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A cirrose hepática acontece quando a distorção disseminada da estrutura interna do fígado ocorre quando uma grande quantidade de tecido hepático normal é permanentemente substituída por tecido cicatricial não funcional, que bloqueiam a circulação sanguínea. O tecido cicatricial se desenvolve quando o fígado é danificado repetida ou continuamente. Pode levar a hipertensão portal, insuficiência hepática e carcinoma hepatocelular. Em geral, é considerada irreversível nos estágios avançados, embora possa haver uma recuperação significativa se a causa subjacente for tratada. CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA É feita com base no diâmetro dos nódulos de regeneração e espessura dos septos fibrosos, gerando 3 tipos de cirrose. 1) Micronodular - representada por nódulos pequenos, com pouca variação de tamanho, uniformes, com até 3 mm de diâmetro, sendo sempre observados septos finos de até 2 mm, que os separam e envolvem todo o lóbulo; 2) Macronodular - representada por septos de tamanhos variados, com nódulos atingindo diâmetros entre 3 e 30 mm, multilobulares, com deformação grosseira do fígado. Representa evolução da cirrose micronodular, uma vez que se perpetua a ação lesiva exercida pelo agente etiológico; 3) Mista - representada pela coexistência, em um mesmo paciente, de micro e macronódulos. A cirrose pode apresentar algumas complicações como insuficiência hepática ou hipertensão portal, a cirrose é classificada como compensado ou descompensada. 1) Compensada: é frequentemente assintomática ou oligossintomática, sendo os sinais e sintomas, quando presentes, geralmente inespecíficos, como fadiga, anorexia e perda de massa muscular. Icterícia e sinais periféricos de doença crônica parenquimatosa do fígado (DCPF), como eritema palmar, telangiectasias, ginecomastia e atrofia testicular, podem também estar presentes. 2) Descompensada: ocorrência de qualquer complicação secundária à insuficiência hepática ou à hipertensão portal, tais como ascite, hemorragia digestiva varicosa, encefalopatia hepática (EH) e infecções, particularmente, peritonite bacteriana espontânea (PBE), infecção respiratória e urinária. A descompensação da cirrose pode levar à disfunção de órgãos e sistemas, incluindo fígado, rins, pulmões, sistema nervoso central, sistema circulatório e coagulação. Essa descompensação pode desencadear insuficiência hepática crônica agudizada (IHCA), síndrome associada a altas morbidades e mortalidade intra-hospitalar. EPIDEMIOLOGIA ➔ Em 2017, estimou-se que a prevalência global de cirrose compensada e descompensada tenha sido de 112 milhões de casos e 10.6 milhões de casos, respectivamente. Mais de 2.2 milhões de mortes no mundo todo foram causadas por cirrose em 2017. As principais causas de cirrose são as hepatites pelos vírus B e C e a doença alcoólica do fígado, sendo sua prevalência diretamente proporcional à essas doenças na população geral. A esteatohepatite não alcoólica tem sido cada vez mais frequente nos últimos anos dentre as causas de cirrose. A prevalência de doença hepática gordurosa não alcoólica e de esteatose hepática não alcoólica aumentou em paralelo à epidemia de obesidade. ➔ No Brasil, os dados referentes à morbidade e mortalidade da cirrose são escassos. De acordo com os dados do DataSUS, entre 2001 e 2010 ocorreram 853.571 hospitalizações por doença hepática no Brasil, com taxa de mortalidade de 3,34%. Essa estimativa é largamente subestimada diante da frequência das hepatites virais no nosso meio e dos dados acerca dos pacientes transplantados ou em lista de transplante de fígado no Brasil. Até março de 2014, 1.411 pacientes aguardavam transplante de fígado em território nacional, tendo sido realizados, no ano de 2013, 1.723 transplantes de fígado, a maioria por cirrose. ➔ A cirrose é mais comum em homens acima dos 45 anos, mas pode acometer também as mulheres. O uso abusivo de álcool fez crescer o número de portadores da doença nos últimos anos. ETIOLOGIA ➔ O abuso do álcool é a principal causa