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GESTÃO DE CONFLITOS Autor XXXXXXXXXXXXXXXX Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitora do EAD Prof.ª Francieli Stano Torres Edição Gráfica e Revisão UNIASSELVI GESTÃO DE CONFLITOS 1 INTRODUÇÃO Na história humana, sempre tivemos que lidar com os conflitos – e as ocorrências das guerras são uma prova contundente disso. Eles podem ocorrer em distintos níveis como, por exemplo, pessoal, empresarial, competitivo etc. Nesse sentido, podemos nos questionar: o que é um conflito? Quais são as suas causas? Como é a sua dinâmica? Como ele se desenvolve? Ele é sempre é destrutivo? Há possibilidades de solução? Entre outras questões. Nesta nossa reflexão, buscaremos tratar os conflitos tendo como norte o contexto organizacional. Desse modo, os cursistas poderão ter um apanhado de conhecimentos que lhes municiar na direção de constituir conhecimentos básicos acerca das técnicas de gestão de confl itos que envolvem as organizações, considerando as distintas visões e concepções acerca dessa temática, logo, potencializando a qualidade dos relacionamentos. A rigor, conflito implica a ideia de choque, enfrentamento e embate. Na nossa convivência em distintos ambientes, somos expostos a realidades em que a discussão se faz presente. Em outras situações, nos vemos imersos em cenários de antagonismo ou de oposição. O fato de isso acontecer não significa que temos que evitar fortemente esses momentos. Se olharmos de modo holístico para tais momentos críticos, podemos perceber neles importantes oportunidades para repensarmos os nossos interesses e calcularmos os interesses e disposições dos que se relacionam conosco. Os conflitos, em essência, são oportunidades para manifestação de ideias em um campo que demarca nossas lutas e nossos desentendimentos com o outro. Saber lidar de modo saudável com essas situações é um passo relevante para a construção de caminhos que nos distanciam da guerra, do uso das armas e da nossa destruição. A discussão deve ser um elemento importante para a nossa consolidação como seres humanos maduros e equilibrados que defendem seus posicionamentos com maturidade, segurança e sabedoria, aprendendo com os pensamentos opostos. O interessante é desconstruir a visão negativa que é imputada para a noção de conflito, vista como oposta ou antônima de paz, harmonia ou cooperação. É um fenômeno social que se apresenta como multidimensional, um componente essencial da existência humana e que deve ser percebido em uma perspectiva construtiva capaz de colaborar para a edificação de bases transformadoras da sociedade, bem como sedimentar movimentos interessantes para a evolução social da humanidade. É bom esclarecer que conflito não é o mesmo que violência, haja vista que violência tem como marca a imposição de um sobre o outro e o conflito implica pensar no equilíbrio de poderes. 2 GESTÃO DE CONFLITOS: VISÕES E CRISES É salutar apresentarmos o entendimento de que “os conflitos existem desde o surgimento do homem e, ainda, é um fato que ocorre com muita frequência em nosso cotidiano e, muitas vezes, não são abordados de forma profissional” (FERNANDES NETO, 2005, p. 1). Dito isso, ressaltamos que os motivos basilares que dão origem aos conflitos envolvem diversos aspectos e que “[...] para podermos superar os obstáculos profissionais, faz-se necessário o emprego de alguns procedimentos que visem a facilitar a administração de tais conflitos” (FERNANDES NETO, 2005, p. 1). Pondera-se, com base em Chiavenato (2010), que os conflitos em certa medida precisam ser administrados para que não resultem em um caminho oposto à cooperação e à colaboração. FIGURA 1 – O CONFLITO É INERENTE À NATUREZA HUMANA FONTE: <https://bit.ly/3irO4pW>. Acesso em: 22 set. 2021. Considerando essas âncoras reflexivas presentes no parágrafo anterior, podemos citar os aspectos seguintes como relevantes no tocante as suas relações com a ocorrência de conflitos: a disputa de interesses e recursos como