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Bioquímica Básica Bioquímica Básica 1ª e d iç ão Michel Miranda Edição por Larissa Silva dos Santos Bioquímica Básica DIREÇÃO SUPERIOR Chanceler Joaquim de Oliveira Reitora Marlene Salgado de Oliveira Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA Gerência Nacional do EAD Bruno Mello Ferreira Gestor Acadêmico Diogo Pereira da Silva FICHA TÉCNICA Texto: Michel Miranda Revisão Ortográfica: Rafael Dias de Carvalho Moraes Projeto Gráfico e Editoração: Andreza Nacif, Antonia Machado, Eduardo Bordoni, Fabrício Ramos. Supervisão de Materiais Instrucionais: Antonia Machado Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos COORDENAÇÃO GERAL: Departamento de Ensino a Distância Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói Bibliotecária: ELIZABETH FRANCO MARTINS – CRB 7/4990 Informamos que é de única e exclusiva responsabilidade do autor a originalidade desta obra, não se responsabilizando a ASOEC pelo conteúdo do texto formulado. © Departamento de Ensino a Distância - Universidade Salgado de Oliveira Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). http://www.universo.edu.br/ Bioquímica Básica Palavra da Reitora Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO Virtual, que reúne os diferentes segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero bem-sucedidas mundialmente. São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se responsável pela própria aprendizagem. O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de nossa plataforma. Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos. A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem- sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, graduação ou pós-graduação. Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona. Seja bem-vindo à UNIVERSO Virtual! Professora Marlene Salgado de Oliveira Reitora. Bioquímica Básica 4 1 Introdução à Bioquímica Bioquímica Básica 5 Nesta unidade vamos entender a cerca das características físico-químicas da água e os seus efeitos sobre as biomoléculas e as células. Objetivos da Unidade Conhecer as características físico-químicas da água Compreender as interações químicas entre a água e as biomoléculas Saber como a água afeta os sistemas biológicos Definir pH e sistema tampão Plano da Unidade A água Interação da água com as substâncias polares Ionização da água Sistema tampão. Bons Estudos! Bioquímica Básica 6 Os seres vivos são formados por uma extensa variedade de substâncias. Dentre estas, podemos citar as substâncias inorgânicas (ex: água, íons e sais minerais) e substâncias orgânicas (ex: carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas e ácidos nucléicos). Para compreendermos a importância do estudo da bioquímica, é necessário entender que nosso organismo é formado pelas moléculas que serão estudadas ao longo dos capítulos. O funcionamento orgânico não poderia ser elucidado sem que essas substâncias, comuns aos seres vivos, fossem analisadas. A água A água é a substância mais abundante dos seres vivos, perfazendo 70% ou mais da massa da maioria dos organismos. Em alguns seres como águas-vivas, o conteúdo de água pode chegar a 94% do total. O corpo humano tem em média 60% da sua massa de água, cuja distribuição varia conforme o tecido. Enquanto o tecido adiposo praticamente não contém água, os músculos esqueléticos são constituídos por cerca de 73% de água. O plasma sanguíneo chega a ter mais de 90% de água. O conteúdo de água também varia com a idade do organismo, pois quanto mais velho é o ser vivo, menos água corpórea ele terá. O início da vida aconteceu em ambiente aquoso e a maioria das reações químicas ocorre na presença da água. A água é de fundamental importância para todos os seres vivos na natureza pelo fato de muitas reações químicas, tanto no interior quanto no exterior das células serem mediadas pela água. A solubilização e distribuição de substâncias no citoplasma das células dependem da presença da água citoplasmática. A digestão de alimentos no tubo digestivo depende de enzimas que utilizam a água para quebrar as ligações químicas entre as moléculas. O fluxo sanguíneo existe devido ao plasma sanguíneo ser líquido. A evolução da vida na Terra dependeu das características incomuns da água, a começar por sua capacidade de atuar como solvente para inúmeras substâncias. A abundância da água e sua temperatura elevada de fusão e ebulição permitiram o surgimento de grandes oceanos na Terra primitiva onde a vida teve origem. Atualmente, muitas plantas e animais evoluíram para a vida terrestre, no entanto, a dependência da água jamais deixou de existir. http://pt.wikipedia.org/wiki/Corpo_humano http://pt.wikipedia.org/wiki/Tecido_adiposo http://pt.wikipedia.org/wiki/Tecido_adiposo http://pt.wikipedia.org/wiki/Tecido_adiposo http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%BAsculo_esquel%C3%A9tico http://pt.wikipedia.org/wiki/Plasma_sangu%C3%ADneo http://pt.wikipedia.org/wiki/Seres_vivos http://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza http://pt.wikipedia.org/wiki/Evolu%C3%A7%C3%A3o Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 7 A água é um solvente biológico ideal, por dissolver a maioria das substâncias presentes no planeta. A capacidade solvente da água inclui a solubilização dos íons, de muitos açúcares, proteínas e vitaminas e de outras moléculas não relacionadas, como por exemplo, alguns medicamentos. A água é uma molécula formada por três átomos: dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio (H2O). Estes três elementos se unem por ligações covalentes (em que há compartilhamento de elétrons) criando uma estrutura assimétrica H – O – H com ângulo de ligação de 104,5º e com carga elétrica parcial negativa no oxigênio e parcial positiva nos hidrogênios, gerando uma estrutura bipolar. O oxigênio, por ser mais eletronegativo que os hidrogênios, adquire a carga parcialnegativa ao atrair os dois hidrogênios para si para a formação da água (figura 1). Figura 1: Estrutura da molécula da água. A estrutura bipolar da água é mostrada aqui no modelo bola e bastão. Os átomos de hidrogênio e oxigênio se unem através de ligações covalentes. A carga parcial dos seus átomos é determinada pelo símbolo (δ). O oxigênio, mais eletronegativo que os hidrogênios, apresenta carga parcial negativa e os hidrogênios, cargas parciais positivas. Fonte: Lehninger, princípios de Bioquímica. Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 8 Vamos lembrar: A união de dois ou mais átomos forma as moléculas. Para formar uma molécula os átomos precisam fazer ligações químicas. Duas ligações químicas são importantes nos sistemas biológicos: a ligação covalente (ocorre através do compartilhamento de elétrons, quando os átomos que formam a molécula apresentam a tendência de ganhar elétrons) e a ligação iônica (ocorre quando o átomo que precisa ganhar elétrons “rouba” um ou mais elétrons do átomo que precisa perder elétrons). A eletronegatividade é a capacidade que um átomo tem de atrair para si outro átomo, para a formação das moléculas. Na escala de eletronegatividade, que vai de 0 à 4,0, o flúor, o oxigênio e o nitrogênio são bastante eletronegativos (valores 4,0, 3,5 e 3,0 respectivamente) (tabela 1). Uma decorrência importante do estudo da eletronegatividade dos elementos é que, em função da diferença de eletronegatividade entre os átomos envolvidos, podemos classificar as ligações em apolares (diferença de eletronegatividade entre os átomos de 0 à 0,5) e polares (diferença maior que 0,5, sendo que quanto maior a diferença, maior é a polaridade da ligação química). Ligações covalentes podem ser apolares (diferença de eletronegatividade entre 0 e 0,5) ou polares (diferença de eletronegatividade entre 0,6 e 1,6) enquanto as ligações iônicas (diferença de eletronegatividade entre 1,7 e 4,0) são sempre polares. Desse modo as moléculas podem ter caráter polar ou apolar. A água por ter seus átomos com diferença de eletronegatividade de 1,4 (tabela 1) é então uma substância polar. Tabela 1: A eletronegatividade de alguns elementos químicos Elemen to *Eletronegativi dade Elemen to Eletronegativi dade Elemen to Eletronegativi dade F 4,0 Se 2,4 Zn 1,6 O 3,5 P 2,1 Mn 1,5 Cl 3,0 H 2,1 Mg 1,2 N 3,0 Cu 1,9 Ca 1,0 BR 2,8 Fe 1,8 Li 1,0 S 2,5 Co 1,8 Na 0,9 C 2,5 Ni 1,8 K 0,8 I 2,5 Mo 1,8 *Quanto mais eletronegatividade, mais o elemento atrai o outro. Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 9 Interação da água com as substâncias polares A água pode interagir com outras moléculas de água. Ao se aproximarem, o oxigênio de uma molécula de água faz uma interação química com o hidrogênio de outra molécula de água. Esta interação é chamada ponte (ou ligação) de hidrogênio, representada por um tracejado e não por um traço como a ligação covalente (figura 2). Figura 2: A ponte de hidrogênio. Ponte de hidrogênio entre as moléculas de água é uma interação (atração) fraca que ocorre entre o oxigênio de uma água e o hidrogênio de outra água. Fonte: Lehninger, princípios de Bioquímica. Uma molécula de água pode fazer até quatro pontes de hidrogênio com outras moléculas de água (figura 3). Apesar da ponte de hidrogênio ser uma interação considerada fraca nos sistemas biológicos (ligações covalentes requerem de 214 à 930 kj/mol para que sejam rompidas, enquanto a ponte é rompida com energia da ordem de 12 à 30 kj/mol), o alto número de pontes de hidrogênio entre as moléculas de água determina uma alta coesão entre as moléculas. Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 10 Vamos lembrar: Nos sistemas biológicos, a ponte de hidrogênio é formada entre o hidrogênio de uma molécula e o oxigênio, nitrogênio ou flúor de outra molécula. No entanto o hidrogênio precisa estar ligado a um elemento bem eletronegativo como os três elementos químicos citados anteriormente. Hidrogênios ligados a carbono não fazem pontes de hidrogênio com a água porque o carbono tem eletronegatividade semelhante ao do hidrogênio (tabela 1), determinando uma região apolar, incapaz de fazer tal interação. Figura 3: Pontes de hidrogênio entre moléculas de água. Cada molécula de água forma um máximo de quatro pontes de hidrogênio. Nesta situação a água está na forma de gelo. À medida que as pontes de hidrogênio são rompidas (por exemplo, por aumento de temperatura), a água se torna respectivamente líquida (média de 3,4 pontes de hidrogênio com outras moléculas de água) e gasosa (média de 1,5 pontes de hidrogênio) Na imagem, as circunferências azuis representam os átomos de oxigênio e, as cinzas, os de hidrogênio. Fonte: Lehninger, princípios de Bioquímica. Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 11 As pontes de hidrogênio não se resumem à interação molecular. Os estados físicos da água são determinados pelo número de pontes de hidrogênio entre as moléculas (figura 3). Além disso, a água tem alto ponto de fusão (0 o C), alto ponto de ebulição (100 o C) e alto calor de vaporização (2.260 j/g) quando comparada com a maioria dos solventes. Estas propriedades são uma consequência da atração das moléculas de água por pontes de hidrogênio, que confere à água uma alta coesão. Outra consequência importante das pontes de hidrogênio existentes na água é a sua alta tensão superficial (figura 4). As moléculas que estão no interior do líquido atraem e são atraídas por todas as moléculas vizinhas, de tal modo que estas forças se equilibram. Já as moléculas da superfície só são atraídas pelas moléculas “de baixo” e “dos lados”. Consequentemente, estas moléculas se atraem mais fortemente e criam uma película semelhante a uma película elástica na superfície da água. A tensão superficial da água explica vários fenômenos dentre os quais citamos a forma esférica das gotas de água e o fato de alguns insetos poderem caminhar sobre a água. Figura 4: Representação das forças que produzem a tensão superficial. Fonte: Husman & Orth, 2015. Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 12 As pontes de hidrogênio não estão somente presentes na água, mas também são responsáveis pela interação da água com outras substâncias. A água dissolve biomoléculas polares. Dentre estes grupos funcionais incluímos as hidroxilas, os aldeídos, as cetonas, os ácidos carboxílicos e grupamentos contendo N – H, como as aminas. Ao se colocar, por exemplo, sacarose (açúcar de cozinha) em água, seja em um suco, cafezinho ou até mesmo na produção do soro caseiro, observa-se que o açúcar em poucos segundos desaparece na água. Na verdade, o desaparecimento da sacarose é explicado não pelo fato da água estar quebrando a sacarose, mas pelo fato das moléculas de água estarem fazendo pontes de hidrogênio com as hidroxilas (O – H ou mais comumente representado por OH) das moléculas de sacarose. O etanol se mistura com a água através de pontes de hidrogênio entre o oxigênio da água e a hidroxila presente no etanol (figura 5). Figura 5: Interação da água com etanol. O etanol (álcool comercial) se mistura facilmente com a água por fazer pontes de hidrogênio com a água. Fonte: www.ebah.com.br, acesso em 11/10/2014. As pontes de hidrogênio não estão restritas à água. Outros líquidos e macromoléculas importantes das células podem fazer pontes de hidrogênio entre si, sem a necessidade da presença da água. A estrutura tridimensional das proteínas contém várias pontes de hidrogênio entre os aminoácidos que as compõe. Na constituição do DNA, as bases nitrogenadas(adenina e timina assim como citosina e guanina) dos nucleotídeos fazem pontes de hidrogênio para estabilização da dupla fita de DNA. http://www.ebah.com.br/ Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 13 Além da interação da água com outras substâncias por pontes de hidrogênio, a água interage também eletrostaticamente com solutos que exibem carga elétrica. Assim como as pontes de hidrogênio, as interações eletrostáticas são interações fracas nos sistemas biológicos (a energia necessária para romper a ligação é da ordem de 4 à 80 kj/mol), mas importantes para a formação de macromoléculas como, por exemplo, as proteínas. A água dissolve sais como o NaCl (cloreto de sódio) hidratando e estabilizando os íons Na + e Cl - , enfraquecendo as interações eletrostáticas entre as moléculas de NaCl e impedindo que estas moléculas voltem a se agrupar, por fazer interações eletrostáticas com estes átomos (figura 6). É importante observar que na interação da água com o NaCl não é possível a realização de pontes de hidrogênio entre a água e o NaCl pelo fato de não atender as condições explicadas anteriormente para a realização desta interação molecular. Vamos lembrar: A interação eletrostática é uma atração entre cargas opostas de regiões moleculares. Isto pode ocorrer entre água e sais, água e grupos funcionais com carga elétrica das moléculas orgânicas e entre diferentes grupos funcionais com carga elétrica na mesma molécula, como ocorrem entre cargas elétricas de alguns aminoácidos nas proteínas. Desse modo, assim como a ponte de hidrogênio, a interação eletrostática ocorre entre substâncias polares ou regiões polares das moléculas. Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 14 Figura 6: Solubilidade do NaCl em água. A água dissolve sais como o NaCl por meio da hidratação e estabilização dos átomos que compõe a molécula. À medida que as moléculas de água se agrupam ao redor dos íons Na+ e Cl- a interação (atração) eletrostática necessária para a formação do sal é rompida. Fonte: www.profpc.com.br, acesso em 11/10/2014. Outra interação química importante nos sistemas biológicos, diferente das pontes de hidrogênio e das interações eletrostáticas, é a interação hidrofóbica. Esta interação fraca (a energia necessária para romper a ligação é da ordem de 3 a 12 kj/mol) ocorre entre moléculas apolares. Líquidos incapazes de se misturar com a água geralmente possuem moléculas apolares chamadas hidrocarbonetos (contendo carbono e hidrogênio) e são conhecidos como solventes orgânicos, incluindo a gasolina, o hexano, o benzeno, o tolueno e outros. Na formação destes líquidos os hidrocarbonetos se atraem através da interação hidrofóbica. Além das substâncias polares e apolares, algumas substâncias são anfipáticas. Estas contêm uma região polar e outra apolar. A região polar interage com a água enquanto a região apolar não. Os ácidos graxos, os fosfolipídios e o colesterol são exemplos de substâncias anfipáticas que serão estudadas nas próximas unidades. Ionização da água. Nesta unidade, foi visto que a molécula de água é H2O. No entanto, uma pequena proporção de moléculas de água se encontra em uma forma chamada dissociada, criando íons H + (prótons) e OH - . A ionização da água pode ser medida por sua condutividade elétrica e é expressa por uma constante de equilíbrio. Esta constante (Keq) é determinada por condutividade elétrica corresponde à 1,8 x 10 -16 M (onde M significa molar). Em água pura, a molaridade da água à 25 o C (1000 dividido pelo peso molecular da água que é 18) é de 55,5. Com estes valores, uma nova constante para a dissociação da água, o Kw (produto iônico da água) é criada, obtendo-se o valor de 1 x 10 -14 M 2 , como mostrado abaixo: H2O H + + OH - Keq = [H + ][OH - ]/[H2O] = Keq = [H + ][OH - ]/55,5M http://www.profpc.com.br/ Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 15 (55,5M) (Keq) = [H + ][OH - ] = Kw = Kw = [H + ][OH - ] = 55,5M x 1,8 x 10 -16 M Kw = 100 x 10 -16 M 2 ou Kw = 1 x 10 -14 M 2 Sendo assim, em água pura, onde as concentrações dos íons H + e OH - são equivalentes, cada íon equivale a 1 x 10 -7 M ou 10 -7 M. Como o produto iônico da água é constante, sempre que [H + ] for maior que 10 -7 M, [OH - ] será menor que 10 -7 M, ou vice-versa. O produto iônico da água é a base para escala de pH (tabela 2). Existe uma fórmula onde: pH = log/[H + ] = pH = log/[10 -7 ] = pH = log10 7 = pH = 7,0. Ou seja, em água pura, onde as concentrações dos íons H + e OH - são equivalentes, o pH será sempre 7,0 (neutro). Este valor significa que a água tem pH neutro. Valores abaixos de 7,0 determinam pH ácido enquanto valores acima de 7,0 determinam pH alcalino (básico) (figura 7). Pelo fato da escala de pH ser logarítmica, se um líquido tem pH 7,0 e outro tem pH 8,0, o segundo tem 10 X