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Geriatria Júlia Araújo Medicina DEFINIÇÃO → Síndrome cerebral orgânica sem etiologia específica caracterizada pela presença simultânea de perturbações da consciência e da atenção, da percepção, do pensamento, da memória, do comportamento psicomotor, das emoções e do ritmo sono-vigília - Duração é variável e a gravidade varia de formas leves a formas muito graves - Urgência médica diagnóstico corretamente estabelecido e terapêutica rapidamente instituída EPIDEMIOLOGIA → Prevalência em idosos varia em torno de 1 a 2%, enquanto em idosos admitidos em unidades de urgência a taxa é de até 40% → Importante porque constitui-se na única ou principal forma de apresentação de doença física potencialmente grave e os pacientes podem cursar com pior prognóstico tanto na vigência da internação como após a alta hospitalar ETIOLOGIA → Multifatorial -> qualquer condição que comprometa a função cerebral pode causar delirium → Pode ser atribuída virtualmente a qualquer afecção médica, uso ou abstinência de drogas → CAUSAS MAIS COMUNS - Processos infecciosos -> pneumonia e infecção do trato urinário Afecções cardiovasculares, cerebrovasculares e pulmonares que causam hipóxia - Distúrbios metabólicos - Fármacos (12-29% dos casos) -> antidepressivos tricíclicos, antiparkinsonianos, neurolépticos e uso ou abstinência de hipnóticos e sedativos Substâncias - Álcool e hipnóticos/sedativos (intoxicação ou abstinência) - Anticonvulsivantes - Antidepressivos - Fármacos hipotensores - Fármacos antiparkinsonianos - Corticosteroides - Digitálicos - Bloqueadores H2 - Narcóticos - Fenotiazinas Infecções - Meningite - Pneumonia - Septicemia - Pielonefrite Doenças cardíacas - Arritmias - Insuficiência cardíaca congestiva - Infarto do miocárdio Distúrbios metabólicos - Distúrbio hidroeletrolítico - Hipercalemia - Hipoglicemia e hiperglicemia - Hipóxia - Insuficiência hepática - Insuficiência renal Transtornos do SNC - Epilepsia - Doença vascular Neoplasia - Metástases cerebrais - Tumores primários do cérebro Traumatismos - Anestesia - Queimaduras - Fraturas (especialmente de fêmur) - Cirurgia Mudança de ambiente - Hospitalização, especialmente em unidade de terapia intensiva Condições cirúrgicas - Fatores etiológicos podem estar presentes no pré- operatório (idade avançada e comorbidades), intraoperatório (anestesia, duração e tipo de cirurgia, hipotensão e hipóxia) e no pós-operatório (dor, infecção, analgesia, sedação e imobilização) FATORES DE RISCO → PACIENTE HOSPITALIZADO Fatores predisponentes (já presentes à admissão) - Idade maior do que 75 anos - Comorbidades - Polifarmácia - Comprometimento funcional - Déficit cognitivo prévio - Doença grave (Apache > 16) - Uremia - Déficit sensorial (auditivo e visual) - Doença hepática ou renal - Delirium prévio - Depressão - Alcoolismo - História de AVE - Desnutrição e desidratação Fatores precipitantes (outros que contribuem para o desenvolvimento) - Infecção - Distúrbios hidroeletrolíticos - Distúrbios metabólicos - Medicamentos - Hipo/hiperglicemia - Hipoxemia - Hipoperfusão - AVE - Encefalopatia hipertensiva - Doenças cardiovasculares - Doenças pulmonares - Abstinência a drogas/álcool - Intoxicação - Cirurgia - Dor - Admissão em UTI → Considerando-se a idade como fator de risco, entre as causas principais, incluem-se: - Menor reserva funcional hepática e renal, com comprometimento da farmacocinética e farmacodinâmica dos fármacos - Maior suscetibilidade a doenças sistêmicas, com uso comum de mais de um fármaco - Menor capacidade de resposta ao estresse - Decréscimo de células do córtex cerebral, da produção de acetilcolina e menor plasticidade de receptores muscarínicos, com aumento da toxicidade, principalmente com o uso de fármacos com ação anticolinérgica Pacientes vulneráveis Têm fatores predisponentes, com fatores precipitantes leves Pacientes pouco vulneráveis São mais resistentes ao aparecimento de delirium mesmo na presença de fatores precipitantes importantes → Fatores de risco independentes para manutenção dos sintomas na vigência da alta: - Demência - Déficit visual - Alta comorbidade - Restrição física durante o delirium - Prejuízo funcional Geriatria Júlia Araújo Medicina Baixo risco (0 a 1 fator) Risco intermediário (2 a 3 fatores) Alto risco (4 a 5 fatores) FISIOPATOLOGIA → Ainda não é bem compreendida → Alguns fatores como toxicidade a fármacos e resposta a inflamação e estresse tem sido rotulados como responsáveis para o desenvolvimento da síndrome → Caracteristicamente é considerado como uma manifestação neuropsiquiátrica não específica de um distúrbio do metabolismo cerebral e da neurotransmissão CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 1- Distúrbio da atenção (redução da capacidade de dirigir o foco, manter e desviar a atenção) e da consciência 2- Mudança na cognição que não é melhor explicada por uma demência preexistente ou estabelecida 3- Distúrbio desenvolve-se após curto período de tempo (em geral horas ou dias) e tende a flutuar durante o dia 4- Evidência por meio da história, exame físico ou achados laboratoriais de que o distúrbio seja causado por consequências fisiológicas diretas de uma condição médica geral, uma substância intoxicante, uso de medicamentos ou mais de uma causa QUADRO CLÍNICO Disfunção global da cognição -> Manifestação