Buscar

_A Violência (Re)Produzida Pela Mídia- Sociologia da Violência

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Sociais 
Departamento de Sociologia
Matéria: Sociologia da Violência e das Conflitualidades
Aluna: Laura Cereza Reis
Matrícula: 17/0015441
A Violência (Re)Produzida Pela Mídia
A violência é um fenômeno que varia em suas formas de expressão de uma cultura para outra, de um período histórico para outro em uma mesma sociedade, assim como em seu significado para os diferentes grupos sociais que a vivenciam. Nesta perspectiva, a violência pode ocorrer nas relações sociais das mais diversas, sendo que o próprio reconhecimento das diferenças entre sujeitos e grupos, que se manifesta na construção das identidades e alteridades, pode constituir-se em fonte de tensão latente ou manifesta. 
Desta forma, as políticas de segurança pública, na maioria das vezes, são gestadas com a finalidade de conter e segregar determinados segmentos populacionais tidos como indesejáveis. O clamor social pela repressão dos crescentes níveis de criminalidade e violência urbana preconiza uma atuação estatal autoritária e antidemocrática, como forma de controle social e manutenção da ordem. No Brasil, o uso da suspeição como estratégia de abordagem policial tem como público-alvo e preferencial os jovens pobres negros e moradores das periferias. 
Apesar dos avanços trazidos pela redemocratização do país, como aponta Zaluar em “Um Debate Disperso: Violência e Crime no Brasil da Redemocratização” (1999), a prática contradiz a gramática do Estado de direito, na aplicação universal de direitos. Kant de Lima (2003) chama nossa atenção para o fato de as polícias continuarem orientando suas ações nos conflitos tendo como referência o lugar ocupado pelos sujeitos/grupos/classes na estrutura hierárquica social. Essa realidade é reveladora de que os direitos na sociedade brasileira não estão acessíveis a todos, uma vez que alguns são identificados como cidadãos e outros não. Exemplo disso se encontra nas conhecidas frases “são criminosos, não são cidadãos” e “bandido bom é bandido morto''.
 Ou seja, nem todos são tratados como cidadãos. Assim, podemos dizer que as práticas da violência policial se tornaram um “mal banal”. Muitas vezes, também, sendo letal, como demonstram os altos índices de mortes cometidas por policiais no Brasil, Bueno 2018, para determinadas pessoas ou tipos sociais, tanto individualmente como em grupo, nos contextos micro e macro da sociedade. É, ainda, um fenômeno marcado por preconceitos e discriminações que pode ser observado no cotidiano das atividades policiais, quando policiais se direcionam a um público específico, como é o caso da população negra, jovem, pobre e moradora das periferias da cidade. 
São abordagens marcadas também pelas discriminações raciais de classe e gênero e têm como alvos preferenciais aqueles tipificados como “vagabundos”, “bandidos”, “traficantes”, “maconheiros” e, em uma expressão muito usada pelos policiais cearenses, “pirangueiros”. São expressões da violência policial que põem em xeque os modelos sociais e estatais de controle no Estado democrático de direito, como apresenta Bueno em “Bandido Bom É Bandido Morto: A Opção Ideológica-Institucional da Política de Segurança Pública na Manutenção de Padrões de Atuação Violentos da Polícia Militar Paulista” (2018). Em uma sociedade profundamente desigual como a brasileira, a violência policial assume um caráter banal, tornando-se regra e não exceção nas atividades de policiamento ou abordagens policiais cotidianas. 
Quando as polícias selecionam os tipos sociais suspeitos ou quem deve ser abordado considerando a aparência física, a cor da pele e o local de moradia. Somam-se a isso as reiteradas denúncias contra as forças policiais por graves violações de direitos humanos e de cidadania dessa população colocada sob suspeição. Assim, a prática da suspeição como motor das abordagens policiais se revela uma atividade hiperseletiva, cujo público-alvo é formado por jovens pobres negros e moradores de periferia, a quem postamos o acrônimo PPP, indicando a condição preta, pobre e periférica. Este fenômeno desafia o Estado de direito, sendo merecedor de investigações que aprofundem o conhecimento dessa realidade.