mais OH - (ou 10 X menos H + ) que o primeiro. Então se compararmos o pH da água do mar (aproximadamente 7,8) com o pH do suco gástrico (aproximadamente 1,8), a diferença na concentração de H + (e consequentemente de OH - ) é de 1 milhão de vezes. Tabela 2. A escala de pH. Usuário Realce Bioquímica Básica 16 O pH varia na razão inversa a da concentração de H + . Desse modo o aumento de H + diminui o pH e vice-versa. pOH é exatamente o inverso do pH. Note que para todos os casos pH + pOH = 14. Figura 7. O pH de alguns líquidos. Fonte: Lehninger, Princípios de Bioquímica. [H + ] (M) pH [OH - ] (M) pOH 10 0 0 10 14 14 10 1 1 10 13 13 10 2 2 10 12 12 10 3 3 10 11 11 10 4 4 10 10 10 10 5 5 10 9 9 10 6 6 10 8 8 10 7 7 10 7 7 10 8 8 10 6 6 10 9 9 10 5 5 10 10 10 10 4 4 10 11 11 10 3 3 10 12 12 10 2 2 10 13 13 10 1 1 10 14 14 10 0 0 Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 17 Sistema tampão O pH afeta a estrutura e a função das macromoléculas biológicas. Por exemplo, a atividade das enzimas depende de pH ideal. Mudanças significativas nos valores de pH onde estão as enzimas levam a desnaturação das mesmas e consequentemente a diminuição ou perda da função. O pH sanguíneo normal está entre 7,3 e 7,45. Valores abaixo de 7,3 podem levar a um quadro de acidose, e valores acima de 7,45 podem levar a um quadro de alcalose. Em ambos os casos pode ser fatal. A absorção de alguns medicamentos também é influenciada pelo pH. Enquanto alguns medicamentos são mais bem absorvidos pelo estômago, outros são mais bem absorvidos pelo intestino delgado. A concentração de H+ afeta a maioria dos processos nos sistemas biológicos. Os ácidos e as bases podem alterar o pH. Ácidos são substâncias que entregam H+ e bases são substâncias que entregam OH- (ou roubam H+). Por exemplo, ácido clorídrico (HCl) em água sofre dissociação em H+ e Cl-, assim entregando H+ para a água e acidificando a mesma. Já o hidróxido de sódio (NaOH) em água sofre dissociação em Na+ e OH-, assim entregando OH- para a água e alcalinizando a mesma. O grau de dissociação – separação – define os ácidos e bases como fortes e fracos. Ácidos e bases fortes são aqueles que, praticamente, se dissociam completamente em água. Alguns exemplos de ácidos fortes incluem o ácido clorídrico, o ácido sulfúrico e o ácido nítrico e alguns exemplos de bases fortes incluem o hidróxido de sódio e o hidróxido de potássio. Os ácidos e bases fracos dissociam pouco em água e são chamados de tampões. Quando ácidoacético (CH3COOH), um ácido fraco, é adicionado à água, algumas moléculas se dissociam em CH3COO e H+ enquanto outras se mantêm na forma associada (CH3COOH), estabelecendo um equilíbrio entre as duas formas. Enquanto a forma associada é o ácido conjugado (que doa H+), a forma dissociada é a base conjugada (que pode receber H+). CH3COOH H + + CH3COO - A regulação do pH nos líquidos biológicos é essencial para a vida dos seres vivos. Uma pequena mudança nas concentrações de H + e OH - afeta a estrutura e a Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 18 função das macromoléculas celulares. A concentração destes íons intra e extracelular é mantida por sistemas tampões que fazem com que o líquido resista á variações de pH quando pequenas quantidades de ácido ou base são adicionadas. Quando um ácido forte é adicionado á água, todo o ácido se dissocia acidificando fortemente a água, mas quando o ácido forte é adicionado a uma solução contendo um ácido fraco em equilíbrio com sua base conjugada, seu pH não se altera tão dramaticamente, pois parte dos H + adicionados pelo ácido forte são “roubados” pelas moléculas de ácido fraco que estão na forma dissociada (base conjugada). Quando uma base forte é adicionada à água, toda a base se dissocia alcalinizando fortemente a água, mas quando a base forte é adicionada a uma solução contendo um ácido fraco em equilíbrio com sua base conjugada, seu pH não se altera tanto pois parte dos OH - liberados da base recebem H + das moléculas do ácido fraco que ainda estão na forma associada, gerando H2O. Entretanto isto só ocorre em uma faixa estreita de pH, a faixa tampão. Um tampão, geralmente, é uma solução que contém um par ácido-base conjugado fraco, assim resistindo consideravelmente à variação de pH quando pequenas quantidades de ácido ou de base fortes são adicionadas a essa solução. Os dois tampões fisiológicos mais importantes são o tampão bicarbonato e o tampão fosfato. O tampão fosfato consiste de um ácido fraco em equilíbrio com sua base conjugada representada abaixo: H2PO4 - H + + HPO4 -- O sistema tampão fosfato age no citoplasma de todas as células evitando variações bruscas no pH intracelular por tamponar o citoplasma na faixa entre pH 5,86 e 7,86. Por isso, nas células, o pH intracelular está sempre entre 6,9 e 7,4. O tampão bicarbonato funciona no sangue, consistindo de ácido carbônico (H2CO3) como doador de prótons e bicarbonato (HCO3 - ) como aceptor de prótons. H2CO3 H + + HCO3 - Quando H + aumenta no sangue (seja pela produção de lactato no exercício físico intenso, este que ao sair do músculo para o sangue carrega um H + ou pelo Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 19 excesso de produção de corpos cetônicos no fígado de diabéticos, que também levam H + para o sangue), a reação se desloca para a produção de ácido carbônico, com produção de CO2 e liberação deste gás pela respiração. No entanto, se o pH do plasma sanguíneo aumenta (que pode ocorrer pela produção de NH3 durante o metabolismo de proteínas), a reação se desloca para a produção de bicarbonato, provocando uma maior dissolução de CO2 dos pulmões para o plasma sanguíneo. H + + HCO3 - H2CO3 CO2 + H2O Isto significa que o sistema tampão bicarbonato regula o pH do sangue evitando que o mesmo se torne ácido ou alcalino à ponto de afetar a velocidade de algumas reações vitais para o organismo. O controle biológico do pH das células e dos fluidos corporais é, portanto, de importância fundamental em todos os aspectos celulares. Leitura complementar DEVLIN, T. Manual de bioquímica com correlações clínicas. Edgard Blucher, 2007. HARPER, H. A. Bioquímica. Atheneu, 2002. LEHNINGER, A.L. Princípios de Bioquímica. Worth publishers, 2006. STRYER, L. Bioquímica. Guanabara Koogan, 2004. VOET, D., VOET, J.G., PRATT, C.W. Fundamentos de Bioquímica. Artmed, 2002. É HORA DE SE AVALIAR Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 20 ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Bioquímica Básica 21 Exercícios - Unidade 1 1. A chuva ácida é a designação dada à chuva que ocorre em regiões onde existem na atmosfera terrestre gases e partículas ricos em enxofre e nitrogênio que, em combinação com a água, formam ácidos fortes. Isto ocorre pela queima dos combustíveis fósseis e oxidação das impurezas sulfurosas existentes na maior parte dos carvões e petróleos. Ao longo das últimas décadas têm sido reportadas leituras de pH na água de gotas de chuva e em gotículas de nevoeiro, colhidas em regiões industrializadas, com valores próximos de 2,3 (a mesma acidez do vinagre). Na ausência de qualquer contaminante atmosférico, a água precipitada pela chuva é levemente ácida, sendo de esperar um pH de aproximadamente 5,2 a 25ºC. A partir do texto acima, a diferença no nível de acidez entre a água da chuva ácida e a água da chuva normal é de aproximadamente: (0,5 pontos) a) 10X b) 100X c) 3X d) 1000X e) 30X 2. A água é a substância mais abundante da constituição dos mamíferos. É encontrada nos compartimentos extracelulares (líquido intersticial), intracelulares (citoplasma celular) e transcelulares (dentro de órgãos como estômago e intestino). Sobre a água e sua presença nos mamíferos é CORRETO afirmar que: http://pt.wikipedia.org/wiki/Chuva http://pt.wikipedia.org/wiki/Atmosfera_terrestre http://pt.wikipedia.org/wiki/Enxofre http://pt.wikipedia.org/wiki/Combust%C3%ADvel_f%C3%B3ssil http://pt.wikipedia.org/wiki/Carv%C3%A3o http://pt.wikipedia.org/wiki/Petr%C3%B3leo http://pt.wikipedia.org/wiki/Vinagre http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81gua http://pt.wikipedia.org/wiki/Chuva http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%81cida http://pt.wikipedia.org/wiki/PH http://pt.wikipedia.org/wiki/C Usuário Realce 300x??? Bioquímica Básica 22 a) A quantidade de água nos seres é invariável b) Com o passar dos anos o conteúdo de água tem o seu percentual aumentado c) É importante fator de regulação térmica dos organismos d) Em tecidos metabolicamente ativos é inexistente e) Poucas reações químicas nos organismos dependem da água 3. Um ser humano adulto tem cerca de 60% de sua massa corpórea constituída por água. A maior parte dessa água encontra-se localizada: a) no meio intracelular b) no líquido linfático c) nas secreções glandulares e intestinais d) na saliva e) no plasma sanguíneo 4- Uma solução que contém um par ácido-base conjugado fraco, assim resistindo consideravelmente à variação de pH é denominada: a) ácido acético b) tampão c) hidrocarboneto d) fosfatase e) colagenase 5. De acordo com a questão anterior o ácido considerado mais fraco é o: Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 23 a) ácido acético b) tris c) fosfato diácido d) amônio e) ácido acetil salicílico 6. A água interage e dissolve moléculas através de dois processos importantes. Estes processos são: a) pontes de hidrogênio e interações hidrofóbicas b) pontes de hidrogênio e ligações covalentes c) interações hidrofóbicas e pontes de hidrogênio d) interações eletrostáticas e ligações covalentes e) interações eletrostáticas e pontes de hidrogênio 7. Na água pura, as concentrações dos íons H+ e OH- sãoiguais e o seu pH é 7,0 a 25ºC. O pH da água do mar é aproximadamente 8,0 à mesma temperatura. O íon em maior concentração no mar, assim como a diferença de concentração deste íon entre a água pura e a água do mar são: a) H+ e 10X b) H+ e 1X c) OH- e 10X d) OH- e 1X e) OH- e 100X Usuário Realce Usuário Realce Usuário Realce Bioquímica Básica 24 8. Você já deve ter observado um inseto caminhando pela superfície da água de uma lagoa. A propriedade da água que permite que a pata do inseto não rompa a camada de água é denominada: a) adesão. b) calor específico. c) tensão superficial. d) calor de vaporização. e) capilaridade. 