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1 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência MÓDULO II – Distúrbios sensoriais, motores e da consciência: Alzheimer e Parkinson PROBLEMA 5 – O problema dele está na base! Identificação: Aloysius, 73 anos, homem, branco, casado, aposentado, ensino médio completo, natural e procedente de Bragança Paulista. QD: esquecimento há 18 meses HPMD: acompanhado pela filha que relata que no início notou a dificuldade de seu pai em lembrar nomes, recados, que estava contando os mesmos casos e fazendo as mesmas perguntas várias vezes. Relata ainda que seu pai não percebia esse esquecimento. Descreve ainda dificuldade progressiva do seu pai em atividades do cotidiano como fazer compras, cuidar do asseio pessoal e especialmente tomar sua medicação da forma correta. ISDA: Nega outra alterações na fala, comportamentais e de humor. AF: irmãos com Doença de Parkinson e pais falecidos com histórico de demência AP: hipertensão e dislipidêmico em uso de sinvastatina, captopril, furosemida e omeprazol. Ao exame físico apresenta-se em BEG, hidratado, anictérico, afebril. PA: 140 x 90 mmHg, Ausculta Cardíaca: BRNF em 2 tempos sem sopros; Ausculta Pulmonar: Murmúrio Vesicular presente sem ruídos adventícios. Mini-exame do estado mental (MEEM): alterações em orientação, memória de evocação, atenção e cálculo, comando e cópia de pentágonos (14/30 pontos). A avaliação funcional para atividades de vida diária (AVD) revelou comprometimento. Teste do relógio: não conseguiu reduzir o desenho Submetido à exames complementares apresentou: hemograma, função tireoideana, glicemia de jejum, eletrólitos, ureia e creatinina, albumina, dosagem sérica de vit. B12 e ác. Fólico: normais; e TC de crânio revelou leve hipertrofia hipocampal. Intencionalidade educacional: conceituar núcleos da base do cérebro com seus componentes e substância negra, descrevendo sua composição e localização. Com base nos conceitos morfológicos, o estudante deverá compreender a relação entre substância negra e núcleos da base com o planejamento do ato motor, bem como compreender a fisiopatologia dos distúrbios motores correlacionados. Objetivos e Identificações: - Córtex pré-central: aspectos morfofuncionais relacionados ao ato motor - Tálamo: relação funcional com o ato motor - Conceituar núcleos da base, descrevendo seus componentes e sua relação com o planejamento motor - Conceituar substância negra e descrever sua relação com o planejamento do ato motor - Descrever as vias direta e indireta dos núcleos da base - Descrever as vias eferentes piramidais - Correlacionar Parkinson com a probabilidade da ocorrência de Alzheimer - Definir síndrome extrapiramidal caracterizando suas fisiopatologias e diferenciando-a da síndrome piramidal. - Diferenciar a doença de Parkinson, a demência por corpúsculos de Lewy, e a demência tipo Alzheimer, caracterizando seus mecanismos fisiopatológicos, - Identificar as estruturas encefálicas estudadas em exames por imagem Sumário Via extrapiramidal ............................................................................................................................................................. 2 PROCESSOS DEMÊNCIAIS ................................................................................................................................................ 11 Doença de Alzheimer ...................................................................................................................................................... 13 Doença de Parkinson ....................................................................................................................................................... 22 Outros Transtornos Motores ....................................................................................................................................... 24 Síndromes Parkinsonianas ........................................................................................................................................... 24 Objetivos da Tutoria: Caracterizar os principais distúrbios sensoriais, motores e da consciência relacionados aos Idosos 1- Caracterizar os principais distúrbios dos núcleos da Base 2- Caracterizas as síndromes demenciais (fronto- temporal, Corpos de Levy [sem Parkinson], Alzheimer, demência associada ao Parkinson [corpos de Levy], demência multi-infarto [demência vascular], demência por hidrocefalia) 3- Sd. Piramidais 2 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Via extrapiramidal Sistema piramidal/trato cortiço-espinhal -> movimento voluntário Sistema extra-piramidal: Sistema cerebelar, S. estriato- pálido-nigral e S. vestibular -> modulação e coordenação do movimento O sistema extrapiramidal é filogeneticamente mais primitivo que o sistema piramidal, e corresponde a um conjunto de estruturas anatômicas envolvidas no controle motor, particularmente no que se refere ao planejamento e coordenação de atividades motoras complexas. Este sistema engloba todos os sistemas de projeção não-piramidal envolvidos no controle motor. Suas principais estruturas não corticais são o tálamo, o cerebelo, os núcleos da base, constituídos pelo núcleo lentiforme (putâmen e globo pálido), núcleo caudado, substância negra e núcleo subtalâmico. Esse termo, sistema extrapiramidal, é classicamente utilizado para caracterizar um grupo de estruturas anatômicas, principalmente os núcleos da base, que estariam relacionadas com o controle motor e, quando disfuncionais, provocariam distúrbios dos movimentos. Então, a motricidade seria executada por 2 sistemas descendentes eferentes: O sistema piramidal, cujas fibras do trato corticoespinhal (responsável pelo movimento voluntário) que passam pelas pirâmides bulbares, e O sistema extrapiramidal, cujas fibras não passam por essas estruturas (fazem parte da modulação e coordenação do movimento). Entretanto, sabe-se que o planejamento motor, controle motor e a execução do movimento englobam uma série de estruturas, que funcionam de maneira paralela, mas, também, de forma interligada, incluindo o córtex pré-motor, a área motora suplementar, o córtex motor, os núcleos da base, o cerebelo, o tronco encefálico e a medula espinal. TÁLAMO Dentro do sistema motor, o tálamo funciona basicamente como um relé, integrando diferentes estruturas do sistema extrapiramidal com o córtex motor. É uma estrutura localizada no diencéfalo e constituída fundamentalmente por sustância cinzenta, na qual podemos identificar vários núcleos. Podemos dividir os núcleos talâmicos em cinco grupos: • Grupo anterior: integra o circuito de Papez e está relacionado ao comportamento emocional; • Grupo posterior: corresponde ao pulvinar e corpos geniculados medial e lateral, estando estes últimos ligados às vias auditiva e óptica respectivamente; • Grupo lateral: é o que mais se relaciona diretamente com o sistema motor, uma vez que apresenta aferências motoras provenientes dos gânglios da base e cerebelo, particularmente globo pálido, projetando-as para o córtex motor. O grupo lateral é subdividido em dorsal e ventral. Os núcleos do subgrupo ventral estão diretamente implicados com o sistema motor extrapiramidal: - núcleo ventral anterior: tem função ligada a motricidade somática e recebe a maior parte de fibras provenientes do globo pálido; - núcleo ventral lateral: recebe fibras do cerebelo e parte das fibras do globo pálido, as quais também se projetam para o córtex motor. - núcleo ventral póstero-lateral: recebe fibras do leminisco medial (informações de tato epicrítico e propriocepção) e do leminisco espinhal (informações de temperatura, dor, pressão e tato protopático), sendo, portanto, um relé de vias sensitivas que se projetam ao córtex; - núcleo ventral póstero-medial: recebe fibras do leminisco trigeminal(sensibilidade somática geral departe da cabeça), projetando-as para o córtex (giro pós-central). • Grupo mediano: promove conexões com o hipotálamo; • Grupo medial: tem importante papel de ativador do córtex cerebral, uma vez que recebe fibras do sistema reticular ativador ascendente. Entretanto, um dos núcleos, o centro mediano, parece não ter conexões corticais, mas apenas com gânglios da base. Aspectos Clínicos As lesões talâmicas cursam com as mais diversas síndromes clínicas, uma vez que seus núcleos apresentam diferentes funções. As enfermidades que mais frequentemente cursam com comprometimento talâmico são as lesões vasculares e tumorais. As principais síndromes clínicas, de acordo com os grupos talâmicos afetados, são: Grupo anterior Déficit de atenção, acinesia, alterações de linguagem e amnésia; Grupo posterior hemianestesia, dor, defeitos no campo visual, e déficit de atenção; Grupo lateral Perda sensitiva, dores paroxísticas e hemiataxia contralaterais a lado do corpo afetado, principalmente quando sua região posterior é afetada. Outros transtornos de movimentos observados em lesões desta estruturas são: distonia, mioclonias e asterix. Heminegligência também pode cursar em lesões de núcleos deste grupo; Grupo medial Apatia, agitação, sonolência e coma. CEREBELO É a porção do sistema extrapiramidal responsável pela cronometragem das atividades motoras, controle da intensidade da carga muscular e interação entre grupos agonistas e antagonistas, para a execução dos movimentos. O cerebelo sequência, monitora, refina, faz ajustes das atividades motoras e termina os movimentos, mas não os inicia diretamente. O cerebelo apresenta-se, sob o aspecto histológico, dividido em três partes: 3 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência 1. Córtex cerebelar: o qual apresenta 03 camadas celulares: camada molecular, constituída por células estreladas e em cesto; camada das células de Purkinje; camada granular. 