terras, petróleo, direitos, fronteiras, benefícios, verbas, negócios, dentre outros. Também podemos elencar questões envolvendo governos e no campo da política, a título desse ângulo podemos citar a busca pela autonomia, pela independência e pela separação política, a legitimação política, o comando de uma empresa, dentre outros. É bom sinalizar que: Desde que o ser humano surgiu, constata-se a ocorrência de uma série de conflitos em sua vida, seja em termos pessoais, seja em termos profissionais. Conforme o homem desenvolveu-se cultural e tecnologicamente, os conflitos foram mudando não só quanto à intensidade, magnitude, como também quanto ao número de envolvidos. Importante ressaltar que não se deve desconsiderar, ainda, a época e o local que ocorrem, fatores que os influenciam, e muito (FERNANDES NETO, 2005, p. 2). Além desses esclarecimentos e posicionamentos relevantes para o de- bate relacionado aos conflitos, apontamos que eles podem envolver planos religiosos ou ideológicos, como a disputa pelo liberalismo, comunismo, au- toritarismo, capitalismo, cristianismo, islamismo, dentre outros. Sendo assim, estamos conscientes que “para que um indivíduo possa superar conflitos, faz-se necessário saber lidar com eles, o que implica saber gerenciá-los” (FERNANDES NETO, 2005, p. 2). FIGURA 2 – AS DIFERENTES ESCALAS E INTERPRETAÇÕES SOBRE OS CONFLITOS FONTE: <https://www.otempo.com.br/image/contentid/policy:1.2281109:1578221453/duke. PNG?f=3x2&w=620&$p$f$w=292e17b>. Acesso em: 20 ago. 2021. Ademais, em face dos desafios que passam pelo gerenciamento dos conflitos, é pertinente ressaltar que, no limite, envolvem a identidade e podem ser explicitados pelo enfrentamento de grupos organizacionais, diferenças étnicas, disputas de classes sociais e de grupos representantes de manifestações culturais distintas etc. Contudo, muitas pessoas não sabem como administrá-los, independente das variáveis que o envolvam. Para conseguir gerir uma situação conflituosa, é preciso um certo feeling (tato, sensibilidade), embora, em alguns momentos, não será, por si só, suficiente para alcançar uma solução eficiente e eficaz, que atenda a todas as partes envolvidas (FERNANDES NETO, 2005, p. 2). Feitas essas considerações, é interessante pontuar que os conflitos podem ser vistos em distintas perspectivas. E o quadro a seguir busca explicitar esses ângulos que precisam ser de interesse daqueles que pretendem compreender os conflitos e intervir com procedimentos técnicos que contribuam para a gestão dos conflitos de modo a viabilizar o diálogo e proporcionar condições a contento para as partes envolvidas, considerando as peculiaridades dos casos em apreciação. QUADRO 1 – EFEITOS POSITIVOS E NEGATIVOS DOS CONFLITOS FONTE: <https://www.redalyc.org/jatsRepo/2734/273447625010/273447625010_gt2.png>. Acesso em: 6 jul. 2021. Ao analisarmos os conflitos com o objetivo de aprofundar o nosso entendimento acerca desse fenômeno podemos perceber que se não houver uma boa gestão dos conflitos podem ser uma fonte de estresse, insatisfação, perda de energia, inibição de comunicações saudáveis, ampliação da desconfiança e da falta de interesse, degradação das relações, perda de sentido da atividade em desenvolvimento e resistência ao novo. Essa realidade é patente em função do fato de que: Ao gestor de Recursos Humanos, Gestor de Talentos ou outro nome que for designado por uma empresa para o profissional que trabalha com as pessoas, cabe aptidão (disposição inata ou, ainda, capacidade ou habilidade resultante de conhecimentos adquiridos) para gerenciar conflitos, entre outras tarefas que terá de desempenhar no seu dia a dia. É importante ressaltar que, atualmente, tal aptidão é exigida para qualquer profissional, pois muitas empresas já extinguiram a área de Recursos Humanos ou a transformaram numa área com abordagem estratégica, o que acarreta aos responsáveis pelas diversas áreas da empresa saberem gerenciar os conflitos que ocorrementre o seu pessoal. Vale lembrar, também, que o setor de atuação, o