9. De acordo com as pontes de hidrogênio, responda: a) Qual é a sua relação com os estados físicos da água? b) Como esta interação química é produzida? c) Na ausência da água, esta interação química pode ser produzida? Justifique. ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 10. Abaixo podemos observar a curva de titulação de um ácido fraco. Usuário Realce Bioquímica Básica 25 Responda: a) Como funciona um sistema tampão? ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Bioquímica Básica 26 2 Proteínas Bioquímica Básica 27 Nesta unidade, vamos entender a cerca das características gerais dos aminoácidos e das proteínas, suas estruturas químicas, suas funções celulares e as diferentes técnicas de identificação, separação, purificação e análise destas moléculas. Objetivos da Unidade Identificar e compreender as propriedades dos aminoácidos, Conhecer as funções das proteínas Estudar os diferentes níveis estruturais das proteínas Conhecer as técnicas de identificação, separação, purificação e análise de proteínas. Caracterizar as enzimas Plano da Unidade Os aminoácidos Classificação dos Aminoácidos Peptídeos Estrutura e funções das proteínas Desnaturação de proteínas Enzimas Bons Estudos! Bioquímica Básica 28 As proteínas (ou também conhecidas como polipeptídeos) são as macromoléculas mais abundantes nas células vivas e com o maior número de funções. São instrumentos moleculares nos quais a informação genética é expressa. Todas as proteínas são formadas por moléculas menores chamadas aminoácidos. A quantidade e a ordem destes aminoácidos provêm de uma quantidade enorme de diferentes proteínas celulares. Os aminoácidos Os aminoácidos são as unidades formadoras das proteínas. São mais de 200 tipos de aminoácidos diferentes na natureza, mas somente 20 são encontrados nas proteínas. Estes aminoácidos possuem regiões em comum como um carbono central (α), no qual estão ligados um hidrogênio, uma região amina (NH2), uma região carboxila ou também conhecida como ácido carboxílico (COOH) e uma cadeia lateral (ou grupamento R) (figura 1), com exceção da prolina que é considerado um iminoácido e, portanto não apresenta uma amina. Em pH fisiológico (próximo de 7,0), os aminoácidos estão carregados na forma de íons dipolares (ou zwitterions) tendo a amina como NH3+ e a carboxila como COO-, no entanto, esta característica não interfere nas propriedades químicas dos aminoácidos (figura 2). Bioquímica Básica 29 Figura 1: Representação da região comum a quase todos os aminoácidos em que R representa a cadeia lateral variável. Adaptado de http://docentes.esalq.usp.br/luagallo/aminoacidos.html Os aminoácidos são diferenciados entre si pelas suas cadeias laterais. As cadeias laterais variam em tamanho, forma, carga elétrica, reatividade química e definem os aminoácidos como polares ou apolares, no entanto esta denominação só funciona quando os aminoácidos estão incorporados nas proteínas, pois todos os aminoácidos livres são, a princípio, solúveis em água. Neste contexto, os aminoácidos glicina, alanina, prolina, valina, leucina, isoleucina, metionina, triptofano e fenilalanina são considerados apolares, enquanto os demais, por ter em suas cadeias laterais regiões capazes de interagir com a água, seja por pontes de hidrogênio ou por interações eletrostáticas, são aminoácidos polares (figura 2). Bioquímica Básica 30 Figura 2: Os aminoácidos formadores das proteínas. As fórmulas acima mostram as formas zwitterion dos aminoácidos (em pH fisiológico). Acido glutâmico e ácido aspártico são aminoácidos comumente referidos respectivamente como glutamato e aspartato. A cadeia lateral da glicina está destacada das demais por ser a mais simples. Fonte: www.infoescola.com, acesso em 18/10/2014, adaptado. http://www.infoescola.com/ Bioquímica Básica 31 Os aminoácidos podem apresentar algumas características funcionais interessantes: o aminoácido mais simples, a glicina, tem este nome por ter gosto doce, assim lembrando o nome glicose, além de ser um neurotransmissor; o glutamato e o triptofano são usados na produção dos neurotransmissores ácidos γ- aminobutírico, serotonina e melatonina; leucina, isoleucina e valina são os aminoácidos conhecidos como BCAA (aminoácidos de cadeia lateral ramificada), muito procurados por praticantes de alguma atividade física, que serão estudados nas próximas unidades; aspartato e fenilalanina são usados na produção do adoçante aspartame; arginina participa do ciclo da uréia (importante via metabólica que ocorre no fígado e que será estudada nas próximas unidades); tirosina é usada na formação do hormônio tiroxina. Além dos 20 aminoácidos descritos anteriormente, algumas raras proteínas podem conter aminoácidos modificados após a sua incorporação na cadeia polipeptídica. Dentre estes podemos incluir a 4-hidroxiprolina e a 5-hidroxilisina, encontradas no colágeno, a 6-N-metillisina, encontrada na miosina, a desmosina, encontrada na elastina e o γ-carboxiglutamato, encontrado na protrombina. Os aminoácidos podem também ser classificados como naturais (não- essenciais) e essenciais. Os naturais são os aminoácidos produzidos pelo organismo. Os essenciais não são produzidos pelo organismo e, portanto, precisam ser adquiridos na alimentação. Os vegetais produzem todos os 20 aminoácidos que formam as proteínas e, portanto só possuem aminoácidos naturais. Os humanos produzem somente 11 (alanina, arginina, asparagina, aspartato, cisteina, glicina, glutamato, glutamina, prolina, serina e tirosina) do total de 20 aminoácidos. Deste modo, ao ingerir proteínas e através da produção pelo nosso organismo, os humanos obtêm os 20 aminoácidos. É importante ressaltar que para formar as proteínas são necessários todos os 20 aminoácidos. Bioquímica Básica 32 Classificação dos Aminoácidos Como os aminoácidos possuem grupamentos amina e carboxila capazes de se ionizar, a forma iônica predominante dos aminoácidos é dependente do pH no qual este aminoácido se encontra. Os aminoácidos podem apresentar 2 ou 3 grupamentos ionizáveisreferentes a amina, a carboxila e algumas cadeias laterais, ou seja 2 ou 3 regiões com poder tamponante. Com base na polaridade das cadeias laterais, os aminoácidos podem ser classificados como: - Aminoácidos com cadeia lateral apolar ou hidrofóbico, cuja cadeia é formada quase que exclusivamente por carbono e hidrogênio. São: Fenilalanina, Isoleucina, Leucina, Metionina, Prolina, Triptofano e Valina - Aminoácidos com cadeia lateral polar ou hidrofílico Cadeia lateral carregada positivamente. São: Aspargina, Histidina e Lisina. Cadeia lateral carregada negativamente. São: Ácido Aspártico, Ácido glutâmico, Hidroxilisina, Hidroxiprolina e Beta alanina. Quanto à nomenclatura dos aminoácidos, duas abreviações de três letras para o mesmo aminoácido significam abreviação adotada no Inglês e no Português respectivamente. As demais são abreviações universais (tabela 1). Bioquímica Básica 33 Tabela 1: Nomenclatura dos aminoácidos. Aminoácido Nome Abreviação de três letras Abreviação de uma letra Alanina Ala A Arginina Arg R Asparagina Asn N Aspartato Asp D Cisteína Cys (Cis) C Fenilalanina Phe (Fen) F Glicina Gly (Gli) G Glutamato Glu E Glutamina Gln Q Histidina His H Isoleucina Ile I Leucina Leu L Lisina Lys (Lis) K Metionina Met M Prolina Pro P Serina Ser S Tirosina Tyr (Tir) Y Treonina Ter T Triptofano Trp W Valina Val V Quanto ao destino no metabolismo animal, os aminoácidos podem ser classificados como: - Glucogênicos: Podem ser transformados em glicose. Exemplo: Alanina, arginina, metionina, cisteína, cistina, histidina, treonina e valina. - Glucocetogênicos: Podem se transformar em glicose ou em corpos cetônicos. Exemplo: fenilalanina, tirosina e triptofano, isoleucina e lisina. - Cetogênicos: Podem se transformar em corpos cetônicos. Exemplo: Leucina Os aminoácidos se unem para formar proteínas através da ligação peptídica. Esta ligação covalente é formada a partir de uma reação entre o grupamento amina de um aminoácido e