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WBA0215_v2.0 Deficiência visual e AEE Deficiência visual e surdocegueira: principais definições Deficiência visual: cegueira e baixa visão Bloco 1 Juliana Zantut Nutti Deficiência visual: cegueira e baixa visão A história das deficiências demonstra que pessoas com deficiência visual foram discriminadas e excluídas socialmente por muitos séculos e conquistaram as garantias legais de inclusão social e educacional da políticas públicas com esforço. Referências aos cegos foram feitas em obras de arte como A parábola dos cegos, de Pieter Bruegel, de 1568. Ainda há pessoas que conhecem pouco sobre a deficiência visual e as causas dessa condição, entre estas alguns educadores. A parábola dos cegos de Bruegel Figura 1 – A parábola dos cegos, de Pieter Brueghel (1568) Fonte: https://www.wikiart.org/pt/pieter-bruegel-o-velho/a-parabola-dos- cegos-1568. Acesso em: 3 set. 2021. Deficiência visual: baixa visão • Deficiência visual: são as condições de baixa visão e de cegueira parcial e total. • Baixa visão ou visão subnormal: são diversos comprometimentos que envolvem a percepção de luminosidade e a redução da acuidade e do campo visual e interferem na possibilidade de realização de tarefas e no desempenho geral do indivíduo com deficiência visual. • A pessoa com visão subnormal ou baixa visão possui de 30% ou menos de visão no melhor olho, após realizados procedimentos clínicos, cirúrgicos e de correção com óculos. • Indivíduos com baixa visão podem apresentar dificuldades para visualizar detalhes, como as feições das outras pessoas e os letreiros de ônibus. Em sala de aula, não conseguem enxergar a lousa e serão incapazes de identificar com precisão as letras. Deficiência visual: baixa visão • Pessoas com baixa visão tendem a apresentar nistagmo (movimento rápido e involuntário dos olhos), que leva à redução da acuidade visual e à fadiga no ato da leitura. • O nistagmo também ocorre no caso de albinismo; a falta de pigmentação congênita atinge os olhos e reduz a capacidade visual. • Pode demonstrar oscilação na condição visual, de acordo com o estado emocional, as circunstâncias e a posição espacial em que a pessoa se encontra e as condições de iluminação natural ou artificial. • A acuidade visual é definida como a distância do ponto A ao ponto B ao se desenhar uma linha reta, por meio da qual o objeto é percebido pela visão. Deficiência visual: cegueira Cegueira • Alteração parcial ou total que acomete a capacidade de perceber cores, tamanhos, distâncias, formas, posições e/ou movimentos. Cegueira parcial • Há um resíduo de visão, sendo possível enxergar e contar dedos a uma pequena distância e/ou visualizar vultos. Cegueira total (amaurose) • É a perda completa de visão, ou seja, ela é inexistente e não há nem a capacidade de percepção luminosa. Deficiência visual: cegueira e baixa visão O MEC estabelece que os alunos cegos são os que não têm visão suficiente para aprender a ler em tinta impressa e utilizam os sentidos além da visão. Os alunos cegos são os incapazes de enxergar, os que ainda têm a percepção da luminosidade e o claro, o escuro e delineamento de algumas formas. Considera-se que a percepção de luz e/ou de vultos, mesmo que mínima, é útil para a orientação espacial, a movimentação e a autonomia de crianças com deficiência visual. Alunos com baixa visão são aqueles que utilizam uma pequena capacidade visual para a exploração do entorno para conhecer o mundo e aprender a ler e a escrever. Aprendem a utilizar a visão da melhor forma possível; podem utilizar os outros sentidos simultaneamente para aprender conceitos e construir conhecimentos. Fonte: adaptada de Brasil (2007). Figura 2 – Classificação de deficiência visual do MEC Deficiência visual: cegueira e baixa visão • Há casos em que a perda da visão leva à necessidade de extirpação do globo ocular e ao uso de próteses oculares em um dos olhos ou em ambos. • A ausência da visão poderá afetar um dos olhos, no caso da visão monocular, e o olho não afetado terá que se incumbir das funções visuais, o que geralmente não causa transtornos no uso eficiente