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Fundamentos Histórico- Teórico-Metodológicos do Serviço Social (30 e 40) Professor Anderson de Castro Moura Professora Irení Alves de Oliveira EduFatecie E D I T O R A Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Prof.ª Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação a Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Candido Berthier Fortes, 2177, Centro Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rua Pernambuco, 1.169, Centro, Paranavaí-PR (44) 3045 9898 UNIFATECIE Unidade 4 BR-376 , km 102, Saída para Nova Londrina Paranavaí-PR (44) 3045 9898 www.unifatecie.edu.br/site/ As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site ShutterStock https://orcid.org/0000-0001-5409-4194 2021 by Editora EduFatecie Copyright do Texto © 2021 Os autores Copyright © Edição 2021 Editora EduFatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora EduFatecie. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. EQUIPE EXECUTIVA Editora-Chefe Prof.ª Dra. Denise Kloeckner Sbardeloto Editor-Adjunto Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Assessoria Jurídica Prof.ª Dra. Letícia Baptista Rosa Ficha Catalográfica Tatiane Viturino de Oliveira Zineide Pereira dos Santos Revisão Ortográ- fica e Gramatical Prof.ª Esp. Bruna Tavares Fernades Secretária Geovana Agostinho Daminelli Setor Técnico Fernando dos Santos Barbosa Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt www.unifatecie.edu.br/ editora-edufatecie edufatecie@fatecie.edu.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP M929f Moura, Anderson de Castro Fundamentos histórico-teórico-metodológicos do Serviço Social (30 e 40) / Anderson de Castro Moura, Irení Alves de Oliveira Paranavaí: EduFatecie, 2021. 191 p. : il. Color. ISBN 978-65-87911-15-1 . 1. Serviço social. 2. Direitos Humanos – Ciências Sociais. I. Oliveira, Irení Alves de II. Faculdade de Tecnologia e Ciências do Norte do Paraná - UniFatecie. III. Núcleo de Educação a Distância IV. Título. CDD : 23 ed. 361.3 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 https://doi.org/10.33872/edufatecie.formsociocultural.2019 AUTORES Professor Anderson de Castro Moura ● Mestrando em Propriedade Intelectual e Transferência da Inovação Tecnológica (Universidade Estadual de Maringá - UEM) ● Graduando em Ciências Econômicas (Universidade Estadual de Maringá - UEM) ● Bacharel em Administração com Habilitação em Comércio Exterior (UniCesu- mar). ● Especialista em Docência do Ensino Superior (UniCesumar). ● Especialista em Tecnologias Educacionais (UniCesumar). ● Professor Conteudista EAD - UniCesumar. ● Professor Conteudista EAD - Faculdade Católica Paulista ● Tutor na Especialização de Gestão da Saúde na disciplina de Políticas Públicas para a Saúde pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/2176464642941477 Pesquisador da Economia Política e História do Pensamento Econômico, tem publicações sobre o Comércio Exterior e a dependência tecnológica que o Brasil tem para com os países centrais. Estudioso da Filosofia Política e das decisões que os agentes privados têm nas suas tomadas de decisão em investimentos. Ampla experiência em EAD, já trabalhei em todos os setores, desde atendimento geral até estruturar uma IES para o credenciamento e autorização desta modalidade de ensino que muito cresce no nosso país. Quero com o meu savoir-faire esclarecer aos discentes sobre o panorama econô- mico e político brasileiro. AUTORES Professora Irení Alves de Oliveira ● Especialista em Docência no Ensino Superior - UniCesumar (2016) ● Tecnóloga em Marketing - UniCesumar (2016) ● Bacharel em Serviço Social (2015) ● Pós-Graduanda em Design Thinking e Criatividade nas Organizações - Unice- sumar ● Pós-Graduanda em MBA em Coaching aplicado à Gestão de Pessoas - Unice- sumar ● Professora Formadora EAD - Unicesumar ● Supervisora Acadêmica de Estágio - Unicesumar ● Link do Currículo na Plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/6087805875284804 Assistente Social. Supervisora Acadêmica com programa de treinamento e acom- panhamento de equipe de supervisores acadêmicos e Professora formadora da disciplina de estágio supervisionado curricular obrigatório. APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Agradecemos, antes de tudo, por você nos escolher como a sua Instituição de Ensino Superior (IES) e por nos confiar a sua formação. Para tanto, esta apostila foi muito pensada e escrita com o rigor acadêmico que é exigido pelo MEC e pela a diretoria muito séria da nossa IES. Claro que colocamos muito amor e respeito por você que irá construir um novo saber, que vai te acompanhar não apenas no seu cotidiano profissional, mas por toda a vida! Portanto, apesar de ser extenso e denso, esta apostila é, antes de tudo, uma humilde introdução, uma base para que você continue a pesquisar e a contribuir com o seu saber todos e todas que fazem parte do seu ciclo social e profissional. Na Unidade I teremos o que chamamos de princípios de economia política, aqui dis- cutimos como a modernização e o fortalecimento do capitalismo aconteceu. Explicaremos que guerras foram declaradas em nome dele e que, inclusive, a nossa prática profissional nasceu e muito se modificou graças às mudanças que aconteceram no século XX, uma era extremamente atípica e rápida devido, justamente, às necessidades do capital. Já na Unidade II conheceremos a nossa formação sócio-histórica e econômica, resgatamos desde o Brasil colônia para entendermos por que o capitalismo adquiriu esta forma tão predatória e tão desigual que temos. Vamos iniciar os princípios cepalinos, países centrais e países periféricos, para que conheçamos os reais efeitos da nossa sociedade e como nos modernizamos. Depois, na Unidade III vamos problematizar sobre a prática profissional do Serviço Social, o que nos marca enquanto profissionais e enquanto cientistas será trazido à baila para que entendamos o nosso real papel e introduzirmos dos nossos limites de ação e pesquisa. Por fim, na Unidade IV, vamos entender mais sobre os processos históricos no Brasil e os fatos marcantes para que a nossa profissão fosse legitimada e aceita perante a sociedade como um todo. Claro que o mesmo assunto não acaba nesta unidade, preci- samos sempre nos debruçar para a compreensão do que somos e como podemos sempre nos fortalecer. Afinal, a história é construída cotidianamente. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 7 Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX UNIDADE II ................................................................................................... 66 Contexto Histórico, Econômico e Político no Brasil no Século XX UNIDADE III ................................................................................................107 Capitalismo Monopolista e Serviço Social UNIDADE IV ................................................................................................ 143 Instituições Assistenciais e o Serviço Social e os Congressos de Serviço Social em Busca de Atualização 7 Plano de Estudo: ● Breve retomada do contexto histórico mundial no século XX (Primeira Guer- ra Mundial, período entre guerras, Revolução Russa / Soviética, criação da União Soviética, Fascismo, Nazismo, Segunda Guerra Mundial, Guerra Fria, extinção da URSS). ● Principais teorias econômicas e políticas no século XX (liberalismo, keynesia- nismo, socialismo, neoliberalismo) e o desenvolvimento da forma de produção no capitalismo monopolista (final taylorismo, fordismo). ● Fundamentos sócio-históricos dos “anos de ouro”. ● As políticas sociais e a experiência do Welfare State. UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX Professor Anderson de Castro Moura Professora Irení Alves de Oliveira Objetivos de Aprendizagem: ● Apresentar brevemente o contexto sócio-político-econômico mundial desde a primeira guerra mundial (início do século XX) até a extinção da URSS (final do século XX). ● Apresentar as principais teorias econômicas e políticas destacadas do século XX e a forma de produção do capitalismo monopolista. ● Destacar os fundamentos sócio-histórico dos “anos de ouro”. ● Conhecer as Políticas Sociais e a experiência com o Welfare State. 8UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), nesta primeira unidade vamos apresentar os principais aconte- cimentos históricos, econômicos e políticos do século XX a nível mundial e, além de con- textualizarmos os períodos de guerra, iremos apresentar as teorias políticas e econômicas, o desenvolvimento da produção capitalista, os anos de ouro e as políticas sociais. Para entender todos esses assuntos, os separamos em quatro tópicos, que vamos apresentar a seguir. No primeiro tópico você irá estudar as guerras, também irá entender porque é importante para um aluno de Serviço Social estudar esses momentos históricos, visto que foi através desses acontecimentos que nos profissionalizamos. Um exemplo claro é: as consequências que a Primeira Guerra Mundial deixou na sociedade, dando origem para outras batalhas e fatos históricos, levando diversos países à extrema miséria. No segundo tópico estudaremos sobre as teorias econômicas e políticas em rela- ção ao liberalismo, Keynesianismo, socialismo e neoliberalismo, bem como a forma como o capitalismo se desenvolveu no seu processo produtivo. Assuntos importantes para que o aluno de Serviço Social compreenda as origens da profissão. No terceiro tópico vamos destacar os fundamentos histórico e sociais dos famosos anos de ouro e/ou os 30 anos dourados do capitalismo, processo esse que aumenta ainda mais a questão social, mas de jeito mais mascarado, a partir das intervenções estatais por meio das políticas sociais. Por fim, no quarto tópico vamos nos aprofundar nas políticas sociais. Entendemos a importância de estudar o Welfare States, conhecido no Brasil como bem estar social, que nada mais é do que as políticas sociais que responsabilizam o Estado a criar serviços básicos e essenciais para a população. E você deve estar se perguntando, por que eu devo estudar as guerras, as diversas teorias econômicas e políticas e o desenvolvimento do capitalismo? Pois bem, foi por meio de todo este contexto que o Serviço Social surge como profissão e se consolida através das políticas sociais. Desejamos um excelente estudo e esperamos que, no final da leitura, você consiga compreender ainda mais sobre o Serviço Social. 9UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX 1. BREVE RETOMADA DO CONTEXTO HISTÓRICO MUNDIAL NO SÉCULO XX Caro(a) aluno(a), a forma como entenderemos nosso mundo será revisitando os momentos históricos que marcaram o capitalismo global. Veremos em toda a unidade que a formação do mundo é muito repentina e forçada, exigindo que os humanos fizessem esforços homéricos e até pagarem um alto preço, como a vida de soldados e civis. Antes, embora tenhamos princípios ou ideias de serviço social, essas questões não foram sistematizadas ou cientificamente certificadas, e não houve nenhuma preocupação ou tratamento social com isso. O que nos leva a pensar como a falta da nossa ciência mostrou um gargalo imenso no tratamento das vidas humanas, uma vez que o mundo não tinha uma política social que tratasse, de forma cuidadosa, as pessoas e o seu entorno. O Serviço Social se configura como profissão após a Primeira Guerra Mundial, período que a questão social toma evidência na sociedade, devido aos fatores agravantes causados pela guerra, tais como: assassinatos em massa e a propagação da epidemia de gripe nas tropas, além de outros acontecimentos históricos que sucederam ao longo do sé- culo XX. Na reconstrução do mundo e sendo usado como instrumento da classe dominante, para evitar a expansão do comunismo, assim sendo basta resgatarmos quanto ao propósito do nascimento da nossa ciência e profissão, ou seja, o Serviço Social foi concebido para dirimir a percepção da exploração que o capitalismo causava nos indivíduos. Contudo, devemos entender como “nós nascemos” e como o capitalismo se confi- gurou, ora basta lembrar que as Revoluções Industriais levaram um certo tempo, e traziam 10UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX no seu bojo demandas extremamente emergentes e urgentes, dentre elas a modernização do Estado, ou seja, a ruptura com o mundo antigo e medieval, simbolizado ainda pelas monarquias que pouco davam espaço para os empreendedores. E é isso que vamos estudar nesta unidade, entenderemos todo o contexto histórico e o que aconteceu no mundo, assim compreenderemos como a nossa área surgiu e com quais atributos. Portanto, propomos, caro(a) aluno(a), que façamos uma viagem no tempo e revivamos momentos históricos da sociedade ocorridos ao longo do século XX, que, de certa forma, ocasionaram a origem da profissão de Serviço Social. 1.1 Primeira Guerra Mundial (28 de julho/1914 a 11 de novembro/1918) Magnoli e Barbosa (2011) esclarecem que o mundo vivia em uma relativa paz des- de as Guerras Napoleônicas e os reinos existentes na Europa buscavam se organizar. A concepção de Estados-Nações ainda era recente e poucos países no mundo estavam em tal estágio evoluído de organização e unicidade política. Se faz necessário lembrar a você, nobre estudante, que o período conhecido como Moderno teve o seu início na Primeira Revolução Industrial, com a invenção da máquina a vapor de James Watt, mas que não conseguira atingir toda a Europa. Sabemos que os industriais usavam do arcabouço teórico tido como liberalismo para expandir a produção in- dustrial e o consumo. Contudo, o capitalismo não era formação político-econômica vigente em boa parte do velho continente. Muitos países europeus ainda eram monarquias absolutistas ou estavam sob a égide de déspotas, esclarecidos, Alemanha e Itália, por exemplo, ainda eram confederadas em reinos e principados oriundos desde o período feudal, tão verdade que nos dias de hoje muitas regiões destes países usam dialetos no cotidiano e o idioma oficial apenas para a administração pública. Isso se tornará um verdadeiro entrave para a expansão do capitalismo e para a produção industrial, pois o poder se concentrava nas mãos da realeza em detrimento dos industriais e da classe burguesa. Desta forma, as possibilidades políticas para que o regime econômico capitalista pudesse se estender para além das fronteiras britânicas e francesas eram bem remotas, sendo executáveis, apenas com um acontecimento de grandes propor- ções, na verdade proporções mundiais. Conforme apresentado por Martin (2017) no livro A primeira guerra mundial:os 1.590 dias que transformaram o mundo, a Primeira Guerra Mundial iniciou em 28 de julho de 1914, quando a Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia, o motivo se deu devido os 11UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX nacionalistas sérvios assassinarem o arquiduque Franz Ferdinand, da Áustria, e sua espo- sa, em Sarajevo. Ameaçados pelas ambições sérvias nos turbulentos Bálcãs da Europa, os austro-húngaros acreditam que a resposta apropriada a tais massacres pode ser uma invasão militar da Sérvia. Depois de obter o apoio incondicional dos poderosos aliados da Alemanha, o Império Austro-Húngaro emitiu um ultimato à Sérvia exigindo, entre outras coisas, a eliminação de toda a propaganda anti-austríaca na Sérvia e a possibilidade de o Império Austro-Húngaro assassinar o Grão-Duque. Mas, embora a Sérvia aceitasse todos os pedidos, o governo austríaco suspendeu as relações diplomáticas dias antes de declarar guerra, continuando os preparativos militares. FIGURA 1 - SOLDADOS ALEMÃES E FRANCESES O imperador austríaco Franz Joseph I estava se preparando para dar uma lição na Sérvia. A Rússia apoiava este último, por solidariedade eslava. A França se sentia obrigada a dar a garantia à Rússia. A Alemanha, por sua vez, devia apoiar a Áustria. O autor destaca que em 1º de agosto, a Alemanha declarou guerra à Rússia. Com isso, os aliados russos da França ordenaram sua própria mobilização geral no mesmo dia, mas somente em 3 de agosto a França declarou guerra para a Alemanha. A Grã-Bretanha declarou guerra à Alemanha quando as tropas alemãs invadiram a Bélgica em 4 de agosto, as principais potências do mundo ocidental (exceto os Estados Unidos e a Itália, que se declararam neutros na época) entraram na Primeira Guerra Mundial. 12UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX FIGURA 2 - GUERRA TRINCHEIRAS Na Primeira Guerra Mundial era comum os soldados se esconderem em valas escavadas no chão para que a força inimiga não os atacasse. O problema é que muitos soldados tinham que conviver com ratos, parasitas e lama por todo o corpo, além de poeira, calor e frio, tudo dependia da época. A proteção que os soldados tinham eram os arames farpados intrincado e covis de metralhadoras. Com isso, as tropas acabaram propagando a epidemia de gripe, levando muitos a morte. O conflito começou à moda antiga, com cavaleiros de luvas brancas e soldados de infantaria em uniformes coloridos (calças vermelhas para os franceses!). Muito rapidamen- te ele muda de natureza. Novas armas e técnicas aparecem ao longo dos meses: gás de combate, tanques, metralhadoras, arame farpado, aviação... enfim, elementos industriais, principalmente as armas, se fazem presente ao longo da Guerra e são o diferencial para a vitória da Tríplice Entente. Em 1915, a guerra de movimento rapidamente se transformou em guerra de posi- ção. O conflito se torna uma guerra total. Na frente, os mortos são numerosos e os soldados sobreviventes vivem sem higiene, o que vale o apelido de “peludos”. Suas cartas estão sujeitas à censura do Estado. Esgotados pela guerra, se multiplicam as deserções e os motins. As mulheres substituem os homens em seus empregos nas fábricas, principal- mente para que o abastecimento bélico não sofresse prejuízo. Aqui há uma propaganda 13UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX e incentivo para que as mulheres trabalhassem e os homens guerreassem. Os países transformam sua economia em uma economia de guerra, cujos gastos não são limitados e o único planejamento econômico está em vencer, o que trouxe muitas complicações macroeconômicas após o armistício. Quando as contas foram fechadas, descobriram a inflação galopante e uma estrutura produtiva sucateada. As populações têm os seus recursos racionados e seus bens requisitados ou sub- traídos pelo Estado, este que contrai dívidas milionárias com uma democracia nova, com um aparato industrial nascente, distante logisticamente do conflito e com um poder bélico muito limitado até então: os Estados Unidos da América. Houve muitas mortes, principalmente no ano de 1916 e isso se deu pela falta de preparação dos comandantes que sacrificaram inutilmente as vidas dos soldados. Outro agravante foi o anúncio do governo alemão, em janeiro de 1917, que usaria torpedos para bombardear qualquer navio que tentasse alcançar portos franceses ou britânicos, compli- cando as potências aliadas, principalmente porque a Grã-Bretanha dependia do abaste- cimento do oceano para se sustentar. Tentando impor um bloqueio continental para que esses países não fossem abastecidos com alimentos e outros bens. Isso levou o presidente estadunidense, Wilson, a declarar guerra contra a Alema- nha, uma vez que não podia permitir que submarinos alemães atacassem navios mercantes americanos, arrastando os Estados Unidos para a guerra ao lado da Entente (os Aliados franco-britânicos). Outro duro golpe para a Tríplice Entente foi a retirada do império Russo da Guerra, visto que a Revolução Russa aconteceu neste mesmo ano e os Bolcheviques, partido liderado por Lênin, decidiram, unilateralmente, não participar mais. Na Alemanha, as greves e insurgências estavam aumentando, pois a população não conseguia se alimentar direito e muitos combatentes, amputados ou com outras ma- leitas e doenças diversas e originárias da Guerra, não conseguiam ter condições humanas de sobrevivência. Uma revolução estourou em 3 de novembro e praticamente uma guerra civil quase aconteceu, o que provocou a inquietação dos dirigentes políticos: se a Guerra continuava a ser vantajosa para a Alemanha, que, nesta altura, se encontrava sozinha nos campos de batalha. Para evitar que o país caísse como a Rússia sob uma ditadura comunista, os go- vernantes e líderes militares convenceram o imperador a abdicar, o que acontece no dia 9 de novembro. Mesmo depois de tantos desastres causados pela guerra, o conflito entre os países chegou ao fim em 11 de novembro de 1918, logo após o governo alemão assinar um acordo declarando o fim da guerra, em 1919 houve a conferência da Paz, que aconteceu em Paris. 14UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX Muitas regiões, como o norte da França, foram transformadas em campos de ruínas. Os estados europeus entram em paz, com enormes dívidas contraídas, principalmente, com os Estados Unidos. Estes últimos parecem ser os grandes vencedores da guerra, embora seus soldados tenham participado apenas marginalmente. Entretanto, devendo assinar os tratados de paz com a Alemanha e cada uma das potências que com ela juntaram forças: Áustria, Hungria e Turquia. Provados pela extrema dureza da guerra, os vencedores aspi- ram a humilhar e esmagar os vencidos, correndo o risco de impedir qualquer reconciliação duradoura. Porém, não podemos deixar de registrar as consequências que a Primeira Guerra Mundial deixou. De acordo com Martin (2017), durante o período houve um total de nove milhões de mortes entre os soldados da Infantaria, Marinha e da força Aérea, além de cinco milhões de civis mortos em consequência da ocupação; bombardeios; doenças e fome, além da crise econômica que foi assustadora, especialmente na União Soviética, isso porque era considerado um país economicamente atrasado, assunto que vamos discutir a seguir. SAIBA MAIS Em 25 de janeiro, a Conferência de Paz criou uma comissão para tratar das reparações de guerra. Essa comissão examinará o que cada nação derrotada “deveria pagar” às nações vitoriosas como reparação pelos danos causados durante a guerra. Os repre- sentantes de França, Grã-Bretanha e Itália pensavam poder exigir tudo o que a guerra custará. O delegado belga estava preocupado, pois, segundo tal perspectiva, a Bélgica seria fortemente prejudicada: os custos da guerra tinham sido relativamente modestos, masas cidades e os campos tinham sofrido os rigores de quatro anos de ocupação. A Grã-Bretanha, em resposta aos quatro anos de guerra submarina contra ela, preten- dia que fossem incluídas as perdas em navios e as perdas provocadas pelos ataques aéreos alemães. Enquanto prosseguiam as discussões sobre reparações de guerra, surgiu uma nota de moderação: os danos não seriam ressarcidos durante dois anos, o que, explicou mais tarde Lloyd George, daria tempo para que “as paixões arrefecessem e reduziria as bases de avaliações, dando tempo para uma redução dos preços inflacio- nados pela guerra”. Fonte: Martin (2017). 15UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX 1.2 Revolução Russa / Soviética FIGURA 3 - O PODER PARA O POVO No meio da guerra mundial, uma nova era desponta. Um raio de luz está no leste: o czarismo está entrando em colapso, substituído por um regime revolucionário. Uma revolu- ção dirigida por intelectuais e vivenciada pelo proletariado conquistou o fim do absolutismo, imponho a ditadura popular. Agora, a mãe Rússia tinha outros donos, os bolcheviques. O mundo está mudando e muito rápido. Entre março e novembro de 1917, em apenas oito meses, a Rússia passou da monarquia ao comunismo bolchevique. A dinastia Romanov de trezentos anos entrava em colapso e, com ela, o imenso império de quase 170 milhões de pessoas, que se estendia da Sibéria às margens do Mar Negro, desaparecendo do mapa do poder. Esse processo revolucionário sem precedentes surpreende os contemporâneos com sua rapidez e radi- calidade. É claro que a questão da possibilidade de uma revolução na Rússia vinha sendo levantada, pelo menos desde o final do século XIX. Como em toda a Europa, o poder executivo foi fortalecido. Mas o czar Nicolau II não respondeu à nobreza e à burguesia liberal, que queria ser associada ao poder. Ele vê a organização de baixo para cima de comunidades locais ou filantrópicas como uma ameaça. Com uma tática suicida em meio a um cenário de visível derrocada, assumiu o comando militar em setembro de 1915, depois suspendeu a Duma, a assembleia parlamentar con- 16UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX cedida, em 1905, ao voto censitário. O “pequeno pai do povo”, autocrata de direito divino, que percorreu triunfalmente o seu império em 1913 pelo tricentenário da dinastia, isolou-se e desacreditou-se. Rumores de conspirações reforçam a desconfiança despertada pela influência da Czarina Alexandra sobre Nicolau II, por causa de suas origens alemãs e da ascendência do monge Rasputin, que finalmente foi assassinado no final de dezembro de 1916. Em pleno início do século XX, a Rússia era governada por um autocrata que visava apenas manter o poder absoluto, não se preocupando com questões que imperavam no “ocidente” europeu, ou seja, com o desenvolvimento econômico e modernização do Estado. Dando ênfase ao hiato tecnológico e industrial da Rússia, Trotsky (2017), a nação era con- siderada um país economicamente atrasado, isso porque o país dependia da agricultura, contando com 80% dos seus trabalhadores em ambientes e afazeres rurais, estes que viviam em extrema pobreza, além de pagar por impostos altos. Em 1882, no prefácio da edição russa do Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedri- ch Engels olhavam com esperança para a possibilidade de que a revolução russa daria o sinal para uma revolução proletária no Ocidente. Em um império autoritário, que eles viam como rural e arcaico, apesar dos primeiros avanços do capitalismo industrial e financeiro, eles acreditavam que o “amadurecimento” de uma situação revolucionária só poderia ser alcançado por meio de uma guerra externa. De fato, em 1905, uma primeira revolução quase conseguiu destruir a autocracia abalada pelo conflito fracassado com o Japão, sem que a oposição liberal conseguisse vencer. E é, de fato, a guerra mundial que explica um processo pelo qual a Rússia estava indo, na famosa frase do jornalista americano John Reed que a testemunhou, a “sacudir o mundo”. Na leitura complementar teremos a obra deste jornalista americano, que fundou o Partido Comunista nos Estados Unidos e relatou os acontecimentos de 1917. Vale a pena conhecer! Quando a Rússia se envolve em uma guerra contra a Áustria-Hungria e a Alemanha, ao lado de seu aliado sérvio e depois a Grã-Bretanha e a França, a mobilização ocorre sem problemas. A capital, São Petersburgo, recebe simbolicamente um nome que ressoa mais russo do que o anterior: Petrogrado. Mas a sagrada união de agosto de 1914 revelou-se muito frágil em face do acúmulo de derrotas militares, dificuldades econômicas e erros políticos. A atitude em relação à guerra será o catalisador de todos os dias revolucionários de março, abril, julho e outubro de 1917. 17UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX O autor destaca que houve dois momentos revolucionários no ano de 2017, a pri- meira revolução foi em fevereiro, o objetivo era derrubar a ditadura do czar russo Nicolau II e a segunda revolução foi em outubro. Após vários meses de organização, os bolcheviques, com o apoio do povo, derrubaram a República da Duma e estabeleceram um Comitê Po- pular liderado por Lenin. É fato que, com a Revolução de Outubro ou a Revolução Bolchevique, o sistema econômico da Rússia começou a mudar. As terras da igreja foram requisitadas pela nobreza e pela burguesia e cedidas aos camponeses, a indústria foi controlada pelos trabalhadores e os bancos foram nacionalizados. Em março de 1918, a Rússia finalmente assinou um tratado de paz com a Alema- nha e retirou-se da Primeira Guerra Mundial, aceitando transferências da Polônia, Ucrânia e Finlândia para os alemães. Além disso, os bolcheviques estabeleceram um sistema de partido único no país, permitindo apenas o Partido Comunista da Rússia. Ao banir muitos partidos políticos e se engajar em qualquer outro tipo de oposição, o governo se tornou cada vez mais autoritário, livre dos ideais de igualdade e liberdade. 