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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ PSICOLOGIA INTRODUÇÃO À TEORIAS PSICANALÍTICAS ARA0889 FLAVIA DIAS TAVARES, matrícula: 202001085904 JOSIAS DA CONCEIÇÃO DOS SANTOS, matrícula: 202002703563 PROF. ANDRE LUIZ ALEXANDRE DO VALE CAMPUS JOÃO UCHOA – RJ 2021 Página 1 ANALISE DE ASPECTOS IMPORTANTES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL EM CHAPEUZINHO VERMELHO Ao abordar esse tema da análise de contos de fada, reportamos as teorias de Sigmund Freud, o primeiro autor a afirmar que as crianças possuem sexualidade. Freud, expõe o desenvolvimento psicossexual desde a infância que, segundo ele, se dá a partir de três fases: a fase oral, a fase anal e a fase fálica e as fase intermediárias genital e a fase de latência até ingressar na vida adulta. No total, a grosso modo, as crianças passam por cinco fases de desenvolvimento nessa ordem: (1) a fase oral (0 – 1 ano); (2) a fase anal (1 – 3 anos); (3) a fase fálica (3 – 5 anos); (4) o período de latência (5 anos – puberdade) e (5) a fase genital (puberdade e vida adulta) O tema é abordado em "Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade", obra lançada em 1905 por ele. Chapeuzinho Vermelho é o conto a ser analisado, e o da versão impressa mais antiga, de Charles Perrault, intitulado “Le Petit Chaperon Rouge”, inspirado no folclore francês e inserido no livro Contos da Mamãe Gansa. Nesse conto está bem expressa a sexualidade infantil e serviu como alerta aos jovens da época e, sem final feliz, é um conto trágico. Essa versão foi escrita para a corte do rei Luís XIV, no final do século XVII, destinada a um público, que pretendia levar certa moral as mulheres para que perceberem os avanços de maus pretendentes e sedutores. Nos dizeres populares da época dizia-se que uma menina que perdeu a virgindade tinha "visto o lobo". Reproduzimos o conto numerando os trechos em que se percebe as várias fases do desenvolvimento psicosexual bem de acordo com as teorias de Freud. A análise de cada trecho numerado será feita após a leitura a seguir: Era uma vez uma menininha do campo, a mais bonita que já se tinha podido ver; sua mãe era louca por ela, e a avó, mais louca ainda. Essa boa senhora tinha mandado fazer para a menina um chapeuzinho vermelho que lhe caía tão bem que, por toda parte, só a chamavam de Chapeuzinho Vermelho. Um dia sua mãe, tendo feito uns bolinhos, disse a ela: (1) – Vai ver como está passando a sua avó, pois me disseram que ela estava doente; leve para ela um desses bolinhos e esse pote com um pouco de manteiga. Chapeuzinho Vermelho saiu imediatamente para ir à casa da avó, que morava num outro lugarejo. (2) Ao passar por um matagal, ela encontrou o lobo mau, que teve muita vontade de comê-la, porém não se atreveu, por causa de alguns lenhadores que estavam na floresta. Ele lhe perguntou aonde ela estava indo; a pobre menina, que não sabia como é perigoso parar e dar atenção a um lobo, respondeu: – Vou visitar a minha avó e levar para ela um bolinho e um pote de manteiga que a minha mãe mandou. – Ela mora muito longe? – perguntou o lobo. – Ah, é longe, sim – disse Chapeuzinho Vermelho. – É depois daquele moinho que se avista bem lá embaixo, na primeira casa da aldeia. (3)– Ah, sabe – disse o lobo –, eu também quero ir visitá-la; então eu vou por este caminho e você vai por aquele, e vamos ver qual de nós dois chegará primeiro. O lobo começou a correr o máximo que pôde pelo caminho mais curto, (3.a) enquanto a menina seguia pelo caminho mais longo e se distraía pegando avelãs, correndo atrás de borboletas, fazendo buquês com as florezinhas que achava. O lobo não demorou muito a chegar na casa da avó; ele bateu na porta: toc, toc. – Quem é? – É a sua neta Chapeuzinho Vermelho – disse o lobo, disfarçando a voz –, vim trazer um bolinho e um pote de manteiga que a minha mãe mandou para a senhora. (5) A boa vovó, que estava na cama porque se sentia um pouco mal, gritou de lá: – É só puxar o