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1 Flávia Demartine Endócrino Diabetes Mellitus DEFINIÇÃO • Diabetes Mellitus consiste em um distúrbio metabólico caracterizado por hiperglicemia persistente, que ocorre devido a defeitos na secreção ou na ação do hormônio insulina ou ambos; • É uma doença crônica, complexa e multifatorial; • É um importante e crescente problema de saúde em todos os países, independentemente do seu grau de desenvolvimento. EPIDEMIOLOGIA • A IDF estimou que 8,8% da população mundial com 20 a 79 anos viviam com diabetes; sendo que 46,5% desconheciam ter a doença. DM1 5-10% DM2 90 – 95% • Se as tendências atuais persistirem, o número de pessoas com diabetes em 2040 foi projetado para ser superior a 642 milhões (1 em cada 10 adultos). CLASSIFICAÇÃO FISIOLOGIA DO PÂNCREAS • Pâncreas endócrino: • Ilhotas de Langerhans: - Célula β (60%): Insulina. - Célula α (25%): glucagon. • Principal estímulo para secreção de insulina é a glicose sanguínea. Insulina: • Hormônio que regula a homeostase de glicose, lipídeos e proteínas. • Peptídeo C e insulina: Secretados em quantidades equivalentes. Insulina: • Homeostase de glicose: ➔ Aumenta a captação periférica de glicose, principalmente nos tecidos muscular e adiposo. ➔ Reduz a produção hepática de glicose (via diminuição da gliconeogênese e glicogenólise). ➔ Redução da glicemia. • Homeostase de lipídeos e proteínas: ➔ Estimula a lipogênese no fígado e nos adipócitos. ➔ Reduz a lipólise. ➔ Aumenta a síntese e inibe a degradação protéica. FISIOPATOLOGIA DM1 • Destruição autoimune ou idiopática das células beta pancreáticas -> deficiência absoluta de insulina. • Suscetibilidade genética conferida pelo sistema HLA, especialmente DR3 e DR4. • Agressão das células beta é desencadeada por um fator ambiental, sobretudo infecções virais devido ao mimetismo molecular entre antígenos virais e antígenos das células pancreáticas. • Autoanticorpos marcadores da destruição autoimune da célula beta: antiilhotas (ICA), antiinsulina (IAA), antidescarboxilase do ácido glutâmico (antiGAD65), tirosinofosfatases (anti IA2 e IA2b) e anti transportador de zinco 8. • Precedem a hiperglicemia por meses a anos (estágio pré diabético) e estão presentes em 85 a 90% dos pacientes na ocasião do diagnóstico. • Podem persistir por até 10 anos ou mais após diagnóstico, sobretudo o antiGAD65. 2 Flávia Demartine Endócrino • Diagnóstico é mais comum na infância e adolescência, mas pode ocorrer em qualquer idade. • Geralmente são pacientes magros, no entanto com a epidemia crescente de obesidade, tem sido cada vez mais frequente pacientes com DM1 e com excesso de peso. • HF positiva em 5 a 10% dos casos. • Polidpsia, poliúria, polifagia e perda de peso. • Crianças: nictúria, enurese noturna, incontinência diurna, aumento troca de fraldas. • Cetoacidose diabética. * Manifestação inicial da doença em até 30% dos casos em adultos e em até cerca de 65% das crianças • Outros: candidíase, turvação visual. FISIOPATOLOGIA DM2 • Suscetibilidade Genética -> herança poligênica. • Defeitos na Secreção da Insulina e resistência insulínica (RI). • Obesidade e Inflamação. • Prejuízo na secreção de hormônios intestinais incretínicos. • Aumento da reabsorção renal de glicose. • Disfunção de neurotransmissores. • Microbiota intestinal alterada. • Idade de diagnóstico: habitualmente após os 40 anos • Maioria dos pacientes obesos (cerca de 80%). • Aproximadamente 70 a 90% dos pacientes tem síndrome metabólica associada, caracterizada por um aglomerado de fatores que implicam risco cardiovascular elevado (dislipidemia, obesidade abdominal, resistência insulínica, tolerância alterada à glicose ou diabetes e hipertensão) • HF