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Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal PROBLEMA 7 - “NÃO SOU NORMAL, TENHO PROBLEMAS PARA EVACUAR!” FISIOLOGIA GASTROINTESTINAL NORMAL Controle neuroentérico Função motora do trato gastrointestinal depende da contração das células da musculatura lisa e de sua integração, modulação por nervos entéricos e extrínsecos e pelas células intersticiais de Cajal. Controle nervoso extrínseco da função motora gastrointestinal consiste no efluxo parassimpático cranial e sacral (excitatório para músculos não esfincterianos) e da inervação simpática toracolombar (excitatória para esfíncteres, inibitória para músculos não esfincterianos). As células intersticiais de Cajal são células marca-passos espontaneamente ativas que coordenam a contração muscular e distorção do sentido. • Células intersticiais de Cajal formam um sistema de marca-passo não neural localizado na interface das túnicas musculares circular e longitudinal do intestino e funcionam como intermediárias entre o sistema nervoso entérico neurogênico e o sistema de controle miogênico, que regula a atividade elétrica gerada pelas células musculares lisas gastrointestinais. • A atividade de controle elétrico se dissimina através dos segmentos contíguos do intestino por meio da ativação neuroquímica por transmissores excitatórios (p. ex., acetilcolina, substância P) e inibitórios (p. ex., óxido nítrico, somatostatina) Motilidade do cólon O cólon normal possui contrações de curta duração (fásicas) e um tônus ou contratilidade de base. Contrações fásicas não propagadas têm função na segmentação do cólon em haustros, que compartimentam o cólon e facilitam a mistura, retenção de resíduos e formação de fezes sólidas. Contrações propagadas de alta amplitude, propagação ao longo de uma distância de pelo menos 15 cm e a velocidade de propagação contribuem para os movimentos da massa fecal no cólon. Em indivíduos saudáveis, essas contrações ocorrem, em média, cinco a seis vezes por dia, com maior frequência no período pós-prandial e das 6 da manhã às 2 da tarde. O trânsito colônico é um processo descontínuo, lento na maior parte do tempo e rápido em outras ocasiões. Resíduos podem ser retidos durante períodos prolongados no cólon direito e, em questão de segundos, um movimento da massa fecal pode transportar o conteúdo até o cólon sigmoide. O movimento do conteúdo colônico é estimulado pela ingestão de alimentos (resposta gastrocolônica). No indivíduo saudável, o tempo de trânsito médio entre a boca e o ceco é de cerca de 6 horas, e o tempo de trânsito através do cólon direito, cólon esquerdo e cólon sigmoide são de 12 horas cada. Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal Com o aumento do teor de fibra na alimentação, diminui o tempo médio de trânsito no cólon, aumenta a frequência da defecação, e as fezes ficam com consistência mais mole. Defecação e continência A defecação normal depende de uma série de ações coordenadas do cólon, reto e dos músculos do assoalho pélvico e dos esfíncteres anais. O indivíduo pode perceber o enchimento do reto por um volume de 10mL, embora esse órgão possa acomodar 300mL antes que ocorram sensações de repleção e vontade de defecar. A distensão do reto resulta no relaxamento do esfíncter anal interno (reflexo inibitório retoanal) e na contração simultânea do esfíncter anal externo para manutenção da continência. A zona de transição anal pode perceber a diferença entre fezes sólidas ou líquidas, em comparação com gases. CONSTIPAÇÃO INTESTINAL Essa definição é baseada em critérios clínicos, que incluem evacuações infrequentes e/ou dificultosas e/ou alterações na consistência das fezes (endurecidas ou em cíbalos). Além disso, de acordo com esses critérios, a constipação deve ser diferenciada da síndrome do intestino irritável com constipação. Essa diferenciação, embora nem sempre fácil, se faz principalmente pelos sintomas de dor ou desconforto no abdome que caracterizam a síndrome do intestino irritável. A constipação intestinal pode ser classificada como secundária, quando se apresenta como um sintoma associado a vários fatores etiológicos, ou como funcional, quando não se encontra