2. Centro branco medular do cerebelo: corresponde à substância branca cerebelar; 3. Núcleos cerebelares: localizados na substância branca cerebelar: denteado; interpósito; emboliforme. Estas diferentes estruturas histológicas estão organizadas do ponto de vista macroscópico em duas porções principais: 1. vérmis: o qual recebe aferências da musculatura axial; 2. Hemisférios cerebelares: os quais apresentam uma zona intermediária, relacionada à musculatura apendicular e uma zona lateral, relacionada a movimentos sequenciais; As principais vias aferentes do cerebelo se apresentam da seguinte forma: • Via córtico-ponto-cerebelar: origina-se de neurônios do córtex motor, pré-motor e somato-sensorial, os quais se projetam para núcleos pontinos e através do pedúnculo cerebelar médio alcançam o córtex da zona lateral do hemisfério cerebelar do lado oposto. Participa diretamente no planejamento de movimentos complexos. • Feixe olivo-cerebelar: neurônios originados no córtex motor, gânglios da base e formação reticular projetam-se para o núcleo olivar inferior, de forma que através do pedúnculo cerebelar inferior alcançam o córtex cerebelar. Auxilia na correção dos movimentos em execução, uma vez que fornece ao córtex cerebelar detalhes da intenção de cada movimento. • Feixe vestíbulo-cerebelar: suas fibras têm origem nos núcleos vestibulares e, através do pedúnculo cerebelar inferior, projetam-se para o lobo flóculo-nodular. Desta forma, traz dados importantes sobre a posição cefálica, auxiliando no controle do equilíbrio. • Tratos espino-cerebelares dorsal e ventral: Trato espino-cerebelares dorsal: o primeiro tem suas aferências originadas em fusos neuromusculares e órgãos tendinosos de Golgi, alcançando, através do pedúnculo cerebelar inferior, o vérmis e a zona intermediária do mesmo lado, permitindo a avaliação inconsciente da posição e velocidade de movimento do corpo, assim como o grau de contração muscular. Trato espino-cerebelares dorsal: tem suas aferências originadas de estímulos que chegam a base do corno posterior da medula, alcançando, através do pedúnculo cerebelar superior, o córtex cerebelar bilateral, conduzindo informações posturais de todo um membro ao cerebelo. Como emerge de uma região de projeção córtico espinhal, também permite avaliar a atividade do tracto córtico-espinhal. As principais vias eferentes do cerebelo originam-se nos núcleos cerebelares profundos: Conexões do vérmis: originam-se de axônios do córtex cerebelar, os quais fazem sinapse com o núcleo fastigial, e através dos feixes fastígio vestibulares e fastígio-bulbares, exercem influência sobre neurônios motores que participam do controle das musculaturas axial e proximal dos membros, mantendo o equilíbrio e a postura; Conexões da zona intermediária: os axônios do córtex cerebelar fazem sinapse com o núcleo interpósito, originando os feixes interpósito-rubro espinhal e interpósito-tálamocortical, exercendo influência sobre neurônios motores que controlam a musculatura distal. Portanto, esta via controla os movimentos finos e delicados, uma vez que integra a musculatura agonista e antagonista dos membros. Conexões da zona lateral: os axônios do córtex cerebelar fazem sinapse com o núcleo denteado, de onde se originam fibras para os núcleos ventro lateral e ventro-medial do tálamo do lado oposto, projetando-se então para o córtex motor, auxiliando na coordenação de atividades motoras sequenciais iniciadas pelo córtex motor. Aspectos clínicos Lesões cerebelares têm como principal sintomatologia a incoordenação motora: Astaxia: dificuldade para se manter em pé. O paciente mantém a base de sustentação alargada e apresenta tendência de queda multidirecional; 4 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Abasia: dificuldade para marcha, a qual se apresenta de forma ebriosa; Dismetria: paciente não consegue atingir um alvo, executando movimentos inapropriados que podem tanto ser interrompidos antes como depois do almejado; Decomposição: movimentos realizados em etapas, por dificuldade de integração de diferentes musculaturas, conferindo uma característica “quebrada” e não uniforme ao movimento; Disdiadococinesia: dificuldade de realizar movimentos rápidos, alternantes e coordenados; Tremor: elevada amplitude e baixa frequência, acentuando- se ao final de um movimento, desencadeado também à manutenção de posturas em relação a um alvo. NÚCLEOS DA BASE Os núcleos da base (NB) são massas de substância cinzenta situadas na base do telencéfalo. Tais estruturas são: claustrum, amígdala, núcleo caudado, putâmen e globo pálido. Também podem ser incluídas mais duas estruturas: o núcleo basal de Meynert, o núcleo accumbens, a substância negra e o núcleo subtalâmico. Estas estruturas são responsáveis pela execução de padrões da atividade motora, controle cognitivo das sequências de padrões motores e auxiliam na alteração da cronologia e gradação da intensidade de movimentos. Devemos observar ainda, que o putâmen e o núcleo caudado podem ser considerados no aspecto funcional como uma unidade: o neostriado ou striatum. Estruturas: Relações (modulação e controle do movimento) Aferência N.da base eferência ANATOMIA MACROSCÓPICA E FUNCIONAL Os núcleos da base são um grupo de núcleos subcorticais localizado, em sua maioria, no nível do telencéfalo. Os componentes dos núcleos da base são as seguintes estruturas: 1- Do telencéfalo: núcleo caudado, putamen, globo pálido e núcleo accumbens; 2- Do mesencéfalo: substância negra (partes compacta e reticular) 3- Do diencéfalo: núcleo subtalâmico. Como estruturas correlatas dos NB, temos ainda: a área tegmentar ventral, núcleo pedúnculo-pontino, e os núcleos da rafe dorsal e as habênulas Na prática, entende-se por núcleos da base o conjunto de núcleos motoressubcorticais composto por: núcleo caudado, putamen, globo pálido, núcleo subtalâmico e substância negra. Os núcleos da base modulam o os movimentos, participando nos processos de planejamento e controle dos movimentos, e também atuam em processos cognitivos, emocionais e motivacionais. Algumas dessas estruturas compõe o núcleo estriado e o núcleo lenticular. Núcleos da base Núcleo estriado Compreende o núcleo caudado, o putâmen e o núcleo accumbens, que são núcleos com estrutura histológica e anatômica muito semelhantes. Núcleo lentiforme Compreende o putamen e o globo pálido, que são núcleos funcionalmente semelhantes 5 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Núcleo caudado O núcleo caudado é uma estrutura de substância cinzenta do telencéfalo localizada ao lado da parede lateral dos ventrículos laterais. É a estrutura mais alongada ântero- posteriormente, que se inicia na região profunda do lobo frontal e vai até a região posterior do lobo temporal. É uma grande estrutura com muitas funções. Compõe-se de cabeça, corpo e cauda. A cabeça é o segmento mais anterior e faz uma elevação para dentro do corno anterior do ventrículo lateral. A cabeça do núcleo caudado está fundida com a parte anterior do putâmen (por isso, em conjunto, são chamados de núcleo estriado, com funções relacionadas à motricidade). Segue-se o corpo do núcleo caudado, que está situado no assoalho da parte central do ventrículo lateral. A cauda do núcleo caudado é longa, delgada e fortemente arqueada e segue até a extremidade anterior do corno inferior do ventrículo lateral. Figura 4. Imagem figurativa do Núcleo caudado (verde). Putâmen Um pouco mais abaixo e posterior do núcleo caudado está o putâmen. É o maior componente dos núcleos da base e também é o núcleo mais lateral. O putâmen relaciona-se lateralmente com a cápsula externa e medialmente com a lâmina medular lateral do globo pálido, que contém axônios que separam o putâmen do segmento externo do globo pálido. A principal função do putâmen é a de regular os movimentos amplos (grosseiros) e influenciam diversos tipos de aprendizagem, especialmente ao condicionamento. Juntamente com o globo pálido, o putâmen forma o núcleo lentiforme (em azul na figura 3), com tamanho e formato semelhante a uma castanha-do-pará e que se relaciona medialmente com a cápsula interna. Já o núcleo estriado compreende o núcleo caudado e o putâmen. O núcleo estriado desempenha um papel significativo em várias funções cerebrais, incluindo controle e aprendizado motor, linguagem, recompensa, funcionamento cognitivo e dependência pelas vias neurais funcionais cortico-estriato-talamocortical. O núcleo estriado é formado pelos neurônios espinhosos (neurônios com dendritos coberto com espinhos) e não espinhosos. A maior parte dos neurônios do putâmen é do tipo espinhoso, que são gabaérgicos, contendo o neurotransmissor ácido gama- aminobutírico (GABA). Globo pálido Um dos constituintes do núcleo lentiforme, o globo pálido é a estrutura de menor tamanho e mais medial desse núcleo. O globo pálido está adjacente ao putâmen. É dividido em dois segmentos pela lâmina medular medial: Segmentos lateral Segmentos medial, que Apresenta mais uma divisão no segmento medial, sendo dividido pela lâmina medular acessória em duas porções: Uma mais medial (globo pálido interno – GPi) Outra mais lateral (globo pálido externo – GPe). Existem muitas fibras ligando o núcleo caudado e o putâmen ao globo pálido. Essas fibras ao convergir para o globo pálido lhe dão cor mais pálida em preparações não coradas por conta das fibras mielínicas que o atravessam. O globo pálido tem função essencialmente motora. Figura 5. Inter-relação do tálamo, núcleo