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6- Direitos reais sobre coisa alheia e suas garantias

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DESCRIÇÃO
Abordagem conceitual e prática dos direitos reais de garantia (propriedade fiduciária, penhor,
anticrese e hipoteca) e do direito real de servidão.
PROPÓSITO
Esta é uma das principais matérias das quais resultam demandas discutidas em ações
judiciais, sendo, portanto, um assunto de grande viés prático e de operabilidade para o
exercício das profissões jurídicas que o aluno exercerá no futuro.
PREPARAÇÃO
Para iniciar o estudo deste conteúdo, tenha o Código Civil atualizado em mãos, pois você
precisará consultá-lo para compreender como é a disciplina jurídica.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Distinguir as principais características da servidão
MÓDULO 2
Identificar a relação entre alienação fiduciária e propriedade fiduciária
MÓDULO 3
Identificar as modalidades de direito real de garantia
INTRODUÇÃO
Os direitos reais de garantia são instrumentos importantes para o desenvolvimento econômico,
pois contribuem para a concessão de empréstimos e financiamentos, que, por vezes, são
aplicados no patrocínio de atividades econômicas e empresariais.
Daí, a importância de se compreender em detalhes como se dá a constituição da propriedade
fiduciária, do penhor, da hipoteca e da anticrese, pois as consequências sociais e jurídicas que
podem advir dessas situações servem de campo fértil para o desenvolvimento profissional do
aluno que está sendo formado.
Paralelamente a isso, um direito real muito comum e nem sempre conhecido é a servidão, que
se destina ao melhor uso de um imóvel, o que favorece a função social da propriedade e
ameniza conflitos entre vizinhos.
MÓDULO 1
 Distinguir as principais características da servidão.
O DIREITO REAL DE SERVIDÃO
Você sabe o que é servidão? Apesar de comum, esse é um direito um tanto quanto complexo,
além de pouco conhecido. Vamos entender suas nuances antes de nos aprofundarmos nas
regras peculiares do Código Civil.
DEFINIÇÃO E FINALIDADE
A servidão é um tipo de direito real previsto no Código Civil no inciso III do art. 1.225 e dos arts.
1.378 a 1.389. Integra o rol de direitos reais sobre coisas alheias, ou seja, um poder que
alguém tem sobre o imóvel de outra pessoa.
 ATENÇÃO
Ao tratar de servidões, o Código Civil refere-se a “imóvel” como “prédio”. Aqui, então, prédio
não significa, necessariamente, uma construção de alguns andares; diz respeito a qualquer tipo
de construção e até mesmo a lotes vazios. Por isso, inclusive, as servidões também são
chamadas de “servidões prediais”.
Para entender o que é uma servidão, é necessário estabelecer conceitos preliminares.
Na servidão, sempre haverá dois ou mais imóveis (“prédios”) envolvidos:
PRÉDIO SERVIENTE
Um (ou mais) deles é chamado de “prédio serviente”: trata-se do imóvel sobre o qual o
proprietário de outro terá algum poder; este é o imóvel que caracteriza a “coisa alheia” do
direito real de servidão.
PRÉDIO DOMINANTE
O outro imóvel é chamado de “prédio dominante”: é o imóvel beneficiado pelo encargo
estabelecido sobre o prédio serviente, ou seja, a servidão é constituída para favorecer este
prédio dominante de alguma maneira.
Observe, então, que:
O prédio serviente é o imóvel que sofre restrições ou se submete a encargos.

O prédio dominante é aquele que se beneficiará das restrições ou encargos sobre o imóvel
serviente.
Um exemplo simples e preliminar para começar a entender o assunto:

X e Y são proprietários de duas casas contíguas (uma ao lado da outra).
X compra um carro, mas não tem espaço suficiente para passar com ele em seu quintal para
chegar à garagem.


X pede a Y uma autorização para passar em um trecho de um metro no quintal de Y todas as
vezes em que precisar retirar e recolocar o carro na garagem.
Y permite e ambos procedem à formalização necessária.

Ilustrando:
 
Imagem: Gilberto Fachetti.
 Ilustração de uma servidão.
 
Imagem: photos.google.com
Nesse exemplo, observe que a faixa de um metro do quintal de Y permanece sendo dele, mas
X passa a ter o direito de utilizar, de alguma forma, esse trecho para seu benefício e para
melhor uso do seu imóvel (que não tem passagem para carro. X somente poderá utilizar essa
faixa do imóvel de Y para a passagem do seu carro, e para nada mais (a não ser, talvez,
praticar obras de conservação). O imóvel de Y é o prédio serviente, pois passará a servir
ao imóvel de X, que é o dominante.
 
Imagem: Shutterstock.com
Observe, também, que o imóvel de Y terá seu uso, de certo modo, parcialmente restringido.
Embora a faixa do terreno permaneça sendo de Y e esta possa até utilizar, haverá uma
restrição porque ele terá que tolerar o uso por X. Ou seja, seu uso não mais será pleno, como
antes. Essa situação ilustra a servidão predial: trata-se de um direito real constituído sobre o
imóvel de uma pessoa para garantir o exercício mais útil da propriedade de outro imóvel.
Essa é definição do Código Civil quanto a este direito real: “Art. 1.378. A servidão proporciona
utilidade para o prédio dominante, e grava o prédio serviente, que pertence a diverso dono, e
constitui-se mediante declaração expressa dos proprietários, ou por testamento, e subsequente
registro no Cartório de Registro de Imóveis”.
Quando o art. 1.378 diz que a servidão “grava o prédio serviente”, isso significa que a servidão
cria uma obrigação propter rem, ou seja, não recai sobre as pessoas dos proprietários dos
imóveis dominante e serviente. Na verdade, a servidão recai sobre os imóveis. É como se a
servidão fosse um direito do prédio dominante e um dever do prédio serviente, ou seja, são
poderes e encargos das coisas, e não dos proprietários de tais coisas.
 
foto: Shutterstock.com
Por isso, havendo transmissão da propriedade do prédio serviente, o novo proprietário
suportará a servidão, pois esta não foi constituída sobre o antigo proprietário, mas sobre o
imóvel serviente. De igual maneira, se o proprietário do prédio dominante transferir a
propriedade para terceiro, o adquirente recebe o imóvel com a possibilidade de usufruir da
servidão e o proprietário do imóvel serviente deve suportá-lo.
 ATENÇÃO
Isso não significa dizer que a servidão será, obrigatoriamente, perpétua. Ela pode ser extinta
nas hipóteses dos arts. 1.387 a 1.389, que inclui a extinção por acordo de vontades.
A servidão predial serve à coisa, e não ao proprietário da coisa, pois o que é gravado com
direito real é o imóvel, e não a pessoa do proprietário.
 EXEMPLO
Os exemplos mais comuns são: servidão de passagem (de pessoas, de veículos, de cabos, de
tubulações etc.); servidão de vista (acordo para não edificar acima de determinada altura);
ventilação (deixar espaço entre construções para aumento da circulação de ar); retirada de
água (acesso a nascentes e rios em outro imóvel).
CARACTERÍSTICAS
Vejamos agora as principais características da servidão.
ACESSORIEDADE
A servidão é um acessório do direito de propriedade, pois se destina a melhorar e aperfeiçoar o
exercício da propriedade do imóvel dominante, sem prejuízo do imóvel serviente (apesar das
restrições que serão sofridas, não haverá prejuízo substancial);
SEQUELADO
A servidão adere à coisa e a acompanha, podendo o proprietário dominante tomar medidas
para garantir a posse sobre a coisa em caso de moléstia;
INALIENABILIDADE
O imóvel dominante pode ser alienado, ou seja, terceiro pode se tornar novo proprietário
dominante; por ser obrigação propter rem, a servidão permanece aderida ao imóvel dominante
e o novo proprietário poderá utilizá-la. O adquirente recebe a servidão porque ela é alienada
com a propriedade. A inalienabilidade da servidão consiste na impossibilidade de transferir
exclusiva e unicamente a servidão para terceiro, ou seja, não é possível alienar ou transferir
somente a servidão; ela pode ser transferida junto com a propriedade do imóvel dominante,
mas nunca isoladamente.
PERPETUIDADE
A servidão é constituída para ser perpétua, ou seja, nunca desfeita. Ocorre que a regra
comporta exceções, que são as previstas dos arts. 1.387a 1.389 do Código Civil).
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Todo direito real constituído ou transmitido sobre coisas imóveis são adquiridos somente com o
registro no Cartório de Registro de Imóveis (arts. 1.245 a 1.247). Essa regra não é diferente no
caso da servidão, conforme art. 1.378 do Código Civil, que diz que a servidão “constitui-se [...]
subsequente registro no Cartório de Registro de Imóveis”. Se existir o título que confere ao
dominante o direito à servidão, mas que não foi registrado, o caput do art. 1.379 do Código
Civil permite a aquisição da servidão pela usucapião, desde que haja posse contínua e
aparente por pelo menos 10 anos.
INDIVISIBILIDADE
Caso o imóvel serviente ou o imóvel dominante sejam divididos (loteados, p. ex.), a servidão
não será “dividida” em partes tal e qual os imóveis; a servidão se mantém única e as novas
partes resultantes se subordinam à servidão.
IMPRESUNTIBILIDADE
A servidão não é presumida, devendo ser provada de maneira explícita e inequívoca; logo, não
se admitem interpretações extensivas para caracterizar servidão em uma determinada
situação.
VOLUNTARIEDADE
Uma servidão é constituída sempre com base em um negócio jurídico (unilateral, como o
testamento, ou bilateral, como um contrato). É possível que você encontre alguns livros falando
em “servidões legais”, que seriam servidões constituídas compulsoriamente por determinação
legal. Na verdade, esses casos existem, mas não são servidões; são questões de vizinhança
ou direito de vizinhança (arts. 1.282 a 1.313 do Código Civil). Além disso, observe que o art.
1.378 do Código Civil diz que a servidão “constitui-se mediante declaração expressa dos
proprietários, ou por testamento”, ou seja, por atos jurídicos voluntários.
USUCAPIBILIDADE
A servidão pode ser usucapida após 20 anos de posse contínua e aparente, caso o dominante
não tenha título que lhe confere o direito de usar o imóvel serviente.
TIPOS
Abaixo, você encontra os tipos de servidão.
Quanto Tipos
Ao imóvel
serviente Servidão urbana: o imóvel é urbano, ou seja, localizado em
perímetro urbano.
Servidão rural ou rústica: o imóvel encontra-se em zona rural e
se destina a atividades agrícolas, pecuaristas, extrativistas etc.
Ao direito
concedido
Servidão positiva: quando o proprietário do imóvel dominante
pode praticar algum ato sobre o imóvel serviente (ex.: passagem
por um beco para ter acesso à rua); depende de uma ação do
proprietário dominante.
Servidão negativa: quando o proprietário do imóvel serviente fica
impedido de praticar atos sobre o seu imóvel (ex.: construir acima
da laje); depende de uma omissão do proprietário serviente.
À forma
de
exercício
Servidão aparente ou contínua: é o tipo de servidão que
necessita de ação humana reiterada para ser exercida e
visualizada (ex.: passagem de cabos de energia elétrica).
Servidão não aparente ou descontínuas: é aquela que o
exercício é imperceptível, pois não pode se visualizada (ex.: não
construir acima de certa altura para garantir vista para a rua.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Classificação das servidões. 
Elaborado por: Gilberto Fachetti.
 ATENÇÃO
Dependendo do livro utilizado para aprofundamento do conteúdo, é possível que você encontre
outros nomes para as classificações da tabela. É possível, também, que você encontre mais
classificações, as quais repetirão conceitos de classificações quanto a outros elementos.
SERVIDÃO REAL E SERVIDÃO PESSOAL
As servidões real e pessoal possuem conceitos diferentes.
 
