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1 Lahyse Oliveira 2021.1 Artrite Reumatoide É uma artrite inflamatória, simétrica, poliarticular, deformante. Em geral, acomete as pequenas articulações (mãos e pés). É considerada uma doença de adultos jovens e mulheres, principalmente na pré menopausa. Relação de 3:1 sexo fem/masc. Incidência mais comum: 30-50 anos. Patogenia: É uma doença autoimune mediada pela imunidade celular de Linfócitos T, a partir de uma predisposição genética ligada a vários genes HLA, mas o gene com maior relação é o HLA- DR4. Os gatilhos para manifestação da doença, geralmente são etiologias virais, na qual o Parvovírus e Epstein Bar, são os mais registrados, embora recentemente tenha sido descoberto que, em alguns casos, a CKG pode levar a um artrite reumatoide. Fisiopatologia: O indivíduo com uma suscetibilidade genética, ligada aos HLAs e outros fatores, apresenta uma predisposição a falha na autotolerância. A autotolerância pode ser definida como um “impedimento” do organismo de formar anticorpos contra as suas próprias proteínas/antígenos o que funciona como um mecanismo de proteção. Para que a autotolerância falhe, deve haver um gatilho (fatores ambientais, vírus, infecciosos e tabagismo), que causará a modificação de algumas enzimas que ativam proteínas da membrana celular (citrulinação). Com isso, haverá a formação de anticorpos contra os seus próprios antígenos, mediado por linfócito T e em menor quantidade de linfócito B. O estímulo inflamatório ativa diversas citocinas inflamatórias que atingem a membrana sinovial e a cartilagem, iniciando o processo de destruição. Sinovite e destruição articular A membrana sinovial é uma camada bem fina de células sinoviais ou sinoviocitos, e devido a sua espessura, não é possível palpá-la em condições normais. Em casos de artrite reumatóide ativam- se várias citocinas inflamatórias que tem receptores na membrana sinovial com a presença de vários tipos celulares no local. Como consequência disso, há o espessamento da membrana sinovial por hiperplasia e hipertrofia, e um grande processo inflamatório local, o que recebe o nome de Pannus. As células inflamadas do pannus ativam várias enzimas que tem uma potencial destrutivo para a articulação e a cartilagem. 2 Lahyse Oliveira 2021.2 Citocinas pró-inflamatórias O linfócito T ativa as citocinas TNF-alfa (principal) e IL-1beta. O osteoclasto será ativado causando reabsorção óssea, o que leva formação dessas erosões em cima do osso. Critérios Classificatórios (1984): • rigidez matinal 1 hora • artrite em 3 ou + articulações • artrite em mãos • artrite simétrica • nódulo reumatóide • fator reumatóide • achados radiográficos(erosões) obs: 1 a 4→ mínimo de 6 semanas Esses critérios são utilizados quando se querem uniformar a amostra, por exemplo, por um estudo clínico ou epidemiológico. Contudo, com um paciente isoladamente, não se utiliza esses critérios para não negligenciar o diagnóstico dos pacientes. Novo Critério 3 Lahyse Oliveira 2021.2 Manifestações Clínicas Precoces: • Artrite/sinovite: palpa-se o espessamento da membrana sinovial. • Tendinite • Desabamento do arco medial: O arcomedial é sustentado pelo musculo tibial anterior, assim em caso de um processo inflamatório, ele pode se estender para o tendão causar inflamação e rotura de tendão. Tardias: • Deformidades articulares: desvio ulnar do punho, subluxações, dedo em pescoço de cisne (distensão da interfalangenana proximal e flexão da falange distal), botoeira (flexão da interfalangenana proximal) • Manifestações extra articulares: acontece em 5-10% dos pacientes com a AR e geralmente estão associadas ao fator reumatoide. o pele: nód reumatóide, vasculite peq vasos (mais comum) o olhos: sd sjogren, episclerite o pulmão: nód reum, fibrose, incomum presença de inflamação o sist. nervoso: neuropatia periférica 4 Lahyse Oliveira 2021.2 Exames complementares: Radiológicos: • Rx articular: nos 4 anos iniciais de doença não são pedidos, pois não apresentam alteração. Depois desse tempo, demonstra erosão. • USG: observação mais precoce das erosões. presença do líquido no espaço articular. Power: aumento da atividade do doppler para captar melhor a inflamação, que no caso é a dilatação dos vasos, por isso é importante no quadro inicial da doença. • RNM: observação mais precoce das erosões Laboratoriais • Fator Reumatóide e anti CCP: são os anticorpos e só devem ser pedidos no início da doença para dar o diagnóstico. O aumento do valor não tem nenhuma relação com a evolução da doença. O anti CCP se eleva antes do fator reumatóide. 