o grupamento carboxila do outro aminoácido, resultando na saída de uma molécula de água (figura 3). Esta reação química ocorre somente no Bioquímica Básica 34 citoplasma ou nas membranas do retículo endoplasmático rugoso das células, dentro de uma estrutura chamada ribossomo. Figura 3: A ligação peptídica. Esta ligação (representada com um traço em vermelho) é formada a partir de uma reação de condensação entre o grupamento amina de um aminoácido e o grupamento carboxila do outro aminoácido. Fonte: www.colegiovascodagama.com, acesso em 18/10/2014. Peptídeos Os peptídeos são biomoléculas com uma quantidade pequena de aminoácidos. Diversos autores citam peptídeos como moléculas contendo 2 aminoácidos (dipeptídeos) ou de 3 até um máximo de 50 aminoácidos (oligopeptídeos). Acima de 50 aminoácidos a molécula já é considerada uma proteína. Peptídeos, apesar de pequenos, apresentam funções biológicas importantes: a ocitocina (com 9 aminoácidos), secretada pela hipófise, é responsável pelas contrações musculares do útero no parto e na produção de leite pelas glândulas mamárias; a bradicinina (com 9 aminoácidos) inibe inflamação nos tecidos; o glucagom (com 29 aminoácidos) é produzido pelo pâncreas em situações de hipoglicemia sanguínea; a glutationa (com 3 aminoácidos) atua como agente redutor e protege as células dos efeitos oxidantes de algumas substâncias como a água oxigenada; o hormônio http://www.colegiovascodagama.com/ Bioquímica Básica 35 antidiurético (com 9 aminoácidos) é sintetizado pelo hipotálamo e estimula os rins a reter água. Estrutura e função das proteínas Como descrito anteriormente, as proteínas são macromoléculas formadas por aminoácidos através de ligações peptídicas. As proteínas diferem quanto à quantidade e a sequência de aminoácidos que possuem. Por exemplo, duas proteínas contendo o mesmo número de aminoácidos não são necessariamente idênticas porque podem ter diferentes sequências de aminoácidos. O tamanho das proteínas varia desde moléculas pequenas como a insulina (com 51 aminoácidos de tamanho) até moléculas bem grandes como a hemoglobina (com 574 aminoácidos de tamanho). As proteínas podem ser encontradas tanto intra quanto extracelularmente e apresentam diversas funções, incluindo hormonal (ex: insulina, produzida pelo pâncreas e GH produzido na hipófise), nutricional (ex: caseína, a principal proteína do leite e ovalbumina, a principal proteína da clara do ovo), imunológica (ex: imunoglobulinas), contração (ex: actina e miosina, as principais proteínas de contração muscular), motilidade (ex: tubulina, encontrada no flagelo dos espermatozóides e cílios de protozoários), transporte (ex: hemoglobina, encontrada nas hemácias e albumina, transportadora de lipídios no plasma sanguíneo), estrutural (ex: colágeno e queratina) e enzimática (será detalhada no final desta unidade). Baseada em sua composição as proteínas podem ser simples ou conjugadas. As simples apresentam somente aminoácidos na sua estrutura. As conjugadas apresentam, além de aminoácidos, outros componentes como íons (ex: ferro, zinco, cobre nas metaloproteínas) ou moléculas (ex: lipídios nas lipoproteínas, oligossacarídeos nas glicoproteínas e fosfato nas fosfoproteínas). A estrutura das proteínas é bastante complexa. Distinguem-se quatro níveis de organização nas proteínas: estrutura primária, secundária, terciária e quaternária. A estrutura primária é a forma da proteína que acaba de ser sintetizada na célula. Esta forma contém aminoácidos unidos por ligações peptídicas e em algumas proteínas, também por pontes (ligações) dissulfeto. Esta ligação covalente (em Bioquímica Básica 36 alguns casos referidos também como interação química) ocorre através de uma reação química entre os grupamentos sulfidrila (SH) das cadeias laterais dos aminoácidos cisteína que estão próximos na cadeia polipeptídica, criando uma ligação covalente entre dois átomos de enxofre (S-S). Cada estrutura primária é formada de acordo com a informação genética contida nos genes do organismo. Atualmente, é conhecida a estrutura primária de centenas de proteínas. A primeira a ter a sua estrutura elucidada foi a insulina, com duas cadeias peptídicas, uma com 21 e outra com 30 aminoácidos, contendo três pontes dissulfeto. A forma primária de uma proteína ainda não tem função. Para ter função esta forma deverá assumir uma conformação final: secundária, terciária ou quaternária. Abaixo um modelo de dobramento de uma proteína sem forma definida e consequentemente sem função (estrutura primária) para uma forma terciária (figura 4). Figura 4: Dobramento (enovelamento) de uma proteína. A estrutura primária (proteína recém-sintetizada na célula) assumindo a forma final terciária. Esta figura é representada como modelo em fita. Fonte: www.dc205.4shared.com, acesso em 18/10/2014. A estrutura secundária pode se apresentar como dois modelos: a α-hélice e a folha-β (ou β-pregueada). Em ambos os modelos a estrutura secundária é estabilizada por pontes de hidrogênio. Na estrutura α-hélice, as pontes de http://www.dc205.4shared.com/ Bioquímica Básica 37 hidrogênio ocorrem entre o oxigênio da região C=O da ligação peptídica de um aminoácido e o hidrogênio da região N-H da ligação peptídica de outro aminoácido, distantes quatro aminoácidos entre si, criando uma forma helicoidal, daí o nome hélice (figura 5). Além disso, nesta conformação costumam ocorrer com freqüência interações eletrostáticas entre cadeias laterais de cargas opostas e interações hidrofóbicas entre cadeias laterais apolares dos aminoácidos, pois em ambos os casos estas cadeias laterais estão distantes três ou quatro aminoácidos, fazendo com que estas interações possam ocorrer e assim contribuir para a configuração da hélice. A folha-β é bemdiferente da alfa hélice, pois é quase totalmente distendida ao invés de enrolada. A folha-β é estabilizada por pontes de hidrogênio entre grupos N-H e C=O de 2 ou mais moléculas polipeptídicas adjacentes, estas que podem estar paralelas (no mesmo sentido) ou antiparalelas (sentidos opostos), enquanto que nas α-hélices as pontes de hidrogênio entre grupos N-H e C=O são na mesma molécula (figura 5). As formas secundárias, também conhecidas como estruturas fibrosas, são conhecidamente insolúveis em água. A explicação se baseia no fato destas proteínas apresentarem muitos aminoácidos com cadeias laterais apolares, tanto no interior quanto na superfície da proteína assim como a maioria das cadeias laterais polares dos aminoácidos estarem no interior da proteína, escondidas da água, dificultando ainda mais a interação da água com a proteína. Bioquímica Básica 38 α β Figura 5: As conformações secundárias das proteínas. Na conformação A, encontra-se a α-hélice e na conformação B encontra-se a folha-β no modelo antiparalelo. Ambas as formas são estabilizadas por pontes de hidrogênio. As regiões R representam as cadeias laterais dos aminoácidos. Fonte: www.bioquimica.faculdade.zip.net, acesso em 19/10/2014. O colágeno, proteína mais abundante dos vertebrados (representa mais de 30% do total de proteínas), encontrado na pele, dentina, córnea, tendões, cartilagens e ossos é uma proteína fibrosa. O colágeno é classificado em 12 tipos (I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI e XII), sendo o tipo I o mais comum, amplamente distribuído pelo http://www.bioquimica.faculdade.zip.net/ Bioquímica Básica 39 corpo. Cada molécula de colágeno pode se apresentar como uma estrutura em hélice simples ou conter três cadeias polipeptídicas (tripla hélice) enroladas uma em torno da outra, criando uma estrutura chamada super-hélice (também referida como estrutura quaternária do colágeno), bastante resistente, estabilizadas por pontes de hidrogênio e algumas ligações covalentes cruzadas (figura 6). Analisando a sua composição química, encontram-se muitos aminoácidos com cadeia lateral apolar, incluindo 35% de glicina, 11% de alanina e 21% de prolina/4-hidroxiprolina, o que, em parte, explica sua insolubilidade em água. No corpo humano, o colágeno desempenha várias funções como, por exemplo, unir e fortalecer tecidos. A deficiência de colágeno no organismo leva a um quadro de colagenose, gerando má formação óssea, rigidez muscular, inflamação de juntas ósseas etc. Na formação do colágeno é necessária a participação da vitamina C. Sob a deficiência desta vitamina, pode ocorrer o escorbuto, uma doença cujos sintomas vão desde hemorragias na gengiva, fragilidade dos vasos sanguíneos até a morte. Mutações nos genes relacionados ao colágeno levam a produção de proteínas anormais. A osteogênese imperfeita é uma doença rara (1:25.000 nascimentos) relacionada a um defeito na síntese de colágeno tipo I, que leva a uma formação óssea anormal em bebês, com conseqüentes fraturas e deformidades ósseas. Já a doença Ehlers- Danlos (1:3.000.000 nascimentos) se caracteriza por um defeito na síntese de colágeno tipo I, III ou IV, levando a frouxidão em ligamentos, hipotonia muscular, desvios de coluna etc. Bioquímica Básica 40 Figura 6: Estrutura do colágeno. Em A, está o colágeno evidenciando os seus principais aminoácidos. Em B, está a