemorragia intracraniana. Não é recomendada a retirada de mais de 2mL de líquor se a pressão de abertura estiver acima de 200mmH2O. Em situações de pressão de abertura normal, é possível obter cerca de 20mL de líquor. Re�ita A análise do líquor é um procedimento multidisciplinar! E a punção lombar é um procedimento invasivo. Além do desconforto, a coleta do líquor inclui riscos de infecção e hemorragia, mesmo quando realizadas por um médico experiente, e eventualmente não pode ser repetida por vários dias após uma primeira punção. Portanto, é de grande responsabilidade do corpo clínico e laboratorial que o máximo de informações seja obtido a partir da coleta e análise desse �uido, antes que ele seja descartado ou desperdiçado. Figura 2 – Punção lombar Fonte: MURPHY. 2019 Você Sabia? Os primeiros registros de punção lombar datam do �nal do século XIX, porém, na época o procedimento era considerado terapêutico, sendo unicamente utilizado para reduzir a pressão intracraniana aumentada, em virtude de meningite tuberculosa. Alguns anos mais tarde, ainda no século XIX, o líquor puncionado começou a ser utilizado como uma importante ferramenta auxiliar no diagnóstico clínico. Saiba Mais Alguns indivíduos possuem hipertensão intracraniana idiopática, ou seja, sem causa de�nida. Esse quadro é mais comumente observado em mulheres obesas em idade fértil. Além de procedimentos cirúrgicos, terapia medicamentosa com diuréticos pode auxiliar a reduzir a produção de líquor. A coleta de líquor é realizada, geralmente, em três tubos estéreis, de forma seriada. Não é recomendado o uso de tubos de vidro, pois a adesão das células ao tubo pode interferir diretamente na contagem celular. A divisão dos três tubos de coleta ocorre da seguinte forma, dentro de um Laboratório de Análises Clínicas: Se há suspeita de processos tumorais, um tubo adicional pode também ser coletado para exames citopatológicos. Se não houver material su�ciente, mas uma malignidade é a principal suspeita clínica, o Tubo 3 é destinado para esse exame. Pode-se a�rmar que a amostra do Tubo 3 representa os exames de principal propósito na coleta do líquor. Concomitantemente à coleta do líquor, deve ser realizada a coleta do sangue periférico, visando a realização de alguns exames, como glicose. Se houver presença de sangue, observar se a amostra do Tubo 3 é mais límpida que a do Tubo 1. Se positivo, indica provável lesão no momento da coleta; se as três amostras tiverem o mesmo padrão hemorrágico, provavelmente a hemorragia era pré- existente. Tubo 1: destinado aos setores de Bioquímica e Imunologia; Tubo 2: destinado ao setor de Microbiologia; Tubo 3: destinado ao setor de Hematologia, em que será realizada a contagem de células e diferenciais. Saiba Mais Vamos agora avaliar juntos um caso hipotético, de um paciente com suspeita de esclerose múltipla. O principal exame que pode ser realizado para con�rmar esse diagnóstico é a análise de proteínas do líquor. Ou seja, trata-se de um exame a ser realizado no setor de Apenas uma hora após a coleta, as células presentes no líquor já apresentam padrão de degradação a ponto de interferir no resultado do exame. Por isso, o líquor é um �uido que deve ser enviado imediatamente ao laboratório e seu processamento também deve ocorrer rapidamente. Se uma amostra for indicada para cultura (exemplo: suspeita de meningite), não é recomendado refrigerar o material, pois o resfriamento interfere na sobrevivência de alguns microrganismos como Haemophilus in�uenzae e Neisseria meningitidis, o que pode levar a um resultado falso negativo. Bioquímica. Porém, ao proceder a coleta, a amostra de líquor do Tubo 1 encontra-se hemorrágica. A presença de sangue nessa amostra pode afetar drasticamente os parâmetros bioquímicos que se pretende observar nesse material. Portanto, nessa situação especí�ca, o mais indicado é realizar a análise de proteínas a partir da amostra do Tubo 3, pois se trata do exame que ocasionou a coleta do líquor desse paciente. Importante! A amostra do Tubo 1 NUNCA deve ser destinada ao setor de Microbiologia, porque bactérias da microbiota da pele estarão presentes nesse material. Exame Físico Normalmente possui aspecto cristalino e incolor, tendo viscosidade semelhante à água, porém, sinais de turbidez podem estar presentes, especialmente se houver contaminação com bactérias, mais de 200 leucócitos/mm3 ou 400 eritrócitos/mm3. Se houver elevada concentração de proteínas, pode ocorrer formação de coágulos. Algumas colorações podem ser observadas no líquor, sendo denominadas xantocromias, tais como descritas na Tabela 1. Tabela 1 – Xantocromias e Distúrbios Associados Cor do sobrenandante de LCE Doença/distúrbios associados Rosa Lise de CVSs/produtos de quebra de hemoglobina Amarelo Lise de CVSs/produtos de quebra de hemoglobina Hiperbilirrubinemia Proteínas do LCE > 150 mg/dL (1,5g/L) Alaranjado Lise de CVSs/produtos de quebra de hemoglobina Hipervitaminose A (carotenoides) Amarelo- esverdeado Hiperbilirrubinemia (biliverdina) Marrom Melanoma metastático meníngeo Fonte: MOTTA, VALTER. 2009 Contagem de Células A contagem celular total ocorre de forma manual, em uma câmara de contagem normal, com o líquor não diluído. Dois aspectos devem ser considerados ao realizar a contagem de células do líquor: a idade do paciente e o tipo celular. A idade é um parâmetro importante porque recém-nascidos ainda não possuem a barreira hematoencefálica funcional e anatomicamente madura, o que pode contribuir para a presença de hemácias e polimorfonucleares, como neutró�los. Outra consideração importante é o tipo celular, pois adultos apresentam contagem normal de 0 a 5 células/uL. Porém, em adultos não deve haver hemácias e essas células se referem a leucócitos mononucleares (linfócitos e monócitos). Vídeo Você sabia que a contagem de células do líquor na Câmara de Neubauer é bastante debatida e contestada? Acompanhe nesse vídeo o porquê dessa discussão. Contagem do Líquido Cefalorraquiano na Câmara de Neubauer https://www.youtube.com/watch?v=QnR3fnK37ps Contagem Diferencial O método de citocentrifugação, seguido da coloração de Wright, é recomendado para contagem celular diferencial de qualquer líquido corporal, inclusive no líquor. A contagem celular diferencial deve ser realizada em amostras citocentrifugadas, uma vez que o baixo número de células do líquor di�culta a precisão na contagem diferencial. A partir dessa técnica, é possível estabelecer os tipos celulares e as proporções esperadas tanto para adultos quanto para recém-nascidos, tais como descritas na Tabela 2. Tabela 2 – Valores de Referência para Contagens Diferenciais em Amostras Citocentrifugadas de Líquor Tipos de células Adultos (%) Recém nascidos (%) Linfócitos 62 ah 20 ± 18 Monócitos 36 ± 20 72 ± 22 Neutro�los 2 ± 5 3 ± 5 Histiócitos Raras 5 ± Células ependimárias Raras Raras Tipos de células Adultos (%) Recém nascidos (%) Eosinó�los Raras Raras Fonte: MCPHERSON, MATTHEW. 