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1 PROPEDÊUTICA OBSTÉTRICA E PRÉ-NATAL DE RISCO HABITUAL E RISCO INTERMEDIÁRIO Gizelle Felinto PONTOS PRINCIPAIS ➢ Conhecer e distinguir os sinais e sintomas da gravidez ➢ Reconhecer e tratar a hiperêmese gravídica: • Durante a gestação, a maioria das mulheres apresentam enjoo • Quando essa êmese se acentua, tornando-se praticamente incontrolável, e, às vezes, apresentando desidratação, perda ponderal e/ou cetose, por exemplo, denomina-se de hiperêmese gravídica. Em alguns casos, é necessária a internação hospitalar da gestante • Algumas causas de hiperêmese gravídica: ▪ Gestação gemelar ▪ Mola Hidatiforme... ➢ Saber quais exames laboratoriais solicitar → também deve-se discutir a acurácia dos testes rápidos ➢ Quando pedir a ultrassonografia ➢ Aplicar a regra de Naegele → para calcular a Data Provável do Parto (DPP) IDENTIFICAÇÃO ➢ Além dos dados presentes no cartão do pré-natal, que devem ser preenchidos corretamente e de forma completa, também é importante saber outras informações que podem influenciar na evolução da gravidez de uma mulher, como a idade, a profissão, o estado civil, a nacionalidade e o domicílio ➢ IDADE: • A idade da paciente ajuda a classificar o pré-natal em risco habitual, intermediário ou de alto risco • Sobre a idade de início da gestação: ▪ Mesmo que o início de uma gestação possa ocorrer já aos 10 anos de idade, uma gravidez tem as melhores condições, do ponto de vista biológico, a partir dos 18 – 20 anos de idade ▪ O melhor período de desempenho para uma gestação dura cerca de uma década, sendo ideal até os 30 anos de idade, pois a partir dos 30 anos os riscos para a mãe e para a criança começam a aumentar ▪ Ou seja, o melhor período para engravidar vai dos 18- 20 anos até os 30 anos ▪ Em > 35 anos de idade → há um expressivo risco de índice de mal formação do concepto e de distocias • Segundo dados do Ministério da Saúde: ▪ Gravidez na adolescência → vai de 10 até os 19 anos de idade ✓ Toda gestante adolescente necessita de acompanhamento psicológico ▪ O pré-natal deve ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar (Ex: médico, enfermeiro, dentista, psicólogo, nutricionista), de acordo com as necessidades individuais de cada gestante ▪ Acompanhamento psicológico → nem toda gestante necessita. Aquelas que engravidaram na adolescência ou que apresentem sinais de algum transtorno psicológico ou risco de depressão pós-parto necessitam desse acompanhamento psicológico • Saber a idade da paciente também é importante para identificar características de climatério e tamanho do espéculo ➢ PROFISSÃO: • É de suma importância saber qual o trabalho dessa gestante, para que se analise se há riscos para a mãe e para o bebê • É importante o conhecimento da profissão da gestante, principalmente quando ela é predisposta a abortamento, para que ela seja orientada quanto a necessidade ou não de abster-se do esforço físico ou do contato com substâncias químicas manuseadas em alguns trabalhos (Ex: álcool, chumbo, fósforo, nicotina...) • Exemplos: ▪ Gestante que é frentista de posto de gasolina → recomenda-se o uso de máscaras especiais, para que ela não inale substâncias prejudiciais ▪ Gestante que é anestesiologista → é recomendado que não faça anestesia geral ▪ Gestante que é radiologista → deve ter muito cuidado com a radiação ao manusear os aparelhos ➢ ESTADO CIVIL: • Mulheres grávidas que tem um companheiro são menos vulneráveis: ▪ Porém, também existem aquelas gestantes que sofrem violência doméstica. Assim, na ficha perinatal também se pergunta sobre isso à gestante → caso ela afirme que sofre violência doméstica, o papel do médico é justamente orientá-la a fazer a denúncia ▪ É de suma importância também fazer o pré-natal do parceiro • Tem-se uma maior morbidade e mortalidade materna e fetal entre as gestantes solteiras ➢ NACIONALIDADE E