uma etiologia estrutural, metabólica ou farmacológica para explicar o quadro clínico. Epidemiologia • As estimativas da prevalência de constipação crônica na América do Norte variaram entre 2 e 27%, dependendo em parte dos critérios utilizados para defini-la. • A constipação autorreferida é mais prevalente em mulheres, indivíduos não-brancos e maiores de 60 anos. • Após o ajuste para esses fatores, é mais comum em indivíduos com pouca atividade física diária, baixa renda e baixa escolaridade. • Comorbidades e uso de medicamentos também se constituem como fatores de riscos associados à presença de constipação. • A prevalência de constipação crônica aumenta com a idade, mais dramaticamente em pacientes com 65 anos ou mais. Nessa faixa etária mais avançada, aproximadamente 26% dos homens e 34% das mulheres se queixam de constipação. • A constipação parece correlacionar-se diretamente com a diminuição da ingestão calórica em idosos, mas não com a ingestão de líquidos ou fibras. Fatores de risco a) Idade b) Sexo feminino Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal c) Nível socioeconômico e educacional d) Fatores ligados ao estilo de vida e) Ingestão inadequada de fibras • Poucos estudos avaliaram o consumo de fibras pelos constipados. A maior parte deles não demonstrou diferenças em relação ao grupo-controle. Um estudo epidemiológico norte-americano demonstrou que mulheres que ingeriam menores quantidades de fibras (em média 7 g/dia) apresentavam um risco maior de constipação quando comparadas com aquelas que ingeriam uma média de 20 g de fibras/dia. • O consumo de farelo de trigo (25 g/dia) associou-se à diminuição do tempo de trânsito colônico e ao aumento do peso fecal em voluntários não constipados e em pacientes constipados, embora os efeitos nos constipados tenham sido menores que os observados no grupo-controle. • Outro estudo demonstrou que 85% dos constipados com trânsito colônico normal e sem alterações da motilidade anorretal melhoraram ou se curaram da constipação após a suplementação de fibras na dieta por pelo menos seis semanas. f) Ingestão inadequada de líquidos Os resultados também são contraditórios quanto aos efeitos do aumento da ingestão hídrica em pacientes constipados que fazem uso de suplemento de fibras. Segundo a opinião de vários autores, não existem evidências de que a constipação possa ser tratada com aumento da ingestão de líquidos, a menos que o paciente esteja desidratado. g) Baixo nível de atividade física As revisões da literatura sobre a relação do sedentarismo com a presença de constipação intestinal consideram que ainda faltam estudos com metodologia adequada nesse tema. Sabe-se que a atividade física afeta a motilidade colônica. Além disso, estudos populacionais indicam uma menor frequência de constipação entre aqueles que praticam atividade física, embora uma relação causal direta entre os dois fatores não tenha sido estabelecida. h) Gravidez Estima-se que 11 a 38% das mulheres grávidas apresentem constipação intestinal. Essa alteração parece estar relacionada com vários fatores, inclusive o aumento dos níveis de progesterona na gravidez, diminuição da atividade física e uso de suplementos com efeitos constipantes (exemplos: sulfato ferroso, cálcio). Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal i) Constipação intestinal secundária A constipação intestinal pode ser secundária a distúrbios intestinais e extraintestinais, inclusive lesões estruturais dos cólons e da região anorretal, uso de medicamentos com efeitos constipantes, fatores psicológicos e várias doenças metabólicas e sistêmicas. j) Medicamentos A constipação é um efeito colateralde uma série de medicamentos. É importante que o clínico esteja atento ao uso de drogas com efeitos constipantes, pois este parece ser um dos fatores mais associados à constipação nos serviços de atendimento primário. • Dentre esses medicamentos, merecem destaque os analgésicos opioides (muito utilizados nos cuidados paliativos de pacientes com neoplasias), que são uma causa importante de constipação nesse grupo. k) Fatores psicológicos Os pacientes com constipação podem apresentar mais distúrbios psicológicos que a população