2012 Algumas alterações na contagem diferencial de células estão relacionadas a inúmeras condições clínicas. As principais condições estão citadas abaixo: Concentração aumentada de neutró�los: indicação de processo in�amatório agudo. Está presente em alguns processos virais, tais como na meningite viral precoce, porém, mais frequentemente observada em infecções bacterianas agudas; Concentração aumentada de linfócitos: patologias crônicas, tais como meningites crônicas em indivíduos imunossuprimidos, meningites virais, cisticercose e esquistossomose; Plasmocitose: plasmócitos normalmente não estão presentes no líquor, mas podem ser detectados em condições de caráter in�amatório, como na esclerose múltipla. O mieloma múltiplo, tumor hematológico dos plasmócitos, raramente afeta as meninges, mas quando esse processo ocorre, os plasmócitos podem se apresentar no líquor; Eosino�lia: pode ser marcante em crianças, mas está frequentemente associada a infecções parasitárias que afetaram ao SNC; Células tumorais: a avaliação de células tumorais no líquor tem baixa sensibilidade e alta especi�cidade, sendo que essa sensibilidade pode ser melhorada se diagnóstico molecular posterior for realizado. O tipo celular varia conforme o tipo de tumor. Alguns tumores hematológicos que levam à presença de blastos no líquor são a leucemia linfoblástica aguda (Figura 3), leucemia mieloblástica aguda e linfoma de Burkitt. Figura 3 – Células blásticas sugestivas de leucemia linfoblástica aguda no líquor Fonte: MCPHERSON, MATTHEW. 2012 Causas da Neutro�lia no Líquor Causas da Elevação do Número de Neutró�los no LCE Meningite; Meningite bacteriana; Meningoencefalite viral precoce; Meningite tuberculosa precoce; Meningite micótica precoce; Fonte: McPherson, R. A., & Pincus, M. R. (2012) Encefalomielite amébica. Outras infecções; Abscessos cerebrais; Empiema subdural; Radiculopatia por CMV relacionada à AIDS. Subsequente a febres; Subsequente à hemorragia no SNC; Subaracnóidea; Intracerebral. Subsequente a infanto do SNC; Reação a punções lombares repetidas; Injeção de material estranho no espaço subaracnoide (p. ex., metotrexato, meio de contraste); Tumor metastatico em contato com LCE. Causas da Linfocitose no Líquor Glossário CMV = citomecalovirus; SNC - Sisters Nerveto Central; ICE - Líquido Cerebrospinal. (MCPHERSON, MATTHEW. 2012 (13)) Meningite; Meningite viral; Meningite tuberculosa; Meningite fúngica; Meningoencefalite si�lítica; Meninge leptospirótica; Bacteriana, causada por organismos pouco comuns; Meningite bacteriana precoce, com contagens de leucócitos relativamente baixas; Infestações parasíticas (p. ex., cisticercose, triquinose, toxoplasmose); Meningite asséptica, causada por foco séptico adjacente às meninges. Distúrbios degenerativos; Panencefalite esclerosante subaguda; Esclerose múltipla; Encefalopatia por drogas de abuso; Síndrome de Guillain-Barré; Encefalomielite disseminada aguda. Outros distúrbios in�amatórios; Sindrome de Handl (dor de cabeça com dé�cits neurológicos e linfocitose no LCE). Sarcoidose; Polineurite; Periarterite no SNC. Glossário LCE = Líquido Cerebrospinal; SNC = Sistema Nervoso Central. (MCPHERSON, MATTHEW. 2012 (13)) Testes Químicos e Sorológicos Os testes bioquímicos mais comumente realizados no líquor são: avaliação de proteínas (denominada proteinorraquia), glicose (também chamada de glicorraquia), enzimas e determinação dos eletrólitos cloro e lactato. Outros analitos como ureia, lipídios, ferro etc. podem também ser avaliados, bem como pH, pCO2 e pO2, porém esses exames não possuem valor diagnóstico. A Tabela 3 demonstra os valores de referência para cada um desses analitos no líquor de adultos. Tabela 3 – Valores de Referência do Líquor Lombar em Adultos Analito Unidades convencionais Unidades do SI Proteína 15-45 mp/dl 0,15-0,45 g/L Pré-albumina 2-7% Albumina 56-76% α1-globulina 2-7% α2-globulina 4-12% β-globulina 8-18% γ-globulina 3-12% Eletrólitos Analito Unidades convencionais Unidades do SI Osmolalidade 280 - 300 mOsm/L 280 - 300 mmol/L Sódio 135 - 150 mEq/L 135 - 150 mmol/L Potássio 2,6 - 3,0 mEq/L 2,6 - 3,0 mmol/L Cloreto 115 - 130 mEq/L 115 - 130 mmol/L Dióxido de carbono 20 - 25 mEq/L 20 - 25 mmol/L Cálcio 2,0 - 2,8 mEq/L 1,0 - 1,4 mmol/L Magnésio 2,4 - 3,0 mEq/L 1,2 - 1,5 mmol/L Lactato 10 - 22 mEq/L 1,1 - 2,4 mmol/L pH Líquido lombar 7,28 - 7,32 Líquido da cisterna 7,32 – 7,34 PCO2 Líquido lombar 44 - 50 mmHg Analito Unidades convencionais Unidades do SI Líquido da cisterna 40 - 46 mmHg PO2 40 - 44 mmHg Outros constituintes Amônia 10 - 35 μg/dL 6 - 20 μmol/L Glutamina 5 - 20 mg/dL 0,3 - 1,4 mmol/L Creatinina 0,6 - 1,2 mg/dL 45 - 92 μmol/L Glicose 50 - 80 mg/dL 2,8 - 4,4 mmol/L Ferro 1 - 2 μg/dL 0,2 - 0,4 μmol/L Fósforo 1,2 - 2,0 mg/dL 0,4 - 0,7 mmol/L Lipídios totais 1 - 2 mg/dL 0,01 - 0,02 g/L Ureia 6 - 16 mg/dL 2,0 - 5,7 mmol/L Urato 0,5 - 3,0 mg/dL 30 - 180 μmol/L Zinco 2 - 6 μg/dL 0,3 - 0,9 μmol/L Fonte: McPherson, Pincus, 2012 A detecção das proteínas do líquor é uma forma de avaliar a permeabilidade da barreira hematoencefálica. Maior presença de proteínas plasmáticas indica maior permeabilidade da barreira. Normalmente, a maior parte das