pino que a tramela roda. O lobo puxou o pino, a porta logo se abriu e ele se jogou sobre a bondosa mulher, devorando-a num instante, porque havia mais de três dias que não comia nada. Em seguida, fechou a porta e foi se deitar na cama da vovó, para esperar por Chapeuzinho Vermelho, que algum tempo depois bateu na porta. Toc, toc. – Quem é? (4) Ao ouvir a voz muito grossa do lobo, Chapeuzinho Vermelho primeiro sentiu medo, mas, acreditando que fosse a avó gripada, respondeu: – É a sua neta Chapeuzinho Vermelho. Vim trazer um bolinho e um pote de manteiga que a minha mãe mandou para a senhora. O lobo, afinando um pouco a voz, gritou de lá: – É só puxar o pino que a tramela roda. Chapeuzinho Vermelho puxou o pino e a porta logo se abriu. Ao vê-la entrar, o lobo lhe disse, se escondendo na cama, bem embaixo da coberta: – Ponha o bolo e o pote de manteiga na arca onde fica o pão e venha se deitar comigo. (5) Chapeuzinho Vermelho tira a roupa e vai se esticar na cama, onde leva um susto tremendo ao notar a aparência de sua avó, vestindo um penhoar. Diz para ela: – Que braços grandes você tem, vovó! // – É para te abraçar melhor, minha filha. // – Que pernas grandes você tem, vovó! // – É para correr melhor, minha filha. // – Que orelhas grandes você tem, vovó! // – É para escutar melhor, minha filha. // – Que olhos grandes você tem, vovó! // – É para enxergar melhor, minha filha. // – Que dentes grandes você tem, vovó! // – São para te comer. E,dizendo essas palavras, o lobo mau se atirou sobre Chapeuzinho Vermelho e a comeu. MORAL - Aqui se vê que os inocentes, / Sobretudo se são mocinhas / Bonitas, atraentes, meiguinhas, Fazem mal em ouvir todo tipo de gente. // E não é coisa tão estranha / Que o lobo coma as que ele apanha. // Digo o lobo porque nem todos / São da mesma variedade; / Há uns de grande urbanidade, / Sem grita ou raiva, e de bons modos, / Que, complacentes e domados, / Seguem as jovens senhorinhas / Até nas suas casas e até nas ruinhas; / Mas todos sabem que esses lobos tão bondosos / De todos eles são os mais perigosos. (Primeira versão original publicada - Perraut, Charles, final do século XVII) DESENVOLVIMENTO A análise propõe a cada trecho do conto de Perraut uma fase do desenvolvimento psicossexual, segundo a teoria de Freud e percebemos que está explícito no conto a partida da criança desde a fase oral até o ingresso da Chapeuzinho na fase adulta, além de outras implicações como um possível incesto e a cumplicidade da avó no ingresso da neta na fase genital. Atendendo as numerações anotadas no texto passamos a análise: (1) Fase oral - • A libido está organizada em torno da zona oral e o tipo de relação será a incorporação cesta com pão e manteiga – ser alimentada. Página 3 (2) Fase anal - • Desenvolve-se o sentimento de que a criança tem coisas suas, coisas que ela produz e pode ofertar ou negar ao mundo: Chapeuzinho passa por um matagal e opta por conversar com um desconhecido. As relações serão estabelecidas em termos de projeção ou controle - Distrações na floresta. (3) Fase fálica - • A tarefa básica deste momento consiste em organizar os modelos de relação entre o homem e a mulher - • Forma-se na criança uma espécie de busca de prazer junto ao sexo oposto - conversa com o lobo, aceita a disputa para ver quem chega mais rápido na casa da avó. (4) – Período de latência - • A menina se interessa pelo Lobo e sua excitação é canalizada na busca dos arranjos de flores e distrações com animaizinhos da floresta. Faze fálica período de latencia: A energia sexual reprimida não pode ser eliminada e é canalizada para o desenvolvimento intelectual e social da criança através da sublimação. É um período intermediário entre a genitalidade infantil e a adulta, Não há nova organização de zona erógena para o desenvolvimento intelectual e social da criança através da sublimação, mecanismo de defesa que transforma algum desejo ruim e inconscienteem determinados impulsos que são bem vistos pela sociedade. Ou seja, geram atitudes