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Minha Biblioteca: Esquematizado - Direito do Trabalho ■ 2.6. ESTAGIÁRIO O estágio, regulado pela Lei n. 11.788, de 25.09.2008, é definido como o “ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos” (art. 1º). O estágio também pode ser realizado por estudantes estrangeiros regularmente matriculados em cursos superiores no país, autorizados ou reconhecidos, sempre observado o prazo de vigência do visto temporário de estudante (art. 4º). Podem oferecer estágio, na condição de parte concedente (art. 9º): ■ pessoas jurídicas de direito privado; ■ órgãos da administração pública direta, autárquica e fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; ■ profissionais liberais de nível superior devidamente registrado em seus respectivos conselhos de fiscalização profissional. São objetivos do estágio: ■ ao fazer parte do projeto pedagógico do curso, integrar o itinerário formativo do educando (§ 1º, art. 1º); ■ ao visar o aprendizado de competências próprias da atividade profissional e a contextualização curricular, desenvolver o educando para a vida cidadã e para o trabalho (§ 2º, art. 1º). O estágio classifica-se em: ■ estágio obrigatório — aquele definido como tal no projeto do curso, cuja carga horária é requisito para aprovação e obtenção do diploma (§ 1º, art. 2º); ■ estágio não obrigatório — aquele desenvolvido como atividade opcional, acrescida à carga horária regular e obrigatória (§ 2º, art. 2º). Observação: As atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na educação superior, desenvolvidas pelo estudante, somente poderão ser equiparadas ao estágio em caso de previsão no projeto pedagógico do curso (§ 3º, art. 2º). A figura do estagiário ocupa uma posição singular no universo das relações de trabalho, tendo em vista que sua prestação de serviço pode reunir todas as características da relação de emprego (pessoalidade, não eventualidade, subordinação e remuneração, esta última se o estágio for remunerado), mas, mesmo assim, a relação jurídica existente entre ele e a parte concedente não é de emprego, tendo em vista os objetivos educacionais que revestem a contratação. O objetivo do estágio é, essencialmente, a complementação do ensino teórico recebido nas escolas, com a experiência prática obtida no concedente do estágio. No entanto, no caso de desvirtuamento do estágio, com a frustração inequívoca da sua finalidade, desaparece o tratamento especial conferido pelo legislador, decorrendo o reconhecimento do vínculo de emprego e dos direitos trabalhistas assegurados a todos os empregados. Assim, o estágio não cria vínculo empregatício de qualquer natureza, desde que observados os seguintes requisitos (art. 3º): ■ matrícula e frequência regular do educando no curso; ■ celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte concedente do estágio e a instituição de ensino (o termo será firmado pelo estagiário ou com seu representante ou assistente legal e pelos representantes da parte concedente e da instituição de ensino — art. 16); ■ compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas previstas no termo de compromisso; ■ acompanhamento efetivo pelo professor orientador da instituição de ensino e por supervisor da parte concedente, comprovado por meio de vistos nos relatórios obrigatórios. O reconhecimento do vínculo empregatício em caso de desvirtuamento do estágio não se verifica, porém, quando o concedente é ente da Administração Pública direta ou indireta. OJ SDI-1 366, TST: “Ainda que desvirtuada a finalidade do contrato de estágio celebrado na vigência da Constituição Federal de 1988, é inviável o reconhecimento do vínculo empregatício com ente da Administração Pública direta ou indireta, por força do art. 37, II, da CF/1988, bem como o deferimento de indenização pecuniária, exceto em relação às parcelas previstas na Súmula n. 363 do TST, se requeridas”. A contratação de estagiários, com exceção dos estágios de nível superior e de nível médio profissional, deve limitar-se a um número máximo, atendendo a uma proporção em relação ao quadro de pessoal (empregados) da parte concedente, considerada em relação a cada estabelecimento (art. 17): ■ de 1 a 5 empregados: 1 estagiário; ■ de 6 a 10 empregados: até 2 estagiários; ■ de 11 a 25 empregados: até 5 estagiários; ■ acima de 25 empregados: até 20% de estagiários (em caso do cálculo resultar em fração, será feito arredondamento para o número inteiro imediatamente superior). Observação: Das vagas de estágio oferecidas pela parte concedente, 10% são asseguradas às pessoas portadoras de deficiência (§ 5º, art. 17). São obrigações da parte concedente do estágio (art. 9º): ■ celebrar termo de compromisso com a instituição de ensino e educando, zelando por seu cumprimento; ■ ofertar instalações que tenham condições de proporcionar ao educando atividades de aprendizagem social, profissional e cultural; ■ indicar funcionário de seu quadro de pessoal, com formação ou experiência profissional na área de conhecimento desenvolvida no curso do estagiário, para orientar e supervisionar até 10 estagiários simultaneamente; ■ contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais, cuja apólice seja compatível com valores de mercado, conforme fique estabelecido no termo de compromisso (no caso de estágio obrigatório, o seguro pode ficar sob responsabilidade da instituição de ensino); ■ por ocasião do desligamento do estagiário, entregar termo de realização do estágio com indicação resumida das atividades desenvolvidas, dos períodos e da avaliação de desempenho; ■ manter à disposição da fiscalização documentos que comprovem a relação de estágio; ■ enviar à instituição de ensino, com periodicidade mínima de 6 meses, relatório de atividades, com vista obrigatória ao estagiário. São obrigações da instituição de ensino (art. 7º): ■ celebrar termo de compromisso com o educando ou com seu representante ou assistente legal e com a parte concedente, indicando as condições de adequação do estágio à proposta pedagógica do curso, à etapa e modalidade de formação escolar do estudante e ao horário e calendário escolar; ■ avaliar as instalações da parte concedente do estágio e sua adequação à formação cultural e profissional do educando; ■ indicar professor orientador, da área a ser desenvolvida no estágio, como responsável pelo acompanhamento e avaliação das atividades do estágio; ■ exigir do educando a apresentação periódica, em prazo não superior a 6 meses, de relatório das atividades; ■ zelar pelo cumprimento do termo de compromisso, reorientando o estagiário para outro local em caso de descumprimento de suas normas; ■ elaborar normas complementares e instrumentos de avaliação dos estágios de seus educandos; ■ comunicar à parte concedente do estágio, no início do