tamanho da organização, tipo de gestão, objetivos organizacionais, missão, valores, estrutura organizacional, estratégias implementadas, entre outros fatores, podem influenciar um conflito (FERNANDES NETO, 2005, p. 3). Em sentido oposto, é possível por meio de uma gestão qualificada dos conflitos conduzir para efeitos positivos como o favorecimento para a inovação resultante do acesso ao pensamento do outro e com a soma constituir descobertas relevantes e alcançar soluções para dilemas até então não superados. Haja vista que medidas práticas quando bem conduzidas podem repercutir em melhores resultados e conquistas de superação de desentendimentos no grupo que, no geral, envolvem disputas por dinheiro e poder comprometendo as relações entre os envolvidos. FIGURA 3 – SOLUÇÃO DE CONFLITOS FONTE: <https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Imagens%20SebraeNA/xpe2.png.pagespeed. ic.WVRWKsWEOD.webp>. Acesso em: 20 ago. 2021. Mesmo com a observação de que “a interação e interdependência que caracterizam os grupos organizacionais geram tendências para a ação e constituem uma fonte potencial de conflito” (DIMAS; LOURENÇO; MIGUÉZ, 2007, p. 184), evidenciamos também que podem ser efeitos, em um tom positivo, a promoção de melhores desempenhos individuais e do grupo à medida que se percebem em um jogo interessante, no qual envolve alcançar metas e se chegar em novos patamares. E, assim, atribuir sentido e dinâmica ao processo de trabalho. Acreditamos que o entendimento dos conflitos e a compreensão do porquê eles ocorrem subsidiam na construção de melhor resultados para a empresa ou organização. Além disso, apontamos a noção de que problemas que são comuns a distintos grupos podem ser enfrentados, impulsionando maneiras distintas de ver tais problemas, assim como exponenciar novas articulações e esclarecimentos de visões de mundo relativas aos desafios enfrentados. Dalla Lana et al. (2016) elucidam que: A ausência de conflitos, até pouco tempo, era vista como garantia de bom ambiente, de boas relações e, no caso das organizações, era sinal de competência, pois grande parte dos gestores percebia o conflito como algo negativo, resultado de uma ação ou mau comportamento de algumas pessoas. Associavam a agressividade ao confronto físico e verbal e também aos sentimentos ruins, considerados prejudiciais ao bom relacionamento entre as pessoas e ao bom funcionamento das organizações. No entanto, com a chegada da sociedade contemporânea, o conflito passou a ser entendido de outras formas, bem como a solução do mesmo passou a ter outras abordagens (DALLA LANA et al., 2016, p. 507). Os conflitos são naturais em espaços que envolvem relações de pessoas que convivem e trabalham em grupo. Na visão tradicional, o conflito era visto como algo que deveria ser eliminado ou evitado a todo custo porque era entendido como uma violência, irracional e destrutivo. Já na visão das relações humanas, o conflito se apresenta como algo natural que deve ser compreendido como uma ocorrência que deve ser aceita. Por sua vez, a visão interacionista, a mais moderna, vê o conflito como algo que faz com que as pessoas tenham um comportamento mais produtivo e, portanto, deve ser encorajado por ser necessário para um melhor desempenho. Nesse ponto, recorremos a constatação de Dimas, Lourenço e Miguez (2007, p. 184): “a perspectiva dominante na literatura da especialidade sublinha as vantagens da existência de um determinado nível de conflito nos grupos de trabalho, desde que centrado em questões relativas ao desenvolvimento das tarefas”. FIGURA 4 – OS CONFLITOS PODEM SER BENÉFICOS FONTE: <https://blog.ambra.education/wp-content/uploads/2018/03/182680-saiba-mais-sobre-curso-de- mediacao-de-conflitos-696x464.jpg>. Acesso em: 20 ago. 2021. Nessa perspectiva, os conflitos são funcionais porque geram maiores resultados, uma vez que faz com que se gere maiores entregas. No entanto, o nível de conflito não pode ser exagerado porque faz com que as pessoas gastem muita energia com discussões infundadas que não agregam para a organização. Assim, os conflitos não devem ser evitados de qualquer forma pois são fontes importantes para o estímulo e construção de novas visões e perspectivas para as atividades em desenvolvimento. 