geral, especialmente ansiedade, depressão, síndromes de dor crônica e distúrbios alimentares. Esses fatores são mais frequentes nos constipados com trânsito colônico normal que, na maior parte das vezes, preenchem os critérios para a síndrome do intestino irritável com constipação. Pacientes com distúrbios intestinais funcionais (aqui incluindo a constipação funcional e a síndrome do intestino irritável) relatam história de abuso físico ou sexual com uma maior frequência do que a relatada pela população geral. Alguns desses pacientes parecem apresentar alterações da motilidade dos cólons ou da coordenação anorretal, por mecanismos ainda não esclarecidos. A presença frequente de depressão nesse grupo e o consequente uso de medicação antidepressiva são outros fatores que podem influenciar a motilidade colônica, causando constipação. l) Lesões da medula espinhal Estima-se que entre 42 e 95% dos indivíduos com lesões da medula espinhal sofram de constipação intestinal. Como grande parte dos pacientes acometidos são jovens, esse é um distúrbio que os acompanhará por muitos anos, já que a expectativa de vida está crescendo para esse grupo. Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal Estudos empregando questionários mostram que o tempo gasto para a evacuação entre esses pacientes varia entre 30 e 60 minutos e pode chegar a mais de uma hora. A gravidade da constipação intestinal é maior na lesão completa, e existem evidências da literatura mostrando que o quadro progride com o tempo de lesão. Um estudo espanhol com 54 pacientes com lesão completa de medula mostrou que 67% apresentavam constipação, e 85%, algum grau de incontinência fecal. Os autores dividiram os pacientes em três grupos: • Lesão acima de T7 a constipação está relacionada principalmente com a incapacidade de aumentar a pressão intra-abdominal e com a ausência de relaxamento anal durante a defecação. • Lesão abaixo de T7 e reflexos sacrais preservados apresentam distúrbio de defecação, com evacuação obstruída. • Pacientes com lesões abaixo de T7 sem reflexos sacrais apresentaram trânsito colônico lentificado. m) Esclerose múltipla A constipação está presente em 36 a 43% dos pacientes com esclerose múltipla, sendo que uma proporção desses indivíduos também apresenta incontinência fecal. O quadro piora com o tempo de doença. A fisiopatologia da constipação na esclerose múltipla ainda não foi completamente estabelecida, e os possíveis mecanismos propostos são lesões do sistema nervoso central e/ou disfunção autonômica. Alguns pacientes podem apresentar trânsito colônico lento; outros, dificuldades para a evacuação decorrente da impossibilidade de relaxar os músculos do assoalho pélvico. A falta de atividade física, perda do tônus muscular e medicações com efeitos constipantes também podem contribuir para a constipação nesses pacientes. n) Doença de Parkinson A constipação ocorre em cerca de ⅔ dos pacientes com doença de Parkinson. A alteração mais frequente é a evacuação obstruída, caracterizada pelos sintomas de dificuldade para evacuar e sensação de evacuação incompleta. Essas alterações parecem estar relacionadas com alterações distônicas da musculatura estriada, incluindo o esfíncter anal externo. Outra alteração presente nesses pacientes é o aumento do tempo de trânsito colônico, associado à diminuição de células produtoras de dopamina nos cólons, além de inclusões hialinas nas células dos gânglios nervosos. o) Diabete melito A constipação é uma complicação frequente em pacientes diabéticos atendidos em serviços terciários. Provavelmente ocorre em decorrência de alterações neurológicas nos cólons, que levam ao: aumento do tempo de trânsito colônico e à ausência do reflexo gastrocólico. Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal Outros achados incluem: diminuição do tônus do esfíncter anal e o aumento do limiar de percepção para a sensação retal, que podem contribuir para a constipação intestinal e para a presença de incontinência fecal. Fisiopatologia Os autores participantes do consenso de Roma III classificaram a constipação funcional nos seguintes subgrupos, caracterizados não apenas pelos sintomas, mas também por critérios fisiológicos baseados em testes funcionais: trânsito normal, trânsito lento e evacuação obstruída. CONSTIPAÇÃO COM TRÂNSITO COLÔNICO NORMAL • Em um estudo com 1.009 pacientes constipados submetidos a testes funcionais, 59% apresentaram trânsito colônico normal, sem evidência de evacuação obstruída. • Os pacientes com trânsito colônico normal costumam melhorar com o aumento de fibras na dieta ou com laxantes osmóticos. • De acordo com vários autores, grande parte dos pacientes com constipação com trânsito colônico normal preenche os critérios diagnósticos para a síndrome do intestino irritável. o Nesses casos, a constipação é acompanhada pelos sintomas de dor ou desconforto no abdome e pode se alternar com períodos de diarreia. o Também é frequente a presença de distensão abdominal. CONSTIPAÇÃO COM TRÂNSITO LENTO É caracterizada pela lentificação do trânsito colônico relacionada com alterações da atividade motora dos cólons ainda não identificadas em sua totalidade. O termo INÉRCIA COLÔNICA aplica-se aos casos mais graves, em que não se observa aumento na atividade motora intestinal depois das refeições ou da administração de estimulantes farmacológicos como bisacodil e neostigmina. A inércia colônica caracteriza-se pela constipação crônica e grave, em que os pacientes relatam que permanecem mais de 10 dias sem evacuar e só o fazem com uso de laxantes. • Essa condição é de difícil manejo e apresenta-se como um grande desafio. • Em sua maioria do sexo feminino, com início da constipação na infância ou adolescência, cuja orientação dietética não surtiu efeito. • A inércia colônica caracteriza-se pelo grande prolongamento do tempo de trânsito colônico, que pode ser explicado pelos achados de diminuição dos plexos mioentéricos e das células de Cajal nos cólons desses pacientes. EVACUAÇÃO OBSTRUÍDA FUNCIONAL Caracteriza-se pela evacuação retal prejudicada, com trânsito colônico normal ou lento. • A evacuação retal incompleta pode ser consequência de alterações nas forças propulsoras do reto e/ou aumento da resistência à evacuação. Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal • Estima-se que até 50% dos pacientes encaminhados a serviços terciários para o tratamento da constipação recebem o diagnóstico de evacuação obstruída, que pode ser secundária a alterações estruturais ou ser um distúrbio funcional. • A evacuação obstruída funcional recebe várias denominações, como anismo, contração paradoxal do músculo puborretal, discinesia ou dissinergia do assoalho pélvico. • Caracteriza-se por contração da musculatura pélvica no momento da evacuação, causando oclusão do canal anal, o que impossibilita a exoneração fecal. • Os fatores desencadeantes não foram esclarecidos em sua totalidade, mas foram identificados alguns fatores associados, como a dor à evacuação, trauma, dano obstétrico e abuso sexual. Sabiston Constipação de trânsito lento: inércia colônica com megacólon Um subgrupo pequeno, porém, importante, da constipação é o de origem neural. Em contraste com a inércia colônica com um cólon normal, como um grupo, 50% desses pacientes são homens. Aintervenção cirúrgica em geral está indicada nesses casos, pois a terapia clínica eventualmente fracassa. Entre estas entidades, a doença de Chagas, a doença de Hirschprung do adulto e a displasia intestinal neuronal serão consideradas. Comumente, todas essas etiologias se apresentarão como uma constipação de trânsito lento na presença de um cólon dilatado. Um reto dilatado é um achado variável e normalmente está ausente na doença de Hirschprung. Às vezes, a doença de Hirschprung é diagnosticada na fase adulta. Os pacientes em geral são homens jovens, com cerca de 20 anos, e com queixas de problemas de evacuação durante toda a vida. É comum, nesses casos, estar envolvido um segmento muito curto e distal do reto. O restante do cólon está dilatado pela obstrução parcial crônica distal. É típica a ausência das fezes do reto distal, similar ao achado no exame físico em crianças. Outra característica é o clister opaco mostrar um reto distal estenosado, com um cólon proximal dilatado. Os achados na manometria anal revelam umreflexo inibitório retoanal ausente, indicando que o reto perdeu a sua capacidade mediada