foto: Shutterstock.com
A servidão pessoal diz respeito aos direitos reais de usufruto, uso e habitação. São pessoais
porque dizem respeito ao uso e ao gozo de bens por parte do usuário, do usufrutuário e do
habitante. Aqui, a relação não é entre prédios, mas entre um terceiro e a coisa.

 
foto: Shutterstock.com
A servidão predial (real), por sua vez, é quando um prédio utiliza algo de outro prédio; não há
relação pessoa-coisa, mas coisa-coisa (isto é, prédio dominante-prédio serviente).
As servidões pessoais estão vinculadas a alguém, embora não sejam transmitidas por herança.
Como a servidão predial é um “direito da coisa”, ela é perpétua e independe de quem sejam os
titulares das propriedades dos prédios envolvidos.
Apesar do nome, as servidões pessoais não são servidões propriamente ditas, pois estas são
somente as prediais. É um conceito tradicional que precisa ser diferenciado, mas que não se
submetem ao regime jurídico da servidão.
SERVIDÃO E PASSAGEM FORÇADA
A servidão é constituída voluntariamente entre os proprietários dos prédios dominante e
serviente.
Contudo, às vezes, o proprietário de um imóvel precisa de acesso à via pública e não
consegue constituir a servidão de passagem com seu vizinho. Isso acontece, geralmente,
naqueles loteamentos ou quadras em que um terreno ou uma construção não tem acesso à
rua.

Se há recusa em constituir uma servidão de passagem e se há necessidade em obter acesso à
via pública, o proprietário do prédio encravado poderá, judicialmente, exercer o seu direito de
passagem forçada (art. 1.285 do Código Civil).
Contudo, o direito de passagem pode ser constituído voluntariamente e, à diferença da
servidão, não precisa ser registrado no Cartório de Registro de Imóveis, pois não é direito real.
O problema é quando nem o direito de passagem e nem a servidão podem ser constituídas por
desinteresse do proprietário do prédio serviente.


A passagem forçada não é servidão e não é um direito real; é um direito de vizinhança, de
caráter pessoal e constituído judicialmente. Assim, depende de uma ação judicial que
determinará que um prédio vizinho ceda uma parte de seu imóvel para a passagem do
proprietário do prédio encravado, que, assim, terá acesso à via pública.
Veja que o direito de passagem forçada tem lugar nos casos de encravamento em que a
constituição de uma servidão de passagem não ocorreu.
Algumas distinções:
Servidão de passagem Passagem forçada
Voluntária
Direito previsto na lei (art. 1.285 do Código Civil) e que
poderá ser constituído coercitivamente por sentença
judicial.
Gratuito ou oneroso Oneroso.
Natureza real (direito real) Natureza pessoal/obrigacional (direito de vizinhança).
Constituída pelo registro
no Cartório de Registro de
Imóveis
Não é registrada e é constituída por sentença judicial.
Usucapíveis (usucapião
de uma servidão)
Não se submete à usucapião (não existe “usucapião de
passagem forçada”, mas pode existir usucapião de
propriedade).
Perpétua Pode ser revogada se o encravamento deixar de existir.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Diferenças entre servidão e passagem forçada. 
Elaborado por: Gilberto Fachetti.
CONSTITUIÇÃO E EXTINÇÃO
A servidão pode ser gratuita ou onerosa:
Gratuita
O imóvel dominante não remunera o imóvel serviente pela constituição da servidão.
Dominante
O proprietário do imóvel dominante pagará uma remuneração ao proprietário do imóvel
serviente.
A onerosidade precisa ser fixada no instrumento que constitui a servidão, pois, do contrário,
presume-se que a servidão é gratuita.
Uma servidão pode ser constituída a partir de:
Negócio jurídico (inter vivos ou mortis causa)
Usucapião
Sentença judicial
O art. 1.378 do Código Civil admite que a servidão seja constituída por ato negocial, ou seja,
um contrato entre os proprietários dos prédios serviente e dominante (ato inter vivos) ou um
testamento do proprietário do prédio serviente em favor do proprietário do prédio dominante
(ato mortis causa).
 
foto: Shutterstock.com
Porém, como se trata de direito real sobre coisa imóvel, o art. 1.227 do Código Civil exige que
a constituição desse direito seja registrada na matrícula do prédio no Cartório de Registro de
Imóveis. Assim, tanto o contrato quanto o testamento devem ser registrados para que a
servidão exista no mundo do Direito. Sem o registro, o que existe entre os envolvidos é umarelação de confiança, uma promessa de constituir a servidão, mesmo que o prédio serviente já
esteja sendo usado. Haverá, assim, um direito pessoal, e não real. Para que a situação seja
considerada juridicamente uma servidão (direito real) e, consequentemente, possa produzir
seus efeitos perante os envolvidos e os terceiros, dependerá de registro.
E não apenas: se os imóveis envolvidos tiverem valor superior a 30 salários-mínimos, o
contrato e o testamento não podem ser celebrados por instrumento particular; deverão,
obrigatoriamente, ser celebrados em instrumento público (escritura pública feita em Cartório de
Notas), conforme art. 108 do Código Civil: “Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a
escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição,
transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta
vezes o maior salário mínimo vigente no País”.
 
foto: Shutterstock.com
CPC - 1973
O Código de Processo Civil de 1973, ao tratar do procedimento especial da ação de divisão de
terras particulares (arts. 967 a 981), previa a possibilidade de o juiz instituir servidões
necessárias quando fosse decidir a partilha: “Art. 979. Ouvidas as partes, no prazo comum de
10 (dez) dias, sobre o cálculo e o plano da divisão, deliberará o juiz a partilha. Em cumprimento
desta decisão, procederá o agrimensor, assistido pelos arbitradores, à demarcação dos
quinhões, observando, além do disposto nos arts. 963 e 964, as seguintes regras: [...]; II –
instituir-se-ão as servidões, que forem indispensáveis, em favor de uns quinhões sobre os
outros, incluindo o respectivo valor no orçamento para que, não se tratando de servidões
naturais, seja compensado o condômino aquinhoado com o prédio serviente; [...]”.
CPC - 2015
No Código de Processo Civil de 2015, foi mantida a mesma sistemática de instituição de
servidões na via judicial, também no procedimento especial da ação de divisão de terras
particulares (arts. 588 a 598): “Art. 596. Ouvidas as partes, no prazo comum de 15 (quinze)
dias, sobre o cálculo e o plano da divisão, o juiz deliberará a partilha. Parágrafo único. Em
cumprimento dessa decisão, o perito procederá à demarcação dos quinhões, observando, além
do disposto nos arts. 584 e 585, as seguintes regras: [...]; II – instituir-se-ão as servidões que
forem indispensáveis em favor de uns quinhões sobre os outros, incluindo o respectivo valor no
orçamento para que, não se tratando de servidões naturais, seja compensado o condômino
aquinhoado com o prédio serviente; [...]”.
Outra forma de constituição é a que ocorre pela usucapião. Não se trata da usucapião da
propriedade de um imóvel, mas da usucapião específica para o direito real de servidão. Essa
previsão se encontra no art. 1.379 do Código Civil: “Art. 1.379. O exercício incontestado e
contínuo de uma servidão aparente, por dez anos, nos termos do art. 1.242, autoriza o
interessado a registrá-la em seu nome no Registro de Imóveis, valendo-lhe como título a
sentença que julgar consumado a usucapião. Parágrafo único. Se o possuidor não tiver título, o
prazo da usucapião será de vinte anos”.
 
