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GESTÃO ORGANIZACIONAL DO DESEMPENHO Patricia Kinast De Camillis Estruturas organizacionais Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Desenvolver a análise interna da organização. Realizar a análise externa da organização. Fazer a análise situacional do modelo de gestão e para identificação de problemas. Introdução Para a efetiva gestão do desempenho organizacional, a análise do am- biente interno, do ambiente externo e do modelo de gestão utilizado é indispensável. Compreender esses elementos, em todos os seus aspectos, é tarefa constante dos gestores de qualquer nível hierárquico, já que só se pode administrar algo com o conhecimento e o entendimento de seus objetivos. Neste capítulo, você terá um olhar sobre a estrutura de uma organi- zação e como esta se relaciona com fatores como tecnologia, ambiente, recursos humanos, cultura e outros elementos. Análise interna da organização O ambiente organizacional é o conjunto de todos os fatores, tanto internos como externos, que podem infl uenciar a realização dos objetivos organizacionais, ou seja, sua análise consiste no processo de monitoramento para identifi car as oportunidades e os riscos atuais e futuros que podem vir a infl uenciar a capacidade das empresas de atingirem suas metas (CERTO; PETER, 2005). Embora façamos a separação entre ambiente interno e externo, devemos ter em mente que ambos se inter-relacionam e, em maior ou menor grau, são interdependentes (Figura 1). Figura 1. Ambiente organizacional. Fonte: Adaptada de Certo e Peter (2005, p. 113). O ambiente interno é composto por elementos, como: trabalhadores, ad- ministradores, cultura organizacional, tecnologia, estrutura organizacional e instalações físicas. É o esforço sistêmico e metódico de ampliação de co- nhecimento dos elementos da organização em relação ao sistema em que ela está situada, isto é, como a empresa se organiza e se estrutura para realizar seus objetivos (CERTO; PETER, 2005). A análise interna da organização pode iniciar com o estudo das áreas funcionais: marketing (administra as relações da empresa com o mercado), produção/operações (administra o fornecimento dos produtos e serviços da empresa a seus clientes e usuários), recursos humanos (administra as relações da empresa com seus colaboradores) e finanças (administra o dinheiro da empresa). Busca-se identificar os pontos fortes (fatores positivos) e fracos (fatores negativos) de cada uma (MAXIMIANO, 2012). Assim, avalia-se os recursos e as competências, bem como as deficiências e vulnerabilidades das áreas. As informações são coletadas via processos sistemáticos de consulta Estruturas organizacionais2 aos colaboradores de todos os níveis, por meio de relatórios gerenciais, dos indicadores de desempenho e, também, da pesquisa de opinião dos clientes (MAXIMIANO, 2012). Áreas funcionais, como marketing, produção e operações, recursos humanos e finanças, são consideradas as mais importantes na maioria das organizações, porém outras áreas, como manutenção, distribuição, controle de qualidade, pesquisa e desenvolvimento, etc., poderão ser incluídas, dependendo do tipo de empresa e das necessidades de análise (MAXIMIANO, 2007). As orga- nizações podem ter outras áreas funcionais, que agrupam recursos e tarefas especializados, podendo estar localizadas dentro das áreas principais citadas, ou serem independentes, por exemplo, a área de manutenção pode estar dentro da área de produção. Para realizar a análise do ambiente interno, precisamos entender quais são as principais atribuições das áreas existentes na organização. O Quadro 1 apresenta algumas das principais tarefas com os possíveis pontos fracos que podem dificultar ou, mesmo, impedir a realização das atividades e da estratégia da organização, segundo Maximiano (2012). Área funcional Principais atribuições Focos potenciais de pontos fracos Produção/ operações Definição da quantidade de produtos e serviços a serem oferecidos. Planejamento e forma de implantação da capacidade produtiva. Planejamento e controle da produção. Operação dos processos produtivos. Arranjo físico do processo produtivo. Arranjo físico, sequência e organização das operações produtivas, utilização