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1 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária UFRGS I Bioquímica Clínica Metabolismo dos macrominerais MACROMINERAIS • Cálcio • Fósforo • Magnésio • Potássio • Sódio • Cloro • Enxofre PRINCIPAIS DEFICIÊNCIAS • Sódio • Fósforo • Cálcio • Magnésio • Cobre • Iodo • Zinco • Cobalto • Selênio TRANSTORNOS • Paresia puerperal (cálcio) • Hiperparatireoidismo (cálcio e fósforo) • Hemoglobinúria puerperal (fósforo) • Tetania das pastagens (magnésio) • Bócio (iodo) • Marasmo enzoótico (cobalto) • Doença do músculo branco (selênio) • Intoxicação por cobre CÁLCIO E FÓSFORO • Unicos com controle endócrino • Cálcio: forma matriz óssea do esqueleto, está sobre forma de fosfato em sua maioria, no plasma (1%) 50% está unido a albumina e 50% ionizado, participa da coagulação (ativa protease), contração muscular (une- se a troponina C), transmissão de impulso nervoso, calmodulina (regulação e enzima e hormônios). CONTROLE ENDÓCRINO DA CALCEMIA BIOSSÍNTESE DA VIT D TRANSTORNOS RELACIONADOS AO METABOLISMO DO CA HIPOCALCEMIA PUERPERAL • Deficiência aguda → Febre do leite • Caracterizada por paresia (paralisia) e hipocalcemia • Geralmente na 1ª semana de lactação • Vacas de alta produção de leite (> 30 L/dia) • Mais comum em vacas multíparas • Raça Jersey mais suscetível que Holandesa 2 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária UFRGS I Bioquímica Clínica SINAIS • Diminuição da motilidade do trato gastrointestinal e uterino que leva a estase ruminal → Timpanismo • Tendência a retenção de placenta → metrite Estágio inicial (curto): hiperexcitabilidade, agressividade • Anorexia • Agalactia • Temperatura normal • Estágio final: decúbito esternal (paralisia muscular) • Típica posição de “auto-auscultação” • Hipotermia • Pulso débil • Hipocalcemia (< 6,5 mg/dL) • Hipomagnesemia (< 1,5 mg/dL) • Aumento de CK • Aumento de AST Lesão muscular por decúbito prolongado →indicadores de prognóstico TRATAMENTO • Borogliconato de cálcio 2 g de cálcio / 100 kg peso → recupera calcemia por 4 h • Vaca de 500 kg: 10 g de cálcio • Solução de 8-12 g de cálcio/500 m → administrar 400-800 mL • 75 a 85% dos casos recuperam • 15 a 25% podem não responder ou complicar PREVENÇÃO • Pré-vitamina D dois dias antes do parto (não se recomenda vitamina ativa para prevenir toxicidade) • Dietas baixas em cálcio duas semanas antes do parto. • Na prática difícil limitar ingestão de cálcio → diminuir relação Ca/P com fosfato de sódio • Sais aniônicos no pré-parto (2-4 semanas): Sulfatos, cloretos → aumento de H+ para equilibrar (diminui excreção renal) → leve acidose metabólica: estimula saída de Ca2+ e HCO3 – do osso EFEITO DO PH SOBRE A CALCEMIA HIPOCALCEMIA EM NÃO RUMINANTES • Hipocalcemia aguda em cadelas, éguas, porcas com síndrome MMA Raças pequenas caninas mais suscetíveis (Eclâmpsia) • Ocorre 2-3 semanas pós-parto 3 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária UFRGS I Bioquímica Clínica SINAIS • Tetania neuromuscular: convulsões • Nistagmo (movimentos involuntários dos olhos) • Pulso débil • Hipertermia • Hipocalcemia • Hipomagnesemia • Hipoglicemia • Aumento de CK TRATAMENTO • Borogluconato de cálcio (intravenosa lenta) • Tranquilizantes • Suplementação da mãe e dos filhotes com cálcio TRANSTORNOS DA PARATIREÓIDE HIPOPARATIREOIDISMO • É raro em cães • Suscetíveis raças pequenas (Schnauzer, Terrier) • Mais comum em gatos • Ocorre baixa secreção de PTH ou falha nos receptores CAUSAS • Congênitas (agenesia) • Iatrogênicas (tireoidectomia, irradiação) • Lesão primária na paratireoide (carcinoma, hiperplasia) SINAIS CLÍNICOS • Aumento da excitabilidade muscular • Tetania, depois paralisia • Hipocalcemia (< 6,0 mg/dL) HIPERPARATIREOIDISMO PRIMÁRIO • Primário por lesão funcional da paratireoide • Adenocarcinoma • Hiperplasia • Raro em cães • Mais comum em gatos SINAIS