da cirrose. Como o fígado é responsável pela metabolização dessa substância, quando exposto a doses excessivas de álcool, sofre danos em seus tecidos vitais que comprometem seu funcionamento. ➔ hepatites crônicas provocadas pelos vírus B e C, pelo uso de determinados medicamentos e pela hepatite auto-imune. https://drauziovarella.uol.com.br/sexualidade/hepatite-b-3/ https://drauziovarella.uol.com.br/sexualidade/hepatite-c-3/ ➔ Criptogênica: Constitui um grupo heterogêneo, de etiologia desconhecida, representando cerca de 5 a 15% das cirroses. São pacientes negativos para todos os marcadores séricos, radiológicos e histológicos que definem as anteriores etiologias. FISIOPATOLOGIA ➔ A cirrose pode ser causada porque as células de kup�er ao sofrerem injúrias por uma série de toxinas (o que inclui álcool, drogas, medicamentos), passam a secretar uma série de citocinas inflamatórias. Essas citocinas agem nas células de Ito, as quais normalmente produzem vitamina K, mas que sob estímulo das citocinas passam a sintetizar colágeno. ➔ Há a chamada capilarização dos sinusóides, pois eles perdem suas fenestrações, o que afeta as trocas gasosas entre o sangue e os hepatócitos. Além desse dano no sinusóide, as células estreladas tornam-se miofibroblastos, se contraindo e diminuindo o diâmetro dos sinusóides, explicando porque a cirrose pode evoluir com hipertensão portal intra-hepática. ➔ Isso causa uma desestruturação do parênquima hepático, gerando feixes de fibrose (devido à essa síntese de colágenos) além de nódulos de regeneração, pois como haverá danos aos capilares hepáticos, o sangue não consegue chegar adequadamente aos hepatócitos e eles acabam morrendo e depois se regenerando de uma forma totalmente anárquica. QUADRO CLÍNICO ➔ Na cirrose hepática, a dor abdominal faz parte do conjunto de sinais e sintomas como perda de peso, icterícia e hematomas. ➔ Náuseas, vômitos, constipação, fadiga, fígado aumentado, urina escura, perda de cabelo, inchaço (principalmente nas pernas), ascite. ➔ Em casos mais avançados pode ocorrer encefalopatia hepática (provoca alterações cerebrais provocadas pelo mau funcionamento do fígado). ➔ Pode apresentar baqueteamento digital (aumento das pontas dos dedos). ➔ Fezes claras, moles, volumosas, com aspecto oleoso e odor desagrável podem ser indício de esteatorreia hepático. ➔ Atrofia muscular. ➔ Eritema palmar. ➔ Quando apresentam sintomas, estes podem ser inespecíficos. De um modo geral, geralmente os sintomas da cirrose hepática estão relacionados às complicações associadas como hipertensão portal, insuficiência hepática e a causa de base que originou a cirrose. ➔ A doença pode ficar muito tempo sem causar sintomas. DIAGNÓSTICO ➔ A avaliação de um paciente com suspeita de doença hepática crônica e cirrose deve iniciar com uma história detalhada, identificando a presença de fatores de risco para as diferentes causas de cirrose. Em seguida, os pacientes devem receber um exame físico detalhado para esclarecer qualquer sinal de doença hepática crônica ou complicações de cirrose. ➔ Deve-se realizar um conjunto completo de exames de sangue para estabelecer a etiologia da doença hepática crônica e determinar o grau de gravidade da doença. Deve-se realizar exame de endoscopia digestiva alta em pacientes com cirrose para rastrear a presença de varizes gastroesofágicas. HISTÓRIA MÉDICA PREGRESSA ➔ Deve ser pesquisada qualquer história de síndromes metabólicas (diabetes, dislipidemia, obesidade, hipertensão) ou doenças autoimunes; ➔ O conhecimento da história médica pregressa do paciente pode ajudar a identificar exposição a medicamentos hepatotóxicos; ➔ É necessário perguntar ao paciente sobre a história pregressa de transfusão de sangue. ➔ Deve ser colhida a história medicamentosa completa. O uso prolongado de metotrexato e amiodarona tem sido implicado no desenvolvimento de cirrose hepática; ➔ É importante questionar o uso de medicamentos de venda livre, vitaminas e suplementos fitoterápicos e alimentares, que podem ser responsáveispela lesão hepática e não mencionados