da visão (BRASIL, 2007). • A visão monocular foi considerada como deficiência visual a partir de 23 de março de 2021 pela Lei n. 14.126/2021 (BRASIL, 2021). Deficiência visual: cegueira e baixa visão Acuidade visual reduzida: causa dificuldade para visualizar de longe, sendo necessário se aproximar de pessoas e objetos com recursos óticos. Campo visual restrito: altera a orientação e o deslocamento no espaço em comparação com pessoas que enxergam bem. Visão de cores e sensibilidade aos contrastes: leva à incapacidade de distinção do verde, vermelho, azul, marrom e de cores vibrantes e com luminância (amarelo e laranja). Adaptação à iluminação: extrema sensibilidade à luz, que leva ao extremo desconforto visual, à sensação de ofuscamento, à irritabilidade e ao lacrimejamento constante dos olhos. Há crianças que, ao contrário, precisam de mais iluminação e luz dirigidas aos objetos para enxergarem melhor. Figura 3 – Outras dificuldades apresentadas por alunos com deficiência visual Fonte: elaborada pela autora. Deficiência visual e surdocegueira: principais definições Causas da deficiência visual e de desenvolvimento Bloco 2 Juliana Zantut Nutti Causas da deficiência visual Causas hereditárias da deficiência visual: descuidos dos pais e/ou dos responsáveis pela criança (falta de exame pré-natal). Falta de acompanhamento médico e de vacinação e erros genéticos. O glaucoma, a catarata e a retinopatia congênitas são causadas por infecções na gestação. Amaurose congênita de Leber. Figura 4 – Causas hereditárias Fonte: elaborada pela autora. Causas da deficiência visual Causas adquiridas são as que ocorrem após o nascimento, como: Atrofia ótica, degenerações retinianas e alterações visuais corticais. Retinopatia da prematuridade (imaturidade da retina, em decorrência de parto prematuro ou de excesso de oxigênio na incubadora). Descolamento de retina; catarata; degeneração senil de mácula. Glaucoma; alterações retinianas devido à hipertensão arterial ou diabetes. Traumatismos oculares, como os traumas mecânicos e físicos. Figura 5 – Causas congênitas ou hereditárias Fonte: elaborada pela autora. Fatores de desenvolvimento na deficiência visual • O desenvolvimento psicológico, cognitivo, emocional e social de algumas pessoas com deficiência visual pode ocorrer de forma conflituosa. • Pode influenciar o comportamento no contexto escolar, na aprendizagem e nas relações afetivas. • A visão é considerada o sentido soberano na hierarquia sensorial. • Tem posição central na percepção e na integração de formas, contornos, tamanhos, cores e imagens que estruturam a composição da paisagem e do ambiente. Fatores de desenvolvimento na deficiência visual • A visão interliga as outras capacidades e permite associar som e imagem e imitar gestos e/ou comportamentos, levando a criança a explorar espaços amplos e restritos. • A pessoa vidente estabelece uma interação predominantemente visual com o ambiente, desde o início da vida, e será estimulada para olhar o mundo ao redor. • A cegueira impede a capacidade de percepção das características físicas, da posição e/ou do movimento no campo de visão de forma mais ou menos abrangente; em certos casos, há até mesmo a perda da audição, como é o caso da surdocegueira, ou outras deficiências associadas. Fatores de desenvolvimento na deficiência visual • O potencial de uso dos órgãos sensoriais é semelhante em todos os indivíduos. • O desenvolvimento de informações táteis, auditivas, sinestésicas e olfativas tende a ser maior em pessoas cegas pelo maior uso desses sentidos para decodificar e armazenar as informações na memória. • A falta da visão leva à fragmentação das informações pelos outros sentidos, causando maior desenvolvimentoda audição, do tato, do olfato e do paladar por sua ativação contínua e permanente. • Os sentidos remanescentes agem de forma complementar e não compensatória e/ou isolada. Fatores de desenvolvimento na deficiência visual • As diferenças no desenvolvimento do pensamento e da linguagem entre crianças não videntes e videntes levam a diferenças na formação de conceitos espontâneos, ou seja, os conceitos que não