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4- MANDADO DE SEGURANÇA

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DESCRIÇÃO
As lições introdutórias e noções gerais do mandado de segurança.
PROPÓSITO
Compreender as noções básicas a respeito do mandado de segurança, remédio constitucional
de grande importância para a obtenção de uma proteção em face de lesão ou ameaça
provocada por atos de autoridade.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos a Constituição Federal, o Código de Processo
Civil e a Lei do Mandado de Segurança (Lei n. 12.016 de 2009).
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os principais elementos conceituais do mandado de segurança
MÓDULO 2
Reconhecer os pressupostos e o procedimento do mandado de segurança
MÓDULO 3
Identificar o conteúdo da sentença e o regime da coisa julgada
INTRODUÇÃO
Abordaremos os principais elementos referentes ao mandado de segurança. No primeiro
módulo, veremos o conceito, a natureza e a legitimidade para propositura do mandado de
segurança; no segundo módulo, estudaremos seus pressupostos e procedimentos e,
finalmente, no terceiro módulo, a análise será feita a respeito da sentença e da coisa julgada
no mandado de segurança.
MÓDULO 1
 Identificar os principais elementos conceituais do mandado de segurança
CONCEITO E NOÇÕES GERAIS
O mandado de segurança, também conhecido em inglês como writ e, em nomenclatura mais
antiga e cada vez em maior desuso, remédio heroico, possui previsão no artigo 5º, incisos LXIX
(mandado de segurança individual) e LXX (mandado de segurança coletivo), ambos da
Constituição Federal, sendo disciplinado pela Lei n. 12.016 de 2009 e, nas suas omissões, pelo
artigo 1º do Código de Processo Civil.
Conceitualmente, o mandado de segurança é o remédio constitucional destinado à proteção de
direito líquido e certo, lesado ou sob ameaça de ilegalidade ou abuso de poder oriundo de
autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
Nas palavras de Hely Lopes Meirelles, o mandado de segurança pode ser conceituado como:

O MEIO CONSTITUCIONAL POSTO À DISPOSIÇÃO DE
TODA PESSOA FÍSICA E JURÍDICA, ÓRGÃO COM
CAPACIDADE PROCESSUAL, OU UNIVERSALIDADE
RECONHECIDA POR LEI, PARA PROTEÇÃO DE
DIREITO INDIVIDUAL, PRÓPRIO, LÍQUIDO E CERTO,
NÃO AMPARADO POR HABEAS CORPUS , LESADO
OU AMEAÇADO DE LESÃO POR ATO DE QUALQUER
AUTORIDADE, SEJA DE QUE CATEGORIA FOR E
SEJAM QUAIS FOREM AS FUNÇÕES QUE EXERÇAM.
(MEIRELLES, 2020, p. 722)
 COMENTÁRIO
A noção de direito líquido e certo será aprofundada no módulo seguinte, ao tratarmos dos
pressupostos e do procedimento do mandado de segurança.
 
Foto: Shutterstock.com
Quanto às espécies, o mandado de segurança pode ser individual, quando impetrado por
apenas uma pessoa natural ou jurídica na defesa de direito ou interesse individual, ou coletivo,
quando proposto por algum dos legitimados pelo artigo 5º, inciso LXX, da Constituição Federal,
na defesa de direitos coletivos (difusos, coletivos em sentido estrito ou individuais
homogêneos, a depender da hipótese):
(A)
Partido político com representação no Congresso Nacional
(B)
Organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associado
Quanto ao marco temporal em relação ao ato de autoridade, o mandado de segurança pode
ser repressivo (quando impetrado com vistas a fazer cessar ato cujos efeitos já estão sendo
produzidos) ou preventivo (quando impetrado para impedir a produção de efeitos de ato de
autoridade já existente, porém ainda ineficaz, ou em vias de existir).
NATUREZA JURÍDICA
O mandado de segurança, do ponto de vista do direito material, possui natureza jurídica de
direito fundamental, tendo em vista sua localização topográfica no rol exemplificativo do artigo
5º da Constituição Federal, que elenca os direitos e garantias fundamentais. Do ponto de vista
do direito processual, o mandado de segurança possui natureza jurídica de procedimento
especial, simplificado em relação ao procedimento comum do Código de Processo Civil,
previsto nos artigos 318 e seguintes do Código, diante da celeridade que deve possuir.
 
Foto: Shutterstock.com
LEGITIMIDADE
A legitimidade ativa para a propositura do mandado de segurança é conferida a qualquer
pessoa natural ou jurídica, seja esta de personalidade jurídica de direito público ou de direito
privado. O Ministério Público e a Defensoria Pública, no exercício de suas funções
institucionais, também são legitimados a propor mandado de segurança.
O autor do mandado de segurança é denominado impetrante. Além disso, doutrina (como
RODRIGUES, 2016) e jurisprudência (STJ, RMS 8.967/SP e súmula 525) reconhecem a
legitimidade ativa de alguns entes despersonalizados para a impetração de mandado de
segurança, tais como condomínios, massa falida, espólio, dentre outros.
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Dentre os entes despersonalizados, assume destaque a legitimidade ativa dos órgãos públicos
para propositura de mandado de segurança. Para que se reconheça sua capacidade
processual e legitimidade ativa para ingressar com o mandado de segurança, exige-se o
preenchimento de dois requisitos cumulativos, a saber:
STJ, RMS 8.967/SP E SÚMULA 525
“A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade
judiciária, somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos
institucionais.”
O órgão deve possuir status constitucional e atuar na defesa de suas prerrogativas
institucionais.
É o caso da Câmara de Vereadores, que pode impetrar mandado de segurança em virtude do
não repasse de verbas que lhe sejam constitucionalmente asseguradas, o que ofende
prerrogativa sua.
 EXEMPLO
No entender da jurisprudência, o falecimento do impetrante antes da prolação da sentença de
mérito acarreta a extinção do processo sem resolução do mérito, considerando que o direito
líquido e certo amparável por meio de mandado de segurança é intransmissível, na forma do
artigo 485, inciso IX, do CPC.
Na hipótese em que o óbito venha a ocorrer após a sentença de mérito, em fase de
cumprimento de sentença, como regra, a solução conferida é diferente, permitindo a
continuidade do processo até a extinção da fase executiva. Isso porque, em havendo
concessão da ordem, a fase de cumprimento se destina a efetivar o direito reconhecido ao
impetrante, direito esse que possui natureza patrimonial e é transmissível aos seus herdeiros.
MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO
No que tange ao mandado de segurança coletivo, o artigo 5º, inciso LXX da Constituição
Federal prevê que ele pode ser impetrado por a) partido político com representação no
Congresso Nacional e b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente
constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associado.
Regulamentando o dispositivo constitucional, o artigo 21 da Lei n. 12.016 de 2009 prevê que,
em relação ao mandado de segurança coletivo impetrado por partido político com
representação no Congresso Nacional, sua impetração é cabível para a defesa de seus
interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária. A título de exemplo,
mandado de segurança impetrado com vistas a compelir o Presidente da Câmara dos
Deputados ao preenchimento de vaga decorrente de renúncia de parlamentar.
Em relação ao mandado de segurança coletivo impetrado por organização sindical, entidade de
classe ou associação legalmente constituída, exige-se, de início, seu funcionamento há, pelo
menos, um ano. O STF entende que o referido requisito é taxativo, de sorte que, na hipótese
em que a associação seja constituída a menos de um ano, há carência de pressuposto
processual positivo, acarretando a extinção do processo sem resolução do mérito.
Em relação ao mandado de segurança coletivo impetrado por associação na defesa de seus
associados, deve-se ter em conta que o artigo 5º, inciso XXI, da Constituição Federal, que
exige autorização expressa dos associados para que a associaçãoatue em juízo em favor de
seus interesses, constituindo hipótese de representação (nessa linha, STF, RE 572232, julgado
sob regime de repercussão geral), não se aplica no caso do mandado de segurança coletivo.
Isso porque o artigo 5º, inciso LXX, alínea “b” da Constituição Federal é norma especial para o
mandado de segurança coletivo, dispensando a exigência de autorização expressa.
Com efeito, em se tratando de mandado de segurança coletivo, o STF entende desnecessária
a autorização expressa ou a relação nominal dos associados para legitimar a atuação em juízo
da associação, posto se tratar, aqui, de hipótese de substituição processual. Por tal razão é
que a Lei n. 12.016 de 2009 dispensa autorização especial na parte final do artigo 21 para que
a associação possa atuar em juízo em sede de mandado de segurança coletivo, dispensa essa
que transformou em lei o entendimento constante da súmula 629 do STF.
Fizemos, então, um resumo da Lei n. 12.016:

PARÁGRAFO ÚNICO
O parágrafo único do artigo 21 da Lei n. 12.016 de 2009 traz o rol de direitos passíveis de
proteção pela via do mandado de segurança coletivo. Destaque-se que a pretensão pode dizer
respeito à totalidade ou à parte da categoria da entidade de classe, entendimento constante da
súmula 630 do STF.
INCISO I
Prevê os direitos coletivos em sentido estrito, quais sejam, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte
contrária por uma relação jurídica básica. É o caso, por exemplo, do direito ao saneamento
básico.