proteínas do líquor (cerca de 80%) estão presentes em virtude da ultra�ltração plasmática, um processo que ocorre através das paredes capilares, tanto nas meninges quanto no plexo coroide. O restante das proteínas refere-se à produção intratecal, sendo responsável pelo aumento da produção de imunoglobulinas. Algumas condições clínicas que levam a uma maior detecção de proteínas no líquor incluem: meningite bacteriana, meningite viral, outras infecções (como sí�lis e tuberculose), reação imune pós-infecção (especialmente virais, como rubéola, caxumba e varicela), tumores no SNC, esclerose múltipla, intoxicação por chumbo e outras doenças do SNC. Alguns medicamentos também podem levar a alterações nas proteínas do líquor, tais como os anti- in�amatórios não esteroidais e a carbamazepina, além de qualquer fármaco injetado na coluna vertebral (antineoplásicos, contraste etc.). Os valores de referência para as proteínas do líquor variam conforme o local da coleta, conforme exempli�cado na Tabela 4: Tabela 4 – Valores de Referência para Proteínas no Líquor Valores de referência para as proteínas totais no LCR (mg/dL) Líquido ventricular 5 a 15 Líquido suboccipital 15 a 25 Líquido lombar 15 a 45 Fonte: Motta, 2009 As proteínas totais do líquor podem ser avaliadas por testes colorimétricos ou turbidimétricos. A determinação de cada proteína e sua concentração no líquor é realizada através da eletroforese de proteínas. A comparação entre as concentrações proteicas no sangue (plasma) e no líquor das 10 proteínas mais concentradas são apresentadas na Tabela 5. Tabela 5 – Comparação das 10 Proteínas com Maiores Concentrações no Líquor e no Plasma LCR Concentração média (mg/L) Plasma Concentraçã média (g/L) Albumina 250 Albumina 45 β - Trace (prostaglandina D-sintetase) 25 IgG 10 IgG 20 Fibrinogênio 3 Transthyretin 17 Transferrina 3 Transferrina 14 α2- Macroglobulina 2,5 α1Antitripsina 8 Apolipoproteína A 2 Apolipoproteína A 6 IgA 2 Fonte: Marshall, 2016 Diferentes proteínas estão associadas a diversas patologias que acometem o SNC, como está apresentado na Tabela 6. Tabela 6 – Proteínas e Doenças do SNC Proteína Principais doenças/distúrbios α2-macroglobulina Hemorragia subdural, meningite bacteriana Proteínas β-amiloide e τ Doença de Alzheimer LCR Concentração média (mg/L) Plasma Concentraçã média (g/L) γ-Trace (cistatina-C) 6 Haptoglobina 1,5 Orosomucoide 3,5 α1-Antitripsina 1,5 Hemopexina 3 Fator C3 do complemento 1,5 Proteína Principais doenças/distúrbios β2- microglobulina Leucemia/linfoma, síndrome de Behçet Proteína C reativa Meningite bacteriana e viral Fibronectina Leucemia linfoblástica, AIDS, meningite Meta-hemoglobina Hemorragia subaracnóidea/subdural branda Proteína básica de mielina Esclerose múltipla, tumores, outros Proteína 14-3-3 Doença de Creutzfeldt-Jacob Transferrina Vazamento de LCE (otorreia, rinorreia) Fonte: MCPHERSON, PINCUS, 2012 Importante! Independentemente da patologia, o aumento das concentrações das proteínas do líquor ocorre em virtude de duas circunstâncias: a Além da avaliação das proteínas, outro exame bioquímico realizado no líquor é a avaliação da glicose no �uido. A glicose do líquor corresponde a 60-70% de seu valor no plasma (glicemia em jejum). Níveis muito reduzidos de glicose estão associados a meningites bacterianas, tuberculosa ou fúngicas, enquanto que nas meningites virais os valores podem se apresentar inalterados ou moderadamente baixos. Neoplasias do SNC com comprometimento das meninges também levam à redução da glicose no líquor, bem como hemorragias e sarcoidose. Já os níveis aumentados não possuem valor diagnóstico para patologias do SNC, porém re�etem os níveis também elevados de glicose no sangue em diabetes mellitus ou outros casos de hiperglicemia. A proporção de albumina no líquor/albumina sérica e o índice de IgG do líquor/sérica podem ser determinados a partir de testes imunoquímicos. Esses testes auxiliam a avaliar se a permeabilidade da barreira hematoencefálica está mantida. Também são avaliados os seguintes analitos no líquor: permeabilidade aumentada da barreira hematoencefálica, ou uma redução de �uxo de líquor em virtude de um bloqueio parcial ou completo de líquor espinal; os bloqueios de �uxo podem ocorrer por causa de um disco intervertebral prolapsado ou também por formações de tumores e abcessos na região. Lactato: níveis no líquor se mostram independentes do nível no sangue. Se o lactato se encontra elevado no líquor, há indicativo de metabolismo anaeróbio no SNC causado por hipóxia. Indica pior prognóstico para pacientes com lesão na cabeça, porém, é mais utilizado para diferenciação dos tipos de meningite, uma vez que os níveis se encontram normalmente abaixo de 25mg/L na meningite viral e acima de 35mg/L na meningite bacteriana; Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Testes Microbiológicos Cloro: se os níveis séricos de cloreto estão alterados, consequentemente os níveis estão modi�cados no líquor também. Redução dos níveis de cloro está presente na meningite tuberculosa e bacteriana, assim como em uma infecção fúngica, a criptococose; Enzimas: dosagem é útil em algumas doenças especí�cas. A lactato- desidrogenase encontra-se aumentada em leucemias com envolvimento do SNC, linfomas, carcinomas metastáticos, meningite bacteriana e hemorragia subaracnóidea. Nessa hemorragia também há aumento da creatinoquinase, fração CK-BB; essa elevação também ocorre em trombose cerebral, lesões desmielinizantes, tumores encefálicos, hidrocefalia e traumatismo craniano. Por �m, a atividade da lisozima é bastante aumentada em pacientes com meningite bacteriana ou tuberculosa. Leitura Você sabia que a avaliação de biomarcadores no líquor pode auxiliar no diagnóstico de Doença de Alzheimer? Aqui você encontra um artigo de revisão para complementar seus estudos sobre o assunto. https://www.revneuropsiq.com.br/rbnp/article/download/111/109 Para um correto diagnóstico de infecções no SNC, a realização de um exame microbiológico no líquor deve ser feita de forma imediata. Diferentes parâmetros