1.3 Regimes Totalitários Originalmente, o termo é usado para se referir mais especificamente aos regimes estabelecidos por Adolf Hitler, na Alemanha, e por Joseph Stalin, na União Soviética (URSS). Ligamos esses personagens históricos a este conceito, contudo não se limitam a eles; os regimes totalitários surgiram em países como Portugal e Espanha, contudo, destacamos Stalin, Hitler e Mussolini. Um regime totalitário pode ser associado a um tipo específico de regime autoritário. Através do monopólio da mídia, da cultura, da classe intelectual, um regime totalitário tenta dominar completamente – totalmente – os vários aspectos da vida social e privada. Em todos os níveis de existência – a família, a vizinhança, o local de trabalho ou lazer –, um regime totalitário estabelece mecanismos de enquadramento baseados na suspeita e na denúncia. O acesso a cargos, a obtenção de bens ou privilégios passa a ser função do respeito à ideologia e do “entusiasmo” demonstrado pelos princípios e dirigentes do regime. Um regime totalitário se distingue de uma simples ditadura, ou regime autoritário, isso porque seu objetivo é institucionalizar globalmente sua dominação, transformando radicalmente a ordem política, cultural e econômica existente, de acordo com uma ideo- logia homogênea e unificada em torno de alguns princípios. A reivindicação de tal regime é, frequentemente, para construir um “novo homem”, radicalmente diferente daquele do passado. 18UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX De maneira mais geral, um regime político é considerado totalitário quando exerce seu controle sobre todas as atividades dos cidadãos e quando abole, ou tenta abolir, qual- quer noção de vida privada. Seu oposto é um regime pluralista ou estado de direito que garante um espaço privado para os indivíduos. Quandoo estado pode fazer qualquer coisa e em qualquer lugar, é um estado totalitário. Todos os regimes totalitários são necessaria- mente autoritários, mas um regime autoritário não é necessariamente totalitário. Assim, as ditaduras latino-americanas das décadas de 1970 e 1980 tiveram uma vocação autoritária, até militar, mas não totalitária. 1.3.1 Criação da União Soviética FIGURA 4 - UNIÃO SOVIÉTICA Maior estado do mundo, a URSS ocupa um sexto da massa terrestre e abrange onze fusos horários, desde o Báltico e o Mar Negro até o Oceano Pacífico, ou seja, toda a parte norte - Eurásia oriental. Foi suprimido por seu território do Império Russo (com a notável exceção da maior parte da Polônia e Finlândia, independentemente da Guerra Civil Russa de 1918 a 1921) e aumentou os ganhos territoriais do período stalinista na Europa Oriental e no Leste Asiático entre 1939 e 1945. O território da URSS varia com os tempos, especialmente antes e depois da Se- gunda Guerra Mundial. Antes da sua dissolução, o país era composto por quinze repúblicas federadas, embora existam várias repúblicas e regiões autônomas. A formação da URSS se deu pelo rescaldo da revolução de 1917, isto porque os eventos de fevereiro (1917), na doutrina federalista, transformaram a Rússia de um império, para uma união de repúblicas formadas no princípio da distribuição étnica e gozando de 19UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX um certo grau de autonomia cultural local. Começando a estruturação do seria, por muito tempo, uma potência bélico-científica. Sua concepção original da URSS era oposta à do nacionalismo soviético de Jo- seph Stalin preconizava, o mesmo além de liderar os bolcheviques e constituiu a URSS, entendia que o ideal seria criar uma única República Socialista Federativa Soviética Russa. No entanto, Stalin posteriormente reconsiderou suas posições e, nos anos 1925-1939, procedeu-se a criação de várias repúblicas federadas. De acordo com Luxemburg (1991) a criação da União Soviética deu-se por meio de um tratado, estipulando a união de diferentes repúblicas soviéticas, tendo um novo governo federal centralizado no poder legislativo. O tratado, junto com a “Declaração sobre o Esta- belecimento da União Soviética”, foi assinado, em 30 de dezembro de 1922, pelos líderes de cada delegação, permitindo que novas repúblicas ingressassem à federação. Com isso, houve um aumento de 16 repúblicas em 1940. A autora supracitada destaca que o tratado permaneceu em vigor até 8 de dezembro de 1991, quando o República Socialista Federativa Soviética da Rússia e União Soviética (RSFS), a República Socialista Soviética da Ucrânia (RSS) e os presidentes do RSS da Bielo-Rússia assinaram o chamado Acordo de Belavezha, que constituiu a dissolução da União Soviética e o estabelecimento de uma união estatal independente. A assinatura do tratado foi o resultado de múltiplos conflitos políticos entre o partido Bolchevique e o governo que, mais tarde, formou a aliança. A princípio, Lenin não previu cruzar a fronteira como a Revolução Russa. Leon Trotsky e suas facções consideraram esta premissa: eles acreditavam que a Rússia era apenas o primeiro passo na revolução mundial. Para enfrentar os problemas colocados pela guerra civil russa e a ofensiva militar de países estrangeiros (Alemanha, Inglaterra, França, Japão, Estados Unidos), e para garantir o abastecimento das cidades e do exército, Lenin decretou “comunismo de guerra”, cujas medidas essenciais são: ● proibição da iniciativa privada; ● nacionalização de indústrias e comércio; ● produção planejada centralmente pelo governo; ● racionamento e centralização da distribuição de alimentos; ● requisição de produção agrícola além do mínimo de subsistência para os cam- poneses; ● disciplina rígida para os trabalhadores (os grevistas podem ser fuzilados); ● trabalho obrigatório dos camponeses. 20UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX Os elementos fundadores do regime, sob o nome de “ditadura do proletariado”, também foram colocados em prática nesta época: ● criação do Exército Vermelho, em 23 de fevereiro de 1918: seus soldados foram recrutados primeiro voluntariamente, depois, por conscrição; ● dissolução da primeira sessão da Assembleia Constituinte eleita por sufrágio universal (janeiro de 1918); ● censura da imprensa e do rádio, que caem nas mãos do partido; Terceira Internacional (ou Komintern) foi criada em março de 1919, em Moscou, oficialmente para ser o instrumento da “revolução mundial”; os partidos comunistas estran- geiros devem se submeter às vinte e uma condições para adesão, escritas em julho de 1920. As revoluções de 1919, na Alemanha e na Hungria, assim como as greves na maioria dos países europeus, por um tempo, fizeram os soviéticos pensarem que a Revolução estava se tornando mundial; mas o esmagamento dos espartaquistas na Alemanha e do regime húngaro de Béla Kun pôs fim a essas esperanças. 1.3.2 Fascismo Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a Itália, assim como outros países, vence a guerra, porém, repentinamente, passa por uma destruição na estrutura econômica do país, causando problemas de ordem social, especialmente para os trabalhadores do setor industrial. FIGURA 5 - FASCISMO Neste período, o anarquismo era muito forte. O Partido Comunista Italiano estava bem organizado e tinha laços estreitos com o comunismo da Revolução Russa, o país https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/fascism-word-dictionary-concept-1079007596 21UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX acabou implementando o modelo fascista, que teve início no ano de 1920 e acabou se tor- nando modelo para outros regimes políticos europeus com preconceitos totalitários, como Alemanha, Espanha e Portugal, além do “Estado Novo” implantado no Brasil por Getúlio Vargas, em 1937, quando tivemos o movimento Integralista. Tomado em seu sentido literal, o termo fascismo designa o movimento fundado na Itália, em 1919, e o sistema político erigido em 1922, após a tomada do poder pelo líder desse movimento, Benito Mussolini. Aplicam-se, por extensão, a vários partidos, movimen- tos e organizações, cuja ação se desenvolveu em quase todos os países europeus entre o final da Primeira Guerra Mundial e o final da Segunda Guerra Mundial. As memórias deixadas nas mentes das pessoas pelo nazismo alemão e o trauma da Segunda Guerra Mundial, paradoxalmente, mascararam alguns dos aspectos mais per- turbadores do fascismo. Ficamos satisfeitos em ver nele, na maioria das vezes, o reflexo de uma mentalidade muito particularizada, até mesmo de uma aberração, que opomos por conveniência à vontade que os homens têm, em outros lugares, de defender a democracia ou as conquistas do socialismo. É esquecer, em particular, que o fascismo, tal como se expressou em vários países, testemunhou fundamentalmente muitos traços comuns aos regimes e ideologias que o denunciavam: o nacionalismo, o militarismo, o culto ao trabalho, a obsessão pela produção econômica, preocupação declarada em promover conquistas “sociais”, política natalista, desejo de “formar” a juventude, superstição da coletividade simbolizada por manifestações de massa, dominação de um único partido, admiração incondicional pelo líder nacional etc. À luz de tais descobertas, é compreensível que certa forma de fascismo possa ter sobrevivido aos regimes que oficialmente o reivindicaram. O fascismo, portanto, parece ser um fenômeno muito mais geral do que parece à primeira vista: é até possível pensar que representa uma das tendências profundas da civilização do século XX. Segundo Stanley (2018), o termo fascismo pode ser definido como qualquer tipo de ultranacionalismo, em que uma nação passa a ser representada pela imagem de um líder autoritário, tendo algumas características predominantes, como: um Estado totalitário;um regime autoritarismo e militarismo; tinha a visão da nação como mercadoria suprema; defendia as ideias do sistema capitalista; buscava pela expansão de territórios; abolia a ideia de igualdade social e a luta de classes; defendia a ideia de que o representante político deveria ser eleito por indicação e, por fim, a Hierarquização da sociedade em que somente os mais fortes no poder poderia lutar por algo. 22UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX Caro(a) aluno(a), é evidente que com todas essas características, o fascismo Ita- liano tornou-se modelo para outros países, primeiro, pela disputa de poder, ou seja, o país que adotasse o regime fascista não sofreria retaliações e, segundo as vantagens, para quem fazia parte deste tipo de partido. Porém a classe trabalhadora foi a que mais sofreu, por vários motivos: pressão da classe burguesa na busca pelo aumento do lucro, as jornadas de trabalho exaustivas, a extrema pobreza e não poderia exercer nenhum tipo de manifesto, pois seria retalhado pelos fascistas. Com isso, surgem as “moças boazinhas” vinculadas às igrejas católicas com a finalidade de atender a classe burguesa e o Estado, com o propósito de minimizar os problemas que a classe trabalhadora poderia causar. Paralelo ao regime fascista tivemos na história mundial o nazismo organizado por Hitler na década de 1920, assunto que vamos nos aprofundar a seguir. SAIBA MAIS Veremos que uma das características do totalitarismo é controlar toda a população e nas mais variadas formas. Uma delas é a arte, pois traz consigo uma mensagem e valo- res e ainda a noção de estética nacionalista. Desta forma, temos o movimento artístico chamado de Futurismo, que tem a mensagem do futuro, ou seja, o dinamismo necessá- rio para que o futuro ocorra, embutindo no âmago do italiano médio, que precisa ser o mais ágil e capacitado para o futuro que se apresenta. Fonte: Bortulucce (2009). 23UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX 1.3.3 Nazismo FIGURA 6 - ADOLF HITLER E O SÍMBOLO DO NAZISMO Caro(a) aluno(a), antes de adentrarmos nas características do nazismo e as ideias de Hitler, é importante conhecermos a origem do termo “nazismo”. Ele deriva da sigla “na- zista”, que era uma abreviação de “Partido Socialista dos Trabalhadores Alemães”. Segundo Hobsbawm (1995), logo depois da Alemanha perder a batalha na Primeira Guerra Mundial, porque a humilhação e as demandas do país vencedor causaram grande insatisfação entre os alemães, foi necessário proceder a uma reorganização política e um novo regime nasceu. Os pensamentos de Hitler desenvolvidos na prisão são a principal característica do nazismo. O controle da população por meio da publicidade é uma de suas principais fer- ramentas. Nesse processo, o uso do rádio e do filme tem um significado decisivo para a difusão das ideias nazistas e, o antissemitismo é uma delas. Hitler causou o ódio dos germânicos aos judeus por responsabilizar estes ultimos os problemas enfrentados pela Alemanha durante a era nazista, em especial os problemas econômicos. Montou-se uma onda de fanatismo, que levou a morte de seis milhões de pessoas em campos de concen- tração, incluindo, preferencialmente, judeus. https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/adolf-hitler-giving-nazi-salute-hitlers-242815222 24UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX O autor destaca que o nazismo, além de estar relacionado ao antissemitismo, tam- bém prega o racismo e a eugenia, ou seja, a superioridade da raça germânica ou ariana branca, e a construção de um “espaço importante” para construir seu império mundial. De acordo com o plano de Hitler, esse espaço vital cobre as vastas áreas do continente europeu. Por causa de sua superioridade, a raça foi ordenada a se tornar “exemplo” que deveriam “ultrapassar outras nações”. Portanto, de acordo com o plano de Hitler, esses espaços deveriam ser ocupados pela Alemanha, as pessoas deveriam invadir e conquistar. Todavia, outras perspectivas sobre a perseguição aos judeus, que foi concretizada com a morte deste povo, precisam ser tratadas e demonstradas para você, caro(a) estu- dante. Arendt (2011) esclarece que Hitler falava aquilo que estava na mente do alemão médio, ou seja, que a crise que o país passava naquele momento era por conta dos judeus e entre outras vilanias que a história nos mostrou. Contudo, a mesma autora aponta que a questão era muito mais profunda: O antissemitismo moderno deve ser encarado dentro da estrutura geral do desenvolvimento do Estado-nação, enquanto, ao mesmo tempo, sua origem dever ser encontrada em certos aspectos da história judaica e nas funções es- pecificamente judaicas, isto é, desempenhadas pelos judeus no decorrer dos últimos séculos (ARENDT, 2011, p. 29). A filósofa supracitada, de origem judaica, nos lembra que os judeus se constituíam como um povo fechado e que as suas relações com os demais segmentos da sociedade eram restritas e não homogêneas. Logo, a representatividade dos judeus era limitada, pois não havia políticos, juízes ou outros burocratas em ações estatais, ou seja, de certa forma, não participavam ou constituíam a cidadania de determinado local. Parafraseando a autora, que na página 32 da mesma obra, eles eram uma “nação dentro de outra nação”. Contudo, tinham os seus empreendimentos, e as suas riquezas eram grandes, aliás, banqueiros eram majoritariamente judeus, que viram nesse momento turbulento da história uma oportunidade de investimento e crescimento. Assim, Arendt (2011, p. 37) traz que: Quando falharam todas as alternativas de aliar-se a uma das classes princi- pais da sociedade, restou ao Estado impor-se como poderosa empresa co- mercial. O crescimento dos negócios estatais foi causado pelo conflito entre o Estado e as forças financeiramente poderosas da burguesia, que preferiu dedicar-se ao investimento privado, evitando a intervenção do Estado e re- cusando-se a participar de maneira ativa no que lhe parecia ser empresa “improdutiva”. Foram assim os judeus a única parte da população disposta a financiar os primórdios do Estado e a ligar seu destino ao desenvolvimento estatal. Com o seu crédito e as suas ligações internacionais, estavam ex- celente posição para ajudar o Estado-nação a afirmar-se entre os maiores empregadores e empresas da época 25UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX No primeiro momento, como financiadores de Estados-nações, credores da moder- nização dos países centrais, começaram a ter maior visibilidade perante toda a sociedade, colocando representantes em assuntos nacionais e de segurança pública. Desta forma, os judeus começaram a se avolumar na Europa e conquistar mais espaços, assim como o antissemitismo, que foi e tem sido presenciado em várias partes do mundo. Esse ódio preconizado pelo partido Nazista e Fascista não era uma exclusividade dos líderes e integrantes, sempre acompanhou a história do povo de Israel, desde de Abraão, de uma nação que não tinha país. Todavia, essa aversão, principalmente na Alemanha, foi fundamentada por filósofos e escritores que começaram a intelectualizar sobre o que viria a ser proveniente de determinado país e região. Dentre eles, destaco Nietzsche e a sua concepção do “bom europeu” e Übermens- ch ou o homem superior. Claro que na sua obra, Nietzsche (1998) buscou trazer elementos em que os europeus deveriam romper com esse tipo de dicotomia e se entenderem não por suas nacionalidades, retirar o bairrismo do cotidiano, mas sim se verem como seres humanos e buscarem serem melhores, vencendo os dilemas terrenos. Todavia, a sua obra foi interpretada de forma errada, serviu de base para o nazismo e o seu discurso ariano, ci- tando-o como referência de verdadeiro intelectual e utilizando o conceito de “bom europeu”, ligado apenas aopovo puro concebido pelos próprios anjos. Desta forma, os judeus não eram reconhecidos como pertencentes a determinadas regiões, portanto o que assegurava as suas riquezas? Quais instrumentos garantem as suas vidas? Assim sendo, usando desse tipo de argumento e culpabilizando os judeus por todas as mazelas que a Alemanha e Áustria passavam, Hitler passou a perseguir esse povo e tomando as suas riquezas e as suas vidas. Talvez uma das maiores pilhagens que o mun- do já assistiu. Sendo uma das principais formas que o Führer encontrou para reerguer a economia, garantir aos povos germânicos o sustento que lhes foram ceifados pela Primeira Guerra e ainda investir massivamente no campo bélico. As ideias de Hitler convenceram a maioria dos alemães de que sua imagem como líder é a garantia da prosperidade e da vitória da Alemanha. Essas características do na- zismo levaram a Alemanha a participar da Segunda Guerra Mundial, que foi ainda mais sangrenta trazendo terror à “indústria da morte” dos campos de extermínio. 26UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX SAIBA MAIS “As origens da Segunda Guerra Mundial produziram uma literatura histórica incompa- ravelmente, porém os Estados arrastados à guerra não queriam o conflito, e a maioria fez o que pôde para evitá-lo. Em termos mais simples, a pergunta sobre quem ou o que causou a Segunda Guerra Mundial pode ser respondida em duas palavras: Adolf Hitler”. Fonte: Hobsbawn (1995, p. 35). Listaremos a seguir alguns eventos que provocaram a subida do nazismo: 1. A República de Weimar, resultante do colapso do Segundo Reich, foi proclamada em 9 de novembro de 1918. A República de Weimar também está enfraquecida pela difícil situação econômica deixada pela Grande Guerra. A ocupação fran- cesa do Ruhr, para impor o pagamento de indenizações, fixadas no Tratado de Versalhes, causa enorme inflação em 1923. A Alemanha mergulha na pobreza, o que fortalece os partidos extremistas. 2. É imediatamente contestada pela extrema esquerda revolucionária que lidera a insurreição espartaquista em Berlim, em janeiro de 1919. A repressão é muito dura, organizada pelo governo social-democrata que priva a Revolução do apoio dos comunistas. Mas a Alemanha foi severamente afetada pela crise econômica de 1929, devido ao repatriamento de capitais americanos. A exposição do de- semprego é favorável aos nazistas, cujo número no Reichstag aumentou entre 1930 e 1932. 