INCISO II
Prevê os direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem
comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou
membros do impetrante. Com efeito, os direitos individuais homogêneos são direitos individuais
que admitem proteção pela via da tutela coletiva. Por exemplo, são direitos decorrentes de
acidentes, de eventos comuns.
Por fim, o mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais,
porém os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não
requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da
ciência comprovada da impetração da segurança coletiva, como prevê o artigo 22, § 1º, da Lei
n. 12.016 de 2009.
Trata-se, com efeito, do sistema right to opt in , também previsto no artigo 104 do Código de
Defesa do Consumidor como regra na tutela coletiva no Direito Brasileiro, segundo o qual o
autor de ação individual pode escolher entre seguir com sua própria ação ou aderir à decisão
coletiva.
RIGHT TO OPT IN
Direito de optar por participar da tutela coletiva.
LITISCONSÓRCIO ATIVO NO MANDADO DE
SEGURANÇA
O mandado de segurança admite expressamente o litisconsórcio no polo ativo. Porém, de
modo a respeitar o direito fundamental ao juiz natural e a duração razoável do processo,
ambos direitos fundamentais, previstos no artigo 5º, incisos LII e LXXVIII, da Constituição
Federal, o ingresso de litisconsorte ativo será admitido somente até o despacho (ou melhor,
decisão de admissibilidade) da petição inicial, na forma do artigo 10, § 2º, da Lei n. 12.016 de
2009.
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LEGITIMIDADE ATIVA DO MANDADO DE
SEGURANÇA
Vamos agora tratar dos principais aspectos da legitimidade ativa no mandado de segurança:
 SAIBA MAIS
A legitimidade passiva no mandado de segurança é conferida à pessoa jurídica de direito
público ou privado que a autoridade coatora integra. A título de exemplo, se o writ for
impetrado em face de ato praticado por Governador de Estado, a legitimidade passiva será do
Estado.
AUTORIDADE COATORA
A autoridade coatora é o agente público ou privado no exercício de função pública responsável
pelo ato atacado no mandado de segurança. Pelo artigo 6º, § 3º, da Lei n 12.016 de 2009,
considera-se autoridade coatora aquela que tenha praticado o ato impugnado ou da qual
emane a ordem para a sua prática.
A autoridade coatora não é parte no mandado de segurança; com efeito, não há litisconsórcio
passivo entre a pessoa jurídica e a autoridade coatora (minoritariamente, entendendo existir
litisconsórcio na hipótese, VIDIGAL, 1953).
A autoridade coatora, embora não seja parte, é notificada para prestar informações, na forma
do artigo 7, inciso I, da Lei n. 12.016 de 2009. As informações se destinam a subsidiar o
convencimento do órgão julgador, não possuindo natureza jurídica de contestação; tanto que
sua apresentação fora do prazo de 10 dias previsto no mesmo dispositivo legal não ocasiona a
revelia da pessoa jurídica ré.
Contudo, diante da possibilidade de que sua esfera jurídica seja atingida e das repercussões
materiais e extrapatrimoniais que poderá sofrer em razão da concessão da ordem, a autoridade
coatora tem o direito de recorrer em face da sentença, conforme dispõe o artigo 14, § 3º, da
Lei n. 12.016 de 2009.
 RESUMINDO
O artigo 1º, § 1º, da Lei n. 12.016 de 2009 prevê que se equiparam às autoridades os
representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas,
bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de
atribuições do poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições. O termo
“autoridades”, com efeito, faz referência às autoridades públicas.
AUTORIDADE COATORA FEDERAL
Pelo artigo 2º da Lei n. 12.016 de 2009, considerar-se-á federal a autoridade coatora se as
consequências de ordem patrimonial do ato contra o qual se requer o mandado houverem de
ser suportadas pela União ou entidade por ela controlada. A previsão tem repercussões na
definição da competência para julgamento do mandado de segurança, tendo em vista que, pelo
artigo 109, inciso VIII, da Constituição Federal, o julgamento de mandado de segurança
impetrado em face de ato de autoridade federal compete à Justiça Federal.
 
