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HISTÓRIA DA AMÉRICA
A ORIGEM DOS POVOS DA AMÉRICA
Mesoamérica
- Mesoamérica é uma área cultural que abrigou povos que compartilhavam muitas características entre si.
- Compartilhavam os seguintes elementos culturais: organização social patrilinear; emprego de certos artefatos líticos; pirâmides escalonadas e palácios localizados ao redor de praças; jogos de bola; escrita hieroglífica e numeração vigesimal; calendário solar (haab) e calendário ritual (tzolkín) de 260 dias; cosmovisão em que a inter-relação entre as divindades do mundo inferior e do mundo superior, o culto aos antepassados e os autossacrifícios de sangue incidiam no destino dos indivíduos e dos povos; deformação do crânio e mutilação dental; e guerras para capturar pessoas a serem sacrificadas como oferendas.
- A história da Mesoamérica começa aproximadamente 5 mil anos antes do presente, com os processos de cultivo e sedentarização de povos naquele espaço. Ambos processos marcam o início do período Pré-clássico (de 2000 a.C. a 250 d.C.0, que se caracteriza pelo desenvolvimento de técnicas de cultivo e de sistemas de controle de água. Houve um aumento populacional que ocasionou grandes aldeias, que dariam origem às cidades. Quanto às questões políticas, havia povos que se organizavam de forma igualitária, enquanto outros formavam sociedades fortemente hierarquizadas. Entre esses povos, se estabeleceram rotas comerciais. O trabalho se especializou, o que é explicitado por talhas em rochas e pelo polimento de pedras preciosas e esculturas monumentais.
- É nesse período (1200 a.C. a 400 a.C.) que surge uma diferenciação social mais explícita, bem como uma diferenciação hierárquica entre as aldeias, destacando-se o povo Olmeca. Nesse momento, também surgem os primeiros calendários.
- Entre 400 a.C. a 200 d.C., há um aumento da rivalidade entre aldeias, com frequentes conflitos bélicos e com demonstrações de poder mediante a construção de praças, plataformas e tempos monumentais.
- Foi chamado de Clássico (de 250 d.C. a 900 d.C) o período em que surgiram as grandes cidades,
com alta concentração populacional, em sociedades hierarquizadas. Nas cidades, desenvolviam-se as atividades administrativas, comerciais, políticas e religiosas, enquanto nos campos as pessoas dedicavam-se às práticas agrícolas. As cidades estabeleciam alianças comerciais e políticas entre si, os exércitos controlavam as redes comerciais e protegiam as áreas urbanas e rurais. No aspecto religioso, os sacerdotes, além de realizarem cultos e rituais, passaram a ser concebidos como autoridades em questões como conhecimento do calendário, escrita, iconografia, astronomia, arquitetura e urbanismo. Houve também um desenvolvimento das técnicas agrícolas, da irrigação, da drenagem e do abastecimento hídrico. As artes tiveram um grande florescimento no período Clássico.
- No período chamado de Pós-clássico ((de 900 a 1521), houve um progressivo abandono da região norte da Mesoamérica, devido à escassez de chuvas, levando a população dessa região a migrar para o sul, o leste e o oeste, o que, por consequência, levou a conflitos com os povos já instalados nessas localidades. 
Hipóteses sobre o povoamento das Américas
- São três as principais teorias para o povoamento das Américas: a teoria asiática (povos migrantes da Ásia Oriental, a partir do Estreito de Bering); a teoria malaio-polinésia, e sua migração pelo Oceano Pacífico; e a teoria australiana, que também argumenta pela migração pelo Oceano Pacífico. 
- Essas teorias não necessariamente são excludentes entre si, apenas apontam origens diferentes para as populações americanas, a partir das datações da cultura material encontrada nos sítios arqueológicos.
- A teoria asiática: defende que os primeiros habitantes do continente americano são de origem mongoloide, e entraram na América através do Estreito de Bering, no Pleistoceno, durante os períodos glaciais, quando os níveis dos oceanos baixaram 100 metros, formando a chamada Ponte Terrestre de Bering, ou Beríngia.
- Pesquisadores divergem entre si quanto ao número de migrações ocorridas para a América através do Estreito de Bering, defendendo que houve entre uma e quatro ondas migratórias. 
- Houve processos de “microevolução” que ocorreram dentro do continente americano após as ondas migratórias, o que explicaria a heterogeneidade da população ameríndia.
- A data de entrada da primeira leva migratória teria ocorrido 30 mil anos antes do presente.
- As demais teorias para a origem e o povoamento do território americano levam em consideração a migração oceânica. Trata-se de teorias de difícil investigação, em função da limitação dos achados arqueológicos.
- Os sítios arqueológicos, como Monte Verde, no Chile, e Lagoa Santa, no Brasil, colocam em dúvida a periodização de 11 mil anos dada pela teoria asiática (Bering), pois suas datações são anteriores.
POVOS DO CARIBE
- “Caribe” é o nome de uma etnia indígena, o nome de um mar e o nome de uma região que compreende territórios continentais e insulares. Foi a primeira região contatada pelos europeus que navegavam rumo às Índias, contato esse que mudou a história.
O Caribe pré-colombiano
- Hoje em dia, ao falarmos Caribe é necessário especificar se nossa aproximação possui um sentido cultural, etno-histórico, geográfico ou geopolítico.
- O Caribe geográfico pode ser compreendido como um semicírculo irregular, que abrange as costas da Guiana, da Venezuela e da Colômbia, passando pela América Central, até a península da Flórida, nos Estados Unidos, incluindo as Bahamas, as Antilhas Maiores (Cuba, Jamaica, Porto Rico, República Dominicana e Haiti, que ocupam a ilha chamada São Domingos ou Hispaniola) e todas as ilhas ou ilhotas que compreendem as Antilhas Menores, que, dependendo de sua localização geográfica, são chamadas de Ilhas de Barlavento (no leste), onde se destacam Granada, Barbados, Martinica, entre muitas outras, ou Ilhas de Sotavento, que formam parte da plataforma continental, estendendo-se pela costa norte da América do Sul, destacando--se Trinidad e Tobago, Curaçao e Aruba.
- Essa disposição geográfica é importante para analisarmos as dinâmicas econômicas, políticas e sociais da região. As distâncias entre as ilhas podiam se configurar como barreiras ou conexões comerciais, selando alianças ou guerras. Essa configuração espacial também permitiu que povos distintos étnica e culturalmente convivessem em estreita proximidade, e, em sua interação, dessem origem a outros grupos, organizações econômicas, incrementos populacionais, etc.