foto: Shutterstock.com
O caput traz a hipótese de uma usucapião ordinária de servidão; e o parágrafo único traz uma
hipótese de usucapião extraordinária.
Como toda e qualquer usucapião, estas dependem de exercício contínuo (sem interrupção) e
inconteste (sem dúvidas) da servidão.
Em ambas as hipóteses (caput e parágrafo único), a servidão é exercida sem registro do título
constitutivo no Cartório de Registro de Imóveis. Esse exercício da servidão é aparente
(servidão aparente), ou seja, há exteriorização da relação de serventia entre os prédios
dominante e serviente.
O caput do art. 1.379 remete à usucapião ordinária da propriedade do art. 1.242: “Art. 1.242.
Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo
título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto
neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante
do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem
estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico”.
Usucapião do caput do art. 1.379
Usucapião do
parágrafo único do
art. 1.379
Justo
título
Obrigatório. Essa usucapião é para os casos
em que há título (contrato ou testamento) que
não foi registrado ou que foram registrados,
porém, esse registro foi anulado
posteriormente (relação com o art. 1.242).
Não é exigido o
título, bastando a
aparência de
servidão ao longo
do tempo.
Prazo do
uso
10 anos 20 anos
Sentença
judicial
Obrigatória a declaração de usucapião em
sentença para registro no Cartório de Registro
de Imóveis.
Obrigatória a
declaração de
usucapião em
sentença para
registro no Cartório
de Registro de
Imóveis.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Usucapião de servidão. 
Elaborado por: Gilberto Fachetti.
Os seguintes motivos levam à extinção de uma servidão, conforme previsto nos arts. 1.388 e
1.389 do Código Civil:
RENÚNCIA
Pelo proprietário do prédio dominante, ou seja, o titular beneficiado pela servidão.
FIM DA UTILIDADE OU COMODIDADE
Que deram causa à constituição da servidão (equivaleria a uma “perda de objeto”).
RESGATE
Da servidão pelo proprietário do prédio serviente, que consiste em uma resilição unilateral (art.
473 do Código Civil) pela qual o proprietário pagará ao proprietário dominante um valor
pecuniário para extinguir a servidão (se houver divergências quanto aos valores, a questão
deve ser levada a juízo para decidir).
RESILIÇÃO BILATERAL
(distrato), que não é uma hipótese prevista nos incisos dos arts. 1.388 e 1.389, mas que é uma
regra geral de extinção de todo e qualquer contrato (art. 472 do Código Civil).
RESOLUÇÃO
Que também não está prevista nos incisos dos arts. 1.388 e 1.389, mas que se aplica aos
casos de inadimplemento da remuneração nas servidões onerosas (art. 475 do Código Civil).
CONFUSÃO
Que ocorre quando a propriedade dos prédios serviente e dominante passa a pertencer à
mesma pessoa (toda servidão exige que os prédios envolvidos tenham, obrigatoriamente,
proprietários diferentes).
SUPRESSÃO DAS OBRAS
Nas servidões aparentes, ou seja, das ações que permitem perceber que há servidão
constituída sobre um prédio.
DESUSO
No período de 10 anos, ou seja, a servidão deixa de ser utilizada durante uma década.
DESAPROPRIAÇÃO ADMINISTRATIVA OU JUDICIAL
Em que os imóveis ou somente um deles passará a pertencer à Administração Pública para a
realização de ações de interesse público.
PERECIMENTO DO IMÓVEL
(destruição).
TRANSCURSO DE PRAZO
No caso de servidão constituída por tempo determinado.
DIREITOS E DEVERES
Os direitos e deveres em uma servidão são recíprocos entre proprietários serviente e
dominante. Pode-se fazer a seguinte sistematização:
Proprietário do imóvel
dominante
Proprietário do imóvel
serviente
Direitos
Usar e usufruir da servidão,
dentro dos limites do fixado
no ato constitutivo e dentro
do necessário para não
causar prejuízos ao
proprietário serviente.
Realizar as obras
necessárias e ampliar a
servidão, se necessário,
para a sua melhor utilidade.
Resilir unilateralmente
(renunciar) a servidão; e
remover a servidão, se
necessário, para outro ponto
do imóvel serviente, desde
que não prejudique o uso
deste último.
Abandonar ao proprietário
do prédio dominante, total
ou parcialmente, a
propriedade do imóvel
serviente.
Remover a servidão, se
necessário, para outro ponto
do imóvel serviente.
Impedir mudanças no prédio
organizadas pelo
proprietário dominante.
Resilir unilateralmente
(renunciar) a servidão; e
Declarar extinta a servidão
nas hipóteses de perda e
extinção.
Deveres
Conservar a servidão, para
não causar prejuízos ao
imóvel serviente.Não agravar as condições
de uso para não forçar a
ampliação da servidão.
Pagar a remuneração devida
nos casos de servidão
onerosa.
Pagar pelas obras
realizadas.
Pagar as despesas de
conservação da servidão; e
Se as necessidades da
cultura, ou da indústria, do
prédio dominante
impuserem à servidão maior
largueza, indenizar o dono
do serviente pelo excesso.
Não embaraçar o uso da
servidão pelo proprietário
dominante.
Permitir as obras
necessárias.
Se as necessidades da
cultura, ou da indústria, do
prédio dominante
impuserem à servidão maior
largueza, o dono do
serviente é obrigado a sofrê-
la.
Pagar despesas com uma
possível remoção por ele
exigida.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Direitos e deveres na servidão. 
Elaborado por: Gilberto Fachetti.
SERVIDÃO ADMINISTRAVA E SERVIDÃO
CIVIL
 
Foto: Shutterstock.com
A servidão civil é constituída voluntariamente entre sujeitos particulares, para uso individual
pelo prédio dominante.

 
Foto: Shutterstock.com
A servidão administrativa, contudo, decorre do interesse público representado pela
Administração Pública. O ente público constitui forçadamente uma servidão para uso público.
Exemplo
As ruas, as rodovias e as estradas vicinais.
Nosso objeto de estudo, aqui, é a servidão civil; a servidão administrativa é matéria tratada
no Direito Administrativo.
TUTELA PROCESSUAL
Além das ações possessórias típicas (reintegração, manutenção e interdito proibitório) de uma
possível ação de usucapião na hipótese do art. 1.379 do Código Civil e do embargo de obras
prejudiciais, a servidão possui duas ações específicas quando ela for a causa de pedir próxima
e/ou remota de uma ação judicial, quais sejam:
AÇÃO CONFESSÓRIA
É proposta tanto pelo proprietário do imóvel dominante quanto do imóvel serviente, com o
objetivo de declarar a existência de uma servidão constituída entre eles; a discussão gira em
torna do título da servidão, se ele é capaz de constituir uma servidão. Exemplos: 1) o
proprietário dominante propõe a ação para que seja declarada a existência da servidão que
está sendo negada pelo possível proprietário serviente, que está impedindo a prática dos atos
típicos da servidão; e 2) o proprietário do imóvel serviente propõe a ação para ver declarada a
existência de uma servidão, recusada pelo proprietário dominante, e, assim, exercer seu direito
de ser indenizado ou remunerado, por exemplo.
AÇÃO NEGATÓRIA
É proposta, tanto pelo proprietário do imóvel dominante quanto pelo proprietário do imóvel
serviente, com o objetivo de declarar a inexistência de uma servidão constituída entre eles.
Exemplo: 1) o proprietário serviente propõe a ação para negar a existência de uma servidão e,
assim, impedir o uso de parte de seu imóvel por aquele sedizente proprietário dominante; 2)
alguém tido por “proprietário dominante” recebe uma notificação de um sedizente proprietário
serviente que cobra por obras ou remuneração da servidão, situação em que esse possível
“proprietário dominante” pode propor a ação para negar que exista a relação de servidão entre
eles.
Essas ações têm diferenças conceituais e, no final das contas, têm a mesma causa de pedir
próxima: a servidão. Mas não têm, porém, um procedimento especial típico, recaindo no
procedimento comum do Código de Processo Civil.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CONTÉM UMA HIPÓTESE DE
SERVIDÃO:
A) Locação de imóvel residencial urbano
B) Cessão de lote rural para plantio de café
C) Passagem de cabos de telefone e internet determinada por sentença
D) Passagem de boiada por um terreno para pastagem
E) Divisão de cabos de telefone e internet entre imóveis contíguos
2. SERVIDÃO APARENTE É AQUELA:
A) Constituída por acordo de vontades entre os proprietários, porém nunca foi utilizada pelo
proprietário dominante.
B) Constituída por ato particular, porém nunca foi registrada no Cartório de Registro de
Imóveis.
C) Exercida ininterruptamente pela ação humana.
D) Caracterizada pela descontinuidade do uso pelo proprietário dominante, que interrompe de
tempos em tempos a utilização da servidão.
E) Manifestada por obras exteriores.
GABARITO
1. Assinale a alternativa que contém uma hipótese de servidão:
A alternativa "D " está correta.
 
É o caso de uma fazenda (dominante) que utiliza trecho ou faixa de uma outra fazenda
(serviente) para a passagem de rebanho. A utilização é uma restrição à fazenda serviente, que
deve suportar a passagem dos animais. Já a fazenda dominante pode utilizar somente para
fins de passagem.
2. Servidão aparente é aquela:
A alternativa "E " está correta.
 