dos espaços, métodos de trabalho. Idade das máquinas, equipamentos e instalações. Flexibilidade dos recursos produtivos. Quadro 1. Tarefas e focos potenciais de pontos fracos (Continua) 3Estruturas organizacionais Área funcional Principais atribuições Focos potenciais de pontos fracos Pesquisa e desenvolvimento Definição da linha de produtos e serviços e suas características técnicas. Definição das atividades específicas necessárias para desenvolver o produto/ serviço. Desenvolvimento físico de produtos e serviços. Definição de recursos técnicos (laboratórios, centros de pesquisa e desenvolvimento). Previsão de testes de laboratório e de campo. Desenvolvimento de fornecedores e distribuidores. Número de produtos novos ao longo do tempo, vendas de novos produtos em relação ao total das vendas. Percepção dos clientes em relação aos novos produtos. Integração com as áreas de marketing e produção/ operação. Marketing e vendas Acompanhamento e estudo da concorrência. Análise e seleção de mercado e clientes. Análise e seleção de produtos e serviços. Definição do preço. Definição da estratégia promocional, propaganda e publicidade. Identificação de necessidades. Administração das vendas. Capacidade de atender ao mercado, conhecimento de técnicas de pesquisa de marketing, experiência com o mercado. Desempenho no lançamento de produtos. Recursos humanos Quantidade necessária de pessoas para fornecer produtos e serviços e administrar a organização. Qualificações necessárias para o desempenho eficaz. Estratégia de recrutamentos, seleção, treinamento, desenvolvimento, promoção, etc. Existência de uma área de recursos humanos. Política de administração de recursos humanos. Quadro 1. Tarefas e focos potenciais de pontos fracos (Continuação) (Continua) Estruturas organizacionais4 Embora seja importante analisar os pontos fracos, identificar as forças de cada área funcional e, consequentemente, do ambiente interno é imprescindível, pois, muitas vezes, usando os pontos fortes, podemos amenizar ou eliminar os fracos. Os pontos fortes podem ser identificados a partir da comparação com outras empresas semelhantes, mas, principalmente, a partir da análise dos indicadores de desempenho organizacional. Por exemplo, o “baixo índice de rotatividade dos colaboradores” pode indicar que a empresa tem profissionais Fonte: Adaptado de Maximiano (2007). Área funcional Principais atribuições Focos potenciais de pontos fracos Finanças Custos dos planos funcionais e operacionais. Necessidades de investimento. Custo dos investimentos. Necessidade de financiamento. Impacto sobre o desempenho financeiro da empresa. Fluxo de caixa. Solvência. Liquidez. Retorno sobre o investimento. Compras Compra e controle da qualidade de matéria-prima. Identificação e seleção de fornecedores. Parceira com fornecedores. Conhecimento do mercado de fornecedores. Preço das compras. Administração superior Planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar a realização da estratégia organizacional. Orientação estratégica. Políticas de qualidade, de recursos humanos, de desenvolvimento de produtos, etc. Responsabilidade social e ambiental. Quadro 1. Tarefas e focos potenciais de pontos fracos (Continuação) 5Estruturas organizacionais engajados e que está acertando nas políticas de gestão de pessoas (recursos humanos), o que é um ponto forte em um mundo competitivo de hoje. Outro item importante na análise interna daorganização é a sua estrutura or- ganizacional. De acordo com Chandler (1962 apud MAXIMIANO, 2012, p. 367), “a estrutura segue a estratégia”, ou seja, é o retrato da estratégia, sendo esta implícita (sem planejamento prévio) ou explícita (planejada). O organograma representa a estrutura permanente, com suas unidades de negócio e áreas funcionais, e mostra as áreas em que a empresa está atuando e as formas de lidar com os mercados e os clientes. Por exemplo, uma empresa que dedica uma área específica e destacada para “relacionamento com clientes” ou outra que tem uma área de “relacionamento com investidores”. Além disso, as descrições de cargos refletem as atividades que as pessoas devem realizar no dia a dia e, também, são elementos importantes de análise interna. Uma empresa organizada