- “Caribe” é uma referência à etnia caribé, apenas um dentre tantos povos
a ocupar a região.
- A ocupação das ilhas se deu a partir da migração de povos que viviam no continente, levando às Antilhas suas culturas. Posteriormente, houve algumas migrações internas, entre as ilhas, promovendo a dispersão dos povos e de suas culturas.
- O Caribe foi um espaço de articulação e interações diversas, que se modificaram ao longo do tempo, demonstrando diferentes configurações culturais. Assim, essa diversidade, formada por processos que implicaram interações dos povos entre e si e com o ambiente que lhes circundava, encontra uma unidade na interação regional, tão necessária por aspectos culturais, econômicos e políticos. Dessa forma, podemos afirmar que o Mar do Caribe é um agente unificador e a navegação, uma ferramenta fundamental para aquelas sociedades.
Poder e política no Caribe
- Em função da diversidade étnica e cultural dos povos que habitavam a região do Caribe, as suas organizações políticas e sociais também eram múltiplas, com diferentes hierarquias e distintos graus de complexidade social.
- De maneira geral, pode-se afirmar que as sociedades estavam divididas em estratos, que se relacionavam hierarquicamente, existindo uma elite e uma plebe, ambas com caráter hereditário. As distinções entre os estratos marcavam aqueles que possuíam determinados direitos, obrigações e privilégios, fosse em relação a indivíduos ou a grupos. A diferenciação também se dava pela ocupação de cargos.- Cabia à elite também as funções relacionadas às religiosidades, em uma interligação entre a autoridade e o poder temporal com o sagrado e o sobrenatural, conferindo aos soberanos uma supremacia nos dois mundos. Os contatos e as interações estabelecidas entre povos distintos possuíam uma ideia de trocas entre reis e territórios “sagrados”.
- A formação dessas elites e lideranças esteve associada, em alguns casos, com o domínio de certos recursos escassos e valiosos. Os centros em que viviam as elites se localizavam em lugares estratégicos nas rotas comerciais mais importantes, onde se realizavam os contatos à distância e se produziam as trocas de produtos.
- Relatos dos colonizadores espanhóis indicam que na região continental do Caribe havia muitos confrontos e guerras entre os diferentes povos. É importante assinalar que esses confrontos e essas guerras, mais que um objetivo econômico, possuíam um valor ideológico e político, garantindo benefícios aos chefes militares, mais que ganhos econômicos.
A economia dos povos caribenhos
- Essa é uma região com muitos recursos naturais, tanto nas ilhas quanto no continente, incluindo metais e pedras preciosas, que fomentaram uma rede de trocas comerciais entre seus diferentes povos, além de interações de outros tipos, como alianças políticas e matrimônios.
- As ilhas maiores, em função do espaço e das melhores condições produtivas, eram mais densamente povoadas que as ilhas menores, permitindo muitas vezes que uma mesma ilha fosse habitada por diferentes povos.
- A presença ou ausência de chuvas também podia ser um fator decisivo nas forças produtivas da região, assim como as catástrofes naturais (como os furacões) e as variações nos níveis do mar.
- A economia do Caribe funcionava por meio do sistema de trocas, mas não com uma finalidade comercial, e sim com o estabelecimento de alianças e relações entre os diferentes povos que ocupavam a região.
SOCIEDADES MESOAMERICANAS
Os achados arqueológicos estabelecem que os primeiros povos a ocuparem a Mesoamérica no período pré-clássico foram os olmecas, uma das matrizes para os demais povos meso-americanos. Expandiram-se por diversas regiões da Mesoamérica devido à prática do comércio de longa distância. Além disso, por meio do contato e da integração com outros povos, como os huaxtecas, maias e nahuas, deram origem aos “olmecas históricos”, que foram contemporâneos dos astecas.
Os maias pré-clássicos ou protomaias teriam desenvolvido sua cultura a partir de grupos derivados dos olmecas que se instalaram nos atuais territórios da Guatemala e de Honduras.
O território central do atual México, conhecido como planalto de Anáhuac (em nahuatl, “lugar de água”), e mais especificamente a região do Vale do México e do Lago de Texcoco foi polo regional com diversas cidades Teotihuacán, Tula e Tenochti-tlán. Em 1519, quando os espanhóis alcançaram a região do Vale, os astecas (mexicas) dominavam toda essa região, bem como uma rede comercial bastante extensa, que compreendia a Mesoamérica e o interior da América Central. Os astecas se apresentavam como unificadores da cultura nahua ou chichimeca e descendentes daqueles que haviam, anteriormente, ocupado Teotihuacán e Tula.
Os astecas
- O povo mexica recebeu a denominação de “asteca” no século XIX, como referência ao seu local de origem mítica, Aztlán. Anteriormente, essa cultura era referenciada como “mexica” ou “mexicana”, vinculada ao seu nome étnico e ao povo de origem nahua que ocupou e unificou os governos de Tenochtitlán.
- Os mexicas formaram-se antes do século XII, assentaram-se no Vale do México e fundaram Tenochtitlán entre 1200 e 1440.
- Sobre suas origens, de acordo com o relato mítico, os mexicas teriam sua origem em uma caverna de sete grutas, Chicomoztoc (em nahuatl, “as sete bocas”), onde teriam sido criados pelos deuses. O primeiro lugar a ser ocupado pelos mexicas teria sido Aztlán (em nahuatl, “o lugar das garças”), de onde migraram em direção a Tula e, posteriormente, ao Lago Texcoco, onde, em uma ilha, fundaram Tenochtitlán (em nahuatl, “cactos sobre pedra” ou “o lugar de Tenoch”), a mando de Huitzliopochtli, um sacerdote deificado, que teria tido a visão de uma águia devorando uma serpente enquanto pousada em um cacto em uma ilha do lago.
- Do ponto de vista arqueológico, etno-histórico e linguístico, sabemos que os mexicas foram um dos povos que participaram das invasões nahuas à região do Vale do México entre os séculos XII e XIII. Sob a liderança de Huitzliopochtli, passaram por Tula e se assentaram em diferentes lugares, até alcançar as margens do Lago Texcoco. Devido às alianças e aos conflitos com outros povos estabelecidos na região, foram obrigados a se refugiar em uma das ilhas do lago, fundando as cidades de Tlatelolco e Tenochtitlán. A partir de então, por meio de diversas alianças com os senhores de outros povos e cidades, expandiram seu poder pela região, principalmente a partir da formação da tríplice aliança entre Tenochtitlán, Texcoco e Tacuba. O chamado “Império” Asteca tratava-se muito mais de uma “confederação” ou de um domínio de Tenochtitlán sobre outras cidades e regiões a partir de relações de vassalagem.
