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Denis Grogan A prática do Serviço de Referência Tradução de Antonio Agenor Briquet de Lemos © Denis Joseph Grogan 1991 Título original: Pratical reference work Tradução da segunda edição, publicada em 1992 por Library Association Publishing Ltd. (London) Adquiridos os direitos exclusivos de tradução para os países de língua portuguesa Todos os direitos reservados. De acordo com a lei, nenhuma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação de info rmação ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do detentor dos direitos autorais. Do tradutor e do editor. Revisão e índice: Maria Lucia Vilar de Lemos Dados internacionais de Catalogação n a Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, São Paulo. SP, Brasil) Grogan, Denis A prática do serviço de referência / Denis Grogan, tradução de Antonio Agenor Briquet de Lemos - Brasília, DF : Briquet de Lemos/Livros, 1995. 1. Bibliotecas - Serviços de referência. 2. Serviços de informação I. Título. 95-0694 CDD—025.52 ISBN 85-85637-04-8 Índices para catálogo sistemático: 1. Informação: Serviços: Biblioteconomia 025.52 2. Serviços de informação Biblioteconomia 025.52 3. Serviços de referência: Biblioteconomia 025.52 Lemos Informação e Comunicação Ltda. SRTS—Quadra 7ol - bloco K—Sa1a831 Edifício Embassy Tower Brasília, DF 70340-000 Telefones (061) 3229806 / 3222420 (ramal 1831) Fax (061) 323 1725 ATENDEMOS A PEDIDOS DE VENDA PELO COR REIO 90 Como referenciar os capítulos do livro? GROGAN, Denis. Título do cap . In: _____.A prática do serviço de referência. Briquet de Lemos / Livros: Brasília, DF, 1995. Cap. Número do c , p. Página inicia - Página f inal . OBS.: preencha todos os campos (basta dar um clique em cima de cada um) com os dados necessários e copie depois todo o modelo de referência acima e cole no local desejado. Páginas inicial e f inal de cada capítulo no livro original impresso de onde se extraiu o texto Capitulo Título PáginaInicial Página Final 1 O serviço de referência 1 6 2 A questão de referência 7 35 3 O processo de referência 36 49 4 A entrevista de referência 50 61 5 A busca 62 108 6 A resposta 109 184 Sumário Introdução 5 1 - Serviço de referência 8 O serviço de referência como profissão 8 O bibliotecário de referência 9 Política da referência e filosofia da referência 10 A necessidade de conhecer 14 Origens do serviço de referência 15 Bibliografia sistemática 16 O desenvolvimento do serviço de referência 17 Concepções errôneas 17 O cerne da prática bibliotecária 20 Sugestões de leituras 20 2 - A questão de referência 21 Consultas de caráter administrativo e de orientação espacial 21 Consultas sobre autor/título 21 Consultas de localização de fatos 22 Consultas de localização de material 23 Consultas mutáveis 23 Consultas de pesquisa 24 Consultas residuais 24 Questões irrespondíveis 25 Taxonomia e análise das perguntas 25 Sugestões de leituras 27 3 - O processo de referência 27 Duas fases 28 Oito passos 28 Uma peça para dois personagens 30 Impressões falsas 30 O computador no processo de referência 31 Os atributos pessoais do bibliotecário 32 Sugestões de leituras 33 4 - A entrevista de referência 33 Razões para uma entrevista 34 O processo da entrevista 35 O tema da consulta 36 A consulta incompleta 37 O consulente indeciso 40 O consulente equivocado 41 Motivo e contexto 41 Perguntas abertas e fechadas 42 Especificação da resposta 43 Restrições 44 A entrevista em buscas informatizadas 44 As ‘coisas insignificantes’ 45 Comunicação interpessoal 46 Questões não formuladas 47 Bibliotecários hostis 49 Acessibilidade 51 Comunicação não-verbal 52 Prestar atenção 54 Reação 55 A atitude profissional 55 Sugestões de leituras 56 5 - A busca 56 Pausa para pensar 57 O instinto do bibliotecário 58 Estratégia de busca: formulação do enunciado 58 Estratégia de busca: escolha das fontes 60 Estratégia de busca: escolha do caminho 64 Buscas informatizadas 65 Buscas informatizadas de referência rápida 66 Buscas em CD-ROM 67 Formulação de buscas em computador 67 Limitações do computador 68 Qualificações especificas de quem faz buscas em computador 69 Buscas feitas pelo usuário final 69 Instrumentos auxiliares nas buscas informatizadas 71 Realização da busca 73 O toque pessoal 74 Sugestões de leituras 76 6 - A resposta 77 Respostas de localização de fatos 77 Respostas de localização de material 78 Explicação 78 Questões irrespondíveis 79 Questões inaceitáveis 79 ‘Reacondicionamento’ 81 Avaliação e seleção 82 Orientação 83 Encaminhamento 84 Relevância e pertinência 85 A busca malograda 85 Terapia 87 Avaliação do serviço de referência 87 A arte do serviço de referência 90 Disciplina e teoria 90 Sugestões de leituras 91 Livros sobre o serviço de referência 92 Introdução Exercer a arte do serviço de referência é a única maneira satisfatória que existe para aprendê-la. Samuel Butier disse certa vez que “uma arte somente pode ser aprendida na oficina de quem faça dessa arte o seu ganha -pão”, e os bibliotecários de referência bem cedo se aperceberam disso. Ao longo do último século, cada geração de bibliotecários de referência tem renovado a confirmação disso. O primeiríssimo artigo a empregar a expressão ‘serviço de referência’ continha um texto lido numa conferência, há exatamente um século, em maio de 1891, por William B. Child, sucessor de Melvil Dewey como bibliotecário do Columbia Colle ge (que logo em seguida passou a ser a Columbia University). Em sua respeitada opinião. “as três primeiras qualificações indispensáveis ao bibliotecário de referência são: 1) experiência; 2.) experiência; 3.) experiência”. Em 1937, em sua coluna, que conta va com inúmeros leitores, intitulada ‘Reference libraries’ [Bibliotecas de referência], publicada no Library Association Record, Herbert Woodbine disse que “a experiência indica, freqüentemente, o caminho para a solução de um problema”. Em 1985, na avaliaç ão de Fred Batt, chefe do departamento de referência de uma universidade norte -americana, “um dos truísmos que identifico nos serviços de referência é que não existe substituto para a experiência”. Isso, porém, não implica que não valha a pena despender al gum tempo estudando, refletindo e mesmo lendo sobre o assunto. É claro que os livros não substituem a prática, mas podem preparar a mente para uma assimilação mais rápida da experiência, e desenvolver e ampliar a compreensão até mesmo das artes mais prátic as, desde a construção de pontes até tocar violino. E, quando a arte se baseia num arcabouço teórico, ela pode ser estudada tanto como uma disciplina quanto exercida como uma arte. Alfted North Whitehead traça uma diferença entre um oficio, “baseado nas at ividades rotineiras e que se modifica por ensaios e erros da prática individual”, e uma profissão, “cujas atividades estão sujeitas à análise teórica, sendo modificadas por conclusões teóricas derivadas dessa análise”. Aprender a base teórica de uma disciplina profissional dependendo exclusivamente da experiência não -estruturada é algo casual, além de uma perda de tempo. Como disse Minna Antrim, “a experiência é boa mestra, mas nos manda faturas assustadoras”. No caso do serviço de referência, que tem como base de sustentação a biblioteconomia sistemática, é necessário proceder -se a um rigoroso estudo teórico do processo de referência, para que essa arte venha a ser algo mais do que uma mera ginástica mental. Tão importante quanto o componente bibliográfico do serviço de referência é o elemento humano, sua natureza de intrínseca reciprocidade, comumente face a face, que engloba tudo que a expressão ‘entrevista de referência’possa abranger. Também esta é uma arte, e, embora possa vantajosamente ser estudada c omo um ramo especializado da comunicação interpessoal humana, disciplina esta hoje bem consolidada Peter McNally, em 1977, alertava uma platéia formada por bibliotecários de referência: “Não hesito em dizer que a entrevista de referência deve, em última análise, ser aprendida, não ensinada.” O estudante deve observar que este livro trata somente do serviço de referência no sentido estrito, definido por Samuel Rothstein como: “a assistência pessoal prestada pelo bibliotecário aos leitores em busca de informa ções”. Não se examina aqui o serviço de referência em sentido geral, a respeito do qual Robert E. Balay concluiu que “consiste em tudo que os departamentos de referência executam”. Ainda que o serviço de referência seja a espinha dorsal de suas atividades, os bibliotecários de referência realizam inúmeras tarefas que não correspondem a atividades de referência. Em tese de doutoramento de 1974, C.B. Duncan identificou 118 tarefas diferentes que eram executadas por departamentos de referência de bibliotecas universitárias. E uma lista elaborada em 1977 no departamento de referência da biblioteca da University of Kentucky, baseada em entrevistas com os próprios membros do pessoal, abrangia 93 atividades. Este livro, portanto, nada contém sobre o estudo, avaliaç ão e seleção de material de referência, ou sobre compilação de bibliografias, serviços de notificação corrente e disseminação de informações. Do mesmo modo, não trata de tópicos como educação de usuários, serviço de informação comunitária (ou informação e encaminhamento [referral]1), e empréstimos entre bibliotecas, que às vezes são considerados como atividades de referência. Também se omitiu, por não ser estritamente falando urna atividade de referência, o serviço de orientação ou aconselhamento de leitores, voltado para a escolha dos livros a serem lidos essa forma tão sutil de assistência pessoal aos leitores, lamentavelmente negligenciada no Ocidente há pelo menos uma geração. O estudante provavelmente já sabe que a expressão ‘serviço d e referência’ [reference service] é freqüentemente empregada na bibliografia do assunto e em bibliotecas, onde a denominação mais