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INTRODUÇÃO Segundo Gomes e Santos (2015), desde os tempos antigos, observa-se a alimentação e seu relacionamento com a saúde, quando Hipócrates (460-377 a. C.) dizia que era preciso fazer do seu alimento o seu medicamento e do seu medicamento o seu alimento. Dessa forma, percebe-se que a alimentação é um fator determinante para a sobrevivência de todas as espécies do planeta, portanto o estudo da composição dos alimentos, ou seja, seus nutrientes, é de grande utilidade e importância. Nutriente é qualquer elemento ou composto químico necessário para o metabolismo de um organismo vivo. Estudaremos também o que acontece com o nosso organismo quando não consumimos adequadamente os nutrientes e o que ocorre quando os consumimos em excesso. Eles são divididos em dois grupos: os macronutrientes e os micronutrientes. Ambos são essenciais para o nosso organismo e desempenham uma função extremamente importante para manter a nossa saúde em dia. O conhecimento aprofundado dos nutrientes proporciona o entendimento sobre os benefícios do consumo adequado dos alimentos, podendo resultar na manutenção e no equilíbrio da saúde e na prevenção de doenças. Além de conhecer os benefícios, podemos entender os malefícios causados por uma má nutrição, consequência de uma alimentação inadequada, podendo ocasionar doenças pelo consumo excessivo, como as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), doenças carenciais, pelo consumo deficiente de nutrientes, como a anemia por baixo consumo de ferro, entre outras, e situações específicas de restrição de nutrientes por motivo de doença. (CUKIER e CUKIER, 2020). MACRONUTRIENTE Cada alimento apresenta nutrientes importantes para o metabolismo humano, que podem ser classificados de acordo com a quantidade necessária para o organismo em macronutrientes (proteína, carboidrato, lipídio ou gordura) e micronutrientes (minerais, vitaminas, fibras), além da água e de outros componentes alimentares presentes nos alimentos, como os fitoquímicos. Os macronutrientes são nutrientes extremamente necessários ao organismo e devem ser incluídos em maior quantidade na alimentação diária. Apesar de serem necessários em menor quantidade, os micronutrientes também desempenham um papel importante no funcionamento do metabolismo humano. Vale ressaltar que o mesmo alimento pode ser fonte de mais de um nutriente. O feijão, por exemplo, é excelente fonte de proteína de origem vegetal, mas apresenta na sua composição quantidades significativas de micronutrientes, incluindo fibras, minerais e vitaminas. (ROSSI, 2019) CARBOIDRATOS Os carboidratos (glicídios ou hidratos de carbono) constituem a principal fonte de energia utilizada pelos seres vivos. Fonte primária de combustível produzida pelas plantas por meio da fotossíntese, a glicose é a base para a síntese de formas mais complexas de carboidratos e energia para as vidas vegetal e animal. Estrutura química Compostos orgânicos constituídos por moléculas de carbono, hidrogênio e oxigênio (apresentam razão molecular C:H:O de 1:2:1), com exceção dos oligossacarídios, polissacarídios e alcoóis do açúcar (sorbitol, manitol, maltitol, galactitol e lactitol). Classificação Os carboidratos são classificados conforme a capacidade de serem hidrolisados a estruturas mais simples. a) monossacarídios: São os chamados açúcares simples, e não podem ser hidrolisados a compostos mais simples, solúveis em água e transportados para todas as partes do organismo a) pentoses (5 carbonos): ribose e desoxirribose b) hexoses (6 carbonos): glicose, galactose e frutose b) dissacarídios: são açúcares simples formados a partir de dois monossacarídeos combinados, solúveis em água, que necessitam ser hidrolisados para serem absorvidos. 1. Maltose : glicose + glicose É raramente encontrada naturalmente nos alimentos, mas é formada pela hidrólise de polímeros de amido durante a digestão e também é consumida como aditivo em vários produtos alimentares 2. Sacarose : glicose + frutose Ocorre naturalmente em muitos alimentos e também é um aditivo em itens processados comercialmente; ela é consumida em grande quantidade pela maioria dos norte-americanos. O açúcar invertido é também uma forma natural de açúcar (mistura de partes iguais de glicose e frutose) usado comercialmente, pois é mais doce do que a sacarose em concentrações similares. O açúcar invertido forma cristais menores do que a sacarose e é preferido na preparação de doces e coberturas. O mel é um açúcar invertido. 