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TEMPOS DE APRENDER REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA ESCOLA EM CICLOS

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TEMPOS DE APRENDER: REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE 
APRENDIZAGEM DA ESCOLA EM CICLOS 
 
 
 
Karina Motta Favaro 
 
 
RESUMO 
Em 1996 com a criação das novas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira 
(LDB), começa a ser implantado no país, de acordo com a decisão autônoma dos 
Estados, municípios e escolas, o sistema de aprendizagem em ciclos. Apesar das 
polêmicas que o envolve, como a chamada progressão continuada, que para grande 
parte da sociedade é vista como uma maneira de encobrir a crise da repetência no 
país e o grande número de alunos evadidos, para estudiosos renomados da área da 
educação como o sociólogo Philippe Perrenoud (2004), os ciclos permitem uma 
centralização maior na aprendizagem do que no ensino, favorecendo a implantação e 
a perspectiva de olhares múltiplos e transversais sobre a trajetória de cada um dos 
alunos. Sendo assim, esse artigo, por meio do método de revisão bibliográfica tem 
como objetivo refletir sobre caminhos possíveis para uma implantação significativa 
dos ciclos que leve a construção de uma escola afetuosa, democrática e acolhedora. 
 
PALAVRAS-CHAVE: Escola em Ciclos. Processos de Aprendizagem. Educação 
Brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
INTRODUÇÃO 
 
Pensar sobre uma escola dividida em ciclos não é novidade, no entanto, o que 
vemos nas implantações de programas estaduais e municipais é uma disparidade 
entre o texto oficial e as práticas, porque a mentalidade dos profissionais da educação 
continua a mesma do processo seriado, passando seus alunos para o próximo ano, 
apenas transferindo as defasagens para outro profissional. 
 
 
No polo mais inovador, os ciclos de aprendizagem são sinônimo de 
profundas mudanças nas práticas e na organização da formação e do 
trabalho escolar; é uma verdadeira inovação, que assusta uma parcela 
dos professores e dos pais e requer novas competências. 
(PERRENOUD; P. 2004, p. 12) 
 
 
 
 
Existe uma cultura de pensamento instaurada no Brasil, de que os ciclos trouxeram 
a chamada “proibição da reprovação”, fazendo com que grande parte da sociedade 
critique e se posicione contra esse sistema. Ao adentrar nos estudos sobre reprovação 
sabemos o quanto ela é considerada ineficaz se nada for feito para minimizar seus 
efeitos, é urgente que se compreenda o aluno em suas características individuais e 
que o seu desenvolvimento para obtenção de êxito na atividade de ensino se dá 
integralizando os aspectos físico, emocional, intelectual e social. 
Durante esse artigo busco trazer a importância de refletir sobre a intensidade do 
acompanhamento pedagógico e a diversificação de percursos formativos, pois dentro 
da escola em ciclos existe um aumento da autonomia e do trabalho do professor 
necessitando assim de uma formação contínua e questionadora dos seus processos 
de ensino. 
Refletindo sobre os tempos de aprender conheci o termo “pedagogia do caracol” 
criada pelo italiano Gianfranco Zavalloni que também embasa essa pesquisa: 
 
 
 
Pais, professores e todos aqueles que giram em torno do mundo da 
escola são estimulados a dar sugestões oferecidas pela pedagogia do 
caracol e podem recomeçar a refletir sobre o sentido do tempo 
3 
 
educativo e sobre a necessidade de adotar estratégias didáticas de 
desaceleração, por uma escola lenta e não violenta. (ZAVALLONI, G; 
2014, p. 25) 
 
 
 