Foto: Marcelo Moryan/Shutterstock.com
ERRO NA INDICAÇÃO DA AUTORIDADE
COATORA
Em princípio, verificando erro na qualificação do agente responsável pelo ato atacado, cabe ao
magistrado intimar o impetrante para emendar a petição inicial, na forma do artigo 321 do
Código de Processo Civil, apontando a autoridade correta. Os tribunais, contudo, têm conferido
interpretação restritiva ao dispositivo, somente admitindo a emenda da inicial quando o juízo for
competente para processar e julgar o mandado de segurança impetrado em face da autoridade
coatora correta.
A título de exemplo, a competência para o julgamento de mandados de segurança impetrados
em face de atos do Presidente da República é conferida ao STF, na forma do artigo 102, inciso
I, alínea “d”, da Constituição Federal. Caso o impetrante, ao distribuir seu mandamus , aponte
um Ministro de Estado como autoridade coatora em se tratando de ato praticado pelo
Presidente da República e o proponha perante o STJ, na forma do artigo 105, inciso I, alínea
“d”, da mesma Constituição. Nesse caso, o Tribunal não admite o declínio de competência para
o STF, com a intimação do impetrante para efetuar a emenda da inicial.
TEORIA DA ENCAMPAÇÃO
A teoria da encampação diz respeito à hipótese em que, indicada erroneamente a autoridade
coatora pelo impetrante, que aponta agente público de hierarquia superior como responsável
pelo ato coator, este realiza a defesa do ato impugnado, “encampando” o ato administrativo.
Pela redação da súmula 628 do STJ, a aplicação da teoria da encampação exige o
preenchimento dos seguintes requisitos, cumulativamente:
Existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenou
a prática do ato impugnado
Manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas
Ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal
Imagine, por exemplo, um mandado de segurança impetrado em face de ato praticado por
Auditor Fiscal integrante dos quadros da Secretaria de Fazenda do Estadodo Rio de Janeiro,
no qual o impetrante aponte o Governador do Estado como autoridade coatora. O Chefe do
Poder Executivo, ao ser notificado para apresentar informações, defende o ato impugnado em
seu mérito. Em tal hipótese, é cabível a aplicação da teoria da encampação no mandado de
segurança.
ATOS SUJEITOS À IMPUGNAÇÃO VIA
MANDADO DE SEGURANÇA
O mandado de segurança serve para combater atos eivados de ilegalidade ou abuso de poder,
praticados por autoridade pública ou no exercício de função pública. Dessa definição, é
possível extrair dois elementos necessários para que um ato possa ser impugnado pela via do
mandado de segurança:
ELEMENTO SUBJETIVO
O ato coator deve ter sido praticado por agente público integrante da estrutura de pessoa
jurídica de direito público ou por pessoa jurídica de direito privado ou pessoa natural no
exercício de função pública. É o que dispõe o artigo 1º, caput e seu § 1º da Lei n. 12.016 de
2009, ao equiparar à autoridade coatora os representantes ou órgãos de partidos políticos e os
administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as
pessoas naturais no exercício de atribuições do poder público, somente no que disser respeito
a essas atribuições.
A título de exemplo, ato praticado por comissão de licitação da sociedade de economia mista é
impugnável por meio de mandado de segurança (súmula 333 do STJ), posto se tratar de ato
exercido com função pública, considerando a obrigatoriedade, como regra, de procedimento
licitatório prévio pelas empresas estatais (artigo 28 da Lei n. 13.303 de 2016 c/c artigo 173, §
1º, inciso III, da Constituição Federal).
ELEMENTO OBJETIVO
O ato coator deve ter sido praticado com o exercício de poder de império, ou seja, com o uso
das prerrogativas típicas do regime jurídico administrativo. Por esta razão é que atos praticados
por pessoas jurídicas de direito privado e pessoas naturais por meio do regime jurídico de
direito privado não podem ser impugnados por meio de mandado de segurança.
Da mesma forma, atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas
públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público não estão
sujeitos à impugnação pela via do mandado de segurança, como prevê o artigo 1º, § 2º, da Lei
n. 12.016 de 2009, por não serem praticados com o exercício de poder de império do Estado.
REQUISITO DA SUBSIDIARIEDADE
O mandado de segurança é cabível quando o direito líquido e certo que se pretende defender
não seja amparado por habeas corpus ou habeas data , na forma do artigo 5º, inciso LXIX,
da Constituição Federal. A título de exemplo, se o impetrante deseja combater ato de
autoridade pública que indeferiu seu acesso a informações constantes de bancos de dados de
caráter público, o habeas data será a medida processual adequada para obter tal providência,
na forma do artigo 5º, inciso LXXII, alínea “a”, da Constituição Federal.
Veremos, brevemente, atos em espécie que podem ser impugnados por meio de mandado de
segurança.
ATOS ADMINISTRATIVOS
Os atos administrativos podem ser impugnados por meio de mandado de segurança, sendo
certo que, quantitativamente, a maior parte dos mandados de segurança são impetrados em
face de atos administrativos.
Ao se falar em ato administrativo, está se fazendo menção aos atos praticados no exercício de
função administrativa do Estado, englobando não apenas atos do Poder Executivo, como
também atos praticados pelos demais Poderes de natureza administrativa (a título de exemplo,
concurso público realizado pelo Poder Judiciário – aqui o Judiciário está praticando atos
administrativos para a realização do concurso, ou seja, está exercendo atividade típica
administrativa).
 ATENÇÃO
Pelo artigo 5º, inciso I, da Lei n. 12.016 de 2009, não cabe mandado de segurança em face de
ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução.
Anote-se, de início, que a parte final do dispositivo restou prejudicada em razão da súmula
vinculante 21, que entendeu ser inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento
prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.
A ideia do dispositivo é a de que, em havendo mecanismo processual na esfera administrativa
para fazer cessar a ilegalidade ou o abuso de poder, inexistiria interesse processual do
impetrante em ingressar na esfera judicial para combater o ato lesivo. Há, porém, de se levar
em conta a inafastabilidade de jurisdição, direito fundamental previsto no artigo 5º, inciso
XXXV, da Constituição Federal, assegurando a intervenção do Poder Judiciário para fazer
cessar ou impedir a lesão a direito.
Ainda que haja a possibilidade de interposição de recurso com efeito suspensivo na esfera
administrativa, o administrado pode validamente buscar o Poder Judiciário com vistas a obter a
cessação dos efeitos do ato administrativo lesivo, inclusive, através do manejo de mandado de
segurança. Contudo, diante da autonomia das instâncias, deve-se ter em conta que a
impetração de mandado de segurança implica renúncia ao direito de recorrer na esfera
administrativa ou desistência do recurso interposto, aplicando-se, analogicamente, o artigo 38,
Parágrafo Único, da Lei de Execuções Fiscais à hipótese (Lei n. 6.830 de 1980).
 
Foto: Shutterstock.com
ATOS LEGISLATIVOS
A impetração de mandado de segurança em face de atos legislativos típicos é possível. Há de
se ter em conta, contudo, o teor da súmula 266 do STF, segundo a qual não é cabível mandado
de segurança em face de lei em tese. Isso porque, caso fosse admissível o mandado de
segurança em tal hipótese, o writ estaria sendo utilizado com finalidade idêntica à das ações
de controle concentrado de constitucionalidade, as quais possuem legitimados específicos e
são de competência do STF, na forma do artigo 102, inciso I, alínea “a”, da Constituição
Federal.
Não há óbice, contudo, que o impetrante adote como causa de pedir próxima do mandado de
segurança a inconstitucionalidade de uma lei ou um ato normativo, sendo o pedido a
declaração de inconstitucionalidade, em concreto, da lei ou do ato normativo. Afinal:
No modelo brasileiro de controle de constitucionalidade, qualquer juiz pode exercer controle
difuso de constitucionalidade.
Em relação às leis em sentido formal – atos administrativos que assumem a feição de lei, tal
como uma lei que conceda isenção tributária a determinado contribuinte – o mandado de
segurança pode ser utilizado para impugná-la, considerando sua ausência de natureza
normativa, não incidindo, pois, o óbice da súmula 266 do STF (RODRIGUES, 2020, p. 256).
 
Foto: Shutterstock.com
ATOS JUDICIAIS
O mandado de segurança também é cabível em face de atos judiciais. A Lei n. 12.016 de 2009,
com efeito, atribuiu nítida feição subsidiária ao mandado de segurança em face de ato judicial,
excluindo seu cabimento nas hipóteses em que impetrado contra decisão judicial da qual caiba
recurso com efeito suspensivo e de decisão judicial transitada em julgado (artigo 5º, incisos II e
III, da Lei n. 12.016 de 2009). A seguir, leremos um pouco mais sobre essas duas hipóteses:
DECISÃO JUDICIAL EM FACE DA QUAL É CABÍVEL
RECURSO 
COM EFEITO SUSPENSIVO
No primeiro caso, a ideia é a de evitar que o mandado de segurança seja utilizado como
substitutivo de recurso próprio. A Lei n. 12.016 de 2009, com efeito, trouxe para a esfera legal o
entendimento já constante da súmula 267 do STF, editada sob a vigência da revogada Lei n.
1.533 de 1951 (a antiga Lei do Mandado de Segurança). A vedação, contudo, é interpretada
com certo temperamento pela jurisprudência, admitindo-se a impetração de mandado de
segurança em face de ato judicial eivado de flagrante ilegalidade ou abuso de poder (STJ,
AgInt no RMS 60.885/SC).
DECISÃO JUDICIAL TRANSITADA EM JULGADO
No segundo caso, busca-se evitar que o mandado de segurança seja manejado como
substituto de ação rescisória ou de ação declaratóriade nulidade (querela nulitatis ), as quais
são os meios processuais próprios para impugnação de decisões judiciais transitadas em
julgado. Nesse ponto, a Lei n. 12.016 de 2009 legificou o entendimento já constante da súmula
268 do STF.
 SAIBA MAIS
À luz da teoria da asserção, a vedação do artigo 5º, inciso III, da Lei n. 12.016 de 2009 incide
na hipótese em que, quando do ajuizamento do mandado de segurança, a decisão judicial que
se busca afastar já está transitada em julgado. Caso o trânsito em julgado da decisão judicial
impugnada ocorra após a propositura do mandado de segurança, o processo deverá ser extinto
sem resolução do mérito, em razão da perda superveniente do objeto, com lastro no artigo 485,
inciso IV, do CPC, tendo em vista a perda do interesse processual do impetrante para buscar a
impugnação da referida decisão por meio de mandado de segurança.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A RESPEITO DA LEGITIMIDADE
ATIVA EM SEDE DE MANDADO DE SEGURANÇA:
A) Pessoa jurídica é parte ilegítima para ajuizar mandado de segurança.
B) No mandado de segurança coletivo, as associações somente podem atuar se autorizadas
específica e expressamente por seus associados.
C) Qualquer pessoa física ou jurídica, desde que constituída há menos de um ano, é parte
legítima para ajuizar mandado de segurança coletivo.
D) Os órgãos públicos, desde que possuam estatura constitucional e atuem na defesa de
prerrogativas institucionais próprias, podem propor mandado de segurança.
E) Os órgãos públicos não podem, em hipótese alguma, ajuizar mandado de segurança.
2. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A RESPEITO DO MANDADO DE
SEGURANÇA EM FACE DE ATOS JUDICIAIS:
A) O mandado de segurança pode ser utilizado de maneira ampla para impugnar decisões
judiciais, inclusive, se estas já estiverem transitadas em julgado.
B) O mandado de segurança é substituto de recurso próprio.
C) O mandado de segurança não é cabível em face de decisão judicial da qual caiba recurso
com efeito suspensivo.
D) Não há hipótese alguma na qual o mandado de segurança seja cabível em face de atos
judiciais.
E) O impetrante, para ajuizar mandado de segurança em face de ato judicial, deve prestar
caução.
GABARITO
1. Assinale a alternativa correta a respeito da legitimidade ativa em sede de mandado de
segurança:
A alternativa "D " está correta.
 