DOMICÍLIO: • A procedência da paciente auxilia o médico na orientação quanto ao rastreio da possibilidade de doenças que podem influenciar consideravelmente na gestação, como Doença de Chagas, Esquistossomose e Malária ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS ➢ Número de Gestações: • Incluindo os abortamentos ▪ Se a gestante já teve uma gravidez ectópica, também se considera como um aborto ➢ Número de Partos: • Onde foi o parto → domiciliar ou hospitalar • Via de parto → vaginal ou cesárea ▪ Se for cesáreo, deve-se perguntar o motivo da indicação do procedimento, pois, às vezes, pode ter sido devido a alguma complicação na gestação anterior • Perguntar se houve uso do fórceps ➢ Número de Abortamentos: • Deve-se perguntar se foi espontâneo ou provocado • Questionar sobre as causas do abortamento, como: ▪ Por Infecção Sexualmente Transmissível (IST) 2 PROPEDÊUTICA OBSTÉTRICA E PRÉ-NATAL DE RISCO HABITUAL E RISCO INTERMEDIÁRIO Gizelle Felinto ▪ Complicação de Insuficiência Istmo-Cervical (IIC) → é a abertura/dilatação indolor do colo do útero, resultando no abortamento ➢ Como se coloca o número de gestações, partos e abortamentos: • Exemplo: mulher grávida do 3º filho, com os dois partos tendo sido vaginais e sem abortamentos → G3P2A0 (Gesta 3, Para 2 e Abortos zero) ➢ Número de Filhos vivos → deve-se perguntar também se algum filho faleceu ➢ Idade da primeira gestação ➢ Intervalo entre as gestações: • Se o intervalo entre uma gravidez e outra for < 2 anos, há um aumento dos riscos tanto para a mãe quanto para o bebê ▪ Ex: se uma mulher que foi submetida a um parto vaginal ou cesáreo há 1 ano e agora encontra-se novamente grávida for submetida novamente a outro parto, aumentam-se os riscos de rotura uterina ou até mesmo o bebê pode não nascer com o peso adequado ➢ Isoimunização Rh: • É essencial que se saiba o tipo sanguíneo da gestante: ▪ Rh + (soropositiva) → não é isoimunizada ▪ Rh – (soronegativa) → deve-se solicitar o Coombs indireto ✓ Coombs indireto x Coombs direto → se forem positivos, a criança está isoimunizada o Coombs indireto → é o que é solicitado no pré-natal o Coombs direto → solicita-se quando o bebê nasce, colhendo-se o sangue do bebê ou do cordão. ➢ Número de recém-nascidos pré-termo ou pós-termo (≥ 42 semanas de gestação) • O ideal é que um bebê nasça a partir de 39 semanas de gestação • Uma gravidez normal pode durar até 42 semanas, porém nunca se deve mandar uma gestante com 40 semanas e 1 dia para casa, por exemplo → nesse caso, deve-se avaliar, pela primeira ultrassonografia, se essa mulher está com a idade gestacional correta. Assim, deve-se internar a paciente e induzir o parto normal. Porém, se essa indução não der certo, deve-se indicar a cesariana. Isso é importante porque se essa gestante com 40 semanas e 1 dia for mandada para casa, ela pode retornar para o hospital em alguns dias com os batimentos cardíacos fetais inaudíveis, configurando uma morte fetal intraútero ➢ Número de recém-nascidos e o peso (Baixo peso < 2,5 kg ou bebê macrossômico > 4 kg) → deve-se questionar se a mãe apresenta alguma doença, como o diabetes ➢ Mortes neonatais → são aquelas que ocorrem até 7 dias de vida do bebê TERMOS MÉDICOS ➢ GESTAÇÃO BIOQUÍMICA → é uma gestação muito precoce, sendo identificada antes mesmo de haver o atraso menstrual, por meio do exame de sangue ou do teste rápido. E essa gestação pode ou não evoluir ➢ GESTAÇÃO HETEROTÓPICA → é uma condição rara na qual a mulher apresenta uma gravidez gemelar, com uma gestação ectópica (fora da cavidade uterina) simultaneamente a uma gestação intrauterina • É através da ultrassonografia que se sabe se a gestante apresenta esse tipo de gestação GESTAÇÃO ATUAL ➢ Data da Última Menstruação (DUM) - do 1º dia/mês/ano: • Deve-se anotar a tanto a certeza quanto a dúvida da paciente quanto ao primeiro dia da sua última menstruação• Não é o dia