período letivo, as datas de realização de avaliações escolares ou acadêmicas. O estágio não poderá, em relação à mesma parte concedente, ter duração superior a 2 anos, exceto quando se tratar de estagiário portador de deficiência (art. 11). O art. 13 da Lei n. 11.788/2008 traz importante inovação ao prever o direito a um recesso, que será remunerado sempre que o estagiário receber bolsa ou outra forma de contraprestação, e que terá a seguinte duração: ■ estágio com duração igual ou superior a 1 ano — recesso de 30 dias; ■ estágio com duração inferior a 1 ano — recesso proporcional ao tempo de estágio. Em relação à jornada de atividade do estagiário, o art. 10 da Lei n. 11.788/2008 dispõe que deve ser definida de comum acordo entre a instituição de ensino, a parte concedente e o aluno ou seu representante legal, devendo constar dotermo de compromisso e ser compatível com as atividades escolares. O limite da duração da jornada de atividade do estagiário é assim definida: MODALIDADE DE ESTÁGIO DURAÇÃO DA JORNADA DE ATIVIDADE ■ Educação especial ■ Anos finais do ensino fundamental, na modalidade de educação de jovens e adultos ■ 4 horas diárias, 20 horas semanais ■ Ensino superior ■ Educação profissional de nível médio ■ Ensino médio regular ■ 6 horas diárias, 30 horas semanais ■ Qualquer um dos cursos, desde que alternem teoria e prática e desde que haja previsão no projeto pedagógico do curso e da instituição de ensino ■ Até 40 horas semanais, nos períodos em que não estão programadas aulas presenciais ■ Qualquer um dos cursos ■ Reduzida pelo menos à metade, nos períodos de verificações de aprendizagem periódicas ou finais Em relação ao pagamento de uma bolsa ou outra forma de contraprestação ao estagiário, o art. 12 da Lei n. 11.788/2008 prevê: CLASSIFICAÇÃO DO ESTÁGIO BOLSA/OUTRA FORMA DE CONTRAPRESTAÇÃO ■ Estágio não obrigatório ■ Concessão compulsória de bolsa ■ Concessão compulsória de vale- transporte ■ Concessão facultativa de vale- alimentação, plano de saúde e outros benefícios ■ Estágio obrigatório ■ Concessão facultativa de bolsa ■ Concessão facultativa de vale- transporte, vale-alimentação, plano de saúde e outros benefícios O estagiário pode inscrever-se e contribuir como segurado facultativo do Regime Geral da Previdência Social (§ 2º, art. 12, Lei n. 11.788/2008). As normas relacionadas à saúde e segurança no trabalho são de aplicação obrigatória em relação ao estagiário, sendo sua implementação de responsabilidade da parte concedente (art. 14, Lei n. 11.788/2008). ■ 2.7. PEQUENO EMPREITEIRO Pequeno empreiteiro é a pessoa física que, como profissional autônomo, executa, só e pessoalmente (ou, no máximo, com algum auxiliar), a empreitada, de valor econômico não elevado. A pequena empreitada é relação de natureza civil. Trata- se de típico contrato de empreitada, mas no qual o serviço prestado é de pequena monta, o valor da retribuição pelos serviços é pequeno e o trabalhador é mais humilde. O contrato de empreitada, embora se trate de pequena empreitada, não gera vínculo de emprego entre o trabalhador e o tomador do serviço. Tal regra somente deixa de prevalecer no caso de fraude, ou seja, na hipótese da chamada “falsa empreitada”. Caso se verifique tratar-se de contrato de empreitada simulado, deve-se reconhecer a relação de emprego, assegurando ao trabalhador todos os direitos trabalhistas. Por fim, cumpre ressaltar que o art. 652, a, III, da CLT prevê, desde muito antes da nova redação do art. 114 da Constituição Federal, dada pela Emenda Constitucional n. 45/2004, a competência da Justiça do Trabalho para conhecer e julgar lides resultantes de contratos de empreitada em que o empreiteiro seja operário ou artífice, ou seja, nos casos de pequena empreitada. ■ 2.8. COOPERATIVAs DE trabalho A Constituição Federal de 1988, no Título que trata da ordem econômica e financeira, fixa como comando ao legislador infraconstitucional o apoio e o estímulo ao cooperativismo. Nesse sentido, a Lei n. 5.764, de 16.12.1971, que dispõe sobre a criação e o funcionamento de cooperativas sociais, visando à integração social dos cidadãos, a Lei n. 9.867, de 10.11.1999, e a Lei n. 12.690, de 19.07.2012, que dispõe sobre a organização e o funcionamento das Cooperativas de Trabalho e institui o Programa Nacional de Fomento às Cooperativas de Trabalho (PRONACOOP). Também o Código Civil de 2002 contém disposições sobre as sociedades cooperativas (arts. 1.093 a 1.096). As cooperativas, que são formadas pela reunião de pessoas que se unem a partir de um vínculo de solidariedade e de ajuda mútua, têm inegável função econômica. No entanto, a despeito desta função econômica, o cooperativismo se funda, entre outras coisas, na ideia de ausência de lucro. Nesse sentido, a Lei n. 5.764/71 prevê que “celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro” (art. 3º). Conforme expressamente previsto no art. 4º, da Lei n. 5.764/71, as cooperativas: ■ são sociedades de pessoas; ■ com forma e natureza jurídica próprias; ■ de natureza civil; ■ não sujeitas a falência; ■ constituídas para prestar serviços aos associados. As cooperativas distinguem-se das demais sociedades em razão das seguintes características e princípios: ■ adesão voluntária; ■ número limitado de associados; ■ variabilidade do capital social representado por quotas-partes; ■ limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado; ■ inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros estranhos à sociedade; ■ singularidade de voto. De acordo com o disposto no parágrafo único do art. 442 da CLT, “qualquer que seja o ramo de atividade da sociedade cooperativa, não existe vínculo empregatício entre ela e seus associados, nem entre estes e os tomadores de serviços daquela”. No mesmo sentido já dispunha o art. 90 da Lei n. 5.764/71. As cooperativas podem ser empregadoras e, nessa condição, “igualam-se às demais empresas em relação aos seus empregados para os fins da legislação trabalhista e previdenciária” (art. 91, Lei n. 5.764/71). As cooperativas podem ser classificadas em: cooperativa de consumo, cooperativa de crédito e cooperativa de trabalho. Considera-se cooperativa de trabalho a sociedade constituída por trabalhadores para o exercício de suas atividades laborativas ou profissionais com proveito comum, autonomia e autogestão para obterem melhor qualificação, renda, situação socioeconômica e condições gerais de trabalho (art. 2º, Lei n. 12.690/2012). A autonomia da cooperativa de trabalho deve ser exercida de forma coletiva e coordenada, mediante a fixação, em Assembleia Geral, das regras de funcionamento da cooperativa e da forma de execução dos trabalhos (§ 1º, art. 2º, Lei n. 12.690/2012). Considera-se autogestão o processo democrático pelo qual a Assembleia Geral define as diretrizes para o funcionamento e as