voluntariamente pelo paciente. ➔ Observar história familiar hepatite B crônica pode ser transmitida de mãe para filho, sendo importante perguntar sobre alguma história familiar de hepatite viral, os pacientes devem ser questionados sobre a existência de alguma história familiar de cirrose hepática ou carcinoma hepatocelular, uma vez que é provável que a suscetibilidade genética a lesões hepáticas desempenhe um papel no risco. ➔ Pesquisar sobre os fatores de risco - alcoolismo, medicamentos. EXAME FÍSICO ➔ Observar alterações nas mãos e unhas, características faciais, da parede torácica, abdominais. TESTES LABORATORIAIS ➔ Feito para identificar a causa da cirrose e a sua gravidade. ➔ TESTES DE FUNÇÃO HEPÁTICA: Os níveis das aminotransferases (aspartato aminotransferase [AST], alanina aminotransferase [ALT]) aumentam com o dano hepatocelular. Os níveis de ALT são maiores que os da AST na maioria das doenças hepáticas crônicas (exceto na doença hepática relacionada ao álcool). ➔ GGT - GAMA-GLUTAMILTRANSFERASE: aumento dessa enzima microssômica do fígado representa a ativação das enzimas, que pode ser induzida por bebidas alcoólicas e certas substâncias. ➔ ALBUMINA: A diminuição na albumina sérica é um marcador de disfunção sintética hepática. ➔ SOROLOGIA VIRAL: A presença dos anticorpos de imunoglobulina G (IgG) contra o vírus da hepatite C (confirmada com o RNA do vírus da hepatite C) é indicativa de infecção crônica por hepatite C. O antígeno de superfície da hepatite B (HBsAg) detectável é indicativo de infecção por hepatite B. EXAMES DE IMAGEM ➔ Conseguem identificar cirrose avançada, mas geralmente não identificam cirrose inicial. ➔ A ultrassonografia ou a tomografia computadorizada (TC) pode mostrar se o fígado diminuiu ou se sua estrutura está anormal, sugerindo cirrose. ➔ A ultrassonografia pode detectar hipertensão portal e ascite. ➔ A ultrassonografia com avaliação do fluxo por Doppler dentro da vasculatura hepática é o exame preferido como avaliação inicial de pacientes com suspeita de cirrose. Se houver características suspeitas de carcinoma hepatocelular na ultrassonografia, ou se o paciente apresentar dor abdominal não explicada, recomenda-se uma avaliação adicional com TC ou RNM. ➔ A nodularidade da superfície hepática ou um fígado pequeno com ou sem hipertrofia do lobo esquerdo/caudado são detectáveis na ultrassonografia, TC e RNM. Os sinais de cirrose avançada podem ser detectados usando ultrassonografia, TC ou RNM. ➔ Os estudos de imagem em pacientes cirróticos são uma ferramenta importante para a detecção precoce do carcinoma hepatocelular e são usados rotineiramente para a vigilância dessa afecção. BIÓPSIA HEPÁTICA ➔ Se o diagnóstico ainda for incerto, em geral é feita uma biópsia de fígado (retirada de uma amostra de tecido para exame ao microscópio) para confirmação. A biópsia e, às vezes, os exames de sangue também podem ajudar os médicos a determinar a causa da cirrose. ➔ A biópsia hepática é também útil para diagnosticar doenças hepáticas coexistentes (por exemplo, esteatose hepática e hepatite viral, hemocromatose e hepatite viral) e síndromes de sobreposição autoimune, bem como doenças infiltrantes e infecciosas. ➔ A biópsia hepática pode ajudar a orientar o manejo de causas específicas da doença hepática crônica e da cirrose. ENDOSCOPIA ➔ Com a confirmação da cirrose, uma endoscopia do trato digestivo superior (inserindo um tubo flexível de visualização) é realizada para verificar a https://www.msdmanuals.com/pt/casa/doen%C3%A7as-hep%C3%A1ticas-e-da-ves%C3%ADcula-biliar/diagn%C3%B3stico-dos-dist%C3%BArbios-do-f%C3%ADgado,-da-ves%C3%ADcula-biliar-e-das-vias-biliares/bi%C3%B3psia-de-f%C3%ADgado presença de varizes. Esse exame é repetido a cada dois a três anos. Ele é feito com maior frequência se varizes forem detectadas. MONITORAMENTO ➔ Se houver confirmação de cirrose, uma ultrassonografia é realizada a cada seis meses para verificar a presença de câncer hepático. Se a ultrassonografia detectar anormalidades que sugiram câncer, os médicos solicitam uma ressonância