em que terminou a última menstruação que ela teve! Mas sim o 1º dia da sua última menstruação • É importante para que se calcule a Data Provável do Parto (DPP) pela DUM, por meio da regra de Naegele ➢ Peso prévio e Altura: • Exemplo → se a mulher engravida e já se encontra em sobrepeso ou obesidade, ela só poderá aumentar cerca de 5 kg em toda a sua gravidez ➢ Sinais e sintomas na gestação em curso ➢ Hábitos alimentares ➢ Medicamentos utilizados na gestação: • Quanto menor o número de medicações que a gestante precisar, melhor será a evolução da gestação • Porém, existem medicações que são essenciais de serem prescritas durante e até mesmo antes de a mulher engravidar (como o ácido fólico): ▪ Ácido Fólico: ✓ Já pode ser prescrito 3 meses antes de a mulher engravidar, caso ela faça o planejamento da gravidez antes ✓ Sua principal função é evitar a mal formação do tubo neural do bebê → o tubo neural se forma em torno da 6ª semana de gestação, por isso que é obrigatório o uso do ácido fólico no 1º trimestre da gravidez. Assim, se o ácido fólico for usado apenas após a 6ª semana, não haverá esse benefício de evitar a mal formação do tubo neural o Caso não seja utilizado, o bebê pode apresentar Mielomeningocele ✓ Existem estudos que comprovam os benefícios do uso do ácido fólico até o final da gravidez → reduz riscos de prematuridade e de descolamento prematuro da placenta, por exemplo ▪ Sulfato Ferroso → é prescrito já na primeira consulta da gestante ➢ Internação durante a gestação atual ➢ Hábitos: • Fumo (número de cigarros por dia) • Álcool • Drogas ilícitas... 3 PROPEDÊUTICA OBSTÉTRICA E PRÉ-NATAL DE RISCO HABITUAL E RISCO INTERMEDIÁRIO Gizelle Felinto ANAMNESE GERAL ➢ Deve-se saber também as seguintes informações sobre a gestante: • Se é portadora de alguma doença → avaliar se a doença irá interferir negativamente no curso da gravidez, devendo- se acompanhar de perto e tratar essa gestante • Quais os riscos da gravidez atual da gestante • Presença de intercorrências durante a gravidez: ▪ Exemplo: paciente que teve um sangramento no 1º trimestre da gravidez • Medicamentos que está em uso • DUM (Data da Última Menstruação) • DPP (Data Provável do Parto) • IG (Idade Gestacional) SINAIS DE GRAVIDEZ ➢ SINAIS DE PROBABILIDADE DA GRAVIDEZ: • SINAL DE HEGAR: ▪ É um sinal de probabilidade da gravidez ▪ Trata-se do amolecimento do istmo uterino que pode ser sentido pelo toque vaginal ou pela palpação abdomino-pélvica • SINAL DE CHADWICK (ou JACQUEMIER): ▪ É o escurecimento ou mudança da cor da mucosa e da pele da região genital nas primeiras semanas da gravidez ▪ Refere-se à distensão venosa da vulva, pelo aumento do fluxo sanguíneo ▪ Ou seja, tem-se uma coloração violácea da vulva e da vagina • SINAL DE OSIANDER: ▪ É a percepção da pulsação da artéria vaginal ao toque • SINAL DE PISKACEK → assimetria uterina observada na palpação ▪ Abaulamento da região onde houve a implantação ovular. Ou seja, o útero fica assimétrico pela nidação • SINAL DE NOBILE-BUDIN: ▪ Decorre do preenchimento do fundo de saco vaginal, ocorrendo um abaulamento ▪ Abaulamento do útero gravídico ao toque do fundo de saco vaginal ➢ SINAL DE CERTEZA DA GESTAÇÃO: • SINAL DE PUZOS: ▪ É um sinal de rechaço fetal intrauterino, no qual tem-se a percepção de movimentos e/ou partes fetais pelo examinados ao toque ▪ Exemplo → a examinadora faz o toque vaginal e sente a cabeça do bebê EXAMES COMPLEMENTARES ➢ EXAMES QUE PODEM CONFIRMAR UMA GRAVIDEZ: • Teste Rápido: ▪ É um teste que pode ser realizado no Posto de Saúde para confirmar a gravidez ▪ A confiabilidade desse teste costuma ser questionada, mas ele é confiável ▪ Assim, se o teste rápido confirmar a gestação → já se pode iniciar o pré-natal ▪ É diferente dos Testes de Farmácia: ✓ Em relação aos testes de farmácia, deve-se analisar se tem o selo do Inmetro e a validade do teste • Fração Beta da Gonadotrofina (Beta-HCG): ▪ Quando a paciente não confia no teste rápido ou deseja fazer o Beta-HCG ou quando não se tem o teste rápido no Posto de Saúde, pode-se solicitar o Beta-HCG • Ultrassonografia: ▪ Solicitar a partir da 6ª semana de gestação ▪ Atenção → NUNCA pedir antes da 6ª semana de gestação, pois antes da 6ª semana pode-se ter o saco gestacional e não haver o embrião, tendo-se a falsa impressão de ser uma gravidez anembrionária, caso ela não evolua com o desenvolvimento do feto ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS DA GRAVIDEZ ➢ SISTEMA RESPIRATÓRIO: • Aumento da Frequência Respiratória (FR): ▪ Exemplo: gestante que chega afirmando que está se cansando muito → nesse caso, pode ser algo fisiológico da própria gravidez, mas não se pode descartar logo de cara que pode se tratar de uma anemia, por exemplo • Aumento do consumo de O2 • Aumento da elevação do diafragma → pois o útero comprime o diafragma ➢ SISTEMA CARDIOVASCULAR: • Aumento do Débito Cardíaco (DC) e da Frequência Cardíaca (FC) CURIOSIDADES #PSEUDOCIESE (“Gravidez Psicológica” ou Falsa Gravidez) - Pode ocorrer quando a mulher tem muita vontade ou muito medo de engravidar, por exemplo - Características: atraso menstrual, crescimento do volume abdominal, sensação de que tem um bebê se mexendo... - Assim, faz-se a ultrassonografia e não se vê fato algum - Nem mesmo o Beta-HCG irá positivar - Cursa com alterações psiquiátricas, havendo necessidade de essa mulher ter acompanhamento com psiquiatra #GRAVIDEZ ANEMBRIONÁRIA - É uma gestação sem o desenvolvimento do embrião - Paciente apresentava exames que confirmavam a gravidez, com o saco gestacional se desenvolvendo normalmente e o óvulo fertilizado pelo espermatozoide implantado no útero, porém o embrião não se desenvolve 4 PROPEDÊUTICA OBSTÉTRICA E PRÉ-NATAL DE RISCO HABITUAL E RISCO INTERMEDIÁRIO Gizelle Felinto • Diminuição da Resistência Vascular Periférica Total (RVPT) • Diminuição da expansão volumétrica ➢ SISTEMA ENDÓCRINO: • Aumento dos seguintes: ▪ Peso corporal → por isso que em cada consulta deve- se calcular o IMC da gestante, para saber se ela está ou não com o peso adequado ▪ Estímulos hiperglicêmicos: ✓ Nesse caso, se o primeiro exame Glicêmico da gestante vier normal, deve-se realizar novo exame na 24ª semana de gestação ✓ Os estímulos hiperglicêmicos aumentam o risco de diabetes gestacional, por isso que se deve solicitar os exames glicêmicos ▪ Consumo de lipídeos e carboidratos: ✓ Assim, o colesterol e os triglicerídeos na gestação podem estar aumentados ✓ Por isso que é essencial o acompanhamento com o nutricionista ➢ SISTEMA OSTEO-MUSCULAR: • Relaxamento da pelve • Aumento da lordose • Deslocamento do centro da gravidade PONTOS PRINCIPAIS: O QUE SABER PARA REALIZAR UM PRÉ-NATAL ➢ Conhecer a rotina básica do pré-natal: • Anamnese completa e correta • Exame de confirmação da gravidez → principalmente para que não se faça um pré-natal de uma pseudociese, por exemplo • Saber quais exames solicitar ➢ Interpretar os resultados dos exames: • Na gestação, a Leucocitose pode ser fisiológica. Assim, quando se pega um hemograma e vê-se uma leucocitose, pode ser algo normal da gravidez ➢ Conhecer as principais queixas durante a gravidez e como abordá-las ➢ Saber quais as vacinas e as principais medicações indicadas e contraindicadas durante a gestação: • Vacinas: ▪ COVID-19 → atualmente, faz-se as 2 doses as Pfizer (não se faz Astrazeneca) ✓ Na gravidez e em mulheres que estão no puerpério até 45 dias ▪ Anti-tetânica ▪ dTpa → é a tríplice bacteriana acelular do tipo adulto, que imuniza contra difteria, tétano e coqueluche ✓ Exemplo: mulher que tomou a dTpa na gestação anterior e depois de 1 ano engravidou de novo → deve tomar novamentea dTpa ▪ Hepatite ▪ Influenza → se ela tomou a vacina da influenza na gravidez passada e depois de um ano, por exemplo, engravidou novamente, ela