A servidão aparente é aquela que se manifesta por obras exteriores porque são aquelas
visíveis e permanentes, como a servidão de passagem. A alternativa A é hipótese de desuso,
que extingue a servidão. B não é um tipo de servidão, mas o fator que enseja a usucapião. C é
a definição equivocada de servidão contínua (invertida, pois independente de uma ação
humana). A letra D não existe enquanto tipo de servidão, mas como hipótese de extinção.
MÓDULO 2
 Identificar a relação entre alienação fiduciária e propriedade fiduciária.
PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA
O professor Gilberto Fachetti introduz o módulo com uma explicação geral sobre o assunto.
Para entender a propriedade fiduciária, antes, você precisa entender o que é a “propriedade
resolúvel” (arts. 1.359 e 1.360 do Código Civil).
O direito real de propriedade é perpétuo, ou seja, é constituído para existir até a morte do
proprietário ou até que este transfira a coisa para outrem. Mas há uma exceção: é a
propriedade resolúvel, caracterizada pelo fato de que o direito de propriedade tem prazo de
existência para um determinado proprietário; após certo tempo, o titular deixa de ser
proprietário da coisa.
 
Foto: Shutterstock.com
Na propriedade resolúvel, há uma condição ou um termo resolutivo que retira de seu titular a
propriedade da coisa. Com a resolução da propriedade, outra pessoa a adquire.
DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS
A propriedade fiduciária é um tipo de propriedade resolúvel. Ela resulta de um contrato ou de
uma cláusula de outro contrato.
A propriedade fiduciária é uma forma do credor ter garantias de que receberá o valor de uma
determinada dívida.

Uma determinada coisa é registrada no nome do credor, que permanece seu proprietário até
que o devedor quite a dívida.
O devedor, enquanto isso, tem a posse da coisa, mas não a propriedade.


Quitando a dívida, a propriedade é transferida do credor para o devedor (é nesse sentido que
se trata de uma propriedade resolúvel).
Havendo inadimplemento, o credor toma a coisa do devedor (afinal, é seu proprietário), como
forma de quitar a dívida.


A propriedade em nome do credor gera o desdobramento da posse (§ 2º do art. 1.361): o
devedor (fiduciante) terá a posse direta (art. 1.363 do Código Civil); e o credor (fiduciário) terá a
posse indireta.
O exemplo mais comum de propriedade fiduciária é a decorrente de uma alienação fiduciária
na compra de veículos, popularmente conhecida como “financiamento”. Contudo, atenção: a
alienação fiduciária não se confunde com a propriedade resolúvel; na alienação, existe uma
propriedade fiduciária, mas a alienação é um contrato.
 
Foto: Shutterstock.com
A alienação fiduciária, por exemplo, pode ser para bens móveis e imóveis.

 
Foto: Shutterstock.com
Já a propriedade fiduciária incide somente sobre coisa móvel (caput do art. 1.361 do Código
Civil).
Com a quitação da dívida, o fiduciante (re)adquire a propriedade perpétua da coisa e o
fiduciário deixa de ser proprietário e possuidor indireto.
Quanto ao regime jurídico da propriedade fiduciária, tem-se:
PARA BENS MÓVEIS
Arts. 1.361 a 1.368-B do Código Civil
PARA BENS IMÓVEIS
Arts. 22 a 33 da Lei nº 9.514/1997
REQUISITOS
O objeto da propriedade fiduciária deve ser uma coisa móvel. O Código Civil refere-se à
propriedade resolúvel como sendopara coisas móveis; porém, outras leis admitem que exista
propriedade resolúvel em contratos que envolvam imóveis (Lei nº 9.514/1997).
O objeto da propriedade fiduciária deve ser coisa infungível. Trata-se de bem insubstituível por
outro, pois possui características que o tornam único, ou seja, não pode ser sub-rogado
(trocado) por outro semelhante, pois este semelhante não existe.
A causa da constituição da propriedade fiduciária é a garantia de uma obrigação. O objetivo é
constituir uma garantia de pagamento de dívida; a coisa registrada em nome do credor se torna
a garantia de que, se o devedor não pagar, o credor terá como ser ressarcido dos seus
prejuízos.
O contrato ou cláusula que constitui a garantia deve ser formal, ou seja, escrito (instrumento
público ou particular). Para esse contrato, o art. 1.362 traz os elementos obrigatórios:
 Valor total ou estimativa da dívida 
 Prazo do pagamento 
 Taxa de juros, se pactuados 
javascript:void(0)
javascript:void(0)
 Descrição da coisa objeto da transferência, com os elementos indispensáveis à sua
identificação.
Para ser constituída a propriedade fiduciária, o contrato ou cláusula deve, obrigatoriamente, ser
levado a registro no Cartório de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se
tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação
no certificado de registro.
Com a constituição da propriedade fiduciária, o devedor-possuidor direto fica impossibilitado de
dispor da coisa alienada, ou seja, não pode ceder a terceiros.
CONSEQUÊNCIAS EM CASO DE
INADIMPLEMENTO DA DÍVIDA GARANTIDA
Se a dívida não for paga, ou seja, em caso de inadimplemento, o credor pode tomar a coisa
para vendê-la judicial ou extrajudicialmente a terceiros (art. 1.364).
O credor é obrigado a vender a coisa, pois é nula a cláusula que autoriza o proprietário
fiduciário a ficar com a coisa alienada em garantia, se a dívida não for paga no vencimento
(caput do art. 1.365). Porém, o devedor pode, com a anuência do credor, dar seu direito
eventual à coisa em pagamento da dívida, após o vencimento desta (parágrafo único do art.
1.365).
 
Foto: Shutterstock.com
Ao alienar a coisa:
O credor deve aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança.

Se houver saldo, deve entregá-lo ao devedor.

Se o valor obtido com a venda não for suficiente para quitar a dívida, a cobrança prossegue
quanto ao remanescente.
Conforme art. 1.366: “Quando, vendida a coisa, o produto não bastar para o pagamento da
dívida e das despesas de cobrança, continuará o devedor obrigado pelo restante”.
DIREITOS E DEVERES DAS PARTES
ENVOLVIDAS
Vejamos no resumo abaixo quais são os direitos e os deveres das partes envolvidas.
Fiduciante (devedor) Fiduciário (credor)
Direitos
Ter a posse direta da coisa.
Usar e usufruir a coisa.
Receber o saldo remanescente
na hipótese de venda pelo
credor decorrente de
inadimplemento.
Reaver a coisa de terceiro ou
do credor que, injustamente,
possua ou detenha (ação
possessória).
Ter a posse indireta da
coisa, constituída por
meio do registro da
alienação no Cartório de
Títulos e Documentos.
Reaver a coisa de
terceiro que,
injustamente, possua ou
detenha (ação
possessória).
Receber o valor da
dívida.
Requerer busca e
apreensão da coisa ou
reivindicá-la.
Praticar atos de
conservação da coisa e
fiscalizar o uso pelo
credor.
Vender a coisa para
quitação da dívida.
Oferecer embargos de
terceiros.
Deveres Pagar a dívida garantida.
Conservar a coisa garantida
(com isso, o credor tem a
garantia da coisa em sua
integridade para uma possível
venda).
Reaver a coisa de terceiro que,
injustamente, possua ou
detenha (ação possessória)
(observe que este também é um
direito do devedor).
Pagar o débito remanescente
se o valor da venda da coisa
não for suficiente para saldar a
dívida no todo.
Permitir fiscalização do credor
quanto à conservação da coisa.
Respeitar a posse direta
do fiduciante.
Restituir o remanescente
do saldo da venda da
coisa, se houver.
Transferir a propriedade
da coisa para o devedor
após a quitação da
dívida.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Direitos e deveres na propriedade fiduciária. 
Elaborado por: Gilberto Fachetti.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE O DESDOBRAMENTO DA POSSE NO CASO DE CONSTITUIÇÃO
DE UMA PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA, ASSINALE A ALTERNATIVA
CORRETA:
A) Não se admite o desdobramento da posse na propriedade fiduciária, pois o credor tem a
propriedade da coisa, mas não tem a posse.
B) A partir do registro do contrato no Cartório de Títulos e Documentos, o credor torna-se o
possuidor direto da coisa, por ser seu proprietário, e o devedor será possuidor indireto.
C) Não se admite desdobramento da posse porque a propriedade transferida é fictícia e
resolúvel.
D) Há desdobramento da posse, pelo qual o fiduciário se torna o possuidor indireto e o
fiduciante se torna o possuidor direto.
E) Não se admite desdobramento da posse porque o fiduciante está impossibilitado de usar a
coisa.
2. A PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA É UM TIPO DE PROPRIEDADE:
A) Resolúvel
B) Fictícia
C) Perene
D) Indireta
E) Pessoal
GABARITO
1. Sobre o desdobramento da posse no caso de constituição de uma propriedade
fiduciária, assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
 
Para ter a posse, ninguém precisa ter a coisa consigo; ela é um desdobramento da
propriedade. Pelo § 2º do art. 1.361 do Código Civil, com a constituição da propriedade
fiduciária, dá-se o desdobramento da posse, tornando-se o devedor possuidor direto da coisa.
2. A propriedade fiduciária é um tipo de propriedade:
A alternativa "A " está correta.
 