3. Também se choca com os nacionalistas que a acusam de ter aceitado o ditame de Versalhes. Nostálgicos pelo Império, os veteranos mal reintegrados, a pe- quena burguesia empobrecida, os trabalhadores desempregados gradualmente se reconheciam no NSDAP, do qual Hitler se tornou presidente em 1921. 4. Em 1923, Hitler tentou um putsh em Munique. Ocasionando o seu julgamento e prisão. Ele, então, escreveu Mein Kampf (“Minha Luta”), em desenvolvendo uma ideologia racista. Seu discurso anticomunista seduziu banqueiros (muitos sendo judeus) e industriais, o que os militares reconheceram em seus comentários nacionalistas. 27UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX 5. Lutando nas ruas com os socialistas e os comunistas, os nazistas culpam a República de Weimar, a esquerda e os judeus pelas dificuldades da Alemanha. Eles prometem empregos aos desempregados e, assim, obtêm muitos suces- sos nas eleições, diante de oponentes desunidos. Em 30 de janeiro de 1933, o presidente da República, marechal Hindenburg, nomeou chanceler Hitler. 1.6 Segunda Guerra Mundial FIGURA 7 - CAMPO DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL Caro(a) aluno(a), a Segunda Guerra Mundial foi um conflito intenso e muito nefasto para as vidas humanas, foi ainda palco do que há de mais horrível no ser humano, como privações da liberdade, assassinatos em série, entre outros eventos que não valem a pena ser destacados, pois vimos a miséria humana no seu puro estado. Contudo, falaremos sobre as causas e as consequências desse capítulo terrível da nossa história. A origem do conflito reside principalmente no desejo de Hitler de libertar o Tercei- ro Reich do ditame de Versalhes (1919) e de dominar a Europa. Depois de restabelecer o serviço militar obrigatório (1935) para ter um exército poderoso (a Wehrmacht), Hitler remilitarizou a margem esquerda do Reno (1936), depois anexou a Áustria e parte da Tche- coslováquia (1938). Segundo Martin (2014), o reconhecimento do fato consumado em Munique (1938) pela França e pela Grã-Bretanha encorajou-o a continuar essa política de força. Hitler, 28UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX então, se apodera do resto da Tchecoslováquia (março de 1939), garante o apoio italiano (maio) e obtém a neutralidade benevolente da URSS com seu acordo para a divisão da Polônia (acordo germano-soviético de 23 agosto). O caso Danzig pode, então, servir de pretexto para a eclosão de um conflito que, originalmente europeu, finalmente incendiou o mundo com a entrada em guerra do Japão e dos Estados Unidos, em 1941. Com exceção dos Estados Unidos, os adversários emergem do conflito exaustos e arruinados. Politicamente, o fim da Segunda Guerra Mundial viu o abalo dos impérios coloniais britânico, francês e holandês. Só entre as grandes nações a URSS consegue um importante aumento territorial, pela volta das antigas dependências do Império Czarista. Se a Primeira Guerra Mundial teve uma liquidação rápida – nos dois anos que se seguiram ao colapso dos impérios centrais, os tratados refizeram o mapa da Europa –, é o contrário depois de 1945. O destino da Alemanha e do Japão, os dois principais derrotados permanecem sem solução. Em um nível humano, a Segunda Guerra Mundial é a guerra mais mortal de todos os tempos, com mais de 55 milhões de vítimas. Essas perdas humanas estão causando uma queda acentuada na população ativa. O pedágio de material também é muito pesado: nas regiões atingidas pelos bombardeios, a destruição de infraestrutura é quase total. Além dis- so, a fim de financiar o conflito e depois a reconstrução, os países frequentemente recorrem a empréstimos. Isso resultou em um aumento do nível geral de preços em muitos países (na França, a taxa de inflação foi próxima a 50% entre 1945 e 1948) e um enfraquecimento das finanças públicas, devido ao crescimento da dívida. Além disso, após o conflito, toda a sociedade se transformou. Os países europeus estão tomando medidas para uma maior proteção social e lançando as bases para o Estado de bem-estar: os gastos do Estado, que já aumentaram acentuadamente durante a guerra, atingem níveis elevados há muito tempo. Por fim, a Europa está separada em duas pela “cortina de ferro”: no Ocidente, as democracias parla- mentares aliadas aos Estados Unidos; no Oriente, os estados sob influência soviética. Dois modelos de economia se opõem. Conforme Martin (2014), os Estados Unidos tornam-se credores dos países da Europa Ocidental. A cooperação internacional está se configurando com a criação da Or- ganização para a Cooperação Econômica Europeia (OECE, que em 1961 passou a se chamar Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE), a cargo do Plano Marshall que visava ajudar a Europa Ocidental a se reconstruir. Os países orien- 29UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX tais que, após a URSS, recusaram a ajuda de Marshall, criaram o COMECON (Conselho de Assistência Econômica Mútua). Na verdade, quase imediatamente surgiu um antagonismo entre as democracias ocidentais e a União Soviética. Este último tomou os países da Europa Oriental sob sua égide, dotando-os (golpe de Praga, 1948) de um regime político e social modelado por si mesmo. O fim da Segunda Guerra Mundial é também o início da Guerra Fria. REFLITA A Segunda Guerra Mundial foi um dos conflitos mais devastadores da história da huma- nidade:mais de 46 milhões de militares e de civis morreram, muitos em circunstâncias de crueldade prolongada e terrível. Fonte: Martin (2014). 30UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX 1.7 Guerra Fria FIGURA 8 - GUERRA FRIA A Guerra Fria é um longo teste de força que começou, um dia após a capitulação da Alemanha de Hitler, entre os Estados Unidos e a União Soviética. Em 1941, a agressão nazista contra a URSS fez do regime soviético um associado das democracias ocidentais. Mas na organização do mundo pós-guerra, pontos de vista cada vez mais divergentes opõem aliados de ontem. Gradualmente, os Estados Unidos e a URSS estão construindo suas respectivas áreas de influência e dividir o mundo em dois campos antagônicos. A Guerra Fria, portanto, não é exclusivamente um caso americano-soviético, é um conflito global que afeta muitos países, incluindo o continente europeu. Este, dividido em dois blocos, torna-se de fato um dos maiores teatros do confronto. Na Europa Ocidental, o processo de integração europeia começa com o apoio dos Estados Unidos, enquanto os países da Europa de Leste tornam- -se satélites da URSS. A partir de 1947, os dois adversários, utilizando todos os recursos de intimidação e subversão, se opõem em um longo conflito estratégico e ideológico, pontuado por crises mais ou menos violentas. Mesmo que os dois Grandes nunca se enfrentaram diretamente, eles trazem o mundo repetidamente à beira de uma guerra atômica. Apenas a dissuasão nuclear impede um choque militar. Paradoxalmente, esse “equilíbrio do terror” ainda esti- mula a corrida para armamentos. 31UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX As fases de tensão se alternam com períodos de relaxamento ou aquecimento nas relações entre os dois campos. O cientista político Raymond Aron definiu perfeitamente o sistema da guerra fria em uma frase que atinge o alvo: “paz impossível, guerra improvável”. A Guerra Fria finalmente terminou em 1989, com a queda do Muro de Berlim e o colapso dos regimes comunistas na Europa Oriental. 1.7.1 Rumo a um mundo bipolar (1945-1953) O fim da Segunda Guerra Mundial não leva ao retorno da normalidade, mas anuncia o contrário: o surgimento de um novo conflito. Enquanto as grandes potências europeias, amantes do cenário internacional na década de 1930, exaustos e arruinados pela guerra, duas novas superpotências dominam o cenário internacional. Dois blocos são formados ao redor de um lado, a União Soviética e, de outro, os Estados Unidos. Os outros países agora são obrigados a cair em um dos dois campos. Ampliada no plano territorial, a URSS saiu da guerra coroada com o prestígio da luta contra Alemanha de Hitler. Ela é galvanizada por sua resistência heroica ao inimigo, conforme demonstrado pela vitória de Stalingrado. A URSS também oferece a cara de um modelo ideológico, econômico e social que brilha como nunca antes na Europa. Além disso, ao contrário dos militares dos EUA, o Exército vermelho não foi desmobilizado no final da guerra. A União Soviética, portanto, tem uma verdadeira superioridade numérica em homens e armamento pesado. Os Estados Unidos são os grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial. Suas perdas humanas e os materiais são relativamente fracos e, embora os militares dos EUA sejam quase inteiramente desmobilizados, poucos meses após o fim das hostilidades, os Estados Unidos continuam sendo a principal potência militar. Sua frota de guerra e sua força aérea são incomparáveis e, até 1949, eles têm um monopólio da arma atômica. Eles também podem se afirmar como a principal potência econômica mundial, tanto em termos de volume de comércio quanto de produção industrial e agrícola. Os americanos agora possuem dois terços do estoque de ouro monetário mundial e o dólar se torna a moeda internacional de referência. Gradualmente, os conflitos de interesse entre as novas potências mundiais se multiplicam e uma atmosfera de desconfiança e medo se instala. Cada um teme o novo poder do outro. Os soviéticos se sentem cercados e ameaçados pelo Ocidente e acusam os Estados Unidos de realizar “expansão imperialista”. 32UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX Os americanos, por sua vez, estão preocupados com expansão comunista e culpar Stalin por não respeitar o acordo de Yalta sobre os direitos de povos libertados para a autodeterminação. O resultado é um longo período de tensão internacional, pontuada por crises agudas, às vezes levando a conflitos militares locais sem iniciar uma guerra aberta entre os Estados Unidos e a URSS. A partir de 1947, a Europa, dividida em dois blocos, está no centro do confronto indireto entre as duas superpotências. A Guerra Fria atingiu seu primeiro momento forte durante o bloqueio de Berlim. A explosão da primeira bomba – o poder atômico soviético, no verão de 1949, consolida a URSS em sua posição de potência mundial. Essa situação confirma as previsões de Winston Churchill que, em março de 1946, foi o primeiro Estadista ocidental que falou publicamente de uma “cortina de ferro”, que agora corta a Europa deles. 1.7.2 A paz perdida A Segunda Guerra Mundial mudou o mapa do mundo. O pedágio humano e ma- terial é o mais sério que a humanidade já conheceu. A Europa, sem sangue e sem fôlego, está em ruínas e nas garras da mais total confusão: fábricas e linhas de comunicação destruídas, trocas, interrupções comerciais tradicionais, escassez de matérias-primas e bens de consumo. Mesmo antes da capitulação dos países do Eixo (os Três Grandes – americanos, britânicos e russos) esforçaram-se para resolver o destino do mundo pós-guerra. De 28 de novembro a 2 de dezembro de 1943, a Conferência de Teerã é a primeira reunião de cúpula entre Winston Churchill, Joseph Stalin e Franklin D. Roosevelt. Ela descreve as principais linhas da política internacional do pós-guerra. Os líderes falam em particular do desembarque na Normandia, então fixado para 1º de maio de 1944, de fora da Alemanha e seu eventual desmembramento, bem como a organização do mundo após o conflito. Eles decidem confiar o estudo da questão alemã a uma comissão consultiva européia. Duas outras conferências aliadas se seguiram, uma em Yalta (de 4 a 11 fevereiro de 1945), a outra em Potsdam (17 de julho a 2 de agosto de 1945). Mas muito rapidamente a estreita aliança de guerra deu lugar à desconfiança. Em conferências de paz, os Três Grandes rapidamente percebem que pontos de vista cada vez mais divergentes se opõem, ocidentais e soviéticos. Os antigos antagonismos que a guerra silenciou reaparecem e as potências aliadas não chegam a um acordo sobre um tratado de paz. 33UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX 1.7.3 A conferência de Yalta De 4 a 11 de fevereiro de 1945, Winston Churchill, Joseph Stalin e Franklin D. Roosevelt se encontraram em Yalta, junto ao Mar Negro, na Criméia, para resolver os problemas colocados pela derrota inevitável dos alemães. Roosevelt está especialmente ansioso para obter a colaboração de Stalin, enquanto Churchill teme o poder soviético. Ele gostaria de evitar uma contenção muito grande, a influência do Exército Vermelho na Europa Central. Nesse momento, no entanto, as tropas soviéticas já estão no coração da Europa, enquanto os anglo-americanos ainda não cruzaram o Reno. Os Três Grandes concordam primeiro com os termos da ocupação da Alemanha: A Alemanha seria dividida em quatro zonas de ocupação, com a França recebendo uma zona de ocupação, em parte retirados do Reino Unido e dos Estados Unidos. Berlim, localizada na zona soviética, também seria dividida em quatro setores. A URSS consegue o desloca- mento da fronteira oriental da Alemanha para a linha Oder-Neisse, colocando na Polônia quase toda a Silésia, parte da Pomerânia, parte de East Brandenburg e uma pequenaregião da Saxônia. O Norte da Prússia Oriental, ao redor da cidade de Königsberg (rebatizado de Kaliningrado) foi incorporado à URSS. Como a fronteira oriental da Polônia, Stalin impõe “a linha Curzon” que mantém todos os territórios na órbita de Moscou, Ucranianos e bie- lorrussos. Os três chefes de estado também assinam uma “declaração sobre política a ser seguida nas regiões libertadas”, um texto que prevê a organização de eleições livres e a implementação lugar dos governos democráticos. Os Estados Unidos levam a URSS à guerra contra o Japão, e Roosevelt vê o sucesso o projeto Organização das Nações Unidas (ONU), criado em 25 de abril de 1945. Yalta aparece como a última tentativa de organizar o mundo com base na cooperação e compreensão. O mundo ainda não está dividido em dois hemisférios de influência, mas os ocidentais são forçados a aceitar o papel de Stalin nos territórios libertados pelos tanques soviéticos. A Europa Central e Oriental estão agora sob a influência exclusiva do Exército Vermelho. 1.7.4 A conferência de Potsdam A última das grandes conferências aliadas ocorreu de 17 de julho a 2 de agosto de 1945, em Potsdam, perto de Berlim. Seis meses antes, na Crimeia, Churchill, Roosevelt e Stalin prepararam-se para o período do pós-guerra, mas as promessas de Yalta não 34UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX resistiram ao equilíbrio de poder no terreno. O clima mudou dramaticamente nesse ínterim: a Alemanha se rendeu em 8 de maio de 1945 e a guerra terminou na Europa. O Japão resiste obstinadamente aos bombardeios dos EUA, mas os Estados Uni- dos têm uma grande vantagem: em 16 de julho acontece, em um deserto no Novo México, um primeiro teste da bomba atômica. Em Potsdam, Harry Truman substitui Franklin D. Roosevelt, que morreu em 12 de abril de 1945, e Clement Attlee assume como chefe da delegação britânica após a derrota de Winston Churchill nas eleições legislativas de 26 de julho. Apenas Joseph Stalin participa em todas as conferências aliadas. A atmosfera é muito menos cordial do que em Yalta. Algumas semanas antes da rendição do Reich, o Exército Vermelho conseguiu ocupar a parte oriental da Alemanha em alta velocidade, uma parte da Áustria, bem como toda a Europa central. Ciente dessa van- tagem em campo, Stalin aproveita a oportunidade para estabelecer governos nos países libertados pelos soviéticos comunistas. Enquanto os ocidentais reclamam de sua incapa- cidade de controlar as eleições organizadas nos países ocupados pelo Exército Vermelho, Stalin impôs um remodelamento do mapa da Europa Oriental. Pendentes tratados de paz, os ingleses e os americanos aceitam provisoriamente anexações soviéticas e novas fronteiras anexadas à linha Oder-Neisse. Os acordos de Potsdam também ratificam as gigantescas transferências de populações. Os três chefes de estado, no entanto, concordam com modalidades práticas de desarmamento completar na Alemanha, a destruição do Partido Nacional Socialista, a purificação e o julgamento de criminosos de guerra e o montante das indenizações. As negociações também são concluídas com a necessidade de descartelização das indústrias alemãs e do sequestro dos poderosos Konzern, que deve ser dividido em empresas inde- pendentes menores. Acordos alcançados anteriormente, sobre o regime de ocupação da Alemanha e da Áustria, são confirmados. Em Potsdam, pontos de vista cada vez mais contraditórios se opõem aos Três Grandes. Não é sobre agora não mais para se unir para derrotar o nazismo, mas para se preparar para o período pós-guerra e para dividir o “Booty”. Então, apenas alguns meses após o confiante comunicado à imprensa de Yalta, profundas diferenças estão crescendo entre o Ocidente e os soviéticos. 1.7.5 Os Estados Unidos e o Bloco Ocidental A partir de 1947, os ocidentais tornaram-se cada vez mais preocupados com a disseminação do comunismo: em vários países europeus, os comunistas participam ati- 35UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX vamente nos governos de coalizão (Hungria, Romênia, Bulgária, Polônia, França, Bélgica e Itália) e até ter sucesso, às vezes para remover outras partes do poder. A Grécia estava no meio de uma guerra civil desde o outono de 1946 e a Turquia, por sua vez, estava ameaçada. 1.7.6 A Doutrina Truman Nessa tensa atmosfera internacional, o presidente dos EUA, Harry S. Truman, rompe com a política de seu antecessor Franklin D. Roosevelt e redefine as linhas prin- cipais da política exterior dos Estados Unidos. Em 12 de março de 1947, o Presidente apresentou sua doutrina de contenção, que visava fornecer assistência financeira e militar aos países ameaçados pela Expansão soviética. Visando explicitamente a contenção do progresso comunista, a Doutrina Truman apresenta os Estados Unidos como defensores de um mundo livre em face da agressão da URSS. Assim, serão concedidos créditos de aproximadamente US $ 400 milhões à Grécia e à Turquia. Essa é a nova doutrina que legitimou o ativismo dos EUA durante a Guerra Fria. Ao aplicar a doutrina da contenção, os americanos estão incentivando, entre ou- tros, a Turquia a rejeitar reivindicações soviéticas para a cessão de bases navais no estreito de Bósforo e fazem com que as tropas russas se retirem do Irã. Nesse ínterim, desde março de 1947, a luta contra a espionagem soviética é organizada e a Agência Central de Inteligência (CIA) passa a estar a serviço da Inteligência Americana. Essas mudanças na política externa marcam um verdadeiro ponto de virada na história dos Estados Unidos, que até agora queriam ficar longe de brigas de países europeus. A partir de agora, não se trata mais de eles jogarem a carta do isolacionismo. 