essencial - Prejuízo do pensamento invariavelmente presente, tornando-se vago e fragmentado . Formas leves: lento ou acelerado . Formas graves: sem lógica ou coerência - Memória está comprometida, diretamente associada ao prejuízo da atenção e nível de consciência - Anormalidades da sensopercepção manifestam-se mais comumente por meio de ilusões e alucinações visuais - Orientação frequentemente comprometida na sua forma temporoespacial - Distúrbio de linguagem mais frequentes são disnomias e disgrafias Distúrbio da Atenção - Dificuldade em manter a atenção em um determinado estímulo e mudá-la para um estímulo novo, não se conseguindo manter o fluxo da conversação com o paciente Estado de alerta e vigilância - Pode estar reduzido ou aumentado - Desorganização do ritmo circadiano do sono é comum, com sonolência diurna e sono noturno reduzido e fragmentado Comportamento psicomotor - Encontra-se alterado, podendo ocorrer um estado de hiperatividade ou hipoatividade, podendo as duas formas estarem presentes alternadamente no mesmo paciente . Hiperatividade: mais fácil de ser reconhecida, sendo associada em geral a intoxicação ou abstinência de medicamentos ou álcool . Hipoatividade: reconhecimento mais difícil e associada a distúrbios metabólicos ou processos infecciosos Outros sintomas associados - Raiva - Medo - Ansiedade - Euforia - Manifestações autonômicas (rubor facial, taquicardia, sudorese e hipertensão arterial) → SINAIS E SINTOMAS - Início agudo e curso flutuante - No paciente idoso, o início dos sintomas pode ser relativamente insidioso, precedido de alguns dias por manifestações prodrômicas como diminuição na concentração, irritabilidade, insônia, pesadelos ou alucinação transitória - Instalação aguda e duração de dias a semanas - Curso flutuante - Distúrbios de atenção - Alteração do nível de consciência - Alteração cognitiva -> orientação, memória, linguagem - Alterações de comportamento, hiper/hipoatividade psicomotora, distúrbios sensoriais, alucinações, distúrbios do sono - Causa orgânica identificada → INVESTIGAÇÃO ETIOLÓGICA - Exames Complementares: hemograma, eletrólitos, ureia, creatinina, glicose, enzimas hepáticas, enzimas cardíacas, ECGrepouso - Pesquisa de Infecção: radiografia de tórax, EAS, urocultura - Quando necessário: hemocultura, gasometria arterial, exames radiológicos do SNC, hormônios tireoidianos, vitamina B12 e ácido fólico, exames toxicológicos, LCR e eletroencefalograma DIAGNÓSTICO 1- Estabelecer diagnóstico sindrômico . Feito com base na história, no exame físico e pela aplicação dos critérios diagnósticos específicos (CAM) CAM (Confusion Assessment Method) 1- Início agudo 2- Distúrbio de atenção E/OU 3- Pensamento desorganizado 4- Alteração do nível de consciência 2- Determinar sua etiologia . Realizado a partir de uma investigação clínica e laboratorial . Importante listar todos os medicamentos em uso, suspendendo os não essenciais e reduzindo a dose dos essenciais . Seleção laboratorial depende do juízo clínico de cada caso, sendo solicitados, habitualmente, hemograma, exames bioquímicos, análise de urina, culturas e raios X de tórax → CLASSIFICAÇÃO 1- Delirium Hiperativo 2- Delirium Hipoativo 3- Delirium Misto → DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - Demência - Depressão - Psicoses funcionais PREVENÇÃO → Identificação e intervenção em fatores de risco como prejuízo cognitivo, imobilidade, privação do sono, déficit sensorial e desidratação → Orientação e estímulo cognitivo, redução de ruído noturno, mobilização precoce, evitando-se ao máximo condições restritivas, como uso de sondas, cateteres ou restrição física, uso de óculos e aparelhos auditivos e correção da desidratação → Suporte de oxigênio adequado, balanço hidroeletrolítico, tratamento da dor grave e regulação das funções fisiológicas, evitando-se a constipação intestinal → HELP (Hospital Elder Life Program) -> prevenir delirium entre pacientes idosos hospitalizados, com atuação na prevenção do declínio funcional e de quedas, maximizando a independência do paciente na vigência da alta TRATAMENTO → NÃO FARMACOLÓGICO - Correção da causa básica, minimizando os sintomas Geriatria Júlia Araújo Medicina - Identificação dos fatores etiológicos envolvidos bem como sua terapêutica - Terapêutica de suporte visa corrigir condições frequentes encontradas em pacientes idosos com delirium, como desidratação, desequilíbrio hidroeletrolítico, desnutrição, úlceras de pressão, aspiração, entre outras complicações da imobilidade Fator de Risco Medida Preventiva Privação sensorial Uso de óculos e prótese auditiva Poluição sensorial Evitar ambientes com iluminação excessiva ou precária ou ambientes com poluição sonora Privação de sono Medidas não farmacológicas para higiene do sono Declínio cognitivo Estimular orientação temporoespacial, fotos, acompanhantes/familiares Imobilidade Estimular mobilidade/ deambulação Evitar a contenção mecânica e restrição ao leito Sondas e cateteres Evitar uso Desidratação Reconhecer precocemente condições de desidratação para sua pronta correção Medicação Evitar medicações psicoativas de meia vida longa, corrigir dose para função renal e hepática, usar a mínima dose possível e descontinuar medicações desnecessárias → FARMACOLÓGICO - Tratamento sintomático é habitualmente realizado com condutas não farmacológicas que consistem