O mandado de segurança pode ser utilizado pelos órgãos para a defesa de suas prerrogativas,
sendo exemplo disso o entendimento constante da súmula 525 do STJ.
2. Assinale a alternativa correta a respeito do mandado de segurança em face de atos
judiciais:
A alternativa "C " está correta.
 
O mandado de segurança não pode ser utilizado como meio processual substitutivo de recurso,
razão pela qual o artigo 5º, inciso II, da Lei n. 12.016 de 2009 contém a referida vedação.
MÓDULO 2
 Reconhecer os pressupostos e o procedimento do mandado de segurança
PRESSUPOSTOS
O mandado de segurança possui dois pressupostos processuais específicos:
EXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO
IMPETRAÇÃO NO PRAZO DECADENCIAL DE 120 DIAS
O direito líquido e certo é aquele passível de comprovação documental pelo impetrante, em
sua existência e extensão, quando da propositura do mandado de segurança. Nas palavras de
Hely Lopes Meirelles:

DIREITO LÍQUIDO E CERTO É O QUE SE APRESENTA
MANIFESTO NA SUA EXISTÊNCIA, DELIMITADO NA
SUA EXTENSÃO E APTO A SER EXERCITADO NO
MOMENTO DA IMPETRAÇÃO. POR OUTRAS
PALAVRAS, O DIREITO INVOCADO, PARA SER
AMPARÁVEL POR MANDADO DE SEGURANÇA, HÁ DE
VIR EXPRESSO EM NORMA LEGAL E TRAZER EM SI
TODOS OS REQUISITOS E CONDIÇÕES DE SUA
APLICAÇÃO AO IMPETRANTE: SE SUA EXISTÊNCIA
FOR DUVIDOSA; SE SUA EXTENSÃO AINDA NÃO
TIVER DELIMITADA; SE SEU EXERCÍCIO DEPENDER
DE SITUAÇÕES E FATOS AINDA INDETERMINADOS,
NÃO RENDE ENSEJO À SEGURANÇA, EMBORA
POSSA SER DEFENDIDO POR OUTROS MEIOS
JUDICIAIS.
(MEIRELLES, 2019, p. 34-35)
 RESUMINDO
Em outras palavras: o mandado de segurança não admite dilação probatória, cabendo ao
impetrante instruir sua petição inicial com os documentos necessários para demonstrar a
existência e a extensão do direito que alega possuir. Caso constatada a necessidade de
dilação probatória para que se possa perquirir a respeito da existência do direito alegado pelo
impetrante, o mandado de segurança deverá ser extinto sem resolução do mérito, na forma do
artigo 485, inciso IV, do CPC, cabendo ao autor buscar satisfazer sua pretensão pelas vias
ordinárias.
 