dependem da aprendizagem formal. • A linguagem das crianças cegas se caracteriza pela ausência de sentido (verbalismo). • Há casos de crianças com deficiência visual que apresentam fala ecolálica: repetição de uma parte de palavras ou frases. • As habilidades sociais das pessoas com deficiência visual se desenvolvem com maiores dificuldades; a interação entre pessoas videntes e não videntes, como a emissão e a decodificação de comportamentos não verbais, é diferente. Deficiência visual e surdocegueira: principais definições Surdocegueira Bloco 3 Juliana Zantut Nutti Surdocegueira • A surdocegueira é a perda ou o comprometimento simultâneo da audição e da visão. • A expressão “surdocegueira” foi usada pela primeira vez na década de 1990 para substituir o termo “surdo cego”; essa junção das palavras clarificou a condição como uma deficiência singular. • A pessoa surdocega apresenta prejuízo da visão e da audição, o que leva a sérias limitações no cotidiano; essa é uma definição mais funcional do que técnica. Hellen Keller Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/ 7/7b/HK-gradpic.jpg. Acesso em: 3 set. 2021. Figura 6 – Hellen Keller Surdocegueira • A surdocegueira é uma das deficiências menos conhecidas. • Ela é considerada uma deficiência específica e singular em que ocorrem perdas auditivas e visuais simultaneamente e em graus variados. • Leva ao desenvolvimento de formatos diferentes de comunicação, de compreensão do mundo, de interação social e de acesso a informações e a uma vida com uma boa qualidade de educação, socialização, mobilidade e capacidade de lazer e trabalho. Tipos de surdocegueira Tipos de surdocegueira (aparição das deficiências e funcionalidade): 1) Pessoas surdocegas congênitas: apresentam os dois canais perceptivos comprometidos ao nascer. 2) Pessoas surdocegas com deficiência auditiva congênita e perda de visão adquirida. 3) Pessoas surdocegas com deficiência visual congênita e perda auditiva adquirida. 4) Pessoas surdocegas nascidas sem deficiências visuais e auditivas e sofrem perda de audição e visão no desenvolvimento. Figura 7 – Tipos de surdocegueira Fonte: elaborada pela autora. Surdocegueira e linguagem A surdocegueira pode ser classifica pelo momento de aquisição da linguagem: • Pré-linguística: ocorre antes da aquisição de uma forma de linguagem. • Pós-linguística: ocorre após a aquisição de uma linguagem, oral ou sinalizada. Importante: muitos casos de surdocegueira congênita podem ser confundidos com quadros de autismo pela dificuldade de comunicação e de interação social apresentada pelos indivíduos surdocegos. Surdocegueira congênita O indivíduo nasce com a condição. A condição depende do nível de perda auditiva ou visual e de deficiências associadas que afetam as habilidades de comunicação do indivíduo. Causas: deficiências pouco conhecidas e fatores genéticos e ambientais relacionados que aumentam o risco da surdocegueira. Figura 8 – Causas da surdocegueira congênita Fonte: elaborada pela autora. Surdocegueira congênita Desnutrição, obesidade, diabetes da mãe e/ou falta de acompanhamento pré- natal. Prematuridade do bebê ao nascer. Idade avançada ou precoce da mãe na concepção. Atrasos no nascimento, posição e apresentação anormais do feto e nascimentos de bebês múltiplos. Consumo de drogas, de medicamentos e exposição à radiação durante a gravidez. Condições genéticas, como a síndrome de Charge. Infecções no decorrer da gravidez, como rubéola, catapora, toxoplasmose, citomegalovírus, Zika vírus, entre outras. Infecções por doenças sexualmente transmissíveis. Síndrome alcoólica fetal, que é o consumo de álcool na gravidez. Figura 9 – Fatores que aumentam a surdocegueira congênita Fonte: elaborada pela autora. Surdocegueira adquirida Figura 10 – Surdocegueira adquirida Fonte: elaborada pela autora. Perda visual e auditiva em períodos mais tardios da vida. Causas: doenças, acidentes, processo de envelhecimento. O indivíduo pode nascer sem problemas de audição ou visão. Posteriormente, pode perder parcial ou totalmente os dois sentidos. Afeta mais idosos, mas pode afetar pessoas de qualquer idade, até