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1 A atividade elétrica cerebral – Clínica médica (neurologia) Epilepsia A ATIVIDADE ELÉTRICA CEREBRAL • Tudo, desde de o nosso pensamento, até as memórias, raciocínio, interação com o meio, ações, gestão do corpo (imunidade, temperatura, pressão) passa por uma gestão do cérebro, mais especificamente por redes neurais. Nós temos bilhões de neurônios gerando trilhões de redes neurais e impulsos elétricos. • Rede neural: É composta por um conjunto de neurônios que por impulsos elétrico (que surge no corpo do neurônio e caminham pelo axônio, chegando na fenda sináptica com liberação de neurotransmissores) geram uma ação no neurônio pós sináptico causando uma perpetuação, ampliação ou inibição do impulso elétrico o Essa modulação e ajuste coordena a atividade elétrica para que no final haja uma informação elétrica que libera neurotransmissores que gera uma determina função • 7 neurotransmissores são responsáveis por todo esse maquinário o Acelerador: Glutamato o Freio: GABA (ácido gabaaminobutínico) • Existe um processo endógeno que regula essa atividade elétrica para que não haja descontrole. • Descontrole: Em uma rede com trilhões de impulso é natural que curtos circuitos aconteçam, cargas elétricas anormais querem tomar conta dessa rede, levando a um caos elétrico. • O caos elétrico leva a uma disfunção da rede. Como normalmente o que ocorre é uma exacerbação da atividade elétrica vamos ter uma exacerbação da função da rede. Se isso ocorre na rede motora eu vou ter movimentos involuntários • O caos elétrico está passível de ocorrer o tempo inteiro, porém os mecanismos endógenos de regulação levam a um controle desses impulsos elétricos CRISE EPILÉTICA Dois contextos que podem surgir: • Lesão do córtex do cérebro – cicatriz de AVC, TCE, tumor cerebral, processo inflamatório qualquer, algum dano ou alteração estrutural de uma região pode levar a emissão de atividade elétrica tão intensa e anormal que os mecanismos endógenos de controle não conseguem estabalizar levando a uma atividade elétrica anormal o Nnesses casos temos um foco ou região localizada, levando a uma atividade elétrica exagerada. Os mecanismos endógenos por sua vez, podem ser capazes de frear a propagação desse estímulo elétrico, fazendo com que ele fique localizado ou podem não ser suficientes levando a uma crise generalizada • Barreira protetora é indevidamente mais baixa do que devia (os sistemas de modulação e regulagem são menos potentes que os necessários – Isso ocorre em cados de predisposições (HF ou síndromes epiléticas, nas quais o paciente tem a tendência e o risco de desenvolver alteração focal (caso uma área tenha uma tendência maior) ou epilepsias generalizadas (redes gerais mais abrangentes já geram um curto-circuito bilateral) o Essa barreira pode ser reduzi em inúmeras situações, dessa forma podemos ter crises epilépticas, mesmo o paciente não tendo epilepsia o Existem algumas situações que levam a redução do limiar epilético, como o consumo exagerado de bebida alcóolica, de outras substâncias, privação do sono e febre muito alta o Ter 1 crise epilética não faz uma pessoa necessariamente ser epiléptica 2 Crise epilética – Clínica médica (neurologia) CRISE FOCAL 3 características semiológicas a serem observadas • Estado de consciência - qualidade da consciência – se está lucida e orientada ou se está confusa • Nível de consciência – estado de alerta do paciente (vígil, sonolento, letárgico, torporoso ou comatoso) • Memória – capacidade de registrar e resgatar informações. TIPOS: Crise focal perceptiva (crise parcial simples): As três características (nível e estado de consciência e memória) se encontram preservadas Crise disperceptiva (crise parcial complexa) : Perda de qualquer uma das três características É muito frequente pegar pacientes idosos com perda de nível de consciência (o que não significa crise generalizada) – a maioria dos adultos não tem crise generalizada e sim crises despercipitvas – cuidado!!! (temos diferentes tratamentos para generalizada e focal) Existe uma gravidade e urgência de controlar o paciente epilético, uma vez que uma crise pode levar o paciente a situações de grande risco CLASSIFICAÇÃO DA CRISE EPILÉPTICA Início motor - movimento estereotipado Crise generalizada – quando eu tenho alteração elétrica que pegue rede neural acometendo os dois hemisférios, (não necessariamente é tônico-clônico) CRISE FOCAL DISPERCEPTIVA Exemplos: Crise jacksoniana – crise parcial complexa com desvio do olhar conjugado e da cabeça para o lado do movimento motor. Tem esse nome porque ela é topografada na região frontal contralateral, especificamente na região do controle do olhar conjugado. CRISE FOCAL PERCEPTIVA Paciente conscientemente tem a crise, por exemplo o paciente tem movimentos involuntários estando consciente. Qualquer sintoma que seja involuntário, intermitente temos que pensar em um