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Teoria Geral da Administração I VERA LUCIA ALONSO E SILVA TARCÍSIO CARVALHO 1ª Edição Brasília/DF - 2021 Autores Vera Lucia Alonso e Silva Tarcísio Carvalho Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático........................................................................................................................................5 Introdução ..............................................................................................................................................................................7 Capítulo 1 Conceitos básicos de Gestão ......................................................................................................................................9 1.1. Organização, empresa e administração ..................................................................................................... 10 1.2. Empresa como um sistema ............................................................................................................................. 13 1.3. Empresa e seus ambientes de atuação ...................................................................................................... 15 1.4. Sustentabilidade do negócio ......................................................................................................................... 18 Capítulo 2 Novo contexto dos negócios e seus paradigmas ............................................................................................ 21 2.1. Tendências, desafios e paradigmas da gestão moderna ...................................................................... 22 2.2. Novas formas de organização do trabalho ................................................................................................ 26 Capítulo 3 Papel do gestor e suas competências ................................................................................................................. 37 3.1. Papel do gestor e suas competências ........................................................................................................ 38 3.2. Competências, habilidades e atitudes fundamentais ao gestor ......................................................... 39 3.3. Papéis dos gestores .......................................................................................................................................... 43 3.4. Perfil profissional para a Quarta Revolução Industrial ........................................................................ 44 Capítulo 4 Estruturas organizacionais, níveis organizacionais e processo decisório ............................................... 49 4.1. Estruturas organizacionais ............................................................................................................................. 50 4.2. Níveis organizacionais ...................................................................................................................................... 55 4.3. Processo decisório .............................................................................................................................................. 57 Capítulo 5 O processo administrativo e as áreas funcionais da organização ............................................................. 65 5.1. Funções administrativas .................................................................................................................................. 66 5.2. Áreas Funcionais ................................................................................................................................................. 82 Capítulo 6 Ferramentas de Gestão ............................................................................................................................................. 89 6.1. Qualidade Total ................................................................................................................................................... 90 6.2. Seis Sigma ............................................................................................................................................................. 93 6.3. Reengenharia ....................................................................................................................................................... 96 6.4. Benchmarking ....................................................................................................................................................... 98 Referências ........................................................................................................................................................................100 5 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 6 ORganIzaçãO dO LIvRO dIdáTIcO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Gotas de Conhecimento Partes pequenas de informações, concisas e claras. Na literatura há outras terminologias para esse termo, como: microlearning, pílulas de conhecimento, cápsulas de conhecimento etc. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 7 Introdução Seja bem-vindo(a) à disciplina Teoria Geral da Administração I. Ao iniciar um Curso na área de Administração/Gestão, independentemente da área de formação específica escolhida, é importante que o estudante seja introduzido à ciência da Administração, seus princípios básicos e contemporâneos, os quais são essenciais à sua formação profissional. A Administração ainda é um campo de conhecimento considerado relativamente novo quando comparado a outras áreas tradicionais. Contudo, a gestão empresarial vem se expandindo a cada dia para atender às mais diversas demandas da sociedade, conduzindo, assim, o profissional de Administração/Gestão a se manter dentro de um processo de aprendizado contínuo de novas áreas de conhecimento. Esta disciplina e o Livro Didático pretendem contribuir, com seus conteúdos, para a formação de um profissionalmais criativo, resiliente e com visão generalista, que seja capaz de portar-se de maneira proativa para lidar com as mudanças e desafios a enfrentar em sua vida profissional. No capítulo 1 será abordado o conceito de organização e suas diferentes configurações, assim como a importância da aplicação e controle dos fatores de desempenho organizacional para a garantia do sucesso e da sustentabilidade do negócio. O capítulo 2 apresentará as tendências, desafios e paradigmas da gestão moderna e contemporânea – desafiada a enfrentar a concorrência global, assim como a importância da gestão de informações, a chegada e aplicabilidade das tecnologias virtuais e as novas formas de organização e relações no ambiente de trabalho. O capítulo 3 mostrará os papéis, as habilidades e as competências necessárias aos gestores de um negócio, enfatizando o novo perfil profissional esperado em todas as profissões, para lidar com as oportunidades futuras. O capítulo 4 apresentará as diversas possibilidades de estruturação de uma empresa, além dos tipos, etapas e impactos do processo decisório nas organizações. No capítulo 5 será apresentado o conjunto estruturado de atividades/funções que compõem o processo administrativo de gestão empresarial. Essas funções serão apresentadas detalhadamente nesse capítulo, assim como as várias áreas ou departamentos funcionais onde são executadas tarefas especializadas e essenciais para que as estratégias e os planos de ação possam ser executados conforme o planejado. 8 Finalizando o conteúdo do livro, o capítulo 6 discutirá algumas das modernas ferramentas e técnicas de gestão que contribuem para um desempenho de excelência da empresa, buscando minimizar desperdícios e perdas e fortalecer as ações que resultam na sustentabilidade das organizações no mercado. Objetivos » Preparar o estudante para a compreensão do conhecimento da ciência da Administração, sua origem, seu desenvolvimento e sua aplicabilidade em um mercado cada vez mais dinâmico, competitivo e inovador, no qual surgem continuamente novos modelos de gestão e diferentes ferramentas e técnicas que buscam a excelência de atuação. » Apresentar textos e reflexões cujos conteúdos permitam ao leitor navegar na interdisciplinariedade e na conjunção teoria x prática com outros conteúdos dos diversos cursos que utilizarão este livro. » Proporcionar ao estudante de Administração/Gestão, por meio da discussão e reflexão de temas atuais, uma formação diferenciada, com uma visão geral da realidade das empresas e das informações essenciais ao atendimento das demandas variáveis do mercado. Boa leitura e sucesso no seu curso! Aproveitamos para reforçar que vários e novos caminhos serão sempre necessários ao aprimoramento do processo de gestão empresarial. 9 Introdução Este capítulo vai tratar dos conceitos de organização, empresa e administração e os fatores que conduzem a um desempenho organizacional de excelência – eficiência, eficácia e efetividade. Além desses temas, estudaremos os tipos de ambiente em que as empresas atuam e seus respectivos impactos nos resultados, bem como a importância de o negócio ser manter sustentável para ter vantagem competitiva no mercado. Com a discussão sobre esses aspectos, esperamos que o estudante – qualquer que seja a área de seu curso de gestão, possa compreender que o ato de administrar/gerenciar implica “fazer as coisas acontecerem” dentro das organizações. Isso significa focar no futuro e alinhar recursos, competências e habilidades, com o objetivo de agregar valor ao negócio, gerar riqueza e, sobretudo, obter resultados. As referências teóricas que nortearam os pensamentos e as experiências dos autores citados buscaram propiciar o entendimento de que, para atuar com excelência em um ambiente dinâmico e de permanente transformação e desafios, é muito importante que o gestor possua uma base sólida de conhecimento teórico que o auxiliará na execução prática de suas atividades e na contribuição com as metas oganizacionais. Objetivos » Compreender os conceitos básicos de organização, empresa e administração e seus papéis na sociedade. » Identificar os tipos de organização – formal e informal e suas principais características. » Relacionar os conceitos de eficiência, eficácia e efetividade com um desempenho organizacional de excelência. 1CAPÍTULOcOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO 10 CAPÍTULO 1 • cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO » Comprender a necessidade de uma visão sistêmica da organização para o seu gerenciamento, assim como a distinção entre sistemas abertos e fechados. » Descrever as características e o impacto dos ambientes que envolvem uma empresa. » Demonstrar a importância da sustentabilidade do negócio para a sobrevivência e a competitividade da empresa no mercado. 1.1. Organização, empresa e administração Vivemos em um mundo de “organizações”, e são elas que realizam quase todas as atividades dentro da sociedade moderna. É delas que as pessoas obtêm grande parte de sua satisfação material, social e cultural (LACOMBE; HEILBORN, 2003, p. 13). Tudo o que a sociedade requer e aquilo de que necessita é inventado, criado, desenvolvido, produzido e comercializado por organizações. O campo dos negócios depende necessariamente das organizações e das atividades que elas desenvolvem. As operações administrativas ocorrem dentro das organizações, “que representam um sistema constituído por pessoas, estabelecido formalmente e de forma consciente para atingir um determinado conjunto de objetivos”. (BATEMAN; SNELL, 1998, p. 33) Os termos “empresa” e “organização” podem parecer idênticos, mas, na realidade, possuem características que os diferenciam, e entender isso é importante para a melhor compreensão do mundo dos negócios. Os significados de ambas as palavras em latim destacam a principal diferença entre elas: “empresa” vem de interprensus que representa um forte senso de ação; já organização, cuja origem é organizatio, enfatiza mais a “estruturação”. Sob o conceito jurídico do Direito Comercial, “empresa” é definida como uma atividade econômica exercida de forma profissional por um indivíduo – o empresário, por meio da articulação dos fatores produtivos utilizados no processo de produção ou circulação de bens/serviços. Saiba mais E o que significa “administração”? A palavra “administração” vem do latim ad (direção, tendência para) e minister (subordinação ou obediência), e significa aquele que realiza uma função sob a orientação de outra pessoa. 11 cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO • CAPÍTULO 1 A administração está relacionada com “as formas de fazer o trabalho melhor, mais fácil e mais bem-sucedido”, sempre com a intenção de alcançar os objetivos da melhor forma, para garantir a competitividade em um cenário de negócios com alta concorrência e muita complexidade. Tomando por base a evolução contínua da complexidade do mundo dos negócios e suas exigências, cabe destacar uma definição “mais abrangente da ação de administrar”, qual seja, planejar, organizar, liderar, coordenar e controlar as atividades de uma unidade organizacional, empresa ou grupo de empresas, diagnosticando suas deficiências e identificando seus aspectos positivos; estabelecendo metas, planos e programas para sanar as deficiências e expandir e desenvolver os aspectos positivos; tomando, dentro do seu âmbito, as decisões e providências necessárias para transformar em ações realidade esses planos e programas, controlando os seus resultados, visando ao cumprimento das metas estabelecidas. (LACOMBE; HEILBORN, 2003, p. 49) Figura 1. Os pilares da Administração. ADMINISTRAÇÃO PL AN EJ AR OR GA NI ZA R DI RI GI R CO NT RO LA R Fonte: https://blog.softensistemas.com.br/4-pilares-da-administracao/. Acesso em: 10 out. 2020. Ao longo do tempo, tanto o significado como o conteúdo da Administração sofreram uma grande ampliação e um aprofundamento por meio das diversas mudanças que surgiram ao longo da história.1.1.1. Tipos de organização Uma característica importante de uma organização – e que a diferencia de outros sistemas sociais, é a ênfase no alcance de um objetivo específico. A partir desse conceito, pode-se dizer que as organizações podem ser “formais” ou “informais”. 12 CAPÍTULO 1 • cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO De acordo com o pensamento de Lacombe e Heilborn (2003, p. 19), a “organização formal” demanda a existência de autoridade das pessoas que exercem o controle e definem como utilizá-lo, além da divisão do trabalho e da formalização das relações entre os membros que dela fazem parte. Como exemplo de organização formal podem ser citadas igrejas, Forças Armadas e empresas em geral. Por outro lado, dentro das estruturas formais podem surgir, de forma espontânea, grupos de pessoas que se agregam por afinidades, interesses ou conhecimentos que são comuns a todos. Essas relações representam “organizações informais”, as quais possuem um significativo papel em relação à comunicação e ao processo decisório, podendo prejudicar ou favorecer a organização formal. Como exemplo de grupos que se reúnem sem exigências burocráticas e visam a determinado fim – provisório ou não, podem ser citados os grupos para jogar futebol, vôlei e grupos de estudos. 1.1.2. Fatores de desempenho organizacional É fundamental que as organizações realizem ações gerenciais que sejam focadas nos resultados dos seus negócios e que as funções dos colaboradores sejam bem conduzidas e com segurança. Tais ações contribuirão para o fortalecimento e a consolidação das empresas, dos seus gestores e dos seus colaboradores. Para que isso se torne possível, é necessária a definição de “indicadores de desempenho”, cuja avaliação e monitoramento permitirão a análise adequada do desempenho organizacional. Segundo Masiero (2009, p. 171), a intensidade da participação dos fatores de desempenho na execução das atividades é determinante da posição competitiva de uma empresa no mercado em que atua. Os principais fatores de desempenho são: “eficiência, eficácia e efetividade”. Quadro 1. Eficiência, eficácia e efetividade – principais características. Eficiência Eficácia Efetividade Fazer corretamente as coisas Fazer as coisas necessárias Impacto real causado pelos objetivos cumpridos. Preocupar-se com os meios Preocupar-se com os fins Sucesso em relação ao realizado e qualidade percebida pelo cliente. Enfatizar métodos e procedimentos Enfatizar objetivos e resultados Transformação da situação existente. Resolver problemas Acertar na solução proposta Mudança e desenvolvimento. Treinar e aprender Saber e conhecer União de eficiência e eficácia. Fonte: Elaborado pelos autores. 13 cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO • CAPÍTULO 1 Por fim, cabe ressaltar que, independentemente da área de atuação da empresa, é fundamental para o seu sucesso conhecer e entender o significado de cada fator de desempenho e como podem ser utilizados no cotidiano da prática de suas atividades, tornando os processos produtivos e administrativos mais sustentáveis em longo prazo. 1.2. Empresa como um sistema De acordo com o pensamento de Silva (2008, p. 43), é possível entender que cada organização está inserida em um ambiente, que pode ser caracterizado por uma cidade, ou um estado, uma nação ou o mundo e que o conceito de “organização” inclui o termo “sistemas”. A sociedade contemporânea apresenta aos gestores questões de natureza bastante complexa, causadas pela presença de diversos fatores, que, nas décadas anteriores, eram inexistentes, como, por exemplo: grandes concentrações urbanas, redução de recursos naturais, insuficiência de transportes, impactos ecológicos, evolução tecnológica avançada, desastres naturais ou causados pelo homem, dentre outros. Esses aspectos constituem a base da complexidade das decisões a serem tomadas pelos gestores, no mundo atual. A ferramenta para auxiliar a gestão do novo paradigma sistêmico vem dos estudos da Teoria Geral dos Sistemas – mais especificamente dos “sistemas abertos”, que influenciou a teoria das organizações, assim como outras disciplinas da Administração. Ela trouxe o olhar integrador, que pode ser assim entendido: A empresa constitui um sistema. Um sistema pode ser definido como um conjunto de elementos dinamicamente inter-relacionados que desenvolvem uma atividade ou função para atingir um ou mais objetivos ou propósitos. (CHIAVENATO, 2007, p. 39) Aplicando a definição de sistema a uma empresa, temos que: » O conjunto de elementos dinamicamente inter-relacionados constituem os “órgãos/unidades que compõem a estrutura organizacional” e são denominados Saiba mais Ainda de acordo com Silva (2008, p. 43), as organizações possuem muitos aspectos nos quais diferem e outros tantos que lhes são comuns. As diferenças estão representadas nas atividades e nos métodos de operação, sejam as empresas do mesmo segmento de negócio ou não. Contudo, ao adotar a “visão de sistemas”, alguns princípios e prescrições de Administração se aplicam às organizações de negócios em geral. 