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Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes DISPEPSIA DEFINIÇÃO • Existem diversas definições para dispepsia na literatura e isso acaba dificultando muito estudos relacionados a doença. • Dispepsia é definida como um conjunto de sintomas localizados na porção superior do abdome secundários a diversas etiologias. • Sintomas o Epigastralgia → sintoma predominante o Desconforto epigástrico o Saciedade precoce o Plenitude pós-prandial → sensação de que comeu muito quando nem comeu tanto assim o Náuseas e vômitos o Pirose • Atenção! Alguns autores não consideram pirose como sintoma dispéptico, pois ela é um sintoma muito típico de doença do refluxo. EPIDEMIOLOGIA • 25 a 30% da população mundial apresenta sintomas dispépticos • Consultório do clínico geral → 7% dos atendimentos são secundários a dispepsia • Consultório do gastroenterologista → 50% dos atendimentos são secundários a dispepsia • Grande impacto na qualidade de vida • Impacto econômico → altas taxas de absenteísmo (“estar ausente do trabalho”) ETIOLOGIA • 50% dos pacientes → dispepsia funcional (não encontramos nada orgânico, bioquímico, laboratorial ou exames de imagem que justifiquem aqueles sintomas). • 50% dos pacientes → dispepsia secundária a causas orgânicas. CAUSAS ORGÂNICAS DE DISPEPSIA • Alterações do TGI o Pépticas ▪ Doença ulcerosa péptica (10%) ▪ DRGE (40%) • Atenção! Alguns autores não consideram pirose como sintoma dispéptico! Neste cenário, a DRGE não seria uma etiologia de dispepsia. o Não pépticas ▪ Intolerância alimentar (Leites e derivados, café, alimentos muito condimentados, frutas cítricas, álcool e alimentos ricos em gordura). ▪ Neoplasia gástricas e esofágicas ▪ Infecções (giardíase, CMV, strongiloidíase, TB) ▪ Doenças inflamatórias (doença celíaca e doença de Crohn) ▪ Doenças infiltrativas gástricas (síndrome de Ménétrier, sarcoidose, amiloidose, linfoma e gastroenterite eosinofílica) ▪ Isquemia mesentérica ▪ Gastroparesia o Doenças biliopancreáticas ▪ Pancreatite aguda e crônica ▪ Colelitíase, coledocolitíase, disfunção do esfíncter de Oddi Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes ▪ Neoplasia pancreática • Doenças sistêmicas o Doenças cardiovasculares → paciente com dor epigástrica ou com queixa de plenitude ou saciedade precoce, temos que pensar em insuficiência coronariana, principalmente para dor epigástrica e para aqueles pacientes que possuem fatores de risco como síndrome metabólica, obesos, diabéticos, dislipidêmicos. ▪ Insuficiência coronariana o Doenças endócrinas ▪ Diabetes ▪ Doenças da tireoide ▪ Hiperparatireoidismo ▪ Insuficiência adrenal o Colagenoses • Medicamentos o AINEs o Glicocorticoides (ex.: prednisona) o Ferro o Potássio o Antibióticos (macrolídeos e metronidazol) o Alendronato (medicamento para osteoporose) → os pacientes que fazem esse uso devem tomar sentados, com muita água e não se deitarem por pelo menos 2h após a ingesta da medicação, pois caso esse medicamento fique parado no esôfago ele pode causar úlceras e lesões mais graves no esôfago o Digoxina (intoxicação digitálica) o IECA, diuréticos de alça DISPEPSIA FUNCIONAL Quando realizamos a investigação e não encontramos uma causa orgânica para a dispepsia do paciente. Os critérios diagnósticos vão de acordo com os Critérios de Roma IV, 2016. Uma ou mais dos seguintes: Plenitude pós-prandial, saciedade precoce, dor epigástrica e/ou queimação epigástrica E Nenhuma evidência de doença estrutural que possa justificar os sintomas Os critérios devem ser preenchidos nos últimos 3 meses, com início dos sintomas há pelo menos 6 meses para fechar o diagnóstico de dispepsia funcional. • Dispepsia funcional tipo desconforto pós-prandial o Um ou mais dos seguintes sintomas: ▪ Plenitude pós-prandial ▪ Saciedade precoce. • Dispepsia funcional tipo dor epigástrica o Um ou dois dos seguintes: ▪ Dor epigástrica ▪ Queimação epigástrica OBS.: essas queixas podem coexistir. Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes FISIOPATOLOGIA – DISPEPSIA FUNCIONAL Não vamos abordar a fisiopatologia das causas orgânicas de dispepsia, pois elas já foram abordadas anteriormente nesse resumo (aulas de DRGE, úlcera péptica...). Além disso, é importante lembrar que a fisiopatologia da dispepsia funcional não é muito bem estabelecida ainda, são levantadas hipóteses de que todos esses fatores possam estar envolvidos. PAPEL DO HELICOBACTER PYLORI • A erradicação do H. pylori alivia os sintomas dispépticos em alguns pacientes e resulta em um ganho terapêutico de 4% - 14% • Nova classificação → Dispepsia associada ao H. pylori (e não mais dispepsia funcional) • Critério diagnóstico → melhora das queixas dispépticas 6 a 12 meses após o tratamento e a certeza de que a bactéria foi erradicada. DIAGNÓSTICO • Anamnese e exame físico o Sinais e sintomas → epigastralgia, desconforto epigástrico, saciedade precoce, plenitude pós-prandial, náuseas e vômitos o Medicamentos → AINEs e antibióticos o Sinais e sintomas de ansiedade e depressão o Diário alimentar → leite e derivados, café, alimentos muito condimentados, frutas cítricas, álcool e alimentos ricos em gordura. o SINAIS DE ALARME → pacientes com esses sinais precisam ser investigados mais afundo. ▪ História familiar de CA gástrico (em parentes de 1º grau) ▪ Perda de peso ▪ Sangramento gastrointestinal ▪ Disfagia ▪ Anemia ferropriva sem causa definida ▪ Vômitos persistentes ▪ Massa abdominal palpável ▪ Icterícia • Exames complementares (sem fortes evidências quanto à custo efetividade de pedir todos esses exames para todos os pacientes com dispepsia) o Hemograma o TSH e T4 livre / cálcio e PTH / glicemia de jejum e Hb glicada o Amilase e lipase → se suspeitarmos de uma pancreatite como causa da dispepsia Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes o Anti-transglutaminase IgA → na suspeita de doença celíaca como causa da dispepsia o Parasitológico de fezes ou tratamento empírico para parasitose → indicado para ser feito em TODOS OS BRASILEIROS por conta da alta prevalência de parasitoses na nossa população. o Ultrassonografia de abdome superior → avaliação de colelitíase. o Endoscopia digestiva (biópsias pesquisa H. pylori). ▪ Pedir para todos os pacientes que apresentam alguns dos sinais de alarme ▪ Todos acima dos 60 anos de idade devido ao maior risco para CA de esôfago e estômago por exemplo (LITERATURA AMERICANA) ▪ No Brasil, fazer em todos os pacientes acima dos 40 anos de idade, devido a alta incidência de CA gástrico e esofágico na nossa população. • Estratégia TEST-AND-TREAT H. PYLORI (teste respiratório ou antígeno fecal) o Para aqueles com dispepsia e sem indicação de endoscopia (<40 anos e sem sinais de alarme) o É um teste não invasivo, se vier positivo para H. pylori, tratamos. TRATAMENTO – DISPEPSIA FUNCIONAL • Dieta o Evitar alimentos gordurosos o Fracionar refeições (mais frequentes e menores) o Alimentos específicos que desencadeiam os sintomas devem ser evitados • Erradicação do H. pylori o Se H. pylori positivo → TRATAR e fazer controle de erradicação! (dispepsia associada ao H. pylori) o Efeito do tratamento nas queixas dispépticas: ▪ Deixa a desejar ainda ▪ NNT (número necessário a tratar) 8-14 → 1 em 8 pacientes que tratam o H. pylori melhoram da dispepsia ou 1 em 14 pacientes que tratam o H. pylori melhoram da dispepsia ▪ 60-80% dos pacientes permanecem com dispepsia após o tratamento ▪ Ainda assim, é custo-efetivo pesquisar e tratar!!! • Terapia de supressão ácida o Inibidor de bomba de prótons (IBPs) ▪ 1x/dia em doses habituais ▪ Omeprazol 20mg/dia ▪ Esomeprazol 20 mg/dia ▪ Rabeprazol 20mg/dia ▪ Lansoprazol 30mg/dia ▪ Dexlansoprazol 30mg/dia ▪ Pantoprazol 40mg/dia • Procinéticos o Metoclopramida,Domperidona e bromoprida ▪ A ideia de que procinéticos teriam uma melhor ação na dispepsia tipo desconforto pós-prandial não foi comprovada ▪ Indicação → não respondedoras aos IBPs • Antidepressivos o Antidepressivos tricíclicos → Amitriptilina e Imipramina o Mirtazapina o Indicação → não respondedores aos IBPs Ian Dondoni | Gastroenterologia | Medicina Ufes • Psicoterapia o Indicação → não respondedores aos tratamentos medicamentosos o Benefício nos transtornos de ansiedade e depressivos comumente associados à dispepsia o Terapias de relaxamento, hipnose, psicodrama, psicoterapia e terapia cognitivo- comportamental (por 1 ano) RESUMO DE COMO CONDUZIR O PACIENTE MENSAGENS FINAIS • A dispepsia é uma doença de alta prevalência e impacto em qualidade de vida/economia • 50% → dispepsia funcional • 50% → dispepsia por causa orgânicas (mais frequentes: doença ulcerosa péptica e DRGE) • Está indicada a erradicação do H. pylori • Nova classificação → dispepsia associada ao H. pylori. • Endoscopia para aqueles pacientes com sinais de alarme (anemia, perda de peso, massa abdominal palpável, história familiar em parentes de 1º grau, vômitos persistentes, icterícia...) • Estratégia test-and-treat H. pylori nos casos em que a endoscopia não está indicada • Tratamento → GRANDE DESAFIO, pois a eficácia do tratamento é muito ruim, mas devemos seguir a sequência: o IBPs → antidepressivos → procinéticos → psicoterapia.
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