tem uma estrutura organizacional que define com precisão as responsabilidades, a autoridade e a comunicação das pessoas que nela trabalham. Assim, precisamos entender o organograma da empresa para analisar seus processos internos de autoridade e hierarquia, comunicação e divisão do trabalho e responsabilidades. No exemplo da Figura 2, nota-se que a empresa adotou um modelo de gestão no qual utiliza um RH estratégico (área de gestão de pessoas que dá suporte à realização da estratégia organizacional). Figura 2. Organograma. Fonte: Adaptada de Maximiano (2012, p. 367). Estruturas organizacionais6 A estrutura organizacional também se relaciona com fatores, como tecno- logia, ambiente, recursos humanos, cultura e outros. Como já dito, a estrutura precisa ser definida pela estratégia, que é determinada pelo tipo de negócio e pelos objetivos que, por serem específicos, criam necessidades e tarefas que exigem tipos diferentes de estrutura organizacional. Nesse contexto, é importante conhecermos as estratégias mais usadas. No Quadro 2, consta um resumo, segundo diferentes autores. Fonte: Adaptado de Maximiano (2012, p. 348). Autor Estratégias Significado Ansoff Penetração no mercado. Desenvolvimento de mercado. Desenvolvimento de produto. Diversificação. Exploração de produtos tradicionais em mercados tradicionais. Produtos tradicionais em novos mercados. Produtos novos em mercados tradicionais. Novos produtos em mercados novos. Porter Diferenciação. Liderança do custo. Foco. Identidade forte do produto. Baixos custo e preço do produto. Atuação em nichos de mercado. Miles e Snow Defesa. Prospecção. Análise. Reação. Permanência no mesmo mercado. Busca de novas oportunidades. Atuação em dois tipos de mercado. Incapacidade de fazer ajustes. Certo Estabilidade. Crescimento. Redução de despesas. Permanência no mesmo mercado. Busca de novas oportunidades. Atuação em dois tipos de mercado. Quadro 2. Principais estratégias das organizações 7Estruturas organizacionais Por exemplo, empresas que adotam estratégias de “novos produtos em novos mercados” deverão ter destacadas, em sua estrutura, áreas especificas para tratar sobre pesquisa, desenvolvimento e inovação. Outro fator que afeta a estrutura organizacional é o fator humano, relacio- nado às características dos colaboradores da organização, como a formação acadêmica e experiência profissional. Por exemplo, médicos são diferentes de engenheiros; médicos geralmente trabalham sem supervisão, enquanto enge- nheiros, na maioria das vezes, têm supervisores. Esse entendimento a respeito de formação e experiência nos leva à conexão com outro fator importante, a cultura organizacional, que, para Schein (2009, p. 12), é: [...] cultura é a experiência que o grupo adquire à medida que resolve seus problemas de adaptação externa e integração interna, e que funciona sufi- cientemente bem para ser considerada válida. Portanto, essa experiência pode ser ensinada aos novos integrantes como forma correta de perceber, pensar e sentir-se em relação a esses problemas. Toda organização desenvolve uma cultura e pode ter subculturas. A análise da cultura organizacional é uma tarefa complexa, pois nem todos os seus componentes são observáveis, embora sejam todos relacionados. A Figura 3 mostra os componentes divididos em níveis — quanto mais externo (nível mais alto), mais facilmente observáveis são os componentes. Figura 3. Componentes divididos em níveis. Fonte: Adaptada de Maximiano (2012, p. 429). Estruturas organizacionais8 Começando pelo nível mais alto, temos os artefatos, como a arquitetura, a utilização do espaço, o arranjo físico, a maneira como as pessoas se vestem (usam uniformes ou não; formal ou informal), e a quantidade e variedade de recursos disponíveis, que também devem ser observados. A cultura tecnoló- gica é outro componente que exprime os diferentes estágios de utilização do conhecimento em que a organização se encontra. No nível intermediário, os símbolos compreendem comportamentos e objetos que carregam e transmitem mensagens e significados dentro de uma cultura organizacional — aqui, estão as histórias, os mitos e os heróis, que são elementos das tradições orais passados para as novas gerações de maneira a