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O diagnóstico das doenças reumáticas autoimunes baseia-se em critérios que incluem manifestações clínicas e alterações laboratoriais. Os laboratoriais auxiliam não somente no diagnóstico, como também no prognóstico e no seguimento de pacientes. FAN (Fator anti-nuclear ou anticorpos anti-célula): Exame de triagem para autoimunidade. É um teste capaz de detectar anticorpos anti-proteínas do núcleo, nucléolo, aparelho mitótico ou citoplasma: A investigação dos auto anticorpos é realizada com o soro dos pacientes colocado em contato com uma linhagem contínua de células tumorais de origem humana denominadas HEP-2 (substrato da reação) na técnica de imunofluorescência indireta. A escolha na utilização destas células foi devido às mesmas se replicarem rapidamente, permitindo a investigação de anticorpos contra proteínas expressas no aparelho mitótico e no núcleo nas diferentes fases do ciclo celular. O teste traz três tipos básicos de informação: Presença ou ausência de autoanticorpos. Concentração sérica relativa dos autoanticorpos existentes Informação traduzida pelo título, que representa a mais alta diluição do soro com reação ainda positiva. Padrão morfológico de fluorescência observado. A importância dos padrões morfológicos se dá pelo fato de refletirem a distribuição topográfica dos antígenos alvos e sugerirem, desse modo, a especificidade dos auto anticorpos presentes na amostra. Alguns tipos de auto anticorpos, que mostram associação bastante estrita com determinados estados patológicos, denominam-se marcadores de doença. Padrões – FAN: OBS: Na maior parte dos casos, o padrão de fluorescência NÃO define a especificidade do autoanticorpo. Para essa definição são necessários os testes laboratoriais de identificação. Entretanto, a informação dada pelo padrão de fluorescência pode fornecer importante direcionamento para o raciocínio clínico e sugerir os próximos exames a serem executados. O padrão nuclear pontilhado fino denso (AC2) sugere fortemente autoanticorpos anti- DFS70 (também conhecido como anti-LEDGF/p75), que não se associa a um contexto clínico específico e frequentemente está presente em indivíduos hígidos ou com condições não relacionadas com autoimunidade, mesmo quando em altos títulos. Em contrapartida, outros padrões, como o nuclear pontilhado grosso (AC5) e o nuclear homogêneo (AC1), guardam associação mais estreita com condições autoimunes e dificilmente são observados em indivíduos sadios. Os anticorpos antinúcleo são encontrados não apenas na maioria das condições reumáticas autoimunes, mas também em outras doenças autoimunes, diversas condições inflamatórias crônicas, neoplasias e mesmo em indivíduos hígidos. Títulos de 1:80 e 1:160 são considerados baixos e os acima de 1:640, altos Títulos altos de PAC (FANHEp2) costumam ser observados em pacientes com alguma forma de doença autoimune, mas há indivíduos sem doença aparente que podem apresentar títulos altos. Do mesmo modo, títulos baixos são frequentemente associados a indivíduos sem doença autoimune, mas podem ser ocasionalmente encontrados em pacientes com enfermidades reumáticas sistêmicas. Auto anticorpos: Anticorpos anti-DNA nativo: Encontrados quase exclusivamente em pacientes com LES são considerados marcadores diagnósticos dessa doença. Ocorrem com frequência: Maior e em títulos mais altos no LES com glomerulonefrite proliferativa em atividade Intermediária no LES em atividade sem comprometimento renal Baixa no LES fora de atividade. OBS: são também marcadores de atividade da doença! Anticorpos antinucleossomo: Parecem específicos do LES, principalmente quando em títulos moderados ou altos. Tem sensibilidade de cerca de 70% Podem estar presentes em casos de LES sem anticorpos anti-DNA, sobretudo nas fases iniciais da doença. Anticorpos contra antígenos nucleares extraíveis (ENA): Os antígenos nucleares extraíveis (ENA) são, na verdade, antígenos celulares, que podem ser extraídos a partir de tecidos homogeneizados em soluções salinas. São os anticorpos: anti-SS-A/Ro, anti-SS-B/La, anti-RNP, anti-Sm, anti-Scl-70 e anti-Jo-1. Alguns dos autoanticorpos identificados apresentam associação clínica suficientemente restrita para serem considerados marcadores diagnósticos: Anticorpos anti-Sm: ocorrem especificamente no LES, com frequência de 10 a 15% em indivíduos caucasoides e 30 a 40% em negros. Anticorpos anti-Jo-1 e têm associação clínica estreita com polimiosite. Anti-Scl-70 têm associação clínica estreita com esclerose sistêmica. Anticorpos anti-U1-RNP podem aparecer no LES e na doença mista do tecido conjuntivo (DMTC). Anticorpos antiSSA/Ro são encontrados em uma gama mais ampla de enfermidades autoimunes. Anticorpos anti-P-ribossômico: Considerados marcadores específicos do LES ocorrem em 15 a 30%. Recentemente, foi demonstrado que anticorpos anti-P-ribossômico podem se dar também na hepatite autoimune tipo 1. Há associação entre os níveis desses autoanticorpos e a atividade do LES, podendo haver negativação nos períodos de quiescência. Em pacientes com envolvimento renal, demonstrou-se que a presença de anticorpos anti- P-ribossômico se associa as formas membranosas. Anticorpos antiPM/Scl: Também conhecidos como antiPM1 Associação com com síndrome de superposição de polimiosite e esclerose sistêmica, nos quais são detectados em até 25% dos casos, e também em uma pequena parte dos pacientes com esclerose sistêmica isolada e na polimiosite isolada. O antígeno PM/Scl corresponde, na verdade, a um complexo de várias proteínas que constituem o complexo do exossomo. Duas dessas proteínas, PM/Scl-100 e PM/Scl-75, são os principais alvos dos anticorpos