CLÍNICOS • Hipersecreção de PTH: enfraquecimento ósseo • Claudicação por mobilização óssea exagerada • Predisposição a fraturas • Disfunção motora • Hipercalcemia (> 12 mg/dL) • Hipofosfatemia (< 3 mg/dL) • Cálculos renais • Aumento de fosfatase alcalina • Em gatos: paratireoide palpável TRATAMENTO • Cirurgia: extirpação da neoplasia • Se as quatro paratireoides estiverem comprometidas, extirpar duas ou três • Monitorar calcemia após a cirurgia 4 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária UFRGS I Bioquímica Clínica SECUNDÁRIO • Consequência de excesso de fósforo • Renal por insuficiência renal crônica (retenção de fósforo) • Nutricional por excesso de fósforo na alimentação SINAIS • Hipersecreção de PTH: enfraquecimento ósseo • Claudicação por mobilização óssea exagerada • Predisposição a fraturas • Disfunção motora • Hipercalcemia (> 12 mg/dL) • Hipofosfatemia (< 3 mg/dL) • Cálculos renais • Aumento de fosfatase alcalina • Em gatos: paratireoide palpável RENAL • Osteodistrofia fibrosa renal: “mandíbula de borracha” • “Cara inchada” • Perda de dentes • Ureia e creatinina aumentadas • Fósforo aumentado • Anemia • FA aumentada • PTH aumentada NUTRICIONAL • Dietas com excesso de fósforo e deficiência de cálcio • Baixa relação plasmática de Ca/P • Hipersecreção de PTH • Em carnívoros: dieta predominante de carne (relação Ca:P 1:30) • Zoo: felinos enjaulados • Equinos: dieta a base de cereais (trigo, cevada) FÓSFORO DEFICIÊNCIA • É a 2ª deficiência mais comum de macrominerais (depois do sódio) • 1ª deficiência mineral em importância econômica • Maioria das pastagens nas regiões tropicais/subtropicais são deficitárias em fósforo (níveis < 0,07%) • Exigência de fósforo → ca. 0,18% • Confundida com outros estados deficitários • Sinais clínicos e deficiências marginais não são facilmente detectáveis CRÔNICA • Deficiência crônica → difícil diagnóstico • Redução do consumo (efeito primário) • Falhas na digestão • Transtornos na fertilidade • Osteoporose • Lesões ósseas, deformação • “Cara inchada”: Osteodistrofia dibrosa • Alotrofagia (gosto depravado) AGUDA • Deficiência aguda → Hemoglobinúria puerperal • Pode ocorrer (raramente) em vacas leiteiras de alta produção • Drenagem excessiva de fósforo pela glândula mamária 5 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária UFRGS I Bioquímica Clínica • Falta de ATP → afeta equilíbrio osmótico das hemácias → fragilidade das hemácias → hemólise intravascular → hemoglobinúria, anemia DIAGNÓSTICO • Análise de fósforo em pastagens / forragens • Nível de fósforo em: Sangue (plasma / sangue completo) Urina • Resposta favorável à suplementação estratégica MAGNÉSIO • Cofator de mais de 300 enzimas • Participa na síntese de proteínas • É essencial na mobilização do cálcio • Participa na reação de hidrólise do ATP • Regula a bomba de cálcio no sarcoplasma → fundamental no tono e na contração muscular • Quando há deficiência de magnésio → cálcio não pode retornar ao sarcoplasma → tetania DEFICIÊNCIA • Deficiência aguda → Tetania das Pastagens (hipomagnesemia) • Afeta bovinos, ovinos e caprinos • Pouca prevalência (pouco relatada?) • Insidiosa (oculta) • Provocada por deficiência e/ou baixa absorção de magnésio • Caracterizada por: Hipomagnesemia Hiperexcitabilidade • Alta mortalidade • Geralmente ocorre depois de estresse • Confundida com morte súbita PREDISPOSIÇÃO • Alta produção de leite • Excessiva fertilização com • nitrogênio (ureia) e/ou potássio • Estresse: transporte, longas caminhadas, manejo, vacinações, temporais, barulho extremo • Mudança súbita de alimentação • Alimentação com excesso de proteína (pastagens de inverno) SINAIS• Hiperexcitabilidade • Paralisia espástica • Prolapso da 3ª pálpebra • Opistótono • Reflexos exaltados • Convulsões • Batidas cardíacas irregulares e muito • fortes • Morte súbita • Hipomagnesemia: • Sangue < 1,0 