3 A GESTÃO EM EQUILÍBRIO E A PERCEPÇÃO DO PROBLEMA É importante registrar que para a real ização de uma gestão em equilíbrio é salutar a preocupação com a percepção dos envolvidos acerca dos problemas em apreciação. Nascimento e Sayed (2002, p. 51) nos ensina que o conflito percebido é aquele em que “os elementos envolvidos percebem, racionalmente, a existência do conflito, embora não haja ainda manifestações abertas do mesmo”. O fato é que o conflito em si é relevante para as organizações e para a dinâmica da vida pessoal dos envolvidos, haja vista que é inevitável. Por mais que se desenvolvam esforços no sentido de eliminá-lo, não poderemos contê-lo. Observam-se, hoje, inúmeros profissionais disseminando fórmulas e estratégias para trabalhar com os conflitos. No entanto, o que se faz necessário é conhecê-los, saber qual é sua amplitude e como estamos preparados para trabalhar com eles (NASCIMENTO; EL SAYED, 2002, p. 50). Tendo como referência essa reflexão, podemos compreender que é relevante considerar a percepção de um dado grupo acerca de um problema, haja vista que impacta diretamente em como ele se comporta e se empenha para encontrar uma solução e, por conseguinte, repercute no resultado ou nas possibilidades de obter maior sucesso. [...] no dia a dia vivemos o conflito de diferentes maneiras: quantas vezes as pessoas não atravessam nosso caminho, dificultando ou mesmo impedindo o atingimento de nossos objetivos? Assim, o conflito não deve ser visto apenas como impulsionador de agressões, disputas ou ataques físicos, mas como um processo que começa na nossa percepção e termina com a adoção de uma ação adequada e positiva (NASCIMENTO; EL SAYED, 2002, p. 48). QUADRO 2 – A PERCEPÇÃO SOBRE AS DISPUTAS FONTE: <https://minio.scielo.br/documentstore/1809-4465/ TytpKNQ94yYRNYmhqBXTwxP/7bb1eaf2aeb5cd052dd6a2c50b3b6de147ea1391.gif>. Acesso em: 20 ago. 2021. A percepção é em si uma ferramenta crucial para a gestão dos conflitos no ambiente de trabalho e se mostra como relevante também para a promoção de participações mais efetivas. Então, encontrar os pontos em comum pode ser o primeiro ou um dos principais para a condução de uma gestão de conflitos eficiente e proativa na organização. Sendo assim, apresentamos na sequência a percepção de Nascimento e El Sayed (2002) acerca das causas dos conflitos: Experiência de frustração de uma ou ambas as partes: incapacidade de atingir uma ou mais metas e/ou de realizar e satisfazer os seus desejos, por algum tipo de interferência ou limitação pessoal, técnica ou comportamental; Diferenças de personalidade: são invocadas como explicação para as desavenças tanto no ambiente familiar como no ambiente de trabalho, e reveladas no relacionamento diário através de algumas características indesejáveis na outra parte envolvida; Metas diferentes: é muito comum estabelecermos e/ou recebermos metas/ objetivos a serem atingidos e que podem ser diferentes dos de outras pessoas e de outros departamentos, o que nos leva à geração de tensões em busca de seu alcance; Diferenças em termos de informações e percepções: costumeiramente tendemos a obter informações e analisá-las à luz dos nossos conhecimentos e referenciais, sem levar em conta que isto ocorre também com o outro lado com quem temos de conversar e/ou apresentar nossas ideias, e que este outro lado pode ter uma forma diferente de ver as coisas (NASCIMENTO; EL SAYED, 2002, p. 48-49). Convergir os interesses de todos permite dar passos mais sólidos e promove uma transformação da visão dos que estão participando do projeto, pois oportuniza ter a clareza de quehá uma ação maior do que os sujeitos que estão executando a atividade no dia a dia. Ter uma causa colabora para o engajamento das pessoas e nas empresas não é diferente. 