lentiforme, núcleo caudado e corpo caudado e corpo amigdalóide. Substância negra 6 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência A substância negra é uma estrutura que possui coloração escura devido a existência de melanina em seus neurônios. Está localizada no mesencéfalo, entre o tegmento e a base do e pedúnculo, que compõe o pedúnculo cerebral. Apesar de estar localizada no tronco encefálico, a substância negra tem um contato direto e constante com os núcleos da base. É a maior estrutura nuclear mesencefálica e é dividida em duas partes: pars compacta A pars compacta é a região mais dorsal, com neurônios contendo dopamina que fazem conexões eferentes com o corpo estriado, e está envolvida com o controle dos movimentos. Também faz conexões com a amígdala (relacionada com emoções e motivação) e a formação reticular (relacionada com a vigília). pars reticulata A pars reticulata recebe projeções aferentes do corpo estriado através das fibras estriatonigrais, e o principal neurotransmissor envolvido é o GABA. CONEXÕES DA SUBSTÂNCIA NEGRA (SN) Núcleo subtalâmico Como o próprio nome indica, o núcleo subtalâmico localiza-se ventralmente ao tálamo e está no nível do diencéfalo. Possui uma relação lateral com a cápsula interna e medial com o hipotálamo. É um núcleo organizado com áreas relacionadas com os membros superiores e inferiores, e possui conexões complexas. Recebe fibras aferentes do globo pálido externo e do córtex motor, e envia fibras eferentes para o globo pálido interno e externo. Os neurônios do núcleo subtalâmico são glutamatérgicos (neurotransmissor excitatório) e exerce excitação sobre o globo pálido e a substância negra. É uma peça-chave de entrada dos circuitos dos núcleos da base. O glutamato é o principal neurotransmissor de sinapses excitatórias no SNC. Ele é o precursor do GABA. Apesar de ser muito importante, o glutamato é uma neurotoxina potente, portanto, suas concentrações devem ser limitadas para permitir uma sinapse normal e também evitar a morte celular. Vários aminoácidos atuam como neurotransmissores. Os três mais importantes são o glutamato, a glicina e o GABA. Os aminoácidos são os principais neurotransmissores que atuam nos núcleos da base. O GABA atua como neurotransmissores inibitórios do SNC. Como citado, ele é produzido a partir do glutamato pela enzima ácido glutâmico descarboxilase, específica de neurônios gabaérgicos. As regiões com maior predomínio de GABA são os núcleos da base, as células de purkinje do córtex cerebelar. A glicina também é um neurotransmissor inibitório com uma atividade mais específica, e atua restritamente na medula. A dopamina é uma amina biogênica. Junto com a norepinefrina e epinefrina, compõe o grupo das catecolaminas, que são biossintetizadas a partir do aminoácido tirosina. A tirosina é convertida em L-dopa através da ação tirosina hidroxilase. A L-dopa então é convertida em dopamina pela dopa-descarboxilase. As regiões de origem das fibras dopaminérgicas são a pars compacta da substância negra (e segue até o corpo estriado) e a área ventral do tegmento. Tem um papel excitatório. Fluxograma: subdivisões funcionais do estriado (sensorimotor, associativo e límbico) VIAS MOTORAS EFERENTES Vias piramidais Vias extrapiramidais Trato córtico-espinhal Trato rubroespinhal Trato córtico-nuclear Trato retículo espinhal Trato tetoespinhal Trato vestibuloespinhal FUNCIONAMENTO DAS VIAS Três tipos de movimento compõe a motricidade: respostas reflexas, padrão motor rítmico e movimentos voluntários. E também existem três níveis do controle motor: medula espinhal, o tronco encefálico e o córtex motor. A medula espinhal, nível mais baixo do controle motor, realiza uma série de padrões motores automáticos, estereotipados e reflexos. O córtex cerebral (pré-motor, área motora suplementar e córtex motor primário) é o nível mais alto e projeta-se diretamente para a medula através do 7 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciênciatrato corticoespinal, e indiretamente através dos sistemas motores do tronco encefálico pelas vias extrapiramidais. Há uma vasta divisão de sistemas neuronais e de tratos envolvidos na motricidade. No tronco encefálico não é diferente: há o sistema medial e lateral. O medial está envolvido com o controle dos músculos axiais e proximais é muito importante para o controle postural. Envolve os tratos vestibuloespinal, reticuloespinal e tetoespinal. O sistema lateral é importante para o controle dos músculos distais dos membros e envolve o trato rubroespinal. Esses tratos citados compõem o que se chama de vias extrapiramidais. Suas fibras possuem origem neuroanatômica distintas e destinam-se a medula espinal A estimulação cortical sobre os núcleos da base ocorre com a atuação dos neurotransmissores glutamato e aspartato, principalmente sobre o corpo estriado (região predominada pelo GABA) que, ao ser estimulado atuará no segmento externo do globo pálido, e este exerce uma ação sobre os núcleos de saída dos núcleos da base (segmento interno do globo pálido e a pars reticulata da substância negra). Com essa sequência de estimulações, ocorre um efeito de feedback exercido pelo tálamo que projeta de volta ao córtex do lobo frontal, fechando o circuito. Observe essas relações na figura 5. Assim, os núcleos da base recebem aferências do córtex e projetam eferências pelo meio do tálamo (através do glutamato). Este circuito recebe o nome de corticogângliobasal-talamocortical Figura 7.Sinalização as vias direta e indireta com a topografia Os núcleos da base fornecem informação necessária para planejar e desencadear os movimentos e também para organizar os ajustes posturais associados a estes movimentos. Para essas tarefas, parece que os núcleos da base facilitam seletivamente alguns movimentos e, paralelamente, suprimem outros. Esse comportamento dual de excitação e inibição dos núcleos da base ocorrem por meio de duas alças motoras conhecidas como vias de saída estriatal direta e indireta. São duas vias com efeitos antagônicos sobre o tálamo, sendo que a via direta excita o tálamo e a via indireta o inibe. Como mencionado anteriormente, o circuito motor corticogangliobasal-talamocortical se inicia nas áreas motoras do córtex e projeta-se para o putâmen de forma somatotópica (para cada região do córtex há uma região correspondente no putâmen). Ao chegar no putâmen, o circuito motor se divide nas vias direta e indireta. VIA DIRETA/ excitatória A via direta é formada por neurônios de projeções que saem do putâmen e chegam até o globo pálido interno (GPi), que contém GABA, e o GPi projeta neurônios para os núcleos ventral lateral e ventral anterior do tálamo. Lembre- se que o putâmen é uma região predominantemente gabaérgica e que o GABA é um neurotransmissor inibitório. Então, perceba o que ocorre: a excitação cortical sobre o putâmen é transformada em inibição para o GPi, o GPi, região também inibitória, exerce ação sobre o tálamo – o GPi ao ser inibido diminui o seu efeito inibitório sobre o tálamo. Portanto, o produto final da via direta com essa dupla ação inibitória é um efeito excitatório do tálamo ao córtex, facilitando o início e manutenção dos movimentos. VIA INDIRETA/ inibitória A via indireta é um pouco mais complexa e apresenta efeito oposto ao da via direta. Na via indireta ocorre a ação do núcleo subtalâmico, que é uma estrutura excitatória. A via indireta é formada por neurônios inibitórios de projeções do putamen que chegam até o globo pálido externo (GPe), que também é uma estrutura inibitória (possui Gaba-encefalina). Perceba que raciocínio da via indireta, apesar de oposto, é semelhante ao da via direta: o GPe projeta fibras e exerce efeito sobre o núcleo subtalâmico, portanto, ao ser inibido pelo putamen, o GPe diminui a utilização do GABA e passa a inibir menos o núcleo subtalâmico; o núcleo subtalâmico desinibido aumenta sua ação excitatória sobre o globo pálido interno e sobre a pars reticulata da substância negra – dessa forma, é provocada uma forte ação inibitória sobre o tálamo. O tálamo mais inibido atua de modo negativo sobre o córtex cerebral (lobo frontal) e suprime os movimentos. 8 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Outro neurotransmissor com papel importante no funcionamento do circuito é a dopamina. Ela pode exercer tanto papel excitatório quanto inibitório. Na via direta ela atua na via nigroestriatal (que tem efeito excitatório) atuando nos receptores dopaminérgicos D1. Na via indireta ela atua com efeito inibitório nos neurônios estriatais através dos receptores dopaminérgicos D2. Então, a dopamina no corpo estriado pode maximizar a ação da via direta (facilitando os movimentos) mas também pode maximizar a via indireta (inibindo os movimentos). Sabe-se que existem mais de 5 tipos de receptores de dopamina localizados em diferentes regiões neuroanatômicas: corpo estriado, regiões límbicas, córtex, tálamo e substância negra – enumerados de D1 a D5. Pelas características bioquímicas e funcionais, os receptores dopaminérgicos são divididos em D1 e D2. Os receptores dopaminérgicos do tipo D1 estimulam a adenilciclase enquanto os do tipo D2 inibem a atividade da adenilciclase. Esses dois receptores são encontrados em maior quantidade no corpo estriado e na substância negra. A compreensão desse conceito básico de neurofisiologia é importante para compreender o mecanismo de ação envolvido no tratamento de alguns distúrbios hipercinéticos e hipocinéticos associados aos núcleos da base ESTRUTURA PRINCIPAL NT AÇÃO NO CIRCUITO Putamen GABA Inibe ou excita o globo pálido Globo pálido interno GABA e substância P Quando excitado, inibe