mg/dL (VR. 1,7-2,5 mg/dL) • Humor aquoso < 1,0 mg/dL (VR. 1,2-1,8 mg/dL)) • Humor vítreo < 1,5 mg/dL (VR. 1,8-2,3 mg/dL) 6 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária UFRGS I Bioquímica Clínica TRATAMENTO • Geralmente não dá tempo • Injeção intravenosa lenta de sais de magnésio • Manter suplemento oral de magnésio • Óxido de magnésio (50%): baixa solubilidade • Hidróxido de magnésio (37%) • Fosfato de magnésio (25%): boa solubilidade • Cloreto de magnésio (12%) • Sulfato de magnésio (10%) PREVENÇÃO • Suplementar magnésio (MgO ou MgSO4) no alimento ou na água • Diminuir fertilização com potássio e/ou ureia • Evitar pastagens altamente proteicas • Diminuir movimentos e estresse • Aumentar fibra (melhora a absorção de magnésio) FERRO DEFICIÊNCIA • Anemia ferropriva: microcítica hipocrômica • Rara em animais, exceto leitões ou em parasitismos intensos • Animais lactantes mais suscetíveis • Excesso de ferro pode causar deficiências de zinco ou de cobre por bloquear a absorção deles • Sinais clínicos de anemia o Mucosas pálidas o Perda de apetite o Baixo crescimento o Aumento de frequência respiratória o Acidose láctica em anemia severa ZINCO • Participa como cofator de enzimas da síntese de proteínas, multiplicação celular, expressão génica, estabilidade das membranas • Componente de enzimas DNA polimerase RNA polimerase Anidrase carbônica Álcool desidrogenase Carboxipeptidase Piruvato desidrogenase Fosfatase alcalina SINAIS CLÍNICOS DE DEFICIÊNCIA • Crescimento retardado • Retraso mental (humanos) • Cicatrização retardada • Infertilidade por falhas na espermatogênese, ovulação e por baixa sobrevivência embrionária • Paraqueratose (suínos jovens): dermatite não febril • Alopecia, acromotriquia, perda de lã • Lesões em cascos, chifres • Deformações, laminite, claudicações • Hipoalbuminemia e hipoglobulinemia (panhipoproteinemia) • Baja imunocompetência COBRE • Transporte no plasma pela albumina e a ceruloplasmina • Excreção ligado a metalotioneína: bile 7 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária UFRGS I Bioquímica Clínica • Indicadores de deficiência: o Níveis de cobre (plasma) o Ceruloplasmina (plasma): diminui na deficiência (PFA+) o Superóxido dismutase (eritrócitos): diminui na deficiência • Interações: molibdênio, ferro, sulfato, cálcio → excessos na dieta aumentam exigência de cobre SINAIS DE DEFICIÊNCIA • Anemia • Infertilidade • Crescimento retardado • Baixa produção • Diarreia (má absorção intestinal) • Crescimento defeituoso dos ossos: • claudicações e osteoporose • Pele áspera, alopecia, acromotriquia • Perda da ondulação da lã • Degeneração do miocárdio (falha por oxidação do tecido cardíaco) • Em cordeiros: falta de mielinização dos neurônios → incoordenação e ataxia dos membros posteriores (sway back) INTOXICAÇÃO • Mais comum em ovinos • Geralmente causada por alimentação inadequada (ex. sais mineralizados para bovinos com altos níveis de cobre -800 ppm-) • Nível adequado na alimentação: 6-8 ppm • Intoxicação ocorre com consumo acima de 150 ppm • Cobre acumula-se no fígado • Mecanismo da intoxicação: duas fases 1. Período passivo de acumulação nos tecidos, principalmente fígado (várias semanas) 2. Fase tóxica → processo agudo liberação maciça de cobre no sangue → crise hemolítica SINAIS DE INTOXICAÇÃO • Salivação • Dor abdominal • Hemólise • Hemoglobinúria • Falha renal • Icterícia • Convulsões • Hemorragias • Colapso e morte (80%) INDICADORES LABORATORIAIS DE INTOXICAÇÃO • Anemia hemolítica • Aumento de AST (hepática e eritrocitária) e de GGT • Aumento de fósforo e potássio • Aumento de bilirrubina (principalmente livre) • Aumento de ureia e creatinina: lesão renal por hemoglobina e cobre • Sangue marrom (formação de meta- hemoglobina por efeito oxidante do excesso de cobre) FONTES DE INTOXICAÇÃO • Cama-de-frango (250 ppm de cobre; proibida para alimentação; uso