fenômeno elétrico cerebral Crise focal Crise generalizada 3 Crise generalizada – Clínica médica (neurologia) CRISE GENERALIZADA CRISE TÔNICO-CLÔNICO GENERALIZADA Maior preocupação em termo de intervenção de urgência • Paciente tem perda da consciência • Fase tônica com enrijecimento de todo os músculos • Fase clônica com movimentos repetitivos • Salivação excessiva • Mordedura de língua e bochecha • Possibilidade de liberação de esfíncter (urina e fezes) • Estados pós-comicial – é como se fosse um reset do cérebro – ele gradualmente recupera o nível de consciência o Até 30 minutos é aceitável o Paciente tem estado de profundo sono, porém gradualmente ele vai reagindo e em torno de 30 minutos ele tem uma recuperação importante Enquanto fenômeno ela não leva a lesão estrutural do cérebro, a não ser que entre em estado de mal epiléptico CRISE DE AUSÊNCIA • Duração de 10-30 segundos • Paciente apresenta uma súbita alteração de consciência • “Fora do ar” • Olhar vago • Recobra a consciência sem perceber o que ocorrer • Pode ocorrer dezenas de vezes ao dia • Mais comum em crianças Paciente não perde tônus e nem perda de movimentos motores – tem controle total da postura É importante sempre ter um raciocínio sindrômico e não de causa, já que pacientes com pequenas crises ao longo do dia podem ser confundidos com TDAH. CRISE MIOCLÔNICA • Contrações musculares bruscas de 1 a 2 segundos • Podem ser únicas ou repetitivas Pode haver perda de consciência durante a crise, mas normalmente não é percebida devido a rapidez de sua duração Mioclonia não é sinônimo de crise epiléptica mioclônica, uma pessoa pode ter um fenômeno mioclônico sem ter origem cortical. Nós temos mioclonia corticais (crise epiléptica), subcortical (mioclonia do sono) e espinhal. As vezes o paciente pode ter uma neuropatia que gera movimentos mioclônicos É principal síndrome epiléptica do adulto jovem – epilepsia mioclônica juvenil (síndrome em indivíduo completamente normal, surgindo na segunda década de vida e a característica é ter gatilhos, muitas vezes luminosos) Muitas das vezes essas pessoas fazem um fenótipo de crise tônico-clônica generalizada, porém são de origem mioclônica → se o médico não tem clareza disso pode prescrever medicação para crise tônico clônica generalizada, como a carbamazepina o que pode levar a uma piora do quadro, gerando até mesmo um estado de mal epiléptico Esse tipo de crise é uma das quais temos a recomendação de tratamento contínuo CRISE ATÔNICA • Perda súbita do tônus muscular • Assemelha-se a um desmaio A documentação da crise no eletroencefalograma ocorre somente durante a crise, dessa forma esses pacientes podem ter indicação da realizaçãodo vídeo EEG para a documentação e diagnóstico de certeza de crise atônica Pode ser necessário prova terapêutica – inicia o uso do antiepiléptico é vê se o paciente melhora. AVALIAÇÃO DA CRISE EPILÉPTICA Uma crise epilética isolada deve sempre ser vista como sintoma/sinal – preciso buscar causa secundária – porque ele teve essa crise? Teve intoxicação, distúrbio metabólico, contexto infeccioso, lesão cerebral aguda? 4 Epilepsia – Clínica médica (neurologia) Para tanto é necessário fazer um rastreio das seguintes condições: Intoxicação; distúrbio metabólico; infeccioso, lesão cerebral; vascular; trauma; tumor; inflamatório Quais exames eu tenho que pedir? Um exame de imagem (TC de crânio), colher revisão laboratorial (PCR (infecção), íons (hiponatremia é causa comum), função renal (uremia), função hepática (hepatite), função tireoidiana, glicemia, exame de urina (infecção urinária pode ser assintomática e é causa frequente de crise epilética no idoso), não preciso fazer liquor desde de que o paciente não tenha rigidez de nuca e tenha recuperação completa de nível e estado de consciência. Paciente deixado em observação neurológica por pelo menos 6 horas – se o paciente tem uma crise epilética e não tiver nova crise nas próximas 6h a probabilidade de a crise subsequente ser nos próximos dias é pequena, sendo que daria tempo de continuar investigação sem internação Verificar motivo da crise: • Falha na tomada da medicação? • Intercorrências clínicas? o Lembrar da carbamazepina ou oxcarbazepina causa muito hiponatremia • Posologia inadequada? o Lembrar que criança cresce • Interação medicamentosa? Verificar outros fatores predisponentes Condutas de prevenção até a avaliação especializada EPILEPSIA A crise epilética não necessariamente está inserida em um quadro de predisposição a novos episódios, porém quando esse quadro existe a pessoa pode ter uma crise em contexto normal da vida (não relacionado com gatilhos). Essas pessoas são aquelas que tem o diagnóstico de epilepsia, logo a epilepsia é definida como uma condição de predisposição a ter novas crises epilépticas. Uma vez isso definido nós temos a necessidade de realizar um tratamento preventivo para evitar a crise. A epilepsia pode ter origem de em um contexto