em medidas psicossociais e ambientais - Deve ser reservado aos casos de delirium hiperativo com agitação grave, em que há o risco potencial de segurança do paciente, dos cuidadores e da equipe, e no sucesso terapêutico da etiologia ou nos distúrbios acentuados da sensopercepção (alucinação ou ilusão) - 1ª linha: Antipsicóticos -> haloperidol (típico) considerado o fármaco de escolha -> 0,5 a 1,0 mg VO 2x ao dia com dose adicional a cada 4h, se necessário . Atípicos: Risperidona, Quetiapina, Olanzapina . Suas vantagens são o custo baixo e as formas de apresentação por via oral e parenteral (intramuscular e intravenosa) - Nos casos de delirium secundário à abstinência de álcool ou benzodiazepínicos, o tratamento é feito com benzodiazepínico, dando-se preferência ao lorazepam, por sua vida curta e menor quantidade de metabólitos ativos PROGNÓSTICO → Podem cursar com pior prognóstico tanto na vigência da internação, quanto após a alta hospitalar → Nos pacientes hospitalizados sua ocorrência está associada a maior tempo de internação complicações como quedas, úlceras de pressão, incontinência urinária e prejuízo funcional → Aumento da taxa de mortalidade hospitalar, relacionada principalmente com a gravidade da doença, déficit cognitivo prévio e idade avançada DEFINIÇÃO → Síndrome clínica caracterizada por declínio cognitivo severo o suficiente para comprometer as atividades diárias habituais de um indivíduo → CARACTERÍSTICAS GERAIS - Declínio de memória e prejuízo de pelo menos um outro domínio cognitivo como atenção, linguagem, habilidades visuoespaciais ou praxias - Os déficits prejudicam as atividades sociais e ocupacionais habituais do indivíduo e não devem ocorrer exclusivamente na vigência de alterações do nível de consciência e estados confusionais agudos CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS 1- Prejuízo de memória de evocação ou aprendizado 2- Um ou mais dos seguintes sinais: afasia, apraxia, agnosia, disfunção executiva (planejamento, organização, sequenciamento e abstração) 3- Déficits cognitivos de intensidade suficiente para afetar o funcionamento social ou ocupacional, representando uma mudança em relação ao nível prévio 4- Início gradual e curso progressivo 5- Não causado por delirium 6- Ausência de outra doença sistêmica ou em SNC possivelmente responsável pelos déficits → DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS CAUSAS MAIS COMUNS → IRREVERSÍVEIS - Demência de Alzheimer - Demência Vascular - Demência Mista (Alzheimer + Vascular) - Demência por corpos de Lewy - Demência Frontotemporal - Doença de Parkinson - Síndromes Parkinson-plus (paralisia supranuclear progressiva, degeneração corticobasal, atrofia de múltiplos sistemas) → POTENCIALMENTE REVERSÍVEIS - Tóxicas (álcool, medicamentos) - Infecciosas (neurossifilis, HIV) - Metabólicas (hipo/hipertireoidismo, hipo/hipercalemia, hipoxemia crônica) - Lesões expansivas (tumores, hematoma subdural) - Nutricionais (deficiência de vit B12, folato e tiamina) - Hidrocefalia de pressão normal - Distúrbios psíquicos (depressão e ansiedade) - Hipoxemia crônica EPIDEMIOLOGIA → Altas incidência e prevalência nas faixas etárias mais elevadas, além do grande impacto pessoal, familiar e social decorrente das incapacidades progressivas e dependência funcional ao longo de sua evolução → FATORES DE RISCO - Idade é o fator de risco mais importante: prevalência de cerca de 1% aos 60 anos e dobra a cada 5 anos, atingindo 30-50% dos indivíduos com 85 anos - Outros fatores de risco: história familiar, trauma cranioencefálico prévio, baixo nível educacional, sexo feminino e hipertensão - Determinante genético mais conhecido: presença do alelo e4 da Apolipoproteína E -> DA de início tardio Geriatria Júlia Araújo Medicina - Fatores de risco para demência vascular: semelhantes aos do AVC, tais como sexo masculino, HAS, DM, dislipidemia, tabagismo, fibrilação atrial FISIOPATOLOGIA → DEMÊNCIA DE ALZHEIMER 1- Acredita-se que seu desenvolvimento se deve à produção e à deposição extracelular de proteína beta-amiloide - A forma patogênica do amiloide é gerada pela clivagem anormal da proteína precursora da amiloide (PPA), formando um peptídeo insolúvel (Ab 1-42) e sua deposição desencadeia uma cascata de fenômenos que incluem oxidação e perioxidação lipídica, formação de placas neuríticas, excitotoxicidade glutamatérgica, inflamação e ativação da apoptose 2- Processamento anormal e a deposição intracelular de proteína tau fosforilada, com formação de emaranhados neurofibrilares → DEMÊNCIAS VASCULARES 1- Infarto de grandesvasos, geralmente corticais ou subcorticais 2- Infarto de pequenos vasos ou lacunas, exclusivamente subcorticais, na distribuição de pequenas artérias penetrantes 3- Isquemia subcortical crônica ocorrendo na distribuição de pequenas artérias na substância branca periventricular → DEMÊNCIA MISTA - Concomitância das duas etiologias, situação que ocorre com frequência devido à alta prevalência de ambas QUADRO CLÍNICO → DOENÇA DE ALZHEIMER - Perda lenta e progressiva da memória, inicialmente da memória de curto prazo - Evolução dura em média 8 a 10 anos e, durante esse período, os sintomas de prejuízo cognitivo e funcional se acentuam, levando a perda de independência e autonomia gradual - Outras alterações cognitivas: desorientação temporoespacial, distúrbios de linguagem