perpetuar a cultura dominante, assim como os rituais e as cerimônias, que também contribuem para a manutenção da cultura. Por fim, no nível mais profundo, estão os valores e as crenças, incluindo preconceitos, ideologias, além de atitudes e julgamentos compartilhados pelos integrantes da organização. A cultura define a convivência interna, os critérios para avaliação dos resultados e do desempenho e as ações corretivas, o comportamento em relação à autoridade, além das regras de conduta com o ambiente externo. Por outro lado, a cultura organizacional também pode dificultar o processamento de mudanças no ambiente, gerar resistência e dificuldade em aceitar outras culturas. Na análise do ambiente interno, a cultura pode ser contrastada com indicadores, como: importância dada à hierarquia, linguagem (mais valor à palavra falada ou à palavra escrita), relações humanas (individualismo ou coletivismo), atitude proativa ou reativa em relação ao futuro, visão univer- salista (as normas se aplicam a todos) ou particularista (cada caso é um caso), propensão ao risco (orientadas para a certeza ou para a incerteza), entre outros. Com esses indicadores, monta-se uma escala para fazer a análise, conforme exemplo da Figura 4. Figura 4. Escala para análise de cultura organizacional. Fonte: Adaptada de Maximiano (2007, p. 106). 9Estruturas organizacionais Outra ferramenta para análise interna da estrutura organizacional é o organograma linear, que mostra como as responsabilidades e a autoridade estão distribuídas em cargos e departamentos. Trata-se de um gráfico em forma de matriz, que mostra: 1. nas linhas, uma lista de atividades; 2. nas colunas, departamentos envolvidos na execução das atividades; 3. nas células, a divisão das responsabilidades e da autoridade entre os departamentos para a execução das tarefas. Veja o exemplo no Quadro 3, a seguir. Fonte: Adaptado de Maximiano (2007). Atividades/decisões Responsabilidade/autoridade Departamento de RH Departamento de Finanças Departamento de Produção Preparação do orçamento do departamento R C / A R Recrutamento e seleção de pessoas C / A R R R – RESPONSÁVEL: tem responsabilidade sobre a tarefa, não importa se faz pessoalmente ou supervisionando a execução. A – AUTORIDADE: tem autoridade para aprovar ou vetar a execução da atividade ou o resultado final. C – CONSULTADO: deve ser consultado antes da execução da atividade, ou como condição para execução da atividade. I – INFORMADO: deve ser informado sobre a execução da atividade ou de seus resultados. Quadro 3. Exemplo de organograma linear simplificado Fazendo a combinação de diversas ferramentas de análise, teremos um retrato mais fiel do ambiente interno. Seguimos, agora, para a análise externa do ambiente organizacional. Estruturas organizacionais10O organograma linear é uma técnica para análise interna da organização, embora alguns gestores/consultores também o utilizem como um dos “tipos de organograma” que podem caracterizar uma organização. O organograma, de maneira geral, é a representação gráfica da disposição de cargos e departamentos de uma empresa. Análise externa da organização Na análise do ambiente externo, buscamos identifi car as oportunidades e ameaças para a realização da estratégia organizacional. O ambiente externo é composto pelo ambiente operacional e ambiente geral (retorne à Figura 1). O ambiente operacional afeta de forma mais direta e imediata a organização e é composto por: fornecedores, concorrentes, clientes, instituições fi nanceiras, grupos de interesse especiais, meios de comunicação social. Já o ambiente geral é composto por elementos com infl uência mais distante da organização, mas que, mesmo assim, devem ser considerados, como: fatores tecnológicos, fatores demográfi cos, fatores político-legais, fatores socioculturais e fatores econômicos (CERTO; PETER, 2005). As ações da concorrência, por exemplo, são um potencial fator de ame- aças, mas também podem criar oportunidades, que podem ser: novas ideias e novos produtos, novos mercados, novas necessidades, novos conceitos de administração. Por exemplo, a Uber criou um novo mercado, e outras empresas aproveitaram a oportunidade. A análise da concorrência deve iniciar pelo estudo do ramo de negócio, e uma técnica para isso é a análise estrutural. Segundo Hayden (1986 apud MELO; NICOLAU, 2017), a técnica consiste em examinar os fatores estruturais que influenciam o que é conhecido como “as cinco forças competitivas de Porter” de um ramo de negócios. Os fatores competitivos a serem examinados numa análise estrutural são: 1. A entrada de concorrentes potenciais: é fácil entrar neste mercado? 