crianças. Surdocegueira adquirida Perda auditiva relacionada à idade. Problemas oculares associados ao avanço do tempo, como degeneração macular relacionada à idade (DMRI), catarata e glaucoma. Retinopatia diabética: complicação da diabetes causada por altos níveis de açúcar no sangue. Meningites, encefalite, acidente vascular cerebral (AVC) ou traumatismo craniano grave. Doenças genéticas, como Síndrome de Usher, de Alport e de Stickler e Doença de Norrie. Figura 11 – Fatores associados à surdocegueira adquirida Fonte: elaborada pela autora. Teoria em Prática Bloco 4 Juliana Zantut Nutti Reflita sobre a seguinte situação Você é um profissional de educação especial em uma escola municipal de educação básica que irá receber, pela primeira vez, um aluno de 9 anos, chamado Pedro, que tem deficiência visual. Ele frequentará a 3ª série do ensino fundamental. O aluno tem acuidade visual inferior a 20/60, contando com a visão dos dois olhos. A escola já conta com outros alunos com outras deficiências, mas não com deficiência visual, na Sala de Recursos Multifuncionais no Atendimento Educacional Especializado, e caberá a você, responsável pelo AEE da escola, recepcionar Pedro e seus familiares. Como deve ser sua postura como profissional de educação especial nessa recepção? O que deve ser explicando a eles, em um primeiro momento, sobre a adaptação da escola às necessidades de Pedro? Norte para a resolução... • O profissional de educação especial tem a tarefa de, juntamente com outros profissionais da escola, como o gestor, o coordenador pedagógico e o professor da sala de aula do 3ª ano, recepcionar o aluno Pedro e seus pais no dia de sua matrícula ou em outro dia agendado com eles. • Será necessário apresentar a escola e a equipe e, principalmente, esclarecer as dúvidas e acolher os sentimentos de ansiedade e preocupação que se manifestam quando um aluno com deficiência de qualquer tipo ingressa em uma escola regular. Norte para a resolução... • É necessário explicar a Pedro e seus pais que, apesar de ainda não terem alunos com deficiência visual no AEE e de não possuírem tecnologias assistivas para atender às necessidades dele, serão providenciados os materiais necessários para ele conseguir realizar as atividades de ensino e aprendizagem. • Sobre as adaptações, a escola já possui piso tátil e outros recursos de acessibilidade para a deficiência visual, conforme exigido pela legislação. • É importante falar também que serão adquiridos outros recursos, caso a escola ainda não os possua, de modo a atender a suas necessidades. • Após uma visita monitorada às instalações, eles se despedem. Dica do(a) Professor(a) Bloco 5 Juliana Zantut Nutti Não deixe de verificar estas dicas • Acesse o site da Fundação Dorina Nowill e leia a biografia de Dorina de Gouveia Nowill. • Acesse o site do Ministério da Educação e navegue pelo Instituto Benjamin Constant. Referências BRASIL. Lei n. 14.126, de 22 de março de 2021. Classifica a visão monocular como deficiência sensorial, do tipo visual. Brasília: Presidência da República, 2021. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14126.htm. Acesso em: 21 jun. 2021.BRASIL Ministério da Educação. Atendimento Educacional Especializado – Deficiência Visual. Brasília: MEC, 2007. BRASIL. Ministério da Educação. Educação Infantil – Saberes e Práticas da Inclusão: Dificuldades de comunicação e sinalização – Deficiência visual. 4. ed. Brasília: MEC, 2006. LUNA, T. N. A Surdocegueira. [s.d.]. Disponível em: https://www.sindromedeusherbrasil.com.br/surdo-cegueira. Acesso em: 5 nov. 2021. PARANÁ. Secretaria da Educação do Paraná. Surdocegueira. [s.d.]. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=707. Acesso em: 5 nov. 2021. REYES, D. A. La surdocegueira: uma discapacidad singular. In: REYES D. A. La sordoceguera: un análisis multidisciplinar. Madrid: ONCE, 2004. TONIAZZO, F. R. Educação e linguagem: a configuração da relação enunciativa eu-tu no processo de formação de conceitos em crianças com cegueira congênita. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2015. Bons estudos!
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