- Durante o governo de Motecuhzoma I Ilhuicamina (1440–1469), os mexicas expandiram-se para o norte do México e para a região do Golfo. 
- Ahuizotl (1486–1502) foi o responsável pelas conquistas mexicas de parte
do território da Guatemala, dominando as antigas rotas comerciais de longa distância da região. 
- Motecuhzoma II Xocoyotzin (1502–1520), anulou a tríplice aliança, submeteu Texcoco e estendeu as conquistas mexicas em direção a Oaxaca e a outras regiões da área central do México. Durante seu governo, estabeleceu-se o contato com Hernán Cortés. Motecuhzoma II morreu em um ataque dos espanhóis à cidade em junho de 1520. Tenochtitlán foi derrotada na chamada “Noite Triste” ou “Batalha de Otumba”. Cuauhtémoc (1520–1521), o último tlatoani de Tenochtitlán, foi derrotado e capturado pelas tropas de Cortés. Entre maio e agosto de 1521, os espanhóis e seus aliados indígenas sitiaram e renderam Tenochtitlán.
- A sociedade dos mexicas baseava-se nos calpulli e na meritocracia. Os calpulli (em nahuatl, “clã” ou “comunidade”) eram comunidades formadas mais por relações econômicas e políticas, ou por caráter local ou geográfico, do que por relações sanguíneas ou de parentesco. Essa estrutura sofreu muitas modificações ao longo do tempo, devido às consequências do expansionismo mexica. Sendo uma sociedade hierarquizada, existia uma possibilidade de ascensão social a partir de valores meritocráticos vinculados aos êxitos obtidos em questões militares.
- A elite dirigente, era formada por uma nobreza guerreira, que se subdividia entre os tetecuhtin (em nahuatl, “chefes” ou “senhores”), que eram designados pelo tlatoani (em nahuatl, “governante”), e exerciam as funções de chefes militares, cumprindo também funções jurídicas e políticas, e os pipiltin (em nahuatl, “filhos” ou “crianças”), descendentes dos tetecuhtin ou daqueles que ascenderam socialmente por méritos militares. Os pipiltin recebiam uma formação militar, política e religiosa. Essa elite possuía vantagens como a isenção de tributos e o direito de possuir terras
- O “povo”, organizado em calpulli, era chamado de macehualli (em nahuatl, “pessoas comuns”). Dentro desse grupo, havia aqueles que trabalhavam nas terras comunais, pagavam impostos e prestavam o serviço militar; os servos ou mayeque (em nahuatl, “mãos da terra”); os tlamemes (em nahuatl, os “carregadores”), responsáveis pelo transporte de mercadorias em suas costas. Os jovens possuíam instrução militar e religiosa, com separação dos gêneros.
- Havia escravos (em nahuatl, tlacohtli), que eram usados como mão-de-obra e como oferendas para sacrifícios, desde que tivessem sido escravizados em função de guerra ou tivessem sido comprados. A escravidão não era hereditária. Entre os escravos, havia dois grupos: os escravos mexicas, que eram escravizados em função de dívidas ou pela venda de si próprio, ou ainda por questõespenais; e os prisioneiros de guerra, que eram destinados aos sacrifícios, demonstrando a outros povos a força e o poder dos mexicas. 
- Havia o grupo de pochtecas (em nahuatl, “comerciantes”), que exerciam a atividade comercial de forma regulada pela administração, que se utilizava de agentes diplomáticos e espiões como forma de controle do grupo. Ao longo do tempo, adquiriam prestígio, tornando-se isentos de alguns tributos e aptos a possuírem terras.
Os Maias
- Os maias são um povo que apresenta desafios na hora de desvendar sua cultura e sua história, em função de certas lacunas em seus próprios registros. Muitos de seus centros urbanos foram simplesmente abandonados e suas fontes escritas não propiciam relatos continuados, e sim narrativas episódicas.
- O território maia estendia-se por uma região que hoje corresponde ao sul do México, Belize, El Salvador, Guatemala e Honduras. Essa zona pode ser dividida em três áreas distintas, com características climáticas e geográficas próprias, que influenciaram sua ocupação.
- Terras Altas, uma zona montanhosa, com muitos lagos, vales e vulcões; 
- Terras Baixas, ou Petén, com grande densidade vegetal e cortada por muitos rios;
- Península de Yucatán, uma região de savanas e com áreas de mata tropical.
- Não se trata de um grupo étnico homogêneo, mas sim de um conjunto de aproximadamente 20 grupos linguísticos distintos, existindo diferentes teorias sobre sua origem.
- Sua história tem quase 3.500 anos, e seu estudo foi dividido entre: os protomaias ou maias pré-clássicos (4 mil a 1.750 anos atrás), um período de formação da sociedade maia nas Terras Altas; os maias clássicos (250 dC – 900 dC), ou maias de Petén; e os maias pós-clássicos (900 dC –1500 dC), ou maias de Yucatán, um período maia-tolteca.
- Protomaias: havia um núcleo de atividades de um povo nas Terras Altas, que deu origem aos maias. Há cerca de 2.400 anos atrás, esses povos migraram para regiões mais baixas, assentando-se e colonizando Petén. Essa migração ocorreu acompanhando rotas comerciais e margens de rios. Entre 2.600 a 1.750 anos atrás, formaram-se os primeiros centros urbanos, como cidades–estados. Os achados arqueológicos nos demonstram que eram todas cidades fortificadas, o que pode ser um indício de desagregação política e acirrada rivalidade.
- O período clássico representa o domínio dos maias sobre Petén (Terras Baixas), com grande prosperidade econômica, política e social de suas cidades, que atraiam potências mais afastadas, como Teotihuacán. Esse foi um período caracterizado por dois principais desafios para os maias: a questão climática, que afetou diretamente sua economia e sua estabilidade social; e os constantes enfrentamentos entre as cidades. Somando-se às rivalidades locais, nesse período começa a surgir a influência crescente de Teotihuacán (asteca), tanto no controle do comércio de longa distância quanto na intervenção direta na política da região. Assim, a partir do século VIII, houve na região a presença e a influência de elementos mexicas. No século X, ocorreu o colapso da sociedade maia. As explicações variam de causas naturais, revoltas em função da cobrança de impostos e de serviços até a constante migração de mexicas e toltecas. Todos os centros urbanos maias de Petén (Terras Baixas) foram abandonados, e sua população migrou para outras regiões, sobretudo para a península de Yucatán.