bioquímicos e celulares podem ter resultados sugestivos do tipo de patologia que está acometendo o SNC. Porém, o diagnóstico de�nitivo do tipo de infecção e do microrganismo ocorre a partir dos exames microbiológicos. A coloração de Gram auxilia no diagnóstico da meningite bacteriana e tuberculosa. Trata-se de um método rápido e de alta acurácia, necessitando apenas da centrifugação para concentrar as amostras, tanto para realização da bacterioscopia quanto posteriormente da cultura. Já as meningites virais exigem diagnóstico molecular para sua con�rmação, e as meningites fúngicas de testes sorológicos. Na sequência são apresentados os principais métodos e achados no diagnóstico das meningites, bem como um quadro comparativo entre elas (Tabela 7). A meningite causada por espiroquetas é mais comumente denominada neurossí�lis, como apresentado na tabela. Tabela 7 – Achados no Líquor Obtido de Punção Lombar para Diagnóstico Diferencial de Meningites e Neurossí�lis 1 Meningite bacteriana aguda Meningite tuberculosa Neurossí�lis Meningite fúngica o do mHg) Aumentada Aumentada Aumentada Aumentada o Turvo, purulento Incolor e límpido Incolor e límpido Incolor e límpido idade mm3) 1.000- 10.000 5-1.000 5-100 5-100 Fonte: XAVIER, DORA, BARROS, 2016 Na meningite bacteriana aguda, o líquor se apresenta turvo ou turvo-leitoso, purulento, podendo estar xantocrômico também. A pressão de abertura geralmente é de 200mmH2O. Eritrócitos são incomuns, sendo que 85-95% das células presentes são neutró�los. As proteínas se encontram aumentadas e a glicose é menor que 40% da concentração de glicose no soro. Quanto maior a concentração da bactéria, maior a sensibilidade da baciloscopia via coloração de Gram. Dessa forma, em 60-90% dos casos, a baciloscopia é positiva, já a cultura apresenta resultados em 80-90% dos casos se o paciente não está em tratamento; em pacientes parcialmente tratados, a sensibilidade pode cair, chegando a 50% ou até 30%. Nesses casos, o diagnóstico molecular pode ser uma alternativa, pois apresenta 86% de sensibilidade e 97% de especi�cidade. Em se tratando dos agentes causadores da meningite bacteriana, as principais bactérias encontradas são: 1 Meningite bacteriana aguda Meningite tuberculosa Neurossí�lis Meningite fúngica e célula minante Neutró�los Linfócitos Linfócitos Linfócitos a L) > 250 > 250 50-250 20-200 Diminuída Diminuída Normal Normal ou diminuída do cerebrospinal Estreptococos do grupo B, como o Streptococcus agalactiae, e bacilos gram- negativos, como Escherichia coli, em recém-nascidos; Figura 4 – Baciloscopia de líquor com presença de diplococos Gram-Negativos, Sugestivo de Neisseria Meningitidis Fonte: MCPHERSON, PINCUS. 2012 Pneumococo, o Streptococcus pneumoniae, e diplococos gram-negativos, como Neisseria meningitidis (Figura 4), em bebês a partir dos 3 meses de idade; Cocobacilos gram-positivos, como Haemophilus in�uenzae, dos 3 meses aos 18 anos de idade. É a maior responsável por meningite em crianças; Cocobacilos gram-negativos, como Listeria monocytogenes, em indivíduos imunossuprimidos, além de recém-nascidos, idosos e alcóolatras; Staphylococcus sp., em casos de traumatismo craniano e cirurgias no SNC. Apesar de se tratarem de bactérias, a meningite causada por espiroquetas ou por micobactérias difere em padrões diagnósticos da meningite bacteriana aguda, portanto, são abordadas separadamente como neurossí�lis e meningite tuberculosa, respectivamente. A neurossí�lis tem apresentado maior incidência, especialmente como infecção secundária ao HIV. Além dos parâmetros apresentados na Tabela 7, o diagnóstico de neurossí�lis requer a realização de testes sorológicos no líquor, sendo especialmente realizado o teste não- treponêmico VDRL, uma vez que os resultados do teste treponêmico FTA-ABS são controversos em virtude de resultados falso-positivos. Em virtude disso, o diagnóstico de neurossí�lis requer tanto a observação do VDRL e FTA-ABS no soro e no líquor, conforme apresentado na Tabela 8. Tabela 8 – Diagnóstico de Neurossí�lis Teste Soro Líquor Diagnóstico FTA- ABS Não- reativo NA Exclui-se neurossí�lis Saiba Mais A vacina ACWY previne meningites causadas por meningococos (Neisseria meningitidis). Já a vacina Hib previne contra meningites por Haemophilus in�uenzae do tipo B. A vacina Hib reduziu drasticamente a incidência de meningite por H. in�uenzae em crianças. Teste Soro Líquor Diagnóstico FTA- ABS Reativo Não- reativo Exclui-se neurossí�lis FTA- ABS Não- reativo Reativo Neurossí�lis ativa, assintomática, tratada ou falso-positivo. Observar contagem de células e proteínas no líquor VDRL Reativo Reativo Provável neurossí�lis VDRL Não- reativo Reativo Provável neurossí�lis tardia Diferentemente da meningite bacteriana, o predomínio de células da neurossí�lis é por parte dos linfócitos; o líquor apresenta-se límpido e incolor e a glicose se apresenta normal. As proteínas são detectadas entre 50-250mg/dL. Já na meningite tuberculosa, apesar do líquor também se apresentar límpido e incolor e ter predomínio de linfócitos, a celularidade total e as proteínas se apresentam maiores do que na neurossí�lis. A glicose também se encontra diminuída na meningite tuberculosa. A bacterioscopia só se apresenta positiva para Bacilos Álcool-Ácido Resistentes (BAAR) quando há grande quantidade de amostra para análise, ou seja, pelo menos 6mL de líquor. A cultura do microrganismo possibilita o fechamento do diagnóstico, mas por serem bactérias de crescimento lento, a cultura de micobactérias pode demorar seis semanas até o resultado. Em virtude disso, o diagnóstico molecular por PCR tem auxiliado na con�rmação da meningite tuberculosa. Outra técnica desenvolvida foi o DOT-ELISA, um método sorológico que foi padronizado especi�camente para detecção de Mycobacterium tuberculosis no líquor. As meningites virais são causadas especialmente por enterovírus (80% de todos os casos). É a única meningite que pode apresentar pressão de abertura normal. No início da infecção podem ser observados os neutró�los, porém essas células são rapidamente