14 CAPÍTULO 1 • cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO “subsistemas”. Estes mantêm interação e interdependência, formando uma rede de comunicações e relações, provocando a dependência recíproca entre eles; » Cada subsistema assume uma “determinada atividade ou função específica e importante” para o sistema como um todo; » A “realização das atividades de todos os subsistemas” conduz ao “alcance dos objetivos” definidos para o sistema; » Ao final do processo, as “informações de retorno” permitem a avaliação dos resultados e possíveis ajustes no processo. Essas informações são chamadas de “retroação ou realimentação (feedback)”. Figura 2. A Empresa como um sistema. Fonte: https://atsinformatica.com.br. Acesso em: 10 out. 2020. 1.2.1. Sistemas fechados e abertos De acordo com a Teoria Geral dos Sistemas, os sistemas podem ser “fechados” ou “abertos”. Os sistemas fechados “não estabelecem intercâmbio ou qualquer tipo de troca com o ambiente externo, e seu funcionamento é programado e previsível”. O fato é que nunca há sistemas totalmente fechados. O que acontece é que seu relacionamento com o ambiente externo é muito limitado, pois são resistentes a qualquer influência ambiental. É importante que a “empresa seja reconhecida como um sistema aberto”, recebendo influência do ambiente externo. Como tal, segundo Nogueira (2007, p. 172), a organização é falível e instável, convivendo com riscos todo o tempo. Em contrapartida, o aspecto importante é que o envolvimento entre todas as partes (áreas da empresa) é que vai garantir o processo ordenado para que o produto esperado possa existir. 15 cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO • CAPÍTULO 1 Enquanto um “sistema aberto”, a empresa possui como “elementos fundamentais” para o seu funcionamento (NOGUEIRA, 2007, p. 172): » Ambiente: contexto externo no qual a empresa está inserida; » Entradas ou insumos (inputs): insumos recebidos do ambiente, como informações, recursos, energia e matéria-prima; » Processamento : transformação dos insumos recebidos na entrada em produtos/serviços; » Saídas ou resultados (outputs): são as entradas devidamente processadas e transformadas em resultados, que retornam ao ambiente na forma de produtos ou serviços; » Retroação (feedback): é o processo racional de avaliação dos resultados obtidos no processamento e que retorna à organização sob a forma de informações que indicam eventuais necessidades de correção/ajustes ou continuidade do processo. Cabe ressaltar que, como a dinâmica do ambiente externo pode se mostrar favorável ou não aos produtos/serviços oferecidos pela empresa, cabe a ela realizar o esforço necessário para garantir a sustentabilidade do negócio por meio da aceitação de seus resultados, evitando, assim, o caminho da extinção. 1.3. Empresa e seus ambientes de atuação Citando Sobral e Peci (2008, p. 72), independentemente do tipo de organização, o ambiente representa umapoderosa força que impacta no sucesso ou no fracasso das organizações. A expressão “ambiente organizacional” refere-se ao conjunto de forças, tendências e instituições, “tanto externas como internas”, que podem modificar completamente o cenário do negócio e levar a empresa a alterar sua estratégia de mercado. Ou seja, as forças que impactam o ambiente organizacional podem ter origem dentro da própria empresa – “ambiente interno” ou virem de fora da organização – “ambiente externo”. 1.3.1. O ambiente interno O ambiente interno é composto pelos fatores que são controlados internamente e de forma direta pela organização e pode ser conceituado como: 16 CAPÍTULO 1 • cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO [...] fatores internos a uma organização e que constituem seus recursos; entre eles incluem-se fatores financeiros, físicos, humanos e da tecnologia em uso corrente. (MONTANA; CHARNOV, 2003, p. 62) Segundo Sobral e Peci (2008, p. 73), é o ambiente interno que define as características singulares de cada organização, pois destaca os pontos fortes e fracos que são particulares à empresa. Por isso está relacionado à cultura da empresa, definindo a sua personalidade. O ambiente interno pode e deve ser visto como um conjunto de subsistemas que compõem o “sistema empresa”. De acordo com Kwasnicka (2004, p. 112), os principais subsistemas do “sistema empresa” são: » Subsistema Técnico: caracteriza-se pela “tecnologia” que é utilizada para atingir o seu objetivo principal; » Subsistema Organizacional: trata-se da forma que acontece o “relacionamento entre os membros da organização e de quais padrões devem ser seguidos”; » Subsistema Normativo: é caracterizado pela “definição de valores e objetivos”. » Subsistema Humano: tem como característica, “tipos de personalidade, relações grupais e estilo de liderança” que os integrantes de uma organização utilizam. 1.3.2. O ambiente externo Um dos grandes desafios das empresas – especialmente nas condições atuais do mercado, é enfrentar ambientes externos cada vez mais turbulentos, complexos e globalizados, o que dificulta o processo de análise e interpretação das condições ambientais externas. (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2005, p. 52) O ambiente externo é o contexto no qual as empresas operam e está situado fora dos seus limites. É nele que a empresa pode identificar as ameaças e as oportunidades que estão no ambiente de mercado, assim como as melhores estratégias e soluções para os problemas. O ambiente externo às empresas subdivide-se em dois: “ambiente geral” ou “macroambiente” e “microambiente” ou “ambiente de tarefa”. O macroambiente é um amplo sistema que envolve as organizações, abrangendo os aspectos demográficos, científicos, tecnológicos, ecológicos, físicos, políticos, econômicos, sociais e culturais. Ele interage permanentemente com a organização e esta procura influenciá-lo, mas sua capacidade para isso é relativamente limitada. (LACOMBE; HEILBORN, 2003, p. 20) 17 cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO • CAPÍTULO 1 O microambiente corresponde a sistemas próximos à empresa e que interagem com ela de maneira forte e permanente. Abrange os fornecedores de insumos, os clientes, os competidores e os órgãos governamentais ou regulamentadores. O microambiente influencia permanentemente a empresa e esta também procura influenciá-lo, tendo, quase sempre, alguma capacidade para isso. (LACOMBE; HEILBORN, 2003, p. 21) Figura 3. A empresa e seus ambientes externos. Variáveis Tecnológicas Variáveis Econômicas Variáveis Sociais Variáveis Ecológicas Variáveis Demográficas Variáveis Legais Variáveis Políticas Cliente Concorrentes Grupos Reguladores Fornecedores AMBIENTE DE TAREFA Empresa AMBIENTE GERAL Fonte: Adaptado de Chiavenato (1997). Sobral e Peci (2008, p. 86) alertam ainda para a importância da relação “organização-ambiente”, pois os fatores ambientais devem ser monitorados e analisados de forma contínua, pelos gestores. Importante A análise do ambiente externo prevê a realização de quatro atividades: » Investigação: identificação de sinais de mudanças e tendências; » Monitoramento: interpretação contínua das mudanças e tendências do ambiente; » Previsão: antecipação da projeção de possíveis resultados; » Avaliação: definição do impacto do momento e da importância dos aspectos investigados para as estratégias e a gestão empresarial. (HITT; IRELAND; HOSKISSON, 2005, p. 52). 18 CAPÍTULO 1 • cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO Deve-se levar em conta que esses grupos de fatores não são independentes e, sim, apresentam relações cruzadas entre eles. A análise ambiental não pode ser estática, pois o ambiente se transforma todo o tempo – é dinâmico, e é preciso lidar com a incerteza e a dependência ambiental. Figura 4. A empresa e a incerteza ambiental . Incerteza Ambiental Elevado Muitos Baixo Ritmo de mudança Ambiental Baixo incerteza Alta incerteza Número de Fatores do Ambiente Organizacional Poucos Fonte: https://slideplayer.com.br. Acesso em: 10 out. 2020. A incerteza ambiental está diretamente relacionada à insuficiência de informações sobre os diversos fatores ambientais. Por outro lado, as empresas dependem do ambiente para a obtenção de recursos e o grau dessa dependência pode variar em função da maior ou menor escassez dos recursos e da forma como são distribuídos. 1.4. Sustentabilidade do negócio As empresas hoje em dia possuem como um dos seus grandes desafios – entre outros, manter a “sustentabilidade do seu negócio” e esse conceito é mais complexo do que simplesmente sobreviver e se perpetuar no mercado. Para refletir A globalização reduziu as barreiras comerciais entre as nações; a inovação, as mudanças e os fatores ambientais externos impactam as empresas a cada dia. O que muda com esse processo? Quais as vantagens? E as desvantagens? 19 cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO • CAPÍTULO 1 Gerenciar um negócio sustentável implica que a empresa: » cresça em conjunto com a sociedade e o meio ambiente com os quais interage, o que caracteriza também a sua responsabilidade social; » vá além da eficiência, da eficácia e de uma boa saúde financeira; » tenha esse objetivo como estratégico para a sua atuação e compartilhado por todos que participam da empresa. Essa nova abordagem de gestão gera a mudança do paradigma de um gerenciamento simplesmente baseado no controle do trabalho, das pessoas e da natureza para outra visão, que inclui o desenvolvimento sustentável da sociedade – responsabilidade social, preservação do meio ambiente e compromisso com o futuro. (NOGUEIRA, 2007, p. 339) Figura 5. Modelo de Negócio Renovador e Sustentável. Fonte: https://www.sebrae.com.br. Acesso em: 11 out. 2020. Um negócio sustentável, além de gerar sucesso para a empresa, orienta a definição e a evolução dos processos internos que, de forma estratégica, conduzem a resultados positivos e, principalmente, duradouros. Para isso é fundamental que empresas e gestores mantenham seu foco nos “Três Pilares da Sustentabilidade”: » Econômico » Social » Ambiental Para conhecer com mais profundidade esses pilares, consulte o Circuito Inicial da disciplina, no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). 