- No período pós-clássico, os maias passaram a ocupar a península de Yucatán, tendo assimilado os invasores mexicas e toltecas. Foi estabelecida uma rede de alianças dinásticas e de linhagem entre as cidades, com variações na hegemonia, alternando-se a liderança no domínio econômico, militar e político da região. As guerras contínuas entre as cidades levaram a população e a elite a
migrarem para outras regiões, principalmente para as Terras Altas. Quando os espanhóis chegaram à região, encontraram apenas alguns chefes locais, sem muito poder.
- Os maias “antigos” organizavam--se socialmente segundo a linhagem familiar ou de sangue, em uma estrutura hierarquizada e fechada, com domínio absoluto da elite em relação ao restante da população. Em função da rigidez da estruturação social e a situação de submissão do povo à elite, os maias viviam em uma situação conflituosa latente, o que, muitas vezes, levou a conflitos, enfrentamentos e revoltas bastante graves, que chegam a ser consideradas o motivo para seu colapso como sociedade. Os diferentes centros urbanos maias, cidades–estados chamadas ajawob, nunca configuraram um reino ou um estado unificado, sendo questionável o uso do termo “império” para se referir a esse conjunto de cidades.
- Culturalmente, os sábios e os sacerdotes maias foram responsáveis por inúmeras criações artísticas. Também se destacavam arquitetonicamente, na escultura e nas pinturas murais. Possuíam uma escrita hieroglífica, e muitos de seus escritos, gravados em diferentes materiais, foram encontrados. Além disso, possuíam vários tipos de calendários, bastante precisos, em uma complexa forma de contagem do tempo. Ainda possuíam um conceito e um símbolo para “zero”, que provavelmente herdaram dos olmecas.
A economia na Mesoamérica
- A economia na mesoamérica foi marcada pelas práticas agrícolas, que variaram em função das características climáticas e geográficas, e pelas rotas comerciais, de curta e longa distância.
- Os mexicas possuíam uma economia fundamentalmente agrícola, centralizada e dirigida aos interesses de Tenochtitlán e ao abastecimento da elite guerreira, ainda que sua maior fonte de renda fosse a cobrança de impostos.
- Assim como o comércio, a cobrança de impostos foi muito importante para dife-rentes povos da Mesoamérica. Os mexicas desenvolveram um complexo sistema de tributação das cidades e territórios submetidos, e esses valores foram responsáveis pelo desenvolvimento econômico de Tenochtitlán.
- Entre os mexicas, havia a ideia de propriedade privada, com distinções entre propriedade individual e coletiva.
- Em relação às práticas agrícolas, as atividades dos mexicas eram bastante variadas. Alguns povos conheciam e utilizavam misturas fertilizantes; outros usavam complexos sistemas de drenagem e irrigação. Nas regiões montanhosas, o cultivo era realizado em terraços, enquanto na região central do México existiam as chinampas, ou jardins flutuantes, em uma espécie de cultivo hidropônico, em que se cultivavam flores e hortaliças.
- Os maias possuíam uma economia de base fundamentalmente agrícola, centralizada e voltada para os interesses da elite e para as necessidades dos centros cerimoniais. A agricultura era a principal fonte de riqueza das diferentes cidades maias e a atividade que ocupava a maior parte da população.
- A manutenção da produtividade agrícola foi um problema frequente para os maias, em função de condições climáticas e pela qualidade do solo.
- A propriedade da terra entre os maias era coletiva, gestionada e distribuída para usufruto da elite, que utilizava o trabalho dos camponeses em regime de servidão. Os camponeses também deviam pagar tributos na forma de trabalho para o governo.
- Para os mexicas, a expansão do comércio de curta e longa distância se deveu às necessidades de satisfazer as exigências da nobreza enriquecida e das cerimônias religiosas.
- Para os maias, o comércio também fazia parte da lógica da “economia palaciana”. Era uma atividade muito importante para o suprimento das elites na realização das cerimônias e dos rituais.
Cultura e religiosidade na Mesoamérica
- A religiosidade da Mesoamérica sedimentou-se ao longo de um processo de fusões e sínteses culturais, e possuía um caráter estruturante nessas sociedades.
- A religião era politeísta, com deuses vinculados à natureza e às práticas
agrícolas.
- Quetzalcóatl, em nahuatl, “serpente emplumada”, é um importante signo religioso que esteve associado a diversos significados sociais ao longo da história da Mesoamérica.
- As práticas religiosas eram tão importantes que possuíam um calendário específico, de 260 dias, adotado pelas culturas mesoamericanascom pequenas variações de nomenclatura. A essa forma de contagem do tempo associava-se um calendário solar, de 365 dias. Ambos funcionavam de forma integrada, em uma percepção cíclica e diacrônica do tempo. As celebrações e os ritos religiosos eram realizados em templos piramidais, construídos como locais de culto, mas também havia o jogo de bola, danças e rituais de sacrifício humano. Os rituais de sacrifício humano, em que se sacrificavam os prisioneiros de guerra, mas também mulheres e crianças, eram realizados para agradar aos deuses, como iniciação ou consagração e purificação. Em alguns casos, podia-se praticar a automutilação. Existiam também rituais divinatórios, realizados por sacerdotes, culto aos
mortos e aos antepassados e celebrações ritualísticas em cavernas, considerados locais de contato com o “mundo inferior”.
- A partir de todas essas considerações do ponto de vista cultural, econômico, político e religioso, podemos afirmar que os povos mexica e maia possuíam alguns elementos em comum, que estruturavam suas sociedades, mas também diferenças no que diz respeito a suas existências e suas dinâmicas próprias no território da América Central.
SOCIEDADES ANDINAS
Os Andes
- Em comparação com os estudos de outros povos pré-colombianos, a historiografia das sociedades andinas apresenta algumas dificuldades. Como os povos andinos eram ágrafos, conhecemos detalhes sobre seus componentes culturais, econômicos, políticos e religiosos somente por meio da cultura material e dos relatos dos conquistadores europeus. Com as devidas ressalvas aos componentes etnocêntricos das narrativas europeias, aliadas aos estudos arqueológicos da cultura material, é possível compreender como essas sociedades se organizavam em um ambiente tão particular como os Andes.
- “Andes” corresponde não somente às terras da Cordilheira dos Andes, mas a um espaço que congrega a costa do Oceano Pacífico, as serras e as matas. Em função dessa variedade geográfica, o clima também é bastante diversificado, influenciando na disponibilidade de recursos e na produção.