positiva em 75 a 90% dos casos. • 50% assintomático ou oligossintomático; o que implica em um atraso no diagnóstico de 4 a 7 anos. • Sintomas inespecíficos: tonturas, turvação visual, astenia e/ou cãibras. • Feridas que demoram a cicatrizar; vulvovaginites de repetição. • Poliúria, polidipsia e perda de peso não intencional; APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Paciente na emergência com hiperglicemia significativa associada a: Poliúria, polidipsia, turvação visual (sintomas decorrentes da hiperglicemia). Perda de peso não intencional (paciente catabólico devido a deficiência insulínica). • Descartar cetoacidose diabética e estado hiperglicêmico hiperosmolar. 3 Flávia Demartine Endócrino • Magro, sem sinais de resistência insulínica, sem HF de DM, especialmente se paciente é jovem: DM1? • Sobrepeso, síndrome metabólica, sinais de resistência insulínica, HF de DM2: DM2 insulinopênico? Independente do tipo de DM, esse quadro requer tratamento com insulina. DIAGNÓSTICO Indicações de rastreamento de DM2: • Todos os pacientes a partir dos 45 anos. • Pacientes com < 45 anos, se fatores de risco associados. • Glicemia em jejum (GJ): Deve ser coletada em sangue periférico após jejum calórico de no mínimo 8 horas e no máximo 12 horas; • TOTG 75g: Coletar uma amostra em jejum (antes da sobrecarga com glicose) e uma amostra 2 horas após sobrecarga. Indicações: GJ alterada (entre 100-125 mg/dl) e gestantes. • Hemoglobina glicada (HbA1c): Reflete níveis glicêmicos dos últimos 3 meses. Sofre interferência de algumas situações, como: Anemias, hemoglobinopatias e uremia. Utilizar metodologias de HbA1c padronizadas no Diabetes Control and Complications Trial (DCCT) e certificadas pelo National Glycohemoglobin Standardization Program (NGSP). TRATAMENTO 1. Objetivos/ pilares: • Mudança de estilo de vida. • Controle das comorbidades associadas. • Rastreio e tratamento das complicações macro e microvasculares. • Controle glicêmico. • Redução de risco cardiovascular. 2. Orientar e estimular mudança de estilo de vida para todos os pacientes! • Perda de peso (5-10% peso inicial). • Cessar tabagismo. • Atividade física: 150 minutos de exercícios aeróbicos e duas a três sessões de exercícios resistidos por semana. • Alimentação equilibrada. 3. Controle das comorbidades associadas: dislipidemia, hipertensão, doença cardiovascular, estatose hepática, hiperuricemia... 4. Complicações crônicas: rastrear e tratar! Microvasculares: Retinopatia diabética. Nefropatia diabética. Neuropatia diabética. Macrovasculares Doença arterial coronariana (DAC). Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVC). Doença Arterial Periférica (DAP). COMPLICAÇÕES ➔ Rastreio das complicações microvasculares: - Quando iniciar? DM2: iniciar no diagnóstico. DM1: iniciar 5 anos após o diagnóstico. - Como realizar? Retinopatia: fundo de olho anual. *Se alterado, seguimento de acordo com gravidade. ➔ Rastreio das complicações microvasculares: Nefropatia: microalbuminúria em amostra isolada anualmente e função renal anual. Neuropatia: avaliação de FR, sinais e sintomas e screening de pé diabético anual. ➔ Rastreio das complicações macrovasculares: Frequência e exames solicitados devem ser avaliados caso a caso. CONTROLE GLICÊMICO Tratamento medicamentoso DM2: antidiabéticos orais, antidiabéticos injetáveis e/ou insulina. DM1: insulina. 