genético ou adquirido (como idade, intercorrências, como cisticercose, contusões cerebrais devido a TCE, AVC, ou outras intercorrências clínicas que levam a cicatriz ou dano cerebral). Na maior parte das vezes a gente não identifica o dano. A epilepsia não é uma doença em si, porém um contexto clínico que pode ser puro (maioria das vezes) ou estar inserido em um contexto maior como o de paralisia cerebral (Por isso, muitas vezes temos o estereótipo de que o paciente epiléptico é uma pessoa muito doente (aumenta o peso do estigma e isso associação a desinformação aumenta mais o preconceito, mesmo no mundo de hoje há pessoas que acreditam que as crises são possessões demoníacas) A presença do estigma é uma causa de baixa adesão ao tratamento, por isso o papel do médico não pode ser restrito ao prontuário, é necessário que ele contribua para que o paciente tenha uma relação positiva e segura com o medicamento e entenda o porquê e a importância desse medicamento. Precisamos entender o contexto e o estigma para desmistificar as dúvidas e promover adesão ao tratamento EPIDEMIOLOGIA Só no adulto (que tem um padrão mais puro de epilepsia), estamos falando de 1,8% da população – só no brasil temos 4 milhões de adultos no brasil Risco de ocorrência de 3% ao longo da vida Apresenta consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais e prejudica diretamente a qualidade de vida do indivíduo afetado. Sem controle, aumenta em 3 vezes o risco de morte nessa população Incidência por idade: 5 Estado de mal epilético – Clínica médica (neurologia) • As complicações neonatais e infecções neonatais vão gerar substrato para uma incidência maior nos menores de 1 ano • Temos um aumento importante na terceira idade – relacionado a processo degenerativos do cérebro que levam a aumento do risco do “curto circuito” OBJETIVO DO TRATAMENTO Não é só controlar a crise A taxa de adesão média é muito baixa – entender isso como problema é importante – eu não posso só evitar a crise, eu preciso que o paciente tenha uma vida sem restrições RESGATAR A SENSAÇÃO DE SEGURANÇA E LIBERADE Na maioria das vezes nós tratamos os pacientes. Antigamente tinha-se uma ideia de que os pacientes que em 2 anos não tivessem crise não precisavam mais usar, depois isso foi para 5 anos e hoje em dia pacientes que tiveram crises na fase adulta, sem causa visualizável, o tratamento é por tempo indeterminado, independente do tempo sem crise. ESTADO DE MAL EPILÉTICO Definição: Crise epilética com duração de mais de 5-10 minutos ou crises convulsivas (crise motora) reentrantes sem recuperação da consciência entre elas (conceito clínico prático – ele existe para evitar a morte neuronal) Quando o paciente fica em crise por mais de 30 minutos existe uma chance de morte neuronal por excitação excessiva – o prognóstico é péssimo Se o paciente não cessa a crise em mais de 10 minutos provavelmente ele não irá sair dessa crise, alcançando os 30 minutos que levam a morte neuronal TIPOS 1. Tônico-clônico generalizado 2. Mioclônico 3. Parcial complexo – Diagnóstico diferencial (DD) para coma persistente em terapia intensiva (prevalência significativa em pacientes no CTI que não acordam quando retirada a sedação – paciente não tem manifestação motora, porém o cérebro está em atividade elétrica anormal o que causa o coma) 4. Parcial simples – muito frequente em lesões ativas corticais, como tumor ou abcesso 5. “Psicogênico” – esse tipo de status não está descrito na literatura, porém está aqui para lembrar que quadros conversivos ou histeroconversivos, relacionados a crises de ansiedade, transtorno de personalidade, outros contextos psiquiátricos, podem mimetizar plenamente um status epilético Nós não temos clareza de quanto dano cerebral esses status podem provocar. EPIDEMIOLOGIA • 100.000-200.00 casos por ano • Mortalidade geral de 20% (podendo chegar a 69-85% nos casos de pós anoxia) • Fatores prognósticos dependem da , do status e duração do quadro COMPLICADORES DIRETAMENTE RELACIO- NADOS AO TEMPO DE CRISE 1. Rabdomiólise 2. Acidose lática 3. Pneumonite aspirativa 4. Edema pulmonar neurogênico 5. Insuficiência respiratória 6. Morte neuronal IMPORTANTE EMERGÊNCIA MÉDICA Importância de protocolo e sincronia de toda equipe do pronto atendimento As condutas inicias influenciam diretamente o prognóstico final 6 Estado de mal epilético – Clínica médica (neurologia) PROTOCOLO DE ATENDIMENTO NÍVEIS DE EVIDÊNCIA Suporte clínico – dar fenitoína (anticonvulsivante de meia vida longa), evitar que o paciente entre em estado de mal epiléptico A dose de fenobarbital de 5-20min pode levar a depressão respiratória, podendo haver necessidade de intubação, nas outras opções isso não é tão comum Nível U – significa que é uma evidência que vem da prática clínica, não existem estudos bem delimitados para isso PROTOCOLO DE ATENDIMENTO (BRASIL) Hidantal = fenitoína
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