4 DIAGNÓSTICO E ESTRATÉGIAS PARA LIDAR COM OS CONFLITOS Para se consol idar uma gestão de conf l i tos apropr iada para o desenvolvimento e a qualificação das relações e das atividades desenvolvidas pelas instituições é preciso ter, no horizonte, o espírito de curiosidade e farta sensibilidade no trato com o ser humano. Essa situação é consubstanciada pelo entendimento de Nascimento e El Sayed (2002, 47), ao afirmarem que “é possível pensar inúmeras alternativas para indivíduos e grupos lidarem com os conflitos. Estes podem ser ignorados ou abafados, ou sanados e transformados num elemento auxiliar na evolução de uma sociedade ou organização”. Então, considerar a condição humana é fundamental, uma vez que dessa forma conseguirá tirar o máximo de proveito das experiências que serão vivenciadas pelo grupo. QUADRO 3 – CAUSAS DOS CONFLITOS FONTE: <https://minio.scielo.br/documentstore/1809-4465/ TytpKNQ94yYRNYmhqBXTwxP/8677de18b5b079bafff807b3087268b9cd650561.gif>. Acesso em: 20 ago. 2021. Nessa perspectiva, cabe a reflexão das pessoas acerca dos seus propósitos e do alinhamento destes com o da empresa em atuação. Ter a clareza do porquê determinada empresa existe e do que ela tem como objetivo para alcançar na sociedade colabora substancialmente para consolidar uma integração e dar valor e integralidade ao que está sendo construído. QUADRO 4 – OS CONFLITOS E AS LUTAS HUMANAS FONTE: <https://minio.scielo.br/documentstore/1809-4465/TytpKNQ94yYRNYmhqBXTwxP/ fd14b325b6b8afd66ea609023d87adbbcd575d3f.gif>. Acesso em: 20 ago. 2021. Edificar espaços para uma comunicação clara e consistente reduz os danos dos ruídos de comunicação que são comuns em grupos de trabalho. Saber o que o outro pensa ajuda a ter acesso ao seu pensamento e visão de mundo e, assim, facilita a se colocar diante das contingências e alternativas utilizadas pelo outro. FIGURA 5 – O PODER DA COMUNICAÇÃO FONTE: <https://bit.ly/3a02R6x>. Acesso em: 20 ago. 2021. “O conflito é fonte de ideias novas, podendo levar a discussões abertas sobre determinados assuntos, o que se revela positivo, pois permite a expressão e exploração de diferentes pontos de vista, interesses e valores” (NASCIMENTO; EL SAYED, 2002, p. 47). Dito isso, ressaltamos que nos diálogos primar pela racionalidade é um caminho interessante porque prepara o olhar para novos horizontes sem se focar predominantemente em quem está falando, mas concentrar no que está sendo apresentado e nas possibilidades de agregar para a visão do grupo e para o aprimoramento das ações a serem feitas com foco nos desafios enfrentados. Os preconceitos (de idade, sexo, raça etc.) costumam ser desconstruídos com maior facilidade à medida que se avança na incorporação de maior racionalidade no exercício comunicativo da empresa. Precisamos considerar que “a administração de confl itos consiste exatamente na escolha e implementação das estratégias mais adequadas para se lidar com cada tipo de situação” (NASCIMENTO; EL SAYED, 2002, p. 48). Uma empresa que não se comunica adequadamente tende a somar grandes dificuldades internas e externas e se apresenta com incapacidade para reinventar os seus arranjos, pois não consegue promover um diálogo saudável e criativo entre aqueles que mais conhecem do seu negócio: os funcionários. Ter bem definido os papéis ou responsabilidades dos integrantes da empresa ajuda na resolução de problemas que surgem e que são agravados por uma gestão ineficiente dos conflitos. E, o conceito de conflito como sendo “[...] um processo onde uma das partes envolvidas percebe que a outra parte frustrou ou irá frustrar os seus interesses” (NASCIMENTO; EL SAYED, 2002, p. 48) nos subsidia na construção de entendimento que evidencia o fato de que as atitudes como o esclarecimento dos procedimentos da empresa, assim como das estratégias de remuneração e de benefícios, são importantes para a saúde das relações nas instituições. Não é somente discutir os problemas, mas também compartilhar os caminhos de como resolvê-los. O registro ou