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A impossibilidade de dilação probatória no mandado de segurança faz com que tal
procedimento especial somente admita prova documental, sendo afastada, a título de exemplo,
a possibilidade de produção de prova oral e prova pericial. Há possibilidade, porém, de uso de
prova documentada, ou seja, a prova produzida por outros meios de produção e que é
transcrita para prova documental, desde que apresentada em conjunto com a petição inicial
(exemplo: ata de depoimento de testemunha).
O mandado de segurança, diante de sua feição de tutela célere para o combate de atos lesivos
de autoridade pública, deve ser ajuizado no prazo de 120 dias contados da ciência do
interessado a respeito do teor do ato impugnado, na forma do artigo 23 da Lei n. 12.016 de
2009. Trata-se de prazo de natureza decadencial, fazendo com que, uma vez transcorrido,
esteja extinto o direito do pretenso titular do direito em ingressar com mandado de segurança.
Ressalvadas posições isoladas, é dominante o entendimento no sentido da constitucionalidade
da previsão de prazo decadencial, cristalizado na súmula 632 do STF, editada ainda no ano de
1977, sob a égide da Lei n. 1.533 de 1951. Isso porque o mandamus , como já exposto, é
destinado a conferir tutela processual pronta e célere a quem reputa ser titular de direito líquido
e certo, razão pela qual o transcurso do tempo faz com que a existência dessa tutela no caso
concreto perca razão de existir.
A proteção ao direito poderá ser buscada por outros mecanismos processuais (a título de
exemplo, ação ordinária), não havendo extinção do eventual direito subjetivo titularizado pela
parte em razão da decadência do direito de ingressar com mandado de segurança. Logo, o
STF e a doutrina em geral não vislumbram inconstitucionalidade no artigo 23 da Lei n. 12.016
de 2009.
Pedido de reconsideração formulado pelo impetrante na via administrativa não interrompe o
prazo para impetração de mandado de segurança, como prevê a súmula 430 do STF. Afinal,
além do pedido de reconsideração ser direcionado à mesma autoridade prolatora da decisão,
já existe ciência do interessado a respeito do ato que pode vir a impugnar, o que permite o
manejo do mandamus .
No caso das relações jurídicas de trato sucessivo, o prazo para impetração se renova mês a
mês, tendo em vista a renovação da lesão ao direito do impetrante.
Por fim, aponta-se que o prazo decadencial previsto no artigo 23 da Lei n. 12.016 de 2009
somente se aplica ao mandado de segurança repressivo. Em se tratando de mandado de
segurança preventivo, considerando que a lesão ao direito ainda não se consumou, não incide
o referido prazo.
PROCEDIMENTO: MANDADO DE
SEGURANÇA EM PRIMEIRO GRAU DE
JURISDIÇÃO
O mandado de segurança é um procedimento especial, destinado à tutela célere em face de
atos de autoridade supostamente lesivos ao impetrante, não adotando o procedimento comum,
previsto nos artigos 318 e seguintes do Código de Processo Civil.
De início, a petição inicial do mandado de segurança deve ser acompanhada dos documentos
que comprovam o alegado direito líquido e certo que o impetrante afirma ser titular. Trata-se de
providência fundamental, considerando a impossibilidade de dilação probatória no mandado de
segurança.
De início, o artigo 4º da Lei n. 12.016 de 2009 dispõe que, em caso de urgência, é permitido,
observados os requisitos legais, impetrar mandado de segurança por telegrama, radiograma,
fax ou outro meio eletrônico de autenticidadecomprovada. Com o avanço tecnológico, o
mandado de segurança é impetrado, como regra, por via eletrônica, através dos sistemas de
processo eletrônico.
O artigo 7º da Lei n. 12.016 de 2009 elenca as providências cabíveis ao magistrado quando da
decisão de admissibilidade positiva da petição inicial do mandado de segurança. Há a
possibilidade, ainda, de a petição inicial ser indeferida ou de ocorrer a improcedência liminar do
pedido, como se falará mais adiante.
NOTIFICAÇÃO DA AUTORIDADE COATORA
A primeira providência é a notificação da autoridade coatora para prestar informações
(inciso I). Como mencionado, tais informações se destinam a subsidiar o conhecimento do juízo
a respeito do ato impugnado, não possuindo natureza jurídica de contestação; tanto que sua
apresentação fora do prazo de 10 dias previsto no mesmo dispositivo legal não ocasiona a
revelia da pessoa jurídica ré (a título de exemplo, STJ, RMS 26.170/RO).
CIÊNCIA AO ÓRGÃO DE REPRESENTAÇÃO JUDICIAL
DA PESSOA JURÍDICA
A segunda providência é a ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa
jurídica interessada para que, querendo, ingresse no feito (inciso II). A referida ciência
ocorre por meio de intimação. A Lei n. 12.016 de 2009 não prevê forma específica para este
ingresso da pessoa jurídica interessada no feito. Consagrou-se na praxe forense o uso de
impugnação para apresentação dos elementos de defesa do ato impugnado.
MEDIDA LIMINAR
A terceira providência, em presentes os requisitos para tanto, é a concessão de liminar, para
que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante
e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida,
sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de
assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica (inciso III).
TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
ANTECIPADA OU CAUTELAR
A concessão de liminar em mandado de segurança pode se dar a título de tutela provisória
de urgência antecipada ou cautelar, na forma dos artigos 294 a 310 do Código de Processo
Civil, ou da evidência, conforme o artigo 311 do CPC, desde que preenchidos os requisitos
para tanto:
TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
Probabilidade de existência do direito (fumus boni iuris ) e perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo (periculum in mora ), conforme disposto no artigo 300 do Código de
Processo Civil.
TUTELA PROVISÓRIA DA EVIDÊNCIA
Hipóteses elencadas nos incisos do artigo 311 do CPC, quais sejam:
a) Ficar caracterizado o abuso do direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório da
parte.
b) As alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente e houver tese
firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante.
c) Tratar-se de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de
depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob
cominação de multa.
d) A petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do
direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
Pelo artigo 7º, §§ 3º e 4º, da Lei n. 12.016 de 2009, os efeitos da medida liminar em mandado
de segurança, salvo se revogada ou cassada, persistirão até a prolação da sentença e,
deferida a medida liminar, o processo terá prioridade para julgamento.
Destaque-se que a estabilização da tutela de urgência antecipada, prevista no artigo 304 do
Código de Processo Civil, não é cabível em sede de mandado de segurança, tendo em vista a
especialidade do rito procedimental em relação ao procedimento comum do Código de
Processo Civil.
Anote-se que a Lei n. 12.016 de 2009 traz algumas vedações à concessão de medida liminar
em mandado de segurança no artigo 7º, § 2º, destinadas à Fazenda Pública: com efeito, não
será concedida medida liminar que tenha por objeto:
(A)
A compensação de créditos tributários
(B)
A entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior
(C)
A reclassificação ou equiparação de servidores públicos
(D)
A concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento de qualquer natureza
Sobre as vedações:
PRIMEIRA VEDAÇÃO
A primeira vedação, semelhante àquela prevista no artigo 1º, § 5º, da Lei n. 8.437 de 1992,
decorre do artigo 156, inciso II, do artigo 170-A do CTN: a compensação é forma de extinção
do crédito tributário, fazendo desaparecer o direito de crédito da Fazenda Pública. Assim, sua
extinção por meio de medida liminar poderia ocasionar a extinção prematura do crédito
tributário em havendo posterior cassação da medida liminar, em prejuízo do Fisco. A
compensação tributária depende do trânsito em julgado da sentença no mandado de
segurança.
SEGUNDA VEDAÇÃO
A segunda vedação resulta de opção legislativa, pois a não liberação dessas mercadorias e
desses bens provenientes do exterior, extrajudicialmente pela Administração, pode decorrer de
motivos de saúde pública ou tributários, que justificam uma opção legislativa pela não
concessão de medida de urgência (RODRIGUES, 2016).
TERCEIRA VEDAÇÃO
A terceira vedação resulta de medida de economia processual e eficiência administrativa. Isto
porque, caso não houvesse este óbice à concessão de medida liminar em desfavor da
Fazenda Pública e a tutela provisória desse teor fosse posteriormente cassada ou revogada,
haveria necessidade de liquidação de eventual prejuízo pecuniário sofrido, na forma do artigo
302 do Código de Processo Civil, ou cobrança administrativa dos valores devidos ao servidor.
 ATENÇÃO
A vedação incide tão somente em relação à concessão de medida liminar para a compensação
tributária. Não há óbice que o mandado de segurança seja utilizado ou para declaração do
direito à compensação tributária, como deixa evidente a súmula 213 do STJ, a ser buscado
administrativamente junto ao Fisco pelo impetrante, ou para compelir a autoridade fazendária
coatora a efetuar a compensação tributária.
 
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A parte final do artigo 7º, inciso III, prevê a possibilidade de o juízo exigir caução, fiança ou
depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica, conteúdo bastante
semelhante ao previsto no artigo 300, § 2º, do Código de Processo Civil. Trata-se de medida
de contracautela, destinada à proteção ao erário na hipótese de revogação ou cassação da
liminar, e que poderá ser exigida do impetrante.
Pelo artigo 7º, § 5º, da Lei n. 12.016 de 2009, as vedações à concessão de liminar em
mandado de segurança são extensíveis à tutela provisória de urgência em sede de
procedimento comum. Trata-se de disposição em consonância com o artigo 1º da Lei n. 8.437
de 1992, que possui conteúdo semelhante, ao vedar a concessão de medida liminar quando
não for cabível sua concessão em mandado de segurança.
Em relação ao mandado de segurança coletivo, a Lei n. 12.016 de 2009 prevê que a
concessão de liminar depende de oitiva prévia do representante judicial da pessoa jurídica de
direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 horas (artigo 22, § 2º), previsão
semelhante a existente no artigo 2º da Lei n. 8.437 de 1992.
Trata-se de medida de promoção do princípio do contraditório, norma fundamental do processo
civil, prevista no artigo 9º do Código de Processo Civil, que tem em conta a relevância dos
direitos discutidos em sede de mandado de segurança coletivo. Em casos de urgência
extrema, poderá haver a concessão da medida antes da oitiva do representante da Fazenda
Pública. Trata-se, contudo, de exceção, devendo a oitiva do representante judicial da pessoa
jurídica de direito público ser a regra em tal hipótese.
A decisão interlocutória a respeito do pedido de medida liminar é recorrível por meio de agravo
de instrumento (artigo 7º, § 1º, da Lei n. 12.016 de 2009), de maneira semelhante ao regime
previsto no Código de Processo Civil a respeito das decisões interlocutórias sobre tutela
provisória, previsto no artigo 1015, inciso II,do Código, entendimento este adotado pelo
Enunciado 351 do Fórum Permanente de Processualistas Civis (FPPC).
LIMINAR DO MANDADO DE SEGURANÇA
Vamos agora descrever os principais elementos a respeito da liminar:
SUSPENSÃO DA EFICÁCIA DE LIMINAR
O artigo 15 da Lei n. 12.016 de 2009 traz o incidente de suspensão de eficácia de liminar
em mandado de segurança, que, na nomenclatura forense, adquiriu a denominação de
suspensão de segurança. Anteriormente, o incidente já encontrava previsão no artigo 4º da
Lei n. 8.437 de 1992.
Em apertadíssima síntese, a suspensão de segurança é prerrogativa processual da Fazenda
Pública, a qual permite a suspensão do cumprimento da medida liminar ou da sentença com
vistas a evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas, conceitos
mais amplos do que aqueles passíveis de serem alegados em sede de agravo de instrumentos,
os quais são relacionados ao preenchimento ou não dos requisitos para concessão da tutela
provisória.
A natureza jurídica do incidente de suspensão de eficácia de liminar em mandado de
segurança, como seu nome sugere, é de incidente processual. A legitimidade para requerer a
suspensão da eficácia de liminar é atribuída à pessoa jurídica de direito público interessada e
ao Ministério Público, na forma do artigo 15, in fine , da Lei n. 12.016 de 2009. A
jurisprudência, de longa data e em interpretação extensiva, também confere legitimidade às
pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos para requerer a
instauração do incidente, como é o caso das empresas públicas e das sociedades de economia
mista.
A competência para apreciar o pedido é conferida ao presidente do tribunal competente para
apreciar o respectivo recurso em face da medida liminar. A título de exemplo, o Presidente do
Tribunal de Justiça é competente para apreciar pedido de suspensão de eficácia de liminar
concedida por Juízo de Direito.
Indeferido o pedido de suspensão pela Presidência do Tribunal, poderá ser formulado novo
pedido de suspensão, desta vez, direcionado ao presidente do tribunal competente para
conhecer de eventual recurso especial ou extraordinário, como dispõe o artigo 15, § 1º, da Lei
n. 12.016 de 2009.
 RESUMINDO
Por não possuir natureza recursal e ter pressupostos diversos, como antes mencionado, a
instauração de incidente de suspensão de eficácia de medida liminar não prejudica nem
condiciona o julgamento de eventual agravo de instrumento interposto em face da decisão
concessiva da medida liminar e vice-versa, como deixa claro o artigo 15, § 3º da Lei n. 12.016
de 2009.
 