2. Rivalidade: concorrentes fazem guerra de preços, por exemplo. 3. Poder dos compradores: influenciam preço, forma de atendimento, estoque. 11Estruturas organizacionais 4. Produtos substitutos: influenciam aumento de preço e decisões de compra. 5. Poder dos fornecedores: pode ser grande ou pequeno, dependendo do tipo de matéria-prima. Outra questão importante é a análise do mercado, que pode trazer valiosas informações sobre necessidades, nichos para atuar, oportunidades para oferecer produtos ou serviços, tendências de comportamento em ascensão ou declínio. O mercado pode ser analisado a partir de quatro enfoques: 1. Geográfico: divide os clientes de acordo com a região em que vivem. 2. Demográfico: classifica os clientes por distribuição etária, sexo, renda, escolaridade, etc. 3. Psicossocial: classifica os clientes conforme a classe social, o estilo de vida e a personalidade. 4. Comportamental: analisa e classifica as tendências de comportamento e os hábitos de compra, a lealdade à marca, o grau de informação sobre o produto ou serviço, etc. Além disso, a empresa deve conhecer seus clientes: entender suas prefe- rências e seu perfil de compra, conhecer seu nível de satisfação e, por que não, suas propostas de melhorias. Estar atento às mudanças tecnológicas, atualmente, é imprescindível para a análise do ambiente externo. Por exemplo, o fluxo de pessoas no cinema diminuiu com o maior acesso à TV a cabo e, atualmente, com os serviços de streaming (Netflix, por exemplo). As organizações podem ter estratégias mais agressivas ou reativas em relação à tecnologia. As ações e os controles do governo também devem ser considerados, uma vez que as empresas seguem diversas legislações, como trabalhista, tributária, de proteção ao meio ambiente, de defesa do consumidor, de regulamentação de embalagens e produtos, etc., as associações de classe empresarial têm papel importante nesse quesito. Questões econômicas nunca devem ser deixadas de lado na análise do ambiente externo. Diversos indicadores econômicos mostram sinas de ameaças ou oportunidades: emprego e desemprego; admissões e demissões; taxa de juros; valor de ações; endividamento e inadimplência; poder aquisitivo; flu- tuação do consumo; poupança, etc. — informações relevantes que podem ser facilmente encontradas em publicações especializadas, institutos de pesquisa econômica, órgãos governamentais, imprensa. Estruturas organizacionais12 Por fim, é importante acompanhar a evolução das normas sociais. Por exemplo, mudanças que ocorrem no final do séc. XX e hoje fazem parte do mundo dos negócios: valorização da saúde e do empregado saudável trouxe os conceitos de qualidade de vida no trabalho; valorização de empresa so- cialmente e ambientalmente responsável trouxe o crescimento das normas de proteção do ambiente. Esses fatores podem ter maior ou menor influência na organização, dependendo do ramo de negócio e da estratégia adotada. Isso definirá a profundidade da análise que será necessária. Entretanto, mesmo que a sua empresa seja uma prestadora de serviço (de software, por exemplo), que não produz nada físico que possa poluir o meio ambiente, o fato de deixar de lado uma preocupação atual, como a proteção ao meio ambiente, pode ser prejudicial ao seu negócio, pois os clientes poderão “ver com maus olhos” o seu “descaso”. Às vezes, uma simples ação de separação de lixo (dentro da sala dos programadores de software, por exemplo) causa um bom impacto com os clientes. Análise do modelo de gestão e mecanismos de identificação de problemas O modelo de gestão tem impacto em todos os demais sistemas da empresa. Suas principais características podem ser elencadas da seguinte forma, segundo Cameron e Quinn (1996): é o principal formador da cultura organizacional; determina as linhas de poder; estabelece as principais