deve tomar de novo a vacina ROTEIRO DA PRIMEIRA CONSULTA DO PRÉ-NATAL ➢ Confirmar o diagnóstico de gravidez ➢ Fazer o cadastro no sistema de informação ➢ Preencher o cartão do pré-natal: • No local em que essa gestante for ter o bebê, o médico plantonista terá o cartão pré-natal como referência, pois ele contém todo o histórico da gravidez dessa mulher. Por isso e por outros motivos que é essencial preencher corretamente esse cartão pré-natal ➢ Colher uma boa história clínica ➢ Realizar o exame físico ➢ Solicitar exames de rotina ➢ Avaliar o cartão de vacinas ➢ Colher e registrar testes rápidos ➢ Encaminhar para o dentista ➢ Prescrever sintomáticos ➢ Prescrever Ácido Fólico e Sulfato Ferroso: • Ácido Fólico → 1 comprimido 1 hora antes do almoço ➢ Esclarecer dúvidas sobre a gravidez ➢ Realizar classificação de risco: • Risco habitual e risco intermediário → podem ser acompanhadas apenas pelo médico da UBS, caso ele se sinta seguro para conduzir, sem necessidade de encaminhar para o pré-natal de alto risco • Alto risco → deve ser encaminhada para o pré-natal de alto risco e continuar indo também na UBS REDE CEGONHA – PRINCÍPIOS GERAIS ➢ A Rede Cegonha preconiza que o pré-natal deve ter a seguinte padronização: • Anamnese • Testes rápidos • Exame físico • Exames laboratoriais • Encaminhamentos PRÉ-NATAL PELO SUS (RISCO HABITUAL E RISCO INTERMEDIÁRIO) INTRODUÇÃO ➢ Em determinadas regiões brasileiras, cerca de 90% das gestantes tem acesso ao pré-natal. Porém, infelizmente, existem 10% que não tem acesso ao pré-natal CURIOSIDADE ANEMIA NA GESTAÇÃO x SULFATO FERROSO - O manual do Ministério da Saúde orienta a prescrição de 2 comprimidos de Sulfato Ferroso para a gestante que está com a Hemoglobina < 10 g/dL. Porém, as evidências mostram que apenas 1 desses comprimidos será absorvido. Assim, o a prescrição de 2 comprimidos não corrige a anemia e ainda causa dor epigástrica e diarreia nessa gestante, por exemplo. Dessa forma, nesse caso, deve-se avaliar a idade gestacional dessa mulher, encaminhar para o nutricionista e, a depender da idade gestacional, pode-se fazer o ferro endovenosa, que tem absorção mais rápida. 5 PROPEDÊUTICA OBSTÉTRICA E PRÉ-NATAL DE RISCO HABITUAL E RISCO INTERMEDIÁRIO Gizelle Felinto ➢ Em relação à morte materna: • 90% podem ser evitadas com um pré-natal bem conduzido • Existem estratégias de sucesso no pré-natal para redução da mortalidade materna CALENDÁRIO DE CONSULTAS ➢ Consultas Mensais: • Do início até a 28ª semana de gestação ➢ Consultas Quinzenais: • Da 28ª até a 36ª semana de gestação ➢ Consultas Semanais: • Da 36ª até a 41ª semana de gestação • Cuidado! → Gestante com 40 semanas e 1 dia = deve ser internada para indução do parto ➢ Atenção → NÃO existe alta do pré-natal durante a gestação. Essa alta é apenas após o parto ESTRATIFICAÇÃO DA SUBPOPULAÇÃO DE GESTANTES ➢ Mulheres em idade fértil → 10 a 49 anos de idade ➢ Gestantes: • Quando se está diante de uma mulher com atraso menstrual que apresenta um teste rápido de gravidez positivo, por exemplo, deve-se realizar a estratificação de risco e iniciar o pré-natal dessa paciente • A classificação do risco é de acordo com a idade, presença de alguma patologia, exame alterado... • Exemplo: Se a paciente iniciou o pré-natal em risco habitual, mas com a evolução da gravidez ela passou a ser de alto risco → deve-se encaminhar essa paciente para o pré-natal de alto risco RISCO HABITUAL ➢ Nesses casos, pode-se fazer o acompanhamento da gestante na própria UBS ➢ Características das mulheres que configuram risco habitual → características individuais e condições sociodemográficas favoráveis: • Idade entre 16 e 34 anos • Aceitação da gestação: ▪ Se a gravidez não for desejada, deve-se encaminhar a paciente para outro setor, para que tenha também acompanhamento psicológico • Intervalo interpartal > 2 anos (caso ela tenha história de gravidez anterior