20 CAPÍTULO 1 • cOncEITOS BáSIcOS dE gESTãO É muito importante que a empresa tenha um olhar para a sustentabilidade do negócio, entendendo que este assunto não é só atual, mas é futuro e sempre estará em questão nas empresas. Saiba mais Como a empresa pode alcançar a sustentabilidade do negócio? » Ficar atenta à saúde financeira da empresa, controlando e analisando os gastos; » Alinhar, controlar e melhorar os processos de trabalho de forma contínua; » Desenvolver um bom relacionamento com os públicos-alvo da empresa (clientes, concorrência, parceiros, fornecedores, colaboradores e qualquer outro que possa impactar no resultado e na sobrevivência do negócio); » Avaliar os diferentes cenários da empresa, preparando-se para aproveitaras oportunidades de mercado para o crescimento e/ou para minimizar os impactos das ameaças; » Inovar sempre. A inovação não precisa ser uma invenção, mas a melhoria de um produto ou serviço. Sintetizando O que vimos até aqui? » Organização, empresa e administração possuem diferenças conceituais e suas peculiaridades. » As organizações podem se apresentar de duas formas estruturais diferentes – formal ou informal. » A eficiência, a eficácia e a efetividade são relevantes para o dia a dia da empresa e para um resultado final de qualidade. » As empresas são consideradas como um sistema aberto, e, assim, sofrem a influência dos fatores ambientais externos. » Os aspectos ambientais internos e externos devem ser monitorados pelas empresas continuamente, de forma a permitir a antecipação de decisões estratégicas. » A importância das ações empresariais para garantir a sustentabilidade do negócio e sua vantagem competitiva no mercado. 21 Introdução O mundo tem sido impactado por um ritmo extremamente acelerado. As organizações contemporâneas estão enfrentando mudanças que vêm ocorrendo no cenário mundial, tanto no que diz respeito ao ambiente organizacional quanto ao que se refere ao alcance dos objetivos de negócio e manutenção da competitividade. Para entender esse novo contexto, tratar, neste capítulo, sobre as tendências, os desafios e os paradigmas da gestão moderna, além da concorrência crescente e dos cenários mutáveis e turbulentos, da importância da gestão de dados e das tecnologias virtuais, bem como o que está ocorrendo em relação às novas formas de organização do trabalho. Dessa forma, esperamos que o estudante possa compreender a importância da busca pela eficiência, descentralização, customização, segurança e inteligência dos processos, aspectos estes que afetam os diversos setores e segmentos do mercado. Além disso, reforçar que cabe aos gestores lidar com esses temas dentro das organizações, sendo responsáveis pela criação de estruturas de negócios mais competitivas e flexíveis, pela inserção de tecnologias inteligentes nos processos de trabalho e pela utilização de formas diferenciadas no que se refere às relações de trabalho com os colaboradores e prestadores de serviços. Objetivos » Identificar o cenário, as características e as ações relacionadas com o sucesso, a sustentabilidade e uma gestão empresarial de excelência, num mercado competitivo; » Apresentar, por meio do conceito de “empresabilidade”, como as organizações podem diferenciar seus desempenhos e agregar valor ao ambiente atual. 2 CAPÍTULO nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS 22 CAPÍTULO 2 • nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS » Demonstrar aos gestores a importância da tecnologia da informação, da gestão adequada dos dados e do uso dos instrumentos tecnológicos como fatores de crescimento e de alto desempenho nas empresas. » Contribuir para a reflexão sobre as mudanças nas relações de trabalho e os principais impactos desse movimento para as empresas e para os profissionais. 2.1. Tendências, desafios e paradigmas da gestão moderna O mercado não é mais o mesmo e o que era “tendência” hoje é realidade a ser enfrentada. Assim, é imperativo ter competência para lidar com o intercâmbio global, a sofisticação tecnológica, o aumento do poder do cliente, a customização de produtos e serviços, o próprio crescimento das organizações, a informação, o conhecimento, o foco nos serviços, a qualidade e a produtividade, dentre outros aspectos. Para enfrentar os novos desafios impostos pelas mudanças e serem eficazes, as empresas necessitam se organizar de forma diferenciada e apresentar um desempenho que agregue valor ao contexto atual. As pessoas e as organizações estão interagindo e se relacionando nesse ambiente empresarial marcado pela competição, incerteza e instabilidade e, assim, se torna necessária a adaptação de ambos às novas demandas de capacitação, visão global, atuação multidisciplinar e aperfeiçoamento e desenvolvimento de novas competências – organizacionais e individuais. 2.1.1. Concorrência crescente e cenários mutáveis e turbulentos Segundo Hitt; Ireland; Hoskisson (2011, p. 75), para que as empresas alcancem a eficiência e a eficácia necessárias para atender ao novo cenário competitivo do século XXI, cabem algumas considerações sobre as características desse momento de mercado tão diferenciado. As economias de escala e as grandes verbas de publicidade – fontes tradicionais de vantagem competitiva, já não são mais tão eficazes. Além disso, é exigida uma mudança de mentalidade administrativa por parte dos gestores, de forma a valorizar a flexibilidade, a velocidade, a inovação, a integração e os desafios que surgem como resultado das mudanças constantes e velozes. 23 nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS • CAPÍTULO 2 Ainda de acordo com Hitt; Ireland; Hoskisson (2011, p. 12), as características que envolvem as realidades da competitividade do mercado atual podem definir uma situação de “Hiperconcorrência”. Esse tipo de cenário se destaca pelos seguintes aspectos: » instabilidade das mudanças; » ações estratégicas praticadas entre concorrentes globais e inovadores; » rápida evolução baseada no posicionamento preço-qualidade; » concorrência para a criação de novo know-how; » vantagem para aquele que chega primeiro (first-mover) e concorrência para proteger ou invadir mercados de produtos ou mercados geográficos estabelecidos; » desafio aos concorrentes de forma provocativa, visando a melhoria da posição de mercado e, consequentemente, do desempenho organizacional. A natureza do cenário hipercompetitivo do século XXI é influenciada por uma série de desafios denominados “direcionadores”. Quadro 2. Fatores direcionadores da hipercompetitividade. Globalização Tecnologia Informação Conhecimento Foco nos Serviços Ênfase no Cliente Qualidade Produtividade Competitividade Sustentabilidade Trabalho em equipe Trabalho mental e criativo Atuação em qualquer local ou tempo Espírito Empreendedor Ênfase em Resultados Fonte: Elaborado pelos autores. Em paralelo à nova realidade, as empresas enfrentam ainda grandes desafios para o gerenciamento dos seus talentos. Considerando que esses constituem fatores críticos Provocação A reforma do conhecimento exige a “reforma do pensamento”. A reforma do pensamento exige um pensamento que possa religar os conhecimentos entre si, religar as partes ao todo, o todo às partes, e que possa conceber a relação do global com o local, do local com o global. Nossos “modos de pensar” devem integrar um vaivém constante entre esses níveis. (MORIN, 2013, p. 184) 24 CAPÍTULO 2 • nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS para o crescimento e a sustentabilidade nos negócios, as empresas precisam estar em sintonia com seus profissionais, estimulando seu desenvolvimento e também a sua retenção. Nesse contexto, necessitam exercitar a sua “empresabilidade”, pois ela será o seu diferencial no mercado. Dessa forma, a empresa estará ainda capacitada a atrair pessoas com potencial para desenvolvimento interno, clientes, fornecedores, parceiros, investidores e comunidade – os seus stakeholders, ou seja, os grupos que lidam com a empresa em seu cotidiano. A empresabilidade está diretamente relacionada ao aprendizado contínuo, o qual deve se tornar um hábito dentro da organização. Só assim ela alcançará o seu objetivo maior, isto é, crescer e expandir com rentabilidade e de forma sustentável. Figura 6. O aprendizado contínuo. Fonte: https://civilizacaoengenheira.wordpress.com. Acesso em: 13 out. 2020. A empresa moderna e competitiva deve enfatizar “processos de trabalho” e não só os produtos, assim como priorizar a aprendizagem contínua. Para ser bem-sucedida e ter sustentabilidade no negócio, a empresa precisa assumir de forma legítima a “responsabilidade por sua carreira”, gerenciando suas competências, de tal forma que possacrescer seu potencial produtivo no negócio central (core business). Saiba mais Empresabilidade De acordo com Alves e Monteiro (2009, p. 33), “empresabilidade” é a capacidade que a organização tem de conquistar e, além disso, se manter no mercado, sendo um conjunto de esforços e pesquisas que uma empresa faz para auferir uma vaga no mercado e consolidar a sua permanência no futuro. 