formas de ação na empresa; determina a importância das coisas, ao estabelecer os critérios de análise de desempenho. Para realizarmos a análise do modelo de gestão de uma organização, deve- mos começar conhecendo alguns modelos mais contemporâneos e, a partir das principais características, comparar com o existente. São 3 modelos de gestão que grande parte das empresas buscam implementar: gestão por resultados (administração por objetivos), gestão por processos e gestão participativa. E, mais recentemente, tem-se falado em gestão empreendedora. Dentro de cada uma haverá graus de autoridade e hierarquia diferentes que dependerão do tipo de negócio e da cultura organizacional. 13Estruturas organizacionais A gestão por resultados (ou administração por objetivos – APO) foi desenvolvida por Peter Drucker (2004) e trata-se de um método no qual os líderes e liderados criam, juntos, as metas a serem alcançadas. Para isso, as responsabilidades são delegadas entre si, e os resultados são constantemente monitorados e analisados com os objetivos planejados inicialmente. A gestão por resultados se baseia em metas que devem estar relacionadas ao planejamento estratégico. A liderança tem um papel mais participativo e precisa estar unida com a equipe. Isso porque, neste modelo, todos atuam juntos para a definição e concretização de metas. O conceito central desse modelo de gestão é o planejamento, o que significa que uma organização e seus membros são proativos, ou seja, não atuam apenas reagindo a eventos e problemas. Dessa forma, saber o que se obteve é o mais importante, e, para isso, as atividades são supervisionadas e gerenciadas para que trabalhem em direção ao objetivo geral da organização. De acordo com Drucker (2003), as características da gestão por resultados são: Definição de metas claras e específicas e acompanhamento do desem- penho são feitos pela participação dos envolvidos. Objetivos estabelecidos para todos os níveis da organização. Direcionada para a realização efetiva e eficiente dos objetivos organizacionais. Ênfase básica da gestão por resultados é sobre os objetivos. Colaboradores recebem feedbacks sobre o desempenho real em com- paração com o desempenho planejado. Revisãoperiódica do desempenho. A gestão por resultados fica concentrada na definição e no controle de objetivos, encorajando gestores e equipes a planejarem suas ações mais deta- lhadamente. Assim, todos participam, gerentes e colaboradores sabem o que é esperado deles, evitando ambiguidades de função. Além disso, os gestores precisam estabelecer metas mensuráveis, padrões de desempenho e priori- dades para esses objetivos; responsabilidades e autoridades estão claramente estabelecidas. Outro ponto favorável é que os colaboradores são mais cientes dos objetivos da empresa e estão mais envolvidos em metas organizacionais, já que, na gestão por resultados, estão previstas avaliações periódicas e feedbacks constantes, o que também contribui para que os colaboradores tenham uma noção melhor do seu desempenho. De modo geral, esse modelo de gestão melhora a comunicação entre equipes e gestores. Estruturas organizacionais14 Outro modelo de gestão bastante utilizado é o de gestão por processos. Trata-se de uma abordagem que busca alcançar resultados com redução de custos operacionais, ganhos de produtividade e aumento na satisfação dos clientes. Para isso, a gestão por processos busca identificar, desenhar, executar, medir, monitorar, controlar e melhorar processos de negócio (DE SORDI, 2005). O modelo tem os seguintes objetivos: Conhecimento e mapeamento de processos organizacionais. Disponibilização de informações sobre os processos. Uniformização dos processos. Identificação, desenvolvimento e difusão interna das metodologias e melhores práticas para gestão por processos. Monitoramento e avaliação de desempenho dos processos. Implantação de melhorias contínuas nos processos, visando à maior eficiência e eficácia. Compreender e atender às expectativas dos clientes. Importante ressaltar que a gestão por processos busca, principalmente, alinhar os processos da empresa com as metas organizacionais. Além disso, tem como finalidade facilitar o relacionamento entre os setores da empresa e