a atual): ▪ Exemplo: caso a paciente tenha um intervalo entre os partos menor que 1 ano deve-se encaminhá-la para outro setor • Ausência de intercorrências clínicas e/ou obstétricas na gravidez anterior e/ou atual RISCO INTERMEDIÁRIO ➢ Podem ser acompanhadas pela equipe da UBS, caso o médico se sinta seguro para conduzir o pré-natal, ou pode-se encaminhar para o serviço de alto risco ➢ Características Individuais e condições socioeconômicas e familiares: • Idade < 15 anos ou > 35 anos • Condições de trabalho desfavoráveis → Ex: esforço físico excessivo, carga horária extensa, exposição a agente físicos, químicos e biológicos nocivos, níveis altos de estresse... • Indícios ou ocorrência de violência • Situação conjugal insegura • Insuficiência de apoio familiar • Capacidade de autocuidado insuficiente • Não aceitação da gestação • Baixa escolaridade (< 5 anos de estudo) • Tabagismo ativo ou passivo • Uso de medicamentos teratogênicos • Altura < 1,45 metros • IMC < 18,5 ou entre 30 e 39 kg/m2: ▪ IMC < 18,5 → encaminhar para nutricionista e iniciar polivitamínico ▪ Gestante com menos de 19 semanas e IMC ≥ 30 → iniciar profilaxia para pré-eclâmpsia (AAS e Carbonato de Cálcio) • Transtorno depressivo ou de ansiedade leve • Uso de drogas lícitas e ilícitas • Gestante em situação de rua ou em comunidades indígenas ou quilombola • Mulher de raça negra • Outras condições de saúde de menor complexidade ➢ História reprodutiva anterior: • Alterações no crescimento intrauterino (Crescimento Intrauterino Restrito (CIUR) e macrossomia) • Malformação • Nuliparidade ou multiparidade (5 ou mais partos) • Diabetes gestacional • Síndromes hemorrágicas ou hipertensivas sem critérios de gravidade ALTO RISCO ➢ Nesses casos, deve-se encaminhar a paciente para o serviço especializado! (pré-natal de alto risco ou até mesmo, a depender da condição, para locais de referência e mais especializados) ➢ História reprodutiva anterior: • Cesárias prévias (2 ou mais) ou cirurgia uterina anterior recente (exceto incisão clássica/corporal/longitudinal) → pois há risco de rompimento do útero • Intervalo interpartal < 2 anos ➢ Condições e intercorrências clínicas e obstétricas na gestação atual: • Infecção urinária (1 ou 2 ocorrências) ou 1 episódio de pielonefrite • Ganho de peso inadequado 6 PROPEDÊUTICA OBSTÉTRICA E PRÉ-NATAL DE RISCO HABITUAL E RISCO INTERMEDIÁRIO Gizelle Felinto • Sífilis (exceto sífilis terciária ou resistente ao tratamento com penicilina benzatina e achados ecográficos suspeitos de sífilis congênita) • Suspeita ou confirmação de Dengue, vírus Zika ou Chikungunya (quadro febril exantemático) • Presença de alguma patologia antes da gravidez → Ex: Lúpus, doença renal, doença cardíaca... • Aparecimento de alguma patologia durante a gestação → Ex: diabetes gestacional, distúrbio da tireoide... 10 PASSOS PARA O PRÉ-NATAL DE QUALIDADE 1. Iniciar o pré-natal na Atenção Primária até a 12ª semana de gestação (captação precoce) 2. Garantir os recursos humanos, físicos, materiais e técnicos necessários à atenção pré-natal 3. Toda gestante deve ter asseguradas a solicitação, a realização e a avaliação em termo oportuno do resultado dos exames preconizados no atendimento pré-natal 4. Promover a escuta ativa da gestante e de seus acompanhantes, considerando aspectos intelectuais, emocionais, sociais e culturais, e não somente um cuidado biológico: “rodas de gestantes” 5. Garantir o transporte público e gratuito da gestante para o atendimento pré-natal, quando necessário 6. É direito do parceiro ser cuidado (realização de consultas, exames e ter acessoa informações) antes, durante e depois da gestação: “pré-natal do parceiro” • Está na contracapa da caderneta da gestante • Faz-se uma anamnese curta, verifica-se sinais vitais, solicita-se exames, encaminha-se o parceiro para o dentista e atualiza-se o cartão de vacina 7. Garantir o aceso à