e dificuldade em realizar atividades complexas . Sintomas psiquiátricos e comportamentais podem estar presentes desde as fases iniciais, porém se acentuam na fase moderada - Diagnóstico definitivo: só pode ser realizado por exame anatomopatológico do cérebro, demonstrando a presença de placas neuríticas e emaranhados neurofibrilares . Lesões localizam-se primariamente na face medial do lobo temporal e hipocampo e, com a progressão da doença, se difundem por todo o córtex - NINCDS-ADRDA – Critérios Diagnósticos . Definido: diagnóstico clínico + confirmação histológica . Provável: quadro clínico típico, sem confirmação histológica . Possível: quadro clínico atípico, mas sem outro diagnóstico aparente e sem confirmação histológica - Sintomas psicológicos e comportamentais . Psicológicos: alucinações, ilusões, humor depressivo, insônia e ansiedade . Comportamentais: agressividade física, perambulação, inquietação/agitação, desinibição/comportamento inadequado e grito/choro → DEMÊNCIA VASCULAR - Tipicamente tem curso em degraus, no qual pioras súbitas são seguidas por um período de estabilidade - Hipertensão arterial/ Histórico Familiar - Piora há 2 meses - Quadro clínico, tipo e intensidade das alterações cognitivas dependem da área acometida, da quantidade e da extensão das lesões vasculares 0-3: sugestivo de DA 4-6: inconclusivo ou doença mista 7-18: sugestivo de demência → DEMÊNCIA POR CORPOS DE LEWY - Início insidioso e curso progressivo, assim como a DA - Inclusões citoplasmáticas (corpos de Lewy) são encontradas em 20-35% dos idosos com demência - Critérios diagnósticos: presença de alucinações visuais (geralmente bem caracterizadas e detalhadas), parkinsonismo espontâneo (rigidez e bradicinesia) e flutuações cognitivas com variação pronunciada do estado de alerta e atenção - Outras características: presença de distúrbio comportamental do sono REM e sensibilidade exacerbada a neurolépticos → DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL/ DOENÇA DE PICK - Caracterizada por neurodegeneração predominante na região lobar frontotemporal - Mais frequente na idade pré-senil, embora seja cada vez mais diagnosticada acima dos 65 anos - Características gerais: alterações do comportamento, da personalidade e da interação social e por alterações das funções cognitivas (planejamento - Diagnóstico: anamnese + questionário comportamental - Sintomas comuns: desinibição (comportamento social inadequado), hiperoralidade, hipersexualidade, apatia, estereotipias e impaciência → MEDICAMENTOS ASSOCIADOS A PREJUÍZO COGNITIVO E DEMÊNCIA - Hipnóticos e sedativos - Antidepressivos - Anticonvulsivantes - Antipsicóticos - Antiparkinsonianos - Anti-histamínicos - Analgésicos opioides DIAGNÓSTICO → AVALIAÇÃO COGNITIVA BREVE (Rastreio) - MEEM - 10-CS - Teste de fluência verbal - Teste do relógio → AVALIAÇÃO FUNCIONAL - Atividades básicas e instrumentais Geriatria Júlia Araújo Medicina → AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA EXAMES COMPLEMENTARES → ROTINA - Hemograma - Ureia e creatinina - Albumina e enzimas hepáticas - Cálcio - Dosagem de vitamina B12 - Função tireoidiana - Sorologia para sífilis - Tomografia ou ressonância magnética de crânio → OPCIONAIS - Velocidade de hemossedimentação - Níveis séricos de medicamentos - LCR - Sorologia para HIV - Urina tipo 1 - Radiografia de tórax - ECG - EEG - Polissonografia - PET/SPECT TRATAMENTO → PRINCÍPIOS - Controle de comorbidades e fatores de risco - Suspensão de medicamentos potencialmente deletérios - Manutenção da máxima autonomia possível - Informação e apoio aos pacientes e familiares → MANEJO FARMACOLÓGICO - Anticolinesterásicos . Donepezil -> 5mg 1x ao dia/ Dose máx: 10mg/dia . Galantamina -> 8 mg 1 x ao dia/ Dose máx: 24mg/dia . Rivastigmina -> 1,5mg 2 x ao dia/ Dose máx: 6 mg 2x ao dia - Antagonista do receptor NMDA . Memantina -> 5 mg/dia/ Dose máx: 10 mg 2 x ao dia → SINTOMAS PSICOLÓGICOS E COMPORTAMENTAIS - Antidepressivos (ISRS): Trazadona - Antipsicóticos: Quetiapina, Risperidona e Olanzapina - Anticonvulsivantes: Gabapentina e Pregabalina EPIDEMIOLOGIA → Depressão tem alta prevalência em idosos com mais de 65 anos, aumentando nos portadores de comorbidades → Déficits cognitivos têm sido associados a altas taxas de recaída da depressão, resposta mais pobre ao tratamento antidepressivo e maior incapacidade global do paciente → Depressão e demência têm largo espectro de apresentação em: - Pacientes com depressão que apresentam sintomas cognitivos relevantes, como ocorre na pseudodemência - Pacientes com depressão como reação precoce a algum déficit cognitivo, fator de risco para demência ou sintoma inicial da doença - Pacientes com demência que apresentam sintomatologia depressiva PSEUDODEMÊNCIA → Termo usado para descrever quadros de alteração cognitiva presentes em transtornos psíquicos, especialmente depressão do idoso, que realmente simulam um quadro demencial → Pacientes podem não apresentar déficit cognitivo real, uma vez que tais déficits são resolvidos com tratamento da depressão - Caso isso não ocorra, a depressão pode ser o primeiro sinal da síndrome demencial DÉFICIT COGNITIVO → Idoso com depressão frequentemente se queixa de alteração cognitiva, corroborada por testes específicos para avaliação da memória, mostrando pior performance nos testes de atenção, de função executiva