O próprio caput do art. 1.361 do Código Civil define a propriedade fiduciária como resolúvel:
“Art. 1.361. Considera-se fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o
devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor”. As hipóteses das alternativas B, C, D e
E são todas fictícias.
MÓDULO 3
 Identificar as modalidades de direito real de garantia.
DIREITOS REAIS DE GARANTIA: PENHOR,
HIPOTECA E ANTICRESE
O professor apresentará a seguir a definição geral de direito real sobre a coisa alheia e sobre o
direito de garantia, lançando conceitos comuns para aprimorar o nosso entendimento sobre o
regime jurídico comum da hipoteca, da anticrese e do penhor.
INTRODUÇÃO: OS DIREITOS REAIS SOBRE
COISAS ALHEIAS
Um direito real de garantia é aquele constituído, em favor do credor, sobre uma coisa
pertencente ao devedor, de modo que, se a dívida não for paga, o credor poderá utilizar o bem
dado em garantia para a quitação da dívida.
A coisa é vendida a terceiros pelo credor (penhor e hipoteca) ou o credor se apropria dos frutos
e dos produtos produzidos pela coisa (anticrese), mas não pode se apropriar da coisa para si.
O acordo que permitiria ao credor se apropriar da coisa é a chamada “cláusula comissória”,
porém ela é nula de acordo com o art. 1.428 do Código Civil: “É nula a cláusula que autoriza o
credor pignoratício, anticrético ou hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não
for paga no vencimento”.
Para ser constituído, um direito real de garantia deve atender aos seguintes requisitos ou
exigências:
COISA ALIENÁVEL
O direito real de garantia somente pode ser constituído sobre uma coisa que pode ter sua
propriedade transmitida a outrem (alienabilidade) (caput do art. 1.420 do Código Civil).
CAPACIDADE E LEGITIMIDADE PARA ALIENAR
O devedor só pode instituir garantia real se tiver capacidade civil e legitimidade para realizar
atos de alienação da coisa alienável (caput do art. 1.420 do Código Civil).
CONSTITUIÇÃO POR NEGÓCIO JURÍDICO
Em regra, os direitos reais são constituídos voluntariamente entre credor e devedor, via
negócio jurídico, mas há exceções, como no caso do penhor legal, da hipoteca judicial e da
hipoteca legal. De qualquer maneira, nocaso de constituição por negócio jurídico, o
instrumento contratual deve ser escrito (instrumento público ou particular) e detalhar a coisa,
para, então, ser levado a registro no cartório competente. O art. 1.424 determina que o negócio
constitutivo tenha, obrigatoriamente, os seguintes elementos:
 
Valor do crédito (estimação ou valor nominal)
Prazo fixado para pagamento
Taxa dos juros, se fixada pelas partes
Especificações da coisa dada em garantia
 
Somente com o registro é que a garantia se torna real e passa a produzir os efeitos típicos de
um direito real.
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No caso dos direitos reais de garantia constituídos sobre imóveis, o art. 1.227 do Código Civil
exige o registro no Cartório de Registro de Imóveis do ato constitutivo. Além disso, caso o
imóvel tenha valor superior a 30 salários-mínimos, o art. 108 do Código Civil exige que o ato
constitutivo seja celebrado em instrumento particular. Este é o caso da hipoteca, que só terá
eficácia se for registrada na matrícula do imóvel. Já os direitos reais de garantia constituídos
sobre bens móveis (por exemplo: penhor e propriedade fiduciária) devem ser registrados em
Cartório de Títulos e Documentos. Não precisam ser, obrigatoriamente, constituídos por
escritura pública, mas deverão ser constituídos por instrumento particular porque só assim é
possível proceder ao registro.
Feito o registro do ato constitutivo no cartório competente, tem origem o direito real de garantia.
Sendo um direito real, tem eficácia real, um conjunto de efeitos próprios dos direitos reais que
configuram a vantagem de se constituir uma garantia desse tipo.
Os efeitos reais produzidos por esses direitos reais de garantia podem ser assim
sistematizados:
AMBULACRARIEDADE (OU AMBULATORIEDADE)
O direito real adere à coisa e a acompanha onde quer que esteja e com quem quer que esteja.
SEQUELA
É o poder do titular do direito de tomar a coisa de quem a tenha para exercer seus poderes.
EXCUSSÃO
É o poder do credor hipotecário e do credor pignoratício de levar a coisa dada em garantia à
venda, judicial ou extrajudicialmente (quando esta for cabível); é a possibilidade de promover a
execução judicial da dívida com a tomada da coisa para ser levada à hasta ou a leilão públicos.
PREFERÊNCIA
O credor anticrético, pignoratício, fiduciário e hipotecário tem preferência em receber os valores
da sua dívida em relação a outros credores que não constituíram a garantia real, ainda que sua
dívida seja mais recente que a dívida de um credor quirografário ou garantido por fiança. Além
disso, existe uma preferência dentro das próprias garantias reais, que é, na verdade, uma
ordem de prioridade: aquele credor que primeiro registrou seu direito real de garantia tem
prioridade no pagamento da sua dívida em relação a outros credores anticréticos, pignoratícios,
fiduciários e hipotecários que registraram seu direito posteriormente, ainda que sua dívida seja
temporalmente mais recente.
INDIVISIBILIDADE
O pagamento de uma ou mais prestações da dívida não importa exoneração correspondente
da garantia, ainda que esta compreenda vários bens, salvo disposição expressa no título ou na
quitação (art. 1.421 do Código Civil). De igual maneira, os herdeiros do devedor não podem
remir parcialmente o penhor ou a hipoteca na proporção dos seus quinhões, mas qualquer um
deles pode remir no todo (art. 1.429).
PENHOR
Primeiramente, não confunda “penhor” com “penhora”.
Penhor
O penhor é um direito real constituído voluntariamente para garantir uma dívida. No penhor, a
venda da coisa é feita pelo próprio credor.

Penhora
A penhora é o ato de constrição judicial de bens na execução ou no cumprimento de sentença,
ou seja, é um ato processual de apreensão de bens pertencentes a um devedor a fim de que
sejam utilizados para o pagamento de uma dívida. Na penhora, a coisa é vendida
judicialmente.
 
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O penhor é um direito real que incide sobre uma coisa móvel pertencente a um devedor a fim
de que tal coisa seja utilizada para o pagamento da dívida.
 
Imagem: Shutterstock.com
O objeto do penhor é uma coisa móvel, inclusive os semoventes (animais). Joias, veículos,
máquinas, frutos colhidos, títulos de crédito, gado e eletrodomésticos podem ser objetos de
penhor.
 
Imagem: Shutterstock.com
Quando se constitui um penhor, diz-se que a coisa objeto do penhor está “empenhada”, ou
seja, uma coisa empenhada é aquela sobre a qual incide um direito real de penhor.
O penhor é criado em um contrato ou em uma cláusula de um contrato e tem como objetivo
utilizar o bem dado em garantia para a quitação da dívida, caso o devedor não a faça. A coisa
é vendida e os valores obtidos são destinados ao pagamento da obrigação. Se houver saldo
remanescente, será entregue ao devedor; e, se o valor da venda não for suficiente para quitar
o débito, o devedor continua obrigado a pagar o saldo devedor.
O credor garantido por um penhor é chamado de “credor pignoratício”; o devedor que oferece
coisa sua para o penhor é designado “devedor pignoratício”.
Existem dois tipos de penhor que podem ser assim sistematizados:
Penhor convencional Penhor legal
É constituído por meio de um negócio
jurídico celebrado entre o credor e o
devedor. Deve ser levado a registro no
Registro de Títulos e Documentos.
Essa modalidade se subdivide em duas
subcategorias:
Penhor comum: aquele em que há a
transferência da coisa do devedor
para o credor.
Penhor especial: são situações
específicas nas quais a lei prevê um
regime jurídico próprio, com normas
específicas, e nos quais não exige,
necessariamente, a entrega da coisa
ao credor; é o caso do penhor de
títulos de crédito, rural, industrial,
mercantil e de veículos.
São situações em que a lei considera
determinada pessoa como sendo
credor pignoratício, independentemente
de contrato entre tal credor e devedor.
Este caso se dá nas seguintes
situações do art. 1.467 do Código Civil,
em que serão considerados credores
pignoratícios:
Os hospedeiros, ou fornecedores
de pousada ou alimento, sobre
bagagens, móveis, joias ou
dinheiro que seus consumidores
ou fregueses tiverem consigo nas
respectivas casas ou
estabelecimentos, pelas
despesas ou consumo que aí
tiverem feito.
O dono do prédio rústico ou
urbano, sobre os bens móveis
que o rendeiro ou inquilino tiver
guarnecendo o mesmo prédio,
pelos aluguéis ou rendas.
Nesses casos, o credor poderá tomar
em garantia um ou mais objetos até o
valor da dívida. Porém, o credor deve
tomar a coisa e imediatamente requerer
a homologação judicial do penhor.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Diferenças entre penhor convencional e penhor legal. 
Elaborado por: Gilberto Fachetti.
De acordo com o caput do art. 1.431 do Código Civil, a regra é que a coisa objeto do penhor
fique na posse do credor: “Constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que, em
garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma
coisa móvel, suscetível de alienação. [...]”.
Contudo, o parágrafo único do art. 1.431 estabelece uma exceção a essa regra, ou seja,
situações em que a coisa empenhada permanecerá com o devedor: “No penhor rural,
industrial, mercantil e de veículos, as coisas empenhadas continuam em poder do devedor, que
as deve guardar e conservar”.
O credor terá a posse nos casos de penhor comum, de direitos e de título de créditos; já o
devedor permanece na posse da coisa quando o penhor for rural, agrícola, pecuário, veículo,
industrial e mercantil.
Ter a posse não significa dizer que o credor pignoratício poderá usar e usufruir da coisa; ele
apenas a guarda e a conserva. O objetivo de dar a posse ao credor é facilitar que este a tenha
em mãos para uma possível venda diante do inadimplemento do devedor. Uma vez paga a
dívida, o credor deve restituir a coisa ao devedor.
 