unidade de referência especializada, caso seja necessário 8. Estimular e informar sobre os benefícios do parto fisiológico, incluindo a elaboração do plano de parto 9. Toda gestante tem direito de conhecer e visitar previamente o serviço de saúde no qual irá dar à luz (vinculação) 10. As mulheres devem conhecer e exercer os direitos garantidos por lei no período gravídico-puerperal DICA PARA SABER QUANTOS DIAS OS MESES POSSUEM ➢ Deve-se saber quantos dias cada mês tem, tanto para o cálculo da Idade Gestacional (IG) quanto para o cálculo da Data Provável do Parto (DPP) ➢ Utilizando a mão em punho → os nós dos dedos correspondem a 31 dias e o espaço entre eles corresponde a 30 • Janeiro = 31 • Fevereiro = 28 ou 29 (ano bissexto) • Março = 31 • Abril = 30 • Maio = 31 • Junho = 30 • Julho = 31 • Agosto = 31 • Setembro = 30 • Outubro = 31 • Novembro = 30 • Dezembro = 31 REGRA DE NAEGELE – DATA PROVÁVEL DO PARTO (DPP) ➢ A regra de Naegele é usada para calcular a Data Provável do Parto (DPP) a partir da Data da Última Menstruação (DUM) da paciente ➢ Nos dias → sempre lembrar quantos dias cada mês tem, pois se a soma dos dias da DUM com os 7 da regra de Naegele passar dos dias do mês, deve-se aumentar 1 mês ➢ Para simplificar: • Nos meses de Janeiro, Fevereiro e Março → Adiciona-se 9 meses • Nos demais meses → retira-se 3 meses • Obs: isso é apenas para simplificar, pois retirando-se 3 meses de janeiro, fevereiro ou março também se consegue o mês da data do parto. Exemplo: ▪ DUM = 10/02/2021 ✓ Retirando-se 3 meses ou adicionando 9 meses obtém-se que a DPP é 17/11/2021 ➢ EXEMPLOS: • DUM: 09/10/2020 ▪ Nos dias → 9 + 7 = 16 ▪ Nos meses → 10 – 3 = 7 (Julho) ▪ No ano → o mês de julho já equivale ao ano de 2021 nesse caso ▪ DPP = 16/07/2021 • DUM: 02/03/2021 ▪ Nos dias → 2 + 7 = 9 ▪ Nos meses → 3 + 9 = 12 (Dezembro) ▪ No ano → Dezembro continua em 2021 nesse caso ▪ DPP = 09/12/2021 • DUM: 28/10/2020 ▪ Nos dias → lembrar que Outubro tem 31 dias! ✓ 28 + 7 = 35 (31 + 4) → assim, o dia é o 04 e aumenta-se 1 mês no resultado da DPP ▪ Nos meses → 10 – 3 + 1 (mês a mais correspondente aos dias) = 8 (Agosto) ▪ No ano → o ano já corresponde ao ano de 2021 ▪ DPP = 04/08/2021 REGRA DE NAEGELE 𝐷𝑈𝑀 = 𝑑𝑖𝑎 / 𝑚ê𝑠 / 𝑎𝑛𝑜 Adiciona-se 7 dias Adiciona-se 9 meses ou retira-se 3 meses 7 PROPEDÊUTICA OBSTÉTRICA E PRÉ-NATAL DE RISCO HABITUAL E RISCO INTERMEDIÁRIO Gizelle Felinto EXAMES LABORATORIAIS ➢ EXAMES DO PRIMEIRO TRIMESTRE DA GESTAÇÃO → devem ser solicitados já na primeira consulta do pré-natal: • Hemograma Completo: ▪ Repetir entre 28 e 30 semanas de gestação • Grupo Sanguíneo (ABO) e fator Rh • Glicemia de Jejum: ▪ Repetir entre 28 e 30 semanas, em gestantes sem fator de risco para diabetes ▪ Se o resultado for ≥ 92 mg/dL → considerar diabetes gestacional já na primeira consulta • Sumário de Urina • Urocultura com antibiograma: ▪ Para o diagnóstico de bacteriúria assintomática ▪ Deve-se repetir entre 28 e 30 semanas • Parasitológico de fezes • Sorologia para Sífilis (VDRL) → também chamada de Sorologia para LUES • Sorologia anti-HIV: ▪ Repetir entre 28 e 30 semanas • Sorologia para Hepatite B (HBsAg) • Sorologia para Toxoplasmose IgM e IgG ▪ Se IgG positivo → não repetir ▪ Se IgG negativo → repetir no trimestralmente • Exames que são realizados em relação ao exame das mamas e ao citológico: ▪ Colpocitologia oncótica • Observação → NÃO se solicita mais as Sorologias para Rubéola e Citomegalovírus IgG e IgM ➢ EXAMES DO SEGUNDO TRIMESTRE: • Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG) → faz-se entre a 24ª e a 28ª semana (pegando um pouco do terceiro trimestre) ➢ EXAMES DO TERCEIRO TRIMESTRE DA GESTAÇÃO (que devem ser realizados idealmente já entre a 28ª e a 30ª semana): • Hemograma Completo • Glicemia de Jejum • Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG) → é entre a 24ª e a 28ª semana • Sumário de Urina • Urocultura com