e de habilidade visuoespacial que propriamente nos testes de memória episódica → Déficit cognitivo associado à depressão no idoso parece ser predominantemente mediado pelo processamento lento da informação e/ou prejuízo na memória de trabalho DEPRESSÃO COMO FATOR DE RISCO PARA DEMÊNCIA → HIPÓTESE VASCULAR - Exerce papel importante na expressão de sinais clínicos de demência, incluindo sintomas depressivos - Doença vascular, doença de Alzheimer e depressão têm fatores de risco comuns → PROCESSO INFLAMATÓRIO - Algumas citocinas inflamatórias têm sido ligadas a depressão, doença vascular e déficit cognitivo, além de terem efeitos diretos sobre o status cognitivo particularmente nas funções de memória e verbal - Antidepressivos podem modificar os níveis de citocinas inflamatórias - Excesso e secreção crônica de glicocorticoides poderiam reduzir fatores neurotróficos, inibir a neurogênese e tornar os neurônios vulneráveis ao efeito do amiloide DEPRESSÃO EM PACIENTES COM DEMÊNCIA → EPIDEMIOLOGIA - Depressão mais comum em pacientes nos níveis leve e moderado (10%) em relação ao grave (4,5%) - Relaciona-se com maior taxa de mortalidade e risco de suicídio → DIFICULDADES NO DIAGNÓSTICO: justificadas pela coexistência de sintomas similares, como apatia, diminuição da energia, alterações do padrão do sono e do apetite, isolamento social e perda gradual do interesse e do prazer - Ferramentas especificamente desenvolvidas para o diagnóstico de depressão associada à demência são mais apropriadas -> escala de Cornell DIAGNÓSTICODIFERENCIAL 1- AVALIAÇÃO CLÍNICA - Obter a história clínica e exame físico detalhados - Caracterizar: início, duração e progressão dos sintomas, ocorrência de episódio anteriores, presença de comorbidades e Geriatria Júlia Araújo Medicina de outros sinais e sintomas, uso de medicações e resposta prévia a antidepressivos Demência Depressão - Humor tende a flutuar - Déficit cognitivo mais acentuado (manifestado por dificuldades de orientação pessoal e temporoespacial e prejuízo na retenção de números, na memória recente e na abstração) - Pacientes são mais cooperativos em responder às perguntas solicitadas e o fazem muitas vezes com pouco sentido ou mesmo por meio de confabulações - Humor é persistentemente baixo - Déficit cognitivo menos acentuado - Pacientes deprimidos podem se recusar a responder às questões, tornar-se irritadiços e hostis - História pessoal ou familiar de transtorno afetivo é encontrada em muitos pacientes com depressão - Dano cognitivo do idoso deprimido sem demência pode estar em memória, atenção, nomeação, fluência verbal, habilidade visuoespacial, velocidade de processamento e função executiva, porém de forma mais leve e parcial 2- TESTES PSICOMÉTRICOS - Avaliação neuropsicológica pode ser útil na diferenciação entre depressão, demência em fase inicial e déficit cognitivo leve - Serve como referência de comparação com avaliações futuras - Perfil cognitivo do idoso deprimido, comparado ao daquele com síndrome demencial na fase inicial, tem um padrão de déficit que auxilia no diagnóstico diferencial - MEEM-> usado para estimar a gravidade do déficit cognitivo 3- EXCLUSÃO DE CAUSAS POTENCIALMENTE REVERSÍVEIS DE DÉFICIT COGNITIVO - Substâncias potencialmente causadoras de déficit cognitivo . Psicotrópicos -> antidepressivos tricíclicos, anticolinérgicos, anti-hipertensivos, anticonvulsivantes, anti-histamínicos . Analgésicos narcóticos -> antiparkinsonianos, cardiovasculares (digital, quinidina, procainamida) e outros (corticosteroides, cimetidina, metoclopramida, antibióticos, agentes antineoplásicos ) 4- ELETROENCEFALOGRAMA E POTENCIAL EVOCADO - Eletroencefalograma realizado apenas perante dificuldades no diagnóstico diferencial - Em geral, apresenta resultado normal na depressão, enquanto, nas demências, são observados alentecimentos nas frequências básicas em aproximadamente 80% dos casos - Caso persista dúvida diagnóstica e havendo disponibilidade, poderão ser utilizados testes de potenciais evocados, que são curvas de eletroencefalograma computadorizadas 5- PROVA TERAPÊUTICA COM ANTIDEPRESSIVOS - Na vigência de incerteza diagnóstica - Portadores de depressão responderão favoravelmente, ao contrário dos portadores de demência EPIDEMIOLOGIA → Transtornos depressivos unipolares estão entre as 3 principais causas de anos de vida ajustados para incapacidade (AVAI), independentemente do sexo e para todas as idades → Apresentam significativa prevalência entre indivíduos idosos da comunidade, variando entre 4,8 e 14,6% ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA → ETIOLOGIA MULTIFATORIAL - Fatores genéticos, biológicos, epigenéticos e ambientais em proporções variáveis → DEPRESSÃO DE INÍCIO TARDIO - Começa após os 60 a 65 anos de idade se relaciona a fatores estressores que podem desencadear e/ou manter o quadro depressivo - Lesões vasculares cerebrais são particularmente citadas como fatores de risco (e pior prognóstico) nessa população - Também pode ser provocada por medicamentos usados para tratar doenças físicas, bem como pelo uso abusivo de álcool - Fisiopatologia -> alterações do sistema de neurotransmissores podem ocorrer como consequência de mudanças no número, assim como na sensibilidade dos neurorreceptores pré e pós- sinápticos no sistema nervoso central, sem que haja, obrigatoriamente, uma alteração