4 Flávia Demartine Endócrino BIGUANIDAS Metformina (glifage): Principal mecanismo de ação é a redução da resistência insulínica a nível hepático. • Não causam hipoglicemia. • Neutro em relação ao peso. • EC: náuseas, diarreia, deficiência de vit B12, acidose lática. • CI: ClCr < 30; insuficiência hepática, pulmonar e cardíaca avançadas. • Pacientes submetidos a exames com contraste e procedimento cirúrgico (suspender 24 a 48 h antes). GLITAZONAS • Pioglitazona. • Combate a resistência à insulina, aumentando a sensibilidade à ação da insulina no músculo, adipócito e fígado. • Podepromover ganho de peso e retenção hídrica, aumentando o risco de descompensação de insuficiência cardíaca. • Também pode aumentar o risco de fraturas osteoporóticas. • Contraindicação: gestantes, insuficiência hepática grave e IC classes III e IV. • Cuidado em pacientes com risco aumentado de osteoporose. SULFONILUREIAS • 2° geração (glibenclamida e gliclazida) e 3° geração (glimepirida). • Estimulam a produção endógena de insulina pelas células beta do pâncreas. • Podem causar hipoglicemia, sendo a glibenclamida a de maior risco de hipoglicemia e a gliclazida MR a de menor risco. • Tendência a ganho de peso devido ao efeito hiperinsulinêmico. • Também tem sido relatada interferência no recondicionamento cardíaco pós-isquêmico, notadamente com a glibenclamida. • Gliclazida teve sua segurança CV comprovada pelo estudo ADVENCE. • CI: insuficiência hepática ou renal avançada, gravidez e DM secundário a pancreatite. INIBIDORES DA DIPEPTIDIL PEPTIDASE 4 (DPP4) OU GLIPTINAS • Alogliptina (nesina); • Sitagliptina (januvia); • Linagliptina (trayenta) • Não causam hipoglicemia. • Efeito neutro no peso. • CI: hipersensibilidade e gestação. Cautela em pacientes com antecedente de pancreatite. • Ajuste de acordo com a droga e função renal. ANÁLOGOS DE GLP1 Liraglutida, dulaglutida e semaglutida. • Baixo risco de hipoglicemias. • Muitos comuns efeitos colaterais gastrointestinais: náuseas, vômitos e obstipação intestinal. • Reduzem eventos cardiovasculares, mortalidade cardiovascular e promovem perda de peso. • CI: antecedente de pancreatite; HF ou AP de CA medular de tireoide. INIBIDORES DE SGLT-2 • Dapaglifozina (forxiga), canaglifozina (invokana) e empaglifozina (jardiance). • Baixo risco de hipoglicemia. • Pequena perda de peso (2-3 kg) e redução da pressão arterial sistólica (4-6 mmHg). • Risco aumentado de infecções genitais, infecções do trato urinário e cetoacidose euglicêmica. • Redução de eventos cardiovasculares e mortalidade cardiovascular; redução do risco de progressão para macroalbuminúria, duplicação da creatinina, necessidade de HD e morte por DRC. • CI: ClCr <45 (< 30 para a empaglifozina), gestação. 5 Flávia Demartine Endócrino TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DM2 Monoterapia: Metformina No geral, 1° escolha. Exceto se contra indicações ou intolerância gastrointestinal. Terapia combinada: Avaliar comorbidades e peso do paciente: • Sobrepeso ou obesidade associados: análogos GLP1. • Doença cardiovascular: ISGLT2 ou análogo GLP1 (com benefício comprovado). • DRC: ISGLT2 Necessidade de minimizar risco de hipoglicemia (ex: idosos frágeis, portadores de demência, AVCi, DAC...): IDPP4. Necessidade de reduzir custo: sulfoniluréias. TRATAMENTO MEDICAMENTOSO DM1 Insulinização: Esquema de múltiplas doses (basal/bolus) PERFIL DE AÇÃO DAS INSULINAS TRATAMENTO DM1 Dose inicial: 0,4 a 0,6 UI/kg/ dia. • 40-50% basal. • 50-60% bolus. Insulina Basal: • degludeca e glargina1x (manhã ou ao deitar) • levemir 2x (manhã e ao deitar) • NPH 3x Bolus: • Dose pré-refeições (depende dos níveis de glicemia pré-prandial, quantidade de CHO, contéudo e padrão de atividade física que será realizado). • Lispro, asparte e glulisina: 15 minutos antes de comer. • Regular: 30 minutos antes de comer. METAS DE CONTROLE GLICÊMICO Devem ser individualizadas de acordo com as características do paciente! 6 Flávia Demartine Endócrino
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