25 nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS • CAPÍTULO 2 2.1.2. Importância da gestão de dados e das tecnologias virtuais No ambiente corporativo moderno, os dados e as informações por ele geradas possuem um papel estratégico. O gerenciamento de dados e informações cada vez mais complexas e sofisticadas é fundamental para que as empresas alcancem sucesso em suas ações estratégicas e, paralelamente, possam se posicionar adequadamente no mercado em que competem. A gestão inteligente das informações geradas e recebidas de diversos sistemas é que produzirá os conhecimentos que servirão de base para a melhor qualidade do processo decisório e consequente geração de vantagem competitiva. De acordo com Beal (2004, p. 12), os conceitos básicos – “dado”, “informação” e “conhecimento”, apresentam uma variação com relação ao grau de complexidade e relevância de cada um, criando “níveis hierárquicos” entre eles, como demonstrado na Figura 7. Figura 7. Níveis hierárquicos da informação. INFORMAÇÃO Dados dotados de relevância e propósito DADOS Registros ou fatos em sua forma primária CONHECIMENTO Combinação de informação contextual, experiência e insight Fonte: Adaptado de Beal (2004). Os “dados” apresentam facilidade para serem estruturados, transferidos e armazenados e, quando organizados, se transformam em “informação”. Segundo McGee e Prusak (1994, p. 23), a “informação” é constituída por dados coletados, organizados e orientados, aos quais foram atribuídos significados e contexto. 26 CAPÍTULO 2 • nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS Quando agregada a outros elementos – como visto na Figura 7, a informação se transforma em “conhecimento”, que implica reflexão, síntese e entendimento de padrões e princípios, além de ser de difícil estruturação, captura e transferência. Para a administração eficiente e eficaz dos recursos informacionais e seus fluxos dentro da empresa, é necessário estabelecer “políticas de gestão da informação”. Como política de gestão da informação podem ser entendidos “todos os processos utilizados pela empresa para manter seus dados bem organizados”, ou seja, o recebimento, a classificação, o armazenamento, o processamento e o seu compartilhamento com os usuários. Independentemente do tipo de ferramenta utilizada pelas organizações para a gestão efetiva de seus dados, alguns “benefícios” são comuns a todos os tipos de empresas, e se encontram detalhados no Circuito Inicial da disciplina, no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). A chegada dos computadores e dos demais dispositivos tecnológicos portáteis, aliada à popularização da internet, transformou a rotina das empresas e, independentemente do segmento de negócio, as ferramentas tradicionais tornaram-se obsoletas. Novos recursos tecnológicos estão otimizando as atividades operacionais e administrativas e dinamizando o trabalho nas organizações. 2.2. Novas formas de organização do trabalho Ao longo dos últimos anos, as formas de organização do trabalho vêm sofrendo significativas alterações, motivadas, em especial, por novas condições sociais, econômicas e culturais. Essas, por sua vez, continuam a ser influenciadas pelo quantitativo de informações disponíveis e pelo acelerado avanço tecnológico. Um dos principais impactos desse movimento é, para os profissionais, a redução de empregos formais, exigindo, assim, que desenvolvam habilidades e competências que permitam a adaptação às novas formas de atuação. Pelo lado das empresas, também essas devem ter maior flexibilidade e serem mais dinâmicas, a fim de adquirir e manter vantagens competitivas, além da valorização do “fator humano”. Na busca por atender às mudanças ambientais e à necessidade do contínuo aperfeiçoamento dos processos, as empresas passaram a investir em novas formas de parcerias de trabalho. Paralelamente, os profissionais estão sendo levados a buscar 27 nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS • CAPÍTULO 2 diferentes alternativas de renda e de participação num mercado competitivo e de mudanças constantes, como o empreendedorismo, o trabalho autônomo e remoto, a economia solidária, a empresa individual e a terceirização, dentre outras. Vamos conversar sobre algumas dessas alternativas? 2.2.1. Empreendedorismo Na visão de Timmons (1994, apud DORNELAS, 2008, p. 28), o empreendedorismo poderia ser comparado a uma “revolução silenciosa”, que representaria para o século XXI, um movimento mais significativo do que teria sido a Revolução Industrial para o século XX. “Empreendedorismo” é uma palavra que vem do latim imprendere e que significa “decidir realizar tarefa difícil e trabalhosa” ou “colocar em execução”. você sabe como se desenvolveu o Empreendedorismo no Brasil? A partir do final da década de 1990, o conceito de empreendedorismo ganhou mais força no Brasil, passando a receber especial atenção por parte do governo e de entidades privadas. Foram desenvolvidos programas de apoio e cursos especializados, integrando as ações de entidades de classe, organizações não governamentais (ONGs), associações, eventos e publicações. De acordo com os estudos realizados por Dornelas (2008, p. 10), com a chegada da globalização e considerando as condições da economia nacional, as empresas brasileiras sentiram a necessidade de procurar formas para reduzir custos, aumentar a competitividade, para, assim, manter seu posicionamento no mercado. Consequentemente, ocorreu um aumento do desemprego, especialmente nas grandes cidades. Assim, várias pessoas se dedicaram a criar novos negócios – pequenas empresas, utilizando suas economias pessoais, mesmo sem ter experiência no segmento escolhido. Esse movimento veio se fortalecendo e profissionalizando ao longo do tempo, ampliando a expectativa das pessoas de todas as idades, em busca de sua realização pessoal. 28 CAPÍTULO 2 • nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS A importância do empreendedorismo reside no fato de contribuir para o crescimento econômico do País, por meio: » da geração de empregos, renda e oportunidades; » do estímulo à inovação; » da melhoria da qualidade de vida e do bem-estar geral da sociedade; » da elevação do padrão de vida das pessoas (aumento do poder de compra). Quem é o Empreendedor? Figura 8. O Empreendedor. Fonte: https://br.freepik.com. Acesso em: 13 out. 2020. De acordo com Dornelas (2001, p. 1), “O empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa aos fatos e tem uma visão futura da organização”. Encontramos empreendedores em todas as áreas de atividades. Eles são indivíduos fundamentais para o desenvolvimento social, por possuírem características que dinamizam as relações tanto pessoais como profissionais. Ainda segundo Dornelas (2008, p. 24), o empreendedor possui algumas habilidades específicas que podem ser classificadas conforme o Quadro 3. Saiba mais Algumas entidades tiveram uma importante atuação no movimento empreendedor no Brasil: O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), consultoria para iniciar o negócio e/ou orientar a solução de pequenos problemas, e a Sociedade Brasileira para Exportação de Software (Softex) – facilitadora das empresas brasileiras de software para entrada no mercado externo. 29 nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS • CAPÍTULO 2 Quadro 3. Habilidades do empreendedor. Técnicas Gerenciais Características Pessoais Saber escrever Criação, Desenvolvimento e Gerenciamento de um novo negócio (áreas funcionais da empresa – marketing, finanças, produção,...) Ser disciplinadoe responsável Saber ouvir as pessoas Estar preparado para tomar decisões Ter visão de futuro e assumir riscos Captar informações Ser um bom negociador Ser inovador Facilidade de comunicação e expressão Ter capacidade de organização e planejamento Orientado a mudanças Ser organizado Interesse em buscar novas informações, soluções e inovações para o seu negócio Ser persistente Saber liderar Ser um líder visionário Saber trabalhar em equipe Ser dinâmico Possui conhecimento técnico na sua área de atuação Ser otimista e apaixonado pelo que faz Criar valor para a sociedade Fonte: Adaptado de Dornelas (2008). como tornar-se um Empreendedor? A ideia de tornar-se um empreendedor pode ser aparentemente um acaso, mas, na realidade, essa decisão é resultado da junção de variáveis externas, ambientais e sociais e de aptidões pessoais. Para iniciar e desenvolver um novo negócio, algumas etapas devem ser cumpridas e fazem parte do chamado “processo empreendedor”: » Identificar, explorar e analisar as oportunidades existentes; » Ter um objetivo maior em mente, trabalhando com uma visão de futuro, que servirá de “bússola”; » “Escolher o negócio”, que deve ser uma “consequência” da visão de futuro; » Desenvolver o Plano de Negócios; » Determinar e captar os recursos necessários; » Gerenciar a nova empresa. Para refletir Dornelas (2008, p. 23), entende que ser um empreendedor não é uma “opção de vida”, mas sim, uma “missão de vida”. O empreendedor coloca em risco o seu futuro e também o de todos aqueles que se juntaram a ele no sonho do negócio e que dependem de suas atitudes e decisões. Talvez, o seu papel mais importante seja o social. 30 CAPÍTULO 2 • nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS 2.2.2. Pejotização Figura 9. Pejotização. Fonte: http://sintercomms.org.br/pejotizacao-uma-das-formas-de-mascarar-a-relacao-de-emprego. Acesso em: 15 out. 2020. As relações de trabalho no mundo, e não diferentemente no Brasil, estão em franca transformação. Anteriormente eram baseadas na estabilidade e na certeza. Hoje, a empregabilidade dos profissionais se vê ameaçada e cria-se, assim, espaço para novas formas de prestação de serviços. Uma delas, em crescimento, é a “empresa individual”, que consolida características de indivíduo (pessoa física) e de empresa (pessoa jurídica), numa única entidade. [...] entende-se por empresa individual qualquer unidade produtiva juridicamnete estabelecida e operada por um único indivíduo, patrão e empregado de si mesmo, a fim de gerar produtos ou serviços para seus clientes, que são, geralmente, grandes empresas contratantes. Produto de uma construção social dos novos tempos do trabalho [...], a empresa individual é um conceito correlato ao de pejotização. (CARVALHO, 2019, p. 17) A “pejotização” pressupõe a formalização de um contrato comercial de “empresa para empresa”. Esse tipo de relação trabalhista apresenta um formato contemporâneo, que traduz a “ressignificação do profissional” como produtivo, autônomo e formalizado. Sugestão de estudo Quer aprofundar seu conhecimento sobre Empreendedorismo? Então consulte: » Site sobre Empreendedorismo (Informações e dicas para o empreendedor). Disponível em: www.toolkit.com. » Publicações e Revistas. Disponível em: www.empreendedor.com.br; http://www.examepme.com.br Plano de Negócios: » Disponível em: www.planodenegocios.com.br (cursos on-line, artigos, links); www.businessplans.org/ (recursos para a elaboração de plano de negócios e avaliação da estartégia de negócio). 