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INCONTINÊNCIA URINÁRIA Introdução Incontinência urinária (IU) qualquer perda involuntária de urina. Epidemiologia Gestação 16 a 60%. 27.936 mulheres com idade ≥20 anos Prevalência de IU: 25%, sendo que IUE representava 50% dos casos Prevalência de IU aumenta com a idade. Fatores de risco Obesidade. Tabagismo: causa a flacidez da musculatura pélvica por diminuição da produção de colágeno e também provoca alteração pulmonar que desencadeia o surgimento de DPOC e consequentemente a presença de tosse crônica que leva ao estresse crônico em excesso na região pélvica. Multiparidade: quanto mais gestações maior a pressão no assoalho pélvico. Menopausa: a redução do estrogênio e também a diminuição dos receptores estrogênicos na região provoca uma diminuição da produção do colágeno e promove consequentemente uma facilidade maior de mobilidade da uretra. Prática de atividade física com sobrecarga de peso. Classificação IU ao esforço (IUE): 25-75%. IU de urgência (IUU): 33%. IU mista: geralmente um componente de urgência e um componente de esforço, sendo mais comum na pós-menopausa. IU de transbordamento: normalmente provocada por alguma lesão do esfíncter ou do nervo presente no assoalho pélvico. IU transitória/funcional: causada por uma infecção urinária bacteriana em que a toxina da bactéria (por exemplo, E. coli ou outra) leva a uma perda de urina transitoriamente. IU por desvio: causada por iatrogenia como o surgimento de uma fístula ou alguma outra alteração no assoalho pélvico pós-cirúrgica. CONCEITO: Incontinência Urinária de Esforço O aumento da pressão intra-abdominal leva ao escapamento de urina caso a mulher tenha uma fraca sustentação na junção uretrovesical. Existem duas classificações para a IUE: o Hipermobilidade do colo vesical (VLPP>90 cmH2O durante estudo urodinâmico), sendo que em 40% dos casos à associação com a presença de cistocele devido a lesões do assoalho pélvico. Geralmente desencadeada aos grandes esforços como um espirro, por exemplo. o Deficiência esfincteriana intrínseca (VLPP <60 cmH2O): alterações intrínsecas da região uretral levam a perda de urina aos mínimos esforços. São os casos mais graves em que o tratamento é mais invasivo e cirúrgico. CONCEITO: Incontinência Urinária de Urgência Presença de contrações do músculo detrusor durante a fase de enchimento vesical, desencadeada espontaneamente ou em resposta a estímulos. Na maioria dos casos não se tem uma causa específica (instabilidade idiopática) ou então é desencadeada por uma hiperatividade neurogênica. Causas: ITU, tumores, CI, uretrites, AVCs, DM, ICC, cafeína, álcool, constipação, ansiedade, medicações. Fisiopatologia Diagnóstico O diagnóstico da IU é clínico. Anamnese (frequência, retenção, hematúria, noctúria, gotejamento pós-miccional, medicações, disúria, perda contínua, cirurgias). Diário miccional - 1 a 3 dias. Exame físico (trofismo, distopias, reflexo bulbocavernoso). Q-tip test. Obs.: em 40% das mulheres que tem IU o prolapso genital se mostra presente. Exames complementares: o Laboratorial: EQU, Urocultura, glicemia de jejum, sendo que se houver hematúria é necessário solicitar um exame de imagem. o Medida do resíduo pós-miccional. o Avaliação urodinâmica: IUU E de 55% e S de 73%; IUE S de 90% e E de 51%. Por ser desconfortável (sonda na uretra e no ânus), é um exame solicitado quando o tratamento instituído não está sendo eficaz, nos casos de dúvida diagnóstica, pacientes com recidiva pós-cirúrgica e nos casos de uma avaliação pré-cirúrgica. o Videourodinâmica. o Uretrocistoscopia. o US (transvaginal e translabial) anatomia da JUV. o Uretrocistografia miccional (divertículo de uretra). o Urografia excretora ou TC com contraste (fístula urinária). o Ressonância magnética. Tratamento da incontinência Redução de peso. Modificação de hábitos como cigarro, dieta, constipação e ingestão de líquidos (nos casos de pacientes com IUU e que também possuem noctúria é indicado orientar quanto a redução de líquidos a noite). Fisioterapia pélvica (nível A de evidência para tratamento da IU). Estrogênio tópico (mulheres na menopausa possuem geralmente uma atrofia genital importante e pouca vascularização da região uretral. Com isso, o uso do estrogênio tópico irá melhorar o trofismo genital