o tálamo Globo pálido externo GABA e encefalina Normalmente é inibido pelo putamen, deixando o núcleo subtalâmico livre. Quando excitado, inibe o núcleo subtalâmico Núcleo subtalâmic o Glutamato Quando excitado, excita o globo pálido e a substância negra. Núcleo caudado GABA Inibe ou excita o globo pálido quando. É estimulado pela dopamina da substância negra. Substância negra Pars compacta: dopamina Pars compacta: estimula o núcleo caudado Pars reticulada: GABA Pars reticulada: inibe o tálamo Tálamo Glutamato Quando excitado, estimula o córtex cerebral motor Aspectos clínicos Os transtornos dos núcleos da base, principalmente do corpo estriado, são hipercinéticos, hipocinéticos ou comportamentais e emocionais. Os principais são: hemibalismo, parkinsonismo, coreia de Sydenham, TOC, distonia, mioclonias. As disfunções dos gânglios da base podem ser classicamente divididas em dois grupos: Síndrome hipocinética (parkinsonismo): ocorre comprometimento da substância negra pars compacta, levando a uma redução da atividade do neostriado sobre as vias de saída direta e indireta. Essas alterações promovem intensificação da atividade inibitória do complexo pálido medial/ substância negra pars reticulata sobre o tálamo e, conseqüentemente, uma redução da estimulação cortical. Quadro clínico característico: é caracterizada pela redução global e involuntária dos movimentos com diferentes apresentações, como a bradicinesia (lentidão ao executar os movimentos), acinesia (dificuldade para iniciar os movimentos) e ↓ dos movimentos espontâneos e automáticos do corpo. Hipertonia plástica, tremor de repouso de baixa frequência e elevada amplitude, além de instabilidade postural Síndromes hipercinéticas são condições clínicas que cursam com movimentos involuntários anormais como a coreia, balismo, tremor, tique, distonia e mioclonia: ocorre comprometimento dos neurônios do neostriado que tem o GABA e a encefalina como neurotransmissores, levando a uma diminuição da atividade inibitória do complexo pálido medial/substância negra pars reticulata sobre o tálamo e conseqüentehiperatividade das projeções do tálamo sobe o córtex. Parkinsonismo O parkinsonismo é a síndrome clínica com a presença de bradicinesia, rigidez muscular, tremores (principalmente em repouso) e instabilidade postural. A presença de dois desses sinais fecha o diagnóstico de parkinsonismo. A principal etiologia dessa síndrome é a doença de Parkinson idiopática (DPI). A DPI é uma doença neurodegenerativa ocasionada pela perda neuronal progressiva em diferentes sítios do SNC, principalmente no tronco encefálico e do cérebro, incluindo a substância negra do mesencéfalo, o que gera disfunção dopaminérgica (daí é originado os sinais motores), mas também ocorre disfunção de outros sistemas de neurotransmissores: serotoninérgicos, adrenérgicos, colinérgicos. Esses últimos 9 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência sistemas estão associados aos sinais não motores da doença de Parkinson, como a depressão, o distúrbio do sono REM e a disfunção cognitiva. Figura 8. Sinais e sintomas do Parkinsonismo. Marcha parkinsoniana Falta de expressão facial Movimento lento Balanço do braço reduzido Tremor de repouso assimétrico Instabilidade postural Passos arrastados Rigidez Congelamento O diagnóstico de parkinsonismo é clínico! Não há necessidade de realizar exames complementares para a fazer esse diagnóstico. Como vimos, a presença de dois dos principais sinais da síndrome é suficiente para fechar esse diagnóstico: bradicinesia, rigidez muscular, tremores e instabilidade postural. Figura 9. Sinais e sintomas do Parkinsonismo. Na patogênese da DPI observa-se uma disfunção da via nigroestriatal, que leva a uma diminuição da concentração de dopamina disponível para os receptores dopaminérgicos do corpo estriado. Com essa disfunção dopaminérgica, ocorre a síndrome rígido-acinética, associada à presença de tremores e com a instabilidade postural. Ocorre a perda de ação inibitória GPe sobre o núcleo subtalâmico, e também ocorre uma ação hiperexcitatória do núcleo subtalâmico sobre o segmento GPi, o que resulta em uma menor ação excitatória do tálamo sobre o córtex motor, resultando assim na síndrome rígido-acinética. No tratamento clínico da DPI utiliza-se medicamentos que aumentam a concentração de dopamina no sistema nigroestriatal, como por exemplo a levodopa. No tratamento cirúrgico pode-se fazer a talamotomia (destruição controlada do núcleo lateral do tálamo). É uma cirurgia que provoca lesões em núcleos talâmicos e normaliza o feedback entre os núcleos da base e o córtex motor. Com a talamotomia obtém-se a abolição dos tremores em pacientes com DPI em mais de 80% dos casos. Outra alternativa cirúrgica é a palidotomia, que interrompe a ação inibitória sobre o tálamo e é eficaz na melhora do tônus muscular e na bradicinesia. Outra alternativa terapêutica é a estimulação cerebral profunda, que estimula as mesmas estruturas: o tálamo e o globo pálido, e também o núcleo subtalâmico. Hemibalismo Hemibalismo é um distúrbio neuromotor hipercinético caracterizado por movimentos involuntários abruptos, de grande amplitude e forte intensidade, homolateral à lesão, que se assemelham ao movimento de uma pessoa arremessando um objeto. Envolve mais a musculatura proximal do que distal. Nos casos graves, os movimentos não desaparecem com o sono. A causa mais comum é a lesão no núcleo subtalâmico, geralmente ocasionada por pequenos acidentes vasculares. A fisiopatologia do hemibalismo, assim como a dos demais distúrbios hipercinéticos, é explicada pela diminuição da atividade excitatória das projeções do núcleo subtalâmico para o pálido medial, reduzindo a inibição sobre os núcleos talâmicos e sobre o córtex motor. Assim, as áreas do córtex sendo menos inibidas respondem exageradamente aos comandos corticais e aumentam a tendência de neurônios corticais dispararem espontaneamente, resultando nos sintomas (movimentos involuntários). Mioclonia e Distonia A mioclonia é um distúrbio neuromotor em que ocorre um movimento involuntário súbito, breve, tipo “choque”, decorrente de contrações musculares ou inibições musculares. É um distúrbio hipercinético que não apresenta uma topografia específica no SNC, podendo ocorrer por lesões em diferentes locais dos núcleos da base. Já a distonia é um distúrbio do movimento em que há contrações musculares mantidas e simultâneas de grupos agonistas e antagonistas. Causa torção e movimentos repetitivos e/ ou posturas anormais. Existem diversas etiologias para as distonias como doenças genéticas, lesões de diferentes origens em diferentes níveis dos núcleos da base. O prognóstico e evolução varia conforme a etiologia. As distonias secundárias são mais associadas ao acometimento dos núcleos da base, principalmente o putamen. Coreia Coreia é um distúrbio neuromotor caracterizado por movimentos involuntários, irregulares, não rítmicos rápidos e abruptos. Nesse distúrbio ocorre a perda da inibição entre o putâmen e o GPe, provocando uma excessiva atividade inibitória do GPe sobre o núcleo subtalâmico – assim, O GPe e a pars reticulata são menos estimulados, e por consequência o tálamo inibe menos o córtex, provocando movimentos involuntários anormais excessivos. 10 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Exemplos de coreias Doença de Huntington - Doença neurodegenerativa e genética (autossômica dominante) - Comprometimento motor, cognitivo e psiquiatricos - Nela, ocorre uma atrofia no corpo estriado (na cabeça do núcleo caudado). Coreia de Sydenham Caracterizada com movimentos involuntários rápidos que lembram uma dança, hipotonia e distúrbios neuropsiquiátricos. A sintomatologia motora é secundária ao comprometimento do circuito motor, enquanto as demais são por conta do comprometimento dos circuitos pré- frontais. É uma doença que é uma doença autoimune mais prevalente em crianças. Da patogênese sabe-se que anticorpos lesam os núcleos da base. Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) O Transtorno obsessivo-compulsivo é um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por obsessões, compulsões ou ambas. Os núcleos da base vem sendo associado com a patogênese do TOC. Estudos com RM tem evidenciado uma diminuição do núcleo caudado em paciente com TOC. Uma hipótese para a influência da redução do núcleo caudado para origem do TOC é que o caudado levaria a uma filtragem inadequada de preocupações, e assim estimularia o córtex a desencadear compulsões. 