31 nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS • CAPÍTULO 2 Por outro lado, desperta a possibilidade de ele conduzir a gestão da oferta de sua força de trabalho e o desenvolvimento do seu caminho profissional. 2.2.3. Home office Desde a década de 1990, as empresas vêm se dedicando à discussão da aplicação prática do home office, e o tema ganhou importância e espaço nos últimos anos. Com o crescimento da necessidade de novas formas de organização do trabalho, as empresas implementaram ações para adaptação de seus processos operacionais e administrativos, além de investirem em novas estruturas organizacionais – mais enxutas e flexíveis, visando a um maior dinamismo e agilidade na sua atuação. Segundo Kugelmass (1996, p. 18), a internet e as novas tecnologias propiciaram uma mobilidade que acabou por dispensar – “de acordo com a função exercida”, a obrigatoriedade da presença física dos profissionais no ambiente de trabalho. Hoje, é possível trabalhar remotamente de qualquer local. O regime de home office pode ser praticado por empresas de qualquer segmento e tamanho. A expressão home office – também conhecida como “trabalho a distância”, “trabalho remoto”, “trabalho em casa”, “trabalho compartilhado” e “teletrabalho”, representa uma nova relação de trabalho, que tem trazido benefícios para as empresas e para seus profissionais. Com o teletrabalho, o profissional precisou adquirir novas competências e habilidades para gerenciar suas tarefas por meio de uma comunicação remota com seu gestor. Estudos mostram que também aumentou seu nível de produtividade. Paralelamente, de acordo com Limongi-França (2004, p. 13), o trabalhador ganhou em qualidade de vida, apresentando redução dos níveis de estresse, em função da redução do tempo de deslocamento até o trabalho, a possibilidade de passar mais tempo com a família e disponibilidade de desenvolver outras atividades que não as profissionais. Figura 10. Home office. Fonte: https://mobiliza.com.br/20. Acesso em: 15 out. 2020. 32 CAPÍTULO 2 • nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS Analisando as organizações ainda sob o ponto de vista das vantagens, percebe-se que elas ganharam com a redução de custos com espaço e infraestrutura, entre outros. Da mesma forma como apresenta vantagens, o home office também possui algumas desvantagens, tanto para os “profissionais” quanto para “as empresas”. As desvantagens do home office estão detalhadas no Circuito Inicial da disciplina, no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). O modelo de trabalho remoto representa uma quebra de paradigma nas empresas, trazendo mudanças nas práticas de gestão de pessoas e nas relações de trabalho no geral. 2.2.4. Terceirização e quarteirização Figura 11. Terceirização e quarteirização. A Terceirização não chega a ser uma modalidade nova, pois desde a Revolução Industrial vem sendo empregada com outros rótulos. Até tempos atrás, nós só conhecíamos a terceirização de serviços de limpeza e segurança. Fonte: https://www.empreendedor-digital.com/terceirizacao. Acesso em: 15 out. 2020. A partir de um mercado cada vez mais competitivo, as empresas têm procurado alternativas que as levem a obter maior eficiência e produtividade. Assim, foi importante voltar seu foco para o negócio principal – o core business, descentralizando as atividades consideradas “acessórias”. A integração dos mercados internacionais do final da década de 80 e início da década de 90 marcaram o começo de um novo estilo de gestão nas organizações: a busca pela excelência empresarial.[...] organizações descobriram que a concentração de esforços nas principais competências, isto é, na missão mesmo da empresa, era uma alternativa possível na questão da sobrevivência [...]. (ARAÚJO, 2006, p. 270) 33 nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS • CAPÍTULO 2 De acordo com Araújo (2006, p. 273), “terceirizar” representa delegar a terceiros (com a devida remuneração), a responsabilidade pela gestão de determinada tarefa ou de um conjunto de atividades. A “quarteirização” pode ser entendida como o processo no qual uma empresa delega a outra o gerenciamento de atividades que já lhe foram terceirizadas. Ou seja, nesse caso, a empresa terceirizada contrata outra empresa para suprir uma demanda do cliente que ela não conseguiu atender com seus próprios recursos. dispositivo legal que regulamenta a terceirização – Lei n. 13.429/2017, foi sancionadaem 31 de março de 2017, alterando a Lei n. 6.019/1974, que dispõe sobre o trabalho temporário (modalidades distintas), a chamada “Lei da Terceirização”. Anteriormente, não havia legislação regulamentando o trabalho terceirizado. Até então, a “legislação” permitia terceirizar “apenas serviços que não faziam parte da atividade principal da empresa contratante”. A nova legislação permite a contratação de terceirizados para “prestar serviços na atividade-fim da empresa contratante”, ou seja, serviços “diretamente ligados à atividade principal do negócio”. Ambas as modalidades são, por vezes, consideradas como sinônimo de outsourcing. Contudo, cabe ressaltar que efetivamente, o termo outsourcing refere-se à contratação de uma fonte que está no exterior, ou seja, fora do País. Saiba mais Em inglês, a palavra out significa “fora”, e source significa “fonte”. Assim, uma empresa procura uma fonte no exterior que apresente condições para trabalhar uma área do seu negócio de forma mais eficiente, obtendo, assim, mais tempo para se concentrar nos aspectos mais estratégicos e vitais da gestão empresarial. Atenção A contratação de prestadores de serviços para terceirização deve ser bem avaliada pela organização, considerando que esse procedimento não necessariamente se aplica a qualquer tipo de empresa. Além dos fatores citados anteriormente, é preciso analisar o contexto geral da organização e seu modelo de negócio. 34 CAPÍTULO 2 • nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS Seja de uma forma ou outra, é fundamental que as empresas percebam que a “Terceirização” e a “Quarteirização” constituem uma opção estratégica na busca de uma melhor gestão organizacional. 2.2.5. Startup Como temos visto até agora, o mundo dos negócios tem passado por mudanças contínuas e velozes, movimentando-se todo o tempo. As diversas transformações nas áreas econômica e tecnológica e também no estilo de vida das pessoas impactam o modo de funcionamento do mercado. O resultado disso é um espaço mercadológico compartilhado entre modelos organizacionais tradicionais e empresas que nascem sob uma nova lógica de estruturação e gestão. Esse novo modelo de empresa é denominado de Startup. você sabe o que é uma startup? O termo startup é relativamente novo e está sendo cada vez mais utilizado, embora apresente alguns conflitos em relação ao seu conceito. Esse tipo de empresa tem sido considerado como uma empresa pequena ou uma empresa em seu período inicial, como uma empresa com baixos custos de manutenção e um enorme potencial de crescimento, ou, ainda, que são apenas empresas de internet ou de tecnologia. A expressão surgiu já há algum tempo nos Estados Unidos, mas só veio a se popularizar no Brasil, a partir da bolha das “empresas ponto-com” – movimento ocorrido entre os anos de 1996 e 2001. Como decorrência desse evento, as ações das novas empresas de tecnologia da informação e comunicação alocadas no espaço da internet ficaram valorizadas. Resumindo o ponto de vista de vários autores e empreendedores, apresentamos uma “definição bastante atual”, que considera uma startup como: Um grupo de pessoas à procura de um “modelo de negócio inovador”, “repetível” e “escalável”, trabalhando em condições de extrema “incerteza” e com soluções a serem desenvolvidas. 35 nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS • CAPÍTULO 2 Figura 12. Startup. Fonte: http://www.pqtec.org.br/servicos-e-negocios/startup. Acesso em: 15 out. 2020. Essa definição de startup envolve vários conceitos que, para melhor entendimento, destacamos a seguir: » Modelo de negócio: significa a maneira “como o negócio funciona” para gerar valor ao cliente (solucionar seus problemas) e à empresa (rentabilidade e sustentabilidade do negócio); » Inovação: o conceito de inovação refere-se ao “desenvolvimento de um produto, serviço ou modelo de negócio completamente novo ou ainda pouco explorado”; » Repetível: representa a capacidade da empresa de “entregar o mesmo produto por mais de uma vez” em escala potencialmente ilimitada, sem muitas customizações ou adaptações para cada cliente; » Escalável: significa o “ponto crucial” de uma startup, qual seja, “crescer cada vez mais”, sem que isso impacte o modelo de negócios da empresa; » Incerteza: significa que não é possível afirmar se determinada ideia e/ou projeto de empresa irão realmente dar certo – ou ao menos se provarem sustentáveis. Startups são somente empresas de internet? Não necessariamente. Por possuírem caráter inovador, as startups geralmente utilizam recursos tecnológicos, mas não é só isso que as caracteriza. Elas só se apresentam mais frequentemente na internet porque criar uma empresa de software representa um custo muito mais baixo do que criar, por exemplo, uma empresa de agronegócio ou de biotecnologia. Em paralelo, a exposição na web torna a expansão do negócio bem mais fácil, rápida e barata – além da venda ser repetível. 