pela via nervosa de relaxar-se em resposta a uma carga de fezes. O diagnóstico histológico é feito por biópsia da mucosa do reto distal, pelo menos 3 cm acima da linha denteada, para evitar o segmento normalmente aganglionar nesta área. As biópsias de sucção da mucosa e em saca-bocado superficiais são diagnósticas e podem ser realizadas no consultório. A coloração da submucosa e da lâmina própria com a acetilcolinesterase revela um número aumentado de fibras nervosas coradas de marrom e é considerado como 99% precisa para se estabelecer o diagnóstico. O megacólon é a complicação mais comum da tripanossomíase intestinal. O organismo envolvido é o Trypanosoma cruzi, um parasita endêmico na América do Sul. O dano nervoso que resulta da tripanossomíase causa megacólon e megarreto. A impactação fecal e o volvo do sigmoide são as complicações mais comuns. A colectomia total para esse problema resulta em um reto discinético residual; portanto, os procedimentos de abaixamento com ressecção do cólon e do reto e a criação de um reservatório ileal (bolsa em J ileal ou bolsa de Park) são as alternativas preferenciais. Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal A displasia intestinal neuronal descreve dois tipos distintos de defeitos congênitos dos gânglios murais intestinais. O tipo A é observado principalmente em crianças e consiste em hipoplasia da inervação simpática. O tipo B está presente tanto em crianças quanto em adultos e caracteriza-se pela displasia do plexo submucoso, resultando em uma propulsão anterógrada fraca das fezes. Histologicamente, a hiperplasia e gânglios gigantes com sete a dez células nervosas estão presentes. A coloração pela acetilcolinesterase mostra um plexo denso de fibras parassimpáticas com uma atividade aumentada. A terapia laxativa nesses indivíduos é em geral uma estratégia a curto prazo e, na maioria dos pacientes, o tratamento fracassa. Diagnóstico Avaliação clínica • História clínica o sintomas específicos da constipação, a forma das fezes, a frequência das evacuações e a época da vida em que esses sintomas se iniciaram • exame físico completo – com toque retal o O exame físico do abdome pode revelar distensão, cólon palpável com fezes endurecidas ou massas sugestivas de neoplasia. O toque retal pode revelar lesões da região anorretal e permite avaliar o tônus do esfíncter anal. • Uso de representações gráficas da forma das fezes – escala de Bristol • Médico deve estar atento ao uso de medicamentos com efeitos constipantes, • Presença de doenças sistêmicas associadas à constipação. • É importante ainda obter uma boa história alimentar, com o conteúdo de fibras da dieta, além de investigar mudanças recentes no estilo de vida, como a diminuição da atividade física e manifestações de depressão • Não se pode esquecer de investigar a epidemiologia para doença de Chagas. Sinais de alarme que podem indicar neoplasia: • Emagrecimento maior que 10% do peso corporal em menos de seis meses • História familiar de câncer de cólon • Febre • Hematoquezia • Anemia • Início recente de constipação depois dos 50 anos de idade. Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal Diagnostico diferencial: • Síndrome do intestino irritável: Dor ou desconforto no abdome, que melhoram com a evacuação, além de flatulência e distensão abdominal • Evacuação obstruída: Esforço evacuatório intenso e prolongado, necessidade de pressão perineal ou vaginal ou de manobras digitais para facilitar a evacuação Exames laboratoriais e de imagem • De acordo com as recomendações da Sociedade Americana de Gastroenterologia (AGA) publicadas em 2013, na ausência de outros sinais e sintomas acompanhando a constipação, deve ser solicitado apenas um hemograma completo para esses pacientes. • Colonoscopia deve ser solicitada para os pacientes com os sinais de alarme já descritos anteriormente; o Para aqueles com mais de 50 anos que não foram submetidos a exames para rastreamento do câncer colorretal após o início da constipação e para pacientes com constipação refratária ao tratamento clínico. Testes funcionais para o estudo do trânsito colônico e da função anorretal Considera-se que os testes funcionais devem ser solicitados nos