O que percebemos na sociedade se reproduz dentro dos contextos escolares, pais 
preocupados com o desempenho por meio das notas, exigindo que as crianças saiam 
na frente e cheguem em primeiro lugar, o boletim escolar aqui, se torna mais um 
mecanismo de sofrimento para aqueles que não atingem aos níveis esperados tanto 
por parte dos pais quanto dos professores. 
Não estamos dizendo que o processo avaliativo não deva existir, mas sim que os 
profissionais da escola precisam ser auxílio para o desenvolvimento das chamadas 
múltiplas inteligências por meio de uma reflexão do seu próprio trabalho, por isso é 
importante que, durante todos os processos de aprendizagem, aconteçam registros, 
sejam fotográficos ou escritos, pois as experiências didáticas são singulares e afetam 
os alunos de maneiras distintas. Assim os pais também poderão acompanhar a 
evolução das crianças no seu cotidiano escolar de maneira mais eficaz e sistemática, 
não apenas recebendo um resultado ao final de um bimestre ou trimestre. 
Dividimos esse artigo em três capítulos, no primeiro vamos falar um pouco de como 
o sistema de ciclos chegou ao Brasil, o que dizem os documentos oficiais e a maneira 
como ele é visto e implantado nas escolas. 
Em seguida daremos exemplos de metodologias possíveis para o funcionamento 
eficaz e eficiente de uma escola em ciclos, que olha para os alunos e para os seus 
profissionais como seres integrais, capazes de grandes transformações em seus 
processos de ensino-aprendizagem e da sociedade. 
Para finalizar, algumas reflexões acerca dos tempos de aprender e da urgência da 
implantação de ações inovadoras para um novo jeito de fazer escola, onde o processo 
está centrado no aluno e nas suas relações com o mundo. 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1. A ESCOLA DE CICLOS NO BRASIL, IMPLANTAÇÃO E POLÊMICAS 
 
 
 Apesar da implantação da escola em ciclos no Brasil começar de fato a ser 
construída com a grande reforma da LDB de 1996, ela já vem sendo documentada 
em textos há muito tempo. 
Em 1971 com a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) n. 5.692/71, mesmo que o 
termo ciclos não esteja explicitado, a então chamada “Lei da Reforma do Primeiro e 
Segundo Grau” trouxe novas possibilidades de organização da escola, pois previa, ao 
lado das séries a viabilidade de avanços graduais na trajetória escolar. 
Já em 1974 o Conselho Federal de Educação traz o seguinte parecer: 
 
 
 
O sistema de avanços progressivos implica a adequação dos objetivos 
educacionais às potencialidades de cada aluno, agrupando por idade 
e avaliando o aproveitamento do educando em função de suas 
capacidades. [...] Não existe reprovação. A escolaridade do aluno é 
vista num sentido de crescimento horizontal; o aproveitamento, numa 
linha de crescimento vertical. Pelo regime de avanços progressivos, o 
aproveitamento escolar independe da escolaridade, ou seja, do 
número de anos que a criança frequenta a escola. (Brasil, 1974) 
 
 
 
A palavra ciclo, como possibilidade de uma organização escolar não seriada, é 
atual; ela aparece nos anos de 1980. A partir de então, os ciclos passaram a receber 
diferentes classificações qualificativas: básico, de alfabetização, de aprendizagem, de 
progressão continuada, de formação, conforme as particularidades de cada proposta. 
A partir da década de 90, com a criação das novas Leis de Diretrizes e Bases da 
Educação Nacional em 1996, várias redes adotaram os ciclos em todo o ensino 
fundamental. Hoje, eles interligam as chamadas antigas séries iniciais ou reorganizam 
essas mesmas séries em vários agrupamentos. 
 
 
 
Nas propostas de ciclos, o compromisso com a democratização do 
ensino, tal como anunciado, vai além da busca de regularização do 
5 
 
fluxo escolar, ao incorporar dimensões sociais e culturais mais 
abrangentes e novo entendimento a respeito da natureza e dos modos 
de conhecer, de ensinar e de aprender. Nas formulações mais 
conservadoras chega a ser mantida a menção explícita às séries como 
referência básica para a programação curricular, ainda que não mais 
se considere o intervalo restrito do ano letivo como prazo para que 
todos os alunos adquiram os conhecimentos esperados. Há, contudo, 
políticas de introdução de ciclos que têm investido em alterações mais 
profundas na organização do trabalho da escola, na cultura escolar e 
nas práticas educativas, visando a reverter o seu caráter excludente. 
(BARRETO, E. SOUSA, S. p. 664, 2005) 
 