anti-PM/Scl. Anticorpos anti-RNA polimerase III: Biomarcadores específicos para esclerose sistêmica, ocorrendo em 15 a 24% dos pacientes Tendem a ser mais frequentes nas fases iniciais da enfermidade Estão associados a maior incidência de comprometimento renal, bem como de neoplasias subjacentes em pacientes esclerodérmicos com anticorpos anti-RNA polimerase III. Anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (ANCA): Considerados marcadores de vasculites de pequenos vasos. Os antígenos reconhecidos por esse grupo de anticorpos estão localizados nos grânulos existentes no citoplasma dos neutrófilos. Dois padrões principais de fluorescência podem ser observados: c-ANCA e p-ANCA. O padrão c-ANCA está geralmente associado a anticorpos antiproteinase 3 (antiPR3) Considerados marcadores diagnósticos da granulomatose de Wegener (ocorre em 80 a 90% dos casos com doença sistêmica em atividade). O padrão p-ANCA está frequentemente associado a anticorpos antimieloperoxidase (MPO) Os anticorpos anti-MPO são encontrados em poliangiites microscópicas e glomerulonefrite rapidamente progressiva com crescentes, podendo também ser vistos em algumas dermatovasculites por fármacos, especialmente o propiltiouracila. Existe uma variante do padrão p-ANCA, denominada padrão p-ANCA atípico, tradicionalmente não associada a anticorpos antiMPO – trata-se de um achado frequente na hepatite autoimune do tipo I, na retocolite ulcerativa e na colangite esclerosante primária. Anticorpos anti-fosfolipídeo: Pertencem a uma ampla família de autoanticorpos com reatividade para fosfolipídios de carga negativa. Sua ocorrência está frequentemente correlacionada com fenômenos tromboembólicos recorrentes, abortos de repetição e plaquetopenia. Como esses autoanticorpos podem ocorrer transitoriamente após infecções ou exposição a fármacos, exige-se, para fins diagnósticos, a sua documentação em, pelo menos, duas ocasiões separadas por um intervalo mínimo de 12 semanas. Anticorpos contra peptídios citrulinados(anti-CCP): Reconhecem proteínas contendo resíduos citrulina. Bom desempenho para o diagnóstico de AR: sensibilidade de 78% e especificidade de 95%. Tem surgimento precoce na AR, podendo positivar até 5 anos antes da manifestação da doença. Fator reumatoide: Refere-se aos anticorpos que reconhecem epítopos presentes na fração cristalizável (Fc) da molécula de IgG A maioria desses anticorpos pertence à classe M. Imunoglobulinas com atividade de FR estão presentes em pequena quantidade e com baixa avidez no soro da maior parte dos indivíduos, com provável papel fisiológico Em determinadas condições patológicas, a concentração pode se elevar. As duas condições em que o FR é detectado com maior frequência e em maiores títulos são a AR e a Síndrome de Sjögren. Cerca de 70% dos casos de AR do adulto apresentam FR circulante Entretanto, uma vez que o FR é encontrado em frequência variável em um grande número de outras condições, sua especificidade e valor preditivo positivo para o diagnóstico não são elevados. Dosagem de complemento total e frações: O sistema do complemento é constituído por uma família de mais de 30 proteínas plasmáticas ativadas de modo sequencial. Existem três vias de ativação conhecidas: 1. Clássica: ativada por imunocomplexos e células apoptóticas, a partir de C1q 2. Alternativa: ativada a partir de C3 pela ligação de C3b, produto de clivagem de C3, à superfície de microrganismos e células tumorais 3. Lectina ligante de manose: ativada pela ligação da lectina com resíduos de manose presentes na parede celular de microrganismos e, a partir de então, seguindo os mesmos passos da via clássica. As três vias convergem para a geração do complexo de ataque à membrana (MAC). Algumas doenças reumáticas autoimunes apresentam importante participação de imunocomplexos em sua fisiopatologia Assim, o monitoramento do consumo do sistema complemento auxilia no reconhecimento dos períodos de atividade e de remissão, bem como da resposta à terapêutica imunossupressora empregada, visto que os imunocomplexos depositados ativam a via clássica do complemento. A entrada em atividade é acompanhada de consumo dos componentes do complemento, resultando na detecção de baixos níveis de componentes individuais e do complemento total. O inverso se dá na fase de remissão da atividade de doença. Em geral, a fração C2 é a mais sensível, sendo a primeira a cair e a última a se normalizar. Outra importante indicação clínica para avaliação do sistema do complemento refere-se às deficiências congênitas de componentes desse sistema, uma vez que predispõem ao aparecimento de distúrbios imunológicos inflamatórios e alérgicos. Produção de complemento reduzida pode ser decorrente de doença hepática. Reagentes de fase aguda: Provas laboratoriais em resposta a dano tecidual: a concentração aumenta ou diminui em resposta ao estímulo inflamatório. Não são patognomônicos de doenças reumatológicas. 1. Velocidade de hemossedimentação (VHS): Em um ambiente inflamatório, ocorre o aumento de citocinas inflamatórias, estas que estimulam o fígado a produzir as proteínas de fase aguda. Essas proteínas (fibrinogênio) se ligam às hemácias e neutralizam sua carga elétrica, facilitando sua hemossedimentação. Avalia deforma indireta a presença de proteínas de fase aguda. Valores de referência (o valor normal deve ser menor do que o resultado): Masculino: idade/2 Feminino: (idade+10) /2 2. Proteína C Reativa (PCR): É um reagente de fase agida produzido pelo fígado em resposta à IL-6 e outras citocinas. A elevação ocorre em 4 horas após a lesão do tecido e atinge o pico em 24-72 horas meia vida cerca de 18 horas.
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