substituídas pelos linfócitos. Em virtude da baixa sensibilidade da cultura viral, o diagnóstico molecular tem sido a melhor alternativa para con�rmação da meningite viral. Uma vez que os enterovírus possuem genoma de RNA, realiza-se a técnica de PCR com Transcriptase reversa (RT-PCR) nesse diagnóstico. A meningite fúngica muitas vezes é referida como infecção critococócica, uma vez que o Cryptococcus é o fungo mais frequentemente isolado no líquor de pacientes com esse quadro. O método de aglutinação do látex e a detecção direta do fungo por exame de nanquim são as principais técnicas diagnósticas, apesar da cultura também poder ser realizada se for necessário exame de maior especi�cidade. A sensibilidade dos métodos está relacionada ao volume de líquor disponível. Resultado falso-positivo pode ocorrer no caso de líquor contendo fator reumatoide. Saiba Mais Em se tratando de infecções parasitárias, o líquor é utilizado especialmente para o diagnóstico de cisticercose e neurotoxoplasmose. Em ambos os casos, a pressão de abertura pode se encontrar normal ou elevada, mas o �uido se apresenta límpido. Na cisticercose, além de linfócitos e monócitos, visualiza-se eosinó�los, células características das verminoses; glicose e proteínas encontram-se geralmente normais nessa infecção. Diferentes testes imunológicos podem ser realizados para con�rmar a cisticercose, tais como ELISA, hemaglutinação e imuno�uorescência. Já na neurotoxoplasmose, as proteínas costumam estar aumentadas e a glicose normal ou Sêmen Fisiologia As funções reprodutivas do sistema masculino podem ser estrati�cadas em três eventos principais: a produção do sêmen, contendo espermatozoides; a capacidade de manutenção da ereção do pênis, e a ejaculação. Essas funções são reguladas pelo eixo hipotálamo-hipó�se, cuja sinalização hormonal estimulará as gônadas masculinas, os testículos, para a ocorrência dos processos reprodutivos. O hipotálamo produz o hormônio liberador de Gonadotro�na (GnRH) que se liga a receptores especí�cos na adeno-hipó�se, estimulando a síntese e liberação dos hormônios foliculoestimulante e luteinizante, o FSH e o LH, respectivamente. Esses dois hormônios, por sua vez, vão atuar nos túbulos seminíferos dos testículos, onde ocorre a espermatogênese (Figura 5). O FSH atua nas células de Sertoli, que são responsáveis pela manutenção da espermatogênese e secreção de inibina. Já o LH vai induzir a produção de testosterona nas células de Leydig. Dois mecanismos de retroalimentação negativas existem para interromper esse processo: por parte da testosterona, que diminui a secreção de GnRH, FSH e LH, e por parte da inibina, que só inibe a síntese do FSH (Figura 5). diminuída. Após a realização do teste do anticorpo, ainda é necessário o exame de neuroimagem para con�rmar o diagnóstico. Figura 5 – Túbulos seminíferos e espermatogênese Fonte: SILVERTHORN. 2017 Figura 6 – Eixo hipotálamo-hipó�se-testículo e regulação hormonal Fonte: MCPHERSON, PINCUS. 2012 O sêmen é um �uido derivado dos túbulos seminíferos e de diferentes glândulas do sistema reprodutor masculino: próstata, vesículas seminais e glândula bulbouretral (Figura 7). Ao �nal, sua composição se divide em espermatozoides (10%) e secreções glandulares (90%), Vídeo Além das células de Sertoli e Leydig, os túbulos seminíferos abrigam as células germinativas masculinas em seus diferentes estágios de diferenciação, desde a espermatogônia até o espermatozoide maduro. Essa animação vai te ajudar a relembrar como ocorre a gametogênese masculina, denominada espermatogênese: Espermatogenese https://www.youtube.com/watch?v=CfeI3bQFaKU sendo a maior parte dessa secreção produzida pela próstata e vesículas seminais. A secreção prostática tem composição leitosa e presença dos íons cálcio e fosfato; seu pH alcalino auxilia a neutralizar a acidez vaginal. A secreção mucosa das vesículas seminais é rica em frutose, o que permite a nutrição dos espermatozoides, e em �brinogênio, levando à coagulação do sêmen. Por �m, a secreção mucosa da glândula bulbouretral é responsável pela lubri�cação da uretra. O resumo dos componentes do sêmen e suas funções está disponível na Tabela 9. Figura 7 – Anatomia do sistema reprodutor masculino Fonte: SILVERTHORN. 2017 Tabela 9 – Componentes do Sêmen e suas Funções Componente Função Origem Espermatozoide Gameta Túbulos seminíferos Muco Lubri�cante Glândulas bulbouretrais Componente Função Origem Água Fornece o meio líquido Todas as glândulas acessórias Tampões Neutraliza o ambiente ácido da vagina Próstata, glândulas bulbouretrais Nutrientes Frutose Ácido cítrico Vitamina C Carnitina Nutrição dos espermatozoides Vesículas seminais Próstata Vesículas seminais Epidídimo Enzimas Coagulam o sêmen na vagina, depois liquefazem o coágulo Vesículas seminais e próstata Zinco Desconhecida; possível associação com a fertilidade Desconhecida Componente Função Origem Prostaglandinas Contração do músculo liso; podem ajudar no transporte dos espermatozoides Vesículas seminais Fonte: SILVERTHORN, 2016 Os espermatozoides são gametas pequenos e móveis, adquirindo sua morfologia característica após o processo de espermiogênese, que começa quando a célula ainda se encontra em estágio de espermátide. As duas meioses e a espermiogênese levam em torno de 64 dias para serem concluídas. Os gametas são então liberados dentro do lúmen dos túbulos seminíferos junto à porção líquida do sêmen. Durante seu transporte ao longo do epidídimo, os espermatozoides completam sua maturação, estando aptos �nalmente a nadar; esse processo leva em torno de 12 dias. Cerca de 200 milhões de espermatozoides são produzidos por dia, e esse é o número aproximado de gametas liberados a cada ejaculação. Saiba Mais A vasectomia é a cirurgia de esterilização masculina, sendo um método contraceptivo seguro. Trata-se de um procedimento simples, que envolve o corte dos canais deferentes, impedindo que os espermatozoides sejam conduzidos dos testículos até o pênis. A porção líquida do sêmen é produzida e liberada normalmente na ejaculação. A avaliação