magnética (RM) ou TC após injetar uma substância que pode ser vista na RM ou na radiografia (agente de contraste). TRATAMENTO ➔ O tratamento da cirrose hepática visa tratar ou suspender a causa base que originou a doença, realizar o manejo adequado das complicações, impedir a descompensação da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. Sendo assim, é fundamental o rastreamento de varizes (para evitar hemorragia varicosa) e do carcinoma hepatocelular (para que o tratamento seja realizado no estágio inicial do tumor). Dessa forma, mais recentemente tem se usado e estudado medicações que poderiam ser capazes de parar ou reduzir o surgimento de fibrose hepática. ➔ O transplante de fígado é indicado para quando a cirrose encontra-se descompensada, favorecida pelo surgimento de complicações, como ascite, hemorragia digestiva varicosa, encefalopatia hepática e peritonite bacteriana espontânea. MEDICAMENTOS ➔ tem como objetivo controlar alguns sintomas da cirrose, como a ardência e inchaço abdominal resultante da ascite. podendo ser indicado pelo médico o uso de remédios diuréticos que ajudam a eliminar o excesso de líquido. ➔ Em caso de encefalopatia hepática, uma complicação da cirrose em que ocorre mau funcionamento do cérebro, alguns medicamentos como laxantes e antibióticos, como a lactulose e a neomicina ou rifaximina, podem ser prescritos para ajudar na eliminação das toxinas através dos intestinos, evitando que essas substâncias prejudiquem o funcionamento do cérebro. Como a cirrose hepática aumenta a pressão da artéria no fígado, também podem ser indicados medicamentos como betabloqueadores para reduzir a pressão arterial. HEMODIÁLISE ➔ A hemodiálise é indicada para pessoas que sofreram alguma lesão nos rins provocada pelas complicações da cirrose hepática, como aumento das toxinas no corpo, pois o fígado não consegue absorver e eliminar essas substâncias, assim como pelo aumento da pressão arterial ou pela pouca circulação de sangue nos rins. ➔ Este procedimento deve ser feito em um hospital ou clínica e consiste em um tratamento para filtrar o sangue, eliminando toxinas e sais, ou seja, é feito através de uma máquina que realiza as mesmas funções dos rins. TRANSPLANTE DE FÍGADO ➔ O transplante de fígado é indicado pelo médico em casos mais graves, quando a cirrose hepática está descompensada, o fígado está gravemente comprometido e deixa de funcionar corretamente, ou quando o tratamento com medicamentos não está sendo eficaz. Este tipo de tratamento também pode ser indicado nos casos em que o fígado está afetado com um tumor. DIETA PARA CIRROSE ➔ baseada em alimentos com baixo teor de sal, devendo ser substituída por outros temperos como salsa ou limão. Também é recomendado consumir alimentos ricos em fibras e com poucas proteínas, principalmente se a pessoa apresentar ascite ou encefalopatia hepática. inclui a recomendação de não ingerir alimentos gordurosos e embutidos, assim como não fazer uso de drogas, sobretudo álcool que é uma das principais causas desta doença, pois podem lesar ainda mais o fígado. Desta forma, no tratamento para cirrose hepática alcoólica a abstinência de álcool é fundamental. ➔ A alimentação deve incluir carboidratos complexos, gorduras boas e proteínas de alto valor biológico. Inicialmente pensava-se que a dieta deveria restringir ao máximo o consumo de proteínas, no entanto, os estudos atuais demonstraram que o impacto das proteínas no desenvolvimento da encefalopatia hepática é mínimo, podendo as proteínas serem incluídas na alimentação. ➔ Evitar alimentos como carne vermelha, carne seca ou defumada, bacon, vísceras, embutidos, leite e derivados integrais, queijos amarelos e ricos em gordura, frituras, enlatados. TRATAMENTO NATURAL ➔ alguns produtos naturais são indicados como o chá de sabugueiro ou de uxi amarelo que, devido às suas propriedades desintoxicantes e depurativas, podem ajudarno alívio dos sintomas da cirrose. ➔ Para os casos em que a cirrose hepática não foi causada pelo excesso de álcool, chamada cirrose hepática não-alcoólica, pode ser