na quantidade do próprio neurotransmissor CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS APRESENTAÇÃO CLÍNICA → Busca ativa para o correto estabelecimento do diagnóstico, pela possibilidade de atribuição errônea de origem desses ao próprio processo de envelhecimento ou às comorbidades presentes → Depressão em idosos apresenta menos humor depressivo e mais anedonia, mais sintomas somáticos do que “psicológicos”, maior frequência de associação com doença física e/ou cerebral e presença maior de déficit cognitivo e disfunção executiva → Subtipos de depressão mais frequentes em idosos . Depressão vascular Geriatria Júlia Araújo Medicina . Síndrome depressiva . Depressão psicótica . Depressão melancólica → Depressão subsindrômica: presença de dois ou mais sintomas depressivos na maior parte do tempo, durante, pelo menos, 2 semanas, em indivíduos que não preenchem critérios para depressão maior, distimia ou outros transtornos depressivos - Nos indivíduos com mais de 80 anos, antes doe estabelecimento da depressão, pode existir uma fase subsindrômica de até 3 anos DIAGNÓSTICO → Essencialmente clínico, dando-se ênfase a HDA e a HPP, incluindo a história psiquiátrica do próprio paciente e de seus familiares e ideação suicida, uso de medicamentos, funcionalidade, avaliação psicológica (eventos estressores), cognitiva e social → Investigar a presença de doenças clínicas que possam estar colaborando para o quadro, com seus exames específicos - Eletrocardiograma deve ser realizado nos pacientes com indicação de uso de antidepressivo tricíclico - Quando houver déficit cognitivo associado ou suspeita de depressão vascular, está indicada a realização de ressonância magnética de encéfalo → ESCALA DE DEPRESSÃO GERIÁTRICA - Escore do GDS 15 sugere depressão a partir de 05 pontos . Depressão moderada de 8 a 9 pontos . Depressão grave de 10 pontos COMORBIDADES - Associação com insuficiência cardíaca aumenta a mortalidade em até 80% - Pacientes com câncer que sentem desamparo e desesperança têm pior prognóstico - Depressão é a complicação mais comum das doenças neurológicas e é um fator de risco independente para redução da funcionalidade - Só existe correlação da depressão com a topografia da lesão nos casos de AVE se essa ocorrer precocemente (menos que 12 meses) FATORES DE RISCO - Doença cerebrovascular - Idade: idosos apresentam sintomas depressivos que não preenchem os critérios propostos - Sexo feminino - Estado civil - Doença psiquiátrica - Uso de medicamentos: alguns anti-hipertensivos, diuréticos, digitálicos, analgésicos, corticosteroides, antipsicóticos benzodiazepínicos, antiparkinsonianos, tuberculostáticos e o álcool - Baixa escolaridade - Fatores socioeconômicos - Viuvez - Institucionalização - Traumas psicológicos - Falta de suporte social - História pessoal ou familiar de depressão - Abuso de álcool → VARIÁVREIS PSICOSSOCIAIS - Perdas - Vivência da debilidade física e intelectual - Redução do contato social: solidão - Piora da situação econômica - Menos oportunidade de trabalho DEPRESSÃO SECUNDÁRIA A MEDICAMENTOS - Anti-inflamatórios/ analgésicos: Indometacina - Anti-hipertensivos: Metildopa, Clonidina e Propranolol - Medicações com ação central: Levodopa, BZD, Haloperidol, álcool, anfetaminas, Flunarizina e Cinarizina - Hormônios: estrogênio, progesterona e corticoides - Antineoplásicos: Vincristina e Vimblastina TRATAMENTO → OBJETIVO - Eliminação dos sintomas/ Remissão - Prevenção de recorrências ou recaídas - Prevenção da piora de outras patologias presentes e de mortalidade por suicídio ou por outras causas associadas - Melhora cognitiva e funcional e ao apoio para que os pacientes possam lidar com suas dificuldades - Abordagem multiprofissional - Medidas para melhorar suporte social → FARMACOTERAPIA - Escolha do fármaco deve estar baseada no perfil dos efeitoscolaterais e na interação com outras substâncias - Terapêutica no idoso: começar com doses baixas e aumentá- las aos poucos, porém alcançando a dose terapêutica, uma vez que a utilização de subdoses é o principal fator da inadequação da resposta aos antidepressivos . Medicação: considerar efeitos adversos e interações . Orientar tempo necessário para início do efeito . Duração: mínimo 1 ano após paciente eutímico . Principal erro: subtratamento Antidepressivos tricíclicos - Efeitos terapêuticos ocorrem devido ao bloqueio da bomba de recaptação da serotonina, norepinefrina e dopamina - Efeitos colaterais dos tricíclicos estão relacionados com o bloqueio dos receptores colinérgicos muscarínicos (transtorno da memória, turvamento da visão, boca seca, obstipação e retenção urinária), ao bloqueio dos receptores de histamina H1 (sonolência e ganho ponderal) e ao bloqueio dos receptores adrenérgicos alfa-1 (tontura e hipotensão), além do bloqueio dos canais de sódio no coração e cérebro (arritmias, parada cardíaca e convulsões nos casos de superdosagem) - Medicações: nortriptilina (mais indicada para idosos) ISRS - Classe mais utilizada em idosos, devido à menor possibilidade de efeitos colaterais - Fluoxetina deve ser evitada em idosos, pois tem meia-vida longa (15 dias) e inibe ação de enzimas hepáticas e a paroxetina deve ser evitada em idosos com nível de evidência alto, devido a maior potencial de efeitos adversos como efeitos anticolinérgicos, sedativos e hipotensão ortostática