do sêmen é o primeiro exame para investigação de subfertilidade ou infertilidade masculina. Também pode ser utilizada para cadastro de doadores de esperma e veri�cação de sucesso de procedimento cirúrgico tal como a vasectomia. Trata-se de um exame custo- efetivo e com amostra de fácil obtenção. Resultados normais demonstram que a espermatogênese está ocorrendo conforme o esperado. Resultados anormais, ou fora dos valores de referência, são apenas indicativos de infertilidade ou subfertilidade, devendo ser realizados exames posteriores, especialmente avaliando hormônios do eixo hipotálamo- hipó�se-testículo para diagnóstico �nal. Esses exames complementares são denominados de avaliação andrológica. Coleta e manuseio da amostra Para realização de espermograma, uma amostra de sêmen deve ser coletada com período de abstinência de 2 a 5 dias de qualquer ejaculação. Intervalos superiores ou inferiores podem alterar o resultado do exame. Preconiza-se a avaliação de duas amostras, sendo essas coletadas em intervalo máximo de 7 dias entre elas. Se houver diferenças relevantes entre as amostras, novas coletas podem ser solicitadas. A coleta da amostra ocorre pelo próprio indivíduo, através da masturbação, devendo ser necessariamente depositada em frasco estéril. Recomenda-se ao paciente esvaziar a bexiga antes de proceder com a coleta. Amostras podem ser coletadas em ambiente domiciliar, inclusive durante a relação sexual através do coito interrompido. No entanto, uma série de interferentes podem prejudicar a qualidade e a Essa cirurgia, no entanto, não impede a espermatogênese, por isso recomenda-se manter o uso de outros métodos contraceptivos por 3 meses após a cirurgia, além de realizar o espermograma para veri�car se o procedimento foi bem-sucedido. Trata-se de uma intervenção rápida, podendo ser realizada em âmbito ambulatorial e apenas com anestesia local. validade do exame. No caso da relação sexual, a coleta deve ser realizada com uso de preservativo para evitar contaminação bacteriana ou interferência de pH (o pH vaginal, por exemplo, é bastante ácido). A temperatura também pode interferir no exame, devendo o sêmen ser mantido sempre entre temperaturas de 23 a 37°C. Ou seja, se a amostra for coletada em domicílio, é necessário transportar o material rapidamente para o laboratório ou clínica de reprodução assistida. Importante! Algumas técnicas de reprodução assistida requerem que o espermatozoide seja rapidamente isolado do líquido seminal, portanto, nessas situações pode ser inviável realizar a coleta em domicílio. O sêmen é um material biológico tal como o sangue! O �uido é um potencial reservatório de vírus HIV, HBV (causador da hepatite B) e HCV (causador da hepatite C), caso o paciente possua alguma dessas infecções. Por isso, quando você for analisar esse material, todas as normas de biossegurança devem ser seguidas à risca, visando garantir sua segurança e integridade! Análise do Sêmen A análise deve ser iniciada em até uma hora após a coleta do sêmen. O exame consiste na avaliação macroscópica e microscópica do �uido, o que inclui a avaliação do líquido seminal e dos espermatozoides, quanto a sua morfologia, motilidade e aspectos quantitativos. Os valores de referência a ser encontrados tanto no exame macroscópico quanto no microscópico estão listados na Tabela 10. Tabela 10 – Valores de Referência para Variáveis no Sêmen Variante Intervalo de referência Volume >1,5mL pH >7,2 Concentração de esperma >15×106 espermatozoides/mL Contagem total >39×106 espermatozoides/ejaculação Motilidade 40% ou mais com motilidade total (PR+NP) 32% ou mais com motilidade PR Vitalidade 58% ou mais vivos Células brancas sanguíneas <1×106 células por ejaculação Variante Intervalo de referência Frutose >13μmol/ejaculação Fonte: MARSHALL, 2016 O exame macroscópico deve ocorrer após liquefação, o que normalmente ocorre em até 20 minutos após a coleta. Para tanto, o sêmen deve ser mantido em temperatura ambiente. Realiza-se a homogeneização da amostra, tomando nota quanto a sua viscosidade e coloração (deve ter aspecto leitoso). A avaliação do volume é realizada a partir da pesagem, sendo o frasco pesado antes e após a coleta. Também é realizada a aferição do pH, que deve estar entre 7,2 e 7,8. Algumas condições clínicas já podem ser detectadas na avaliação macroscópica do sêmen: O exame microscópico, por sua vez, permite a avaliação da concentração, motilidade e aglutinação dos espermatozoides. Não ocorreu liquefação: provável secreção prostática inadequada; Tonalidade amarelada: pirospermia (presença de leucócitos no sêmen); Tonalidade ferrugem: sangramento na vesícula seminal; pH > 8: infecções agudas na próstata, vesícula seminal ou epidídimo; pH < 7: obstrução de ductos ejaculatórios. Se o sêmen apresenta viscosidade normal, 8uL de sêmen são utilizados para avaliação da amostra. Além dos espermatozoides, outras células podem ser observadas em microscopia, tal como os leucócitos e células arredondadas (chamadas espermatozoidogênicas). Para a contagem dos espermatozoides, utiliza-se um hemocitômetro ou uma microcâmara, sendo realizadas duas alíquotas da amostra antes de proceder com a contagem. Devem ser realizadas oito leituras (campos), quatro em cada alíquota. Registra-se a média pelo cálculo da contagem total de espermatozoides, multiplicando-se o fator de diluição pelo volume normal de sêmen. Já na avaliação da motilidade são avaliados os espermatozoides que se movem para frente, sendo esse valor expresso em percentual. O movimento do espermatozoide é classi�cado em três categorias, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS): Saiba Mais Na aglutinação, os espermatozoides aderem um ao outro, tanto através de suas cabeças quanto de suas caudas. Vários tipos de aglutinação podem ser observados, sendo relacionados a infecções bacterianas ou inclusive sugerindo uma infertilidade de etiologia imunológica. Qualquer tipo de aglutinação deve ser anotado e apresentada no laudo do espermograma. Motilidade Progressiva (PR): movimento ativo, linear ou em