5 Lahyse Oliveira 2021.2 o Pacientes idosos, doença crônica (sarcoidose, tuberculose), doença autoimune (lúpus, vasculites) podem ter fator reumatoide. o 20% dos pacientes com doença reumatoide, tem fator reumatoide negativo. • VHS, PCR Exames de controle Para a avaliar a atividade da doença: VHS e PCR. Não é necessário repetir FR e Anti CCP. Controle de medicamentos: TGO e TGP (metotrexato pode causar alteração hepática) , hemograma (busca por mielotoxidade), Fundo de olho (em busca de alteração na retina por conta de hidroxicloroquina, feito a cada 6 meses). Tratamento • Anti-inflamatórios: servem momentaneamente. Corticosteróide e AINES • Imunobiológicos: o TNF: Infliximabe, etarnecepte, adalimumabe,golimumabe, certolizumabe ▪ Mecanismo de ação: O TNF, está em amarelo, e se liga aos receptores solúveis, porém ele acaba estimulando a produção dos receptores celulares das células sinoviais. Portanto, como há um excesso de TNF, isso está exacerbado causando destruição. O anti-TNF se liga ao antígeno que está em amarelo. Alguns desses remédios, se ligam no receptor rosa em vez do TNF, evitando a ligação. ▪ Eram os primeiros medicamentos utilizados, mas com o aumento das pesquisas, descobriram os outros que passaram a ser mais utilizados. 6 Lahyse Oliveira 2021.2 o IL-1 :Anankira, tocilizumabe o Co- estimulação: abatacepte o Linf B: rituximabe (age contra o linfócito B, evitando sua a apresentação, muito utilizado no tratamento de linfoma. • DMARDS: droga modificadora da artrite reumatoide. o Difosfato/hidroxicloroquina o Methotrexate, sulfassalazina, ▪ Metotrexato: droga de primeira linha e a de maior controle. Caso o paciente não responda a ele, pode se combinar com os outros remédios. É bom e barato. o Sais de ouro, ciclosporina, o Azatioprina, leflunomide O paciente deve iniciar o tratamento com o DMARDS, e depois tentar o imunobiológico. Alguns guias indicam que antes de usar um imunobiológico, deve se associar os DMARDS entre si, pois o tratamento com imunobiológicos é muito caro. Cuidados: • Infecções • Antimalaricos: depósito da retina • MTX: hepatotoxicidade, mielotoxicidade • Ciclosporina: Insf renal, hipertensão • Azatioprina: mielotoxicidade Outros tratamentos • Cirurgia: o Sinovectomia: indicada para articulação resistente que não responde a medicamento. Retira o pannus. o Artrodese: paciente com grande destruição da articulação e muita dor. Cola da articulação do paciente para melhorar a dor o Realinhamento: realinhar os tendões e articulações. Feito quando há uma sequela muito grande. • Reabilitação: educação, proteção articular, cinesioterapia, órtese, adaptação 7 Lahyse Oliveira 2021.2 Critérios de Remissão da AR • Rigidez matinal ≤ 15 minutos • Sem fadiga • Sem dor articular (por história médica) • Sem dor articular ao movimento • Sem edema articular • VHS o Homens < 30mm/Hora o Mulheres < 20mm/Hora 8 Lahyse Oliveira 2021.2 Espondiloartrites As espondiloartrites tem como característica o envolvimento da coluna. Quando há o envolvimento das articulações, é assimétrico. Apresentauma resposta humoral, com grande quantidade de anticorpos. São um conjuntos de doenças com características semelhantes (quadro clínico + fisiopatologia): Espondilite Anquilosante, Artropatia relacionada com as DII (RCU e DC) (êntero-artrites), Artrite Reativa e Artrite psoriasica. Pontos em comum: • Predisposição genética, todas estão ligas a HLA-B27, diferente de outras doenças autoimunes que costumam ser poligênicas. 