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INDEFERIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL
Há a possibilidade de que a petição inicial do mandado de segurança seja indeferida, como
prevê o artigo 10 da Lei n. 12.016 de 2009, quando não for o caso de mandado de segurança
ou lhe faltar algum dos requisitos legais ou quando decorrido o prazo legal para a impetração,
por meio de sentença, no caso de mandado de segurança em primeiro grau de jurisdição, ou
decisão monocrática ou acórdão, em se tratando de mandado de segurança em julgamento
originário de Tribunal.
No caso de vício sanável na petição inicial, o juízo singular ou o relator do mandado de
segurança deve oportunizar prazo para o impetrante corrigi-lo, na forma dos artigos 321 e 932
do Código de Processo Civil. A emenda da inicial, no entender de alguns autores, é direito
subjetivo do autor, entendimento este aplicável ao mandado de segurança (NERY JUNIOR;
NERY, 2018, p. 859).
IMPROCEDÊNCIA LIMINAR DO PEDIDO NO
MANDADO DE SEGURANÇA
Além do indeferimento da petição inicial, também é cabível a improcedência liminar do pedido
formulado no mandado de segurança, nas hipóteses previstas no artigo 332 do Código de
Processo Civil. Esse é o entendimento adotado, por exemplo, no Enunciado 291 do Fórum
Permanente de Processualistas Civis (FPPC).
A improcedência liminar do pedido é cabível nas causas que dispensem fase instrutória, como
é o caso do mandado de segurança, quando a pretensão do impetrante for contrária a:
Enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça
Acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos
Entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência
Enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local
Pelo artigo 332, § 1º, do CPC, o juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido
se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou de prescrição.
MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Após a decisão positiva de admissibilidade da petição inicial, com a notificação da autoridade
coatora para prestar informações e a intimação do órgão de representação da pessoa jurídica
interessada, findo o prazo de apresentação das informações, o processo será encaminhado ao
Ministério Público para que o órgão, querendo, apresente parecer no prazo de dez dias, na
forma do artigo 12 da Lei n. 12.016 de 2009.
O prazo para manifestação do Ministério Público é impróprio, inexistindo preclusão temporal
em havendo manifestação do Parquet após exaurido este prazo. E, com ou sem parecer do
órgão ministerial, os autos serão encaminhados ao órgão julgador para decisão final, na forma
do artigo 12, parágrafo único, da Lei n. 12.016 de 2009. Pela extensão de seu conteúdo, o
ponto será tratado no módulo seguinte.
PROCEDIMENTO DO MANDADO DE
SEGURANÇA DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA
DE TRIBUNAL
Não há diferenças significativas no procedimento do mandado de segurança de competência
originária de Tribunal. Há, com efeito, dois traços característicos em comparação com o
mandado de segurança em primeiro grau de jurisdição:
Defesa oral
Compete ao relator a instrução do processo, assegurada a defesa oral na sessão do
julgamento do mérito ou do pedido liminar (artigo 16 da Lei n. 12.016 de 2009, na redação da
Lei n. 13.676 de 2018).
Recurso cabível
O recurso cabível em face da decisão de concessão ou de indeferimento da medida liminar é o
agravo, a ser julgado pelo órgão do tribunal que integra (a título de exemplo, Câmara Cível).
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE O MANDADO DE SEGURANÇA, ASSINALE A ALTERNATIVA
CORRETA:
A) O Código de Processo Civil traz vedação expressa quanto ao cabimento de medida liminar
em mandado de segurança, em toda e qualquer hipótese.
B) É cabível a estabilização da medida liminar em mandado de segurança.
C) O mandado de segurança não é cabível em face de atos legislativos.
D) O mandado de segurança não admite dilação probatória, cabendo ao impetrante instruir sua
petição inicial com os documentos necessários para demonstrar a existência e a extensão do
direito que alega possuir.
E) As vedações à concessão de liminar em mandado de segurança não são extensíveis à
tutela provisória de urgência em sede de procedimento comum.
2. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A RESPEITO DA MEDIDA
LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA:
A) A decisão interlocutória que concede ou indefere o pedido de medida liminar é recorrível por
meio de apelação.
B) A concessão de liminar em mandado de segurança para a liberação de mercadorias
provenientes do exterior não é vedada pela Lei n. 12.016 de 2009.
C) A concessão de medida liminar em mandado de segurança permite a instauração de
incidente de suspensão de eficácia de liminar em mandado de segurança.
D) Sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos não são partes legítimas a
requerer a suspensão de medida liminar em mandado de segurança concedida em relação ao
serviço público por ela prestado.
E) A única vedação à concessão de medida liminar em mandado de segurança diz respeito à
impossibilidade de que a tutela provisória seja deferida para a compensação de créditos
tributários.
GABARITO
1. Sobre o mandado de segurança, assinale a alternativa correta:
A alternativa "D " está correta.
 
O direito líquido e certo exigecomprovação documental quando da impetração, não sendo
admitida dilação probatória em sede de mandado de segurança.
2. Assinale a alternativa correta a respeito da medida liminar em mandado de segurança:
A alternativa "C " está correta.
 