11 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência PROCESSOS DEMÊNCIAIS O termo demência é utilizado para descrever um estado persistente de deterioração cognitiva, funcional e emocional com repercussão no funcionamento social ou ocupacional e que representa um declínio em relação a um nível previamente superior. Síndrome caracterizada por declínio de memória, associado a déficit de pelo menos outra área de cognição, como atenção e aprendizado, pensamento, orientação, compreensão, cálculo, linguagem e julgamento com intensidade suficiente para interferir no desempenho social e profissional do sujeito. Critérios DSM-5 para Distúrbio neurocognitivo maior Evidência de declínio significativo em relação a um nível anterior de desempenho em um ou mais domínios cognitivos (atenção complexa, função excutiva, aprendizagem e memória, linguagem, capacidade perceptivo-motoras e cognição social) demonstrado por: Percepção do indivíduo, do cuidador ou do clínico de que houve um declínio significativo na função cognitiva Alteração substancial na performance cognitiva documentada por testes neuropsicológicos standardizados ou equivalentes Os déficits cognitivos são suficientemente graves de forma a interferirem com a independência do indivíduo nas atividadesde vida diária. Os déficits não ocorrem exclusivamente durante o curso de delirium e não são melhor explicados por outra alteração menta. Os tipos de demência são • Doença de Alzheimer (DA): doença cerebral degenerativa primária, de início insidioso, perda de memória com declínio cognitivo lento e progressivo. Etiologia: multifatorial, aspectos neuropatológicos e neuroquímicos característicos. Fatores genéticos são relevantes em 32,9% de casos diagnosticados, além do fator idade. A DA evolui em três estágios: inicial, intermediário e avançado. Há um pior desempenho de memória verbal e repetição de linguagem. • Demência vascular: não é uma doença, mas um grupo heterogêneo de síndromes (vascular e mudanças cerebrais relacionadas). Apresenta-se com início abrupto, geralmente após um episódio vascular e flutuação do déficit cognitivo. É o segundo tipo mais prevalente de demência. Etiologia: multifatorial. O paciente apresenta déficits maiores em testes de movimento repetitivo e dependente de velocidade motora. • Demências dos corpúsculos de Lewy: o paciente apresenta flutuação na cognição, alucinações visuais recorrentes bem formadas e parkinsonismo precoce. • Demências frontotemporais ou Doença de Pick: patologia de início pré-senil (a partir de 45 anos), apresenta mudanças na personalidade e no comportamento e/ou alteração da linguagem como características iniciais bem marcantes. São comuns alterações do comportamento sexual, como desinibição, jocosidade e hipersexualidade, além de hiperoralidade, hiperfagia com ganho de peso e obsessão em tocar objetos. O comprometimento da memória é geralmente mais tardio. SINAIS SUGESTIVOS DE DEMÊNCIA PARA O DIAGNÓSTICO: Na fase inicial encontramos: desorientação no tempo e no espaço; perda de objetos, ou colocação de objetos em locais inapropriados; mudança no humor e comportamento; mudança na personalidade; perda de iniciativa. Em uma fase mais avançada: perda de memória/agnosia (não reconhece ou identifica para que servem os objetos, pessoas, sons, formas); dificuldade na execução de tarefas familiares/apraxia (perda da capacidade para executar movimentos e gestos como vestir-se, alimentar-se); problemas com a linguagem/afasia: incapacidade de nomear pessoas e objetos; pobreza ou declínio de julgamento (o julgamento é alterado, perdendo a noção de riscos); problemas com o pensamento abstrato. • Anamnese: se o início da doença foi súbito ou progressivo, há dificuldades de linguagem, interpretadas como normais. Se houve comprometimento de outra área de cognição além da memória, é fundamental para o diagnóstico. E essas alterações deverão influenciar nas atividades de vida diária (AVD) ou atividades instrumentais da vida diária (AIVD). • Exame neurológico: nas fases iniciais há pouco comprometimento. Mas devem ser procuradas evidências de sinais de parkinsonismo, sinais focais que poderão dar pistas de comprometimento vascular, presença de reflexos axiais primitivos comuns na doença frontal. • Avaliação cognitiva: teste mais difundido de rastreio, é o miniexame de estado mental (MEEM); a nota de corte é: 18 para analfabetos; 21 para escolaridade de 1 a 3 anos; 24 para escolaridade de 4 a 7 anos; 26 para mais de 7 anos de escolaridade em comparação a 30 pontos no total. Mas vale lembrar que a baixa pontuação não necessariamente é demência; nenhum teste isolado fecha um diagnóstico. Um indivíduo em depressão ou em delirium pode interferir no resultado. • Exames complementares: exames de imagem (TC ou RM do encéfalo); hemograma completo; eletrólitos; funções hepática e renal; testes de função da tireoide; dosagem sérica de vitamina B12; ácido fólico; sorologia para sífilis. E, se houver comportamento de risco, pesquisar anticorpos anti-HIV. Diagnóstico Diferencial das Síndromes demenciais - Doença de Alzheimer - Causas metabólicas: insuficiência hepática, distúrbios hidroeletrolíticos - Causas hormonais: hipotireoidismo - Causas infeciosas: Sífilis, HIV - Depressão 12 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência - Uso de medicamentos (BDZ, ATC, neurolépticos) - Outras demências degenenerativas As demências são classificadas em: • Evolutivas – declínio progressivo por doenças neurodegenerativas, • Vascular ou infecciosa crônica; estáticas – demência vascular com fator de risco controlado, sequela de lesão cerebral aguda por trauma ou infecção; ou • Potencialmente reversíveis – como causada por deficiência de vitamina B12 ou hipotireoidismo. 13 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Doença de Alzheimer INTRODUÇÃO Com o aumento da expectativa de vida e, consequentemente, o envelhecimento da população, os casos de doenças da senilidade estão aumentando. Estima- se que existem 40 milhões de pacientes demenciados no mundo. Demência ou transtorno neurocognitivo maior é uma doença neurológica progressiva que cursa com alteração cognitiva persistente e leva a prejuízo funcional, interferindo nas atividades profissionais e sociais dos portadores, sem que haja alterações no nível de consciência. De acordo com a etiologia, podem ser reversíveis ou irreversíveis. Para estabelecer o diagnóstico de um transtorno neurocognitivo maior, é necessário que o paciente apresente declínio em pelo menos 2 funções da cognição (memória, linguagem, praxias, gnosias e funções executivas). Dessa forma, o declínio exclusivo da mémoria não é suficiente para estabelecer o diagnóstico sindrômico de demência. Naturalmente com o envelhecimento a função cognitiva muda e se torna mais lentificada, sem que isso seja considerado patológico. Entre as alterações cognitivas do envelhecer normal e a demência existe o comprometimento cognitivo leve (CCL) ou transtorno neurocognitivo menor, onde existe um déficit cognitivo leve sem alteração na funcionalidade. Ou seja, os pacientes apresentam um declínio cognitivo maior do que o esperado para a idade, mas são independentes. Como a demência é uma doença progressiva, todos os pacientes que possuem diagnóstico de demência passaram pelo comprometimento cognitivo leve /CCL, exceto, é claro, em quadros agudos como trauma cranioencefálico ou AVE. EPIDEMIOLOGIA Causa mais comum de demência Prevalência aumenta com a idade - 3%: 65 a 69 anos - 30%: 80 a 89 anos Morbimortalidade em idosos Formas esporádicas são a maioria (geneAPOE4) 5% são formas hereditárias – tendem a se apresentarem em < 65 anos - mutações autossômicas dominantes A prevalência do comprometimento cognitivo leve/CCL vária entre 1 e 6% no mundo. Assim como a demência, a prevalência costuma aumentar com a idade, sendo que cerca de 20% dos indivíduos entre 80 e 90 anos possuem comprometimento cognitivo leve/CCL, aumentando para 40% entre os maiores de 90 anos. Os pacientes com CCL têm maior possibilidade de evolução para doença de Alzheimer do que a população geral, sendo a taxa de conversão ao redor de 10 a 15% ao ano, comparado a 1 a 2% na população geral. A cognição é a função mental relacionada com a capacidade de aquisição de conhecimento e engloba atenção, percepção, processamento, memória, raciocínio, visualização, planificação, resolução de problemas, execução e expressão de informação. A cognição é a função mental relacionada a aquisição de conhecimento enquanto a funcionalidade é a habilidade de exercer tarefas que permitem viver de forma independente. O conceito de funcionalidade determina a habilidade do indivíduo de realizar as atividades que permitem o auto-cuidado e uma vida independente. Está diretamente relacionado com a qualidade de vida. Prejuízo funcional é a perda da capacidade de realizar atividadesque previamente eram realizadas. A avaliação do prejuízo cognitivo é realizada através na análise de atividades instrumentais (atividades mais elaboradas) e atividades básicas. O delirium é uma síndrome clínica caracterizada por um declínio global das funções cognitivas associado a alteração de consciência que se desenvolve em um curto período de tempo e apresenta flutuações durante o dia. Portanto se diferencia das demências, pois nesta a consciência está inalterada e a apresentação é progressiva e persistente. FISIOPATOLOGIA Existem diversas etiologias que cursam com comprometimento cognitivo leve/CCL ou demência, dentre elas podemos destacar Doença de Lewy, doença de Parkinson, demência vascular, HIV e trauma cranioencefálico. Dentre as causas, a mais prevalente é a doença de Alzheimer (DA), sendo responsável por cerca de 50% dos casos de demência. As demências são divididas em dois grandes grupos: Demências com comprometimento estrutural do sistema nervoso central (SNC) Demências sem comprometimento do SNC. Ocorre de forma secundária a doenças sistêmicas (como doenças cardiovasculares e endócrinas) ou ao uso de drogas (como hipnóticos, antipsicóticos e antidepressivos). Como foi dito, o paciente com comprometimento cognitivo leve /CCL tem maior possibilidade de desenvolver demência e existem alguns fatores de risco que aumentam a taxa desta conversão: FATORES DE RISCO PARA DEMÊNCIA EM PACIENTES COM CCL (comprometimento cognitivo leve) Sedentarismo Atividade intelectual empobrecida Baixa escolaridade Pouco contato social Idade avançada Viver sozinho, depressãp Hipertensão arterial Tabagismo, etilismo AVE passado, TCE Portador do alelo APOE4 Riscos vasculares Insônia, Sd. Da apneia obstrutiva do sono 14 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Em 95% dos pacientes, a DA acontece de forma esporádica, sendo uma associação entre fatores genéticos e ambientais. Mais de 20 loci genéticos foram relacionados à manifestação de DA, sendo que o principal fator genético é a presença do alelo 4 da apolipoproteína E (APOE4). A doença de Alzheimer é causada pelo acúmulo progressivo de β-amiloide e proteína tau no cérebro. Os principais fatores de risco para DA são idade, história familiar e presença de apolipoproteína E. Figura 1. Esquema apresentando emaranhados neurofibrilares e placas amiloides. O paciente apresenta um acúmulo de proteína β- amiloide no espaço extracelular em placas amiloides, encontradas principalmente no hipocampo, na amígdala e no neocortex. Ocorre também acúmulo de proteína tau, formando os emaranhados neurofibrilares, estruturas intracelulares encontradas principalmente hipocampo, amigdala e núcleos da base. Mapa mental Fisiopatologia DOENÇA DE ALZHEIMER ↓ ↓ Acúmulo de β-amiloide ↓ Placas amiloides Extracelular Acúmulo de proteína tau ↓ Emaranhados neurofibrilares Intracelular Início 20 anos antes das manifestações clínicas A formação dessas estruturas leva a perda da ligação sináptica e atrofia cerebral. O cérebro passa a ter um aumento de ventrículos e de sulcos, com diminuição do peso do encéfalo. As placas amiloides e os emaranhados neurofibrilares começam a surgir cerca de 20 anos da instauração da DA. Figura 2. Imagem histológica de placa amiloide corada em HE. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Conforme sua etiologia, o transtorno neurocognitivo maior vai apresentar um quadro clínico diferenciado. Tabela 2. Demência x Principal alteração cognitiva DEMÊNCIA PRINCIPAL ALTERAÇÃO COGNITIVA Alzheimer Memória e aprendizado Doença de Lewy Alucinações e delírios Vascular Sinais neurológicos Parkinson Movimento Afasia progressiva primária Linguagem Frontotemporal Conduta e planejamento Doença de Alzheimer – Alterações cognitivas Memória: Perda da memória recente Declinio na memória + outra função cognitiva Persistente e progressiva Orientação tempo-espacial: Dificuldade de reconhecer ambientes Linguagem: Discurso empobrecido, dificuldade de compreensão Função executiva: Perda da funcionalidade Praxia: Capacidade de coordenar os movimentos para a execução de tarefas (pentear o cabelo, abotoar camisa) Velocidade de pensamento Função visuoespacial (perdas na rua ou dentro de casa) Depressão, apatia, irritabilidade Anosognosia: Perda da capacidade de percepção da doença Alterações comportamentais: desinibção Frontalização Agitação psicomotora Na investigação de uma demência, é necessário avaliar a história clínica do paciente e associar à percepção do acompanhante, pois muitas vezes o indivíduo não tem 15 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência crítica de doença e não percebe que está perdendo função cognitiva. Para o diagnóstico de Alzheimer, é necessário que o paciente apresente declínio em duas formas de cognição, sendo que uma delas obrigatoriamente é a memória. A perda de memória costuma ser o primeiro sintoma a ser observado e geralmente a memória de curto prazo é a mais afetada, fazendo com que o paciente perca a capacidade de reter novas informações. A memória de trabalho e a memória de cunho afetivo (passado) costumam estar preservadas. Além da alteração de memória, outros déficits cognitivos costumam ocorrer. O paciente evolui com um discurso empobrecido, usando muitas palavras para explicar algo. Ocorre perda de pragmatismo e funcionalidade, fazendo com que o paciente perca primeiramente a habilidade de realizar atividades instrumentais e progressivamente as atividades básicas, chegando até à perda do autocuidado. Podem cursar com alterações visuais, perdendo as funções visuais altas. O paciente passa a não reconhecer alguns ambientes, podendo se perder na rua ou não reconhecer a própria casa. Os sintomas cognitivos se apresentam de forma insidiosa e progressiva. É incomum que aparecem alterações de equilíbrio, marcha e força muscular, sendo estas queixas limitadas aos estágios finais da doença. Além dos sintomas cognitivos, o paciente experimenta também sintomas não cognitivos, como apatia, depressão, sun dowing, agitação e sintomas psicóticos. O sun dowing é caracterizado por uma agitação durante o período de fim de tarde, que costuma ocorrer em estágios mais avançados da doença. A depressão deve ser investigada em todo paciente com quadro de demência, pois, principalmente em idosos, pode se apresentar com um quadro de déficit cognitivo conhecido como pseudodemência da depressão, que é completamente revertido com o tratamento adequado. DIAGNÓSTICO Clínico: Alterações cognitivas + comportamentais e funcionais com prejuízo de funcionalidade Exames complementares: exclusão de outras causas EXAMES COMPLEMENTARES Além dos dados qualitativos obtidos na anamnese, é importante realizar uma avaliação clínica quantificada, que engloba o rastreio cognitivo e a avaliação neuropsicológica. O rastreio cognitivo é um conjunto de testes aplicados no consultório que auxiliam na percepção da quantidade de perda cognitiva do paciente. Possuem alta sensibilidade e baixa especificidade, sendo então excelentes para rastreio durante a consulta. Os principais testes utilizados são: Mini Exame do Estado Mental (MEEM), Fluência verbal, Teste do desenho do relógio Montreal Cognitive Assesment (MoCA). Estes testes permitem avaliar o possível quadro demencial com suficiente segurança. O MEEM é um teste simples, bem estruturado, de fácil aplicação que avalia a atenção, a orientação temporal- espacial, a memória, a escrita, a função executiva, a linguagem, o cálculo e a habilidade viso-construtiva. O escore varia entre 0 e 30 pontos, com notas maiores simbolizando melhor desempenho. O valor obtido no teste depende da escolaridade, portanto as notas de corte variam conforme os anos de estudo. obs.: É importantereduzir o número de medicações dos pacientes com CCL para evitar possíveis efeitos colaterais cognitivos. Particularmente, o uso de benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos e outras medicações com efeito anticolinérgico não devem ser utilizados. É um bom teste de rastreio, mas pouco sensível em pct com alta escolaridade Mini Exame do Estado mental (MEEM) Orientação temporal (5 pontos) Qual é a hora aproximada Em que dia da semana estamos Que dia do mês é hoje? Em que mês do ano estamos? Em que ano estamos? Orientação espacial (5 pontos) Em que local estamos Que local é este aqui? Qual é o bairro ou o endereço daqui? Em que cidade nós estamos? Em que estado nós estamos? Registro (3 pontos) Repetir: CARRO, VASO, TIJOLO Atenção e calculo (5 pontos) Subtrair: 100-7 = 93 – 7= 79 -7 = 72 -7 = 65 Memória de evocação (3 pontos) Quais os 3 objetos perguntados anteriormente? Nomear 2 objetos (2 pontos) Relógio e caneta Repetir (1 ponto) “Nem aqui, nem ali, nem lá” Comando de estágios (3 pontos) Apanhe uma folha de papel com a mão direita, dobre-a ao meio e coloque-a no chão Escrever uma fase completa (1 ponto) Escrever uma frase que tenha sentido Ler e executar (1 ponto) Feche os olhos Copiar diagrama (1 ponto) Copiar 2 pentágonos com interseção Resultado (De acordo com o nível de escolaridade) Analfabetos: 20 pontos 1-4 anos: 25 pontos 5-8 anos: 26 pontos 9-11 anos: 28 pontos >11 anos: 29 pontos Testes mais simples como a fluência verbal que contabiliza o número de palavras falados em um minuto 16 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência Fonêmica: palavras iniciadas com a mesma letra Semântica: coisas com o mesmo significado (frutas/Animais) Pontuação < 8 anos de escolaridade: 9 palavras > 8 anos de escolaridade: 13 palavras Teste do desenho do relógio ocupam pouco tempo durante a consulta médica e permitem aumentar a acurácia do diagnóstico de demência e complementar a avaliação o teste do MEEM. Figura 4. Teste do desenho do relógio. Fonte: O MoCA (Montreal Cognitive Assesment) é um teste mais elaborado utilizado para pacientes com alta cognição que funciona como um método rápido, com duração de cerca de 10 minutos, e fácil para distinção entre CCL e declínio cognitivo normal, através da avaliação de 8 funções da cognição. A avaliação neuropsicológica é o padrão-ouro para avaliação da cognição. É um teste realizado por psicólogos especializados em neuropsicologia que investiga o funcionamento cerebral a partir do estudo comportamental, estabelecendo a presença ou não de disfunção cognitiva, além do seu estágio. A avaliação funcional também deve ser realizada durante a anamnese, questionando o paciente e o acompanhante sobre possíveis déficits cognitivos que estejam intervindo nas atividades de vida diária. O Questionário de Atividades de Vida Diária de Lawton e Brody é utilizado para avaliar a execução de atividades instrumentais pelo paciente. A Escala de Independência em Atividades de Vida Diária de Katz é usada para avaliar a execução de atividades básicas. Deve ser solicitado exames: hemograma, creatinina, função tireoidiana (TSH, T4 livre), Albumina, AST, ALT, vitamina B12, ácido fólico, Ca, VDRL - sífilis e HIV para detectar causar reversíveis de demências. Além disso, deve-se avaliar o humor do paciente para detectar um possível quadro de depressão, que pode cursar com um quadro de pseudodemência. TC cerebral é solicitada para excluir possíveis causas reversíveis de demências, como um tumor cerebral ou um sangramento. A RM no paciente com DA mostra uma hipotrofia cortical da região temporoparietal e do hipocampal, com diminuição da volumetria hipocampal, evidenciando a neurodegeneração causada pelo acumulo de proteína beta amiloide e de proteína tau. Evidencia também dilatação dos ventrículos laterais e alargamento dos sulcos