e a vascularização. Porém, é uma conduta terapêutica que não possui evidência direta para tratamento da IU). Os estrogênios tópicos não serão usados de forma isolada e sim em associação com as outras formas de tratamento como um todo. Medicamentos (normalmente utilizados nos casos de IUU). Não são exames solicitados de rotina e sim somente em casos específicos como hematúria, alterações no ultrassom, divertículo, fístula. Cirurgia (geralmente empregada nas pacientes com IUE refratárias ao tratamento conservador). Laser vaginal (possui evidência para tratamento de atrofia genital em pacientes com IUE de grau leve, mas pode ser usada também na IUU). Abordagem inicial: Exercícios de Kegel e graus de força muscular: Tratamento conservador Terapia comportamental: o Perda de peso + eliminar doenças que levam a um aumento crônico da pressão abdominal IUE. o Diminuir xantinas, cafeína, carboidratos. o Restrição hídrica sem evidências, porém melhora a noctúria. o Contração dos músculos do assoalho pélvico (MAP) durante um episódio de urgência miccional (nível B de evidência). Retrerinamento vesical – Nível A de evidência o Micções voluntárias frequentes aumentando o intervalo aos poucos volume vesical baixo AUMENTAR A CAPACIDADE FUNCIONAL - CHEGANDO 4/4 HRS. o Treinamento do SNC (micções com horário pré-determinados) e assoalho pélvico diminui sintomas de urgência miccional. Exercícios perineais – TMAP (>50 ECR – Nível A de evidência). o Kegel (1951): efetivos e melhoram em torno de 35% a 85% após 3 meses serve para IUE e IUU – Grau 0 a 4 (Ortiz, 1994). o Cones intravaginais: fortalecimento da musculatura (40-50%). o Biofeedback (50%) 30% não tem consciência corporal. o Eletroestimulação intravaginal, sacral ou tibial posterior Taxa de cura variável (30-70%). Obs.: *taxas de cura variáveis conforme gravidade. Incontinência urinária de esforço refratária O objetivo primordial do tratamento cirúrgico é restaurar o suporte normal da uretra para manter a continência durante o aumento da pressão intra-abdominal. Tipos de técnicas cirúrgicas empregadas: o Cirurgia de Burch aberta ou vídeo: o Utilização da fáscia da aponeurose do músculo reto abdominal. o Utilização de telas de propileno (padrão-ouro). o Passagem da tela via vaginal retropúbica lateralmente a bexiga dos dois lados (é mais utilizado na cistoscopia), sendo que nos casos mais graves (por exemplo, pacientes obesas) o ângulo de inserção da tela será mais fechado e nos casos mais leves mais aberto. o Passagem da tela via forame transobturatório (mais utilizada). Incontinência Urinária de Urgência ou Mista Refratária Terapia medicamentosa: o Medicações anticolinérgicas: bloqueio competitivo com receptores muscarínicos, inibem as contrações e aumentam a capacidade cistométrica e diminuem o tônus do detrusor (taxa de cura: 73% com a Oxibutinina). o Terapia comportamental (taxa de cura: 57,5%). o Associação medicamentoso + comportamental (taxa de cura: 88,5%). Toxina botulínica (tratamento de terceira linha). Neuromodulação sacral (eletrodo colocado em vértebra S3, sendo utilizado em casos mais graves). DISTOPIAS GENITAIS Definição Descenso da parede vaginal anterior, posterior, ápice ou cúpula. Geralmente causada pelo estresse crônico, assim como na IU. Epidemiologia Geralmente incomum em mulheres abaixo de 40 anos. Nomenclatura Defeito Apical – Nível I Prolapso uterino: notar a presença do colo uterino, sendo possível visualizar a parede anterior e posterior da vagina. Defeito do Terço Médio – Anterior da Vagina – Nível II Prolapso de cúpula vaginal: notar que nessa imagem não é possível ver o colo uterino. Cistocele: notar que a bexiga está para fora, não sendo possível enxergar o colo uterino. É causada por um defeito na fáscia vesicovaginal. Retocele: notar o deslocamento do reto que empurra a parede posterior da vagina. É causado por um desgaste do septo reto-vaginal e o enfraquecimento dos músculos do pavimento pélvico. Defeito do Terço Distal – Fusão Uretra e Períneo nos Músculos Elevadores do Ânus – Nível III Caracterizado pela rotura do períneo, sendo comum em mulheres que realizaram parto vaginal. Fatores de risco Parto vaginal, principalmente de recém-nascido macrossômico. Multiparidade. Uso de fórceps. Obesidade. Tabagismo. Idade. Rotura do períneo junto com nível II