antibiograma • Parasitológico de fezes • Sorologia para Sífilis (VDRL) • Sorologia anti-HIV • Sorologia para Hepatite B (HBsAg) • Sorologia para Toxoplasmose IgM e IgG → só é feito se o primeiro exame tiver como resultado IgG não reagente • Exames que são realizados em relação ao citológico: ▪ Bacterioscopia da secreção vaginal → Cultura específica do estreptococo do grupo B (a maioria dos serviços não dispõem e também não é consenso a sua realização) ✓ Coleta anovaginal entre 35 e 37 semanas de gestação ➢ ULTRASSONOGRAFIA: • Ultrassonografia Obstétrica → ▪ O Ministério da Saúde preconiza que sejam feitos 4 USG durante a gestação (esse número era de 3, mas com o surgimento da Zika aumentou-se para 4, independentemente de o risco ser habitual ou intermediário) ▪ Em pacientes de alto risco, às vezes, é necessário solicitar mais de 4 ultrassons EXAME FÍSICO ➢ MANOBRAS DE LEOPOLD: 1. Situação → delimitação do fundo de útero 2. Posição → determinação do dorso fetal ▪ O lado da barriga em que se sente mais rígido/duro é onde fica o dorso do feto 3. Apresentação → mobilidade ▪ Para saber se a apresentação está cefálica, pélvica, variável... 4. Insinuação → ESTÁ EM DESUSO! ▪ Determina o grau de penetração de apresentação ▪ Utiliza-se mais quando a gestante está em trabalho de parto, para saber se o feto está insinuado ➢ MEDIÇÃO DA ALTURA DE FUNDO UTERINO: • Fita obstétrica → coloca-se o 0 (zero) na sínfise púbica e com a borda cubital mede-se a altura do fundo do útero com o restante da fita • Fita de costureira → como ela inicia-se já de 1 cm, ao medir a altura de fundo uterino com ela deve-se aumentar 1cm no valor obtido ➢ AUSCULTA: • Utiliza-se o Sonar para escutar os Batimentos Cardíacos Fetais VACINAÇÃO EM GESTANTES ➢ O Ministério da Saúde estabeleceu o dia 15 de Agosto como o dia da Gestante, chamando atenção para a atualização do calendário vacinal das gestantes ➢ Vacinas que todas as gestantes devem tomar: • Hepatite B: SITUAÇÃO POSIÇÃO APRESENTAÇÃO INSINUAÇÃO 8 PROPEDÊUTICA OBSTÉTRICA E PRÉ-NATAL DE RISCO HABITUAL E RISCO INTERMEDIÁRIO Gizelle Felinto ▪ Atenção → caso ela já tenha tomado as 3 doses da Hepatite B, não há necessidade de tomar novamente • Dupla Adulto (DT) → Difteria e Tétano ▪ Tétano → se fazem mais de 5 anos que a gestante tomou, há necessidade de reforço • Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa) → Difteria, Tétano e Coqueluche: ▪ Independentemente de a gestante ter ou não tomado a DT, a partir da 20ª semana de gestação ela toma esse reforço que é a dTpa • Influenza → é ofertada durante as campanhas anuais ▪ Deve ser aplicada independentemente da idade gestacional • Covid-19 PRÉ-NATAL DO PARCEIRO ➢ Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do SUS, os homens também têm o direito de cuidar de si ao mesmo tempo em que acompanham suas parceiras e podem realizar procedimentos como: • Teste de Sífilis, Hepatites B e C e HIV • Medidas antropométricas (peso, altura, IMC) • Exames de rotina, como hemograma, lipidograma... • Atualização do cartão vacinal • Aferição da pressão arterial • Teste de glicemia CASO CLÍNICO Caso: Gestante chega à unidade de saúde informando que a menstruação está atrasada. ➢ Perguntas: 1. O que fazer? Ela procurou a unidade na época certa? ▪ Ela procurou o serviço na época certa e primeiramente deve-se confirmar essa a gravidez por meio do teste rápido, casotenha na unidade, ou do Beta-HCG 2. Quem deve acolher essa gestante na primeira consulta? ▪ A enfermeira. Porém, se não for possível, o médico da unidade pode fazer esse acolhimento 3. Quais exames devem ser solicitados? ▪ O teste rápido para confirmação da gravidez e posteriormente todos aqueles da rotina do primeiro trimestre 4. Quando marcar o retorno? ▪ Como ainda se encontra no início da gestação, o retorno deve ser marcado para depois de 1 mês
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