implementar rotinas que promovam a sistematização das atividades. Quem está por trás da gestão por processos são os gestores, ou seja, nesse caso, não há a participação direta dos colaboradores. Para gerenciar os processos, são aplicadas diferentes metodologias, como o PDCA (Plan = planejar, Do = fazer, Check = verificar, Act = agir), uma ferramenta de qualidade de quatro fases, amplamente utilizada para a solução de problemas, controle e melhoria contínua de processos e produtos. A gestão por processos proporciona um melhor aproveitamento do tempo, já que colaboradores passam a ter foco na essência do seu trabalho. Além disso, acelera a tomada de decisão, pois os resultados são mensurados de maneira mais fácil e traz, também, a possibilidade de ajustar rapidamente processos às mudanças internas e externas da organização. Com a otimização do pla- nejamento de atividades e racionalização de recursos humanos, materiais, tecnológicos e financeiros, há uma redução de custos dos processos. Assim, por meio de processos eficientes e eficazes, a empresa passa a oferecer produtos e serviços com alto grau de qualidade. Já o modelo de gestão participativa não tem uma origem histórica definida e é, por muitos, considerado uma utopia. Gestão participativa é sinônimo de envolvimento dos colaboradores. Refere-se a uma forma aberta de geren- 15Estruturas organizacionais ciamento, na qual funcionários estão ativamente envolvidos no processo de tomada de decisão da organização (MARANALDO, 1989 apud GONÇALVES JUNIOR et al., 2009). O modelo de gestão participativa é aplicado por gestores e diretores que identificam, nos seus colaboradores, os facilitadores que lidam diretamente com os clientes e satisfazem suas necessidades. Por ter o envolvimento dos profissionais em todas as etapas da tomada de decisão, para que esse modelo de gestão possa ocorrer, é necessário que haja comunicação aberta e transparência de informações, entendimento dos gerentes para mobilização de todos e estrutura organizacional mais flexível (menos hierarquia e normas mais adaptáveis). No entanto, ao possibilitar a participação de todos, corre-se o risco de a empresa se transformar em uma “assembleia geral permanente”. Daí impor- tância do comprometimento total com os resultados da empresa: cada pessoa está consciente de sua responsabilidade individual. Por isso, é imprescindível ter os objetivos definidos previamente pela cúpula da empresa e, só então, por meio da gestão participativa, definir o melhor formato organizacional para realizá-lo. Pode-se usar grupos de melhoria contínua, comissão de fábrica, conselho de representantes de empregados e outros formatos. Para avaliar o grau de participação de uma equipe no processo decisório, pode-se usar o Quadro 4, a seguir. A gestão participativa só ocorre efetiva- mente a partir do grau 5. Fonte: Adaptado de Pereira (1995 apud GOMES, 2004). Grau Característica da participação 0 Os funcionários cumprem ordens e ficam alheios aos acontecimentos. 1 A direção toma decisão e informa a equipe. 2 A direção toma decisão, informa e ouve a reação da equipe. 3 A direção pede sugestões, decide e informa. 4 A direção permite que os funcionários participem da decisão. 5 A direção delega a decisão e se reserva à prerrogativa da palavra final. 6 A direção delega completamente a decisão. Quadro 4. Avaliação do grau de participação Estruturas organizacionais16 Mais recentemente, fala-se em gestão empreendedora, que foca na ino- vação. Segundo Drucker (2017), essa é uma gestão receptiva à inovação e predisposta a ver a mudança como uma oportunidade e não uma ameaça. O desempenho é constantemente monitorado, pois a avaliação gera aprendi- zado. Além disso, a gestão empreendedora requer práticas específicas, como não misturar unidades administrativas com unidades empreendedoras e não confundir inovação com diversificação. A compreensão do modelo de gestão predominante é importante para com- preendermos os critérios utilizados na gestão do desempenho organizacional. Porém, quando os resultados da avaliação do desempenho organizacional, obtidos pela organização, não são satisfatórios, faz-se necessário entender o que está dando errado para que seja possível promover melhorias. Dessa forma, usa-se algumas técnicas para identificação e análise de problemas. Você conhecerá, aqui, duas delas. A primeira, o diagrama de Ishikawa (Figura 5), tem por finalidade orga- nizar o raciocínio e a discussão sobre as causas de um problema. Os problemas são enunciados com a pergunta “por quê?”