Geriatria Júlia Araújo Medicina - Podem desenvolver hiponatremia - Medicações: citalopram, escitalopram, fluoxetina, fluvoxamina, paroxetina e sertralina Outros - Inibidores seletivos de recaptação de norepinefrina - Inibidores seletivos de recaptação de serotonina e norepinefrina - Inibidores seletivos de recaptação de norepinefrina e dopamina → PSICOTERAPIA - Terapia cognitivo-comportamental (TCC): foco de ação as distorções de pensamento do paciente e os comportamentos disfuncionais, principal objetivo é detectar e ajudar a modificar as reações condicionadas (pensamentos automáticos), melhorando assim as atitudes que restringem as atividades sociais e profissionais, tendo curta duração e baseada no aqui e agora - Terapia interpessoal: enfoca a maneira como uma perda afeta o paciente → TERAPIAS ADICIONAIS - Eletroconvulsoterapia -> excitação elétrica cerebral profunda - Estimulação magnética transcraniana - Fototerapia TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA → EPIDEMIOLOGIA - No idoso está frequentemente associada a outras doenças (neurológicas, cardiovasculares, respiratórias, endócrinas, gastrintestinais, imunológicas) e ao uso ou abstinência de medicamentos - Prevalência de 4% nos idosos da comunidade se associada a outro transtorno psiquiátrico e de 1% como patologia isolada - Em geral, a ansiedade se manifesta sob a forma de agitação física ou descontrole verbal, além de prejuízo nas funções executivas → TRATAMENTO - Antidepressivos (primeira escolha, principalmente ISRS e ISRN), benzodiazepínicos e buspirona + psicoterapia TRANSTORNO DO PÂNICO → DEFINIÇÃO - Período curto de intenso medo ou desconforto, durante o qual aparecem abruptamente sintomas cognitivos e somáticos de ansiedade, alcançando um pico em 10 min → EPIDEMIOLOGIA - Acomete 4% da população em geral, incidência maior é nas mulheres, raro ocorrer na idade avançada, com prevalência menor que 0,5% em pessoas com idade superior a 65 anos - Pacientes idosos com pânico são, em geral, doentes crônicos, pois o início dos sintomas ocorreu em fases anteriores da vida → TRATAMENTO - Requer uma abordagem a longo prazo, com o objetivo de inibir os ataques, aliviar a ansiedade antecipada e a agitação - Terapêutica de eleição: Antidepressivos -> ISRS são os mais indicados, sendo o citalopram e a sertralina os de primeira escolha - Terapia cognitivo-comportamental parece ser eficaz TRANSTORNO BIPOLAR - Epidemiologia: apresenta menor incidência em relação à depressão e aos adultos jovens - Quadro clínico: episódios de mania não são comuns nos idosos e, em geral, ocorrem apenas após alguns episódios depressivos . Casos de episódio maníaco graves devem ser hospitalizados, até que a medicação possa controlar os transtornos de comportamento - Diagnóstico: longa história de doença, maior número de episódios depressivos graves, presença de sintomas psicóticos e déficit cognitivo - Tratamento: ESTABILIZADORES DE HUMOR -> sais de lítio . Toxicidade do lítio na pessoa idosa -> síndrome cerebral aguda, com irritabilidade e redução do nível de consciência, podendo evoluir para o coma TRANSTORNO DEPRESSIVO PERSISTENTE (DISTIMIA) - Sintomas são semelhantes aos da depressão, porém em menor quantidade e gravidade, além de apresentarem curso mais crônico de no mínimo 2 anos - Pacientes distímicos apresentam redução no desempenho das atividades, afastamento social, incapacidade de responder positivamente a elogios ou recompensas, baixa autoestima, autodepreciação, atitude pessimista em relação ao futuro e lamentações a respeito do passado - Principal causa de suicídio entre idosos é a presença de depressão, em geral associada às perdas que foram acumuladas ao longo da vida - Exercício religioso da fé e a satisfação com a vida são fatores protetores - Comportamentos como recusa a alimentar-se, não adesão ao tratamento e autonegligência são considerados comportamentos autodestrutivos indiretos e são comuns em institucionalizados ou naqueles que consideram o suicídio um pecado - Paciente deprimido deve ser questionado diretamente sobre eventuais pensamentos suicidas, assim como os planos elaborados para cometê-lo e a disponibilidade dos meios necessários → FATORES DE RISCO - História prévia de tentativa de suicídio - Doença física concomitante - Ansiedade e transtorno de pânico - Alcoolismo - Sentimento de inutilidade - Falta de tratamento aferrado - Comorbidade em que o paciente sente dor - Redução do nível do ácido 5-hidroxindolacético (metabólito da serotonina) no LCR CASO CLÍNICO 1 ID: Dona Maria, 81 anos, viúva, branca, dentista, aposentada, 16 anos de escolaridade, natural e procedente de Manaus/AM, mora sozinha Antecedentes Pessoais: Hipertensão arterial há 20 anos. Geriatria Júlia Araújo Medicina Medicamentos: Metildopa (inibidor alfa-adrenérgico de ação central) 500 mg 12/12 h e Propranolol (betabloqueador) 20 mg 12/12 h ABVD: 6/6 AIVD: 7/8 (não consegue tomar medicamentos corretamente) QD: Esquecimento há 6 meses. HMA: Paciente procura o consultório preocupada por apresentar esquecimentos há cerca de 6 meses. Acha que sua capacidade de concentração está diminuída e não consegue se lembrar do nome das pessoas. Mora sozinha e é síndica do edifício onde reside. Recentemente, esqueceu-se de um compromisso social. Seu maior incômodo é perceber que está desatenta, com os pensamentos mais lentos. Conta