Foto: Shutterstock.com
Embora o penhor seja um direito real constituídosobre coisa móvel, o que afastaria a aplicação
do art. 1.227, o título que o constitui deve ser registrado no Cartório de Títulos e Documentos,
para fins de publicidade e de salvaguarda de direitos, conforme o art. 1.432: “O instrumento do
penhor deverá ser levado a registro, por qualquer dos contratantes; o do penhor comum será
registrado no Cartório de Títulos e Documentos”.
A seguinte tabela destina-se a sistematizar as características principais dos penhores
especiais:
Tipo de
penhor
Código
Civil
Características
Rural
Arts.
1.438 a
1.441
É um gênero de penhor que envolve coisas resultantes de
matéria agrícola, pecuária, extrativista e outras, enfim,
atividades tipicamente do campo. Aqui, o penhor tem um
prazo limitado de dois anos, podendo ser prorrogado por
igual período. 
Aqui, as coisas penhoradas ficam na posse do devedor.
Agrícola Arts. É uma espécie de penhor rural, com disciplina própria.
1.442 e
1.443
Envolve colheitas, madeiras, frutos, máquinas e insumos.
Pecuário
Arts.
1.444 a
1.446
Também é uma espécie de penhor rural, com disciplina
própria. Refere-se a animais de criação de uma propriedade
rural (gado de corte e leiteiro, aves, suínos, outros animais
de pastoreio). Caso ocorra a morte ou o desaparecimento
de algum animal no período de vigência do penhor, deve ele
ser substituído no instrumento que foi registrado. Além
disso, a venda de qualquer dos animais pelo devedor deve
ser expressamente consentida pelo credor pignoratício.
Industrial
e
mercantil
Arts.
1.447 a
1.450
É aquele que recai sobre equipamentos de atividades
industriais ou comerciais, inclusive abrangendo os produtos
dessas atividades. Para a alienação dos bens e dos
produtos, o devedor necessita da autorização expressa do
credor. Vendendo ou perecendo a coisa, esta deve ser
substituída por bens semelhantes.
Direitos
e títulos
de
crédito
Arts.
1.451 a
1.460
Títulos de crédito são ordens de pagamento assinadas em
documento escrito em favor de alguém. Os exemplos
principais são o cheque, a duplicata e a nota promissória. É
possível que um desses títulos seja retido pelo credor, o
qual poderá compensá-lo junto ao banco ou ao devedor do
título, como forma de receber os valores devidos pelo
devedor pignoratício. Por esta razão, nesta modalidade de
penhor, o título fica na posse do credor pignoratício.
Veículos
arts.
1.461 a
1.466
Abrange qualquer tipo de veículo automotor, o qual, antes
da constituição do penhor, deve ser segurado contra furto e
roubo e danos praticados envolvendo terceiros.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Direitos e deveres no penhor. 
Elaborado por: Gilberto Fachetti.
Todas essas modalidades precisam ser registradas no Registro de Títulos e Documentos, pois,
do contrário, não produzem a eficácia real típica dos direitos reais, sendo apenas instrumentos
de prova da existência do débito.
 
Foto: Lais Monteiro / Shutterstock.com
 Unidade da Caixa Econômica Federal em São Paulo.
Há, ainda, o “penhor de joias”, que é uma modalidade que somente pode ser praticada pela
Caixa Econômica Federal, que detém seu monopólio (Decreto-Lei nº 759/1969 e Decreto nº
7.973/2013).
Quanto aos direitos e aos deveres recíprocos entre o devedor pignoratício e o credor
pignoratício, eles estão previstos nos arts. 1.433 a 1.435 do Código Civil e podem ser assim
sistematizados:
Devedor pignoratício Credor pignoratício
Direitos
Ter a coisa
restituída, junto
dos frutos, em
caso de
pagamento
voluntário da
dívida.
Ter a posse da coisa dada em penhor
(exceto nas hipóteses de penhor rural,
industrial, mercantil e de veículos);
Exercer direito de retenção da coisa
até a quitação total das despesas que
teve para a conservação da coisa;
Defender a posse
da coisa contra
moléstia de
terceiro.
Defender a coisa
em caso de má
conservação pelo
credor.
Vender a coisa ou promover a
execução judicial;
Apropriar-se dos frutos;
Promover a venda antecipada,
mediante prévia autorização judicial,
sempre que haja receio fundado de
que a coisa empenhada se perca ou
deteriore;
Resilir o penhor, ou seja, renunciá-lo,
extingui-lo;
Proceder à proteção possessória da
coisa.
Deveres
Garantir posse
pacífica da coisa
pelo credor.
Pagar a dívida.
Ressarcir ao dono da coisa pela perda
ou deterioração de que for culpado.
Dar compensação ou abatimento sobre
o valor da dívida em caso de perda ou
de deterioração da coisa de que for
culpado, se o devedor assim preferir.
Defender a posse da coisa empenhada
e dar ciência, ao dono dela, das
circunstâncias que tornarem
necessário o exercício de ação
possessória.
Compensar despesas de guarda e
conservação, juros e capital da
obrigação garantida ao valor dos frutos
de que se apropriar.
Restituir a coisa quando da quitação
voluntária da dívida pelo devedor.
Entregar o saldo remanescente, se
houver, em caso de venda da coisa
empenhada.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Direitos e deveres no penhor. 
Fonte: Gilberto Fachetti.
Os arts. 1.436 e 1.437 do Código Civil tratam da extinção do penhor, enumerando as seguintes
hipóteses:
EXTINÇÃO DO DÉBITO QUE ENSEJOU O PENHOR
Se a dívida do devedor for paga, não se justifica a manutenção do penhor; ele é extinto e a
coisa restituída ao devedor.
PERECIMENTO DA COISA
Ocorre quando a coisa se deteriora, de modo que deixa de existir ou perde seu valor e sua
utilidade. Se o perecimento ocorreu por culpa do credor, este deverá indenizar o devedor ou,
então, compensar o prejuízo que causou com abatimento do valor da dívida.
RENÚNCIA PELO CREDOR
É a resilição unilateral do contrato de penhor pelo credor (art. 474 do Código Civil). A renúncia
do credor é presumida quando ele consentir com a venda da coisa, quando restituir a sua
posse ao devedor ou quando concordar com a substituição do penhor por outra garantia.
CONFUSÃO
Após a constituição do penhor, por algum motivo, o credor se tornará proprietário da coisa
empenhada (por exemplo: é herdeiro do devedor e, morrendo este, torna-se proprietário dos
bens por ele deixados). Se, porém, essa confusão não for suficiente para saldar a dívida
totalmente, então o penhor não será extinto e seguirá vigente quanto ao resto da dívida que
precisa ser quitada.
OCORRENDO A ADJUDICAÇÃO JUDICIAL, A
REMISSÃO OU A VENDA DA COISA EMPENHADA
Feita pelo credor ou por ele autorizada quando a dívida não for paga.
Mas, de acordo com o art. 1.437, a extinção do penhor somente ocorrerá efetivamente (ou
seja, produzirá efeitos) depois de averbado o cancelamento do registro no Cartório de Títulos e
Documentos, devendo-se apresentar a respectiva prova do fato que enseja a extinção.
HIPOTECA
A hipoteca é um direito real de garantia que incide sobre bem imóvel (ou bem equiparado por
lei a imóvel). Caso o devedor não pague sua dívida, o credor hipotecário tem o direito de
executar judicialmente o imóvel hipotecado e utilizar o valor obtido na venda judicial para saldar
a dívida.
Já que seu objeto é um imóvel, não há necessidade de a posse da coisa ser entregue ao
credor, como ocorre no penhor e na anticrese (afinal, a coisa sempre estará ali).
Evidentemente, essa imobilidade não existe nas coisas equiparadas a imóveis (por exemplo:
aeronaves e embarcações, que podem ser objeto de hipoteca), mas, mesmo assim, a posse da
coisa permanece com o devedor.
A hipoteca tem um prazo máximo de duração, qual seja, 30 anos, conforme art. 1.485 do
Código Civil: “Mediante simples averbação, requerida por ambas as partes, poderá prorrogar-
se a hipoteca, até 30 (trinta) anos da data do contrato. Desde que perfaça esse prazo, só
poderá subsistir o contrato de hipoteca reconstituindo-se por novo título e novo registro; e,
nesse caso, lhe será mantida a precedência, que então lhe competir”. Mas o contrato que cria a
hipoteca pode fixar outro prazo, desde que inferior a 30 anos. Esse prazo é chamado de
perempção.Foto: Shutterstock.com
Transcorridos os 30 anos, a hipoteca é extinta e, consequentemente, a dívida não estará mais
garantida com a coisa anteriormente hipotecada. O credor hipotecário, então, torna-se um
credor quirografário, ou seja, sem garantias e que tem apenas um título representativo da
dívida.
Caso o credor e o devedor queiram reestabelecer a hipoteca, deverão iniciar todo o processo
de constituição novamente.
 