aceitas pela sociedade. São meios que o nosso inconsciente usa para amenizar a culpa pelo desejo proibido. (5) Fase genital - • A avó, estática em cima da cama, adoentada, não temeu ceder aos impulsos do lobo, que nesse ponto do conto está claro se tratar de um sedutor. Logo após, a ausência da avó na narrativa, se faz notar. Ela é substituida pelo Lobo, um adulto ativo e não passivo como é a avó da menina. • Alcançar a fase genital constitui atingir o pleno desenvolvimento do adulto normal, significa distinguir seu papel sexual. (5) - • Assim Chapeuzinho tira a roupa e se deita na cama do lado de um adulto e alcança a fase genital. “A sexualidade infantil confronta o adulto com sua própria infância perdida, colocando-o, já adulto, diante de um impasse: reconhecê-la, podendo acompanhar as crianças em seu percurso subjetivo, ou negá-la, para não se deparar com suas frustrações, conflitos e desejos infantis” (ZORNIG, 2008) . CONCLUSÃO Nesse conto infantil, Perraut segue a tendencia da época, cuja moral era impedir que mocinhas fossem seduzidas e se possível jamais atingissem a idade adulta, a não ser que um salvador, travestido de principe encantado aparecesse oferecendo uma aliança de casamento e a felicidade para sempre. Ou seja, a sexualidade completa, a fase genital, por mais temida que fosse imputada pela educação da época, poderia ser completada pelo casamento e a procriação. Manter a importância da concepção freudiana sobre a sexualidade infantil é reconhecer sua dimensão singular e estruturante: singular por estar referida à construção da subjetividade a partir da representação psíquica da relação corpo a corpo com o outro; e estruturante por testemunhar as marcas relacionais que funcionam como referentes para uma apropriação narrativa a posteriori. (ZORNIG, 2008) Bibliografia: Contos da mamãe gansa ou histórias do tempo antigo: Perrault, Charles - Título original: Les contes de ma mère l'Oye –Histoires ou Contes du temps passéTradução: Leonardo Fróes Ilustrações: Milimbo Posfácio: Michel Tournier São Paulo: Cosac Naify, 2015 65 ils. ISBN 978-85-405- 0945-0 - http://www.lighthousebilingue.com.br/wp-content/uploads/2018/07/Contos-da-Mamae-Gansa- ou-Histor-Charles-Perrault.pdf Sublimação: significado em Psicanálise - artigo criado por Maria Raquel, exclusivo para o site do Curso Psicanálise Clínica - https://www.psicanaliseclinica.com/sublimacao DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL - Professor Responsável: Mohamad A. A. Rahim - Quadro sinóptico baseado na bibliografia sugerida em cada aula) https://www.unip.br/servicos/aluno/suporte/psicanalise/assets/download/DESENVOLVIMENTO_PSIC OSSEXUAL.pdf As teorias sexuais infantis na atualidade: algumas reflexões. Psicol. estud. [online]. ZORNIG, Silvia Maria Abu-Jamra. 2008, vol.13, n.1, pp.73-77. ISSN 1807-0329. https://doi.org/10.1590/S1413-73722008000100009. Na terra das fadas : análise dos personagens femininos (extraído da obra A psicanálise dos contos de fadas) I Bettelheim, Bruno, 1903-1994 ; tradução de Arlene Caetano. — Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1997. (Leitura) Tradução de capítulo de: The uses of enchantment: The meaning and importance of fairy tales. 1. Contos de fadas — Aspectos psicológicos. 2. Literatura folclórica — Temas, motivos etc. 3. Mulheres na Literatura. I. Título. II Série. 97-1062 CDD 398.21 CDU 398.-2 110797 150797 003497 Fases da sexualidade na teoria de Freud - Curso De Psicanálise Clínica https://www.psicanaliseclinica.com/fases-da-sexualidade/ Universidade Estácio de Sá – Campus João Uchoa / Psicologia PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO - ARA0156 / Turma: Teams - 2ºSemestre Trabalho: Atividade AV1 - Data da entrega: 09/10/2020 Professor: Prof. Andre Luiz Alexandre Do Vale - Trabalho em dupla: Flavia Dias Tavares, matrícula: 202001085904 e Josias Da Conceição Dos Santos, matrícula: 202002703563 - 02 de abril de 2021. Valor: 3,0 pontos
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