3. Lactose : glicose + galactose É produzida quase exclusivamente nas glândulas mamárias de animais lactantes. c) oligossacarídeos: são pequenos (3-10 unidades de monossacarídeos), facilmente hidrossolúveis, e frequentemente doces. As enzimas encontradas na borda em escova do intestino quebram (digerem) as ligações entre as moléculas nos dissacarídeos e são específicas para determinadas ligações. Moléculas maiores, com ligações que são diferentes não são digeríveis e são classificadas como fibras alimentares. d) polissacarídios: Chamados de açúcares complexos, os polissacarídeos são formados por vários monossacarídeos ligados entre si, e por meio da hidrólise podem se tornar carboidratos mais simples, visto que a maior parte deles é composta de glicose. 1. Amido As plantas armazenam esses carboidratos como grânulos de amido formados pela ligação da glicose em cadeias lineares e em cadeias que se ramificam em uma complexa estrutura granular. As plantas produzem dois tipos de amido, a amilose e a amilopectina. A amilose é uma pequena molécula, linear, que é menos de 1% ramificada, ao passo que a amilopectina é muito ramificada. Devido ao seu tamanho maior, a amilopectina é mais abundante no abastecimento de alimentos, especialmente nos grãos e tubérculos ricos em amido. 2. Glicogênio Em contraste com os vegetais, os animais usam os carboidratos primariamente para manter as concentrações séricas de glicose entre as refeições. Para garantir o fornecimento prontamente disponível, as células do fígado e dos músculos armazenam carboidrato como glicogênio 3. Celuloses Componente básico dos tecidos vegetais, que dá rigidez e firmeza às plantas e é útil por suas numerosas aplicações. 4. Dextrinas Resultam do processo digestivo e são polissacarídeos de glicose grandes e lineares, de comprimentos intermediários, clivados pelo alto teor de amilose do amido pela α-amilase. As dextrinas limites são clivadas pela amilopectina, que contém pontos de ramificação e podem ser subsequentemente digeridas em glicose pela enzima isomaltase da mucosa. Embora tradicionalmente divididos entre carboidratos simples e complexos, evidências científicas recentes apontam a necessidade de se considerar o papel biológico e o efeito fisiológico na classificação dos carboidratos, incluindo-se o teor de fibras e o índice glicêmico dos alimentos. Índice glicêmico Pode ser definido como uma escala de resposta glicêmica a uma quantidade fixa de carboidrato em comparação à resposta glicêmica de um alimento padrão, geralmente glicose ou pães. É influenciado por fatores como processamento dos alimentos, mastigação, resposta fisiológica ou metabólica dos indivíduos, assim como pelo teor de fibras, proteínas e lipídios contidos no alimento. Pode ser consultado na International Tables of Glycemic Index. Teor de fibra As fibras são polissacarídios vegetais e lignina não digeríveis pelo organismo humano, não contribuindo, desse modo, com o valor calórico dos alimentos. A definição das fibras como polissacarídios não amiláceos vem sendo largamente utilizada. O papel da fibra no sistema GI varia de acordocom sua solubilidade. Os oligossacarídeos e as fibras não absorvíveis possuem um efeito importante sobre a fisiologia humana. As fibras insolúveis, tais como a celulose, aumentam a capacidade de retenção de água do material não digerido, levando ao aumento do volume fecal, ao aumento da frequência de evacuações diárias e ao trânsito intestinal diminuído. Por outro lado, as fibras solúveis formam géis, desaceleram o tempo de trânsito gastroinstestinal, ligam outros nutrientes, tais como colesterol e sais minerais, e diminuem a sua absorção. Certos oligossacarídeos não digeríveis (OND), que são fermentados pelas bactérias intestinais, estimulam a absorção intestinal e a retenção de alguns minerais, como o cálcio, o magnésio, o zinco e o ferro (Scholz-Ahrens et al., 2001). O papel da fibra na fisiologia do sistema GI é complexo. A ingestão adequada da fibra total é de 38 g/dia para homens e 25 g/dia para mulheres (IOM, Food and Nutrition Board, 2002). Função 1. Fornecimento de energia Os seres humanos obtêm energia através da alimentação. Quando ingerido, o carboidrato é decomposto por enzimas específicas em unidades menores