especifica ‘trabalho de referência’ [ reference work] seria a rigor mais exata2. A primeira edição deste livro, surgida em 1979, correspondia a um volume dentro de uma série intitulada ‘Outlines’ [Epitomes], e embora a editora, ao me convidar para preparar esta segunda edição, tenha me oferecido um pouco mais de espaço, a obra conserva o mesmo caráter — quer dizer, esboça-se apenas a estrutura geral do tema. Isso significa, para citar um exemplo, que, apesar de o computador aparecer com destaque na maioria dos capítulos, não se fez esforço algum no sentido de ensinar as técnicas especificas das buscas em linha [ on-line], tópico sobre o qual existem muitos livros excelentes e com informaçõe s minuciosas. Esperamos, no entanto, que todo o domínio do serviço de referência haja sido palmilhado de forma abrangente e que os aspectos importantes assim identificados permitirão ao estudante explorar o terreno, a fim de definir, sem dificuldade, uma r ota pessoal. A intenção foi oferecer ao iniciante um mergulho imediato no mundo do serviço de referência prático, ainda que, inevitavelmente, guardando-se uma certa distância dos consulentes reais com seus problemas concretos. O caráter intensamente pessoa l do serviço de referência, que atende a uma necessidade tão fundamental quanto o anseio de conhecer, significa que seus princípios básicos pouco mudaram, se é que mudaram, ao longo de quase um século, desde que foram estabelecidos, conforme perceberá o le itor atento. Não obstante, esta nova edição procura utilizar o espaço adicional proporcionado pela editora para retratar os progressos mais importantes ocorridos neste campo durante os últimos doze anos. Principalmente, entre eles está a vanguarda em constante evolução da nova tecnologia (exemplificada pelos catálogos em linha de acesso público [OPACS]3, bases de dados em discos compactos de memória apenas de leitura (CD - ROMs), sistemas especialistas, etc.); a atenção muito maior dada ao fator humano no serviço de referência, especialmente ã entrevista; trabalhos recentes que lançam novas luzes sobre análise e taxonomia das consultas; novas perspectivas trazidas pelas pesquisas cognitivas sobre as raízes do comportamento de quem procura informações; alguns novos e penetrantes esclarecimentos sobre o processo de busca, colhendo os frutos de vinte anos de experiência com bases de dados em linha; e a difusão de métodos diretos e específicos de aval iação do serviço de referência com resultados abaixo de lisonjeiros. Publicou-se mais sobre serviço de referência nos doze anos decorridos desde a primeira edição deste livro do que em qualquer outro período anterior que lhe seja comparável. Tenho consciência de que há muito mais que se poderia dizer sobre qualquer um dos aspectos que mencionei, além de reconhecer que há questões que nem mesmo chegaram a ser afloradas, como o papel de não-profissionais no trabalho de referência, a cobrança pelos serviços ao s usuários, e as tentativas de fazer análises de custo —beneficio no campo das atividades de referência. Não me esforcei por ser original e me vali constantemente dos trabalhos e das opiniões de outros. Como Montaigne, o ensaísta francês do século XVI, “jun tei num ramalhete as flores de outros homens [mais comumente de mulheres] e nada, exceto o fio que as une, me pertence”. Ademais, devo admitir que esta não pretende ser uma obra de erudição: o leitor não encontrará aqui as idéias que tomei de empréstimo ap oiadas no aparato acadêmico de notas de rodapé e citações bibliográficas. A bibliografia acerca do serviço de referência, mesmo em sua definição estrita, estende-se por um século e chega a milhares de artigos e dezenas de livros somente na língua inglesa, e citar todas as minhas fontes resultaria num tamanho desmesurado para um manual que pretende ser acessível ao bolso do estudante. Quando percebo que devo algo aos trabalhos de determinado autor, seja por causa de uma idéia esclarecedora ou uma visão penetrante, menciono-o pelo nome (e o incluo no índice), porém confesso que lancei mão da maioria dos trabalhos de meus colegas sem a isso dar o devido crédito. Os 268 exemplos de consultas de referência que usei para ilustrar aspectos que desejo salientar são, em todos os casos, questões autênticas que foram formuladas em bibliotecas por consulentes reais. Em meus outros livros sobre serviço de referência esforcei -me por explicar que não foram escritos como manuais do tipo ‘como fazer’. Este volume, sim. Natura lmente, não advogo que meu método seja o único, e, de qualquer modo, grande parte das recomendações que apresento foi colhida da experiência e de trabalhos alheios. No entanto, ele tem por base uma experiência de muitos anos na linha de frente, lidando com problemas dos consulentes, seguida por um número ainda maior de anos de estudo, observação e ensino de referência. Esta é, portanto, uma obra reconhecidamente prescritiva: de fato, propõe -se a orientar o bibliotecário de referência inexperiente quanto à m elhor maneira de exercer sua arte. Neste aspecto, sou simplesmente o adepto mais recente de uma tradição inconfundível do serviço de referência, que remonta a mais de cem anos. Já o primeiro artigo publicado sobre o assunto, em 1876 revestia-se de um tom abertamente didático: “Nesse caso, naturalmente, o bibliotecário deve ir buscar os livros que contêm a informação desejada e entregá -los ao leitor, abertos nas páginas apropriadas.” Antecipando-me a uma crítica inevitável, seria melhor explicar que me parec eu acertado, num compêndio destinado a estudantes, assumir a posição, talvez idealista, de que onde os usuários apresentam questões para as quais buscam respostasas autoridades responsáveis pela biblioteca proporcionaram os meios, inclusive pessoal em núm ero suficiente e adequadamente capacitado, para proporcionar essas respostas. É evidente que, cada vez mais, as coisas não se passam assim. Conforme Donald Davinson afirmou, de modo tão peculiar, em seu texto de 1980, “a realidade, freqüentemente, é haver muito pouco pessoal às voltas com muito trabalho sem jamais conseguir dar conta dele [...] a realidade, para a maior parte dos bibliotecários de referência, é tentar desesperadamente tapar os buracos mais evidentes do dique da biblioteca, para conter a mar é montante de consultas que ameaça afogá -los”. Também existem indicações de que uma combinação de recursos minguantes com uma crescente carga de demanda por novos serviços o que William Miller chamou de “alastramento da referência” — baixou o moral e até mesmo provocou em alguns bibliotecários de referência sintomas de ‘estafa’, definida, em sua forma mais sucinta, por Christina Maslach como “uma síndrome de exaustão emocional e cinismo que ocorre freqüentemente em indivíduos que ‘trabalham com o público”. A prova não é conclusiva, e muitos compartilhariam a opinião de George R. Bauer: “Admito ter uma certa parcela de impaciência com esse conceito.” O estresse não leva inevitavelmente à estafa; na realidade, para alguns proporciona um estímulo necessário. Alguns estudos que tratavam de pesquisar sobre o estresse e a estafa em bibliotecários de referência não conseguiram encontrar nenhum dos dois. Julie E. Hodges observou ironicamente que “o nível de estresse dos bibliotecários elevou -se de modo impressionante quando o professor Cary Cooper [psicólogo ocupacional do Institute of Science and Technology da University of Manchester] classificou -os na posição de lanterninha numa ‘tabela de campeonato’ de estresse ocupacional em 1984. O professor foi assediado por c artas de bibliotecários que se sentiam ultrajados.” A conclusão a que chegou David P. Fisher em 1990, depois de um exaustivo levantamento da bibliografia, foi de que “não é possível afirmar que as questões levantadas [...] tenham sido respondidas satisfato riamente; os bibliotecários estariam ou não sofrendo de estafa”. Minha intenção foi apresentar uma obra que tivesse igual serventia para quem quisesse ser bibliotecário de referência de bibliotecas universitárias, especializadas ou públicas. Como Margareth Hutchins salientou em seu manual de 1944, “as técnicas atualmente empregadas para responder as questões de referência são fundamentalmente as mesmas em todos os tipos de bibliotecas”. Uma geração depois, Gerald Jahoda e Judith Schiek Braunagel confirmaram , em texto redigido em 1980, que isso ainda era verdadeiro: “Embora os serviços de referência possam diferir de uma para outra biblioteca, é provável que o processo de atendimento a necessidades específicas de informação continue sendo essencialmente o mes mo.” Este livro talvez possa também ajudar a preparar aqueles que se iniciam no que tem sido denominado por alguns como ‘biblioteconomia alternativa’, isto é, pessoas que não exercem sua profissão dentro de uma biblioteca ou unidade de informação, mas que atuam como especialistas em responder questões, localizar informações e auxiliar no processo de elaboração de sínteses de conhecimentos, desempenhando seu mister no mercado aberto e cobrando por isso. Denominados de diferentes formas — bibliotecários autônomos ou itinerantes, bibliotecários sem biblioteca, pesquisadores particulares, consultores em informação, especialistas independentes em informação, etc., e mais comumente agentes de informação [ information brokers] —‘ constituem um corpo cada vez maior d entro da profissão. Talvez também, uma vez que suas aptidões no terreno da informação são idênticas, as orientações aqui ministradas possam beneficiar um grupo similar de intermediários de buscas [ search intermediaries], técnicos de informação [ intelligence officers], estrategistas da empresa [ in-house strategists], especialistas em interface [ interface specialists], especialistas em recursos informacionais [resource persons], etc., cada vez mais atuantes como bibliotecários de referência de uma organização