- A ocupação dos Andes se inicia por volta de 14 mil anos atrás, por grupos de caçadores-coletores que se movimentavam entre as montanhas e o litoral de acordo com a época do ano e a disponibilidade de recursos. Com o desenvolvimento da agricultura, houve profundas transformações nesses grupos, e os povoados multiplicaram-se e aumentaram.
- Nesse processo, surgiu um povo cujo templo se localizava em Chavín e é considerado por diversos pesquisadores como matriz das sociedades andinas. Essa cultura perdura até o século I. Entre os séculos I e VIII, os povos Chavin se fragmentaram em diferentes culturas e localidades.
- Por volta do século VIII, duas cidades, Tihuanaco (Lago Titicaca, Bolivia) e Huari (próxima a Ayacucho, Peru), conseguiram reunificar em torno de si o mosaico cultural e político dos Andes. Ainda que tenham exercido sua hegemonia simultaneamente, suas zonas de influência e interação eram distintas: Tihuanaco, para o sul, e Huari, para o norte. Ambas teriam sido precursoras dos grandes impérios Chimu e Inca.
- A expansão chimu no século XIV, que levou à formação de um dos maiores impérios existentes, somente foi barrada quando essa sociedade encontrou como adversário o Império Inca, que também possuía pretensões expansionistas e militaristas, e pelo qual foi dominada.
- Ao estabelecer sua hegemonia na região dos Andes, os incas elaboraram lendas e mitos narrando a origem divina de seu povo como forma de justificar e legitimar seu domínio sobre os demais povos conquistados.
A economia e a política dos incas
- A diversidade geográfica e climática dos Andes influenciou diretamente na organização econômica dos diferentes povos que ocuparam a região.
- Cada uma das comunidades era formada por um conjunto de famílias unidas por alianças ou laços de parentesco, que representavam um ayllu. Esse grupo, de tendência endogâmica, não pode ser entendido como um clã, nem uma linhagem. A família, composta pelo casal e pelos filhos solteiros, representava uma unidade de produção e de consumo. 
- Cabia à mulher os cuidados com a casa e ao homem o trabalho agropastoril e artesanal.
- Somente após o casamento os indivíduos se tornavam membros integrais do ayllu.
- O conjunto das famílias que constituíam o ayllu reconhecia um chefe, chamado kuraka, que geralmente era o fundador do grupo. O kuraka era responsável pela distribuição das terras, pela organização do trabalho coletivo (como eram pagos a maioria dos tributos) e pela mediação de conflitos. O ayllu também possuía uma waka, uma espécie de divindade tutelar, que, em geral, era um ancestral do kuraka e que legitimava sua autoridade.
- O ayllu, ainda possuía uma dimensão territorial, chamada marka. As pastagens da marka eram coletivas, podendo ser utilizadas por todos.
- Se as terras destinadas para a pastagem eram coletivas e indivisíveis, as terras de cultivo eram distribuídas por lotes entre as famílias.
- Pertencer a um ayllu criava obrigações e conferia direitos sobre o trabalho da coletividade, engendrando assim numerosas formas de solidariedade.
- Podemos afirmar que os incas possuíam uma economia baseada na agricultura (praticada via expansão para outros territórios) e na pecuária (principalmente de alpacas, lhamas, vicunhas e guanacos). Na região das serras, em função do relevo acidentado, a economia desenvolvia-se em “ilhas produtivas” de acordo com os recursos disponíveis, que, entre si, estabeleciam uma rede de trocas.
- A mita era uma forma de tributação paga na forma de trabalho, proporcionando ao kuraca acesso eventual à mão-de-obra de todos seus súditos e de maneira permanente de uma parte deles. Esse sistema, ao qual as populações nativas estavam acostumadas, foi utilizado pelos espanhóis durante a colonização
- Os incas se organizavam sob a autoridade de um rei deificado, o Inka. Todo o território e toda a população estavam sob a proteção de Cuzco. A sociedade inca assentava-se em uma base étnica, sob o domínio dos quíchuas e sua imposição cultural (a língua e o culto ao Sol) a todos os povos que compunham o império. Os quíchuas impunham seu controle por meio do militarismo e se organizavam economicamente de forma coletivista.
- O sistema de pagamento de tributos na forma de trabalho era fundamental para a economia incaica. Por isso, existia um recenseamento populacional bastante rigoroso, para que houvesse controle burocrático demográfico sobre a disponibilidade da força de trabalho para a manutenção do império.
- Foi por meio da força de trabalho empregada no pagamento de tributos que o império garantiu não somente as atividades agropastoris, mas também a construção de obras públicas (vilas, estradas, pontes) e o recrutamento para a guerra.
- Além de servirem como forma de difusão e intercâmbio linguístico e cultural, a rede viária e o serviço de correio também contribuíram para a fiscalização das províncias e para finalidades militares, como deslocamento de tropas, mantendo Cuzco no controle da situação de todo o Tawantinsuyu (o império). Uma das estratégias empregadas por diversos Inkas como forma de controlar a população e manter a paz foi realizar deslocamentos e migrações forçadas
- O império ainda realizava recrutamentos humanos a partir de prisioneiros capturados em guerras. Eram chamados de yana, dependentes perpétuos, e viviam em um sistema análogo ao de servidão. Ligados ao imperador ou aos funcionários da alta hierarquia, podiam ser doados como demonstração de reconhecimento ou generosidade.
A cultura e a religiosidade incas
- Não sabemos se os incas possuíam um sistema de escrita. Alguns de seus mitos e lendas foram transcritos pelos colonizadores espanhóis e, durante algum tempo, também foram transmitidos oralmente entre as gerações.
- Aqueles que mantinham a tradição e difundiam os relatos lendários e mitológicos eram chamados de amawata. O imperador estava cercado de diferentes amawatas e outros profissionais das artes, como feiticeiros, músicos e poetas, para celebrar sua grandezae, dessa forma, conservar sua memória para as gerações futuras.
- A partir de sua cultura material e do registro feito pelos colonizadores sabemos que os incas possuíam conhecimentos astronômicos e matemáticos.
- Os incas também se destacavam pela arquitetura e pelo urbanismo, com construções em pedra, características das regiões altas, ou de tijolos de terra seca ao Sol, típicas da área litorânea. Também eram exímios ceramistas e tecelões.
- A religião incaica pode ser caracterizada como politeísta, tendo se formado a partir de um sincretismo entre as crenças quíchuas e outras crenças pré-incaicas. Podemos dizer que é uma religião henoteísta, que cultua apenas um deus (o sol), mas não nega a existência de outras divindades, como a Deusa-Mãe de cultos pré-incaicos.