O incidente de suspensão de liminar está previsto no artigo 15 da Lei n. 12.016 de 2009 e no
artigo 4º da Lei n. 8.437 de 1992.
MÓDULO 3
 Identificar o conteúdo da sentença e o regime da coisa julgada
SENTENÇA NO MANDADO DE SEGURANÇA
Terminada a instrução, com ou sem manifestação do Ministério Público, o processo será
concluso ao juízo para proferir sentença, na forma do artigo 12, parágrafo único, da Lei n.
12.016 de 2009, no prazo de trinta dias. Trata-se de prazo impróprio.
A sentença no mandado de segurança, a partir da classificação quinária das ações, cunhada
por Pontes de Miranda (1998, p. 122), possui natureza mandamental: a pretensão do
impetrante, com efeito, é de que seja imposta uma ordem à autoridade coatora para fazer ou
deixar de fazer algo.
A partir da classificação trinária das ações, majoritária em doutrina, a sentença no mandado de
segurança possui natureza condenatória.
Em termos de conteúdo, a sentença poderá:
CONCEDER A ORDEM
Julgar procedente o pedido formulado pelo impetrante, no todo ou em parte
DENEGAR A ORDEM
Pode ocorrer na hipótese de extinção do processo sem resolução do mérito, na forma do artigo
485 do Código de Processo Civil, ou resolver o mérito na forma do artigo 487 do Código de
Processo Civil, sem julgar procedente o pedido. A distinção será analisada com mais detalhes
ao se tratar da coisa julgada no mandado de segurança
Pelo artigo 25 da Lei n. 12.016 de 2009, parte final, não é cabível a condenação do
sucumbente ao pagamento de honorários advocatícios, sistemática bastante semelhante
àquela prevista para os demais remédios constitucionais e que trouxe ao plano legislativo o
entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal, constante de sua súmula 512.
DUPLO GRAU OBRIGATÓRIO
A sentença concessiva de mandado de segurança está sujeita ao duplo grau obrigatório de
jurisdição, previsto no artigo 14, § 1º, da Lei n. 12.016 de 2009. Trata-se de prerrogativa
processual da Fazenda Pública, instituída em favor do erário, e que possui natureza jurídica de
condição de eficácia da sentença, indispensável para que a decisão possa produzir seus
efeitos.
Por se tratar de regra especial, no entender da jurisprudência dominante, não se aplicam ao
mandado de segurança as dispensas à remessa necessária previstas no artigo 496, §§ 3º e 4º,
do Código de Processo Civil. Assim, em todo e qualquer caso no qual a sentença seja
concessiva da segurança, deverá haver seu reexame pelo tribunal ao qual o juízo prolator está
vinculado, sob pena de ineficácia da sentença.
O efeito devolutivo na remessa necessária é amplo, permitindo ao tribunal reexaminar todas as
questões de fato e de direito submetidas ao processo, como deixa claro a leitura da súmula
325 do STJ. Contudo, no reexame necessário, é vedado ao tribunal agravar a condenação
imposta à Fazenda Pública, por força da súmula 45 do STJ.
 COMENTÁRIO
Os recursos em face da sentença em mandado de segurança serão analisados mais adiante.
ACÓRDÃO DE JULGAMENTO EM
MANDADO DE SEGURANÇA 
DE COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DE
TRIBUNAL
Em termos de conteúdo, o acórdão de julgamento do mandado de segurança não possui
diferenças significativas em relação à sentença, no que tange aos mandados de segurança de
competência de juízo singular.
Assim, o acórdão poderá:
CONCEDER A ORDEM
Julgar procedente o pedido, no todo ou em parte
DENEGAR A ORDEM
Pode ocorrer na hipótese de extinção do processo sem resolução do mérito ou julgar
improcedente o pedido. A distinção será analisada com mais detalhes ao se tratar da coisa
julgada no mandado de segurança
A distinção de maior realce que o acórdão de julgamento em mandado de segurança de
competência originária de tribunal em relação à sentença diz respeito ao regime de
recorribilidade. O ponto será tratado mais adiante.
EXECUÇÃO PROVISÓRIA
Pelo artigo 14, § 3º, da Lei n. 12.016 de 2009, a sentença concessiva da segurança pode ser
executada provisoriamente, salvo nos casos em que for vedada a concessão de medida liminar
com aquele conteúdo (ex.: sentença que concede a ordem para que a autoridade coatora
efetue a compensação tributária buscada pelo contribuinte, a qual somente poderá ser objeto
de cumprimento definitivo).
O cumprimento provisório de sentença é disciplinado pelos artigos 520 a 522 do Código de
Processo Civil, os quais se aplicam, no que couber, ao cumprimento provisório de sentença
concessiva de segurança.
 RESUMINDO
O cumprimento provisório de sentença em face da Fazenda Pública, na hipótese em que for ré
pessoa jurídica de direito público, possui importante limitação, qual seja, seu prosseguimento
pode ocorrer até a expedição do respectivo precatório ou requisição de pequeno valor, sendo
vedado o pagamento de quantia antes do trânsito em julgado da decisão exequenda, como
deixa claro o artigo 2º-B da Lei n. 9.494 de 1997, e obedecendo-se ao procedimento para
pagamento pela via do precatório ou requisição de pequeno valor, na forma do artigo 100 da
Constituição Federal.
 
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VENCIMENTOS E VANTAGENS
PECUNIÁRIAS
O artigo 14, § 4º, da Lei n. 12.016 de 2009 traz a previsão de que o pagamento de vencimentos
e vantagens pecuniárias assegurados em sentença concessiva de mandado de segurança a
servidor público da administração direta ou autárquica federal, estadual e municipal somente
será efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar da data do ajuizamento
da inicial.
A referida limitação busca impedir o uso do mandado de segurança como substitutivo de ação
de cobrança, o que, no entender do Supremo Tribunal Federal, não é cabível, na forma de sua
súmula 269, editada ainda sob a vigência da Lei n. 1.533 de 1951.
A impossibilidade de utilização do mandado de segurança como sucedâneo de ação de
cobrança resulta, essencialmente, de dois fatores:
Natureza da ação
No mandado de segurança, o impetrante pretende seja imposta uma ordem à autoridade
coatora; seu conteúdo é mandamental. Na ação de cobrança, o autor pretende a condenação
do réu a efetuar o pagamento de determinada quantia; seu conteúdo é condenatório.
Necessidade de dilação probatória
A definição da quantia a ser eventualmente paga ao autor, como regra, demanda dilação
probatória, o que, por si só, já afastaria o cabimento de mandado de segurança na hipótese.
 ATENÇÃO
A vedação à utilização do mandado de segurança como sucedâneo de ação de cobrança não
impede o impetrante de satisfazer a pretensão de receber eventuais reflexos patrimoniais da
concessão da ordem (exemplo: a concessão da ordem para que o servidor público impetrante
obtenha a implementação de determinada gratificação em sua remuneração permite o eventual
recebimento de verbas devidas a partir da data da impetração nos próprios autos do mandado
de segurança, sem necessidade de propositura de ação autônoma ou de cobrança
administrativa dos referidos valores).
A SENTENÇA NO MANDADO DE
SEGURANÇA E SUA EFICÁCIA
Agora, veremos um pouco mais sobre sentença e os efeitos que ela poderá produzir:
COISA JULGADA NO MANDADO DE
SEGURANÇA
O regime de formação da coisa julgada no mandado de segurança dependerá do conteúdo da
decisão final no mandamus . Vamos às hipóteses:
CONCESSÃO DA ORDEM
Em havendo concessão da ordem, a decisão final do processo formará coisa julgada material,
na forma do artigo 502 do Código de Processo Civil, impedindo a rediscussão do mérito em
processo posterior. Não há maiores distinções, no ponto, em relação ao regime de formação da
coisa julgada no procedimento comum, previsto no Código de Processo Civil.
DENEGAÇÃO DA ORDEM
Em havendo denegação da ordem, por sua vez, há necessidade de se perquirir a respeito do
conteúdo da decisão denegatória. Caso o decisum não tenha apreciadoo mérito do mandado
de segurança, extinguindo-o na forma do artigo 485 do Código de Processo Civil, haverá
formação de coisa julgada formal, não havendo óbice a que o impetrante, por ação própria,
busque o direito que alega possuir, como prevê o artigo 19 da Lei n. 12.016 de 2009. Em
sentido semelhante é o conteúdo da súmula 304 do STF.
Da mesma forma, na hipótese em que a sentença denegar a ordem por ausência de provas da
existência do direito líquido e certo alegado pelo impetrante, haverá formação de coisa julgada
formal. Afinal, se houve denegação da segurança por falta de prova do direito líquido e certo,
falta requisito para a apreciação do mérito, sendo, pois, decisão terminativa, que não forma
coisa julgada material e não impede ação posterior, munida de novas provas, para a defesa do
direito (RODRIGUES, 2016, p. 221; MEIRELLES, 2019, p. 127). Por essa razão é que alguns
autores, como Fredie Didier Junior, apontam que a coisa julgada nessa hipótese é secundum
eventum probationis (DIDIER JUNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2010, p. 422).
Se a denegação da ordem for fundada na inexistência do direito líquido e certo alegado pelo
impetrante em sua peça inaugural, a decisão final do processo formará coisa julgada material,
na forma do artigo 502 do Código de Processo Civil, nos mesmos moldes da decisão
concessiva da segurança pleiteada, impedindo a rediscussão do mérito em processo posterior.
No mandado de segurança coletivo, pelo artigo 22 da Lei n. 12.016 de 2009, a sentença fará
coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.
Trata-se de decorrência das espécies de direito coletivo passíveis de proteção pela via do
mandado de segurança, os quais possuem beneficiários passíveis de individualização.
 