. Por exemplo, problemas de fábrica geralmente têm 4 tipos de causas mais comuns: mão de obra, método, material, máquinas (4 M). Para outras organizações, podemos, ainda, incluir mais dois tipos de causa: medidas e meio ambiente (totalizando 6 M) (ISHIKAWA, 1985 apud MAXIMIANO, 2007). Figura 5. Espinha de peixe. Fonte: Adaptada de Maximiano (2007, p. 162). 17Estruturas organizacionais A segunda, o paradigma de Rubinstein (também conhecido como Método de Delineamento de Problemas Organizacionais [MDPO]), é usada para estru- turação de problemas organizacionais. A pergunta inicial é “como melhorar o atendimento da empresa?” e permite organizar as relações de causa e efeito existentes em um problema. Figura 6. Paradigma de Rubinstein. Fonte: Adaptada de Maximiano (2007, p. 163). Por exemplo, como melhorar o atendimento do Hotel X? Para utilizar o MDPO, identificam-se, em primeiro lugar, os efeitos desejados, ou indicadores da solução do problema. Os indicadores procuram mostrar como ficará a situação quando o problema estiver resolvido. Por exemplo, se o atendimento do Hotel X melhorar, os clientes ficarão satisfeitos, e a taxa de retorno aumentará — satisfação dos clientes e aumento da taxa de retorno são efeitos desejados. Em segundo lugar, listam-se os fatores que podem ser manipulados — aqueles nos quais se pode interferir — como forma de resolvero problema. São as chamadas variáveis. Por exemplo, se os apartamentos forem arrumados com mais cuidado, a satisfação dos clientes aumentará. Finalmente, identificam-se os parâmetros — as condições que, ao con- trário das variáveis, não se pode alterar. Um parâmetro, por exemplo, é a localização do hotel. Estruturas organizacionais18 Depois disso, formulam-se as proposições para resolver o problema. As proposições são alternativas para a solução do problema: maneiras de se chegar aos critérios pretendidos. Assim, as alternativas são avaliadas, julgadas e comparadas, para que uma escolha possa ser feita. Com todas essas ferramentas, mãos à obra! CAMERON, K. S.; QUINN, R. E. Diagnosing and changing organizational culture: based on the competing values framework. San Francisco: Jossey-Bass, 2006. 242 p. CERTO, S. C.; PETER, J. P. Administração estratégica: planejamento e implantação da estratégia. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. 304 p. DE SORDI, J. O. Gestão por processos: uma abordagem da moderna administração. São Paulo: Saraiva, 2005. 223 p. DRUCKER, P. F. A administração na próxima sociedade. São Paulo: Nobel, 2003. 216 p. DRUCKER, P. F. Inovação e espírito empreendedor: prática e princípios. São Paulo: Cen- gage Learning, 2017. 378 p. GOMES, M. R. A gestão da educação continuada: proposta de um modelo para a Unisul. COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE GESTÃO UNIVERSITÁRIA NA AMÉRICA DO SUL, 4., 2004, Florianópolis. Anais... Florianópolis: UFSC, 2004. Disponível em: <https:// repositorio.ufsc.br/handle/123456789/35739>. Acesso em: 18 jun. 2018. GONÇALVES JUNIOR, A. et al. A gestão participativa em entidades de representação social na perspectiva de seus associados, segundo o modelo de Bordenave: um estudo na associação de moradores do bairro Presidente Vargas (Fortaleza -Ceará). ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 29., 2009, Salvador. Anais... Salvador: Abepro, 2009. Disponível em: <http://www.abepro.org.br/biblioteca/ene- gep2009_TN_STP_097_655_14129.pdf >. Acesso em: 18 jun. 2018. 19Estruturas organizacionais http://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/35739 http://www.abepro.org.br/biblioteca/ene- MAXIMIANO, A. C. A. Introdução à administração. 7. ed. rev. ampl. São Paulo: Atlas, 2007. 442 p. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração: da revolução urbana à revolução digital. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2012. 480 p. MELO, H. A.; NICOLAU, A. M. 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