- Os principais rituais culturais e religiosos dos incas eram estabelecidos como festas de culto oficial e seguiam o calendário solar. A mais importante era Inti Raymi, a festa de ano novo, que era celebrada na primeira lua nova do solstício de verão.
- Havia uma organização clerical, em que o Inka desempenhava a função de sumo sacerdote do culto oficial. Abaixo do Inka, estavam os amawatas, sábios ou mestres, que formavam o clero do Sol, e possuíam proeminência em relação aos demais religiosos e eram encarregados da educação da aristocracia. Havia também um “clero popular”, formado por sacerdotes-xamãs, com influências locais e relacionados com os cultos. Por fim, existia um clero feminino das aqllas, as “virgens do Sol”, a serviço do Inti e do Inka. Às vezes, eram consagradas em cultos e outras vezes serviam de concubinas ao Inka, e ainda podiam ser destinadas pelo Inka a serem esposas ou concubinas de casamentos por alianças.
A CONQUISTA DA AMÉRICA PELOS ESPANHÓIS
A Espanha e as grandes navegações
- Durante a Idade Média, o território da atual Espanha encontrava-se dividido em dois reinos: Castela, ao centro da península, e Aragão, mais próximo ao Mar Mediterrâneo. Em 711, a Península Ibérica foi conquistada pelos árabes, com a exceção de Castela, que foi capaz de organizar, pela mobilização da Igreja Católica, a reconquista do território.
- Além da diversidade cultural, havia interesses divergentes entre a nobreza dinástica castelhana, que se interessava por questões internas, e a nobreza dinástica aragonesa, voltada a interesses externos.
- Após a centralização política, iniciou-se um processo de expansão marítima, em que Aragão dedicou-se ao Mar Mediterrâneo e Castela ao Oceano Atlântico, rivalizando com Portugal, uma rivalidade assentada na navegação pelo Estreito de Gibraltar, nos arquipélagos atlânticos e na exploração da costa africana, bem como no usufruto da rota para as Índias.
- As navegações, inseridas na lógica do mercantilismo, foram motivadas pela busca de rotas marítimo-comercias entre a Europa e a Ásia, principalmente para a obtenção de especiarias e metais preciosos, frente às dificuldades impostas pelo Império Otomano na rota terrestre. O mercantilismo partia do pressuposto que a riqueza de um Estado era medida pela quantidade de metais preciosos que possuía.
- A descoberta da América por Cristóvão Colombo faz parte do processo de expansão do capitalismo europeu. A escassez de metais preciosos provocava a falta de moeda em circulação. As nações da costa atlântica (Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda), eram as que mais sofriam com a crise e, para superá-la, precisavam encontrar metais preciosos para valorizar suas moedas.
A chegada de Colombo à América
- Colombo fez parte de seus estudos na Universidade de Lisboa, onde desenvolveu a ideia de alcançar as Índias navegando por um sentido diferente daquele empreendido pelas habituais viagens portuguesas. Sua ideia não se tratava de uma novidade absoluta, mas se inspirara em viagens ocasionais ou fantásticas, que afirmavam a existência de ilhas e terras a oeste, que inclusive apareciam na cartografia do período.
- Com a intermediação do Papa Alexandre VI, no dia 4 de maio de 1493, foi assinada a bula Inter Caetera, que estabelecia uma divisão no Oceano Atlântico entre o reino de Castela e Portugal a partir de uma linha imaginária a 100 léguas das ilhas do Açores e de Cabo Verde, garantindo à Castela as possessões dos territórios recém descobertos e à Portugal o controle sobre o Atlântico Sul e sobre a rota africana às Índias.
- Posteriormente, ao longo do mês de maio e de junho de 1493, foram assinadas outras bulas, realizando algumas modificações. A principal mudança, no entanto, ocorreu no ano seguinte, em 1494, com a assinatura do Tratado de Tordesilhas. Com esse tratado, houve uma correção da linha imaginária, que passou a vigorar a 370 léguas a oeste de Cabo Verde, garantindo exclusividade de Castela e Portugal em suas respectivas zonas e permitindo aos castelhanos cruzarem a zona portuguesa em direção às Índias, mas sem exploração.
- A “descoberta” representou o contato entre dois mundos distintos. Este primeiro contato entre culturas extremamente distintas iria desemborcar em consequentes pré-julgamentos, idealizações e, claro, estranhamento. Começara neste momento indelével um profundo relacionamento entre uma cultura ibérica fortemente cristã e um universo sociocultural amplamente distinto, a cultura do Outro, que homogeneamente qualifica-se como “mundo ameríndio”, mas que em seu particularismo se mostrará amplamente diversificado e heterogêneo, englobando uma enorme pluralidade de grupos étnicos e linguísticos com amplas diferenças culturais entre si.
As primeiras conquistas e a colonização
- O processo de conquista e colonização do Novo Mundo herdou as experiências das coroas de Castela e de Aragão na reconquista da Península Ibérica, segundo a noção de ocupar os territórios como forma de conquista e de disseminação da fé católica.
- Nas Antilhas, a população indígena foi organizada para a produção e o trabalho, e a partir desses contatos foi sendo estabelecido o relato do indígena como primitivo e selvagem.
- A terceira e quarta viagens de Colombo à América destinaram-se à exploração da costa da América Central, ainda que outras expedições já tivessem estabelecidos núcleos espanhóis no continente.
- Em relação à conquista do México, as expedições partiram das Antilhas Maiores, e estavam a cargo do governador Diego Velásquez. As duas primeiras fracassaram, e a terceira, liderada pelo capitão Hernán Cortés, foi realizada em quatro etapas: a primeira, com a conquista da Península de Yucatán e a fundação de Veracruz, que ocorreu mediante alianças firmadas com os grupos indígenas rivais aos astecas (mexicas); a segunda, que marcou a entrada dos espanhóis em Tenochtitlán em 8 de novembro de 1519; a terceira etapa, em que houve o estabelecimento de um acordo entre Cortés e Montezuma, que durou até 1520, até ser rompido após a rebelião dos astecas; e a quarta etapa, quando os espanhóis se reorganizam e planejam um ataque a Tenochtitlán com barcos, cercando a cidade e levando à sua rendição, em 1521. Após a vitória sobre os astecas, Cortés, nomeado governador geral da “Nova Espanha”, iniciou seu governo promovendo a convivência entre espanhóis e indígenas, principalmente para proporcionar a organização para o trabalho e o processo de evangelização com padres franciscanos.