 
 
Embora nas últimas décadas os ciclos tenham sido implantados por inúmeras 
gestões em diversas redes de educação do país,existem evidências de que eles 
deixaram de ser debates centrais em políticas educacionais, vide a baixa produção de 
novos artigos com esse tema. Sendo assim, as mudanças que percebemos durante a 
última década é de que os ciclos escolares tem se limitado a questões formais e à 
regularização dos fluxos de processos escolares. 
Em 2012 cria-se o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), 
onde assume-se um compromisso de alfabetizar as crianças até os oito anos de idade. 
Em 2017, órgãos governamentais ligados a educação em parceria com o 
Ministério da Educação (MEC) constroem uma nova política que fortalece três 
importantes eixos da educação no Brasil, sendo eles: a BNCC (Base Nacional Comum 
Curricular), a formação de professores e o PNLD (Programa Nacional do Livro 
Didático). 
Somente com apoio dos órgãos intermediários e centrais das redes de ensino, 
por meio de avaliações e acompanhamento sistemático aos projetos é que se tornaria 
possível a implantação de uma inovação educacional no porte que a escola em ciclos 
pode oferecer. 
Além disso por não conter uma proposta acabada, o sucesso de uma escola 
em ciclos também depende da capacidade dos professores. 
 
 
 
O desenvolvimento de ciclos de aprendizagem exige mais imaginação 
pedagógica e organizacional do que a gestão de um programa anual, 
não somente devido à novidade dessa forma de trabalho, mas também 
6 
 
porque orientar progressões diversificadas durante vários anos, gerir 
diversos tipos de agrupamentos de alunos e compartilhar o trabalho 
de maneira flexível tornam mais complexa a tarefa de cada um. Em 
uma escola estruturada em séries, cada professor toma sozinho as 
decisões relacionadas, no ensino médio, à sua disciplina e, no ensino 
fundamental, ao conjunto das disciplinas. Aos alunos que não 
atingiram os objetivos, ele propõe ou impõe apoio ou reprovação. Em 
um ciclo de aprendizagem plurianual, não se pode esperar o final do 
percurso para fazer balanços formativos e opções estratégicas (Tardif, 
1992), que devem ter o acordo da equipe. Isso requer muitas 
competências da parte dos professores. (PERRENOUD, P; p. 42, 
2004) 
 
 
 
Nas redes onde os ciclos foram implantados, nota-se uma ampliação do horário 
de trabalho e de dispositivos para auxiliar e até mesmo viabilizar os atendimentos as 
diferentes necessidades dos alunos, um dos dispositivos mais usados por exemplo, é 
a divisão do atendimento em grupos menores que podem acontecer dentro ou fora do 
horário das aulas regulares. 
Uma das maiores críticas da sociedade brasileira às escolas em ciclos é a 
chamada progressão continuada, hoje a divisão da escola em ciclos no Ensino 
Fundamental Anos Iniciais e Finais, dando como exemplo o Estado de São Paulo, se 
organiza da seguinte maneira: 
- Etapa 1: do 1º ao 3º ano, com alunos de idades entre seis e oito anos (período 
para estabelecimento da alfabetização); 
- Etapa 2: do 4º ao 6º ano, com alunos de idade entre nove e onze anos; 
- Etapa 3: 7º e 9º ano, com alunos de idade entre doze e quatorze anos. 
Teoricamente essa nova estrutura permitiria o acompanhamento permanente e 
constante do aluno ao longo dos ciclos, por meio do que eles chamaram de novas 
ferramentas de recuperação contínua, colocando nas salas de aulas (que ainda são 
divididas como no modelo seriado) um professor auxiliar nas disciplinas de língua 
portuguesa e matemática, colocando aulas de reforço nos períodos das férias e aos 
Sábados. 
Na prática o que aconteceu foi professores especialistas atuantes do Ensino 
Fundamental Anos Finais se defrontando com a necessidade de alfabetizar alunos 
que chegam a esta etapa com defasagem de leitura, escrita e raciocínio matemático, 
fazendo com que a questão do analfabetismo funcional ainda seja um dos grandes 
7 
 