representação das três moléculas adjacentes de colágeno e em C a união das três moléculas, criando a super-hélice. Fonte: www.bifi.es, acesso em 19/10/2014. A queratina, outra proteína fibrosa, é encontrada nos animais, na pele, cabelos, unhas, garras, chifres, cascos e penas. Sua composição de aminoácidos revela um alto número dos aminoácidos hidrofóbicos alanina, valina, leucina, isoleucina, fenilalanina e metionina. A queratina apresenta duas cadeias polipeptídicas enroladas em espiral, contendo ligações covalentes cruzadas através de um grande número de pontes dissulfeto, conferindo à molécula alta resistência. A elastina é uma proteína fibrosa encontrada em vários locais do corpo dos animais vertebrados como no pavilhão auditivo, na epiglote, em algumas cartilagens e nas artérias elásticas. Tal como o colageno, ela é produzida pelos fibroblastos do tecido conectivo (derme). A elastina se caracteriza por formar fibras mais finas que aquelas formadas pelo colágeno. Essas fibras cedem bastante à tração, mas retornam à forma original quando é cessada a força, portanto a elastina http://www.bifi.es/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Epiglote http://pt.wikipedia.org/wiki/Art%C3%A9ria http://pt.wikipedia.org/wiki/Col%C3%A1geno Bioquímica Básica 41 confere a estas fibras elasticidade e resistência. Assim como o colágeno e a queratina, a elastina é uma proteína composta na sua maioria por aminoácidos com cadeia lateral apolar (glicina, valina, alanina e prolina). A estrutura terciária das proteínas é conhecida como estrutura globular ou enovelada. As proteínas terciárias são solúveis em água por apresentarem a maioria dos aminoácidos com cadeias laterais hidrofóbicas voltadas para o interior da proteína, enquanto a maioria das cadeias laterais polares está exposta, facilitando a interação da água por pontes de hidrogênio e interações eletrostáticas. Proteínas enoveladas podem conter várias regiões α-hélice, várias regiões folha-β ou uma mistura das duas regiões. Encontramos neste modelo de proteína um alto número de interações entre as cadeias laterais dos aminoácidos, incluindo as pontes dissulfeto, interações hidrofóbicas, pontes de hidrogênio e interações eletrostáticas, isto porque os aminoácidos que estão distantes na proteína podem interagir nesta forma terciária devido ao enovelamento poder aproximar aminoácidos muito distantes, até mesmo o primeiro e o último aminoácido da cadeia polipeptídica. A mioglobina, uma proteína pequena, com 153 aminoácidos e um grupo heme (consiste de uma estrutura orgânica cíclica, a protoporfirina, no qual se encontra um átomo de ferro no estado ferroso, Fe ++ , capaz de se ligar reversivelmente ao oxigênio) é um exemplo de estrutura terciária (figura 7). Sua estrutura molecular mostra 78% de regiões α-hélice e sem regiões folha-β. Presente no citoplasma das células musculares, a mioglobina é uma proteína transportadora e armazenadora de oxigênio nos músculos estriados do corpo (músculos esqueléticos e cardíacos). O interior da molécula é bastante apolar, contendo muitos aminoácidos leucina, valina, metionina e fenilalanina; já o exterior da molécula é bastante polar. Esta proteína não contém pontes dissulfeto, porém apresenta várias interações hidrofóbicas, interações eletrostáticas e pontes de hidrogênio. O citocromo C, uma proteína de 104 aminoácidos, é também uma proteína terciária contendo heme. A proteína está relacionada com a cadeia respiratória mitocondrial e funciona como uma transportadora de elétrons (esta função será estudada nas próximas unidades). Apenas cerca de 40% da proteína é formada por α-hélice; o restante da proteína não contém folhas-β, no entanto é composta por segmentos enovelados irregularmente e estendidos. Bioquímica Básica 42 Diferente do observado na mioglobina e no citocromo C, a lisozima, uma proteína terciária de 129 aminoácidos, contém tanto regiões α-hélice quanto folhas- β. Enquanto as regiões α-hélice são representadas por espirais, as regiões folhas-β são representadas por setas (figura 7). Esta proteína está presente na saliva, lágrima e na clara do ovo e atua como bactericida, quebrando ligações químicas de moléculas chamadas peptidoglicano, presentes na parede celular de bactérias Gram + , como por exemplo, bactérias dos gêneros Estafilococos e Estreptococos. A estrutura quaternária das proteínas se refere à união de duas ou mais cadeias polipeptídicasterciárias, podendo chegar a centenas de cadeias polipeptídicas terciárias agrupadas. Sendo assim, a estrutura quaternária é também chamada de globular, enovelada ou solúvel e possui as mesmas interações químicas encontradas na estrutura terciária. A primeira proteína quaternária a ter a sua estrutura decifrada foi a hemoglobina. Esta proteína, de 574 aminoácidos, presente nas hemácias, contém quatro cadeias terciárias, sendo duas de 141 aminoácidos (cadeias α) e duas de 146 aminoácidos (cadeias β), estabilizadas por pontes de hidrogênio e interações eletrostáticas (figura 7). Apesar das cadeias terem estas denominações, em nada se refere às estruturas secundárias estudadas anteriormente, pois a hemoglobina não apresenta regiões folha-β, mas somente regiões α-hélice. Cada cadeia polipeptídica contém um grupamento heme, capaz de ligar ao oxigênio. Sua função é a de transportar oxigênio dos pulmões para os tecidos e gás carbônico dos tecidos para os pulmões para liberação pela respiração. Enquanto a mioglobina apresenta alta afinidade pelo oxigênio, a hemoglobina apresenta afinidade que aumenta à medida que o primeiro oxigênio se liga, facilitando a ligação dos outros oxigênios. De modo inverso, a saída do primeiro oxigênio da hemoglobina para os tecidos facilita a liberação dos demais. A ligação dos oxigênios à hemoglobina é afetada por vários fatores: assim que o sangue atinge os tecidos, moléculas de CO2 se difundem para as hemácias, causando redução do pH nos tecidos. Esta redução do pH favorece a liberação do oxigênio da hemoglobina. Quando as hemácias chegam aos pulmões, o CO2 liberado aumenta o pH e consequentemente aumenta a ligação de novas moléculas de O2 à hemoglobina. Este efeito do pH e da concentração de CO2 sobre a ligação e liberação de O2 pela hemoglobina é chamada de efeito Bohr; o 2,3-BPG (2,3-bifosfoglicerato, produzido à partir do 1,3-bifosfoglicerato, que será estudado Bioquímica Básica 43 nas próximas unidades) regula a ligação do oxigênio à hemoglobina. Nas hemácias o 2,3-BPG diminui a afinidade do oxigênio à hemoglobina por se ligar a hemoglobina desoxigenada, mas não à hemoglobina já com oxigênio. Ao nível do mar, nos pulmões, a quantidade de O2 liberada nos tecidos está em 40% do máximo que pode ser transportada pelo sangue. Em grandes altitudes, a entrega de O2 diminui, entretanto um aumento na concentração de 2,3-BPG diminui a afinidade da hemoglobina pelo O2, facilitando a entrega do O2 da hemoglobina para os tecidos e melhorando a respiração no ambiente com pouco oxigênio. Figura 7: As estruturas moleculares da mioglobina, lisozima e hemoglobina (representação em fita). A mioglobina (A) e a lisozima (B) são proteínas terciárias por serem somente formadas por uma única proteína enovelada. Já a hemoglobina (C) é uma proteína quaternária por ser formada por mais de uma proteína terciária (neste caso, formada por quatro proteínas terciárias). A estrutura heme da mioglobina e as cadeias laterais dos aminoácidos no local de ligação da lisozima à parede celular das bactérias Gram+ estão mostradas em vermelho. As regiões α-hélice são representadas por espirais enquanto as regiões folhas-β são representadas por setas. Fonte: Lehninger, Princípios de Bioquímica. Várias enfermidades são associadas a problemas relacionados à hemoglobina e são conhecidas como hemoglobinopatias: na anemia falciforme, uma mutação nos genes para as cadeias β da hemoglobina (localizados no cromossomo 11) faz com que estas cadeias apresentem uma modificação de ácido glutâmico (aminoácido com cadeia lateral polar) para valina (aminoácido com cadeia lateral apolar) no 6º aminoácido das duas cadeias β da hemoglobina. Em condições de baixa tensão de oxigênio as moléculas de hemoglobina agregam-se levando à formação de polímeros fibrosos de hemoglobina com precipitação destas moléculas e conseqüente deformação das hemácias para uma forma de foice, provocando isquemia local, hemólise acentuada, coágulos, acidentes vasculares cerebrais dentre Bioquímica Básica 44 outros problemas, levando em alguns casos a morte. Já as talassemias são doenças relacionadas à hemoglobina por serem caracterizadas pela redução ou ausência da síntese das cadeias α ou β da hemoglobina, levando a quadros de anemia desde leve até profunda, hepatomegalia, esplenomegalia e outros problemas também potencialmente fatais. Desnaturação de proteínas As proteínas podem sofrer desnaturação. A desnaturação é a perda da estrutura da proteína (através do rompimento de suas interações químicas, com exceção das ligações peptídicas) com consequente perda parcial ou total da sua função biológica. O aquecimento do ovo revela um modelo de desnaturação. A ovalbumina da