90% dos pacientes com espondilite anquilosante tem o HLA-B27, mas nas outras espondiloartrites, a presença é menor. • O envolvimento do esqueleto axial e dar articulação sacro lítica. O envolvimento das demais articular, a artrite periférica, geralmente é assimetria. • Entesite: inflamação das enteses. Entese é a estrutura no final do tendão, onde ele se insere no osso. • É comum a apresenta de manifestações extra articulares: uveite (mais comum), colite e cardite. Espondiloartrites e HLA-B27 8-10% da população branca tem o HLA-B27, o que indica que o gene HLA-B27 está bem mais presente na população geral do que a própria doença da espondilite anquilosante. Por isso, é um risco de pedir marcador genético para investigar doença, já que pode se diagnosticar quem não tem a doença. ESPONDILITE ANQUILOSANTE Doença autoimune inflamatória crônica, com o envolvimento do esqueleto axial e sacroiliacas, geralmente inicia com o envolvimento da sacrilíaca que pode ascender para o restante da coluna. Para ser espondilite anquilosante deve ter o envolvimento do esqueleto axial, diferente das outras espondiloartrites que pode ou não ter o envolvimento axial, assim como o envolvimento periférico é mais frequente nas espondiloartrites. Acomete mais frequentemente homens (11/10:1), na segunda e terceira décadas. Critérios Classificatórios: Critérios de Nova Iorque • Dor lombar inflamatória e rigidez > 3 meses. o Dor lombar é algo muito frequente, está presente em 80% da população e a grande maioria tem causa mecânica. Quando estamos diante de uma lombalgia aguda, a diferenciação deveria ser através da característica da dor (desperta, melhora de manhã ou a noite), porém isso é difícil quando a 9 Lahyse Oliveira 2021.2 dor é muito intensa. À medida que a doença vai cronificando, as dores mecânicas tendem a melhorar e as dores de doença autoimune tendem a piorar. Portanto, a melhor forma de diferenciar é o tempo de cronificar e a rigidez. • Limitação de mobilidade lombar • Limitação expansibilidade torácica • Radiológico: o Sacroiliíte grau ≥ II bilateral o Sacroiliíte grau ≥ III-IV unilateral Etiopatogenia • Genético: HLA- B27 • Ambiental: Bactérias (intestino) • Citocinas: TNF e IL-23 • Neoformação óssea: Via WntDKK-1/Sclerostina O gatilho, nesse caso, são as bactérias da microbiota intestinal. A partir disso, haverá a ativação de linfócitos T e citocinas inflamatórias (TNF e IL-23), o que gera um processo inflamatório que culmina na ativação de osteoblasto. Os osteoblastos irão formar osso (ossificação) em estruturas maleáveis da articulação, o que causa o seu enrijecimento. Estruturas da coluna espinhal normal: • Disco intervertebral em azul • Corpo da vertebra • Articulação zigoapofisária/interapofisária • Ligamento anterior • Ligamento posterior. A inflamação é iniciada nos ligamentos, no corpo da vertebra e nas articulações facetarias. À medida que a doença vai se estabelecido, onde tinha inflamação, se torna calcificação o que progressivamente leva a ossificação da coluna. O paciente então perde a mobilidade e fica todo rígido. Sindesmófitos O osteofito é proveniente da hipereatividade óssea da artrose com crescimento horizontal, a ponto de envergar para a frente formando as espicular ósseas chamadas de bico de papagaio. Ele pode crescer e se juntar com um outro, o que pode levar a interpretação errônea de achar que é um sindesmofito. O sindesmófito, em contraponto, cresce verticalmente ao longo do ligamento e ossifica toda a coluna, o que da aspecto de coluna 10 Lahyse Oliveira 2021.2 em bambu. Portanto, o osteofito vem da osteoartrose e o sindesmofito vem da espondilite anquilosante. Manifestações Clínicas • Articular: Oligoartrite assimétrica de granes articulações. Predomínio axial, Dor lombar de caráter inflamatório, Rigidez após período de repouso; Art periféricas: quadril, joelho, tornozelo • Dactilite: 15 a 50% dos casos. Tem um envolvimento do tendão com uma tenossinovite dos flexores, chamada de dedo em salsicha. É mais comum na artrite psoriasica • Entensite: a mais envolvida é a do calcâneo, popularmente conhecida como tendão de Aquiles. O paciente tem dor no local do tendão e pode subir para a panturrilha. Fibrocartilagem, Periósteo, Sinóvia e Bursa • Uveite: extra articular amis frequente, e costuma ser uveite anterior aguda de repetição. EXAME FÍSICO: Postura em esquiador • Avaliação da mobilidade coluna vertebral: Teste de Schöber (normal > 5), Lateralização da coluna, Rotação cervical, Distância trago-parede, Distância inter- maleolar, Expansibilidade torácica e Distância dedo- chão 11 Lahyse Oliveira 2021.2 • Na espondilite anquilosante, há uma diminuição da amplitude de movimentos Exames Complementares Laboratório – EA • VHS normal ou aumentado • PCR ultrasensivel • HLA B 27(90%)– utilizando que há duvida. Avaliação radiológica Raio X: • Sacroiliite: • Espondilite: sindesmofito. 