gargalos da educação do Brasil, por isso é urgente que no processo de formação de 
professores se dê uma atenção adequada para que a alfabetização caminhe 
juntamente com o letramento em todos os âmbitos para que haja de fato uma 
constituição efetiva da leitura de mundo, com valores e conteúdos relevantes para os 
alunos. 
Mas como isso pode acontecer? No próximo capítulo vamos dar exemplos de 
alguns métodos que podem ser utilizados para que a escola em ciclos seja um 
caminho de aprendizagem para toda a comunidade escolar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
2. UM OLHAR PARA OS MÉTODOS: CAMINHOS POSSÍVEIS PARA A ESCOLA 
EM CICLOS 
 
 
Nas propostas de ciclos existe um compromisso com a democratização do 
ensino, por isso ele ultrapassa a questão da regulação de fluxo escolar, pois incorpora 
dimensões socioculturais e um novo entendimento sobre os modos de conhecer, 
ensinar e aprender. 
É importante destacar que nessa configuração de escola a aprendizagem não 
se dá porque os alunos estão divididos por faixa etária, ela acontece por meio de uma 
intervenção consciente das práticas pedagógicas, que reconhecem a necessidade 
das questões etárias compreendendo o tempo para construir e solidificar o 
conhecimento com significado sobre o que é aprendido. 
 
 
 
Um aspecto importante é o fato de que, na escola em ciclos, 
independente das perspectivas de organização curricular, os alunos 
poderão apropriar-se do conhecimento em diferentes momentos do 
processo educativo, uma vez que a organização escolar em ciclos 
oferece maior flexibilidade para que as práticas escolares possam 
atender a pluralidade de níveis, ritmos e necessidades da 
aprendizagem dos alunos. (MAINARDES, 2009, p. 75) 
 
 
 
Usar metodologias e atividades diversificadas criam turmas mais equitativas, 
onde todos tenham as mesmas oportunidades de aprender, a interatividade entre 
pares e uma intervenção pedagógica com olhar acolhedor e principalmente planejada 
pelo professor são requisitos básicos para o processo de ensino-aprendizagem. 
Por isso voltamos a enfatizar que todos os profissionais da comunidade escolar 
têm papel fundamental para o sucesso de uma organização curricular em ciclos. É 
necessário criar-se espaços para trocas de experiências e experimentações, onde 
esses profissionais se sintam acolhidos em suas dificuldades com momentos de 
escuta, formação e pesquisas. 
9 
 
É preciso entender que existe uma ruptura a fazer, substituir a memorização 
por recursos para a compreensão, julgamento, antecipação, decisão e ação 
consciente diante de fatos ou regras apresentados. 
Sendo assim é preciso a todo momento buscar modos de fazer que atendam à 
diversidade dos percursos, validando assim a integralidade de cada indivíduo 
participante desse processo. 
 
 
 
Imaginemos uma equipe de quatro professores coletivamente 
responsáveis por cerca de 100 alunos de 8 a 12 anos. Esses 
profissionais podem então jogar com competências diversas e dispor 
de quatro espaços de trabalho, o que permite criar dispositivos 
variados, assumir efetivos desiguais, alternar grupos homogêneos e 
grupos heterogêneos. Não vamos esconder, entretanto, que isso exige 
dos professores novas competências de organização do trabalho, de 
gestão dos espaços-tempos e dos grupos, com ferramentas 
adequadas de orientação e de avaliação. As virtudes de um ciclo de 
aprendizagem plurianual só irão manifestar-se, portanto, quando uma 
equipe pedagógica tiver dominado a complexidade do sistema e as 
dificuldades da cooperação profissional. (PERRENOUD, P; p. 20, 
2004) 
 
 
 