corticais nas regiões temporais. Pode apresentar também alterações vasculares como hiperintensidades, microsangramentos e lacunas. Figura 5. RM coronal mostrando atrofia hipocampal por DA à esquerda e exame normal em paciente com idade equivalente à direita. Exame normal Alzheimer: proeminência das fissuras, sulcos alargados e giros atrofiados A coleta de líquor na DA evidencia diminuição da proteína β-amiloide por acúmulo no espaço extracelular e aumento da proteína tau por morte neuronal. A relação entre a β- amiloide e a proteína tau costuma estar diminuída e este acho tem alto valor preditivo negativo. Solicitar para pcts: Demência pré-senil Apresentação ou curso atípico Suspeita de hidrocefalia (de pressão normal) Suspeita de doença inflamatória, infecciosa ou priônica MAPA MENTAL EXAMES COMPLEMENTARES DOENÇA DE ALZHEIMER Imagem RM Hipotrofia cortical no hipocampo TC Avaliação neuropsicológica Padrão-ouro Rastreio cognitivo MoCA MEEM Desenho do relógio Fluência verbal Avaliação funcional Escala de Lawton e Brody Escala de Katz Bioquímica Função tireoidiana Vitamina B12 Sífilis HIV TRATAMENTO 17 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência É importante que o médico consiga perceber os sinais de comprometimento cognitivo leve/CCL precocemente e identifique os fatores de risco de evolução para demência, para poder atuar sobre eles e conseguir diminuir a taxa de conversão ou retardar o início de um quadro demencial, fazendo com que o paciente mantenha sua funcionalidade por um período maior de tempo. TTO não farmacológico: Contato social Atividades produtivas Exercício físico e recreação Ainda não existe medicamento comprovado para o tratamento do comprometimento cognitivo leve/CCL. Apesar disso, existe uma combinação de vitaminas e minerais que mostram algum impacto na progressão em alguns estudos, mas que precisam de mais dados para serem amplamente recomendados. Os medicamentos usados para tratar demência não estão indicados para tratar CCL. Sendo assim, a principal linha de tratamento para CCL é baseada no controle de comorbidades, principalmente cardiovasculares e distúrbios de sono. Além de terapias de estimulação cognitiva e exercício físico. É importante reduzir o número de medicações dos pacientes com CCL para evitar possíveis efeitos colaterais cognitivos. Particularmente, o uso de benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos e outras medicações com efeito anticolinérgico não devem ser utilizados. Nos pacientes que já evoluíram com DA, está indicado o uso de inibidores da acetilcolinesterase, drogas que inibem a enzima acetilcolinesterase responsável pela degradação da acetilcolina na fenda sináptica. Pois pacientes com DA apresentam redução da concentração de acetilcolina em núcleos subcorticais, sendo este déficit responsável por parte das alterações cognitivas encontradas nos pacientes. Inibidores das colinesterase Medicação Apresentação Dose Donepezila Comp 5mg e 10 mg 5 a 10mg 1x dia Galantamina Caps 8 mg, 16 mg e 24 mg 16 a 24mg 1 x dia Rivastigmina Caps 1,5 mg, 3mg, 4,5 mg e 6 mg 3mg a 6 mg/dia Sol. Oral (2mg/ml) 3mg a 6 mg/dia Adesivo TD 4,6 mg, 9,5 mg, 13,3 mg 9,5mg a 13,3 mg/dia São indicadas em casos leves e moderados e não são capazes de reestabelecer a função cognitiva já degradada, tem como objetivo retardar a evolução da doença. Efeitos colaterais: Diarreia, náuseas, vômitos, tontura e perda ponderal Antagonista de R NMDA do GLUTAMATO Medicação Apresentação Dose Memantina Comp 10mg e 20 mg 5 a 20mg/ 1 a 2x dia Em casos mais avançados, pode-se utilizar/associar a memantina que é um agonista dos R NMDA, que retarda a progressão da doença e melhora os sintomas comportamentais. Existem evidências que o uso de vitamina E em altas doses(2000UI/dia em 2 doses) é capaz de retardar a progressão da doença. A vitamina E tem como função principal e mais conhecida a ação antioxidante, sendo o α-tocoferol o mais potente nesse quesito. Ela é importante no retardo do envelhecimento e até mesmo na prevenção de doenças sérias, como câncer, problemas cardiovasculares, diabetes, catarata e Parkinson. TTO de sintomas comportamentais Depressão: antidepressivos (ISRS) Alterações comportamentais: conforme sintoma (neurolépticos, antipsicóticos) Alterações do sono: melhorar a qualidade do sono, hipnóticos de curta duração e antipsicóticos MAPA MENTAL TRATAMENTO - DOENÇA DE ALZHEIMER Retardar progresso de CCL Controle de comorbidades Não Farmacológico - Contato social, atividades produtivas - Exercício físico e recreação Farmacológico Inibidores da acetilcolinesterase Vitamina E MAPA MENTAL GERAL- DOENÇA DE ALZHEIMER Epidemiologia - Principal causa de demência >65 anos Fisiopatologia Acúmulo de β- amiloide ↓ Placas amiloides Extracelular Acúmulo de proteína tau ↓ Emaranhados neurofibrilares Intracelular - Redução de acetilcolina 18 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência - Atrofia cortical Clinica Declínio da memória + comprometimento cognitivo (apraxia, afasia, agnosia) Amnesia anterógrada Evolução insidiosa Discurso empobrecido Apatia, delírio, agitação Perda da funcionalidade Diagnóstico Clínico + exames (exclusão de outras causas) Exames Imagem TC, RM: atrofia hipocampal Bioquímica Sífilis Vit. B12 Função Titeoidiana HIV Avaliação funcional Avaliação neuropsicológica Rastreio cognitivo Tratamento Controle de comorbidades Farmacológico Inibidores da acetilcolinesterase (Donepezila, Rivastigmina, galantimina) Antagonista de R NMDA do GLUTAMATO (Memantina) Vitamina E Caso Clínico Pct sexo masculino, 80 anos, engenheiro aposentado, é trazido pela filha para o ambulatório de neurologia. O pct não refere qualquer queixa, falava que morava sozinho desde o falecimento da esposa (há 2 anos) e que vivia bem a sua rotina em casa. Segundo suas informações tomava as medicações por conta própria e fazia sua própria comida. A filha completou as informações dizendo que a energia de sua casa foi cortada 2 vezes nos últimos 6 meses por falta de pagamento, além de ter observado que as cartelas de medicamentos para hipertensão arterial estavam cheias (em uso de enalapil e anlodipina). O que o pct apresentou? Anosognosia EF: foi observado níveis tensionais elevados (PA: 160 x 100 mmHg), sem outros dados que chamassem a atenção. Nos testes cognitivos e funcionais, observam-se os seguintes dados: MEEM: 25/30 Fluência verbal: 12 palavras/13 Prejuízo de funcionalidade Diagnóstico sindrômico: Alteração cognitiva + prejuízo funcional = Síndrome demencial QUESTÕES 1- Mulher, 92 anos, acamada há 6 anos por quadro demencial por doença de Alzheimer, é hipertensa e diabética. O exame físico revela a paciente com pobre contato com o meio, vigil, afebril, PA = 140 x 90, auscultas pulmonar e cardíaca normais. A paciente está medicada com donepezila, anlodipina, atorvastatina, insulina glargina e analgesia com tramadol, intercalado com dipirona. Assinale a alternativa que contém drogas que podem ser suspensas por não trazerem benefícios adicionais a essa paciente. a. Donepezila e anlodipina. b. Tramadol e anlodipina. c. Atorvastatina e insulina glargina. d. Donepezila e atorvastatina. A donepezila é um fármaco inibidor da acetilcolinesterase indicado em casos de demência leve ou moderada, não estando indicada no seguinte caso visto que paciente com doença de longa data já estando acamada, apresentando possivelmente uma demência mais avançada. A atorvastatina, por falta de estudos em pacientes acima dos 80 anos também não possui indicação no seguinte caso. A: INCORRETO. Anlodipino precisa ser mantido. B: INCORRETO. Ambos medicamentos podem ser mantidos, visando controle de hipertensão arterial e analgesia. C: INCORRETO. A insulina precisa ser mantida pelo fato de a paciente ser previamente DM e não termos outros dados informativos. 2- As alterações encontradas na ressonância magnética na doença de Alzheimer, com contexto clínico de déficit cognitivo, são encontradas principalmente no: a. Lobo frontal. b. Giro do cíngulo. c. Hipocampo. d. Fórnix. Os marcadores biológicos de maior acurácia atualmente na DA são a neuroimagem funcional e estrutural - RM de encéfalo tipicamente demonstra atrofia de estruturas temporais mesiais e dilatação do corno temporal dos ventrículos laterais - e a dosagem de proteínas no LCR, em que há aumento da proteína TAU e TAU hiperfosforilada, com diminuição de amiloide. C: CORRETA. Na DA há atrofia cortical macroscópica, sobretudo em áreas do córtex associativo neocortical e regiões temporais mesiais (hipocampais). 3- Placas amiloide e emaranhado neurofibrilar são alterações características de: a. Doença de Alzheimer. b. Esclerose lateral amiotrófica. c. Ataxia telangiectasia. d. Autismo. Segundo revisão recente publicada os dados neuropatológicos mais relevantes em pacientes com doença de Alzheimer são a presença de atrofia cortical difusa, degeneração neurovascular, perdas neuronais e sinápticas e presença de placas senis extracelulares compostas de agregados filamentosos da proteína β- amiloide e massas neurofibrilares intracelulares. Vale 19 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência lembrar que os sintomas mais associados à doença são perda de memória recente, paranóia e problemas comportamentais. Alternativa A: CORRETO. Alternativa B: INCORRETO. Alternativa C: INCORRETO. Alternativa D: INCORRETO. Resposta correta, letra A. 4- São medicações utilizadas para tratamento da doença de Alzheimer, EXCETO: a. Piridostigmina. b. Memantina. c. Rivastigmina. d. Donepezila. e. Galantamina. O tratamento da doença de Alzheimer requer uma abordagem multidisciplinar com maior ênfase nos sintomas comportamentais e psicológicos. A: INCORRETA. Piridostigmina é um inibidor de colinesterase indicado em casos de miastenia gravis. B: INCORRETA. Memantina é um antagonista do receptor NMDA usado em casos de demência de Alzheimer moderada a grave. C: INCORRETA. Rivastigmina é um inibidor de colinesterase usado na doença de Alzheimer. D: INCORRETA. Donepezila é um inibidor de colinesterase usado na doença de Alzheimer. . Galantamina é um inibidor de colinesterase usado na doença de Alzheimer. 