1.7.7 O Plano Marshall e a criação da OEEC Ao mesmo tempo, o secretário de Estado dos EUA, George C. Marshall, está preo- cupado com a péssima situação econômica na Europa. Após a Segunda Guerra Mundial, o comércio intra-europeu é, de fato, desacelerado pela falta de divisas e sofre com a falta de uma organização econômica internacional capaz de organizar o comércio de forma eficiente global. Os Estados Unidos, que tem o maior interesse em promover essas trocas para impulsionar suas exportações, por conseguinte, planeia reanimar a economia europeia através de um importante programa estrutural. Para eles, trata-se de proteger a prosperida- de americana e afastar o espectro da superprodução nacional. Mas a vontade dos Estados 36UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX Unidos de conceder ajuda econômica maciça à Europa encontra também sua origem em preocupações políticas. O medo da expansão comunista na Europa Ocidental é sem dúvida um fator decisivo tão importante quanto a conquista de mercados novos. Os americanos, portanto, se propõem a lutar contra a pobreza e a fome na Europa que, segundo eles, mantém o comunismo. Assim, em um discurso que proferiu em 5 de junho de 1947, na Universidade de Harvard, em Cambridge, o General Marshall oferece assistência econômica e financeira a todos os países europeus, condicionada por uma cooperação europeia mais estreita. É o Plano Marshall. Muito interessados, França e Grã-Bretanha se reúnem três semanas depois, em Paris, em conferência, em que também se adequam à URSS, com o objetivo de desen- volver um programa comum em resposta à oferta do General Marshall. Mas Vyacheslav Molotov, Ministro de Assuntos Estrangeiros da URSS, recusa categoricamente qualquer controle internacional e se opõe à recuperação econômica da Alemanha. A importância política do Plano Marshall não deve ser subestimada. Com esse apoio, o presidente americano Harry Truman quer ajudar os povos livres da Europa a resol- ver seus problemas econômicos. Mas também é uma questão de bloquear o comunismo que parece ameaçar países como a França e a Itália. Essaestratégia deu frutos, já que nas eleições de abril de 1948, o partido chamado “a democracia cristã” prevalece claramente sobre o, até então, influente Partido Comunista Italiano. O Plano Marshall também é acompanhado por intensa propaganda, o que, de certa forma, foi uma “prática para Europa”, com viagens pelos países beneficiários para expor os projetos realizados e os resultados alcançados. A imprensa e os meios audiovisuais aca- baram divulgando o plano de recuperação europeu que, de fato, era uma arma da guerra fria. Com isso, o Plano Marshall marcou a entrada da Europa Ocidental na sociedade de consumo, simbolizado, por exemplo, pelos filmes da Coca-Cola e de Hollywood. 1.7.8 A URSS e o bloco oriental Em agosto de 1949, a URSS detonou sua primeira bomba atômica e depois, em 1953, sua primeira bomba termonuclear. A partir de agora, seu título de potência mundial não pode mais ser contestado. Na União Soviética, Stalin continuou a governar sozinho. As tendências de liberalização do regime que surgiram durante a guerra desaparecem novamente e o culto à personalidade de Stalin atinge seu clímax. No entanto, uma nova onda de repressão foi interrompida pela morte de Stalin no dia 5 março de 1953. 37UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX 1.7.9 A constituição do escudo soviético Ampliada no plano territorial, a URSS saiu da guerra coroada com o prestígio da luta contra a Alemanha. Se o mundo comunista está limitado à União Soviética, em 1945, então, se estende rapidamente para a Europa Central e Oriental, que forma um escudo, um espaço tampão protegendo a URSS. A propaganda comunista é muito facilitada pela presença do exército soviético nos países da Europa Central e Oriental que libertou. Gradualmente, os líderes dos partidos não comunistas são colocados de lado, seja por descrédito ou intimidação, seja por meio de julgamentos políticos seguidos de prisão ou mesmo execução. Três anos são suficientes para a URSS estabelecer democracias populares lideradas pelos partidos comunistas. Polônia, bem como Hungria, Romênia ou mesmo Tchecoslováquia caiu, mais ou menos brutalmente, no aprisco soviético. No entan- to, com a recusa, a partir de 1948, os comunistas iugoslavos, para alinhar-se com as teses do Cominform, testemunham as dificuldades para a URSS manter seu domínio sobre todos os países localizados em sua órbita. 1.7.10 A doutrina de Jdanov e o Cominform Em 22 de setembro de 1947, delegados dos Partidos Comunistas da União Sovié- tica, Polônia, Iugoslávia, Bulgária, Romênia, Hungria, Tchecoslováquia, Itália e França são convocados a unirem-se perto de Varsóvia e criar o Kominform, um escritório de informações localizado em Belgrado. Este rapidamente se torna o órgão de coordenação ideológica do movimento comunista, através de seu jornal Pour une paix tough, pour une Démocratie populaire. Presente como uma reconstituição do Comintern, o Cominform é, na realidade, para a URSS um instrumento para controlar rigidamente os partidos comunistas ocidentais. Trata-se de fechar as fileiras de Moscou e para verificar se os comunistas europeus estão alinhados com a política soviética. Assim, a Iugoslávia de Tito, acusada de desvio, logo será excluída do Cominform. O delegado soviético, ideólogo do PCUS e braço direito de Stalin, Andrei Zhdanov, tem a aprovação dos participantes do encontro. A tese de que o mundo agora está dividido em dois campos irredutíveis: um campo “imperialista e antidemocrático” liderado pelos Estados Unidos e um “Anti-imperialista e democrático” liderado pela URSS. Essa doutrina constitui a resposta soviética à doutrina Truman. Jdanov condena o imperialismo e a colonização, mas defende a democracia Nova. Ele ressalta que o bloco anti-imperialista conta com o movimento em todo o mundo trabalhador democrático, tanto 38UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX nos partidos comunistas como nos lutadores da libertação nos países coloniais. Em 1947, o mundo, portanto, tornou-se bipolar, dividido em dois blocos irreconciliáveis. Então, em reação ao programa Marshall, a URSS instituiu, em janeiro de 1949, uma cooperação com os países do bloco soviético no âmbito do Conselho de Assistência Econômica Mútua (CAEM ou Comecon). 1.7.11 Da coexistência pacífica aos paroxismos da Guerra Fria (1953-1962) Após a morte de Stalin, em março de 1953, seus sucessores foram mais conci- liadores com os ocidentais. Desde 1955, Nikita S. Khrushchev, o novo primeiro secretário do PCUS, desenvolveu uma política de coexistência pacífica. Forte em sua liderança no campo termonuclear e espacial, a URSS quer aproveitar o novo clima de paz no mundo para trazer de volta a rivalidade entre a União Soviética e os Estados Unidos nos únicos domínios ideológicos e econômicos. Nos Estados Unidos, o presidente Eisenhower teve que levar em consideração os perigos de escalada e os riscos de confronto nuclear direto com os soviéticos e, já em 1953, optou por uma nova estratégia, a do novo visual. Isso combina diplomacia e ameaça de retaliação massiva. Além disso, os Estados Unidos não têm mais o monopólio de armas atômicas e deve levar em conta o progresso tecnológico da União Soviética, que desde 1949, adquiriu a bomba atômica e se desfez da bomba H, em 1953. Porém, apesar dos sinais encorajadores, a desconfiança e a oposição ideológica entre os dois blocos não desapareceram, no entanto, na Europa Oriental, as populações de vários estados satélites estão tentando para se libertar do jugo de Moscou e a Guerra Fria atingiu seu clímax no início dos anos sessenta. Na Europa, o status da cidade de Berlim continua sendo um grande problema para ambos os superpoderes. A construção do Muro de Berlim, no verão de 1961, removeu o último ponto da passagem entre Oeste e Leste. Em outras partes do mundo, a tensão em torno da ilha de Cuba atinge o pico no impasse ocorrido em outubro de 1962, entre John F. Kennedy e Nikita S. Khrushchev, sobre o estacionamento de mísseis nucleares soviéticos em Cuba. Alguns eventos chaves na URSS contra o ocidente: ● Acordo de Neutralidade da Áustria ● “O espírito de Genebra” ● A repressão do levante húngaro ● A construção do muro de Berlim ● A crise cubana 39UNIDADE I Contexto Histórico, Econômico e Político no Mundo no Século XX 1.7.12 Da distensão às tensões renovadas (1962-1985) Tendo chegado perto de uma guerra nuclear, os Estados Unidos e a URSS extraí- ram as consequências da Cuba. Esse confronto entre os dois Grandes realmente introduziu na guerra fria uma espécie de armistício. Em 1963, uma linha direta – o famoso “telefone vermelho” – foi estabelecida entre Washington e Moscou e os dois Grandes iniciam um diálogo com o objetivo de limitar a corrida por armamentos. Existem também outras razões para a moderação de ambos os lados. Os Estados Unidos têm cada vez mais dificuldade em financiar sua presença militar global e o crescente engajamento na Guerra do Vietnã, de 1964, foi duramente criticada pela opinião pública. Na Europa, a República Federal da Alemanha está se aproximando da República Democrática Alemã, Polônia, Tchecoslováquia e URSS. Como a Europa é ainda no centro do confronto Leste-Oeste, busca promover a distensão entre os dois blocos militares. Assim, contribui para a manutenção da paz mundial e aumenta a esperança de reunificação do continente na cúpula de Helsinque em 1975. No entanto, a tentativa de Alexander Dubcek de liberalizar o regime comunista pela Tchecoslováquia foi esmagada em agosto de 1968 pela intervenção dos exércitos do Pacto de Varsóvia. Ao final da década de 1970, os dois Grandes buscaram estender suas respec- tivas influências, especialmente a política soviética na África e a invasão do Afeganistão pela URSS, esfriando as relações EUA-Soviética. No ano de 1980, o ex-presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, realizou
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