Sobre a divisão do trabalho e possíveis estruturas para o bom funcionamento 
da escola em ciclos PERRENOUD (2004) indica alguns caminhos possíveis a partir 
de textos formulados pelo Groupe de pilotage de la rénovation ativo em Genebra de 
1994 a 1999: 
1. Equipes que cuidem da coerência entre os ciclos por meio de ações 
pedagógicas orientadas pelo trabalho em equipe, avaliação dos processos 
e comunicação efetiva para pais e equipes gestoras, como prestação de 
contas de sua autonomia para organizaçãodo trabalho. 
2. Profissionais responsáveis por um ciclo podem reagrupar seus alunos 
conforme o surgimento de novas demandas, diversificando assim grupos de 
trabalhos conforme as necessidades de maneira flexível. 
3. Disponibilidade de espaços e meios materiais. 
10 
 
4. Decisão em equipe sobre a distribuição de trabalho, considerando sempre 
as teorias existentes, mas também as competências e os desejos de cada 
um. 
Para COTO (2017) quanto mais a palavra “sim” aparecer no ambiente do 
processo pedagógico mais disponível seus atores estarão para o processo, ela lista 
25 itens atitudinais e comportamentais para ajudar professores e gestores a 
colocarem em prática o que ela chama de pedagogia positiva, abaixo citamos alguns 
exemplos: 
1. Pontualidade: apesar da obviedade ser pontual gera confiança, segurança, 
implica respeito. É bom lembrar que nossos alunos podem não nos ouvir o 
tempo todo, mas estão sempre observando nossa postura e ações. 
2. Ter uma agenda diária das atividades: assim os alunos podem entender o 
propósito das atividades, se organizarem e se comprometerem com os 
conteúdos, anteciparem os próximos passos e até mesmo analisar possíveis 
mudanças. 
3. Gerar Expectativas: assim focamos na curiosidade. 
4. Recorrer a diferentes estilos de aprendizagens: esse é um desafio que 
aparece repetidamente em vários estudos. Se apresentamos sempre os 
mesmos estímulos, alcançaremos apenas alguns alunos que os 
compreendem, por isso a importância de reconhecer que existem 
inteligências múltiplas. 
5. Fazer Mapas Mentais do conteúdo durante o processo e não no início 
da aula: Sabemos que o momento em que a atenção está mais “disponível” 
para ser atraída é durante os primeiros minutos de aula, por isso nesse 
momento é preciso despertar a curiosidade para a aprendizagem. 
6. Envolver seus alunos: Mantenha contato visual com todos. Lembre-se de 
seus nomes, seus interesses, seus hobbies. Envolva todos. Reconheça-os 
por suas atitudes e habilidades. Esforce-se para ouvir ativamente a todos e, 
especialmente, aqueles que raramente são ouvidos. 
7. Praticar a escuta ativa: demonstre sua disponibilidade e interesse pelo que 
seu aluno tem para dizer. Busque ouvir não apenas o que ele está 
expressando diretamente, mas também os sentimentos, ideias ou 
pensamentos que estão por trás do que está sendo dito. 
11 
 
8. Prevenção e Resolução de Conflitos: se em momento de conflito focarmos 
nas posições, será muito difícil fazer a administração e uma conciliação do 
mesmo de forma satisfatória, porque as partes se concentrarão em ganhar-
perder. Se um ganha, o outro perde. Se, em vez disso, nos concentrarmos 
nos interesses, certamente encontraremos soluções em que todos ganham. 
9. Gerar reconhecimento entre os pares: Quanto mais bem-sucedida for a 
experiência de reconhecimento, quanto mais sólidos os laços que unem o 
indivíduo à sua comunidade, mais possibilidades ele tem de se diferenciar e 
de tomar consciência de suas particularidades. 
10. Considerar o erro como mais um processo em direção ao aprendizado: 
Na vida, existem "sucessos" ou "aprendizados", e o aprendizado ocorre 
quando cometemos erros. Tenho certeza de que os professores concordam 
que o erro faz parte da aprendizagem, faz parte do processo. Mas então, por 
que o punimos e fazemos aquele que cometeu o erro sentir que falhou? 
11. Colocar o aluno como o protagonista do seu processo de 
aprendizagem: O aluno protagonista é ativo em sua busca pelo aprendizado. 
Isso não significa que a figura do professor possa ser dispensada, visto que 
a qualidade da aprendizagem que cada aluno poderá desenvolver dependerá 
dos estímulos do ambiente oferecido pelo professor. 
 