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RECURSOS
Os recursos cabíveis em face da sentença e do acórdão de julgamento do mandado de
segurança variarão conforme o conteúdo da decisão. A discussão a respeito do recurso cabível
em face da decisão que concede ou indefere o pedido de liminar foi tratada no módulo 2.
RECURSOS EM FACE DA SENTENÇA EM
MANDADO DE SEGURANÇA
A sentença concessiva ou denegatória da segurança é recorrível por meio de apelação, na
forma do artigo 14 da Lei n. 12.016 de 2009. A sentença concessiva pode ser objeto de
cumprimento provisório, como dispõe o artigo 14, § 3º, da mesma Lei. Disso se extrai que
eventual recurso de apelação interposto em face de sentença que concede a segurança possui
efeito devolutivo, constituindo exceção à regra do artigo 1012 do Código de Processo Civil, que
prevê efeito suspensivo ope legis para a apelação.
O artigo 995, parágrafo único, do Código de Processo Civil permite a concessão de efeito
suspensivo por decisão do relator do recurso (efeito suspensivo ope iudicis), se houver risco de
dano grave da imediata produção dos efeitos da decisão recorrida, de difícil ou impossível
reparação (perigo de dano), e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso
(probabilidade de existência do direito). Trata-se, com efeito, de modalidade de tutela provisória
de urgência, aplicável ao mandado de segurança.
RECURSOS EM FACE DE ACÓRDÃO DE
JULGAMENTO EM MANDADO DE SEGURANÇA
Os recursos cabíveis em face de acórdão de julgamento de mandado de segurança variarão
conforme o conteúdo da decisão proferida pelo tribunal.
A técnica de ampliação de colegiado, prevista no artigo 942 para alguns julgamentos não
unânimes, não se aplica à remessa necessária, conforme prevê o artigo 942, § 4º, inciso II, do
Código de Processo Civil. A previsão tem origem no artigo 25 da Lei n. 12.016 de 2009, que
afasta o cabimento de embargos infringentes em sede de mandado de segurança, recurso que
fora extinto com o advento do Código de Processo Civil atual.
Por sua vez, em sendo o caso de julgamento de recurso de apelação interposto por qualquer
das partes, o acórdão poderá ser impugnado mediante recurso especial ou extraordinário,
conforme o caso. Tanto a remessa necessária quanto eventual recurso de apelação interposto
em face da sentença serão julgados pelo mesmo acórdão.
O mandado de segurança de competência originária de tribunal possui sistemática recursal
diversa:
CONCESSÃO DA ORDEM
A pessoa jurídica de direito público e a autoridade coatora poderão interpor recurso especial ou
extraordinário, conforme a matéria deduzida em sede de recurso. O impetrante, em havendo
concessão parcial da ordem, poderá interpor recurso ordinário, na forma elencada no item
anterior.
DENEGAÇÃO DA ORDEM
O impetrante poderá interpor recurso ordinário a ser julgado pelo STJ, nas hipóteses previstas
no artigo 105, inciso II, alínea “b”, da Constituição Federal (mandados de segurança decididos
em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos estados, do
Distrito Federal e territórios), ou de competência recursal do STF, em se tratando de mandado
de segurança decidido em única instância pelos Tribunais Superiores, como prevê o artigo 102,
inciso II, alínea “a”, da Constituição Federal.
Como se vê, o recurso ordinário em mandado de segurança é exemplo de recurso secundum
eventum litis , sendo cabível a depender do resultado da demanda (RODRIGUES, 2016).
A interposição de recurso ordinário quando cabível recurso especial ou extraordinário e vice-
versa é considerada pela jurisprudência como hipótese de erro grosseiro e de inexistência de
dúvida objetiva quanto ao recurso cabível, afastando a aplicação da teoria da fungibilidade
recursal para permitir o conhecimento do recurso equivocado como se correto fosse.
Por fim, em se tratando de acórdão de julgamento de agravo de instrumento interposto em face
de decisão concessiva ou de indeferimento de medida liminar, o entendimento jurisprudencial é
no sentido de não ser cabível a interposição de recurso extraordinário ou especial com vistas a
obter a sua reforma, como estabelecido na súmula 735 do STF.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A RESPEITO DA COISA
JULGADA NO MANDADO DE SEGURANÇA:
A) Decisão denegatória de mandado de segurança impede o impetrante de buscar em ação
própria seus direitos e respectivos efeitos patrimoniais, em toda e qualquer hipótese.
B) A coisa julgada no mandado de segurança coletivo será limitada aos membros do grupo ou
categoria substituídos pelo impetrante.
C) Decisão concessiva de mandado de segurança não formará coisa julgada material, podendo
a pessoa jurídica interessada buscar a revisão do conteúdo do julgado em ação ordinária.
D) O mandado de segurança coletivo induz litispendência para as ações individuais,
ocasionando a extinção desses processos sem resolução do mérito.
E) A coisa julgada no mandado de segurança coletivo é erga omnes .
2. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA A RESPEITO DA SENTENÇA NO
MANDADO DE SEGURANÇA:
A) A sentença condenará o vencido a pagar honorários advocatícios ao vencedor.
B) No mandado de segurança, em nenhuma hipótese é cabível a aplicação de sanções no
caso de litigância de má-fé.
C) A sentença no mandado de segurança admite cumprimento provisório, nas hipóteses em
que não for vedada a concessão de medida liminar.
D) A sentença poderá condenar a Fazenda Pública ao pagamento de vantagens pecuniárias ao
servidor público da administração direta, autárquica e fundacional que digam respeito a período
anterior ao da impetração.
E) A Lei n. 12.016 de 2009 afasta de maneira expressa a submissão da sentença no mandado
de segurança ao duplo grau obrigatório.
GABARITO
1. Assinale a alternativa correta a respeito da coisa julgada no mandado de segurança:
A alternativa "B " está correta.
 
A letra b está correta, pois essa é a previsão constante do artigo 22 da Lei n. 12.016 de 2009.
2. Assinale a alternativa correta a respeito da sentença no mandado de segurança:
A alternativa "C " está correta.
 
A letra C é a afirmativa certa, já que o artigo 14, § 3º, da Lei n. 12.016 de 2009, admite o
cumprimento provisórioem tais hipóteses.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, o mandado de segurança é um remédio constitucional destinado à tutela célere
em face de atos de autoridade, com vistas a combater ilegalidade ou abuso de poder, lesiva ou
potencialmente lesiva a direito líquido e certo. Trata-se de importante instrumento de proteção
de direitos dos administrados.
Vimos os pontos mais relevantes de estudo da matéria, tais como os pressupostos para o
cabimento de writ , legitimados, quais são os atos passíveis de impugnação pela via de
mandado de segurança, dentre outros. Com essas noções, poderemos obter conhecimento
amplo sobre a matéria e fixar as bases para que possa haver estudo mais aprofundado no
futuro.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
DIDIER JUNIOR, Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de
Direito Processual Civil. v. II, 7. ed. Salvador: JusPODIVM, 2010.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 44. ed. Salvador: JusPODIVM,
2020.
MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de segurança e ações constitucionais. 38. ed. São
Paulo: Malheiros, 2019.
MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Tratado das ações. v. VII, 2. ed. (atualizado por
Vilson Rodrigues Alves). Campinas: Bookseller, 1998.
RODRIGUES, Marco Antonio. A Fazenda Pública no Processo Civil. Rio de Janeiro: GEN,
2017.
RODRIGUES, Marco Antonio. Curso de Processo Administrativo e Judicial Tributário.
Salvador: JusPODIVM, 2020.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos tratos neste tema, leia:
Capítulo XIV da obra Fazenda Pública em juízo (2020), de Leonardo José Carneiro da
Cunha.
Leia o texto Por um novo mandado de segurança: retorno à origem? , de Leonardo
Greco, disponível na internet na Revista Eletrônica de Direito Processual.
CONTEUDISTA
Rodrigo Vieira Farias
 CURRÍCULO LATTES
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