recomendado o uso de suplementos de zinco e vitamina E, pois tem uma ação anti-inflamatória, reduzindo os sintomas desta doença. As complicações da CH, incluindo hemorragia digestiva alta varicosa (HDAV), infecções, encefalopatia hepática (EH), ascite e hidrotórax e insuficiência renal são as condições clínicas que mais frequentemente levam o paciente cirrótico à sala de emergência. ASCITE ➔ presença de líquido dentro da cavidade abdominal. Não é uma doença, mas sim uma MANIFESTAÇÃO de uma patologia; Causa mais comum: hipertensão portal decorrente da cirrose hepática. ➔ Os principais fatores fisiopatogênicos da ascite são a hipertensão portal, a diminuição da pressão coloidosmótica do plasma, a formação de linfa no fígado, a drenagem linfática visceral, o aumento da permeabilidade dos capilares peritoneais, a retenção renal de sódio e água e o derrame de secreções diretamente na cavidade peritoneal. ➔ As doenças responsáveis por aproximadamente 90% dos casos de ascite são a cirrose hepática, a carcinomatose peritoneal, a insuficiência cardíaca congestiva e a peritonite tuberculosa. Os 10% restantes têm as mais diversas etiologias. ➔ Para a ascite ser formada devem se levar em consideração: ● Síndrome de Budd Chiary: formação de trombose na veia mesentérica superior. ● Diminuição da síntese de albumina: lesão do hepatócito, com consequente hipoalbuminemia e queda pressão coloidosmótica. ● Hipertensão portal: haverá uma ruptura do equilíbrio entre as forças que comandam as trocas através das paredes dos capilares provocando a transudação de líquido na cavidade abdominal. ● Retenção de sódio: fenômeno mais primário do que secundário. ● Retenção de água: estimulada pela diminuição da prostaglandina tipo PGE2, a qual é um antagonista do hormônio antidiurético. ● Cirrose: pacientes com cirrose apresentam volume plasmático aumentado, porém esse volume é ineficaz. Isso acontece, porque há uma diminuição da pressão arterial com estímulo dos barorreceptores e diminuição do fluxo renal, levando ao aumento da produção de aldosterona, do hormônio antidiurético e à ativação do sistema nervoso simpático. Como consequência, há retenção de água e sódio. Haverá também compressões vasculares pelos nódulos de regeneração que podem desviar a linfa para a superfície hepática, provocando extravasamento na cavidade abdominal. Diagnóstico histopatológico. ➔ Características da ascite: ● Hemorrágica: presença de sangue no líquido, obtido na primeira paracentese - pode indicar neoplasia maligna, embora indique outras condições. ● Pancreática: aspecto do líquido é variável, sua característica principal é o aumento da amilase e da lipase. Encontrada em casos de pancreatite crônica, com lesão de ducto pancreático ou abertura de um pseudocisto, diretamente para a cavidade abdominal, e extravasamento de suco pancreático. ● Biliar: líquido de cor esverdeada, extravasamento de bile para a cavidade peritoneal em consequência de traumatismos abdominais ou procedimentos cirúrgicos sobre o fígado ou as vias biliares. ● Quilosa: o líquido possui um aspecto leitoso por possuir muito lipídeos. Deve-se a obstrução ou ruptura de linfáticos quilíferos. Sua principal causa, responsável por cerca de 90% dos casos, são as neoplasias malignas, especialmente os linfomas. ● Urinária: Decorre de traumatismos ou lesões cirúrgicas do trato urinário, com formação de fístula para dentro da cavidade peritoneal. Em recém-nascidos, pode ocorrer devido a anomalias congênitas. A dosagem da ureia e da creatinina no líquido obtido por paracentese indica valores muito acima dos níveis plasmáticos. ● Mucinosa: o líquido ascítico é constituído de uma substância gelatinosa (mucina), produzida pelo pseudomixoma peritoneal. ➔ A técnica da paracentese é indicada em duas situações: ● Estudo diagnóstico do líquido - pede-se os exames para saber o que tem (citometria, albumina, glicose, amilase, colestase e os triglicerídeos); ● Para alívio de dispneia e do desconforto provocado pelo grande volume de líquido. ● Aspecto macroscópico – Amarelo citrino (normal) / hemorrágico / turvo (infecção)/ quiloso (aumento de triglicerídeos – linfoma) ● Solicitações básicas: citometria / citologia (contagem e diferencial de células) Bioquímica (albumina/ concentração de proteína total) ● GASA (Gradiente Albumina Soro Ascite ) = Albumina (s) – Albumina (a) - <1,1 ascite não se relaciona com hipertensão portal. - >= 1,1 g/dL reflete a presença de hipertensão portal e indica que a ascite é causada por aumento da pressão nos sinusóides hepáticos. HIPERTENSÃO PORTAL ➔ A fibrose formada na cirrose aumenta a pressão nos sinusóides hepáticos. ➔ Consiste no aumento da pressão hidrostática no interior do sistema portal, que se origina nos capilares dos intestinos e nos sinusóides da polpa esplênica, sendo a veia porta formada pela confluência da veia esplênica com as veias mesentéricas superior e inferior. ➔ Qualquer aumento na resistência ao fluxo sanguíneo em qualquer ponto do sistema portal leva a HP. ➔ Além de que a HP leva ao desenvolvimento de novas veias (vasos colaterais) que desviam do fígado. Por conta desse desvio, as substâncias que seriam removidas do sangue quando passarem pelo fígado, não serão mais removidas e sim entram na circulação sanguínea geral. ➔ A hipertensão portal acontece por conta de vários fatores como: ● Incremento do fluxo sanguíneo portal, por conta de alterações na circulação esplâncnica. ● Aumento da resistência ao fluxo sanguíneo nos sinusóides hepáticos, isso acontece porque os sinusóides são comprimidos por nódulos e fibrose. Contração da musculatura dos vasos por liberação de fatores vasoconstritores (endotelina, angiotensina), contração das células estreladas ou redução na síntese de óxido nítrico. ● anastomoses arteriovenosas (shunts portais), situação em que o sangue arterial, com pressão elevada. ➔ As manifestações clínicas da HP resultam de alterações hemodinâmicas e se expressam por esplenomegalia, formação de colaterais portossistêmicas e ascite. ENCEFALOPATIA HEPÁTICA ➔ São alterações neurológicas de graus variados decorrentes da falência hepática. ➔ Fisiopatologia: insuficiência hepatocelular + hipertensão portal que impedem o fenômeno de 1ª passagem (perda da função de desintoxicação) - passagem de substâncias tóxicas para SNC, sendo a amônia. A amônia é resultado do catabolismo protéico, principalmente das bases nitrogenadas, realizado pelas bactérias colônicas e normalmente é convertida em uréia ou glutamina no fígado, que são menos tóxicas e eliminadas pela urina ➔ Quando ocorre a perda do fenômeno de primeira passagem (desintoxicação) ocorrendo excesso de amônia no SNC, que leva a uma hiperatividade do sistema GABAérgico, simulando um benzodiazepínicos endógenos. PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA (PBE) ➔ É uma complicação da ascite, sendo uma infecção do líquido ascítico que surge espontaneamente na ausência de uma fonte de contaminação, vai ocorrer uma translocação bacteriana a partir do tubo digestivo para o líquido ascítico. ➔ PBE é uma complicação frequente e potencialmente fatal da cirrose hepática, com prevalência em torno de 20 por cento. É, provavelmente, consequência da colonização do LA suscetível por episódios de bacteremia prolongados, ambos decorrentes da disfunção imune presentes na cirrose hepática. ➔ A paracentese diagnóstica, com uma análise adequada do líquido ascítico, é fundamental em todos os doentes investigados por ascite para excluir outras causas além da cirrose hepática e despistar nestes a existência de PBE. ➔ A apresentação clínica da PBE pode ir desde uma ausência de sintomas até dor abdominal, febre, sintomas gastrointestinais ou disfunção multiorgânica (insuficiência renal, encefalopatia e instabilidade hemodinâmica). Dada a elevada taxa de PBE assintomática (cerca de 50%), em doentes cirróticoscom ascite hospitalizados deve ser realizada uma paracentese diagnóstica na admissão e em todos os doentes que apresentem qualquer sintoma, sinal ou valor laboratorial sugestivo de PBE. ➔ O diagnóstico é realizado a partir da análise do líquido ascítico, com a contagem de