 
 
Recordemos que, muy lejano al concepto de felicidad como “poseer 
todo lo que uno desea”, la Pedagogía Positiva se refiere a la felicidad 
como estado alcanzado una vez que hemos podido descubrir nuestro 
potencial y autorrealizarnos en su práctica para, de este modo, poder 
ofrecer lo mejor que tenemos también a los demás. (COTO, p. 124, 
2017) 
 
 
 
Os caminhos aqui apresentados são apenas algumas possibilidades para 
colocarmos em práticas novos olhares para a educação e para nos auxiliar a refletir 
mais sobre como a escola em ciclos pode ser espaço de renovação de práticas 
pedagógicas. 
12 
 
No terceiro capítulo trazemos a questão do tempo como figura central e essencial 
para a transformação que queremos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
3. UM OLHAR PARA OS TEMPOS: POR UMA ESCOLA AFETUOSA, 
DEMOCRÁTICA E ACOLHEDORA 
 
 
Para Zavalloni (2014) a escola é reflexo da nossa sociedade e vem sendo 
centrada no mito da velocidade, do fazer rápido e da aceleração, segundo a sua 
pedagogia do Caracol não é preciso grandes reformas, mas um olhar atento ao 
simples: 
 
 
 
 Passear, caminhar, andar a pé. É a primeira e indispensável maneira 
de viver em um território, para conhecê-lo bem e profundamente nas 
suas vicissitudes históricas e geográficas. Fazer isso junto com todos 
os colegas da turma permite viver emoções, voltar o olhar para 
detalhes nunca vistos da cabine dos nossos velozes automóveis, 
sentir os perfumes, experimentar sensações que criam laços. Para 
isso seria realmente importante começar (ou recomeçar) a fazer 
excursões a pé. (ZAVALLONI, p. 33, 2014). 
 
 
 
O que notamos dentro do ambiente escolar hoje são crianças cada vez mais 
insatisfeitas com a forma, se as questionarmos sobre o que elas mais gostam durante 
as aulas, respostas como o recreio, a aula de artes ou a educação física serão 
recorrentes, e o que elas nos mostram? Que a pressa de ensinar os conteúdos, 
principalmente os materiais apostilados podam a reflexão, a criatividade, a 
espontaneidade, a curiosidade e a brincadeira. 
Compreender os tempos de aprender acolhendo a diversidade e multiplicidade 
humana, partindo para um caminho mais lento do processo pode se transformar em 
recurso até mesmo psicossocial. Saber desacelerar pode criar situações e olhares 
que quando estamos correndo ou ligados no modo automático não seríamos capazes 
de enxergar. 
A partir disso Zavalloni (2014) lista formas de como poderíamos perder tempo 
dentro da escola: perder tempo escutando, respeitando a todos, partilhando 
descobertas, brincando, caminhando e crescendo. 
 
 
14 
 
 Em uma sociedade baseada no sucesso, no ganhar e no vencer, já 
refletimos sobre a importância e sobre os valores pedagógicos do 
“perder”? Perder tempo, perder uma partida, perder um trem, perder 
um objeto, perder um encontro, perder alguém, perder e basta... 
Perder. (ZAVALLONI, p. 44, 2014). 
 