de açúcares até que se produza a glicose. Nas células, a energia é obtida a partir da glicose, conforme a equação global a seguir. C6H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O + energia Essa energia liberada é utilizada, por exemplo, pelo sistema nervoso, sendo o cérebro o principal consumidor. A energia dos neurônios é proveniente quase que exclusivamente da glicose. Ele deve ser suprido regularmente e em intervalos frequentes, para satisfazer as necessidades energéticas do organismo. Em um homem adulto, 300g de carboidrato são armazenados no fígado e músculos na forma de glicogênio e 10g estão em forma de açúcar circulante. Esta quantidade total de glicose é suficiente apenas para meio dia de atividade moderada, por isso os carboidratos devem ser ingeridos a intervalos regulares e de maneira moderada. 2. Armazenamento energético Plantas possuem um pigmento verde chamado de clorofila, que é capaz de absorver a energia luminosa proveniente do Sol. Utilizando o gás carbônico do ar e a água captada pelas raízes, as plantas são capazes de converter energia solar em energia química no processo de fotossíntese. A fotossíntese ocorre segundo a reação química a seguir. 6 CO2(g) + 6 H2O(l) + luz solar → C6H12O6(aq) + 6 O2(g) As moléculas de glicose (C6H12O6) produzidas combinam-se e formam o amido, polissacarídeo responsável pelo armazenamento energético em órgãos vegetais. O corpo armazena carboidratos em três lugares: no fígado, nos músculos (glicogênio) e no sangue (glicose). Essas reservas evitam que nossos músculos sejam consumidos para a produção de energia em ocasiões de dieta de emagrecimento ou de estado de fome. 3. Estruturação celular A célula vegetal é a unidade formadora do tecido das plantas, sendo constituída de organelas e material genético, delimitados por uma parede celular. O principal componente da parede celular é a celulose, um polissacarídeo composto por inúmeras moléculas de glicose. A celulose faz com que as células dos vegetais possuam uma estrutura fixa, que é responsável pela proteção, sustentação e resistência. Esse carboidrato também regula o acesso de água na célula e a interação entre células vizinhas. A quantidade de carboidratos da dieta determina como as gorduras serão utilizadas para suprir uma fonte de energia imediata. Se não houver glicose disponível para a utilização das células (jejum ou dietas restritivas), os lipídios serão oxidados, formando uma quantidade excessiva de cetonas que poderão causar uma acidose metabólica, podendo levar ao coma e a morte. Recomendação nutricional Os valores de EAR e RDA são iguais a partir de um ano de idade, ou seja, de 100 a 130 g, respectivamente. Essa quantidade é facilmente ultrapassada pelo consumo habitual de alimentos fontes de carboidratos pela população brasileira. Para crianças menores de 1 ano não foram estabelecidas EAR ou RDA, e sim AI (Adequate Intake), que é utilizada quando não há dados suficientes para a determinação da EAR e, consequentemente, da RDA. Pode-se dizer que é um valor estimado prévio à RDA (Tabela 1) (IOM, 2005). Considerando-se que as recomendações da OMS (WHO, 2003) estão mais próximas da realidade brasileira, no planejamento de uma dieta de 2.000 kcal os carboidratos disponíveis pelo grupo do arroz, pães, massas, batata e mandioca, e pelo grupo dos açúcares e doces deverão contribuir diariamente com 225 a 325 g. O Guia Alimentar para a População Brasileira, publicado em 2005 pelo Ministério da Saúde, orienta o consumo de carboidratos de acordo com a recomendação da OMS (WHO, 2003), sendo de 55 a 75% do VET da dieta. Desse total, 45 a 65% devem ser provenientes de carboidratos complexos e fibras, e menos de 10% de açúcares livres (ou simples), como açúcar de mesa, refrigerantes e sucos artificiais, doces e guloseimas em geral. Deficiência/excesso O excesso de carboidratos na alimentação, principalmente os refinados, são decompostos pelas enzimas no intestino e transformados em glicose rapidamente. Isso pode se transformar em um ciclo vicioso no organismo, pois é estimulada a produção de insulina devido à elevação da quantidade de açúcar no sangue. A insulina, por sua vez, diminui o nível de glicose no sangue de forma rápida, o que pode gerar sensação de fraqueza e ainda mais fome. A carência de carboidratos no organismo faz com que a gordura corporal passe a ser utilizada como fonte de