como adubo) • Fertilizantes, herbicidas • Água contaminada (recipientes de cobre) • Molucicidas → sulfato de cobre • Cabos elétricos corroídos dispersos na pastagem • Plantas tóxicas (alto conteúdo de cobre) TRATAMENTO DA INTOXICAÇÃO • Molibdato de amônio (100 mg) + sulfato de sódio (1 g) em 20 mL de água por indivíduo, misturado na alimentação durante 4 semanas 8 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária UFRGS I Bioquímica Clínica PREVENÇÃO • Manter balanço adequado de nutrientes • Evitar estresse • Suplementar zinco (100 ppm): reduz armazenamento de cobre • Determinar AST em plasma (alerta com 200 U/L) IODO • Componente dos hormônios tireoidianos (T3, T4) • Tireoide: único órgão capaz de acumular iodo em grandes quantidades → bomba de iodo • Cerca de 98% do iodo se concentra na tireoide • Historicamente falta de iodo ligado à presencia de bócio • Plantas terrestres não contém iodo • Iodo no sal SINAIS CLÍNICOS DE DEFICIÊNCIA • Hipotireoidismo • Bócio • Natimortos • Cretinismo: retardo físico e mental BÓCIO • Hiperplasia com dilatação não neoplásica e não inflamatória da tireoide por deficiência de iodo • Substâncias bociogênicas: o Glicosídeos cianogênicos: trevo branco, soja o Plantas crucíferas: brócolis, repolho, couveflor (goitrina) o Leguminosa Leucaena leucocephala (mimosina) • Excesso de iodo na dieta (algas secas): inibe proteólise da tireoglobulina (efeito WolffChaikoff) INDICADORES DE DEFICIÊNCIA • Concentração de iodo na urina, no plasma ou no leite • Hormônios tireoidianos (principalmente T4): diminui com deficiência crônica • Tamanho da tireoide (ultrassom): aumenta com deficiência crônica TOXICIDADE • Efeito similar à deficiência (afeta bomba de iodo) • Níveis toleráveis de iodo na dieta: Porcos: 400 ppm Frangos: 300 ppm Bovinos: 50 ppm Equinos: 5 ppm • Causas em veterinária o EDDI (diidro-diamino-etilen-iodo) para prevenção de actinomicose (podridão do casco) o Antissépticos a base de iodo para desinfeção de mamilos em vacas leiteiras 9 Rúbia Rogovski Medicina Veterinária UFRGS I Bioquímica Clínica o Antissépticos para lavado de utensílios, tanques esfriadores e de armazenamento de leite COBALTO • Formação da vitamina B12 (cianocobalamina) • Eritropoiese: cianocobalamina atua como coenzima B12 na síntese de bases nitrogenadas (purina, timina) • Gliconeogênese (aproveitamento do propionato): coenzima B12 na reação de metilmalonil-CoA a succinil-CoA → vital em ruminantes DEFICIÊNCIA • Indicadores: Cobalto no sangue (EAA) < 250 µg/mL Vitamina B12 (RIA) no plasma Ácido metilmalónico na urina (acumulase na falta de vitamina B12) • Pastagens com nível de cobalto inferior a 0,08 ppm • Excesso de manganês diminui disponibilidade de cobalto • Solos alcalinos interferem na absorção de cobalto pela planta SINAIS CLÍNICOS DE DEFICIÊNCIA • Em monogástricos a necessidade é de vitamina B12, no de cobalto • Anemia perniciosa • Em ruminantes: hipoglicemia, cetose (marasmo enzoótico) • Baixa da produção • Perda de apetite • Pele e pelo ásperos • Emaciação • Letargia • Infertilidade SELÊNIO • Constituinte da enzima glutation peroxidase (GPx): proteção antioxidante • Selenoproteína deiodase: conversão de T4 em T3 nas células alvo • Síntese de prostaglandinas • Síntese de ácidos graxos essenciais • Síntese de lipase pancreática • Resposta imunológica SINAIS CLÍNICOS DE DEFICIÊNCIA • Solos com nível de selênio menor de 0,1 ppm •Doença do músculo branco: Distrofia muscular → acúmulo de peróxidos nas membranas celulares causando necrose, fibrose e calcificação (músculo esquelético e cardíaco) • Consumo de ácidos graxos insaturados aumenta necessidade de selênio • Baixa da produção • Diminuição do crescimento • Imunocompetência diminuída: aumento de mastite, metrite e retenção placentária • Mais afetados animais jovens (rápido crescimento)
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