 
 
A escola em ciclos defende novos espaços-tempos de aprendizagem e de 
formação, tempos esses que favoreçam a igualdade por meio de uma pedagogia 
atenta e diferenciada com percursos diversificados cuja meta é que todos os alunos 
possam atingir os objetivos ao final do ciclo mesmo que seja por caminhos diferentes, 
no entanto Perrenoud (2004) nos alerta: 
 
 
 
 Se for mal administrado, se deixar os alunos “ao abandono” – não 
voluntariamente, mas devido a uma gestão aproximada das 
progressões e a um otimismo infundado sobre as virtudes do tempo 
que passa –, um ciclo de aprendizagem pode provocar um aumento 
dos fracassos e das desigualdades. (PERRENOUD, p. 42, 2004) 
 
 
 
Por isso na escola em ciclos, é fundamental a construção de uma equipe 
pedagógica que saiba trabalhar em equipe, que seja estimulada ao planejamento de 
suas ações ao longo dos anos, que saibam antecipar e identificar problemas, que 
sejam pesquisadores e que estejam em constante processo de formação. 
Dizer nos documentos que uma escola é cíclica não garante seu funcionamento 
como tal, sua implantação real virá de como todos os atoresdaquela comunidade 
escolar exerçam sua função. 
É importante destacar aqui que os ciclos como estrutura tem como função 
principal possibilitar o maior número de alunos possíveis em melhores condições de 
aprender. 
Um olhar atento para a bagagem sociocultural dos alunos ajuda na 
compreensão das condições de sua aprendizagem, com um espaço-tempo mais 
amplo e respeitoso é possível criar estruturas de acolhimento, oferecendo espaços de 
15 
 
expressão, por meio das artes, por exemplo, para os alunos que em um determinado 
dia, semana ou um período maior não esteja em condições psicológicas de aprender. 
Todos os envolvidos na comunidade escolar devem compreender que o aluno 
é formado por meio de suas experiências de vida. O seu desenvolvimento tem ligação 
direta com os ambientes em que vive. 
O respeito ao ritmo de aprendizagem de cada indivíduo se mostra cada vez 
mais urgente, necessitando uma busca de estratégias que melhorem o desempenho 
que quem apresenta uma evolução diferente da maioria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Se perguntarmos para cada um de nós, qual seria a nossa escola ideal, 
certamente teríamos uma resposta, pois a educação e seu espaço físico faz parte do 
nosso imaginário e da nossa construção enquanto seres sociais, na escola em ciclos 
a escola ideal seria onde toda a comunidade trabalhasse junta para a construção de 
espaços-tempos de aprendizagem e formação para todos os seus integrantes: 
merendeira, limpadora, secretárias, professores, estudantes, familiares e comunidade 
do entorno, entendendo que a construção dos saberes é função de todos. 
Não temos como etiquetar ou depositar conhecimentos, mas temos como 
reelabora-los para que se transformem em instrumentos de formação e não somente 
de informação. 
Só compreendemos um modelo de escola quando o vivemos, imaginem um 
lugar onde as pessoas entrassem agressivas, racistas, misóginas, competitivas e 
porque estudaram e planejaram juntas a partir de necessidades e interesses em 
comum saíssem amigas e tolerantes, pode parecer utopia, mas ao imaginarmos 
somos capazes de concretizar, sempre buscando aporte da teoria e analisando 
resultados práticos, por isso é urgente que se redescubra a escola enquanto campo 
de pesquisa. 
Precisamos de pessoas reais, que trazem suas experiências pessoais, suas 
paixões, suas competências e suas fraquezas, que criem conexões, que escutem e 
que enxerguem o outro, precisamos dessas pessoas em todas as esferas, mas dentro 
da escola elas são fundamentais. 
Apesar de todos os estudos concluímos que os ciclos de aprendizagem, ainda 
é uma promessa e nos traz muitas questões, no entanto nos mostrou que é possível 
conseguir progressos principalmente contra o fracasso escolar e no programa de 
formação de professores, uma vez que são necessárias o desenvolvimento de novas 
competências pedagógicas e emocionais para a atuação na escola. 
 
 
 
 
 
17 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALMEIDA, Camila Santana; CARVALHO, Jefferson Roberto; MENEGHEL, Júlia 
Beranek. Uma análise sobre a estagnação da aprendizagem nos anos iniciais 
do ensino fundamental no Brasil. Ensaios Pedagógicos. Sorocaba: vol.1, n.2, 
mai./ago. p.49-58, 2017. 
 
BARRETO, Elba Siqueira de Sá; SOUSA, Sandra Zákia. Reflexões sobre as políticas 
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