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Existem três tipos de hipoteca:
HIPOTECA CONVENCIONAL
HIPOTECA LEGAL
HIPOTECA JUDICIAL OU JUDICIÁRIA
Instituída voluntariamente entre devedor e credor por meio de negócio jurídico, sendo levada a
registro no Registro Geral de Imóveis (RGI).
São hipóteses em que a lei fixa uma hipoteca de pleno direito. Para produzir efeito, precisa ser
reconhecida judicialmente e registrada mais tarde no RGI. As hipóteses estão previstas no art.
1.489 e são conferidas:
Às pessoas de direito público interno: sobre os imóveis pertencentes aos
encarregados da cobrança, guarda ou administração dos respectivos fundos e rendas.
Aos filhos: sobre os imóveis do pai ou da mãe que constituírem novo casamento (com
outras pessoas) sem antes fazer o inventário e a partilha do casal.
Ao ofendido ou aos seus herdeiros: sobre os imóveis do ofensor (“delinquente”), para
indenização do dano causado pelo ato ilícito e pelo pagamento das despesas judiciais.
Ao coerdeiro: sobre o imóvel adjudicado ao herdeiro reponente, para garantia do seu
quinhão ou torna da partilha.
Ao credor: sobre o imóvel arrematado, para garantia do pagamento do restante do preço
da arrematação.
Obs.: À époccmóvel do tutor e do curador, respectivamente, enquanto durar a tutela e a
curatela (art. 1.188); o CPC/2015 não repetiu essa modalidade de hipoteca legal.
Constituída pelo juiz na execução de uma dívida, como forma de garantia para o exequente.
De acordo com o art. 495 do Código de Processo Civil, a decisão que condenar o réu ao
pagamento de prestação consistente em dinheiro e a que determinar a conversão de prestação
de fazer, de não fazer ou de dar coisa em prestação pecuniária valerão como título constitutivo
de hipoteca judiciária.
REPONENTE
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Reponente é o herdeiro que está obrigado a “repor” a herança que recebeu em excesso
sobre a parte disponível do doador ou do testador.
O art. 1.473 do Código Civil fixa aqueles que podem ser os bens objeto de hipoteca. Antes de
sistematizá-los, porém, é importante que você saiba que direitos também podem ser objeto de
hipoteca. Isso se deve ao fato de que o inciso I do art. 80 do Código Civil considera bens
imóveis, para os efeitos legais, os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram.
Então, direitos reais sobre coisas imóveis também são bens hipotecáveis, conforme a seguinte
sistematização:
Bens
hipotecáveis
Descrição
Imóveis e
acessórios
É o solo e tudo o que a ele adere, como construções e plantações. A
hipoteca abrange todas as acessões, melhoramentos ou construções
do imóvel.
Domínio
direto
O exercício do domínio pode ser desdobrado em direto e útil. O
domínio direto é a propriedade formal do imóvel, em que o titular se
mantém proprietário, porém não usufrui da coisa.
Domínio útil
Domínio útil é aquele que permite a fruição de uma coisa; seu titular
tem a plena utilização do bem.
Estradas de
ferro
A hipoteca de via férrea está prevista nos arts. 1.502 a 1.505 do
Código Civil. A hipoteca será circunscrita à linha ou às linhas
especificadas na escritura e ao respectivo material de exploração. Os
credores hipotecários poderão se opor à venda da via ou de suas
linhas e de seus ramais. Na execução das hipotecas férreas, a União
ou o estado serão intimados, para, em até 15 dias, remir a estrada de
ferro hipotecada, pagando o preço da arrematação ou da adjudicação
(ou seja, basicamente, pagando a dívida e adquirindo a via férrea).
Recursos
naturais a
que se refere
o art. 1.230
O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos minerais
de emprego imediato na construção civil.
Navios
São grandes embarcações para transporte de cargas e passageiros.
Não é qualquer embarcação que pode ser objeto de hipoteca, pois a
lei restringe aos navios. Assim, lanchas, barcos de pesca e outros
barcos de pequeno porte não podem ser objeto de hipoteca.
Aeronaves
São máquinas de voo. Levantam e mantêm voo por seus próprios
meios. O conceito inclui aviões, aviões de turboélices, jatos,
helicópteros, planadores etc.
Direito de
uso especial
para fins de
moradia
É a regularização ou a concessão do direito de usar bens públicos
para morar. A hipoteca não recai sobre o bem público, mas sobre o
direito de usar um bem público para constituir moradia.
Direito real
de uso
É o direito que o proprietário de um imóvel dá a outra pessoa para
que esta utilize o bem sem dele usufruir, ou seja, sem dele retirar os
frutos e comercializá-los. Pode-se usufruir o necessário para a
subsistência, mas nunca para fins de lucro (por isso, é chamado de
“usufruto anão”). Esse direito que o usuário adquire sobre a coisa de
alguém pode ser levado à hipoteca em favor de um terceiro, no caso,
o credor do usuário em alguma dívida.
Propriedade
superficiária
A propriedade superficiária é o domínio útil do superficiário. A obra ou
a plantação realizada pelo superficiário, quando da constituição de
um direito real de superfície constitui a propriedade superficiária, a
qual pode ser levada a hipoteca em favor de um credor do
superficiário.
Direitos
oriundos da
imissão
provisória na
posse
Porém, somente quando concedida à União, aos estados, ao Distrito
Federal, aos municípios ou às suas entidades delegadas e respectiva
cessão e promessa de cessão.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Coisas hipotecáveis. 
Elaborado por: Gilberto Fachetti.
Importante destacar que, sendo a hipoteca um direito real (de garantia), ela produz como efeito
a sequela. Por causa disso, caso o devedor aliene o imóvel a um terceiro, o credor hipotecário
poderá excutir o bem, tomando do terceiro e vendendo judicialmente. Não há que se falar em
proteção da boa-fé do adquirente, pois esse terceiro adquirente tem conhecimento da
constituição da hipoteca, uma vez que esta está registrada no Cartório de Registro de Imóveis
(eis a importância da publicidade).
Por isso, nada justificaria proibir a alienação do bem hipotecado.
 
Foto: Shutterstock.com
Primeiro, porque a sequela permitirá que o credor hipotecário alcance seus objetivos
normalmente.
 
Foto: Shutterstock.com
Segundo, porque o terceiro assume o risco de perder a coisa, afinal, consegue prevê-la ao
tomar conhecimento da hipoteca registrada no RGI.
Assim, o caput do art. 1.475 estabelece que é nula a cláusula que proíbe ao proprietário alienar
imóvel hipotecado, embora possam as partes convencionar que vencerá o crédito hipotecário
se o imóvel for alienado (parágrafo único).
Agora, pense nas seguintes hipóteses:
 
Imagem: Shutterstock.com
O proprietário de uma casa avaliada em R$50 mil constitui hipoteca por causa de uma dívida
R$30 mil (empréstimo bancário). Observe que, diante do inadimplemento, se o credor
hipotecário executar o imóvel, o valor da venda é suficiente para pagar a dívida, as perdas, os
danos e os juros, e ainda haverá, provavelmente, um remanescente a ser entregue ao devedor.
Assim, nada impediria que, por exemplo, o devedor hipotecário constituísse uma segunda
hipoteca com um segundo credor para uma outra dívida, mesmo que esta tenha valor superior
a R$20 mil (diferença entre o valor da casa e o valor da primeira dívida).
 
Imagem: Shutterstock.com
O proprietário de uma casa avaliada em R$100 mil constitui hipoteca por causa de uma dívida
de R$100 mil. Havendo inadimplemento, a casa é levada à venda e a dívida será paga. Mesmo
que o valor do imóvel e o valor da dívida sejam equivalentes, nada impede a constituição de
uma segunda hipoteca comum segundo credor para uma segunda dívida, afinal, pode ser que
uma dívida seja paga voluntariamente e a outra fique garantida pela hipoteca.
Essas situações descritas foram apreciadas pelo legislador, uma vez que o art. 1.476 prevê
que o dono do imóvel hipotecado pode constituir outra hipoteca sobre ele, mediante novo título,
em seu favor ou de outro credor. Essa situação é conhecida como pluralidade de hipotecas,
que consiste na possibilidade de constituir duas ou mais hipotecas sobre o mesmo bem imóvel.
Havendo pluralidade de hipotecas, haverá uma preferência ou prioridade entre elas a depender
da ordem de registro de título no Cartório de Registro de Imóveis.
Veja o exemplo:

X constitui uma primeira hipoteca em favor do credor Y no dia 01/04/2020.
Em 01/06/2020, constitui uma segunda hipoteca com o credor K.


O credor K registra a hipoteca no dia 15/06/2020.
E o credor Y registra no dia 30/06/2020.