operações da cooperativa, e os sócios decidem sobre a forma de execução dos trabalhos (§ 2º, art. 2º, Lei n. 12.690/2012). As cooperativas de trabalho podem ser: de produção, quando constituída por sócios que contribuem com o trabalho para a produção em comum de bens e a cooperativa detém, a qualquer título, os meios de produção; ou de serviço, quando constituída por sócios para a prestação de serviços especializados a terceiros, sem a presença dos pressupostos da relação de emprego (art. 4º, Lei n. 12.690/2012). Não são consideradas como cooperativas de trabalho: as cooperativas de assistência à saúde na forma da legislação de saúde suplementar; as cooperativas que atuam no setor de transporte regulamentado pelo poder público e que detenham, por si ou por seus sócios, a qualquer título, os meios de trabalho; as cooperativas de profissionais liberais cujos sócios exerçam as atividades em seus próprios estabelecimentos; e as cooperativas de médicos cujos honorários sejam pagos por procedimento (art. 1º, parágrafo único, Lei n. 12.690/2012). As cooperativas de trabalho, que poderão ser constituídas com um número mínimo de sete sócios (art. 6º, Lei n. 12.690/2012), regem-se pelos seguintes princípios e valores (art. 3º, Lei n. 12.690/2012): ■ adesão voluntária e livre; ■ gestão democrática; ■ participação econômica dos membros; ■ autonomia e independência; ■ educação, formação e informação; ■ intercooperação; ■ interesse pela comunidade; ■ preservação dos direitos sociais, do valor social do trabalho e da livre-iniciativa; ■ não precarização do trabalho; ■ respeito às decisões de assembleia; ■ participação na gestão em todos os níveis de decisão de acordo com o previsto em lei e no Estatuto Social. Tendo a cooperativa de trabalho por finalidade a prestação de serviços a tomadores diversos, sua contratação caracteriza inegávelhipótese de terceirização, que é perfeitamente lícita. No entanto, a cooperativa de trabalho não pode ser utilizada para intermediação de mão de obra subordinada (art. 5º, Lei n. 12.690/2012). Nesse sentido, Mauricio Godinho Delgado afirma que: “comprovado que o envoltório cooperativista não atende às finalidades e princípios inerentes ao cooperativismo (princípio da dupla qualidade e princípio da retribuição, por exemplo), fixando, ao revés, vínculo caracterizado por todos os elementos fático-jurídicos da relação de emprego, esta deverá ser reconhecida, afastando-se a simulação perpetrada”. A cooperativa de trabalho que intermediar mão de obra subordinada e os contratantes de seus serviços estarão sujeitos a multa (art. 17, § 1º, Lei n. 12.690/2012), sendo que a constituição ou utilização de cooperativa de trabalho para fraudar deliberadamente a legislação trabalhista, previdenciária ou o disposto na Lei específica acarretará aos responsáveis as sanções penais, cíveis e administrativas cabíveis, sem prejuízo da ação judicial visando a dissolução da cooperativa (art. 18, Lei n. 12.690/2012). A cooperativa de trabalho deve assegurar aos sócios os seguintes direitos, além de outros que a Assembleia Geral venha a instituir (art. 7º, Lei n. 12.690/2012): ■ retiradas não inferiores ao piso da categoria profissional e, na ausência deste, não inferiores ao salário mínimo, calculadas de forma proporcional às horas trabalhadas ou às atividades desenvolvidas; ■ duração do trabalho normal não superior a 8 horas diárias e 44 horas semanais, exceto quando a atividade, por sua natureza, demandar a prestação de trabalho por meio de plantões ou escalas, facultada a compensação de horários; ■ repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos (exceto para os casos em que as operações entre o sócio e a cooperativa sejam eventuais, salvo decisão assemblear em contrário); ■ repouso anual remunerado (exceto para os casos em que as operações entre o sócio e a cooperativa sejam eventuais, salvo decisão assemblear em contrário); ■ retirada para o trabalho noturno superior à do diurno; ■ adicional sobre a retirada para as atividades insalubres ou perigosas; ■ seguro de acidente de trabalho. As atividades das cooperativas de serviço, quando prestadas fora do estabelecimento da cooperativa, deverão ser submetidas a uma coordenação com mandato nunca superior a um ano ou ao prazo estipulado para a realização dessas atividades, eleita em reunião específica pelos sócios que se disponham a realizá-las, em que serão expostos os requisitos para sua consecução, os valores contratados e a retribuição pecuniária de cada sócio partícipe (art. 7º, § 6º, Lei n. 12.690/2012). As cooperativas de trabalho devem observar as normas de saúde e segurança do trabalho previstas na legislação em vigor e em atos expedidos pelas autoridades competentes, sendo que o contratante de cooperativa de serviço responde solidariamente pelo cumprimento das normas de saúde e segurança do trabalho quando os serviços forem prestados no seu estabelecimento ou em local por ele determinado (arts. 8º e 9º, Lei n. 12.690/2012). ■ 2.9. TERCEIRIZAÇÃO Terceirização é a contratação de trabalhadores por interposta pessoa, ou seja, o serviço é prestado por meio de uma relação triangular da qual fazem parte o trabalhador, a empresa terceirizante (prestadora de serviços) e a tomadora dos serviços. O trabalhador presta serviços para a tomadora, mas sempre por intermédio da empresa terceirizante, não havendo contratação direta neste caso. Trata-se, portanto, de uma subcontratação de mão de obra. O trabalho não é prestado por meio de uma relação bilateral, como tradicionalmente ocorre na relação de emprego. No Brasil, por muito tempo não houve lei disciplinando a terceirização de forma genérica. As hipóteses de subcontratação previstas na CLT (art. 455, que trata da empreitada e da subempreitada, e o art. 652, a, III, que trata da pequena empreitada) referiam-se a situações peculiares que eram consideradas como embrião da ideia e do modelo de terceirização utilizado nos dias de hoje. Da mesma forma, a Lei n. 6.019/74 (trabalho temporário), em sua redação original, e a Lei n. 7.102/83 (terceirização de serviços de vigilância bancária) tratam de situações específicas e não abrangiam todas as hipóteses e possibilidades de subcontratação de mão de obra. No entanto, a inexistência de uma legislação mais abrangente não impediu que nas décadas de 1980 e 1990 fosse verificado um aumento crescente da terceirização de serviços, o que levou o Poder Judiciário a examinar a questão de uma forma mais aprofundada, tendo o Tribunal Superior do Trabalho pacificado o entendimento jurisprudencial a respeito, primeiramente, pelo Enunciado 256 e, posteriormente, pela Súmula 331, que revisou o entendimento constante do Enunciado 256. Assim, diante da ausência de uma regulamentação legislativa, por muito tempo os contornos da terceirização foram definidos a partir da análise do posicionamento jurisprudencial consolidado pelo TST, pela Súmula 331, que assim dispunha: Súmula 331, TST: “I — A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei n. 6.019, de 03.01.1974). II — A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988). III — Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei n. 