polimorfonucleares (PMN) > 250/mm³ e a cultura do líquido ascítico positiva. Como a cultura, normalmente demora muito a contagem de polimorfonucleares é sempre realizada a se apresentar >250mm³. ➔ É também fundamental distinguir entre peritonite bacteriana primária e secundária, já que esta requer quase sempre abordagem cirúrgica. A peritonite bacteriana secundária caracteriza-se por uma contagem de polimorfonucleares superior ou igual a 250/mm3 (geralmente na ordem dos milhares), múltiplos microrganismos na cultura do líquido ascítico (que incluem frequentemente fungos, anaeróbios e enterococos) e pelo menos 2 dos seguintes critérios: proteínas totais do líquido ascítico superiores a 1 g/dL, lactato desidrogenase superior ao limite superior do normal no soro e glucose inferior a 50 mg/dL. ➔ As cefalosporinas de terceira geração (cefotaxima, ceftriaxone) são os agentes de escolha no tratamento da PBE e devem ser iniciadas imediatamente após o seu diagnóstico. ➔ A cirrose predispõe ao câncer primário do fígado que é o carcinoma hepatocelular. ● Isso acontece porque o fígado cirrótico multiplica suas células de maneira exagerada para tentar se regenerar das agressões causadas pelo álcool. Essa regeneração crônica aumenta o risco de surgirem erros na duplicação dos genes das células. ● A cirrose é formada por fibrose e nódulos de regeneração. Esses nódulos perdem seu controle e começam a desenvolver nódulos displásicos de baixo e alto grau que evolui para o câncer. ➔ O carcinoma hepatocelular é geralmente uma complicação da cirrose, e é comum em áreas onde a infecção pelos vírus das hepatites B e C é prevalente. ➔ O carcinoma hepatocelular está associado à cirrose secundária à infecção crônica pelos vírus B ou C. O álcool também é importante fator predisponente à cirrose hepática e ao CHC. Em quase todos os casos deste câncer está associado à presença do HBV. ➔ Quando associado à cirrose hepática, ele geralmente surge a partir da evolução de um nódulo regenerativo hepatocitário que sofre degeneração displásica. Há estímulo à angiogênese, e o nódulo recebe vascularização arterial abundante. ➔ A presença do vírus B aumenta o risco > 100 vezes entre os portadores do HBV. A incorporação do ácido desoxirribonucleico (DNA, deoxyribonucleic acid) do vírus B no genoma do hospedeiro pode iniciar transformação maligna, mesmo na ausência de cirrose ou hepatite crônica. FISIOPATOLOGIA Os diversos agentes etiológicos que induzem o CHC agem sobre hepatócitos diferenciados ou, segundo alguns, sobre as células ovais, precursoras dos hepatócitos ou sobre células-tronco existentes no fígado. Os eventos moleculares que levam ao aparecimento do clone ou clones que darão origem ao tumor são distintos nas diferentes etiologias, mas sempre conduzem às mesmas alterações básicas: imortalização (capacidade indefinida de proliferar) e capacidade de invadir e infiltrar os tecidos, podendo se implantar a distância. A imortalização é consequência de: 1) Ativação de oncogenes que codificam fatores de crescimento e seus receptores (p. ex., TGF-α, HGF, MET); 2) Mutação em genes que codificam moléculas transdutoras do sinal dos fatores de crescimento, tornado-as permanentemente ativas (Ras); 3) Mutação inativadora ou deleção dos genes supressores de tumor (p53, p16, p27, pRB, β-catenina, caderinas); 4) Ativação de genes antiapoptóticos e/ou mutação inativadora de genes pró-apoptóticos (bcl-2; survivina); 5) Ativação dos genes que codificam proteínas do complexo da telomerase (TERT). A sobrevivência dos clones imortalizados é conseguida pela produção de fatores angiogênicos e seus receptores (VEGF), por ativação dos respectivos genes e/ou por mutação inativadora dos genes que codificam fatores antiangiogênicos. A capacidade de invadir e produzir metástases dependerá da ativação, mutação ou deleção em oncogenes e genes supressores de tumor, que favorecem o destacamento das células da massa primitiva, seu deslocamento através da matriz, entrada nos vasos e implantação a distância. ➔
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