Nesse caso, embora constituída em data posterior, a segunda hipoteca terá preferência e
prioridade em relação à primeira. Isso significa dizer que a segunda hipoteca terá o direito de
ser executada antes da primeira hipoteca, se necessário for.
Uma hipoteca gera efeitos inter pars (entre credor e devedor hipotecários) e erga omnes
(perante terceiros).
Veja a sistematização:
Efeitos da hipoteca
Para o
credor
O principal efeito é a criação do direito de excussão, ou seja, o poder de
executar o imóvel para saldar a dívida (ou parte dela) com o valor
auferido em venda. 
O credor hipotecário tem preferência no recebimento do valor em relação
aos credores quirografários ou com garantia fidejussória, ainda que sua
dívida tenha sido constituída posteriormente àquelas. E entre credores
hipotecários, o credor que primeiro registrou tem preferência em relação
aos credores que registraram posteriormente.
Para o Tem o direito de usufruir da coisa, mas também passa a ter o dever de
devedor conservar o imóvel para garantir a melhor venda possível em caso de
execução. Assim, deve ser mais diligente para evitar perecimento e/ou
depreciação do bem.
Para
terceiros
Não pode alegar boa-fé quanto ao desconhecimento de uma hipoteca,
pois, ao negociar sobre o imóvel, tem que ter a diligência de obter as
certidões negativas de ônus real no Cartório de Registro de Imóveis. 
O terceiro que adquire o imóvel em hasta pública tem direito à
adjudicação e à imissão na posse, caso o devedor se recuse a entregar o
imóvel voluntariamente.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Efeitos da hipoteca. 
Elaborado por: Gilberto Fachetti.
A hipoteca será extinta nas seguintes hipóteses (arts. 1.499 a 1.501):
Remição: é o resgate da hipoteca, que ocorre quando há o pagamento da dívida; também é
chamada de “remir a hipoteca”.
Extinção da dívida: por motivos que não sejam o pagamento.
Resilição: o credor, unilateralmente, extingue a hipoteca.
Perecimento da coisa: ocorre nos casos dos bens corpóreos e consiste na destruição da
coisa, ou seja, a perda de utilidade e de valor.
Arrematação ou adjudicação: ocorre na venda em hasta pública.
Resolução da propriedade: para os casos de propriedade resolúvel; ocorre com o
implemento da condição resolutiva ou do termo final que condiciona a existência da
propriedade.
Desapropriação do imóvel: feita pela Administração Pública.
Confusão: o credor hipotecário ou o devedor hipotecário tornam-se credor e devedor de si
mesmos; ocorre, por exemplo, quando o credor é herdeiro do devedor e a herança terá que
pagar a dívida ao próprio herdeiro.
A extinção, porém, só produz efeitos com a averbação no Registro de Imóveis apresentando a
prova da ocorrência do motivo que levou à extinção da hipoteca.
ANTICRESE
A anticrese é um direito real que autoriza o credor a receber a posse de uma coisa imóvel
pertencente ao devedor para perceber os frutos e os produtos desse imóvel e abater o valor
desses frutos e produtos do valor da dívida. Essa é a definição do caput do art. 1.506 do
Código Civil: “Pode o devedor ou outrem por ele, com a entrega do imóvel ao credor, ceder-lhe
o direito de perceber, em compensação da dívida, os frutos e rendimentos”.
Por isso, a anticrese também é chamada, por vezes, de “consignação de rendimentos”.
Haverá desdobramento da posse quando:
DEVEDOR/PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL
Passa a ter a posse indireta.
CREDOR/USUFRUTUÁRIO DOS RENDIMENTOS
Passa a ter posse direta e, consequentemente, poderá auferir os benefícios (frutos, produtos e
rendimentos) que o imóvel proporcional.
A anticrese confere ao credor o direito de retenção da coisa até a compensação da dívida (§ 2º
do art. 1.507).
Sendo direito real constituído sobre bem imóvel, requer:
Registro no Cartório de Registro de Imóveis (art. 1.227 do Código Civil).
Escritura pública, caso o valor do imóvel seja superior a 30 salários-mínimos (art. 108 do
Código Civil).
Na anticrese, o credor anticrético tem direito sobre os frutos e os produtos, e não sobre a coisa
principal que gera os frutos e os produtos. Por isso, nada impede a hipoteca ou a execução da
coisa principal, devendo o credor anticrético se opor à execução.
Pode-se afirmar, então, que a anticrese dá ao credor anticrético o direito de usufruto sobre o
imóvel, sendo a fruição uma forma de pagar a dívida inadimplida.
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 EXEMPLO
O devedor cede um imóvel de sua propriedade para o credor e este realiza a locação do imóvel
para terceiro. Os alugueres pagos pelo terceiro são frutos, do tipo civil (rendimentos), e serão
apropriados pelo credor. A cada aluguel recebido o credor desconta o valor do total da dívida.
Essa situação não pode perdurar por mais de 15 anos (art. 1.423).
Agora, preste atenção ao art. 1.428: “É nula a cláusula que autoriza o credor pignoratício,
anticrético ou hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga no
vencimento”. O credor anticrético não pode tomar a propriedade do imóvel para si como forma
de pagamento. Porém, isso não significa dizer que ele não possa se apropriar dos frutos e dos
produtos. Ou seja, ele nunca poderá ser dono do imóvel, mas será dono dos frutos quando os
perceber. Até porque não faria sentido o credor ter que providenciar a venda ou a execução
judicial de frutas de uma plantação, pois até se realizar a venda as frutas pereceriam. Então, o
credor se apropria das frutas e pode vendê-las por sua conta.
Mas a anticrese não se destina somente ao pagamento da dívida; é possível que seja
constituída para pagamento de juros, seja só para isto ou também para aquilo (§ 1º do art.
1.506).
 
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Os seguintes fatores extinguem a anticrese:
Perecimento da coisa.
Pagamento da dívida.
Resilição unilateral pelo credor anticrético (renúncia).
Quando o credor anticrético não se opõe que outro credor execute o imóvel principal.
Falência do devedor.
Desapropriação administrativa ou judicial do imóvel.
Transcurso do prazo de 15 anos desde a constituição da anticrese (art. 1.423).
Quanto aos direitos e aos deveres recíprocos entre devedor e credor, eles podem ser assim
sistematizados:
Devedor Credor
Direitos
Ter a coisa
restituída em
caso de
pagamento
voluntário da
dívida.
Defender a
posse da coisa
contra
moléstia de
terceiro.
Defender a
coisa em caso
de má
conservação
pelo credor.
Ter a posse da coisa dada em anticrese.
Exercer direito de retenção da coisa até a
quitação total da dívida, dos juros e de
outras despesas.
Vender os frutos e os produtos.
Apropriar-se dos frutos.
Resilir a anticrese, ou seja, renunciá-lo,
extingui-lo.
Proceder à proteção possessória da coisa.
Deveres Garantir posse
pacífica da
coisa pelo
credor.
Pagar a
dívida.
Ressarcir ao dono da coisa pela perda ou
deterioração de que for culpado.
Dar compensação ou abatimento sobre o
valor da dívida.
Defender a posse da coisa empenhada e
dar ciência, ao dono dela, das
circunstâncias que tornarem necessário o
exercíciode ação possessória.
Restituir a coisa quando da quitação da
dívida.
 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal
Quadro: Direitos e deveres na anticrese. 
Elaborado por: Gilberto Fachetti.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. É DIREITO DO CREDOR HIPOTECÁRIO:
A) Não autorizar a constituição de uma nova hipoteca sobre a coisa em favor de terceiro.
B) Proibir que o proprietário aliene o imóvel hipotecado.
C) Apropriar-se dos frutos da coisa empenhada e que se encontra em seu poder.
D) Declarar vencido o crédito hipotecário se o imóvel for alienado, caso haja convenção neste
sentido no contrato que constituiu a hipoteca.
E) Prorrogar a hipoteca por no máximo 20 anos da data do contrato.
2. NÃO É UMA GARANTIA REAL:
A) A propriedade fiduciária
B) A anticrese
C) A hipoteca
D) O penhor
E) A penhora
GABARITO
1. É direito do credor hipotecário:
A alternativa "D " está correta.
 
Na hipoteca, o credor não tem a posse da coisa e a garantia não recai sobre os frutos (neste
caso, seria anticrese). Pelo art. 1.476, o dono do imóvel hipotecado pode constituir outra
hipoteca sobre ele, mediante novo título, em favor do mesmo ou de outro credor,
independentemente de autorização. O art. 1.475 diz que é nula a cláusula que proíbe ao
proprietário alienar imóvel hipotecado. A alternativa D é verdadeira por causa do parágrafo
único do art. 1.475: “Pode convencionar-se que vencerá o crédito hipotecário, se o imóvel for
alienado”. De acordo com o art. 1.485, o prazo de prorrogação é de 30 anos.
2. Não é uma garantia real:
A alternativa "E " está correta.
 
A penhora é um ato processual, de execução; não é uma garantia real. A garantia real é um
direito real e é constituído voluntariamente. A penhora é um ato judicial-processual de
constrição de bens para quitação de dívida.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este conteúdo foi destinado a demonstrar como devem ser constituídos e quais as
consequências da constituição no que se refere aos direitos reais de servidão, propriedade
fiduciária, hipoteca, penhor e anticrese.
A abordagem realizada teve como objetivo apresentar não somente aspectos teóricos, mas
também e, principalmente, os aspectos práticos.
É preciso ter em mente que as garantias reais são uma das principais matérias discutidas em
ações judiciais. Logo, é um campo fértil de atuação profissional.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
DINIZ, M. H. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 4 – Direito das Coisas. 34. ed. São Paulo:
Saraiva, 2020.
FARIAS, C. C. de; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil. Vol. 5 – Reais. 17. ed. Salvador:
Juspodivm, 2021.
GOMES, O. Direitos reais. 21. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2012.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil Brasileiro. Vol. 5 – Direito das Coisas. 16. ed. São Paulo:
Saraiva, 2021.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos explorados neste conteúdo, leia os seguintes artigos:
CARRASCOSA, G. L. Z.; FERNANDES, A. C.; CORDAZZO, K. As vantagens da
alienação fiduciária em face da hipoteca. Revista Jurídica Direito, Sociedade e Justiça,
vol. 6, n. 8, 2019.
Esse texto apresenta as principais características dos dois direitos e apresenta elementos para
a melhor escolha da modalidade, a depender da situação.
KRIGER FILHO, D. A. Efeitos da hipoteca em face do usucapião. Jurisprudência
Catarinense, Florianópolis, v. 31, n. 108-109, 2005.
O artigo faz uma importante relação entre hipoteca e usucapião, dois institutos muito comuns
e cuja relação pode ser problemática.
PEREIRA, A. G. D. Servidões prediais e obrigações propter rem. Repositório científico
da UC. Coimbra, 2003.
Embora seja um texto sobre a servidão no Direito português, o regime jurídico português e
brasileiro se aproximam. Contudo, o mais importante são os conceitos fundamentais que o
autor desenvolve.
SOUZA, A. S. R. Anticrese: direito real de garantia ou forma especial de pagamento?
Revista da Faculdade Mineira de Direito – PUC Minas, v. 12, n. 24, p. 22-30, 2009.
Ao discutir a essência da anticrese, o autor aborda vários elementos que demonstram a
operabilidade do instituto.
USUCAPIÃO
Atenção: A partir do Código Civil de 2002, a flexão de gênero da palavra “usucapião” é
no feminino, e não no masculino.
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CONTEUDISTA
Gilberto Fachetti Silvestre

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