clara do ovo é um exemplo de proteína que, ao sofrer desnaturação, não renatura mais. A clara do ovo antes de ser submetida à alta temperatura é líquida e incolor, mas, ao ser aquecida, se torna branca e sólida, evidenciando a desnaturação da proteína. No entanto, ao resfriarmos o ovo, a clara não volta mais a ser líquida e transparente. A febre alta pode causar uma leve desnaturação de algumas proteínas do corpo. Vários agentes químicos e físicos podem causar desnaturação em uma proteína. Dentre eles, podemos citar: a) alteração no pH: rompe interações eletrostáticas e pontes de hidrogênio na proteína; b) alta temperatura: rompe interações eletrostáticas, interações hidrofóbicas e pontes de hidrogênio na proteína; c) detergentes: rompem interações hidrofóbicas na proteína; d) solventes orgânicos: rompem interações hidrofóbicas na proteína; e) redutores: rompem pontes dissulfeto na proteína; f) metais pesados: rompem interações eletrostáticas na proteína; Bioquímica Básica 45 g) radiações: dependendo da radiação (U.V, X, gama) pode romper qualquer interação química na proteína. A modelagem do cabelo em um salão de beleza é um processo que envolve desnaturação. O cabelo é submetido a um agente redutor (geralmente tioglicolato, guanidina, formol etc) e também à alta temperatura (com auxílio de touca térmica). Deste modo, rompem-se todas as interações (interações eletrostáticas, interações hidrofóbicas, pontes dissulfeto e pontes de hidrogênio) da queratina. Após certo tempo, remove-se o agente redutor, aplica-se um agente oxidante e resfria-se o cabelo, restaurando a conformação em α-hélice da queratina, mas com pontes dissulfeto em locais diferentes do usual na queratina, por isso consegue-se moldar o fio do jeito que se deseja. Algumas proteínas podem, ao ser removido o agente redutor, sofrer renaturação, recuperando a sua forma nativa e consequentemente a sua função biológica. A ribonuclease, uma proteína terciária secretada pelo pâncreas e liberada no intestino delgado para a quebra de RNAs oriundos da dieta é um exemplo de proteína que consegue se renaturar. Enzimas As enzimas são moléculas capazes de acelerar reações químicas, catalisando reações tanto dentro quanto fora das células (por exemplo, em lúmen de órgãos). Com exceção de alguns RNAs com atividade catalítica, todas as enzimas são proteínas. As enzimas podem acelerar uma reação química no mínimo 10 6 vezes em relação à mesma reação não catalisada, algumas enzimas aceleram a reação na ordem de 10 17 vezes. Alguns aspectos importantes sobre as enzimas incluem: 1. Alto grau de especificidade; 2. Catálise de reações de síntese e degradação de moléculas; 3. Conservação e transformação de energia química; Bioquímica Básica 46 4. Algumas doenças são o resultado da ausência de uma ou mais enzimas e outras pelo excesso da atividade de uma determinada enzima; 5. Muitos medicamentos e toxinas exercem seu efeito biológico através da interação com enzimas; 6. Algumas enzimas são utilizadas no diagnóstico de doenças através da medidada sua atividade; 7. São ferramentas importantes na indústria química, no processamento de alimentos e na agricultura; 8. Possuem mecanismo de renovação, desempenhando a mesma função consecutivamente, sem serem consumidas no processo. Cada organismo vivo produz centenas de enzimas em pequenas quantidades. Os microorganismos podem produzir enzimas em quantidades muito altas e as excretar no ambiente como mecanismo de digestão extracelular. As enzimas são classificadas de acordo com as reações que catalisam em seis classes (tabela 2). Uma classe bastante conhecida é a das hidrolases. Estas enzimas utilizam a água para a quebra de ligações químicas. No tubo digestivo, praticamente todas as enzimas são hidrolases, quebrando, com o auxílio da água, proteínas, triglicerídeos, fosfolipídios, oligossacarídeos, polissacarídeos e outras moléculas. Nos lisossomos das células, há cerca de 50 tipos diferentes de hidrolases, por isso esta organela tem a função primordial de digestão intracelular. Tabela 2: Classes de enzimas Classes Subclasses Óxido-redutases desidrogenases, oxidases, peroxidases, catalase, oxigenases, hidroxilases Transferases transaldolases e transcetolases, acil, metil, glicosil e fosforiltransferases, quinases, fosfomutases Hidrolases esterases, glicosidases, peptidases, fosfatases tiolases, fosfolipases, amidases, desamidases ribonucleases Liases descarboxilases, aldolases, hidratases, desidratases sintases, liases Isomerases racemases, epimerases, isomerases, mutases Ligases sintetases, carboxilases Bioquímica Básica 47 As óxido-redutases catalisam reações de oxidação e redução entre moléculas; as transferases transferem grupos funcionais entre doadores e aceptores, sendo os grupos amino, acil, fosfato, carbono e glicosil, os principais resíduos transferidos; as hidrolases usam a água para a clivagem hidrolítica de ligações C-O, C-N, O-P e C-S; as liases adicionam ou removem os elementos da água, de amônia ou de dióxido de carbono para a formação ou rompimento de ligações duplas; as isomerases catalisam isomerizações de vários tipos, entre elas as interconversões cis-trans e aldose-cetose e as ligases estão envolvidas em reações de síntese, nas quais duas moléculas são unidas, às custas do ATP. Como as enzimas funcionam? As enzimas atuam em moléculas específicas chamadas substratos. Devido à alta especificidade das enzimas, a maioria reage com apenas um substrato, no entanto algumas enzimas podem ter mais de um substrato. Durante a reação, os substratos se convertem em produtos. A ligação do substrato na enzima ocorre em uma região da enzima chamada sítio ativo (ou centro ativo), contendo várias cadeias laterais de aminoácidos capazes de ligação ao substrato por interações eletrostáticas, interações hidrofóbicas ou pontes de hidrogênio (figura 8). A reação enzimática é esquematizada como se segue: onde E = enzima, S = substrato e P = produto. A enzima não se altera durante o curso da reação, somente o substrato, este que se torna produto. Bioquímica Básica 48 Figura 8: Interação enzima-substrato. Na figura acima, o substrato se liga na enzima em um local chamado sítio ativo, formando o complexo ES. Em seguida ocorre a catálise, formando um produto da reação que é liberado do sítio ativo da enzima. Fonte: www.biologiaufsj.blogspot.com, acesso em 20/10/2014. Existem dois modelos de interação enzima substrato: o modelo chave- fechadura e o modelo do ajuste induzido. No primeiro modelo, o substrato se encaixa perfeitamente no sítio ativo da enzima; no segundo modelo o substrato induz uma pequena alteração conformacional na enzima, promovendo o reposicionamento dos aminoácidos do sítio ativo para que o substrato se encaixe na enzima (figura 9). http://www.biologiaufsj.blogspot.com/ Bioquímica Básica 49 Figura 9: Modelos de interação enzima-substrato. Fonte: www.docentes.esalq.usp.br, acesso em 19/10/2014. Algumas enzimas são designadas pela incorporação do sufixo “ase” ao nome do substrato no qual elas atuam. Por exemplo, a enzima maltase atua quebrando a maltose, a amilase quebra o amido, a β-galactosidase (lactase) quebra a lactose etc. Em outros casos a designação é devido à reação que catalisa, por exemplo, glicose 6-fosfatase remove o fosfato do carbono 6 da glicose. Para uma enzima atuar são necessários alguns requerimentos: pH ideal, temperatura ideal, substrato disponível e em alguns casos a presença de um cofator, uma coenzima ou ambos. O pH e a temperatura ideais são necessários devido ao fato de alterações nestes parâmetros levarem a quebra de interações da proteína (desnaturação) e consequente perda da atividade enzimática. Enzimas humanas têm sua atividade ótima em temperaturas entre 36,5 e 37,5. Com relação ao pH, algumas enzimas como a pepsina tem atividade ótima em pH próximo de 2,0 enquanto tripsina (uma proteína do suco entérico) tem atividade ótima em pH próximo de 8,0. Deste modo, a influência da temperatura e do pH na atividade das enzimas pode ser vista em gráficos onde a atividade ótima de uma enzima ocorre em temperatura e pH ideais (figura 10). http://www.docentes.esalq.usp.br/ Bioquímica Básica 50 Figura 10: Influência da temperatura e do pH na atividade das enzimas. As enzimas são testadas em diferentes temperaturas e pHs, fornecendo gráficos onde as curvas mostram atividade ótima das enzimas em temperatura e pH específicos. Fora do ponto ótimo as enzimas vão perdendo a atividade por estarem sofrendo desnaturação. Fonte: www.dc347.4shared.com, acesso em 20/10/2014. Os cofatores são íons importantes para o funcionamento de algumas enzimas (tabela 3). Estes íons alteram o sítio ativo da enzima ou finalizam o encaixe correto do substrato na enzima. Tabela 3: Algumas enzimas e seus cofatores Enzimas Cofatores (elementos inorgânicos) citocromo oxidase Cu +2 catalase, peroxidase Fe +2 ou Fe +3 piruvato quinase K + hexoquinase Mg +2 arginase Mn +2 urease Ni +2 Álcool desidrogenase Zn +2 As coenzimas são moléculas derivadas de vitaminas (daí a importância de muitas vitaminas na nossa dieta). As coenzimas, seus precursores e as reações nas quais