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. IV — O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste também do título executivo judicial. V — Os entes integrantes da Administração Pública direta e indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta culposa no cumprimento das obrigações da Lei n. 8.666, de 21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada. VI — A responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes da condenação referentes ao período da prestação laboral”. A Súmula 331 do TST adotou como critério para a definição da licitude ou ilicitude da terceirização a distinção entre atividades-fim e atividades-meio do tomador de serviço. No entanto, diante da diversidade de atividades que hoje são terceirizadas, nem sempre foi tarefa fácil conceituar atividades-fim e atividades-meio. Apesar do inegável esforço da doutrina em apresentar definições com o intuito de delimitar a abrangência de cada um desses termos, o fato é que a jurisprudência não foi capaz, ao longo do tempo, de sedimentar um entendimento sobre o que, em uma empresa, poderia ser considerado como atividade-fim e como atividade-meio, tudo dependendo de cada caso concreto, havendo entendimentos bastante divergentes no âmbito da jurisprudência, o que gerava uma insegurança em relação à terceirização, tanto para os tomadores de serviço, como para as empresas prestadoras e para os trabalhadores em si. Assim, depois de muitas discussões e controvérsias, finalmente foram promulgadas as Leis n. 13.429/2017 e 13.467/2017, que, alterando a Lei n. 6.019/74, passaram a prever as regras sobre terceirização em nosso País. Assim, com a regulamentação legal, deixa de ser aplicada a Súmula 331, TST, sendo a partir de agora os contornos e as regras sobre terceirização derivados de lei. Considera-se prestação de serviços aterceiros a transferência feita pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que possua capacidade econômica compatível com a sua execução (art. 4º-A, Lei n. 6.019/74). Em razão das previsões das Leis n. 13.429/2017 e n. 13.467/2017 não há mais, portanto, diferenciação entre terceirização em atividade-fim e em atividade-meio, sendo permitida a terceirização em qualquer atividade da empresa tomadora de serviços, ainda que esta seja sua atividade principal. Tal ampliação das possibilidades de terceirização é confirmada pelo legislador quando este define o contratante (tomador dos serviços), assim dispondo: “Contratante é a pessoa física ou jurídica que celebra contrato com empresa de prestação de serviços relacionados a quaisquer de suas atividades, inclusive sua atividade principal” (art. 5º-A, Lei n. 6.019/74). As referidas Leis têm aplicação imediata a partir de sua promulgação, o que significa que as contratações de serviços terceirizados não têm mais restrições no que tange à inserção ou não nas atividades-fim das tomadoras de serviço. As situações pretéritas não estão, por óbvio, abrangidas pela nova legislação, já que as mesmas têm efeito para o futuro. No entanto, em 30.08.2018, o STF encerrou o julgamento referente à ADPF 324 e ao RE 958.252, analisando em ambos a constitucionalidade da terceirização na denominada atividade-fim. Tais ações envolviam processos que tinham como objeto a terceirização na atividade-fim anteriores à entrada em vigor das Leis n. 13.429/2017 e n. 13.467/2017. Na ocasião, por maioria de votos (7 a 4), o STF entendeu pela constitucionalidade da terceirização da atividade-fim, fixando a seguinte tese de repercussão geral (Tema 725): “É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da contratante”. Assim, não se configura vínculo empregatício entre os trabalhadores, ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo, e a empresa contratante (art. 4º-A, § 2º, Lei n. 6.019/74 e Tema 725 de Repercussão Geral). No entanto, continua não podendo haver pessoalidade e subordinação direta com o tomador de serviços, sob pena de, com fundamento no art. 9º, CLT, ser reconhecido o vínculo de emprego diretamente com este. Além da capacidade econômica compatível com a execução dos serviços terceirizados, são requisitos para o funcionamento da empresa de prestação de serviços a terceiros (art. 4º-B, Lei n. 6.019/74): prova de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ); ■ registro na Junta Comercial; ■ capital social compatível com o número de empregados, de acordo com os seguintes parâmetros: a) empresa com até dez empregados — capital mínimo de R$ 10.000,00 (dez mil reais); b) empresas com mais de dez e até vinte empregados — capital mínimo de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais); c) empresas com mais de vinte e até cinquenta empregados — capital mínimo de R$ 45.000,00 (quarenta e cinco mil reais); d) empresas com mais de cinquenta e até cem empregados — capital mínimo de R$ 100.000,00 (cem mil reais); e) empresas com mais de cem empregados — capital mínimo de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais). A empresa prestadora de serviços contrata, remunera e dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, ou subcontrata outras empresas para a realização desses serviços (art. 4º-A, § 1º, Lei n. 6.019/74). Verifica-se que a lei, ao autorizar a prestadora de serviços a subcontratar outras empresas, prevê a possibilidade de “quarteirização” de serviços. De toda forma, em qualquer caso, seja quando os serviços são prestados diretamente pelos empregados da empresa prestadora de serviços, seja quando prestados por empregados de empresas subcontratadas por aquela, como visto acima, não pode haver pessoalidade e subordinação direta entre o trabalhador e a tomadora de serviços, sob pena de caracterização do vínculo de emprego entre eles. Não pode figurar como contratada a pessoa jurídica cujos titulares ou sócios tenham, nos últimos dezoito meses, prestado serviços à contratante na qualidade de empregado ou trabalhador sem vínculo empregatício, exceto se os referidos titulares ou sócios forem aposentados (art. 5º-C, Lei n. 6.019/74). Da mesma forma, em relação à contratação de antigos empregados da contratante como empregados da contratada a Lei estabelece uma restrição, determinando que o empregado que for demitido não poderá prestar serviços para esta mesma empresa na qualidade de empregado de empresa prestadora de serviços antes do decurso de prazo de dezoito meses, contados a partir da demissão do empregado (art. 5º-D, Lei n. 6.019/74). O