energia. Entretanto, o carboidrato é importante no processo de queima de gordura e, sem ele, o processo é incompleto, fazendo com que haja a formação de toxinas que podem acarretar, por exemplo, na diminuição do pH do sangue e desidratação. Outra fonte de energia alternativa aos carboidratos são as proteínas, utilizadas para produção de músculos. Quando o organismo utiliza as proteínas como combustível, isso pode acarretar em um estresse nos rins. Como o carboidrato é a principal fonte de energia para o cérebro A ausência do carboidrato no organismo diminui a glicose necessária ao cérebro, o que pode causar mal-estar, dor de cabeça e dificuldade de concentração. Sem o carboidrato a pessoa também pode ficar mal-humorado, uma vez que o nutriente é essencial na produção de serotonina, o neurotransmissor que estimula o bom humor. Vai causar também um mau funcionamento do intestino por que As fibras, essenciais ao bom funcionamento do intestino, estão em diversas fontes de carboidratos. Fonte. A tabela a seguir possui uma lista dos alimentos que possuem maior quantidade de carboidratos, assim como a sua quantidade de fibras: Alimentos Quantidade de carboidratos (100 g) Fibras (100 g) Energia em 100 g Cereais de milho tipo Corn flakes 81,1 g 3,9 g 374 calorias Farinha de milho 75,3 g 2,6 g 359 calorias Farinha de trigo 75,1 g 2,3 g 360 calorias Farinha de centeio integral 73,3 g 15,5 g 336 calorias Biscoito Maisena 75,2 g 2,1 g 443 calorias Torrada integral 62,5 g 7,4 g 373 calorias Bolacha tipo cream cracker 61,6 g 3,1 g 442 calorias Pão francês 58,6 g 2,3 g 300 calorias Pão de centeio 56,4 g 5,8 g 268 calorias Pão branco 44,1 g 2,5 g 253 calorias Arroz branco cozido 28,1 g 1,6 g 128 calorias Arroz integral cozido 25,8 g 2,7 g 124 calorias Macarrão cozido 19,9 g 1,5 g 102 calorias Aveia em flocos 66,6 g 9,1 g 394 calorias Batata cozida 18,5 g 1,6 g 87 calorias Batata doce cozida 28,3 g 3 g 123 calorias Ervilhas cozidas 7,9 g 4,8 g 72 calorias Grão de bico cozido 16,7 g 5,1 g 130 calorias Lentilhas cozidas 16,3 g 7,9 g 93 calorias Feijão preto cozido 14,0 g 8,4 g 77 calorias Soja cozida 5,6 g 5,6 g 151 calorias Esta tabela apesenta apenas alguns dos alimentos mais ricos em carboidratos.Existem outros alimentos que contém carboidratos, mas em menor quantidade, como o leite, iogurte, queijo, abóbora, beterraba, cenoura, maçã ou pera, por exemplo. LIPÍDEOS A palavra lipídio deriva do grego lipos e significa gordura. São substâncias orgânicas de origem animal ou vegetal, insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos. Esses componentes variam consideravelmente quanto ao tamanho e à polaridade, desde formas hidrofóbicas, como os triacilgliceróis (TG) e ésteres de esterol, até formas mais hidrossolúveis, como os fosfolipídios (PL) e as cardiolipinas. Formados por carbono, hidrogênio, oxigênio, ácidos graxos e glicerol, podem conter raramente nitrogênio, fósforo e enxofre. Classificação c) Simples: são os monoglicerídios, diglicerídios e triglicerídios; sendo que 95% das gorduras que consumimos são triglicerídios. d) Compostos: lipídios formados por ácidos graxos e glicerol e uma substância não lipídica, por exemplo, lipoproteínas e fosfolipídios. e) Derivados: são substâncias que se produzem na hidrólise ou na decomposição enzimática dos lipídios, por exemplo, o colesterol. Classificação em relação à sua essencialidade 1. Ácidos graxos essenciais:devem ser consumidos pela alimentação. » Linolênico (W3): é encontrado em sementes, nozes e óleos vegetais de milho, soja, algodão, gergelim e girassol. São encontrados também em peixes: cavalinha, salmão, sardinha, anchova, tainha, manjuba, arenque, truta e atum. » Linoleico (W6): é encontrado nos óleos de canola, soja e também em nozes. 2. Ácidos graxos não essenciais: são sintetizados no organismo a partir do consumo dos ácidos graxos essenciais. Exemplo: oleico e araquidônico. Classificação em relação à sua saturação 1) Ácidos graxos saturados: encontrados em produtos de origem animal e alguns óleos vege- tais (óleo de coco e dendê). São geralmente sólidos à temperatura ambiente. 