em suas respectivas unidades de planejamento, grupos de pesquisa, equipes clínicas, grupos de trabalho, etc., trabalhando como membros integrantes de um pequeno grupo de usuários. E, finalmente, gostaria de expressar mais uma vez minha gratidão às sucessi vas gerações de meus alunos no Department of Information and Library Studies do University College of Wales (ex-College of Librarianship Wales), sem os quais este livro jamais teria sido escrito. D. J. Grogan Aberystwyth Maio de 1991 1 - Serviço de referência Há uma biblioteca universitária nos Estados Unidos que ostenta, entalhado em sua porta principal, este aforismo: “Metade do conhecimento consiste em saber onde encontrá -lo.” Trata- se de urna alusão à tão ci tada afirmação feita pelo notável Dr. Samuel Johnson, há mais de 200 anos: “O conhecimento é de duas espécies. Podemos conhecer nós mesmos um assunto ou saber onde podemos encontrar informações a respeito.” Isto, por sua vez, tem sido freqüentemente aceito como um texto fundamental pelos bibliotecários de referência, pois representa o reconhecimento das fontes de informação como um ramo do saber — o que Louis Shores chamou o onde dos conhecimentos especializados em oposição ao quê. Mais recentemente, foi adotado pelas pessoas que fazem consultas em bases de dados em linha, encimando um capítulo num manual de 1982 sobre estratégias de busca, e aparecendo numa brochura de 1987 que anuncia os serviços de um agente de buscas em linha. Há muito que deixamos para trás o dia (se é que houve algum) em que uma única mente humana podia abarcar todo o saber: contam -nos que isso seria possível na Antiguidade, porém, no fim da Idade Média já estava além de nossa capacidade. O homem do Renascimento provavelmente era um ideal inalcançável, e talvez tenha sido Leonardo da Vinci quem mais se aproximou desse ideal. Afirmou -se que Leibniz (1646—1716) teria sido o último homem a saber tudo; trata-se de um exagero perdoável, pois ele era um gênio universal, célebre como advogado, matemático, filósofo, cientista, historiador, lingüista, teólogo, político e homem de negócios. Foi, além de tudo, “o maior bibliotecário de seu tempo”, segundo a Encyclopaedia britannica, tendo servido durante muitos anos como bibliotecário da corte dos d uques de Brunswick, e, mesmo sendo luterano, foi -lhe oferecido o cargo de chefe da Biblioteca Vaticana, convite de que declinou. Quando Leibniz morreu, o jovem Johnson estava prestes a ingressar na Lichfield Grammar School. Entretanto, ainda era possível, em determinadas áreas temáticas, dominar tudo que fosse então conhecido, como, por exemplo, em astronomia ou anatomia. Isso realmente ocorreu durante certo tempo. Mas, na época em que Johnson, já avançado em anos, proferiu sua frase famosa, em 1775, mesmo esse objetivo limitado se distanciava cada vez mais no horizonte. Cem anos depois, a aptidão, subsidiária, de saber onde encontrar informações começara, por sua vez, a fugir do domínio daqueles que delas precisavam para seus estudos e suas pesquisas. Nas palavras de Ranganathan, “já não era mais possível para o estudioso ser seu próprio bibliotecário de referência”. O serviço de referência como profissão Nascia assim a arte do serviço de referência como um dom profissional do bibliotecário. Então, como agora, apenas uma razão o justificava: os usuários das bibliotecas, auxiliados pelo bibliotecário de referência, têm melhores condições de mais bem aproveitarem o acervo de uma biblioteca do que o fariam sem essa assist6nçia. Esta ‘maximização de recursos’ c onstitui o princípio que se encontra no cerne do próprio conceito de biblioteca, que é o compartilhamento e uso coletivo dos registros gráficos em beneficio da sociedade comoum todo e dos indivíduos que a constituem. Afinal, a primeira lei da bibliotecono mia, enunciada por Ranganathan, determina que “os livros são para usar”. No caso do serviço de referência, contudo, essa incumbência de utilizar o acervo de conhecimentos acumulados foi confiado a agentes humanos, que complementam e reforçam a ajuda ministrada pelos sistemas de catalogação e classificação da biblioteca, ao proporcionarem assistência individual aos usuários que buscam informações. Esse ‘elo vivo entre texto e leitor’ é necessário porque, como explicou James I. Wyer em 1930, no primeiro manua l escrito sobre serviço de referência, “não é possível organizar os livros de forma tão mecânica, tão perfeita, que dispense o auxílio individual para sua utilização”. Donald Davinson explicou ainda em seu manual, precisamente 50 anos depois que o papel do bibliotecário de referência é “compreender as estruturas dos conhecimentos registrados onde elas existam, e auxiliar no processo de estruturação onde não existam”. O serviço de referência, porém, é mais do que um expediente para a comodidade do usuário. Um dos fatos da vida das bibliotecas é que grande parte do material constante do acervo precisa ser deliberadamente utilizado para proporcionar algum benefício. Conforme salientou Kenneth Whitaker, “a finalidade do serviço de referência e informação é permi tir que as informações fluam eficientemente entre as fontes de informação e quem precisa de informações. Sem que o bibliotecário aproxime a fonte do usuário, esse fluxo jamais existirá ou só existirá de modo ineficiente.” Mary Francillon valeu -se de urna analogia esclarecedora: ‘Existe uma espécie de equação segundo a qual toda consulta acaba por encontrar a resposta apropriada, mas, em cada caso, alguém precisa escrever a equação, precisa colocar o sinal de igualdade— na realidade, em certo sentido, esse s inal tem de ser o de igualdade”. Os bibliotecários de referência sabem disso muito bem, pois encontram exemplos todos os dias. Métodos que seriam instintivos mesmo para o bibliotecário mais inexperiente muitas vezes surgem como uma revelação para muitos us uários. Aturdidos com o fato de descobrirem no catálogo que a biblioteca não possui livros sobre ciclovias urbanas, por exemplo, ficam maravilhados ao saber da existência do Current Technology Index e do Applied Science and Technology Index, e felizes por descobrir que cada um deles relaciona vários artigos de periódicos sobre aquele tópico. Infelizmente, muitos usuários de bibliotecas foram levados a acreditar que, numa coleção adequadamente organizada, eles mesmos encontrariam, sem ajuda, as respostas que buscavam. Entretanto, toda uma geração de pesquisas sobre o uso de catálogos demonstrou, de forma conclusiva, que em buscas cujos itens são conhecidos (isto é, buscas sobre um autor ou um título específico, ao contrário de um assunto) até uma quarta parte dos usuários não consegue encontrar o que estão procurando no catálogo da biblioteca, mesmo quando esta possui o material e ele está representado no catálogo. Os estudos de usuários também mostram que a maioria dos consulentes então desiste, apenas um qui nto solicita auxílio ao bibliotecário. E, no que concerne, buscas por assunto, Mary Robinson Sive lembrou -nos recentemente que “apesar do que freqüentemente se ensina e da crença generalizada do público, o catálogo em fichas não é o lugar para se começar u ma busca por assunto”. Márcia J. Bates nos conta que “de 65% a 75% das buscas no catálogo de assuntos envolvem apenas uma consulta [...] a maioria dos usuários do catálogo da biblioteca não revê sua busca original nem tenta de novo”. O advento do catálogo em linha de acesso público (0PAc) e, mais recentemente, de catálogos similares em formato de discos compactos de memória apenas de leitura (CD -ROM) transformou esse cenário de diferentes maneiras, principalmente ao aumentar a facilidade aparente de buscas por assunto mediante palavras -chave. Os usuários aderiram sem vacilar aos catálogos em linha como “peixes na água”, para empregar as palavras de um autor. Porém os malogros na consulta ao catálogo ainda constituem uma séria questão, com os catálogos em linha trazendo a reboque uma nova série de problemas. É de conhecimento comum que uma proporção das buscas em que os itens são conhecidos feitas no catálogo em fichas não dá resultado porque o usuário traz informações bibliográficas inexatas ou defeituosas, e m geral um título truncado ou um nome de autor grafado erradamente. Esta proporção tende a aumentar numa busca em catálogo em linha de acesso público, pois o computador implacável não deixa que se empregue o método de ‘fuçar achar’, que às vezes acerta naquilo que se procura, ao se compulsar uma seqüência alfabética de fichas. Ademais, pesquisas têm mostrado que os usuários dos catálogos em linha de acesso público são ruins de ortografia. Há estudos que também mostram que eles têm especial dificuldade em elaborar estratégias para os casos em que se recupera uma quantidade excessiva de itens, ou, no extremo oposto, quando não se localiza nenhuma ocorrência. Realmente, não cabe dúvida a esse respeito. Como nos lembrou Stephen Stoan acerca dos resultados de testes de aptidão para o trabalho em bibliotecas, “quase todos, com exceção dos bibliotecários profissionais sistematicamente fracassam”. Hoje em dia seria injusto negar que o domínio dos instrumentos bibliográficos e de referência necessários para o aproveitamento do potencial de uma biblioteca esteja fora do alcance de quem não dispuser de uma ampla formação em bibliografia sistemática. A verdade disso também é reconhecida por alguns não-bibliotecários. Preocupado com a relutância de seus alunos em consultar o bibliotecário, mas não a biblioteca, Donald MacRae, professor de sociologia da London School of Economics, afirmou certa vez em uma conferência que “isso pode representar um sério obstáculo não só para o cientista político, mas para todos os usuários da biblioteca, quando estejam em causa documentos oficiais, fontes estatísticas, e fontes documentárias ou locais”. Na opinião de Eve Johansson, chefe de informações do salão de leitura