36 CAPÍTULO 2 • nOvO cOnTEXTO dOS nEgÓcIOS E SEUS PaRadIgMaS E as startups têm sido bem-sucedidas? Tanto no Brasil quanto em outros países, existem vários exemplos que deram e estão dando muito certo. Em geral, essas empresas são lideradas por jovens empreendedores, com ideias que se mostraram grandes inovações em suas áreas de atuação. Sintetizando O que vimos até aqui? » Para enfrentar os desafios do novo cenário de mercado, as empresas precisam reinventar seu modelo de gestão. » Características como flexibilidade, velocidade de decisão, inovação e criatividade são indispensáveis para lidar com as mudanças constantes e velozes. » O exercício da “empresabilidade” torna-se, cada vez mais, um fator de vantagem competitiva para as organizações. » Uma das principais mudanças que está revolucionando o cotidiano das empresas são as novas ferramentas tecnológicas. » O mundo do trabalho vem sofrendo constantes transformações, impactando empresas e profissionais. » Novas formas de relações de trabalho estão se estabelecendo entre empresas, profissionais e parceiros. » As novas relações trabalhistas possuem modelos diversificados, vantagens, desvantagens e cuidados a observar. » Os profissionais estão reinventando o conceito de empregabilidade e fazendo novo uso dele. 37 Introdução Nos tempos atuais, a complexidade e a dinâmica do mercado têm impactado fortemente o ambiente organizacional, impondo inúmeros e variados desafios à atuação do administrador/gestor. Dentre eles, podem ser citados o aumento da carga horária de trabalho, a maior sofisticação das decisões e a diversidade de personalidades, experiências e conhecimentos, considerando que as pessoas precisam estar engajadas em um objetivo comum. Visando auxiliar o processo de gestão no mundo contemporâneo, abordaremos neste capítulo, as competências, as habilidades e as atitudes que o administrador/gestor necessita desenvolver e/ou aperfeiçoar para o exercício da atividade gerencial e que variam de acordo com o seu posicionamento na hierarquia organizacional. Também serão discutidos outros diversos papéis por ele desempenhados – para além das atividades básicas relacionadas ao processo administrativo (planejamento, organização, direção e controle) e que interferem nas relações interpessoais em geral, assim como na gestão de informações para a tomada de decisões. A partir dos aspectos até aqui mencionados, você já deve ter percebido que será preciso estar muito bem preparado para atender às mudanças profundas, constantes e cada vez mais velozes geradas pelo atual momento denominado “Indústria 4.0” ou “Quarta Revolução Industrial”. Por isso, estaremos também focando o perfil do “Profissional 4.0”, para o qual, o conhecimento técnico, aliado a características como inteligência emocional, visão analítica, multidisciplinaridade e criatividade serão, certamente, algumas das aptidões relevantes para aqueles que desejarem se manter ou ingressar no mercado de trabalho. Objetivos » Conhecer a evoluçãodas diferentes abordagens sobre as tendências das teorias administrativas em relação ao papel do administrador/gestor. 3 CAPÍTULO PaPEL dO gESTOR E SUaS COMPETÊNCIAS 38 CAPÍTULO 3 • PaPEL dO gESTOR E SUaS cOMPETêncIaS » Compreender como as organizações e seus profissionais devem se preparar para atuar diante das constantes demandas de um mercado globalizado e cada vez mais competitivo. » Definir e compreender as competências, as habilidades e os papéis do administrador/gestor. » Refletir sobre a importância da utilização de algumas ferramentas básicas que o administrador/gestor deve possuir para realizar suas atividades. » Contribuir para a reflexão sobre as mudanças e os principais impactos trazidos pela “Indústria 4.0”, em especial para os perfis dos profissionais. 3.1. Papel do gestor e suas competências Basicamente, o que podemos esperar de um administrador/gestor? O processo de administrar não pode ser separado das atividades desenvolvidas pelo gestor, independentemente do seu nível hierárquico, da função organizacional na qual atua e do segmento de negócio da empresa. Os estudos sobre o papel do gestor tiveram início nas eras antiga e medieval, mas foi ao longo do século XX que se destacaram as principais contribuições de diversos autores sobre a função do gestor. Segundo Nogueira (2007, pp. 86-90), para melhor evidenciar a evolução das tendências sobre as teorias relacionadas ao papel do gestor, destacamos no Quadro 4, as abordagens mais reconhecidas e reproduzidas nos livros de Administração. Quadro 4. Principais abordagens sobre o papel do gestor. Autor Principais Contribuições Henry Fayol (1841-1925) Ideia da administração como função empresarial separada das demais (finanças, produção etc.) Destaque para a “autoridade” e a “disciplina”. Sugestão de estudo Para conhecer com maior profundidade as contribuições dos estudiosos desse tema, tais como, Henry Fayol, Chester Barnard, Robert L. Katz, Herbert Simon, Peter Drucker e Henry Mintzberg, dentre outros, indicamos o livro “Teoria Geral da Administração para o século XXI”, de Arnaldo Mazzei Nogueira. 39 PaPEL dO gESTOR E SUaS cOMPETêncIaS • CAPÍTULO 3 Autor Principais Contribuições Chester Barnard (1886-1961) Sistema de comunicação capaz de captar informações da organização informal. Equilíbrio entre esforços dos colaboradores e os benefícios recebidos. Destaque para a “cooperação” e os “benefícios”. Robert L. Katz(1933-2010) Desenvolvimento das funções gerenciais com base em “habilidades” e “competências específicas”. Herbert Simon (1916-2001) Foco na importância do “processo decisório” para a função gerencial. Peter Drucker (1909-2005) A atuação do administrador se destaca pela “responsabilidade em relação à contribuição para o desempenho da organização”. Henry Mintzberg (1939) Ampliação das funções empresariais, associando-as à “gestão de relações interpessoais, informações e decisões”. Fonte: Elaborado pelos autores. E na Era do Conhecimento, o papel básico do administrador/gestor sofre alguma alteração? Na Era do Conhecimento, a capacidade de obter resultados por meio da equipe tornou-se prioritária, uma vez que o “conhecimento encontra-se na mente das pessoas e transformá-lo em resultados exige grande habilidade e conhecimentos de administração”. 3.2. Competências, habilidades e atitudes fundamentais ao gestor É perceptível que a sociedade e o mundo estão se transformando e novos fatores estão se tornando importantes a cada dia para o administrador/gestor. A revolução tecnológica gerou novos cenários históricos e novas características, que impactam as iniciativas organizacionais. Dentro desse contexto, as diversas áreas do conhecimento estão requisitando um aprendizado permanente. Lacombe e Heilborn (2003, p. 9) reforçam que as técnicas e as habilidades do administrador/gestor não podem mais permanecer quase que inalteradas. Por outro lado, é importante ressaltar também que não existe um administrador/gestor que seja ideal para tratar de todas as situações. As empresas necessitam de gestores com “qualidades e qualificações pessoais diferenciadas, ou seja, competências múltiplas”. [...] há uma evolução das qualificações do gerente, caracterizada pelo aumento cada vez maior das exigências de habilidades e competências. Hoje, o nível de atuação do adminitrador define-se pelo poder de tomar decisões. [...] Também é fundamental que ela conheça aspectos da área 40 CAPÍTULO 3 • PaPEL dO gESTOR E SUaS cOMPETêncIaS técnica, tenha bom relacionamento com as pessoas e domine o conceito geral e estratégicoda organização. (NOGUEIRA, 2007, pp. 90-91) Percebe-se, assim, a necessidade de uma nova postura do administrador/gestor diante das adaptações que serão necessárias para lidar com as transformações organizacionais. Precisará desempenhar papéis diversos, além de desenvolver e aperfeiçoar continuamente novas habilidades e competências. 