2) Ácidos graxos insaturados: encontrados em produtos de origem vegetal. - Monoinsaturados (MUFA): apresentam uma dupla ligação. Encontrados em alimentos de origem vegetal, são líquidos à temperatura ambiente. Exemplo: ácido oleico. - Poli-insaturados (PUFA): apresentam duas ou mais duplas ligações. Encontrados em produtos de origem vegetal, são líquidos à temperatura ambiente. Exemplos: ácidos linoleico, linolênico e araquidônico 3) Ácidos graxos trans: conhecidos como gorduras trans, a princípio são insaturados, porém sofrem o processo de hidrogenação na indústria, fase em que são adicionados hidrogênios para melhorar a consistência e conferir maior palatabilidade aos produtos alimentícios. Existem artigos científicos que demonstram que as gorduras trans são pre- judiciais às artérias e veias do coração. Preconiza-se a recomendação de apenas 2 g/dia de gorduras trans. Classificação em relação à sua cadeia lipídica 1. Ácido graxo de cadeia curta: com 4 a 6 carbonos. 2. Ácido graxo de cadeia média: com 8 a 12 carbonos. 3. Ácido graxo de cadeia longa: com quantidade de carbonos maior ou igual a 14 Fosfolipídios: Os PL são encontrados em pequena quantidade na dieta e apresentam propriedades anfipáticas. A porção da molécula que contém fosfato forma ligações de hidrogênio com a água, e os dois AG formam interações hidrofóbicas com as outras gorduras. Os PL compõem mais de 50% da bicamada da biomembrana, fornecendo barreira lipídica para o transporte não regulado de moléculas hidrossolúveis na célula. Esteróis Com os PL, o colesterol desempenha função estrutural, formando a dupla camada que constitui as membranas celulares e a camada única que reveste as lipoproteínas (LP). O colesterol desempenha outras funções no organismo, sendo precursor dos ácidos biliares, dos hormônios esteroides e da vitamina D. Glicolipídios: Componentes formados por uma base esfingosina e AG de cadeia muito longa (22 carbonos), fazem parte do tecido nervoso e de certas membranas celulares, com o papel de transportar lipídios. Entre os glicolipídios, incluem-se os cerebrosídios, que contêm galactose, e os gangliosídios, que apresentam glicose e um composto complexo contendo aminoaçúcar. Isoprenoides: Esse grupo inclui os óleos essenciais nas plantas e os pigmentos responsáveis pela transferência de elétrons na fotossíntese (licopeno, carotenoides e grupo clorofila amarelo/verde). Conceito do grupo dos nutrientes: Os lipídios, também conhecidos como ácido graxo, podem ser derivados de óleos e gorduras (em que a gordura pode ser considerada, de acordo com sua ingestão, prejudicial ao organismo, saturada, ou boa, insaturada), as moléculas desse nutriente vão ser hidrofóbicas ou anfipáticas, sendo compostas por oxigênio, hidrogênio e carbono, podendo abranger também enxofre, fósforo e nitrogênio. Apesar de serem insolúveis em água, podem ser solúveis em substâncias como éter, álcool, acetona e clorofórmio. Além disso, o consumo dos lipídios, que por englobar menos oxigênio que as proteínas e carboidratos vão fornecer um maior auxílio na manutenção do organismo por meio das maiores taxas de energia, também vai servir como importante condutor de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e vai disponibilizar os ácidos graxos essenciais, já que não é possível produzir pelo organismo humano, sendo atingido devido ao consumo de alimentos que servem como fonte de lipídios. Assim, essas divergentes fontes de lipídios em alimentos vão promover diferentes tipos de ácidos graxos que por meio do resultado das ações desses será possível comprovar que esses nutrientes são essenciais ao corpo humano, apesar da comum associação ao excesso de peso, pois ele vai realizar funções de extrema importância para a manutenção da homeostase no organismo como o abastecimento de energia, formação de membranas celulares, modulação das respostas inflamatórias, entre outros. Funções: Os lipídios vão ter ações de grande importância para o organismo, fornecendo nutrientes que irão disponibilizar para auxílio do equilíbrio dentro do corpo humano as seguintes funções biológicas: Armazenamento de energia (quando ingerido em excesso terá armazenamento no tecido adiposo, passando a ser consumido pelo organismo quando necessário), cada grama de lipídios contém 9 quilocalorias de energia. Produção de hormônios e sais biliares. Auxílio na absorção de vitaminas A, D, E, e K que por serem lipossolúveis vão dissolver na gordura. Isolamento térmico, sendo fundamental para suportar temperaturas baixas, fazendo parte da manutenção da temperatura corporal. Proteção e suporte para órgãos internos. Disponibilização de ácidos graxos essenciais para síntese de moléculas