5-Paciente, sexo masculino, 80 anos, é trazido pela filha para ambulatório de geriatria. O paciente não referia qualquer queixa, falava que morava sozinho desde o falecimento da esposa (há 2 anos) e que vivia bem a sua rotina em casa. Segundo suas informações, tomava as medicações por conta própria e fazia sua própria comida. A filha complementou as informações dizendo que a energia de sua casa foi cortada duas vezes nos últimos 6 meses por falta de pagamento, além de ter observado que as cartelas de medicamentos para hipertensão arterial estavam cheias (em uso de enalapril e anlodipina), inferindo o não uso das medicações. Ao exame físico, foi observado níveis tensionais mais elevados (PA: 160x100mmHg), sem outros dados que chamavam a atenção. Nos testes cognitivos e funcionais observaram-se os seguintes dados: -- MEEM (MINI EXAME DO ESTADO MENTAL): 25/30; -- FLUÊNCIA VERBAL; 12 PALAVRAS; -- TESTE DO DESENHO DO RELÓGIO: 14/15; -- ESCALA DE ATIVIDADE BÁSICAS DE VIDA DIÁRIA DE KATZ: 4/6; -- GDS (ESCALA DE DEPRESSÃO GERIÁTRICA): 1/15; Em relação ao principal diagnóstico sindrômico do paciente e ao tratamento farmacológico, é CORRETO afirmar que: a. Em relação ao principal diagnóstico sindrômico do paciente, a prescrição de um antagonista do receptor deNMDA (N-Metil-D-Aspartato), seria a melhor opção como tratamento inicial. b. Em relação ao diagnóstico depressivo reacional do paciente, a prescrição dos inibidores de serotonina e noradrenalina seria a melhor opção como tratamento inicial. c. Em relação ao principal diagnóstico sindrômico do paciente, a prescrição de um antagonista dos inibidores de acetilcolinesterase seria a melhor opção do tratamento inicial. d. Em relação ao tratamento sindrômico do paciente, a prescrição de selegilina seria uma das opções de tratamento, conforme as evidências científicas atuais. Inicialmente, a principal característica da doença de Alzheimer é o comprometimento de memória episódica, como, por exemplo, dificuldade de lembra-se de fatos recentes, repetição de perguntas e perda de objetos pessoais. A: INCORRETA. Antagonista do receptor NMDA, como memantina, é usado em casos de demência de Alzheimer moderada a grave. B: INCORRETA. Valores acima de 5 na escala de depressão geriátrica sugerem depressão. C: CORRETA. Paciente apresenta prejuízo cognitivo com perda de funcionalidade, caracterizando um quadro de síndrome demencial. Pelas características clínicas e epidemiológicas, doença de Alzheimer seria a principal suspeita diagnóstica. O tratamento de escolha é feito com inibidores de acetilcolinesterase. D: INCORRETA. Selegilina é usada tipicamente na doença de Parkinson. 6-Sobre o tratamento da doença de ALZHEIMER, analise as afirmações a seguir. I. Nos estágios iniciais recursos de auxílio à memória, como cadernos de notas, lembretes diários e fazer atividade física podem ser úteis. II. Donepezila, rivastigmina, galantamina e memantina são fármacos aprovados para o tratamento da doença de ALZHEIMER. III. Depressão leve a moderada é comum nos estágios iniciais da doença e responde aos antidepressivos ou inibidores de colinesterase. IV. Estimular o convívio social e recreação é importante para estes pacientes. Estão CORRETAS as afirmações: I, II e III Quando as queixas de memória são muito bem pontuadas e isso parece trazer bastante medo em relação a certo diagnóstico, um quadro comportamental como ansiedade ou depressão subjacente é sugerido. I: CORRETA. Recursos de auxílio à memória são úteis nos estágios iniciais de DA. II: CORRETA. Descreve corretamente os fármacos utilizados no tratamento da DA. III: CORRETA. Na DA, além das dificuldades para realizar atividades funcionais da vida diária, os sintomas comportamentais são bastante prevalentes, sobretudo apatia, depressão e agitação psicomotora. IV: INCORRETA. Não há evidência científica de que centros de permanência diurna sejam benéficos para pacientes com DA. 20 Letícia M. Dutra - 7ª Etapa - Distúrbios sensoriais, motores e da consciência 7-Mulher, 86 anos, há 6 meses perdeu-se no trajeto da igreja para a sua casa e vem apresentando esquecimento de evolução insidiosa. Não está reconhecendo os sobrinhos e não se lembra do nome das amigas com quem fazia aulas de pintura e por isso tem deixado de frequentá-las. Não apresenta alteração do ciclo sono-vigília, do humor e do apetite. Qual é a substância envolvida na fisiopatologia do diagnóstico mais provável? a. Acetilcolina b. Noradrenalina c. Serotonina d. Dopamina Paciente apresenta um quadro demencial, das síndromes demenciais, a mais importante é a doença de Alzheimer onde a fisiopatologia está associada a uma diminuição da acetilcolina. 8-Mulher, 82 anos, professora aposentada, viúva, 4 filhos. Comparece à consulta trazida pela filha com a qual mora há cerca de 3 anos, desde o falecimento do marido com quem morava. Filha informa que desde a morte de seu pai observou que a mãe iniciou quadro de esquecimentos frequentes e que estes estavam se agravando progressivamente. Inicialmente observou que os alimentos estavam estragando na geladeira e em algumas situações a mãe alimentava-se de comida estragada guardada na geladeira e não percebia. Observou também que a mãe se encontrava menos cuidadosa com os afazeres da casa e até mesmo de sua higiene, o que a deixava preocupada uma vez que a mãe sempre fora uma pessoa muito vaidosa. Decidiu leva-la para morar com ela já que não tinha condições de supervisioná-la. Aos poucos, a paciente evoluiu com dificuldade de sair de casa sozinha. Ia ao supermercado e não se lembrava o que havia ido comprar, até que em um dos episódios perdeu-se no caminho perto de sua casa. Filha observou também que aos poucos a paciente foi perdendo interesse em fazer atividades que antes lhe dava prazer, tais como ler jornais, assistir noticiário e conversar com vizinhas. Procurou atendimento médico no início do quadro, tendo sido realizado diagnóstico de depressão e iniciado tratamento, porém filha não observava melhora importante e decidiu levá-la novamente em um geriatra. História pregressa de DM e HAS, osteoartrose de joelhos e uso crônico de benzodiazepínicos para dormir (iniciado após falecimento do marido). Durante avaliação geriátrica observou-se: PA: 130x80 mmHg FC: 84 bpm Peso: 68 Kg Altura: 1,56 cm. Demais aparelhos sem alterações. MEEM: 16/30 Fluência verbal: 10 animais em 1 minuto TDR: 5; GDS: 2/15 Em relação ao caso acima descrito, podemos afirmar: a. Trata-se de um caso de depressão não tratada adequadamente relacionada à perda do marido. b. Trata-se de provável Doença de Alzheimer, uma vez que paciente apresenta prejuízo de memória e também de outras funções cognitivas associado a prejuízo em suas atividades de vida diária, c. Para diagnóstico de síndrome demencial seria indispensável Ressonância Magnética de crânio e exame de líquor, além de exames laboratoriais. d. O tratamento consiste apenas em controle de comportamento com antipsicóticos, uma vez que se trata de provavelmente de Demência frontotemporal. A paciente em questão apresenta quadro de declínio cognitivo, e é importante, inicialmente, pontuar a diferença entre comprometimento cognitivo leve (CCL) e Demência. Nesta última, além do declínio cognitivo, deve haver prejuízo funcional, que se manifesta na paciente em questão pelas situações acerca das mudanças nos hábitos de vida (autocuidado), dificuldade para realizar as tarefas comuns (ir ao supermercado) e a apatia (que a fez perder o interesse por jornais e revistas). O CCL inclui pacientes que possuem déficit cognitivo apenas, sem impacto funcional. Na investigação de um quadro de declínio cognitivo, deve ser solicitado avaliação complementar que inclui exames laboratoriais e de neuroimagem. Os exames laboratoriais objetivam afastar causas infecciosas e tóxico-metabólicas, que podem causar distúrbios cognitivos agudos ou subagudos. A ressonância magnética é o exame de imagem com maior acurácia neste contexto de investigação. Considerando a faixa etária e a sintomatologia, um diagnóstico muito provável é o de Alzheimer, que é muito mais prevalente em mulheres. A: INCORRETA. Por mais que seja uma patologia cada vez mais comum em idosos, o declínio cognitivo com prejuízo funcional somado à refratariedade ao tratamento já proposto não corroboram. C: INCORRETA. O diagnóstico de síndrome demencial é clínico. Os exames complementares visam excluir causas agudas e subagudas e auxiliam a definir (mais facilmente) a etiologia. D: INCORRETA. A demência frontotemporal apresenta achados de desinibição, hiperoralidade e compulsividade, não presentes nessa história clínica. 9-Sobre a Doença de Alzheimer (DA), assinale a alternativa INCORRETA. a. A Síndrome de Down é um fator de risco para seu desenvolvimento. b. Os principais achados neuropatológicos são as placas senis e os emaranhados neurofibrilares. c. Memantina é o tratamento de escolha para a DA em fase inicial. d. Os inibidores da colinesterase são fármacos usados no tratamento da DA, sendo seus principais representantes a donepezila, a rivastigmina e a galantamina. Até o momento, não existe
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