3.2.1. Competências Segundo Sobral e Peci (2008, p. 16), os administradores necessitam de certas competências específicas para desempenho de seus cargos, e elas variam de acordo com o nível organizacional que ocupam. As competências pessoais do administrador/gestor são tão importantes quanto as suas habilidades – que veremos a seguir, pois elas constituem qualidades das pessoas que demonstram sua capacidade de analisar uma situação, propor soluções e equacionar assuntos ou problemas. Quais competências fundamentais são desejadas em relação ao administrador/gestor? Figura 13. Competências fundamentais do administrador. CONHECIMENTO Saber Aprender a aprender Aprender continuamente Aumentar conhecimento HABILIDADE Saber fazer Aplicar conhecimento Saber pensar e agregar valor Transformar conhecimento em algo concreto ATITUDE Saber fazer acontecer Aplicar habilidade Alcançar objetivos Transformar habilidade em resultado JULGAMENTO Saber diagnosticar situações Capacidade de análise crítica Visão sistêmica Fonte: Adaptado de Chiavenato (2006). Como mostrado por Sobral e Peci (2008, pp. 15-16), uma detalhada pesquisa iniciada em 1997 no Reino Unido pelo Management Charter Initiative (MCI), e concluída pelo Management Standards Centre (MSC), em 2004, mapeou as competências que mais se associavam às melhores práticas gerenciais. É fato que elas têm sido aperfeiçoadas 41 PaPEL dO gESTOR E SUaS cOMPETêncIaS • CAPÍTULO 3 ao longo do tempo com as transformações advindas das mudanças constantes, mas nos fornecem uma boa ideia do que é necessário a uma gestão de excelência. Essas competências variam de acordo com o nível organizacional do administrador/gestor (gestores de topo – estratégicos, gerentes intermediários – táticos e supervisores de primeira linha – operacional, e destacaremos algumas delas no Quadro 5. Quadro 5. algumas competências do administrador/gestor. Nível Estratégico Nível Tático Nível Operacional Liderar a empresa, comunicando seu propósito, valores e visão organizacionais. Desenvolver e implementar planos operacionais para sua unidade ou departamento. Administrar os recursos pessoais e seu desenvolvimento profissional. Mapear o ambiente no qual a empresa opera. Planejar, liderar e implementar a mudança em produtos, serviços e/ou processos. Encorajar a inovação na sua área de responsabilidade. Encorajar a inovação da organização. Recrutar, selecionar e manter os colaboradores motivados. Administrar os orçamentos para sua área de responsabilidade. Monitorar, avaliar e melhorar o desempenho organizacional. Administrar as relações com os clientes, de forma a alcançar sua satisfação. Assegurar o cumprimento de requisitos de segurança e saúde em sua área de responsabilidade. Promover o uso de novas tecnologias na organização. Desenhar e gerir os processos de negócio para sua unidade. Promover a igualdade de oportunidades e a diversidade na sua área de responsabilidade. Fonte: Adaptado de Management Standards Centre (2004). 3.2.2. HabilidadesNão apenas as competências são importantes para o administrador/gestor desempenhar funções administrativas e alcançar vantagens competitivas para as empresas. A preparação para administrar/gerenciar requer das pessoas o desenvolvimento de uma série de habilidades para que possam ter um desempenho de sucesso. Habilidades são conhecimentos específicos que resultam de entendimento, informação, prática e aptidão. [...] elas serão agrupadas em três categorias: habilidades técnicas, habilidades interpessoais e de comunicação e habilidades conceituais e decisórias. (BATEMAN; SNELL, 1998, p.36) De acordo com a classificação tradicional de Robert L. Katz1 elaborada em 1955, Sobral e Peci (2008, p. 15) definem os “três tipos de habilidades” que precisam ser praticadas pelo administrador/gestor, como segue: 1 Robert L. Katz. “Skills of na effective administrator”, Harvard Business Review, set.1974. Para refletir O administrador/gestor precisa ser mais do que um “agente” de mudança dentro das organizações. Hoje, é fundamental que seja um “provocador” da mudança de mentalidade, de cultura, de processos, de atividades, de produtos/serviços etc. Partindo do ponto de vista de ele que faz acontecer a mudança, “será que alguma das competências discutidas é mais importante do que as outras ou elas se complementam para o sucesso do processo gerencial?” 42 CAPÍTULO 3 • PaPEL dO gESTOR E SUaS cOMPETêncIaS » Habilidades conceituais: relacionadas à capacidade de coordenação e integração dos interesses e atividades da organização ou de um grupo. Possibilitam, ainda, a definição de uma estratégia de sucesso para a organização, por meio da identificação de oportunidades nem sempre percebidas por outros. » Habilidades humanas: referem-se à capacidade e facilidade de relacionamento interpessoal e grupal (comunicação, compreensão, motivação, coordenação, liderança e solução de conflitos). » Habilidades Técnicas: envolvem o uso de conhecimento especializado e facilidade para a aplicação e utilização de procedimentos, técnicas e equipamentos, necessários ao desenvolvimento das atividades relacionadas à sua área de atuação. Todas as três habilidades “são igualmente relevantes” para um desempenho de excelência. Contudo, a importância do uso e do peso de cada uma delas “varia de acordo com o nível organizacional da função ocupada na organização”, como podemos ver na Figura 14 a seguir. Por exemplo, na medida em que se sobe para os níveis mais elevados da organização – Alta Direção, diminui a necessidade de habilidades técnicas (importantes para os Supervisores de primeira linha, enquanto aumenta a necessidade de habilidade conceitual. Já as habilidades humanas são igualmente importantes em todos os níveis hierárquicos, pois é fundamental saber lidar com as pessoas. Figura 14. As habilidades do administrador e os níveis organizacionais. Nível Estratégico (Diretoria da Empresa) Nível Gerencial (Departamentos/Seções da Empresa) Nível Operacional (Equipes e Funcionários) HABILIDADES CONCEITUAIS HABILIDADES HUMANAS HABILIDADES TÉCNICAS Fonte: https://infonauta.com.br/administracao-em-publicidade/11/conceitos-fundamentais-em-administracao- estrategica/. Acesso em: 23 dez. 2020. 43 PaPEL dO gESTOR E SUaS cOMPETêncIaS • CAPÍTULO 3 3.3. Papéis dos gestores Para que possa desempenhar sua função com excelência, além das “competências” e das “habilidades” necessárias e já vistas anteriormente, é necessário que o administrador/ gestor desempenhe uma variedade de “papéis”. Esses papéis lhes são conferidos pela autoridade formal que lhe é concedida pelo cargo ocupado. De acordo com os estudos de H. Mintzberg2, é esperado que o administrador/gestor desempenhe uma série de dez papéis, classificados em três categorias, de acordo com a Figura 15. Figura 15. Papéis do administrador. Fonte: Adaptado de Sobral e, Peci (2008). 2 H. Mintzberg, “The managers´s job: folklore anda fact.” Harvard Business Review, 1990. Saiba mais Papéis são os conjuntos de expectativas de comportamento de um indivíduo, em situações específicas. (SILVA, 2008, p. 15) 44 CAPÍTULO 3 • PaPEL dO gESTOR E SUaS cOMPETêncIaS As categorias em que se dividem os papéis do administrador/gestor podem ser assim descritas (SOBRAL; PECI, 2008, p. 14): Quadro 6. categorias dos papéis do administrador. Papéis Interpessoais Referem-se às relações com outras pessoas (forma de interação e influência), sejam elas membros da organização ou externas a ela. Papéis Informacionais Desempenhados quando da coleta, da troca, do processamento e da comunicação de informações. Papéis Decisórios Relacionados com a forma como o administrador/gestor utiliza as informações disponíveis na tomada de decisões. Fonte: Elaborado pelos autores. A análise das “Competências, Habilidades e Papéis” do Administrador/gestor nos permite entender que a exigência para um desempenho eficaz, vai além do conhecimento das funções administrativas básicas – planejamento, organização, direção e controle. É necessário possuir a chamada “Competência Administrativa”, que se apoia na aprendizagem, a qual impacta de forma direta o crescimento e o desenvolvimento pessoal e profissional de uma pessoa. Uma competência administrativa é um conjunto de conhecimentos, habilidades, comportamentos e atitudes de que uma pessoa necessita para ser eficaz em um vasto campo de atividades administrativas, em vários tipos de organizações. (SILVA, 2008, p. 17) 3.4. Perfil profissional para a Quarta Revolução Industrial O mundo tem sido impactado por um ritmo extremamente acelerado. As organizações contemporâneas estão enfrentando mudanças que vêm ocorrendo no cenário mundial, tanto no que diz respeito ao seu ambiente organizacional quanto no que se refere ao alcance de seus objetivos e manutenção da competitividade. O conceito de “Indústria 4.0” – também denominada como a “Quarta Revolução Industrial” é um conceito recente e foi utilizado pela primeira vez na Feira de Hannover, Sugestão de estudo Deseja conhecer de forma detalhada as “Atividades” que se referem a cada um dos papéis do administrador/gestor? Então, consulte o livro Administração: teoria e prática no contexto brasileiro, de Sobral e Peci (2008, p. 13). Vai valer a pena para o melhor entendimento da atuação gerencial. 45 PaPEL dO gESTOR E SUaS cOMPETêncIaS • CAPÍTULO 3 em 2011, com base em um projeto desenvolvido pelo governo alemão contendo estratégias relacionadas aos avanços e à utilização de novas tecnologias aplicadas aos processos de manufatura. Contudo, a busca pela eficiência, descentralização, customização, segurança e inteligência dos processos deixou de ser foco exclusivo das indústrias, alcançando, também, outros setores do mercado, como, por exemplo, o setor de serviços. Segundo Baldwin, Rubin e Bommer (2008, p. 281), atender a esses aspectos exige mudanças das empresas, tais como a criação de estruturas de negócios mais competitivas e flexíveis, a inserção de tecnologias inteligentes nos processos de trabalho, a utilização de formas diferenciadas no que se refere às relações de trabalho com os colaboradores e prestadores de serviços, além de novas características para o perfil do “Profissional 4.0”. Quais são as principais características da Indústria 4.0? Figura 16. Indústria 4.0. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/industry-40-double-exposure-concept-3d-1131960653. A Indústria 4.0 está diretamente relacionada às inovações tecnológicas e à automação dos processos de trabalho e, também, das funções realizadas pelos profissionais das empresas. Assim, a partir da união entre as tecnologias, se apresenta um novo cenário de atuação – inovador e revolucionário, tanto para as empresas quanto para os profissionais. Um dos pilares da produção 4.0 é a Inteligência Artificial (AI), que promove a agilização e a transformação de toda a cadeia produtiva de um negócio. 46 CAPÍTULO 3 • PaPEL dO gESTOR E SUaS cOMPETêncIaS
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