orgânicas e formação das membranas celulares. Recomendações alimentares: Idade Lipídios (g/dia) Ácido linoleico (g/dia) Ácido alfa- linolênico (g/dia) Lactentes 0-6 meses 31 4,4 0,5 A recomendação de ingestão diária de gorduras é de 25% a 30% do valor calórico total, tendo preferencialmente um consumo moderado por meio de alimentos vegetais e seus óleos, já que são fontes ricas em calorias. Segundo a Associação Americana de Diabetes, deve-se ser estabelecido a quantidade de consumo de lipídios diários de acordo com as metas do tratamento, além disso, se foi recomendado também que essa ingestão calórica não passasse dos 30% e que menos de 10% das calorias devem ser disponibilizadas por ácidos graxos saturados. 7-12 meses 30 4,6 0,5 Crianças 1-3 anos ND 7 0,7 4-8 anos ND 10 0,9 Homens 9-13 anos ND 12 1,2 14-18 anos ND 16 1,6 19-30 anos ND 17 1,6 31-50 anos ND 17 1,6 51-70 anos ND 14 1,6 >70 anos ND 14 1,6 Mulheres 9-13 anos ND 10 1,0 14-18 anos ND 11 1,1 19-30 anos ND 12 1,1 31-50 anos ND 12 1,1 51-70 anos ND 11 1,1 >70 anos ND11 1,1 Gestantes 14-18 anos ND 13 1,4 19-30 anos ND 13 1,4 31-50 anos ND 13 1,4 Lactantes 14-18 anos ND 13 1,3 19-30 anos ND 13 1,3 31-50 anos ND 13 1,3 ND: não disponível Fonte: IOM (2005) Valores referenciais para lipoproteínas plasmáticas para adultos (>20 anos) e ambos os sexos: Lipoproteína (mg/dℓ) Com jejum (mg/100 mℓ) Sem jejum (mg/100 mℓ) Categoria referencial Colesterol total* < 190 < 190 Desejável HDL colesterol > 40 > 40 Desejável Triacilgliceróis > 150 < 175** Desejável Categoria de risco LDL colesterol < 130 < 130 Baixo < 100 < 100 Intermediário < 70 < 70 Alto < 50 < 50 Muito alto Não HDL colesterol < 160 < 160 Baixo < 130 < 130 Intermediário < 100 < 100 Alto < 80 < 80 Muito alto * Colesterol total > 310 mg/dℓ: há probabilidade de hipercolesterolemia familiar. ** Quando os níveis de triacilgliceróis estiverem acima de 440 mg/dℓ (sem jejum), deve ser solicitada outra avaliação laboratorial de triacilglicerol com jejum de 12 h. Sexo Faixa de distribuição aceitável (lipídios) Recomendações segundo Adequate Intake – AI (ingestão adequada) para lipídios Entre 19 e 50 anos Homens 17 g/dia Mulheres 12 g/dia Acima de 50 anos Homens 14 g/dia Mulheres 11 g/dia Faixa de distribuição aceitável (ácido α-linolênico) Homens 1,6 g/dia Mulheres 1,1 g/dia Deficiência e excesso: Baixo consumo em ácidos graxos ômega 3 com um alto consumo de LA podem levar à inflamação crônica, tendência de coagulação do sangue, hipertensão e consequente aumento do risco de ataque cardíaco e derrame. Alto consumo de gorduras saturadas pode levar ao aumento dos níveis de glicemia, colesterol e triglicérides. Dependendo da proporção de ácido linoléico na dieta e dos ácidos eicosapentaenóico e docosahexaenóico pode ocorrer uma deficiência na função das plaquetas e respostas inflamatórias, tendo como consequência o desenvolvimento de algumas doenças crônicas, como artrite reumatoide e problemas cardiovasculares. O excesso de consumo de lipídios em forma de alimentos gordurosos pode causar uma digestão mais lenta, e consequências como derrame cerebral e infarto. Uma grande ingestão de colesterol como por exemplo 300 mg/dia pode acarretar um crescimento na concentração de colesterol plasmático no organismo. Baixos níveis de lipídios (que pode ser causado por anomalias genéticas) pode fazer com que o indivíduo apresente fezes gordurosas, incapacidade intelectual e redução do crescimento. A deficiência de ácidos graxos (algo raro) é mais preocupante em caso de pacientes submetidos à nutrição parenteral, em casos de doença de má absorção do trato gastrointestinal, em gestantes e lactantes, pois o desenvolvimento normal do cérebro vai depender desse consumo de ácidos graxos, podendo ser prejudicado de acordo com a quantidade de ingestão do mesmo. Fonte alimentar: As conhecidas gorduras e óleos vão ser a fonte principal dos lipídios, tendo como principal componente os triglicerídeos compostos por uma molécula de glicerol e três ácidos graxos e sendo encontrados tanto em alimentos de origem vegetal quanto de origem animal. Sementes de linho, óleo de cânhamo, noz, soja e canola (abundante presença do ácido alfa-linolênico (ALA) Peixes, óleo de peixe (presença de EPA e DHA, principais ácidos graxos ômega 3 Cártamo, girassol, milho, soja, gergelim, amêndoas, canola, amendoim, azeite, coco e palmiste (presença do ácido