Se a violência é linguagem, forma de comunicar algo, a mídia ao reportar os atos de violência surge como ação amplificadora desta primeira linguagem, a da violência. A representação da violência pela mídia altera a percepção que temos do fenômeno, pois a cobertura nem sempre é representativa do universo de crimes e sim dos eventos extraordinários e muitas vezes pontuais. Neste contexto, a mídia pode se tornar uma das mais contundentes formas de se propagar e, em até certo ponto, exaltar a violência. É necessário reavaliar o papel de apoio da sociedade como um todo (família, escola e comunidade), visto que ela provavelmente exercerá uma influência maior sobre o comportamento individual do que o aparelho de televisão.
Os programas de jornalismo policial, a partir do uso de estereótipos, como os já citados, posicionam-se como referências na temática da violência e adotam uma estratégia de cunho apelativo para envolverem os telespectadores, método que contribui para enraizar nas pessoas a perspectiva de que estão constantemente rodeadas pela ameaça da criminalidade. A mídia, quando se apropria, divulga, espetaculariza, sensacionaliza ou banaliza os atos de violência está atribuindo-lhes um sentido que, ao circularem socialmente, induzem práticas referidas à violência.
O programa policial torna-se, assim, um lugar estratégico para a propagação e a reafirmação da forma predominante na sociedade brasileira de tratar a questão da violência, sem nenhuma espécie de discussão, sob uma cultura imposta pela classe dominante e seu interesse na manutenção dos poderes simbólicos. Além disso, há uma construção de um mundo fundado na insegurança, proveniente da diária exposição de pessoas presas submetidas a execrações públicas e condenações midiáticas humilhantes, sem direito algum ao contraditório efetivo, criando uma paranoia punitivista que passa a identificar grupos determinados como a origem de todo o mal, justificando linchamentos e descarregamentos dos mais diversos ódios, provenientes das mais diversas frustrações individuais.
A mídia não é um retrato da realidade, mas, ao noticiar certos fatos e colocar ênfase em alguns aspectos em detrimento a outros, a mídia estabelece um recorte significativo não apenas porque contém fragmentos dessa realidade, mas também porque ajuda a criar um sentido, atribuir uma importância aos fatos que estão sendo noticiados. Não há como negar a influência das notícias no comportamento violento da população. A mídia é uma representação socialmente significativa da realidade e o comportamento da população é influenciado por esta mídia. Para Bourdieu (1997), a guerra de audiência e a busca insensata pelo furo jornalístico submetidos à lógica comercial, produzem “uma representação do mundo prenhe de uma filosofia da história com sucessão absurda de desastres sobre os quais não se compreende nada e sobre os quais se pode nada” 
Assistir televisão é uma atividade passiva, um grupo de elite que decide o que os espectadores vão ver, e quando. Os horários dos programas, os patrocinadores e um punhado de companhias de produção que gozam de grande prestígio. Os alvos das pessoas que estabelecem os horários dos programas são as crianças e os jovens entre 14 e 30 anos. A preocupação é exclusivamente com o índice de audiência. O que os telespectadores assistem, e quando, são coisas decididas pelas pessoas que estabelecem os horários dos programas. Para Adorno (1995) a imprensa tem um papel significativo na construção da criminalidade que passa pelo conjunto de representações que a sociedade tem do “marginal”, do “crime”, e da criminalidade. Adorno denomina espetacularização da imprensa, que produz uma visibilidade maior ao crime, ao criminoso e à questão da segurança, em detrimento de outros problemas sociais graves como os acidentes de trânsito e os acidentes de trabalho.