círculo largo. Não se considera a velocidade; Motilidade Não Progressiva (NP): há motilidade, porém sem progressão; Imotilidade (IM): espermatozoide não se movimenta. Clique no botão para conferir o vídeo indicado. ACESSE Segundo a OMS, pelo menos 40% dos espermatozoides devem ser móveis (somando PR e NP), sendo esse parâmetro denominado de motilidade total, e pelo menos 32% deles devem apresentar Motilidade Progressiva (PR). Ainda, pelo menos 5% dos espermatozoides devem estar vivos. Esse parâmetro é mais criteriosamente avaliado se a motilidade total for inferior a 40%. Se uma amostra não apresenta espermatozoides, ela deve ser centrifugada (toda o volume da amostra) e avaliada. Qualquer fragmento de espermatozoide, mesmo que dani�cado deve ser registrado. Essa avaliação é importante para pacientes que estão averiguando o sucesso de uma vasectomia. Mesmo que o sêmen não apresente espermatozoides, recomenda-se repetir o procedimento 4 ou 6 meses após o primeiro exame. Um dos principais parâmetros para avaliação da fertilidade é a avaliação da morfologia dos espermatozoides. Poucas amostram apresentam mais de 25% de espermatozoides com morfologia normal, sendo o limite inferior de referência de 4%. Segundo a OMS, deve ser observado a cabeça, a peça intermediária e as caudas, que podem ser curvas, mas não onduladas. O capuz acrossômico é a característica mais alterada na morfologia dos Vídeo Neste vídeo, gravado a partir de microscopia de campo escuro, você pode visualizar a motilidade progressiva, não progressiva e imotilidade dos espermatozoides. https://embryology.med.unsw.edu.au/embryology/images/a/ac/Spermatozoa_motility_01.mp4 espermatozoides. Para facilitar essa análise, uma varredura morfológica realizada com auxílio de ferramentas computacionais é indicada. Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Leitura Ficou curioso para avaliar a morfologia dos espermatozoides? Acesse o site da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina para visualizar algumas imagens e entender um pouco mais sobre os parâmetros avaliados. Você Sabia? Como sabemos que um espermatozoide é normal, sendo que a maioria deles apresenta problemas de morfologia? Esses estudos se baseiam nos resultados positivos a partir de técnicas de reprodução assistida, mas também da visualização de espermatozoides coletados diretamente da zona pelúcida oocitária. São os chamados espermatozoides “preferidos da zona”. https://www.spdm.org.br/blogs/reproducao-humana/item/1316-7indo-alem-do-espermograma Após a avaliação microscópica do sêmen, o laudo deve distinguir a etiologia das alterações encontradas, conforme segue: As principais condições clínicas associadas a essas alterações no espermograma estão listadas na Tabela 11: Tabela 11 – Principais Fatores Associados à Fertilidade Masculina Anormalidades testiculares Criptorquidia, infecção, trauma, torsão, tumor, varicocele Anormalidades penianas Hipospádia, impotência Distúrbios Ejaculação retrógrada, anenjaculação Azoospermia: ausência de espermatozoides após centrifugação; Criptozoospermia: espermatozoides foram identi�cados apenas após a centrifugação; Oligozoospermia: < 15 milhões de espermatozoides/mL foram identi�cados; Astenozoospermia: < 32% de espermatozoides com motilidade progressiva ou < 40% de espermatozoides com motilidade total; Teratozoospermia: < 4% de espermatozoides com morfologia normal ejaculatórios Toxinas e medicamentos Esteroides anabolizantes, cigarro, cafeína, maconha, cocaína, álcool, medicações (antidepressivos, agentes alquilantes, cimetidina, AAS em largas doses, colchicina, dietilestilbestrol, IMAO, nitrofurantoína, fenitoína,espironolactona, sulfassalazina) Fatores ambientais Pesticidas, metais pesados (cobre, cádmio, manganês), radiação, hipertermia (saunas, piscinas térmicas) Doenças sistêmicas Cirrose hepática, insu�ciência renal, diabetes Anormalidades genéticas Síndrome de Klinefelter, mutações do gene CFTR (�brose cística), microdeleções do cromossomo Y, síndrome de Down, distúrbios ligados ao cromossomo X (síndrome de Kallmann, síndrome de Reifenstein), doença dos rins policísticos,Prader-Willi, discinesia ciliar primária (Kartagener e Young) Anormalidades hipotálamo- hipo�sárias Prolactinoma, hipogonadismo hipogonadotró�co Outros Cirurgias genitais, inguinais, pélvicas ou retroperitoneais prévias, presença de anticorpos antiespermatozoides, estado febril nos últimos três meses, idiopático IMAO, inibidor da monoaminoxidase; AAS, ácido acetilsalicílico; CFTR, regulador da condutância transmembrana da �brose cística. Fonte: XAVIER, DORA, BARROS, 2016 Realização de ensaios adicionais As células arredondadas podem ser avaliadas e até mesmo diferenciadas em células germinativas imaturas (antes de sua diferenciação em espermatozoide) e leucócitos do tipo polimorfonucleares, que podem ser diferenciados dos linfócitos por adquirirem coloração na presença de peroxidase. O número total de células arredondadas não deve ultrapassar 5 milhões/mL, sendo que até 1 milhão/mL de leucócitos é considerado normal. Presença de bactérias e de células epiteliais (contaminantes) deve ser observada. Se apresentar bactérias, pode ser recomendada uma coleta de urina para realização de Exame Qualitativo (EQU) e urocultura. Se for constatado azoospermia com pH baixo e volume de líquido seminal também reduzido, sugere-se a realização do teste de frutose para veri�car a presença de secreção proveniente da vesícula seminal. Níveis baixos de frutose sugerem disfunção dessa vesícula ou obstrução. Esse mesmo teste pode ser realizado em urina de pós-ejaculação, visando avaliar ejaculação retrógrada. Saiba Mais Durante a ejaculação, o colo da bexiga deve se fechar. Na ejaculação retrógrada, o colo permanece aberto. Nessa condição, o sêmen, ao invés de prosseguir pela uretra, faz o movimento contrário, em A detecção de infertilidade imunológica pode ocorrer a partir de testes imunológicos, tais como testes de aglutinação. Os anticorpos mais frequentemente detectados são o IgA e o IgG, mas eventualmente o IgM também