- A conquista dos Andes se insere na expansão dos espanhóis em direção à América do Sul, com incursões que partiram do Panamá e da Colômbia na segunda década do século XVI. Em relação aos incas, os primeiros intentos ocorreram entre 1524 e 1528, com duas expedições de Francisco Pizarro, Diego de Almagro e Hernando de Luque. A primeira expedição, de reconhecimento da costa, saiu do atual Panamá e chegou até a atual Colômbia. Já a segunda expedição, realizada entre 1526 e 1527, estabeleceu contato com os incas. A conquista propriamente dita do “Império” Inca ocorreu entre 1531 e 1537, aproveitando-se da guerra entre Atahualpa (situado em Quito) e Huáscar (localizado em Cuzco). Assim, em 1533 os espanhóis conquistaram a cidade de Cuzco, seguindo-se uma resistência indígena que duroumais quatro anos. Os indígenas derrotados retiram-se a Vilcabamba, ali permanecendo até 1572, quando os espanhóis capturam e executam Túpac Amaru I, seu líder. Nas décadas seguintes, ocorreram uma série de confrontos, chamados de “guerras civis”, entre os próprios conquistadores, por discordâncias em relação às áreas de dominação, e, posteriormente, pelas leis estabelecidas pela administração dos vice-reinos.
O papel da Igreja Católica na colonização da América espanhola
- Existe uma relação intrínseca entre o “descobrimento”, a conquista e a colonização, de um lado, e de outro a disseminação da religião católica pela Igreja. É impossível dissociar o processo de colonização do aspecto religioso, pois eram complementares.
- Ao longo dos registros presentes nos diários de Cristóvão Colombo, é perceptível o caráter evangelizador da conquista e da colonização, seja na nomeação dos espaços ou nas observações quanto à possibilidade de atuação dos missionários junto aos indígenas.
- O Papa autorizou a construção no Novo Mundo de capelas, igrejas e mosteiros, para homens e mulheres. A partir de 1511, com o Papa Júlio II, iniciou-se a disseminação da estrutura religiosa da Igreja Católica na América, com a criação de três dioceses na América espanhola, em territórios já conquistados pelos espanhóis.
- Após 1524, a política eclesiástica na colônia americana ficou a cargo do chamado Conselho das Índias, e a coroa espanhola tornou-se responsável pela indicação dos cargos eclesiásticos, bem como pelo pagamento de salários e pela construção de catedrais, igrejas e mosteiros, com os recursos provenientes do pagamento de dízimos sobre a produção agrícola e pecuária.
- A Companhia de Jesus foi fundada na conjuntura da Reforma Protestante e do Renascimento, com a renovação da vida espiritual da Europa Ocidental nas primeiras décadas do século XVI (1510-20).
- O pano de fundo das ações dos missionários era a Contrarreforma e a necessidade de combater os protestantes na Europa e na América, tendo em vista que os huguenotes (protestantes) já travaram combates com os jesuítas no Rio de Janeiro e Maranhão. Seu princípio de livre exame das escrituras - que transformou a escola em instrumento da catequese dos reformadores -, era alvo das preocupações dos jesuítas. Assim, o Concílio de Trento veio reafirmar as tradicionais doutrinas católicas e o intento de triunfo do catolicismo sob a autoridade papal.
- Outro aspecto que vincula os jesuítas a Contrarreforma é o fato de estarem imbuídos de um espírito cruzadista medieval, e se propuseram a difundir a fé por meio do conhecimento e do ensino. Por isso, também atuaram instalando colégios em suas áreas de atuação.
- O grande mérito dos jesuítas consistiu na percepção da humanidade dos nativos da América. Foi ela que os incentivou a desenvolver procedimentos capazes de atingir a sensibilidade dos nativos, aproximando-os da cultura cristã, como fariam logo depois em seus colégios.
- Os jesuítas buscaram na catequese, a mudança de alguns costumes ameríndios, incompatíveis com a fé católica — como a poligamia e a antropofagia — e, para isso, fizeram largo uso da música, da dança, dos autos religiosos e das procissões.
- A atuação da Igreja também legitimava a nomeação dos territórios encontrados, já que “nomear” estava vinculado a “dominar” pela tradição cristã.
- Esse modelo peculiar de conquista não era uma mera idealização, e sim um traço cultural e uma demonstração de poder. Essa prática fica patente nos nomes religiosos conferidos aos diferentes espaços nos territórios conquistados.
- A ação do Tribunal do Santo Ofício, a Inquisição, em território americano, embora não tivesse jurisdição sobre os indígenas, ocupou-se dos judeus e dos protestantes, bem como de atos imorais e práticas religiosas sincréticas, de forma semelhante à sua atuação na Europa.
A COLONIZAÇÃO E OS SISTEMAS DE TRABALHO NA AMÉRICA ESPANHOLA
Divisão administrativa da América hispânica
- A conquista espanhola do continente americano, bem como o processo de colonização, provocaram a desestruturação das formas sociais tradicionais indígenas. Os modelos de sociedade desenvolvidos por milhares de anos na América foram amalgamados e suplantados pelos valores, tradições e crenças dos colonizadores. Essas grandes transformações ocorreram sobretudo por meio das novas formas de trabalho impostas aos nativos, pelas constantes guerras e pelo processo de aculturação que envolveu a evangelização dos índios.
- Novos territórios foram demarcados, frequentemente sem levar em consideração as diferentes etnias e povos que neles viviam e houve a padronização da exploração do trabalho indígena. Esses fenômenos surgem atrelados à criação de espaços coloniais articulados ao desenvolvimento das forças produtivas e espelhados nas estruturas governamentais da metrópole. As duas formas principais assumidas por esses espaços foram os vice-reinados (México e a América Central (Nova Espanha), Colômbia e Equador (Nova Granada), Peru e Bolívia (Peru), Paraguai, Argentina e Uruguai (Rio da Prata)) e as capitanias gerais (Cuba, Chile, Guatemala, Panamá e Venezuela).
- Em um primeiro momento a divisão administrativa das colônias espanholas se materializou em vice-reinados, mais extensos territorialmente. Contudo, a necessidade de manutenção e organização de contingentes militares mais expressivos contra os indígenas promoveu uma nova divisão, dessa vez criando as capitanias gerais.
- Ambas as estruturas administrativas se reportavam a um órgão centralizado, com sede na Espanha, criado em 1503, a Casa de Contratação, que ficava logo abaixo do rei espanhol e do Conselho das Índias, responsável geral pela colonização e exploração das colônias e pela nomeação de capitães gerais e vice-reis.