contrato de prestação de serviços conterá (art. 5º-B, Lei n. 6.019/74): qualificação das partes; especificação dos serviços a ser prestado; prazo para a realização do serviço, quando for o caso; ■ valor. É vedada à contratante a utilização dos trabalhadores em atividades distintas daquelas que foram objeto do contrato com a empresa prestadora de serviços (art. 5º- A, § 1º, Lei n. 6.019/74). Nos termos do art. 4º-C, Lei n. 6.019/74, são assegurados aos empregados da empresa prestadora de serviços, quando e enquanto os serviços, que podem ser de qualquer uma das atividades da contratante, forem executados nas dependências da tomadora, as mesmas condições: ■ relativas a: a) alimentação garantida aos empregados da contratante, quando oferecida em refeitórios; b) direito de utilizar os serviços de transporte; c) atendimento médico ou ambulatorial existente nas dependências da contratante ou local por ela designado; d) treinamento adequado, fornecido pela contratada, quando a atividade o exigir; ■ sanitárias, de medidas de proteção à saúde e de segurança no trabalho e de instalações adequadas à prestação do serviço. Nos contratos que impliquem mobilização de empregados da contratada em número igual ou superior a 20% (vinte por cento) dos empregados da contratante, esta poderá disponibilizar aos empregados da contratada os serviços de alimentação e atendimento ambulatorial em outros locais (não sendo necessário que seja nas suas próprias dependências), desde que tais locais sejam apropriados e com igual padrão de atendimento, com vistas a manter o pleno funcionamento dos serviços existentes (art. 4º-C, § 2º, Lei n. 6.019/74). Contratante e contratada poderão estabelecer, se assim entenderem, que os empregados da contratada farão jus a salário equivalente ao pago aos empregados da contratante, além de outros direitos (art. 4º-C, § 1º, Lei n. 6.019/74). Pagamento de salário equivalente ou de isonomia salarial depende, pois, de ajuste expresso entre as partes contratantes, não havendo que se falar em direito a equiparação salarial. Nesse contexto, o STF decidiu, por maioria de votos, que não é possível a equiparação de direitos trabalhistas entre terceirizados e empregados de empresa pública. O entendimento foi firmado no julgamento do Recurso Extraordinário 635.546, com repercussão geral reconhecida (Tema 383). Prevaleceu, no julgamento, o voto do ministro Luís Roberto Barroso, constando do voto que “exigir que os valores de remuneração sejam os mesmos entre empregados da tomadora de serviço e da contratada significa, por via transversa, retirar do agente econômico a opção pela terceirização para fins de redução de custos (ou, ainda, incentivá-lo a não ter qualquer trabalhador permanente desempenhando a mesma atividade)”. O voto ressalta ainda que a decisão proferida na ADPF 324 ressalvou expressamente alguns direitos que devem ser assegurados em igualdade de condições aos empregados da empresa tomadora de serviços e da contratada, como treinamentos, material e normas de segurança e saúde no trabalho. Esse entendimento, no entanto, não se aplica à remuneração. “Os mesmos princípios — da liberdade de iniciativae livre concorrência — vedam que se imponha à contratada as decisões empresariais da tomadora do serviço sobre quanto pagar a seus empregados, e vice- versa”. Os serviços contratados poderão ser executados nas instalações físicas da empresa contratante ou em outro local, de comum acordo entre as partes (art. 5º-A, § 2º, Lei n. 6.019/74). No entanto, em qualquer caso, é de responsabilidade da contratante garantir as condições de segurança, higiene e salubridade dos trabalhadores (art. 5º-A, § 3º, Lei n. 6.019/74). Não há qualquer restrição na legislação em relação a quem pode ser contratante dos serviços terceirizados. Assim, empresas privadas, administração pública e entidades sem finalidade lucrativa podem terceirizar. A empresa contratante é subsidiariamente responsável pelas obrigações trabalhistas referentes ao período em que ocorrer a prestação de serviços (art. 5º- A, § 5º, Lei n. 6.019/74). Sendo contratante a Administração Pública, no julgamento da Ação Direta de Constitucionalidade (ADC) 16 e do Recurso Extraordinário 760.931, com repercussão geral reconhecida, o STF afastou a responsabilização automática da Administração e condicionou sua condenação à existência de prova inequívoca de conduta omissiva ou comissiva na fiscalização dos contratos de terceirização. De acordo com o entendimento do STF, somente está autorizada a mitigação da regra de não responsabilização, contida no art. 71, § 1º, da Lei de Licitações (Lei n. 8.666/93), se for demonstrado que a Administração Pública teve ciência do reiterado descumprimento de deveres trabalhistas relativamente ao contrato de terceirização e, apesar disso, permaneceu inerte. Em relação ao recolhimento das contribuições previdenciárias, a empresa contratante dos serviços terceirizados deverá reter 11% (onze por cento) do valor bruto da nota fiscal ou fatura de prestação de serviços e recolher, em nome da empresa cedente da mão de obra, a importância retida até o dia 20 (vinte) do mês subsequente ao da emissão da respectiva nota fiscal ou fatura, ou até o dia útil imediatamente anterior se não houver expediente bancário naquele dia (art. 5º-A, § 5º, Lei n. 6.019/74). Hipótese específica a ser analisada é a relativa aos contratos de subempreitada, que se caracterizam como uma forma de terceirização. Trata-se de relação na qual o dono da obra contrata um empreiteiro para realização da obra por empreita e este, por sua vez, subempreita total ou parcialmente o serviço. Os trabalhadores são empregados do subempreiteiro. Diante da situação fática que deriva desta relação, torna- se necessário definir as responsabilidades do subempreiteiro, do empreiteiro principal e do dono da obra em relação aos direitos trabalhistas dos empregados do primeiro. O art. 455, caput, da CLT prevê expressamente: “Nos contratos de subempreitada responderá o subempreiteiro pelas obrigações derivadas do contrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados, o direito de reclamação contra o empreiteiro principal pelo inadimplemento daquelas obrigações por parte do primeiro”. Portanto, o subempreiteiro responde como devedor principal pelos direitos trabalhistas de seus empregados, cabendo a responsabilidade do empreiteiro principal no caso de inadimplemento das obrigações trabalhistas por parte do subempreiteiro. Embora sempre tenha havido discussões a respeito da natureza da responsabilidade do empreiteiro principal — subsidiária ou solidária —, o fato é que diante da previsão geral da Lei n. 6.019/74 (com a redação dada pelas Leis n. 13.429/2017 e 13.467/2017) não resta dúvida tratar-se de hipótese de responsabilidade subsidiária, ou