pode ser encontrado. A detecção desses anticorpos pode ser relevante no entendimento da infertilidade, pois sua presença pode impedir o movimento dos espermatozoides no trato reprodutor feminino, e até mesmo impedir a fecundação. Esses anticorpos são detectados em 10% dos homens com diagnóstico de infertilidade. Outro fator importante na fertilidade é a interação do espermatozoide com o muco cervical. Em um casal que está tentando engravidar, esse teste pode ser realizado alguns dias antes da ovulação. Se os espermatozoides permanecerem com mobilidade progressiva na presença do muco cervical, esse fator pode ser descartado como causa de infertilidade. O teste de vitalidade espermática, por sua vez, é realizado através da exposição do sêmen a corantes, tal como a eosina. Esse teste permite avaliar se um espermatozoide imóvel é viável. Esse gameta não terá a habilidade de nadar até o óvulo e realizar a fecundação, mas pode, por exemplo, ser utilizado em técnicas de reprodução assistida para a fecundação, tal como a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (sigla ICSI, do inglês Intracytoplasmic Sperm Injection). Outro teste que pode ser realizado é a avaliação da fragmentação do DNA, que pode estar presente em homens inférteis, mas que apresentem resultados normais no espermograma. Esse teste avalia o grau de fragmentação do material genético após exposição a um agente químico. No caso de uma fragmentação anormal, o processo de fecundação pode não ocorrer normalmente, especialmente na etapa de fusão dos pró-núcleos feminino e masculino. direção à bexiga. Essa condição leva à redução do volume de sêmen e, até mesmo, azoospermia. Controle de qualidade de análise do sêmen Cada laboratório deve implementar um programa de garantia de qualidade, de forma a con�rmar se seus resultados são exatos e precisos. Esse programa deve monitorar a qualidade e a adequação dos dados, além de promover ações de melhoramento contínuo. O manual de qualidade desse programa deve conter os Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) a serem utilizados, além do conjunto detalhado de ações de controle de qualidade interno do laboratório. Para realização desse controle de qualidade, o laboratório pode optar por comprar amostras comercialmente disponíveis ou armazenar suas próprias amostras. Essas amostras podem ter seus parâmetros estimados a partir de múltiplas avaliações, o que permite a redução de erros sistemáticos. Amostras de sêmen de concentração variável podem ser diluídas e armazenadas para realização do controle de qualidade. Apesar de ser possível utilizar amostras de múltiplos pacientes para esse �m, a aglutinação pode ocorrer e impedir a utilização desse material. Nas análises de morfologia e vitalidade, amostras de diferentes qualidades devem ser armazenadas. Para avaliação da morfologia, o preparo de lâminas de esfregaço de sêmen deve ser realizado, podendo ou não se tratar de lâminas coradas. Já nas análises de vitalidade, recomenda-se corar com eosina-nigrosina. Quanto à motilidade, recomenda-se o uso de vídeos e imagens previamente fornecidos ou por laboratórios de referência ou por agências de controle de qualidade externo. Esses parâmetros são importantes porque, mesmo em uma amostra bem homogeneizada, os espermatozoides podem se distribuir de forma aleatória no líquido seminal, o que reduz a precisão no espermograma. Se o número de espermatozoides avaliados quanto à motilidade e morfologia, por exemplo, não forem representativos de toda a amostra, o laudo pode não representar o real quadro clínico do paciente. Esses erros são chamados de aleatórios, pois estão relacionados à amostragem. Importante! O controle de qualidade na análise do sêmen procura reduzir tanto erros aleatórios quanto sistemáticos ao mínimo aceitável, visando uma melhor con�abilidade dos resultados apresentados. Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livro Condutas Práticas em Infertilidade e Reprodução Assistida – Homem ALVARENGA, C. Condutas Práticas em Infertilidade e Reprodução Assistida – Homem. [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2017. Para ler este livro é necessário acessar a Área do Aluno, seguindo os passos: Vida Acadêmica > Biblioteca > E-Books - Minha Biblioteca. (Lembre-se de manter atualizado o seu catálogo em Menu > Ferramentas > Atualizar Biblioteca) Vídeos Academia do Líquor: A Academia do Líquor, fundada pelo farmacêutico bioquímico João Batista Costa Neto, atua no 2 / 3 Material Complementar ramo da Medicina Diagnóstica Laboratorial e tem como objetivo promover conhecimento para auxiliar pro�ssionais a otimizarem suas técnicas de coleta, análise e interpretação do Líquido Cefalorraquidiano - LCR. Clique no botão para conferir o vídeo indicado. ACESSE Leituras Cerebrospinal �uid: history, collection techniques, indications, contraindications and complications Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE Manual da OMS para o exame e processamento do sêmen humano Clique no botão para conferir o conteúdo. ACESSE https://www.youtube.com/channel/UCRWJH6upVQSW3HWsI_ywODQ https://www.scielo.br/j/jbpml/a/DpqyKS9CXBM7dY3QdXvFB6F/?lang=en https://pncq.org.br/uploads/pdfs/manual_laboratorio_oms_A5_web.pdf MARSHALL, W. J. Bioquímica Clínica - Aspectos Clínicos e Metabólicos. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2016. 9788595151918. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595151918/> Acesso em: 10/09/2021 MCPHERSON, R. A.; PINCUS, M. R. Diagnósticos Clínicos e Tratamento por Métodos Laboratoriais de Henry. Barueri: Manole, 2012. 9788520451854. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788520451854/> Acesso em: 10/09/2021 MOTTA, V. Bioquímica Clínica para o Laboratório - Princípios e Interpretações. Rio de Janeiro: MedBook, 2009. 9786557830260. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9786557830260/> Acesso em: 10/09/2021 MURPHY, M. J. Bioquímica Clínica. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. 9788595150751. 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