de retocele. Diagnóstico Vaginais: “bola na vagina”, dor lombar, redução digital para micção ou evacuação, sangramento, secreção anormal, ulcerações. Anorretais: constipação, bloqueio evacuatório, incontinência fecal, tenesmo. Urinários: hesitação, resíduo pós-miccional, ITU de repetição, incontinência, obstrução, gotejamento, dor. Sexuais: obstrução, dispareunia, flacidez, redução da libido, constrangimento. Diagnóstico – Anamnese + Exame Físico Avaliação neurológica: o L1-S4: períneo, parte interna e anterior das coxas. o Reflexo bulbo-cavernoso e cutâneo-anal. Exame pélvico: o Sinais de hipoestrogenismo. o Avaliação da mucosa. o Repouso e com valsalva isolar paredes vaginais com o espéculo vaginal. Classificação dos Prolapsos Existem duas classificações: o Baden-Walker Geralmente é a classificação utilizada na prática, porém ela nunca foi validada. o Sistema de quantificação do prolapso de órgão pélvico (PQP-Q) – 1996. Baden – Walker Descrição Quantitativa do PQP-Q Ponto de referência anatômico: anel himenal 0, +, -. Pontos definidos: o 2 parede anterior: a. o 2 parede posterior: p. o 2 compartimento superior: c, d. o Outras medidas e referências: HG (hiato genital), CP (corpo perineal), CVT (comprimento vaginal total). Pontos de referência: gh – hiato genital (vai da uretra até a região das carúnculas himenais, pb – corpo do períneo (vai da carúncula até a prega anal), Aa – parede anterior (vai da uretra até 3 cm para dentro), Ba – parede anterior (dos 3 cm para dentro até o útero), ap – parede posterior, bp – parede posterior, C (colo do útero), D (fórnix posterior da vagina ausente em pacientes que realizaram histerectomia), tvl (comprimento vaginal total). Seta em amarelo Medida do hiato genital (gh). Círculo em amarelo Medida do corpo perineal (pb). Rotura do períneo (hg de 7 cm e pb de 2 cm) É desencadeado quando há uma diferença entre os tamanhos do gh e pb. Geralmente gh e pb possuem um tamanho igual em torno de 3 cm. Comparação entre os níveis na escala de Baden e PQP-Q Medida do comprimento vaginal total (tvl) Esse comprimento varia de mulher para mulher, podendo ser 5 cm, 6 cm, 7 cm ou 8 cm. Tabulação – PQP-Q Tratamento Individualizar. Tratamento conservador (utilizado nos casos de pacientes com prolapso estágio I e II os quais não há exteriorização do prolapso e paciente não sente incômodo/desconforto): o Perder peso. o Evitar constipação. o Evitar aumento da pressão abdominal. o Cessar tabagismo. o Corrigir atrofia. o Reabilitação do músculo pélvico: Kegel, biofeedback, eletroestimulação. Nesses casos a fisioterapia não tem um efeito tão benéfico como na IU, porém, é uma técnica que pode ser usada para evitar que piore o grau de prolapso. Por isso, é indicado em pacientes que não queiram operar inicialmente com prolapso pequeno. o Pessários: utilizado em pacientes mais velhas com prolapsos grandes e muitas comorbidades associadas que não queiram fazer cirurgia. Tratamento cirúrgico (principalmente utilizado em pacientes com prolapso estágio III e IV): o Técnicas sítio-específicas: utilização da própria fáscia endopélvica para correção dos defeitos. o Comprometimento do próprio tecido: uso de telas de material biológico ou sintético, com exceção do compartimento posterior. Tratamento com tecido sintético Diferentemente do tratamento com telas na IU em que se é usado somente um pedaço de tecido sintético, nas distopias são usadas telas inteiras. Com isso, o tratamento com tecido sintético nos casos de prolapso deve ter uma indicação muito criteriosa devido aos riscos associados, tais como: o Infecções, seroma, abcesso, fístula muitos raras. o Dor e retração difícil tratamento pouco descrita. o Erosão e extrusão taxa de 25%. o Menor recidiva taxa de 8-23%. Não existe ainda nível I de evidência cientifica para apoiar o uso de tela de polipropileno vaginal no tratamento da distopia de compartimento apical oi posterior. IUGA: reconhece maior benefício para cistoceles e/ou prolapso apical graves e recorrentes, estrutura fascial muito deficiente e aumento crônico da pressão abdominal, critério arbitrário >50 anos. LEFORT – Cirurgia Obliterativa Tipo de cirurgia com ótimo resultado, porém, é indicado para mulheres idosas, pois se fica com um canal vaginal bem curto impossibilitando posteriormente a prática sexual.