estão envolvidas se encontram na tabela abaixo: http://www.dc347.4shared.com/ Bioquímica Básica 51 Tabela 4: Algumas enzimas e suas coenzimas Enzimas Coenzimas Precursores dietéticos Grupos químicos transferidos Piruvato Desidrogenase Tiamina Pirofosfato (TTP) Tiamina (vitamina B1) Aldeídos Isocitrato Desidrogenase Nicotinamida Adenina Dinucleotideo (NAD) Niacina (vitamina PP) Íon hidreto (:H-) Acetil CoA Carboxilase Coenzima A Ácido Pantotênico (vitamina B5) Acilas Piruvato Carboxilase Biocitina Biotina (vitamina H) CO2 Succinato Desidrogenase Flavina Adenina Dinucleotideo (FAD) Riboflavina (vitamina B2) Elétrons e prótons Glicogênio Fosforilase Piridoxal Fosfato Piridoxina (vitamina B6) Grupos amino Timidilato Sintase Tetrahidrofolato Ácido fólico (vitamina B9) Grupos de 1 C De acordo com a termodinâmica, as enzimas aceleram as reações químicas convertendo substrato em produto através da diminuição da energia de ativação das reações químicas. Esta está relacionada com quanta barreira existe para o substrato se converter em produto. Mudança na energia de ativação (ou energia livre de ativação, representada por ΔG ‡ ) acontece quando a enzima interage com substrato, estabilizando o substrato em uma forma que permitirá a formação de produto. Este é chamado estado de transição. Quanto mais estável é o estado de transição, menos energia será necessária para a conversão de substrato em produto e mais rápida será a reação. A velocidade de uma reação é então inversamente proporcional ao valor de sua energia livre de ativação: quantomaior o valor de ΔG ‡ , menor será a velocidade da reação (figura 11). Bioquímica Básica 52 Figura 11: Diagrama de uma reação catalítica, mostrando o nível de energia em cada etapa da reação. Normalmente, o substrato necessita de uma quantidade elevada de energia para conseguir chegar ao estado de transição, decaindo depois até a um produto final. A enzima estabiliza o estado de transição, diminuindo a energia de ativação, assim reduzindo o valor de energia necessário para que se formem os produtos. ΔG'º: energia livre padrão na bioquímica; ΔG‡: energia de ativação Fonte: www.lookfordiagnosis.com, acesso em 20/10/2014. A cinética enzimática (estudo da atividade de uma reação enzimática) mostra indiretamente a especificidade das enzimas, o mecanismo de ação, os fatores que podem afetar a velocidade das reações, a concentração de substrato ideal para a dosagem de uma enzima etc. A relação entre a velocidade de uma reação enzimática (conversão de substrato em produto por tempo) e a concentração do seu substrato foi definida por Leonor Michaelis e Maud Menten. Em experimentos cinéticos, se mede a velocidade inicial (Vo) da reação em função do aumento do substrato. Em concentrações baixas de substrato, a Vo aumenta com o aumento do substrato até que a reação tenha uma quantidade de substrato na qual a enzima não consegue ser mais veloz na formação de produto, atingindo assim a velocidade máxima (Vmax) da reação (figura 12). Bioquímica Básica 53 Enzimas com mais de um substrato apresentam diferentes velocidades e afinidades, refletindo em mudanças na cinética (figura 12). Cada enzima tem uma Vmax e um Km específicos, levando-se em consideração as condições de temperatura e pH ideais. Figura 12: Cinética enzimática. Em A, o efeito da concentração do substrato na velocidade inicial catalisada por uma enzima é mostrada em uma curva onde à medida que se aumenta o substrato, a velocidade da reação aumenta até que em um dado momento todas as enzimas estarão ocupadas com substrato (saturadas), atingindo assim a Vmax. O Km é a concentração de substrato necessária para a enzima trabalhar na metade da Vmax e reflete a afinidade da enzima pelo seu substrato. Um baixo Km significa uma alta afinidade da enzima pelo substrato e vice-versa. Em B, cinética da enzima hexoquinase com dois substratos: glicose e frutose. O Km para glicose é de 0,15 mM e para frutose é de 1,5mM (ambos não mostrados). Isso significa que é necessária uma concentração de 0,15mM de glicose para que metade da enzima disponível encontre-se ligada a glicose, formando o complexo ES, no entanto é necessária uma concentração de frutose 10 vezes maior, ou seja, 1,5mM. A hexoquinase tem, portanto, afinidade muito maior pela glicose do que pela frutose. Fontes: www.dc349.4shared.com e www.ebah.com.br, acessos em 20/10/2014. As enzimas intracelulares e extracelulares costumam trabalhar com concentrações baixas de substrato, ou seja, nunca estão saturadas de substrato. O Kcat (constante catalítica) avalia a eficiência catalítica de uma enzima, representando o número de moléculas de substrato convertidas em produto por segundo, por http://www.dc349.4shared.com/ http://www.ebah.com.br/ Bioquímica Básica 54 enzima. A constante catalítica de uma enzima pode ser desde muito baixa (Kcat S -1 = 299 para a enzima citidina desaminase) até muito alta (Kcat S -1 = 1.000.000 para a enzima anidrase carbônica). A relação Kcat/Km (constante de especificidade) relaciona a eficiência catalítica da enzima com a sua afinidade pelo substrato. Se Kcat S -1 for alto e o Km for baixo, o resultado será uma alta eficiência catalítica da enzima pelo seu substrato. Por exemplo, a enzima anidrase carbônica, tem valor de Kcat/Km alto (8,3 x 10 7 ), portanto alta eficiência, enquanto a urease tem valor de Kcat/Km baixo (4,5 x 10 5 ), portanto baixa eficiência. As enzimas podem ser inibidas. Inibidores são substâncias que reduzem ou inibem completamente a atividade de uma enzima. Alguns medicamentos como analgésicos, antimicrobianos, antivirais, redutores de colesterol, assim como algumas moléculas encontradas em venenos de serpentes, cobras, escorpiões e plantas são conhecidamente inibidoras de enzimas. Leitura complementar DEVLIN, T. Manual de bioquímica com correlações clínicas. Edgard Blucher, 2007. HARPER, H. A. Bioquímica. Atheneu, 2002. LEHNINGER, A.L. Princípios de Bioquímica. Worth publishers, 2006. STRYER, L. Bioquímica. Guanabara Koogan, 2004. VOET, D., VOET, J.G., PRATT, C.W. Fundamentos de Bioquímica. Artmed, 2002. É HORA DE SE AVALIAR Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Bioquímica Básica 55 Exercícios – Unidade 2 1. A figura a seguir representa a unidade formadora de uma importante biomolécula. Sobre o grupo de moléculas representado por essa figura, é CORRETO afirmar que a) o grupo é base do código genético. b) o grupo não pode ser sintetizado por todos os organismos humanos. c) apenas sem ele há atividade celular. d) esse grupo forma o DNA. e) o grupo é a unidade básica das proteínas. 2. Recentemente, houve grande interesse por parte dos obesos quanto ao início da comercialização do medicamento Xenical no Brasil. Esse medicamento impede a metabolização de um terço da gordura consumida pela pessoa. Assim, pode-se concluir que o Xenical inibe a ação da enzima: a) Maltase b) Protease Bioquímica Básica 56 c) Lipase d) Amilase e) Sacaridase 3. As enzimas são proteínas com capacidade de acelerar reações químicas nas células e foram necessárias na atividade metabólica e na formação das primeiras células. Dentre as opções abaixo a única que NÃO é um requerimento para a atividade de uma enzima é: a) Substrato b) PH ideal c) Temperatura ideal d) Ambiente aquoso e) Solvente orgânico 4. Modificar a queratina e assim alterar a forma do cabelo é bioquímica pura!!! Na queratina existe um número grande de aminoácidos cisteína. Estes quando próximos uns dos outros interagem através do elemento enxofre de suas cadeias laterais. Para modificar a forma do cabelo, é necessário o rompimento destas interações para depois refazê-las de modo diferente ao anterior. Este tipo de interação entre os aminoácidos cisteína é chamada: Bioquímica Básica 57 a) Ligação peptídica b) Ponte de hidrogênio c) Ponte dissulfeto d) Interação eletrostática e) Interação hidrofóbica 5. As proteínas são formadas pela união de moléculas de aminoácidos e desempenham diversos papéis no organismo, como função estrutural, enzimática, imunológica, dentre outras. De acordo com os seus conhecimentos sobre as proteínas, marque a alternativa errada. a) As proteínas podem diferir uma das outras nos seguintes aspectos: quantidade de aminoácidos na cadeia polipeptídica; tipos de aminoácidos presentes na cadeia polipeptídica e sequência de aminoácidos na cadeia polipeptídica b) Os aminoácidos essenciais são aqueles que um organismo não consegue produzir c) A ligação entre dois aminoácidos vizinhos em uma molécula de proteína é chamada de ligação peptídica e se estabelece sempre entre um grupo amina de um aminoácido e o grupo carboxila do outro aminoácido d) Todas as enzimas são proteínas, sendo que muitas são proteínas simples e outras conjugadas. Bioquímica Básica 58 e) No final da reação, a molécula do produto se separa da enzima, que é descartada pelo organismo. 6. Consideram-se aminoácidos essenciais para um determinado organismo, aqueles: a) De que ele necessita e sintetiza a partir de vitaminas b) De que ele necessita, mas não consegue sintetizar, tendo que recebê-los em sua dieta c) De
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