da British Library e que antes trabalhara na Official Publications Libra ry, “a posição assumida pelo antigo British Museum era de que, contando com um catálogo geral da biblioteca e obras de referência necessárias, o leitor estaria apto a descobrir sozinho as informações de que precisasse, com o mínimo de ajuda por parte dos f uncionários. Essa posição pressupõe um grau de conhecimento acerca do material com que se esteja lidando que evidentemente existe entre a maioria dos usuários de publicações oficiais: constitui portanto tarefa do pessoal que trabalha na referência complementar esse conhecimento.” Do mesmo modo que as publicações oficiais, os periódicos exigem, para sua utilização, a prática de avançados conhecimentos sobre referência. Em 1990, Barbara P. Pinzelik publicou um fluxograma para localização de informações em per iódicos com oito níveis de negociação, incorporando 38 pontos de decisão. Ela argumentou que “utilizar periódicos [para uma busca por assunto] é mais complexo e atordoante do que os [próprios] bibliotecários se importam em admitir. Os passos necessários pa ra o atendimento bem-sucedido de uma necessidade de informação podem desanimar qualquer usuário, a não ser os que forem mais decididos. É fundamental o auxílio da referência no caso dos periódicos.” O bibliotecário de referência Esses argumentos talvez soem como arrogância para muitos usuários de bibliotecas, e talvez até mesmo para alguns bibliotecários. Mas não o são. Eles são a expressão fria e perfeitamente justa de um profissionalismo confiante, ainda que só levemente perceptível, triste dizê-lo, nas relações com os usuários, e que está em grande parte ausente da imagem do bibliotecário de referência concebida pelo grupo muito mais numerosode não -usuários. Se, para o público em geral, a bibliotecária é uma “velhota rabugenta, assexuada, míope e reprimida”, para usar as palavras de Penny Cowell, “cercada por um rol de avisos que proíbem praticamente qualquer atividade humana”, não seria insensato supor que, como acontece com muitos desses estereótipos, essa imagem haja tido um dia um grão de verdade e devesse sua perpetuação até hoje à memória popular. Como esclareceu Steven Falk, “O status de qualquer profissão é determinado por plêiade de fatores que evoluíram ao longo da história dessa profissão. No caso da biblioteconomia, esses fatores incluem o fa to de a profissão ser predominantemente feminina, a maioria das pessoas em determinada comunidade (inclusive uma comunidade universitária) não precisar e nem utilizar sua biblioteca, os bibliotecários serem transmissores e não criadores de informações, que a maioria dos bibliotecários são funcionários públicos, e a maioria das bibliotecas serem instituições sem fins lucrativos numa sociedade orientada para o lucro.” Alega-se constantemente na literatura profissional que “existe a necessidade de mudar de alguma forma a imagem”. Essa é uma tarefa gigantesca, mas que pode ser realizada. Não resultará, porém, da fabricação de uma contra -imagem, ou, de fato, de qualquer modalidade de ‘relações públicas’, como mudar o rótulo da profissão ou a ‘denominação de cargo ’, como tem sido freqüentemente proposto. John Galsworthy afirmou que “elogiar -se a si mesmo é o começo insidioso do complexo de inferioridade”. O segredo está em mudar a realidade por trás da imagem e deixar que esta cuide de si mesma. Isso não se consegu e da noite para o dia: os barbeiros-cirurgiões levaram várias gerações. Como Norma J. Shosid advertiu há alguns anos, um passo importante nesse caminho seria a consolidação ou mesmo a redefinição dos próprios conceitos que os bibliotecários têm a respeito de seu papel. E no mínimo discutível que a imagem pública desabonadora seja em alguma medida um reflexo da própria auto -imagem do bibliotecário. Laurence Clark Powell salientou que, como os “bibliotecários são estereotipados como técnicos formalistas, aust eros, tímidos, dúbios, apáticos, superficiais, fúteis e tirânicos [...] esta concepção popular [...] passou a ser acreditada por muitos bibliotecários como se correspondesse a si mesmos”. Os resultados de uma pesquisa de opinião realizada na Grã -Bretanha em 1974 mostraram com clareza que “os bibliotecários são certamente vistos como introvertidos [e] mesmo bibliotecários atuantes viam a profissão significativamente dessa forma”. Também David P. Fisher, sociólogo que virou bibliotecário, assinalou que “os bi bliotecários parecem querer tornar as coisas piores para si e confirmar seus estereótipos”, embora a análise que ele mesmo fez dos dados psicológicos o tenham levado a concluir, em 1988, que “independentemente do que afirmem os estereótipos convencionais, não encontramos prova alguma que sustente o argumento de que a maioria dos bibliotecários possui um tipo de personalidade inconfundível”. Na notável análise de 1.221 comentários sobre o estereótipo feitos por bibliotecários dos Estados Unidos em seus própr ios textos entre 1921 e 1978, Pauline Wilson verificou que “62% das frases analisadas constituíam aceitação do estereótipo”. A triste ironia é que uma parte do público também agora passou a ver os bibliotecários segundo a opinião que eles fazem de si mesmo s. Mesmo o usuário habitual de bibliotecas pouco sabe a respeito das tarefas que os bibliotecários executam, e os não -usuários inevitavelmente saberão menos. As atividades que os usuários percebem e o pessoal com quem se encontram são principalmente de nat ureza burocrática ou de apoio. Mas das atividades profissionais que observam ou de que se valem a mais visível é a ajuda pessoal diretamente prestada pelo bibliotecário de referência, e, conforme salientou Carl M. White, “a julgar pelos prefácios de livros , a que é mais apreciada conscientemente”. No entanto, aqueles que estão cientes da existência do serviço de referência ainda constituem apenas uma pequena minoria do público geral. De fato, foi um estudante de biblioteconomia quem confessou numa prova esc rita: “Reconheço que antes de começar este curso ignorava o fato de que a biblioteca realmente oferecia um serviço de referência [isto é, de respostas a consultas].” E mesmo entre essa minoria esclarecida, como enfatizou Wilson, “existe às vezes a suposição de que os conhecimentos do bibliotecário são conhecimentos genéricos a respeito do conteúdo dos livros e revistas existentes no acervo da biblioteca, e não o conhecimento especializado do instrumental bibliográfico e dos processos biblioteconômicos”. Existe uma longa linha de pesquisas que mostra, nas palavras de Samuel Rothstein, que a “referência, efetivamente, é o serviço secreto”. É tentador censurar as pessoas por sua ignorância, mas isso seria eludir o problema real. Se os bibliotecários, como um gr upo, tranqüila e publicamente, e de forma crescente, reivindicassem essa área como seu domínio profissional e, mais decididamente, assegurassem um serviço solicito e eficiente a todos os pretensos usuários que os levassem a sério, gradualmente concretizariam aquela mudança de atitude do público, que tantos anseiam por ver. Política da referência e filosofia da referência Mas o que jaz no caminho é aquilo que Sandra M. Naiman chamou de “dúvida, torturante e instituída, que a biblioteconomia tem de si mesma ”. A verdade melancólica dessa questão é que, durante pelo menos três gerações, os bibliotecários de referência foram incapazes de chegar a um acordo acerca do que, para o observador medianamente inteligente, constitui a proposição ofuscantemente óbvia e t ão nitidamente enunciada por William A. Katz no manual mais lido sobre o assunto: “A obrigação precípua do bibliotecário de referência, sem dúvida alguma, é responder perguntas.” Em seu profundo e perspicaz ensaio sobre profissionalismo, Mary Lee Bundy e Paul Wasserman trataram com certa minúcia desse fenômeno extraordinário, “a timidez essencial dos profissionais, que se reflete claramente na incapacidade ou alto grau de relutância, muito difundida. arraigada e exercitada, em assumir a responsabilidade pel a solução de problemas informacionais e o fornecimento de respostas inequívocas”. Basta que esses objetivos, aparentemente evidentes por si mesmos, sejam enunciados em algumas paragens para que se façam ouvir ressalvas imediatas, sejam feitas restrições e levantadas objeções. Citemos alguns exemplos comuns. Muitas bibliotecas universitárias não atendem a consultas telefônicas feitas por estudantes ou qualquer pergunta de pessoas sem vínculo com a universidade ou faculdade; a política de várias bibliotecas p úblicas é não aceitar consultas destinadas a obter respostas para programas de perguntas e respostas transmitidos pelo rádio ou pela televisão, gincanas de estudantes ou consultas de pessoas que querem descobrir sua árvore genealógica. É natural que tenham esse direito, e sem dúvida contam com bons motivos para adotar tais diretrizes. O que deixa o usuário confuso, no entanto, é que outras bibliotecas — públicas e universitárias. e aparentemente de natureza idêntica não impõem tais limitações a seus serviços. E quaisquer que sejam essas diretrizes, só uma minoria as formalizou por escrito, e um número ainda menor as divulgou publicamente, apesar da existência desde 1979 de um modelo da American Library Association na forma de um ‘Anteprojeto de manual de pol ítica de serviços de informação’. Até numa mesma instituição a situação pode ser comparada com a de uma grande biblioteca universitária norte -americana que relatou ter chegado a um impasse em suas tentativas de elaborar um documento de política porque “con statamos ser difícil para o pessoal profissional chegar a um consenso a respeito de vários pontos importantes”. Naprática, o que sucede muitas vezes é que membros do quadro de pessoal implementam ao mesmo tempo várias diretrizes diferentes não -oficiais ou como Dorothy Broderick afirmou de modo mais contundente, “cada