Para Strasburger(1999), é importante observar na programação de entretenimento quatro dimensões básicas: (a) se a violência é recompensada ou punida; (b) se ela é justificada ou não tem quaisquer conseqüências; (c) se ela é pertinente ao espectador; (d) se o espectador é suscetível a ela. Para esse autor, qualquer aspecto que sobressaia nessas circunstâncias pode aumentar a probabilidade de os experimentos identificarem o comportamento futuro. A violência da mídia é universal. O conteúdo violento da mídia é apresentado em um ambiente recompensador. Dependendo das características de personalidade da criança e de suas experiências de vida diárias, a violência da mídia satisfaz necessidades diferentes. 
No Brasil as políticas públicas do setor saúde voltadas para a prevenção da violência em geral ainda não estão totalmente estabelecidas e se encontram em processo de definição de conceitos e estratégias que buscam superar a via estritamente assistencial. Algumas experiências novas, em nível local, vêm demonstrando que ações dirigidas em conjunto com a família e comunidade apresentam resultados positivos e perspectivas de redução de crimes e demais formas de violência. Mas não existe oficialmente uma medida nacional de saúde que estabeleça limites para a violência na mídia.
A questão da violência na mídia não faz parte das políticas do setor saúde no Brasil, de modo que se possa formular medidas preventivas de caráter oficial. Essa posição reflete, de certa forma, a naturalidade com que a própria sociedade aceita certas representações da mídia ou sub-representações que perpetuam a condição das minorias brasileiras. A associação entre violência e juventude é uma construção social e histórica, assim como violência e atuação policial. Ambos os pares estão inscritos no contexto de um mundo globalizado em que a violência e a exceção se tornaram rotina no cotidiano das cidades.
Nesse cenário, se pode observar que a violência policial se tornou para determinados segmentos populacionais (pretos, jovens e moradores das periferias) uma prática banal nas suas abordagens. E, como prática banal, violadora de direitos humanos e de cidadania, tornou-se contraditória com o Estado democrático de direito e a garantia, manutenção e defesa dos direitos constitucionais. Como uma questão política da contemporaneidade, a juventude pobre deixa de ser alvo de políticas sociais e volta a ser o centro das atenções criminológicas, sendo constantemente absorvida pelo Estado penal e das grandes manchetes de jornal.
Referências Bibliográficas
ADORNO, S., 1995. Violência, ficção e realidade. In: Sujeito: O lado oculto do. Receptor (M. W. Souza), pp. 181-188, São Paulo: Brasiliense.
BOURDIEU, P., 1997. Sobre a televisão. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
BUENO, S. Bandido bom é bandido morto: a opção ideológico-institucional da política de segurança pública na manutenção de padrões de atuação violentos da polícia militar paulista. 2014. 145 f. Dissertação (Mestrado em Administração) – Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, 2014.
GLAUCIRIA MOTA BRASIL; ERICA MARIA SANTIAGO ; MARCÍLIO DANTAS BRANDÃO, A banalidade da violência policial contra jovens pobres, pretos e periféricos na cidade de Fortaleza, Dilemas - Revista de Estudos de Conflito e Controle Social, v. 13, n. 1, p. 169–193, 2020.
GROEBEL, J., 1999. Estudo Global da UNESCO sobre Violência na Mídia. In: A criança e a violência na mídia (U. Carlsson & C. Von Feilitzen, orgs.), pp. 217-239, São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO
.
LANDINI, Tatiana Savoia. Pedophile, who are you? A study of pedophilia in the press. Cad. Saúde Pública , Rio de Janeiro, 2008 . Disponível em: <clique aqui>. Acesso em: 01 Novembro de 2021: 10.1590/S0102-311X2003000800009
LUÍS, Jorge, Violência e Mídia – RedePsi – Psicologia, Redepsi.com.br, disponível em: <https://www.redepsi.com.br/2009/01/26/viol-ncia-e-m-dia/>, acesso em: 3 Nov. 2021.
STRASBURGER VC 1999. Os adolescentes e a mídia: Impacto psicológico. Artes Médicas, Porto Alegre.
ZALUAR, A. Um debate disperso: violência e crime no Brasil da redemocratização. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 13, n. 3, p. 3 - 17, 1999.