memórias das reuniões e dos encaminhamentos assumidos pelo grupo devem ser norteadores das iniciativas e direcionamentos da empresa. Isso atribui maior segurança e tranquilidade para as relações, haja vista que todos os participantes se sentem pertencentes ao assinarem pactos que são seguidos até mesmo por aqueles que tiveram suas ideias não acatadas pela maioria. Essa realidade traz equilíbrio nas relações e melhora a percepção acerca dos conflitos. Sempre que possível a existência de um conselho para colaborar nas tomadas de decisões é significativa, até mesmo podendo contar com a participação de membros interessados no assunto e que não necessariamente trabalhem na empresa. Esse conselho pode ter reuniões periódicas e em função da dinâmica e da natureza da atividade que se realiza na empresa. Os conselhos são essenciais para a gestão de conflitos, haja vista que transmitem a noção de racionalidade e de espaço aberto para a manifestação do pensamento e que as tomadas de decisão vão seguir o que for melhor para o grupo e, assim, reduzir a personalização da organização. Nesses espaços pode-se consolidar regras no campo da ética, constituir o planejamento estratégico da instituição, discutir a razoabilidade das metas que vêm sendo definidas e repensar as futuras e se constituir como espaço legítimo para gerir os conflitos e as crises na organização. FIGURA 6 – O VALOR DA PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA FONTE: <https://pt-static.z-dn.net/files/df1/df2ff477da0fd1f6f01d4b18dbf7c65c.png>. Acesso em: 20 ago. 2021. Como alternativa para equilibrar as relações faz sentido também a inclusão de profissionais como consultores, psicólogos e especialistas no tema que não atuam na organização para contribuir na gestão de conflitos fazendo com que os participantes consigam ver os seus processos sob outros ângulos dantes não vistos. 5 GESTÃO DE CONFLITOS: AÇÃO, FEEDBACK E DIÁLOGO Os líderes possuem um papel central na gestão dos conflitos e por isso merecem atenção especial na discussão dessa temática. O fato é que os líderes devem atuar de modo equilibrando e visando criar as melhores condições para o desenvolvimento da empresa. Para tanto, cuidar do ambiente e dos estímulos que estão promovendo para os integrantes da organização é crucial. QUADRO 5 – COMPETÊNCIAS DE UM LÍDER FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/1589925/>. Acesso em: 20 ago. 2021. O l íder tem a capacidade de inf luenciar as pessoas no âmbito organizacional. Sendo assim, as atitudes e os comportamentos podem ser direcionados com base na conduta do líder, haja vista que exerce um determinado poder sobre seus subordinados na empresa. É um poder hierárquico inegável, pois é visto como o mediador ou aquele que está incumbido de resolver os problemas na instituição, logo, os conflitos. Como metodologia intel igente o l íder pode usar de seu poder manifestado na sua atuação como liderança para colaborar na obtenção dos objetivos da empresa, uma vez que é capaz de gerar efeitos em campo como comportamento, absenteísmo, rotatividade de funcionários, desempenho, satisfação e realização do trabalho. O feedback tem a função de retroalimentar alguma situação ou comportamento. É importante apresentar o feedback em momento adequado ou a tempo, pois quando ocorre fora do tempo ou atrasado não surte os efeitos esperados. A autenticidade é essencial e tem o condão de colaborar para a mudança do outro. Então, deve ser bem-intencionado e verdadeiro. A impessoalidade também faz parte da qualidade do feedback porque contribui para a reflexão e diminui a conotação de ataque a pessoa que está recebendo o feedback. Mesmo sendo impessoal, não significa que não seja personalizado. A personalização repercute em uma identificação da pessoaque recebe com o que está sendo dito. A informação direta e o estímulo de ações em conjunto permitem a construção de soluções para os problemas se apresentando como efetivos. Quanto mais particular possível o aprendizado é ampliado e o