linoleico (LA) Óleo de prímula (7 a 10%), groselha negra (15 a 20 g/100g) (presença de ácido gama-linolênico). Carnes, ovo, lacticínios (presença de ácido araquidônico). Produtos de origem animal, como carne vermelha, manteiga e produtos lácteos (presença de ácidos graxo saturados). Abacate, castanha, queijos amarelados, azeite, peixes, chocolates, linhaça, carnes vermelhas, coco, entre outros (alimentos ricos em lipídios PROTEÍNAS As proteínas são substâncias compostas de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, além de enxofre, fósforo, ferro e cobalto. A palavra proteína origina-se do grego proteios, nutriente de primeira importância. A base da estrutura da proteína, ou seja, os blocos de construção são os aminoácidos que podem ser essenciais, não essenciais ou condicionalmente essenciais. Os aminoácidos ligam-se uns aos outros (ligação peptídica) para formar uma molécula de proteína. Desta maneira, temos dipeptídios (dois aminoácidos ligados entre si), tripeptídios (três aminoácidos ligados entre si) e polipeptídios (muitos aminoácidos ligados entre si) Classificação Os 20 aminoácidos primários receberam abreviações de três letras ou um símbolo de uma única letra para indicar a composição e a sequência dos aminoácidos em cadeias polipeptídicas. Do ponto de vista nutricional, os aminoácidos foram inicialmente classificados em essenciais e não essenciais. Os nove aminoácidos essenciais referem-se àqueles cujos esqueletos de carbono não podem ser sintetizados em seres humanos, devendo por isso, ser fornecidos pela dieta. Com o avanço do conhecimento do metabolismo proteico e das características nutricionais desses compostos, essa classificação tem sofrido modificações. A Tabela 3.2 apresenta classificação atual dos aminoácidos essenciais, não essenciais e semiessenciais (condicionalmente indispensáveis). » Estrutural: construção e manutenção dos tecidos, formação de hormônios, enzimas e anticorpos. Classificação dos aminoácidos quanto à sua função Os aminoácidos presentes nos alimentos têm funções específicas no organismo e podem ser classificados como: 1)Essenciais: aqueles que devem ser fornecidos pela alimentação. Arginina, Treonina , Triptofano , Histidina , Lisina , Leucina , Isoleucina , Metionina, Valina, Fenilalanina A deficiência na ingestão ou a ausência dessas substâncias pode acarretar problemas no desenvolvimento, principalmente em crianças, como perda de peso, atraso do crescimento, entre outros. 2) Não essenciais: aqueles que podem ser sintetizados pelo organismo a partir da presença de aminoácidos essenciais. Alanina , Glutamato, Asparato, Glutamina 3)Condicionalmente essenciais: aqueles que podem se tornar essenciais para bebês prematuros ou em algumas situações clínicas específicas. Taurina , Cisteína , Tirosina , Glicina , Prolina , Serina Classificação das proteínas quanto ao seu valor biológico 1)Proteína de alto valor biológico (PAVB): contém todos os aminoácidos essenciais em proporções adequadas para melhor utilização do organismo. Presente em alimentos de origem animal, porém estudos recentes já caracterizam a soja e seus derivados como PAVB. 2)Proteína de baixo valor biológico (PBVB): não possui quantidades adequadas de aminoácidos essenciais. Presente em alimentos de origem vegetal, principalmente nas leguminosas. Funções Energética: fonte de energia; cada grama de proteína fornece cerca de 4 kcal. Reguladora: carreadoras de gorduras, conhecidas como lipoproteínas e contribuem para o equilíbrio do corpo. Estrutural: construção e manutenção dos tecidos, formação de hormônios, enzimas e anticorpos. As proteínas são macromoléculas de grande importância no nosso organismo, tanto que constantemente em nossas células ocorrem sínteses proteicas devido a praticidade e a quantidade de atividades que a classe das proteínas podem cumprir, por exemplo, algumas proteínas têm função de transporte, outras de reparo . Apesar dessa síntese é de extrema necessidade a ingestão de proteínas na alimentação diariamente. Os aminoácidos obtidos a partir da alimentação, sendo os aminoácidos a unidade formadora da proteína, vários aminoácidos ligados entre si foram um polipeptídeo que é uma proteína, esses aminoácidos são carregados as mais diversas células do nosso corpo onde vaiocorrer turnover protéico que é a quebra e formação de proteínas conforme a necessidade. As proteínas, diferentemente