12 Lahyse Oliveira 2021.2 Ressonância: • Deve ser pedido para a espondiloartrites. ARTRITE PSORIÁSICA • 10-40% dos indivíduos com psoríase – a grande maioria o paciente terá a psoríase, depois a artrite psoriasica, mas isso não impede do oposto acontecer. • Idade 20-45 anos • Periférica: oligoarticular • Axial: semelhante a espondilite • Presença de entesite, dactilite, uveite, conjuntivite ARTRITE REATIVA É um paciente com um quadro infeccioso que estimula o sistema imunológico, o que causa o aparecimento da artrite. Assim, é uma artrite secundaria a infecção, mas não é infecciosa. Essa infecção deve ser do TGI ou Trato urogenital. • Reativa x infecciosa • TGI: salmonela, Yersinia, Salmonela,Shigela, Campilobacter • Trato urogenital: ClamidiaInfecção precede quadro articular 2-6semanas Envolve: • Artrite periférica: oligoarticular, assimétrica, MMII • Esqueleto axial, sacroiliacas • Dactilite, conjuntivite ENTEROPATIA: • Associada a doença inflamatória intestinal. • Periferico: 10-30%. • Axial + sacroiliacas: 5-20%. 13 Lahyse Oliveira 2021.2 Tratamentos das Espôndiloartrites: Medicamentoso: • AINEs • Glicocorticosteróides • Sulfassalazina • Metotrexato • Anti-TNF • Anti IL17, L23 Corticoide não tem uma boa ação. Para a coluna, não adianta dar sulfassalazina, metotrexato ou qualquer outro DMARDS oral. O tratamento devem ser somente o anti-TNF e Anti IL17, L23. Reabilitação: fortalecimento muscular. 14 Lahyse Oliveira 2021.2 Prática Remota Caso 1 ID: MLC, 55 anos, feminina QP: Paciente encaminhada pelo oftalmologista devido a uveíte de repetição. HMA: Há 6 meses vem com quadros de uveíte. Melhora com corticoide e após suspensão volta a apresentar. 3 episódios. Investigação infecciosa negativa. Há 2 semanas vem com quadro de edema em tornozelo esquerdo sendo encaminhada para reumatologista. Nega envolvimento de outras articulações. Nega alt intestnais, genito urinarias. Nega lesões cutâneas. Refere quadro de sinusite e otite nos últimos meses. Exame físico: pele sem alteraçãoes. ACV, Ar e abd sem alterações. Articular: artrite em tornozelo esquerdo. Suspeitas: espôndiloartrites e artrite infecciosa • Para ser artrite reativa, a infecção deve vir o trato gastrointestinal ou geniturinário. • ARTRITE INDIFERENCIADA: é quando tem sintomas de todas as espondiloartrites, mas nãotem os sintomas específicos que leve ela a alguma das quatro doenças. Exceto em casos raros de artrite psoríasica, em que se faz primeiro a artrite e depois a psoríase. Solicitado: Punção articular diagnostica. Hemog, vhs, pcr HLA B27 Trouxe: FAN, FR, ASLO negativo, Hemog, vhs, pcr (levemente aumentado) Diagnóstico: espondiloartrite indiferenciada. Tratamento: metotrexate. Caso 2 ID: ERS, 48 anos, fem, dentista, QP: Paciente com poliartrite, febre e rash. HMA: Na época procurou PA sendo feita HD de febre chikugunya. Medicada com AINE, com melhora parcial das dores. Encaminhada ao reumatologista. Consulta com reumatologista após 2 meses de início do quadro. No exame físico: artrite em IFP e punhos, joelhos, tornozelos, dor lombar e torácica. VHS e PCR elevados. Conduta: prednisona. Retomou com melhora parcial das dores, ainda com dor lombar. Associava com prática de corrida. Prescrito HCQ+ relaxante muscular, reduzido prednisona. Solicitados autoanticorpos. Retornou ainda com dores articulares. FR e ant ccp, FAN negativos. Prescrito MTX. Retornou sem dores em articulações periféricas, porém ainda com dor lombar (lombo sacra). Solicitada RM coluna e sacroiliaca. RMN: sacroilite lateral. 15 Lahyse Oliveira 2021.2 Hipóteses: Sacroileite por CKG? Sacroileite sec espondioartrrite? Conduta: Solicitada HLA b27 e Infiltração de SI Resultado: HLAB 27+ Diagnóstico: espondiloartrite Conduta: infiximabe • Paciente com dor crônica por mais de dois meses, investigar doença autoimune. • Esse é um caso raro de espondiloartrite após Chikungunya.
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