casos de constipação refratária ao tratamento clínico convencional (fibras e laxantes). O raciocínio clínico baseia-se na identificação de duas condições principais: a evacuação obstruída ou a inércia colônica. Os principais testes funcionais são: Estudo do tempo de trânsito colônico O método mais utilizado para a determinação do tempo de trânsito colônico é a ingestão de cápsulas contendo marcadores radiopacos. Existem variações da técnica. A mais simples consiste na realização de uma radiografia simples do abdome após cinco dias da ingestão dos marcadores. • Se houver retenção de mais que 20% dos marcadores, considera-se que o paciente apresenta trânsito lento. • Além disso, dependendo do local de acúmulo dos marcadores radiopacos nos cólons, o estudo pode diferenciar pacientes com trânsito lento envolvendo todo o cólon (inércia colônica) e aqueles com trânsito lento segmentar. • A retenção dos marcadores no reto e no sigmoide sugere evacuação obstruída. Manometria anorretal, teste de expulsão do balão e defecografia - São utilizados para o diagnóstico da evacuação obstruída. Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal Teste de expulsão do balão consiste na introdução de um balão no reto, e a seguir solicita-se ao paciente para expeli-lo. Manometria anorretal permite a medida das pressões de repouso e contração voluntária do canal anal. • Fornece informações sobre os padrões manométricos durante a tentativa de expulsão do balão e sobre a sensibilidade e complacência retal. Defecografia estudo da dinâmica da evacuação. • Na técnica utilizando raio X, o contraste baritado de consistência semelhante à das fezes é introduzido no reto. • O paciente permanece sentado em uma cadeira apropriada e é solicitado que evacue o contraste, quando são realizadas radiografias da pelve. • Por esse exame, é possível identificar várias alterações que podem contribuir para o quadro de constipação, como a retocele, a enterocele e a contração paradoxal do músculo puborretal. Qual deve ser a sequência de realização dos testes funcionais? De acordo com a Sociedade Americana de Gastroenterologia, inicialmente devem ser solicitados os testes para investigar a presença de evacuação obstruída, deixando-se o estudo do tempo de trânsito colônico para uma etapa posterior. • Essa conduta baseia-se no fato de que até 50% dos pacientes com evacuação obstruída também apresentam trânsito colônico lento. Em grande parte dos casos a alteraçãodo trânsito colônico se normaliza após o tratamento efetivo do distúrbio da defecação. Segundo as recomendações propostas, os primeiros exames a serem realizados devem ser o teste de expulsão do balão e a manometria anorretal, que podem confirmar o diagnóstico de evacuação obstruída. Caso os resultados desses exames sejam inconclusivos, deve ser solicitada a defecografia. Caso a defecografia exclua o diagnóstico de evacuação obstruída, solicita-se o estudo do tempo de trânsito colônico, para diferenciar pacientes com trânsito normal e trânsito lento. Tratamento A seleção do melhor tratamento individualizado para cada paciente vai depender da avaliação clínica e da própria percepção do paciente sobre a gravidade de seus sintomas. Apesar da variedade de opções terapêuticas para a constipação intestinal, uma parcela significativa dos pacientes manifesta insatisfação com os resultados de seu tratamento. Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal Medidas gerais A atividade física regular deve ser estimulada, de acordo com os estudos que mostraram melhora do hábito intestinal e do trânsito colônico associados a essa prática. Fibras • Existe um consenso de que a primeira etapa do tratamento da constipação intestinal deve ser o aumento das fibras da dieta. • Caso necessário, podem ser adicionados suplementos de fibras, com o objetivo de alcançar o consumo de 25 a 30 gramas de fibras ao dia. • Fibras insolúveis (farelo de trigo) têm como efeito colateral o aumento da flatulência e da distensão abdominal. o Esse efeito é menos pronunciado com o uso de fibras solúveis, como o psyllium da planta plantago ovata e a policarbofila cálcica, que é uma fibra sintética. • De acordo com as revisões da literatura, as fibras solúveis, particularmente o psyllium, são eficazes para o tratamento da constipação intestinal. • O consumo de ameixas secas (12 unidades ao dia) foi recentemente associado à melhora na frequência das evacuações e na consistência das fezes em um estudo com pacientes com constipação leve a moderada. Laxantes osmóticos Dentre eles, existe recomendação para o uso do polietilenoglicol (PEG) e da lactulose. Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal O uso do PEG no tratamento da constipação intestinal está baseado em evidências científicas de alta qualidade. Um dado importante é que a eficácia dessa medicação parece manter-se mesmo após longos períodos de uso. Laxantes estimulantes A maior parte dos laxantes estimulantes disponíveis no Brasil – e que são largamente utilizados em nosso meio – tem como princípio ativo o sene, o picossulfato de sódio e o bisacodil. • Os prováveis mecanismos de ação para os efeitos laxativos dessas substâncias são o estímulo da motilidade colônica e a inibição da reabsorção de água, sódio e cloro. Os consensos recentes e o Colégio Americano de Gastroenterologia recomendam o uso do picossulfato de sódio e do bisacodil no tratamento da constipação intestinal com base em evidências de qualidade moderada. Efeitos colaterais os laxantes estimulantes podem causar hipopotassemia, principalmente quando em altas doses, além de dor abdominal e diarreia. • Outra possível complicação associada ao uso crônico de laxantes estimulantes é o cólon catártico, secundário à lesão dos plexos mioentéricos dos cólons. • Entretanto, investigações mais recentes, com estudos bem controlados, sugerem que é improvável que o uso de laxantes estimulantes nas doses habituais provoque lesões neurológicas nos cólons, indicando que o uso dessas drogas é seguro, mesmo em longo prazo. Supositórios e enemas Os supositórios de glicerina parecem diminuir a consistência das fezes, além de estimular o reflexo da defecação. Os enemas induzem a evacuação pela distensão dos cólons e pela lavagem mecânica. A Sociedade Americana de Gastroenterologia indica o uso de supositórios ou enemas nos casos de disfunção do assoalho pélvico refratária ao tratamento Novas opções de tratamento farmacológico Existem vários agonistas de receptores 5-HT em estudo atualmente, com o objetivo de evitar os efeitos colaterais observados com o uso do tegaserode. Nesse grupo, incluem-se o velusetrag, a renzaprida e a mosaprida, que são agonistas de receptores 5-HT. • O Elobixibat (A3309) é um inibidor do transportador de ácidos biliares ileais que age diminuindo a reabsorção de ácidos biliares no íleo, aumentando assim a entrada de sais biliares nos cólons. Os estudos iniciais mostraram efeitos promissores na melhora dos sintomas de constipação. Tratamento cirúrgico Inércia colônica Giovanna Vilas Boas - TXIII Mód 2 – dor abdominal • A opção do tratamento cirúrgico pode ser oferecida para aqueles pacientes que não responderam ao tratamento clínico e cujos sintomas comprometem as atividades diárias. • Os pacientes devem ser criteriosamente selecionados e informados dos resultados pós-operatórios, com relação à persistência de dor abdominal, diarreia e episódios de suboclusão intestinal. • A cirurgia mais empregada é a colectomia total com ileorreto anastomose, em que bons resultados são relatados entre 67 e 94% dos casos. Retocele O tratamento cirúrgico mais empregado para a retocele é a colpoperineoplastia posterior associada à levatorplastia. Porém, esse método tem sido associado à dispareunia e considerado incorreto sob o ponto de vista anatômico, pois aproxima os ramos musculares do músculo puborretal, que são naturalmente afastados, e não reconstrói a fáscia do septo retovaginal. Regadas et al. utilizando ultrassonografia endorretal tridimensional, identificaram alterações anatômicas no comprimento do esfíncter anal externo na parede anterior e porção proximal do canal anal, favorecendo o desenvolvimento da retocele. Assim, com base em novos conceitos anatômicos da junção anorretal identificados por métodos de imagem, têm sido propostas técnicas de correção por via transanal com bons resultados
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