seja, primeiro deve-se cobrar do subempreiteiro e somente depois, se este não pagar, pode-se cobrar do empreiteiro principal. O parágrafo único do art. 455 da CLT assegura ao empreiteiro principal o direito de regresso contra o subempreiteiro e a retenção de importâncias a este devidas, para garantia das obrigações que teve que assumir em relação aos empregados do subempreiteiro. Em relação ao dono da obra, a jurisprudência do TST firmou posicionamento no sentido de não ter ele, como regra, responsabilidade pelos direitos trabalhistas referentes a empregados vinculados ao empreiteiro, seja diretamente, seja indiretamente, por intermédio de subempreitada. No entanto, o TST entende haver responsabilidade do dono da obra quando este for empresa que exerça atividade econômica ligada à construção ou à incorporação. OJ SDI-1 191, TST: “Diante da inexistência de previsão legal específica, o contrato de empreitada de construção civil entre o dono da obra e o empreiteiro não enseja responsabilidade solidária ou subsidiária nas obrigações trabalhistas contraídas pelo empreiteiro, salvo sendo o dono da obra uma empresa construtora ou incorporadora”. ■ 2.10. CONTRATO DE TRABALHO POR EQUIPE O contrato de trabalho por equipe “requer o concurso de um grupo de trabalhadores organizados espontaneamente para realizar um trabalho comum”. O contrato por equipe pode ser utilizado tanto no caso de prestação de serviços autônomos quanto no caso de empreitada ou de relação de emprego (neste caso, é chamado de contrato de trabalho por equipe). Na primeira hipótese, trata-se de contrato de natureza civil, disciplinado pelo direito comum e ficando à margem do Direito do Trabalho. Em se tratando de contrato de trabalho por equipe, estar-se-á diante de uma relação na qual há um vínculo de subordinação. Por tal contrato, os trabalhadores mantêm-se “vinculados ao empregador por uma unidade indissociável de interesses”. A relação jurídica é única e tem por sujeitos, de um lado, o empregador e, de outro lado, o próprio grupo. Tendo em vista que nosso ordenamento jurídico não prevê expressamente o contrato de trabalho por equipe, a doutrina e a jurisprudência majoritárias têm entendido que não se trata de um contrato único, mas, sim, de um feixe de contratos, um conjunto de contratos individuais que são mantidos entre cada empregado e o empregador comum. Como esclarece Mauricio Godinho Delgado, é inquestionável que os objetos de tais contratos vinculam-se em conexão orgânica e a prestação de trabalho somente ganha sentido se efetuada em harmônica integração. Embora seja comum a existência de um líder do grupo, não há hierarquia ou relação de subordinação entre os integrantes da equipe ou grupo, mas, sim, de todos eles em relação ao empregador. A remuneração é paga ao grupo (mesmo que quem receba seja o líder) e distribuída entre seus integrantes na forma de rateio. Exemplo típico de contrato de trabalho por equipe é aquele celebrado com músicos (orquestra, banda, conjuntos musicais). Analisando as características deste tipo de contrato, especificamente em relação à contratação de músicos, Alice Monteiro de Barros indica duas situações distintas: ■ Quando o líder do grupo organiza a orquestra (ou conjunto, ou banda) e oferece os serviços do grupo a terceiro, mas trabalha como os demais músicos, subordinado ao empregador, sem assumir os riscos da atividade econômica, o vínculo de emprego configura-se entre o grupo e o empregador, e não entre o líder e os demais integrantes da equipe. O fato de o líder receber uma remuneração global e distribuir os respectivos valores aos integrantes do grupo não descaracteriza sua condição de empregado, pois ele não lucra com a atividade do grupo, sendo apenas um de seus componentes. ■ Quando o líder do grupo atua como diretor ou chefe, organizando, dirigindo e remunerando a prestação de serviços, estabelecem-se relações individuais de emprego entre ele e cada um dos membros da equipe. Neste caso, a relação entre o contratante do serviço e o grupo será disciplinada pelo Direito Civil, não havendo qualquer responsabilidade trabalhista do tomador dos serviços em relação aos direitos dos integrantes do grupo. Tais direitos são de responsabilidade do diretor ou chefe, que, por manter uma relação de subordinação com os demais músicos, é o seu verdadeiro empregador. ■ 2.11. CONTRATO DE PARCERIANA ÁREA DE BELEZA A Lei n. 12.592/2012, com as alterações da Lei n. 13.352/2016, dispõe sobre o contrato de parceria entre os profissionais que exercem as atividades de cabeleireiro, barbeiro, esteticista, manicure, pedicure, depilador e maquiador (denominados profissionais- parceiros) e pessoas jurídicas registradas como salão de beleza (denominado salão-parceiro). O contrato de parceria será firmado por escrito, devendo ser homologado pelo sindicato da categoria profissional e laboral e, na ausência desses, pelo órgão local competente da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, perante duas testemunhas (art. 1º-A, § 8º, Lei n. 12.592/2012). O profissional-parceiro, mesmo que inscrito como pessoa jurídica, será assistido pelo sindicato de categoria profissional e, na ausência deste, pelo órgão local competente da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia (art. 1º-A, § 9º, Lei n. 12.592/2012). O profissional-parceiro não terá relação de emprego ou de sociedade com o salão-parceiro enquanto perdurar a parceria (art. 1º-A, § 11). Essa é a regra. No entanto, o vínculo de emprego entre a pessoa jurídica do salão- parceiro e o profissional-parceiro será configurado quando não existir contrato de parceria formalizado na forma prevista pela Lei n. 13.352/2016 e quando o profissional-parceiro desempenhar funções diferentes das descritas no contrato de parceria (art. 1º-C, Lei n. 12.592/2012). O contrato de parceria deverá necessariamente conter cláusulas que estabeleçam (art. 1º-A, § 10, Lei n. 12.592/2012): ■ percentual das retenções pelo salão-parceiro dos valores recebidos por cada serviço prestado pelo profissional-parceiro; ■ obrigação, por parte do salão-parceiro, de retenção e de recolhimento dos tributos e contribuições sociais e previdenciárias devidos pelo profissional-parceiro em decorrência da atividade deste na parceria; ■ condições e periodicidade do pagamento do profissional-parceiro, por tipo de serviço oferecido; ■ direitos do profissional-parceiro quanto ao uso de bens materiais necessários ao desempenho das atividades profissionais, bem como sobre o acesso e circulação nas dependências do estabelecimento; ■ possibilidade de rescisão unilateral do contrato, no caso de não subsistir interesse na sua continuidade, mediante aviso prévio de, no mínimo, trinta dias; ■ responsabilidades de ambas as partes com a manutenção e higiene de materiais e equipamentos, das