de carboidratos e lipídeos, não têm um mecanismo de armazenamento interno, por esse motivo devemos ingerir diariamente uma quantidade necessária para a obtenção dos aminoácidos essenciais ao funcionamento do corpo. Composição básica de um aminoácido Recomendação alimentar Abaixo apresenta-se uma tabela referente a quantidade de aminoácidos e proteínas essenciais que devem ser ingeridos diariamente, em uma análise média estimativa e diária recomendada pelo Food and Nutrition Board e o Institute of Medicine (IOM, 2015). Sendo a unidade grama de proteína por quilograma corporal. EAR : é a necessidade média estimada, e representa o valor de ingestão diária de um nutriente, estimado para cobrir as necessidades de 50% dos indivíduos saudáveis de uma determinada faixa etária, estado fisiológico e sexo. RDA : é a ingestão dietética recomendada, que representa o nível de ingestão dietética suficiente para cobrir as necessidades de quase todos os indivíduos saudáveis (97 a 98%) em determinada faixa etária, estado fisiológico e sexo. Fontes alimentares: As proteínas podem ser encontradas em alimentos de fontes animais (carnes, frango, peixe, boi), sendo essas denominadas completas devido a sua composição completa acerca dos aminoácidos indispensáveis. Além disso, leguminosas e cereais também são fontes de proteínas, porém em menor quantidade, podendo assim, um complementar o outro. É de suma importância se atentar ao preparo desses alimentos devido a presença de agentes antinutricionais, isso é, compostos naturalmente presentes nos alimentos em natura que dificultam ou impedem a quebra dos polipeptídeos em aminoácidos, compostos como taninos, lectinas, inibidores de tripsinas e quimitripsinas. A ingestão desses podem sobrecarregar, por exemplo, o pâncreas, pois faz com que se faça parecer necessário maior produção de suco pancreático para digerir essas moléculas, causando uma hipertrofia pancreática. Para eliminar esses compostos alguns processos devem anteceder o consumo como, por exemplo, deixar leguminosas de molho para a eliminação dos taninos e consumi-los apenas após o cozimento, pois o aumento da temperatura desnatura esses compostos anutricionais. Deficiência: A deficiência proteica pode causar diversos sintomas devido à sua importância, como a fadiga, perda de peso devido a má digestão, baixa na imunidade tornando- se mais frequente a aparição de doenças. Os indivíduos com desnutrição proteico-energética (PEM) ou desnutrição proteicocalórica (PCM) podem ter sintomas variáveis, determinados por causa da desnutrição. A inanição de proteínas e calorias leva ao marasmo, uma extremidade do PEM continuum. Na extremidade oposta do continuum, está a privação de proteína que ocorre em indivíduos que estejam consumindo quase exclusivamente carboidrato. Kwashiorkor é a palavra em ganês para a doença que se desenvolve quando a primeira criança de uma mãe é desmamada do leite materno rico em proteínas para uma fonte alimentar de carboidrato pobre em proteína. A condição é causada pela deficiência grave de proteínas e hipoalbuminemia. Nos adultos, o termo correto é desnutrição proteico-energética, não o termo pediátrico, kwashiorkor. REFERÊNCIAS DOS GOMES, Clarissa Emília T.; SANTOS, Eliane Cristina. Nutrição e Dietética. São Paulo: Editora Saraiva, 2015. MAHAN, L. Kathleen; ESCOTT-STUMP, Sylvia (Ed.). Krause, alimentos, nutrição & dietoterapia. São Paulo: Editora Roca, 2005. CUKIER, Celso; CUKIER, Vanesssa. Macro e micronutrientes em nutrição clínica. Barueri: Editora Manole, 2020. ROSSI, Luciana.Tratado de Nutrição e Dietoterapia. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2019. EYFFARTH, Anelena Soccal. Manual de Nutrição. Niterói: ., 2006/2007. Disponível em:<https://crn5.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Manual-Calorias- Macronutrientes-eMicronutrientes.pdf> Acesso em: 23 mar. 2022. MOREIRA, APB et al. Evolução e interpretação das recomendações Nutricionais para os macronutrientes. Viçosa, Mg. mar. 2012. Disponível em: - <http://www.braspen.com.br/home/wp-content/uploads/2016/12/08-Evolu %C3%A7%C3%A3o-e-interpreta%C3%A7%C3%A3o-das-recomenda %C3%A7%C3%B5es.pdf> https://crn5.org.br/wp-content/uploads/2013/05/Manual-Calorias-Macronutrientes-e-Micronutrientes.pdf 1. Fornecimento de energia 2. Armazenamento energético 3. Estruturação celular
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