bibliotecário goza de toda a liberdade para impor suas próprias predileções”. Em qualquer atividade profissional isso seria um manancial abundante de atritos entre colegas que trabalhem próxim os, ainda mais neste campo, pois os “princípios individuais de comportamento afetam a biblioteconomia de referência mais do que qualquer outra atividade bibliotecária”, conforme salientou Bernard Vavrek. Para jovens bibliotecários que estejam dando seus pr imeiros passos no serviço de referência esse clima de opiniões divergentes pode até ser estimulante e desafiador, porém, mais amiúde, seu efeito talvez seja de desorientação. Um estudo realizado em 1980 em seis bibliotecas universitárias australianas const atou que “muitos bibliotecários de referência não têm certeza quanto à finalidade essencial do serviço de referência, e suas atitudes no trabalho são confusas”. Ainda mais fácil de constatar é o efeito dessa loteria bibliotecária nos consulentes: segundo Naiman, “os clientes não sabem quais são suas expectativas razoáveis e legítimas”, e o resultado é que. como disse Katz, “sem jamais saber com clareza o que o aguarda, o cliente geralmente tem pouca ou nenhuma expectativa”. Não há dúvida de que muitos usuários que têm consultas a formular não optam por transpor esse risco inerente, O levantamento feito em 1962 por Maurice Line entre estudantes de graduação usuários de bibliotecas em Southampton constatou que 39% não se mostravam propensos a formular suas consultas ao pessoal da biblioteca. Ainda mais expressivas foram as razões apresentadas: 70% desse grupo relutante achavam que suas consultas eram muito elementares para que fossem importunar o bibliotecário. Levantamento similar feito em 1972, no outro lado do Atlântico, concluiu que 41% dos usuários da biblioteca da Syracuse University tinham questões que gostariam de ver respondidas, mas 65% deles afirmaram que “não procurariam a ajuda de um bibliotecário porque não estavam satisfeitos, com a imagem ou serv iços prestados anteriormente pelo bibliotecário, ou achavam que a consulta era muito simples, ou não queriam importunar o bibliotecário”. Para ilustrar melhor a perplexidade que se abate’ sobre os usuários diante dessas políticas divergentes, implícitas ou explícitas, temos um bom exemplo na University of Chicago: uma pesquisa feita em 1975 por Molhe Sandock mostrou que menos da metade dos estudantes sabia que a biblioteca de referência os ajudaria a encontrar a resposta a uma questão fatual ou receberia co nsultas pelo telefone. O principal obstáculo à solução desse perpétuo dilema é a presença na profissão de um forte grupo de pressão, cujas opiniões inabaláveis foram muito bem expressas em 1984 por Ray Lester, bibliotecário da London Business School: “o us uário universitário deve resolver suas próprias questões e não o bibliotecário porque: a) Somente ele realmente sabe do que necessita. b) A busca da resposta, com o refinamento da questão que isso implica, faz parte integral do processo de pesquisa. c) Som ente ele pode aferir a utilidade do material que recupera.” Muitos dos que apóiam esse raciocínio justificam sua atitude com razões políticas pragmáticas, porém outros se preocupam num nível filosófico mais profundo. O ideal da ‘auto - ajuda’ tem uma respeitável linhagem que remonta ao século XIX: em 1876, Otis Hall Robinson, bibliotecário da University ofRochester, argumentava que “nenhum bibliotecário [de faculdade] estará apto a ocupar esse lugar, a menos que ele mesmo se considere responsável, em certa medida, pela capacitação de seus estudantes no uso da biblioteca [...] se entregarmos estudantes confiantes em si mesmos a suas investigações, teremos realizado muito”. Até alguns bibliotecários de bibliotecas públicas raciocinavam pelo mesmo diapasão: há m ais de cem anos, Andrea Crestadoro proclamava em Manchester que “é dever do bibliotecário tornar -se inútil”. Outro veemente profeta da auto -ajuda foi John Cotton Dana, por muitos anos bibliotecário da Newark Public Library. Em trabalho que apresentou em 19 10, ‘Misdirection of effort in reference work’ [Esforço mal dirigido no serviço de referência], ele afirmava que “o dever precípuo do bibliotecário não é responder uma consulta, mas instruir o consulente quanto ao uso do material com o qual ele poderá obte r a resposta para si mesmo”. Para alguns, a questão tem até uma dimensão moral: sempre houve bibliotecários que se sentam contrafeitos em prestar ajuda excessiva aos consulentes. Como o mestre de Oxford, de que fala W. H. Auden, que confessava “não me sint o muito feliz com o prazer”, preocupa -os o fato de, ao responderem as perguntas dos consulentes, estarem assumindo um trabalho que seria da responsabilidade dos próprios usuários. Esta é a síndrome do ”bibliotecário de referência como puritano”, para empre gar a expressão mordaz de Katz. O papel que os discípulos de Robinson, Crestadoro e Dana vislumbram para o bibliotecário de referência neste final do século XX é fundamentalmente o de professor. Eles dariam a primeira prioridade à educação dos usuários das bibliotecas, ou instrução bibliográfica, como às vezes é chamada, com o objetivo de proporcionar, segundo a American Library Association, “orientação e indicações sobre como procurar informações, ao invés de fornecer as próprias informações”. Naturalmente, o serviço de referência em seu sentido mais amplo geralmente inclui tanto as funções informacionais (isto é, o trabalho de referência) quanto as funções instrucionais; mas, como Anita Schiller salientou em seu estudo de 1965 a respeito dessa controvérsia que se arrasta há tanto tempo, “estas [funções freqüentemente não se entenderam, porque cada uma estava ligada a uma opinião conflitante acerca da espécie e grau de assistência a ser oferecida”. Em 1930. em seu manual pioneiro, Wyer classificava essas opi niões discordantes como “conservadoras” e “liberais”, havendo uma escola “moderada” que representava um meio-termo prático. Trinta anos’ depois, em fecundo trabalho, Rothstein ressuscitou a controvérsia com sua própria versão do debate e seus rótulos alite rativos para os dogmas em disputa: “mínimo”, “máximo” e “medíocre”. Ninguém nega que os estudantes devam saber como usar as bibliotecas e, se preciso, sejam ensinados até um certo nível de competência. A briga começa quando se advoga que sejam capacitados para se tomarem independentes “pois assim não permanecerão eternamente dependentes dos dispendiosos e ineficientes serviços prestados pelo bibliotecário de referência”, conforme argumentou Daniel Gore. Por volta de 1980, Davinson descrevia a educação de us uários como “uma das indústrias de maior crescimento no campo bibliotecário”, e, em 1987, Katz assinalava em seu texto que “uma enorme quantidade de tempo, energia e dinheiro foi canalizada para a capacitação no uso de bibliotecas durante os últimos 20 ou 30 anos”. Alegou-se que nos Estados Unidos mais de 3.000 pessoas estão atuando nesse campo, e mais de 75% dos anúncios que procuram bibliotecários de referência para bibliotecas universitárias incluem a orientação bibliográfica como parte integrante das at ribuições do cargo. Naturalmente, este “monstro sagrado da orientação sobre o uso da biblioteca”, como pelo menos dois observadores a descreveram, gerou toda uma estante de textos e adicionou um tempero novo ao debate. Seus proponentes armaram acampamento no terreno político mais elevado possível, divulgando um manifesto em 1981 na forma de ‘Recomendações de um grupo de trabalho’ da Bibliographic Instruction Section da Association of College and Research Libraries. Alegavam que a instrução bibliográfica (IB) constitui “o próprio cerne do processo de referência” e que os bibliotecários da IB “estãoa ponto de se definirem como um movimento político dentro da biblioteconomia universitária”. Seus opositores, ao contrário, os definiram como “reformadores e eliti stas presunçosos” (David Isaacson, 1985), “caçando quimeras” (Davinson, 1984), com a “cabeça nas nuvens” (C. Paul Vincent, 1984), Observou -se que nem todos eles têm experiência como bibliotecários de referência. Seus motivos foram também questionados. Bibl iotecários presentes numa conferência britânica, em 1982, especulavam “se o incremento da educação de usuários tinha sido um reflexo do fato de. durante as décadas de 1960 e 1970, os bibliotecários estarem subempregados, excessivamente qualificados e ansio sos por melhorar seu status”. Isso pode ou não ser verdade, mas o certo é que houve apelos na literatura para que os “bibliotecários abandonassem o balcão de referência e elevassem seu perfil junto á comunidade universitária”. Salvo o que um crítico denomi nou “retórica estridente e [...] pronunciamentos dogmáticos” dessa espécie, a bibliografia sobre educação de usuários, segundo Neil A. Redford, da University of Sydney, em 1980, “é de uma quantidade assustadora, e sua qualidade é ainda mais aterradora [...J chata, repetitiva, voltada para seus próprios interesses e freqüentemente de conseqüência insignificante”. Ao estudar a situação no Reino Unido seis anos mais tarde, Kugh Fleming, ele próprio bibliotecário dedicado à educação de usuários, viu -se forçado a reconhecer que “enquanto existe uma literatura bastante volumosa escrita em nível casuístico, são poucas as publicações que visam a desenvolver uma sólida base para a educação de usuários”. Porém a crítica mais contundente levantada contra a IB é que ela não funciona, porquanto não consegue alcançar os resultados que almeja, ou seja, usuários confiantes em si mesmos. Este aspecto tem sido constantemente assinalado na literatura por inúmeros bibliotecários de referência atuantes, cujo trato diário com usuá rios concretos deixa-os incrédulos quanto às assertivas dos ‘missionários da IB’, como foram chamados, O único efeito coerente e amplamente observado da educação de usuários foi um