- A Casa de Contratação, sediada em Sevilha, estava encarregada de administrar o comércio entre colônia e metrópole, fiscalizar o recolhimento do quinto (imposto de 20% sobre os metais preciosos extraídos) e também de operar como Corte de Justiça, para arbitrar quaisquer conflitos jurídicos surgidos na colônia.
- Sevilha se tratava do mais importante porto espanhol. A burguesia mercantil e marítima do país exigiu que tal porto fosse o único autorizado a receber os navios oriundos da colônia. Assim, garantia controle absoluto sobre os negócios coloniais, enriquecendo e adquirindo poder político. Ao longo do tempo, os espanhóis se tornaram beneficiários de uma grande variedade de produtos, que iam muito além dos metais preciosos.
- Tal nível de exploração exigia um aparato administrativo robusto, e Espanha construiu uma malha burocrática enorme, embora muito dinâmica, para cuidar de seus negócios do outro lado do Atlântico.
- O Vice-Rei era responsável pela administração geral do seu território, tendo submetidos a si quatro entes administrativos principais. A área das finanças era administrada por um Tribunal de Contas. No campo da justiça, havia uma instituição chamada Audiências, que por sua vez controlava os alcaides municipais. Existia também a figura do Governador, que cuidava dos corregedores espanhóis e indígenas. Por fim, para a defesa da colônia, era mobilizado um exército, que se reportava diretamente ao Vice-Rei. Além disso, paralelamente ao Vice-Rei estava a Igreja, representada pelos Arcebispados, responsáveis por administrar os bispados e os missionários, que tinham a tarefa de evangelizar os indígenas e construir mosteiros e conventos.
- As Audiências fiscalizavam o vice-rei, de forma que este não adquirisse poderes absolutos. Para que isso fosse possível, existia o cargo de Juiz de Residência, encarregado de apurar quaisquer irregularidades na gestão colonial. Havia ainda a figura do Visitador, que fiscalizava tanto os órgãos administrativos na metrópole quanto no vice-reinado. Por fim, existia uma instituição denominada Cabildo, que funcionava como uma Câmara Municipal e era ocupada por membros da elite local, que não raramente acumulavam outros cargos na administração. 
Formas de trabalho nas colônias espanholas
- O trabalho forçado indígenana América hispânica foi utilizado durante todo o período colonial. Nos grandes impérios encontrados pelos espanhóis, a exploração do trabalho por estamentos privilegiados da sociedade era uma das bases da expansão desses impérios. Essa formação social viabilizou para os espanhóis a exploração do trabalho indígena, já que, na prática, isso significou um mero processo de troca daqueles que oprimiam e exploravam a grande massa das sociedades nativas.
- A produção de plantation: Mais comum na produção de algodão no sul dos Estados Unidos e na produção açucareira no Brasil, o sistema de plantation foi largamente utilizado pelos espanhóis em suas colônias das Antilhas (atuais Cuba, República Dominicana, Ilhas Venezuelanas e Porto Rico). O plantation era, com grandes plantações do mesmo tipo de produto agrícola.
- A encomienda: Tanto na mineração quando na agricultura, os índios foram obrigados a trabalhar nos regimes de encomienda e repartimiento, encontrados somente nos domínios hispânicos, que ontribuíram decisivamente para a consolidação do poder da coroa espanhola sobre os nativos. A encomienda funcionava mediante um acordo entre o colono e a metrópole. A coroa espanhola autorizava que o novo proprietário explorasse o trabalho de todos os indígenas que estivessem assentados em sua propriedade. Os indígenas, além de serem forçados a ceder sua força de trabalho, também eram obrigados a pagar impostos ao encomendero. Os encomenderos não tinham o direito de usar diretamente as terras nas quais os índios estavam assentados. Era permitido somente forçá-los a trabalhar nelas e obter o fruto do trabalho, sem a intervenção direta na terra. Em troca dos impostos recolhidos, o encomendero era obrigado a fornecer a catequese para os indígenas. Dessa forma, era justo cobrar o tributo, já que ele era revertido na salvação das almas dos nativos. Era responsabilidade do encomendero providenciar a alimentação dos trabalhadores sob o sistema de encomenda. No século XVI a encomienda passou a declinar, pois a coroa passou a forçar o deslocamento dos índios para os arredores das cidades coloniais, abrigando-os nos chamados corregimientos, locais de concentração para que ficassem supervisionados e disponíveis para o trabalho na mineração e produção de alimentos.
- O repartimiento: resultado dos deslocamentos indígenas para as cidades. Consistia na obrigação do pagamento de tributos por meio do trabalho, ou seja, uma nova versão das práticas tradicionais de trabalho forçado existentes nos impérios pré-colombianos, equivalendo à chamada mita, que vigorou no Império Inca, e ao chamado cuatequil, utilizado no Império Asteca. Cada comunidade indígena deveria indicar homens adultos para trabalhar nas minas e nas obras conduzidas pelo governo. Em contrapartida, o governo espanhol fornecia alimentação e um salário irrisório. Além disso, liberava da obrigação de pagar o tributo aqueles caciques que indicassem os trabalhadores. Assim, os indígenas se tornavam cada vez mais dependentes do colonizador. A transposição de aldeias inteiras somada à prática do repartimiento foi o golpe fatal na organização social e nos vínculos comunitários indígenas. Em meados do século XVII, justamente pelo fato dos índios serem arrancados de suas comunidades originais, tornando-se privados de garantir sua própria subsistência, os proprietários passaram a pressionar a coroa espanhola por um novo modelo de contrato de trabalho, pois queriam evitar o compromisso de fornecer o básico para a sobrevivência dos trabalhadores. Os indígenas se tornaram “livres” para trabalhar da forma que
considerassem mais apropriada, servindo ao patrão que oferecesse melhores condições. Na verdade, essa condição de liberdade existia somente no papel, já que, para sobreviver, os indígenas precisavam se sujeitar a longas e degradantes jornadas de trabalho, invariavelmente mal remuneradas.
- Resumo: Houve o trabalho escravo africano, encontrado sobretudo no sistema de plantation. Por outro ldo, encontra-se o trabalho compulsório indígena, que se manifestou principalmente nos regimes de encomienda e repartimiento. A escravidão prevaleceu no sul dos Estados Unidos, em alguns pontos do Caribe e no Brasil. Na América espanhola, ocorreu a preponderância de variantes da servidão, em que os indígenas, estruturalmente forçados a trabalhar, recebiam alguma forma de compensação pelo trabalho dispensado.

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