condições de funcionamento do negócio e do bom atendimento aos clientes; ■ obrigação, por parte do profissional-parceiro, de manutenção da regularidade de sua inscrição perante as autoridades fazendárias. Em relação aos pagamentos e recebimentos decorrentes das atividades de prestação de serviços de beleza, a Lei n. 12.592/2012 estabelece que: ■ o salão-parceiro será responsável pela centralização dos pagamentos e recebimentos decorrentes da prestação de serviços pelo profissional-parceiro (art. 1º- A, § 2º); ■ o salão-parceiro realizará a retenção de sua cota-parte percentual, fixada no contrato de parceria, bem como dos valores de recolhimento dos tributos e contribuições sociais e previdenciárias devidos pelo profissional- parceiro incidentes sobre a cota-parte que a este couber na parceria (art. 1º-A, § 3º); ■ a cota-parte retida pelo salão-parceiro ocorrerá a título de atividade de aluguel de bens móveis e de utensílios para o desempenho das atividades de serviços de beleza e/ou a título de serviços de gestão, de apoio administrativo, de escritório, de cobrança e de recebimentos de valores transitórios recebidos de clientes das atividades de serviços de beleza (art. 1º-A, § 4º); ■ a cota-parte destinada ao profissional-parceiro ocorrerá a título de atividades de prestação de serviços de beleza (art. 1º-A, § 4º); ■ a cota-parte destinada ao profissional-parceiro não será considerada para o cômputo da receita bruta do salão-parceiro, ainda que adotado o sistema de nota fiscal unificada ao consumidor (art. 1º-A, § 5º). O profissional-parceiro não poderá assumir as responsabilidades e obrigações decorrentes da administração da pessoa jurídica do salão-parceiro, de ordem contábil, fiscal, trabalhista e previdenciária incidentes, ou quaisquer outras relativas ao funcionamento do negócio (art. 1º-A, § 6º, Lei n. 12.592/2012, incluído pela Lei n. 13.352/2016). Os profissionais-parceiros poderão ser qualificados, perante as autoridades fazendárias, como pequenos empresários, microempresários ou microempreendedores individuais (art. 1º-A, § 7º, Lei n. 12.592/2012, incluído pela Lei n. 13.352/2016). O salão-parceiro é responsável pela preservação e manutenção das adequadas condições de trabalho do profissional-parceiro, especialmente quanto aos seus equipamentos e instalações, possibilitando as condições adequadas ao cumprimento das normas de segurança e de saúde (art. 1º-B, Lei n. 12.592/2012, incluído pela Lei n. 13.352/2016), em especial as normas sanitárias, e a realização de esterilização de materiais e utensílios utilizados no atendimento aos clientes, na forma prevista no art. 4º da Lei n. 12.592/2012. ■ 2.12. QUESTÕES 1. (MPT — Procurador do Trabalho — 2017) Nos termos da lei sobre o trabalho voluntário (Lei n. 9.608/1998) e da Consolidação das Leis do Trabalho, analise as proposições abaixo: I. O trabalho voluntário consiste em atividade não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à pessoa. II. O trabalho voluntário deve ser exercido mediante a celebração de termo de adesão entre a entidade, pública ou privada, e o prestador do serviço voluntário, dele devendo constar o objeto e as condições de seu exercício. III. Caso se façam presentes os requisitos caracterizadores da relação de emprego, o termo de adesão celebrado entre o prestador do serviço voluntário e a entidade, pública ou privada, é anulável, salvo em se tratando de trabalho voluntário prestado a entidade religiosa. IV. O prestador do serviço voluntário poderá ser ressarcido pelas despesas que comprovadamente realizar no desempenho das atividades voluntárias. Assinale a alternativa CORRETA: a) Todas as assertivas estão corretas. b) Apenas a assertiva III está incorreta. c) Apenas as assertivas I, II e III estão corretas. d) Apenas as assertivas III e IV estão corretas. e) Não respondida. 2. (ENAMAT — Magistratura — I Concurso Nacional Unificado — 2017) A Lei n. 12.815/2013 trouxe algumas alterações para o trabalho portuário, considerado pela doutrina como uma relação de trabalho lato sensu. Nessa modalidade, conforme legislação aplicável, a) caso celebrado contrato, acordo ou convenção coletiva de trabalho entre trabalhadores e tomadores de serviços, o disposto no instrumento precederá o órgão gestor e dispensará sua intervenção nas relações entre capital e trabalho no porto. b) o trabalho portuário exercido pelas categorias previstas em lei não detém o enquadramento jurídico coletivo denominado categoria profissional diferenciada, em razão da ausência de dispositivo legal neste sentido. c) o porto organizado poderá contratar trabalhadores portuários avulsos ou com vínculo empregatício, sendo que, neste último caso, não há óbice legal para seleção de pessoal que não esteja registrado no Órgão Gestor de Mão de Obra — OGMO como avulso. d) o operador portuário poderá locar ou tomar mão de obra sob o regime de trabalho temporário de que trata a Lei n. 6.019/1974 nas atividades de bloco ou vigilância de embarcações, mas não poderá fazê-lo nas atividades de capatazia, estiva, conferência de carga e conserto de carga. e) o Órgão Gestor de Mão de Obra — OGMO responde solidariamente com os operadores portuários pela remuneração devida ao trabalhador portuário avulso, pelas contribuições e impostos não recolhidos, mas não por indenizações decorrentes de acidente de trabalho. 3. (ENAMAT— Magistratura — I Concurso Nacional Unificado — 2017) A Lei n. 11.788/2008 congrega disposições específicas acerca do estágio de estudantes, dentre as quais: I. Prevê em favor das pessoas portadoras de deficiência o percentual de 10% das vagas ofertadas pela parte concedente do estágio. II. Consagra a responsabilidade da instituição de ensino interveniente pela implementação das normas afetas à saúde e segurança no trabalho. III. Preceitua que somente se houver previsão no projeto pedagógico do curso, poderá haver equiparação entre estágio e as atividades de extensão, de monitorias e de iniciação científica na educação superior, desenvolvidas pelo estudante. IV. Fixa a proporção de até 20% como quantitativo máximo de estagiários, para as entidades concedentes que contarem com quadro de pessoal de vinte e cinco ou mais empregados. Está correto o que se afirma APENAS em a) I e III. b) II e III. c) II e IV. d) III e IV. e) I e IV. 4. (MPT — Procurador do Trabalho — 2017) Analise as proposições abaixo conforme a lei do estágio de estudantes (Lei n. 11.788/2008): I. Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. II. São requisitos do estágio: matrícula e frequência regular do educando em curso de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e nos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos e atestados pela instituição de ensino; celebração de termo de compromisso entre o educando, a parte concedente do estágio e a instituição de ensino; e compatibilidade entre as atividades desenvolvidas no estágio e aquelas previstas no termo de compromisso. III. O descumprimento de qualquer obrigação contida no termo de compromisso caracteriza vínculo de emprego do educando com a parte concedente do estágio para todos os fins da legislação trabalhista e previdenciária. IV. É compulsória a concessão ao estagiário de bolsa ou outra forma de contraprestação que venha a ser acordada, bem como a de auxílio-transporte, na hipótese de estágio não obrigatório. Assinale a alternativa CORRETA: a) Apenas as assertivas I e II estão corretas. b) Apenas as assertivas I, II e III estão corretas. c) Todas as assertivas estão corretas. d) Apenas as assertivas III e IV estão corretas. e) Não respondida. 5. (TRT — 23ª Região — Magistratura — 2014) Como se sabe, Mato Grosso é uma região rica em produção de grãos e com isso se torna muito comum a utilização de mão de obra dos trabalhadores avulsos. Acerca dessa relação de trabalho, analise as proposições abaixo e ao final assinale a alternativa CORRETA, segundo a Lei que regulamenta especificamente o assunto (Lei 12.023/2009): I. As atividades de movimentação de mercadoria em geral, exercidas por trabalhadores avulsos, são aquelas desenvolvidas em áreas urbanas ou rurais, sem vínculo empregatício, obrigatoriamente intermediadas pelo sindicato da categoria (por meio de acordo ou convenção coletiva) ou pelo órgão gestor de mão de obra (OGMO); II. As mesmas atividades poderão ser exercidas tanto por trabalhadores com vínculo empregatício quanto por trabalhadores avulsos nas empresas tomadoras do serviço; III. O sindicato da categoria profissional realizará a intermediação apenas dos trabalhadores avulsos sindicalizados, já que a regulação da atividade se dará mediante negociação coletiva com empresa tomadora; IV. O tomador do serviço deve pagar à entidade intermediadora os valores devidos pelos serviços prestados pelos trabalhadores avulsos, acrescidos dos percentuais referentes ao repouso remunerado, 13º salário e férias mais 1/3, adicionais de hora extra e trabalho noturno, no prazo de 48 horas úteis contados do término da prestação dos serviços; V. As empresas tomadoras dos serviços avulsos respondem solidariamente pela efetiva remuneração do trabalho contratado, sendo responsáveis ainda pelo recolhimento dos encargos fiscais e sociais, fornecimento de equipamentos de proteção individual e por zelar pelo cumprimento das normas de segurança do trabalho. a) Se I, II e III estiverem corretas; b) Se I, III e IV estiverem falsas; c) Se II, IV e V estiverem corretas; d) Se IV e V estiverem corretas; e) Se III e V estiverem corretas. 6. (TRT — 1ª Região — Magistratura — 2016) De acordo com a Lei n. 12.690/2012, as cooperativas de trabalho devem garantir aos seus sócios, no mínimo: I. Duração normal do trabalho de 8 horas diárias, ressalvada a necessidade de trabalho por meio de plantão ou escala. II. Assistência médica por meio de serviço próprio ou convênio. III. Retirada para o trabalho noturno superior à daquele diurno. IV. Adicional sobre a retirada para as atividades insalubres, perigosas ou penosas. Está correto o que se afirma em: a) I e IV, apenas. b) I, II, III, e IV. c) II e IV, apenas. d) II e III, apenas. e) I e III, apenas. 7. (TRT — 4ª Região — Magistratura — 2016) Considere as assertivas abaixo sobre trabalho portuário. I. Trabalhos de capatazia, estiva, conferência de carga, conserto de carga, bloco e vigilância de embarcações, nos portos organizados, serão realizados por trabalhadores portuários com vínculo empregatício por prazo determinado e por trabalhadores portuários avulsos. II. O órgão de gestão de mão de obra de trabalho portuário avulso responde solidariamente com os operadores portuários pela remuneração devida ao trabalhador portuário avulso e pelas indenizações decorrentes de acidente de trabalho. III. Não há relação jurídica de emprego entre o trabalhador portuário avulso e o órgão de gestão de mão de obra de trabalho portuário avulso, em que pese o órgão poder aplicar aos referidos trabalhadores as penalidades de repreensão verbal ou por escrito, suspensão do registro pelo período de 10 (dez) a 30 (trinta) dias ou cancelamento do registro. Quais são CORRETAS? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas II e III. e) I, II e III. 8. (VUNESP — Prefeitura de São José dos Campos — SP — Procurador — 2019) Nos termos da Constituição Federal: a) o trabalhador avulso tem os mesmos direitos assegurados ao trabalhador temporário. b) não há diferença entre o trabalho avulso e o trabalho eventual. c) o trabalhador avulso tem igualdade de direitos com o trabalhador que possui vínculo empregatício. d) o trabalhador avulso deve ser contratado diretamente pela empresa tomadora dos serviços, sem qualquer intermediação. e) os direitos do trabalhador avulso precisam estar previstos em convenção ou acordo coletivo de trabalho. 9. (NC-UFPR — Prefeitura de Curitiba — PR — Procurador — 2019) Uma empresa prestadora de serviços de asseio e conservação que vinha claudicando financeiramente e atrasando o cumprimento de obrigações trabalhistas, tais como o fornecimento de vale-transporte e vale-refeição, e os depósitos do FGTS, depois de seis meses tornou-se inadimplente, deixando de pagar salários e verbas rescisórias a todos os seus empregados. Entre os tomadores de serviço/contratantes, estava um Município que fiscalizava o contrato por amostragem, que não detectou a situação crítica da contratada, a não ser quando ela “fechou suas portas”. Levando em consideração os dados apresentados e o entendimento dominante do Tribunal Superior do Trabalho, assinale a alternativa correta. a) O município responderá subsidiariamente pelas obrigações daqueles trabalhadores terceirizados que lhe prestaram serviços, pois tinha de ter fiscalizado com eficiência a execução do contrato. b) O Município responderá subsidiariamente pelas obrigações daqueles trabalhadores terceirizados que lhe prestaram serviços, se houver uma cláusula contratual explícita com tal previsão. c) O Município responderásubsidiariamente pelas obrigações daqueles trabalhadores terceirizados que lhe prestaram serviços, pelo mero inadimplemento das obrigações trabalhistas assumidas pela empresa regularmente contratada. d) O município não responderá pelas obrigações daqueles trabalhadores terceirizados que lhe prestaram serviços, ante a regularidade da contratação, observadas as diretrizes da Lei n. 8.666/93. e) O Município não responderá pelas obrigações dos trabalhadores terceirizados, pois fiscalizou a execução do contrato, ainda que por amostragem. ■ GABARITO ■ 1. “b”. 2. “a”. 3. “a”. 4. “c”. 5. “b”. 6. “e”. 7. “d”. 8. “c”. 9. “a”.
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