aumento da quantidade de consultas recebidas pelo balcão de referência, que às vezes chegou a dobrar. Na quinta edição, datada de 1987, de seu clássico manual, Katz, que ao longo dos anos foi um observador próximo da 18, teve de reconhecer que “apesar dos muitos cursos informais sobre como usar a biblioteca, aparentemente a maior ia das pessoas não está muito melhor depois do que antes”. Se ele e os que com ele concordam estiverem equivocados, então o ônus da prova deverá recair sobre os adeptos da IR, porém, como ele explicou, “poucos bibliotecários dispõem de tempo ou conhecimento para fazer o acompanhamento subseqüente da instrução mediante estudos de avaliação”. Sobre esse ponto tão crucial, em nada ajuda a causa da IB a proclamação feita pelo Grupo de Trabalho segundo a qual a “instrução bibliográfica não precisa de mais justif icativa do que a instrução sobre redação ou qualquer uma das artes liberais, e não há necessidade de estudos de avaliação destinados a justificar sua existência”. Não é difícil perceber por que os bibliotecários da IR foram rotulados como ‘a maioria moral da biblioteconomia’. Eles ainda alegam que a assistência ministrada apenas àqueles que fazem perguntas constitui um serviço restrito a uma pequena elite, enquanto que a instrução é louvada por “distribuir o serviço de referência de maneira tão igualitária quanto possível”. Naturalmente, para os que aceitam esse elevado tom moral o fato de isso não funcionar é irrelevante. Eles afirmariam que mesmo assim deve ser feito o esforço para tornar os estudantes independentes do bibliotecário, “porque a privacidade da atividade de referência, aliada à baixa expectativa do usuário, favorece o trabalho superficial e protege a incompetência”, conforme alega Frances L. Hopkins. O desafio está em criar uma forma de instrução que seja eficaz. Admite-se que no mundo das bib liotecas especializadas não ocorre a questão da auto - suficiência do usuário. Conforme Davinson assinalou com ironia, “as tentativas de seduzir a administração superior e o pessoal de pesquisa para que eles mesmos façam suas buscas bibliográficas não seriam bem recebidas”. Cada vez mais, porém, surgem vozes veementes instando para que o evangelho da 18 seja também pregado nas bibliotecas públicas. A política da American Library Association é que “todas bibliotecas [devem] incluir a instrução sobre o uso de bibliotecas como uma das metas prioritárias do serviço” e um levantamento feito em 310 bibliotecas canadenses mostrou em 1989 que “a maioria não só concordou que a instrução é desejável, mas que os bibliotecários de bibliotecas públicas têm a obrigação de e nsinar os usuários acerca do uso correto das ferramentas da biblioteca”. Em várias oportunidades foram oferecidos cursos voluntários, e a reação tem sido promissora, mas, conforme Davinson comentou, “o que geralmente acontece nesses casos, no entanto, é qu e os tipos de usuários que são estimulados a se inscrever nesses programas são exatamente as pessoas que menos precisam de educação de usuários”. Mas todo esse filosofar a respeito do que é desejável deixa intocada a questão de política pragmática acerca da possibilidade de produzir efetivamente usuários confiantes em si mesmos e capazes de responder a suas próprias questões de referência, como Lester almejaria. O problema talvez não seja suscetível de comprovação, mas existem indícios substanciais de que esse objetivo encontra-se atualmente além de nossa compreensão. Embora se apóiem, em sua maior parte, em opiniões, nem por isso deixam de ser autênticos, oriundos que são do testemunho abalizado de muitos bibliotecários de referência: “A maior parte desse r epositório de experiências [que os bibliotecários de referência possuem] não pode ser ensinada por meio da instrução bibliográfica” (Jeremy W. Sayles, 1980); “é insensato supor que a instrução bibliográfica produzirá um usuário de biblioteca independente e confiante em si mesmo” (Vincent, 1984); “quem quer que tenha trabalhado como bibliotecário de referência reconhecerá [...] a futilidade [...] de tentar transformar todos os usuários de bibliotecas (docentes e discentes) em especialistas nas minudências de uma biblioteca” (John Rudd, 1984). À medida que a cada dia o mundo da informação se toma mais complexo, o usuário auto-suficiente parece mais do que nunca uma miragem. O advento dos serviços em linha, com a promessa precoce e temerária de dispensar o inte rmediário (palavra que já fora usada por Wyer no remoto ano de 1930), reforçou, ao contrário, o papel do bibliotecário de referência. A esmagadora maioria das buscas em linha feitas em bibliotecas ainda é executada pelo pessoal da biblioteca. O CD-ROM. muito mais amigável para o usuário, claramente mais popular e livre das tarifas de conexão e da pressão psicológica do acesso cronometrado à informação, ainda não produziu o usuário auto -suficiente. Em primeiro lugar, os levantamentos feitos por Ching - Chih Chen e David I. Raitt mostraram em 1990 que os CD -ROMs estavam sendo utilizados principalmente pelo pessoal da biblioteca e não pelos usuários finais, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa ocidental. Em segundo lugar, embora as buscas feitas em CD -ROM pelos usuários finais sejam em número elevado, se comparadas com as buscas em linha (ainda que principalmente nas bases de dados mais simples), os bibliotecários de referência viram -se forçados a dedicar uma grande parte de seu tempo a prestar ajuda a esses usuários, com eles analisando suas estratégias de busca, assistindo -os na escolha da base de dados mais adequada a um assunto determinado, explicando -lhes a estrutura da base de dados e supervisionando a própria busca, O efeito observado por Bill Coons e L inda Stewart em 1989 é característico: logo se percebeuque “todo o pessoal técnico precisa aprender mais sobre CO - ROM do que se imaginava antes”. Mary Pagliero Popp e A. F. M. Fazle Kabir relataram em 1990 que na Undergraduate Library da Indiana Universit y “o maior impacto parece ter sido no aumento do volume de tarefas no balcão de referência [...] as consultas de referência aumentaram em mais de 100%”. Também a esse respeito encontram -se dúvidas sinceras sobre se a educação dos usuários pode proporcionar o que se propõe: “a confiança exclusiva na instrução bibliográfica e as intenções de formar usuários auto -confiantes talvez não sejam mais viáveis numa sociedade complexa baseada na informação” (Robert M. Hayes, 1986); “As tradicionais intenções da referência em bibliotecas universitárias no sentido de instruir seus usuários a serem independentes devem ser reexaminadas, à medida que a complexidade das novas tecnologias da informação vai se entranhando nas bibliotecas” (Teresa L. Demo e Charles McClure, 198 8); e até mesmo um coordenador de instrução bibliográfica julgou necessário argumentar que “são tantas as novas fontes de referência que surgem, em formato impresso ou eletrônico, que seria injusto e irrealista esperar que algum usuário conseguisse manter -se a par do mínimo que fosse. Isso é trabalho do bibliotecário” (Elizabeth Bramm Dunn, 1988). O que os serviços em linha e especialmente o CD -RONI fizeram nessa área foi realçar a vetusta função educativa, informal e pessoal, dos bibliotecários .e referênc ia e seus antecessores ao longo dos séculos, o que Jane A. Reilly chamou “instrução bibliográfica por intermédio da consulta de referência”. Conforme observou Davinson, essa “instrução informal, em geral altamente personalizada, é quase instintiva para mui tos bibliotecários de referência”. Até mesmo Joanne R. Euster, facilitadora do grupo de trabalho, chega a reconhecer que “a instrução bibliográfica em seu nível mais elementar é simplesmente uma ajuda individual de referência”. Em seu mais alto grau, essa instrução que se dá na mesa de referência e não na sala de aula é em si mesma uma arte, como afirma John C. Swan, oferecendo aos estudantes “uma autêntica percepção da pesquisa bibliográfica, mostrando -lhes um pesquisador em ação, às voltas com o conteúdo e também com os termos de indexação, com as idéias e também com as citações. O bibliotecário de referência em particular tem a excelente oportunidade de servir de modelo: o estudioso experiente que faz uma demonstração para o estudioso neófito.” Nessa guerra de palavras houve uma voz que esteve notavelmente ausente: a do usuário. Uma das críticas principais às recomendações do grupo de trabalho, conforme foi expressa por Budd, é que elas são “predominantemente orientadas para os bibliotecários e ignoram abertamente os receptores da instrução bibliográfica”. No que concerne à atitude dos usuários das bibliotecas em relação ao catálogo, sabemos, a partir de pesquisas que nos foram convenientemente resumidas por David W. Lewis, em 1987, que “as pessoas evitam u sar o catálogo sempre que podem”. Donna Senzig, também apelando para os estudos sobre o uso do catálogo, lembrou-nos que “as pessoas, de fato, não gostam de procurar o documento ou a informação de que precisam. Elas não querem ser um Sherlock Holmes, no en calço de pistas fugidias em bibliografias, índices e catálogos [...] Apesar de sua utilidade, o catálogo ainda é visto por muitos como um obstáculo na localização do material, ou, na melhor das hipóteses, uma etapa intermediária dispensável.” Quanto a se ensinar alguém a buscar a informação para si mesmo, a opinião de Radford é que “a grande maioria da população não tem interesse algum em aprender a como usar a biblioteca com eficiência”, e mesmo que fosse compelida a isso, “a maior parte não está grandemente interessada em praticar e melhorar seus conhecimentos acerca da biblioteca”. De qualquer modo, uma proporção considerável dos consulentes busca ajuda por telefone — foram 35% num levantamento feito em 1982 em grandes bibliotecas de referência, situadas em centros urbanos, na Inglaterra e