constrangimento é evitado. Assumir uma comunicação não violenta é crucial porque ela não se baseia em rótulos, e sim em fatos, que trazem, assim, mais credibilidade para a comunicação. A mudança de foco é relevante nesse tipo de direcionamento, porque retira o foco no erro e passa a conscientizar acerca dos impactos ou efeitos das ações. A comunicação clara e da maneira correta inibe enfrentamentos e permite a audição do outro, bem como lidar melhor com as emoções que estão envolvidas nas atividades em desenvolvimento. Mostrar novos caminhos e dar sugestões podem ser oportunidades de agir com empatia, gerando valor e exercendo influência em função da confiança e do relacionamento. Esse aspecto é fundamental porque a vida é feita de relacionamentos e demandam amadurecimentos e objetivos a serem alcançados no campo da vida pessoal e profissional. A comunicação envolve as ações, o feedback e as potencialidades do diálogo. Nesse sentido, na gestão de conflitos a comunicação funciona como um caminho necessário para promover ambientes qualificados e relacionamentos ricos e profundos. Os vínculos e os laços são fortalecidos por meio da comunicação que é um pressuposto da vida social. E ela acontece de múltiplas formas cabendo nos atentarmos as suas nuances, seja no plano verbal ou no não verbal. É um convite a refletir acerca da nossa postura ou como fazemos algo de modo a evitarmos dificuldades relacionadas ao como. Antes de comunicarmos qualquer coisa, precisamos testar a nossa proposta de diálogo. Dessa maneira podemos refletir sobre os impactos e os efeitos e assim tornar as nossas mensagens mais efetivas e com maior capacidade de sucesso. A rigor, a nossa comunicação envolve sequências de comportamentos que superam o que se escreve ou o que se argumenta e os bons relacionamentos exigem atentar aos relacionamentos e as nossas percepções acerca do que estamos realizando em face dos distintos comportamentos. Os padrões de comportamentos dizem respeito à forma como a pessoa se vê e se expressa. A compreensão deles permite interações que precisam ser pensadas no âmbito da gestão de conflitos. Quanto mais simétricas forem os relacionamentos melhores são os resultados obtidos porque contribuem para o crescimento e a evolução de pensamentos e concepções em função das demandas e necessidades de respostas. O profissional que participa de diferentes experiências criativas e baseadas em relacionamentos em prol de simetria e complementaridade se torna mais capaz de crescer e conseguir fazer uma gestão eficiente dos conflitos. A fluidez de relacionamentos em respeito à hierarquia e ao apreço à aprendizagem. Lembrando que o feedback deve sempre ser pontual, no entanto, precisam também ocorrer em momentos positivos, haja vista que apenas fazer feedback em momentos negativos dá a impressão de que só se reconhece valor naquilo que se perdeu. Nesse plano, dar espaço para que as pessoas falem agrega maior densidade e potencialidade para encontrar soluções para os problemas enfrentados. Assim, se traz maior assertividade para dentro do processo em direção a uma discussão qualificada que se vale de instrumentos importantes que fazem a diferença no mundo da gestão de conflitos em organizações. REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. DALLA LANA, R. et al. As organizações como fonte de conflitos de poder. Revista de Administração da Universidade Federal de Santa Maria, v. 9, n. 3, p. 506-519, 2016. Disponível em: https://bit.ly/3Fc1oZd. Acesso em: 30 ago. 2021. DIMAS, I. C. D.; LOURENÇO, P. R.; MIGUEZ, J. (Re) Pensar os conflitos intragrupais: desempenho e níveis de desenvolvimento. Psicologia, v. 21, n. 2, p. 183-206, 2007. Disponível em: https://bit.ly/3B8A6jS. Acesso em: 20 ago. 2021. FERNANDES NETO, Á. F. Gestão de conflitos. THESIS, São Paulo, ano II, v. 4, p. 1-16, 2º Semestre, 2005. Disponível em: https://bit.ly/3mpDroS. Acesso em: 11 ago. 2021. NASCIMENTO, E. M.; EL SAYED, K. M. Administração de conflitos. São Paulo: Editora Gazeta do Povo/FAE, 2002.