na Escócia, O que os usuários querem, conforme disse Pinzelik, é “conseguir a informação de que precisam por meio de um processo simples que lhes permita dar início àquilo que constitui sua tarefa concreta: usar informaç ões para escrever um trabalho ou resolver um problema”. Também está em causa aqui uma questão moral, como observou Tom Eadie, ele próprio um ex-bibliotecário que atuava na área de educação de usuários: “a educação de usuários é um serviço especial de utilidade questionável, que surgiu não porque eles o reivindicassem, mas porque os bibliotecáriosjulgaram que seria boa para os usuários”. Constance Miller e James Rettig argumentaram que a função do bibliotecário de referência nunca foi expressa de forma tão magnífica quanto na quarta lei da biblioteconomia de S.R. Ranganathan: “Poupe o tempo do leitor’. Nenhuma atividade comum aos departamentos de referência das bibliotecas universitárias viola essa lei de forma mais flagrante do que seus extensos programas de instrução bibliográfica.” Eadie comentou que “isso é mais importante do que o princípio de custo—eficácia: poupe o tempo do bibliotecário”. E existem indícios, conforme foi antes mencionado, de que a IB pode realmente ser prejudicial, deixando nos usuário s a idéia equivocada de que localizar informações em bibliotecas seja uma coisa simples, e semeando as sementes da frustração, culpa e irritação de que são acometidos quando descobrem que isso não é verdade. Estudantes que foram enganosamente levados pela IB a julgar que poderiam tomar-se independentes do bibliotecário não sabem,realmente, como usar uma biblioteca de forma adequada, pois o bibliotecáriode referência é uma de suas mais importantes fontes de informação. Talvez jamais venha a ser encontrada um a solução para essa ambivalência histórica da biblioteconomia de referência, mas pelo menos talvez fosse possível oferecer no mínimo uma opção ao usuário da biblioteca, conforme argumentou Katz, com força de persuasão cada vez maior, ao longo de 20 anos, em cinco edições de seu manual: “O usuário deve ter a opção de 1) aprender a como usar a biblioteca ou qualquer uma de suas partes, ou 2) não aprender e mesmo assim poder contar com um atendimento integral, completo e total de sua(s) consulta(s) por parte do bibliotecário de referência”. Rettig detalhou o que isso significa na prática: “O tipo de serviço que o bibliotecário proporciona em resposta a uma determinada pergunta será condicionado pelo tipo de informação que o consulente deseja, não pelo dever de obediência a um nível de serviço. Assim, o bibliotecário deve decidir se a informação que um dado usuário deseja é 1) uma fonte de informação, 2) instrução sobre o uso de uma fonte de informação, ou 3) mensagens colhidas numa fonte de informação. Em difere ntes situações, o mesmo consulente pode querer qualquer uma delas. Diferentes consulentes com a mesma consulta podem querer respostas diferentes. Além disso, o nível de serviço e o tipo de informação que satisfazem a um cliente talvez não sejam aquilo que, na mensagem inicial, ele expressou, de forma imperfeita, como sendo sua necessidade.” A necessidade de conhecer O trabalho de referência, porém, é muito mais do que uma técnica especializada ou uma habilidade profissional. Trata -se de uma atividade essencialmente humana, que atende a uma das necessidades mais profundamente arraigadas da espécie, que é o anseio de conhecer e compreender. Essa fonte de motivação humana brota da simples curiosidade que também se observa nos mamíferos superiores: na realidad e, a atividade organizada voltada para a satisfação da curiosidade acerca do mundo natural é uma das definições de ciência. E, como observou Aristóteles, “todos os homens possuem por natureza o anseio do conhecimento”. Essa necessidade engloba até mesmo no sso anelo de sistematizar o universo.Jesse H. Shera lembrou-nos que o “homem abomina o caos, assim como se diz que a natureza abomina o vazio”, e procuramos incessantemente impor um padrão ao que vemos. Foi isso que levou sir Charles Sherrington a chamar o cérebro humano de “o tear encantado”. Não podemos ignorar essas compulsões interiores do mesmo modo que não podemos ignorar a necessidade de alimento. O psicólogo Abraham H. Maslow advertiu a respeito dos “efeitos verdadeiramente psicopatológicos que ocorrem quando se frustram as necessidades cognitivas”. Se os bibliotecários de referência se empenhassem em lembrar constantemente a si próprios que o que estão fazendo não é simplesmente fornecer informações, mas atender a essas necessidades cognitivas, iss o serviria para neutralizar uma tendência, amiúde censurada, de que parecem dar mais atenção à consulta do que ao consulente. Efetivamente é preciso possuir conhecimentos bibliográficos e proficiência para fazer as buscas, a fim de fornecer uma resposta tecnicamente competente a consultas do tipo ‘você tem algo sobre pistolas de jato de areia e suas aplicações?’, ‘qual a disposição dos exércitos na batalha de Minden em 1759?’, ‘estou à procura de livros que tratem especificamente de estampilhas ou selos fis cais’, ‘qual a inscrição gravada na pedra da piscina de Siloé?’, ‘eu queria uma descrição de um dia típico num mosteiro beneditino, para usar num romance’. Todo bom bibliotecário de referência sentiria justificadamente uma sensação de realização profission al ao vencer o desafio intelectual representado por essas questões. E essencial, porém, não perder de vista o fato de que, para o consulente, só por casualidade a resposta à questão é uma exigência, e que num nível mais profundo ela é necessária para satis fazer a uma necessidade cognitiva básica. Os psicólogos nos ensinam que as questões surgem nas mentes das pessoas por causa de uma lacuna em seus conhecimentos ou de uma impossibilidade de compreender o mundo a seu redor, ou devido a alguma incoerência ou conflito conceitual naquilo que já conhecem. Afirma -se freqüentemente na literatura de biblioteconomia e ciência da informação (por exemplo, por William B. Rouse e Sandra H. Rouse) que “as pessoas raramente procuram informações como um fim em si mesmo”, mas que geralmente necessitam delas para ajudar na solução de problemas, na tomada de decisões, na alocação de recursos financeiros, etc. No entanto, um inquérito realizado por Terry L. Weech e Herbert Goldhor, em 1982, entre 463 consulentes de bibliotecas públicas em Illinois, mostrou que a curiosidade era o motivo em 16% dos casos. Bertrand Russell afirmou que o que as pessoas realmente querem não é conhecimento, mas certeza; qualquer que seja a outra utilidade que venha a ter a informação fornecida pelos bibliotecários, pouco ajudará se não reduzir a incerteza. E talvez haja muitas ocasiões em que os usuários das bibliotecas façam perguntas simplesmente para reduzir a incerteza subjetiva. Como uma arte humana, a segunda grande contribuição proporcionada pel o serviço de referência é ministrar assistência de maneira individualizada. E fundamental à biblioteconomia o conceito de prestação de serviços que se” coadune, cuidadosa e especificamente. com as necessidades do indivíduo. A importância do serviço de refe rência nesse contexto é não só de que seja executado, mas, assim como o imperativo de lorde Hewart a respeito da justiça, que se trate de cumpri-la de modo claro e incontestável. Esse serviço demonstra claramente, em sua natureza voltada para o indivíduo, a segunda lei de Ranganathan: “Para cada leitor o seu livro.” Origens do serviço de referência E penoso lembrar que o serviço de referência não foi sempre parte integrante da biblioteconomia. Uma das muitas lições ensinadas por Rothstein é de que se trat a de uma “dimensão relativamente nova” da biblioteconomia, se comparada com a aquisição e a catalogação de livros. Até meados do século XIX, muitos estudiosos somente buscavam uma biblioteca quando suas próprias coleções particulares, freqüentemente imensa s, não os ajudavam. Enquanto usuários de biblioteca não precisavam de ajuda alguma, conhecedores que geralmente eram da bibliografia dos assuntos de seu interesse, e se contentavam com o catálogo de autor para tudo o mais, É claro que o conteúdo temático d os livros era então mais limitado e os acervos das bibliotecas eram muito menores; como reconhece Ranganathan, “se a quantidade de livros de uma biblioteca for muito pequena, talvez não haja necessidade de manter um serviço de referência”, Não há dúvida qu e, eventualmente. os bibliotecários, que amiúde também eram pessoas eruditas e conheciam intimamente o conteúdo dos acervos colocados sob sua custódia, seriam capazes de ajudar os leitores em suas pesquisas. Toda essa atividade, porém, permaneceu por muito s anos como algo periférico a suas tarefas principais de aquisição, catalogação, classificação e controle. Foi o enorme incremento da indústria editorial e da alfabetização que provocou mudanças. Os estudos especializados expandiram -se, com os livros sendo publicados sobre assuntos cada vez mais específicos, e as bibliotecas aumentaram de tamanho. Chegara a hora em que os estudiosos já não mais conheciam nem mesmo os nomes de quem escrevia sobre os temas de seu interesse, e então começaram a procurar os liv ros pelos seus assuntos. A isso os bibliotecários responderam com mais catálogos de assuntos, sistemas de classificação e ajuda pessoal. A ampliação do ensino público e o avanço da alfabetização criaram todo um novo público leitor. É na assistência exigida por esse novo tipo de leitor, num novo tipo de biblioteca — a biblioteca pública mantida com impostos —, principalmente nas grandes cidades industriais da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, que se pode localizar as origens daquilo que hoje conhecemos como serviço de referência. Não foi sem oposição que se criaram essas bibliotecas, embora tal oposição haja sido menor nos Estados Unidos do que na Grã -Bretanha, e desde seu início estiveram pressionadas para justificar o dispêndio de recursos públicos. O primeiro trabalho sobre o serviço de referência foi publicado em 1876, embora decorressem mais dez anos até que essa denominação aparecesse em forma impressa. O autor desse trabalho pioneiro foi Samuel Swett Green, formado em teologia por Harvard e bibliotecário da biblioteca pública da cidade de Worcester, Massachusetts (EUA), uma das mais importantes cidades industriais da Nova Inglaterra. Era também o primeiro trabalho de Green, que foi lido em 5 de outubro de 1876 perante a famosa Centennial Conference of L ibrarians, em Filadélfia, da qual resultou a fundação da American Library Association (ALA). Segundo Rothstein, foi essa a “primeira proposta explícita de um programa de assistência pessoal aos leitorés, diferentemente da ajuda ocasional”. Seu título merec e ser citado na íntegra: ‘The desirableness of establishing personal intercourse between librarians and readers in popular libraries’ [A conveniência de promover um relacionamento pessoal entre bibliotecários e leitores em bibliotecas populares]. Foi nessa mesma reunião, como reação imediata ao trabalho de Green, que Robinson lançou seu apelo, acima citado, em prol da instrução bibliográfica dos estudantes. Um ano depois, na mesma data, Green encontrava -se em Londres pronunciando uma conferência sobre o mesmo tema, ‘Access to librarians’ [Acesso aos bibliotecários], como delegado da ALA em outra conferência pioneira de bibliotecários, durante a qual foi fundada a ‘Library Association of the United Kingdom’. Não há dúvida que por essa época diversas bibliotec as já vinham executando um eficiente e completo serviço de referência, como fica evidente pelos debates em torno das opiniões de Green em ambas as conferências, ainda que provavelmente não estivesse muito difundido e fosse denominado de várias maneiras, co mo ‘ajuda pessoal’,‘auxílio aos leitores’ ou ‘assistência aos leitores’. Reuben A. Guild, bibliotecário da Brown University entre 1848 e 1893, sustentava que “durante os últimos trinta anos, ao longo dos quais trabalhei como responsável, não somente o público teve permissão de livre acesso à biblioteca [...] mas também de consultar o bibliotecário, em vez do catálogo, sendo que as consultas se referiam em sua maior parte a informações e não a obras específicas”. Robert Harrison, da London Library, contou como certa vez foi indagado por Thackeray a respeito de um livro sobre o general Wolfe: “Não quero saber de suas batalhas. Posso aprender tudo sobre elas nos livros de história. Quero algo que me diga qual era a cor das calças que ele usava.” Na realidade, Green, na Inglaterra, fora antecedido em certa medida pelo notável Edward Edwards, em grande pane autodidata, filho de um pedreiro de Whitechapel, que formulou, já em 1859, em seu Handbook of library economy, que “a assistência aos leitores em suas pesquisas” é uma das funções que “têm de ser desempenhadas diariamente” pelas bibliotecas públicas em geral. Ele foi o primeiro bibliotecário da biblioteca pública de Manchester, o primeiro exemplo mundial de uma cidade industrial, tida, com um misto de reverênci a e temor, como o portento de uma nova era por eminentes visitantes de inúmeros países que a ela acorriam para ver com seus próprios olhos como seria o futuro. Ela serviu corno uni dos modelos de ‘Coketown’ em Hard times [Tempos difíceis] (1854), de Charles Dickens, que a visitara quando foi pronunciar unia conferência na cerimônia de inauguração da Reference Library em 1852. Dois anos mais tarde, um visitante da Reference Library descreveu “um saguão imponente e com decoração despojada, cercado de estantes com livros [...] e onde os bibliotecários silenciosamente limpavam a poeira dos livros e atendiam às demandas dos leitores”. Desde o início, Edwards externava sua intenção de “fornecer informações sobre assuntos concernentes a pesquisas sérias e definitiv as”, e, em 1873, num artigo publicado no Manchester Evening News, observou que na Reference Library “os funcionários demonstram, com a maior polidez, um anseio generalizado de ajudar os estudiosos sérios”. Em 1871, a biblioteca de Manchester foi a primeira da Grã-Bretanha a empregar mulheres, e, em 1884, um leitor da Reference Library estava tão agradecido pela ajuda que recebera de uma delas que se sentiu levado a escrever para o Manchester Quardian: “Tenho observado sempre que as atendentes dessa biblioteca são muito atenciosas e dispostas a ajudar as pessoas que buscam informações.” Curiosamente, ao se dirigir para a conferência de 1877 em Londres, o próprio Green fez uma visita à Manchester Reference Library, que lhe foi mostrada por Crestadoro, um dos q ue sucederam a Edwards, e que hoje é mais lembrado por ter sido o pioneiro dos índices de palavras-chave permutadas. Ele ficou espantado ao “ver, à noite, um enorme salão de leitura repleto de leitores, todos de chapéu”. Bibliografia sistemática Apesar de ser pouco comentado, não deixa de ter importância o fato de o começo do trabalho de referência como profissão haver coincidido com a imensa expansão da publicação de periódicos em meados e no final do século XIX. Para o especialista e também para o leito r comum isso transformou todo o campo do conhecimento com que estavam familiarizados. Em sua procura de informações, mesmo nas maiores coleções de livros e folhetos, eles haviam conseguido até aquele momento encontrar seu caminho guiando -se pelas indicações presentes nos títulos das próprias obras e nas listas ou catálogos proporcionados pelo bibliotecário. Em comparação com a bibliografia constituída de monografias, razoavelmente organizada, o conteúdo multifário de uma coleção de periódicos parecia uma te rrível mixórdia. Então como hoje, o conglomerado de artigos que constituem o fascículo de um periódico não estava presente no catálogo, e os leitores começaram a buscar a ajuda dos bibliotecários. Tão insistentes e variadas em termos de assuntos eram essas consultas solicitando artigos sobre tópicos específicos que os bibliotecários constataram que já não mais podiam depender de seu próprio conhecimento pessoal. Assim, em várias bibliotecas o bibliotecário compilou listas desses artigos que lhe serviam de a ide-mémoire. O índice manuscrito compilado na universidade de Yale por um jovem bibliotecário -assistente, William Frederick Poole, conquistou tal popularidade que, em 1848, foi publicado por George Putnam. Como explica o biógrafo de Poole. “tratava-se de um instrumento novo e sem igual de controle bibliográfico, o índice geral de vários periódicos diferentes numa única seqüência alfabética. Inaugurava uma forma bibliográfica que se tomou uma das pedras angulares do serviço bibliotecário.” Na ocasião em que alcançou sua terceira edição, em 1882, Poole alçara -se à condição de primeiro bibliotecário da Chicago Public Library, e seu notável Index to periodical literature, 1802 —1881 crescera para 230 000 entradas abrangendo 232 periódicos. Até hoje vem sendo util izado regularmente. e ainda continua sendo publicado. Outras importantes bibliografias iniciadas por essa época ampliaram sua abrangência a setores cada vez mais extensos do mundo das publicações impressas e estabeleceram a bibliografia sistemática como o campo de estudo profissional fundamental para esse novo tipo de bibliotecário. Exemplos característicos, dentre os muitos que poderiam ser mencionados, são: Newspaperpress directoty (iniciado em 1846), English catalogue of books (1864), Index to The Times newspaper (1868), Publishers grade list annual (1873), Catalogue ofprintedbooks do British Museum (1881), Dictionary of anonymous and pseudonymous English literature , de S. Halkett e J. Laing (1882), The best books: a reader guide de W.S. Sonnenschein (1887). O advento dessas novas e eficazes ferramentas também estendeu a esfera de ação do ‘bibliotecário de referência’ ao mundo dos conhecimentos registrados, ultrapassando as fronteiras da biblioteca local com seu acervo limitado. A própria crescente sistema tização em forma impressa do campo dos conhecimentos importantes é encontrada no conjunto das ferramentas de referência, hoje indispensáveis, e que também foram publicadas pela primeira vez em meados e fins do século XIX. Exemplos tomados ao acaso e consul tados até hoje são (a data entre parênteses indica o ano de fundação):Who ‘s who (1849), Chamber‘s encyclopcedia (1850), Statistical abstract for the United Kingdom (1854), Bartlett’s familiar quotations (1855), Crockford’s clerical directory (1858), Statesman ‘s year-book (1864), Wisden ‘s cricketers’ almanack (1864), Whitaker ‘s almanack (1868), World almanac (1868), Grove’s dictionary of music and musicians (1878), Statistical abstract of the United States (1878),Dictionary of national biography (1885),Oxford English dictionary (1888), Kelly ‘s manufacturer ‘s and merchant ‘s directory (1889), Municipal year book (1897). O desenvolvimento do serviço de referência Bem cedo foram reconhecidos os encantos do trabalho de referência: em seu trabalho pioneiro. Green confessava que “poucos são os prazeres que se lhe comparam”; em 1882, Poole afirmou perante a conferência da American Library Association em Cincinatti que: “prestar auxílio aos consulentes [...j é uma das tarefas mais agradáveis do cargo que ocupo ”. Inevitavelmente, havia aqueles que faziam suas reservas. A mesma conferência ouviu James W. Ward, de Buffalo,descrever o bibliotecário como “ livro freqüentemente mais consultado da biblioteca. Espera-se que ele conheça tudo, tanto na biblioteca quanto fora dela.” E deixou claro que isso não correspondia inteiramente a seu gosto, embora a platéia não tardasse a rechaçar a provocação, tendo à frente o próprio Green, que declarou enfaticamente “não gosto do tom desse trabalho”. Por volta
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