que às vezes esquece até de tomar seus medicamentos para hipertensão. Seus amigos, entretanto, elogiam sua memória e capacidade, apesar da paciente perceber redução de seu desempenho. Está viúva há 1 ano e tem apenas 1 filho que mora nos Estados Unidos. Há 2 meses não tem mais vontade de fazer as tarefas habituais. Conversa pouco e chora às vezes, mesmo na presença de estranhos. Perdeu 5 kg em 3 meses. Refere perda do apetite e dorme todos os dias às 23h e acorda às 4h. Exame clínico: Bom estado geral, corada, hidratada, eupneica, acianótica, anictérica, afebril. FC= 66bpm PA=130x70mmHg FR= 18rpm Altura 1,65m Peso: 55 Kg IMC= 20kg/m² (SARCOPENIA) Cardiopulmonar: bulhas rítmicas, normofonéticas, s/ sopros; murmúrio vesicular +, sem ruídos adventícios. Abdome: normotenso, indolor, sem visceromegalias. Membros:sem edemas. Neurológico: sem alterações. Ao ser aplicado o Miniexame do estado mental (resultado=24), respondia algumas vezes “não sei”, chorando muito. 1. Qual a principal hipótese diagnóstica? Transtorno depressivo tardio - Humor deprimido - Anedonia - Perda de peso - Insônia - Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar 2. Quais os fatores de risco que podemos identificar nesse paciente que corroboram com a sua hipótese diagnóstica? - Idade - Sexo feminino - Viúva - Uso de medicamentos de anti-hipertensivos - Suporte social -> mora sozinha 3. Você faria algum ajuste nos medicamentos anti-hipertensivos dessa paciente? Por quê? Sim, substituir a metildopa (causa hipotensão ortostática, edema e sedação/ medicamento potencialmente inadequado para idosos) e o propranolol (medicamento potencialmente inadequado para idosos devido às interações com doenças ou síndromes que podem exacerbá-las/ fadiga, bradicardia, fenômeno de Reynaud (resposta vascular exagerada a estímulos como frio e estresse emocional), distúrbios do sono e pesadelo) - Ultrapassam a barreira hematoencefálica, podendo mimetizar a fisiopatologia da depressão, levando a uma depressão secundária a medicação - Indicar Losartana 25mg VO 1x ao dia (Bloqueador de Angiotensina 2) * Bloqueador do canal de cálcio (BCC) -> para HAS usar Anlodipino 5-10mg VO 1x dia e Nifedipino 10 mg VO 1-3x/dia antes das refeições 4. Quais exames complementares você proporia a esta paciente? - Hemograma - Eletrólitos (Sódio e Potássio) - Função renal -> Ureia e creatinina - Albumina e enzimas hepáticas - Glicemia - Dosagem de vitamina B12 e ácido fólico - Função tireoidiana - Justificativa: afastar doenças que mimetizem sintomas depressivos 5. Qual classe de medicamento você prescreveria para o tratamento da patologia atual da paciente? Cite um exemplo. - Inibidor seletivo para recaptação de serotonina (ISRS) -> apresentam risco de hiponatremia no idoso/ Contraindicados: fluoxetina e paroxetina . Sertralina 50mg VO 1x ao dia (menos EC) . Citalopram 10mg/dia VO (sonolência e risco de quedas -> para pacientes com distúrbio do sono) . Ecitalopram 10mg/dia VO (menos EC) .Vortioxetina 10mg VO 1x ao dia (sem restrições documentadas em idosos) - Em caso de emagrecimento, os antidepressivos que promovem ganho de peso são: . Mirtazapina . Paroxetina . Trazadona CASO CLÍNICO 2 ID: Sra. Luiza, 78 anos, feminina, branca, casada, do lar, 4 filhos, 3 anos de escolaridade, natural e procedente de Manaus-AM, mora com marido e filha. AP: Hipertensão arterial há 18 anos Gastrectomia há 45 anos por “úlcera sangrante” AF: Pai e mãe falecidos por acidente vascular encefálico Medicamentos: Enalapril (inibidor de enzima de conversão) 5 mg/d ABVD: 3/6 (consegue alimentar-se sozinha, fazer transferência e mantém continência) AIVD: 0/8 QD: Tosse e sonolência há 2 dias. HDA: A filha refere que há 8 dias, a mãe ficou internada por febre e dor abdominal, recebendo o diagnóstico de infecção urinária. A paciente apresentou já no primeiro dia, agitação psicomotora, confusão mental e agressividade, tanto que necessitou ser contida no leito. Recebeu, ainda, segundo a filha, medicações “tarja preta” por via oral, além de antibióticos por via venosa. Após dois dias de tratamento, a febre desapareceu, mas o quadro confusional persistiu, porém agora estava menos agitada e mais sonolenta. Foi orientado à filha que a paciente necessitava alta precoce e sugerido institucionalização. Recebeu receita com a prescrição de ciprofloxacino 500 mg 2x/dia e diazepam 10 mg à noite. Há 2 dias (3 dias após alta hospitalar), a paciente ficou muito sonolenta e começou a apresentar tosse com expectoração amarelada. ISDA: Ela refere que a mãe apresenta perda de memória há 2 anos. Esquece de dar recados e cumprir compromissos marcados. Há 6 meses, perdeu-se próximo à sua casa, necessitando de auxílio para retornar. Frequentemente se esquece do que está conversando com outras pessoas, por isso, tem ficado mais calada e apática. Há 2 meses apresentou crises de irritabilidade, fez gastos exagerados e ofereceu gorjetas a qualquer pessoa que lhe fizesse um favor. Geriatria Júlia Araújo Medicina Exame clínico: Regular estado geral, corada, desidratada, eupnéica, acianótica, afebril, sonolenta e desorientada temporo-espacialmente FC= 92 bpm PA = 110x70 mmHg FR=26ipm Cardiovascular: bulhas rítmicas, normofonéticas, s/ sopros Respiratório: murmúrios vesiculares presentes, com estertores crepitantes em base direita. Abdome: NDN Membros: sem edemas Neuro: Glasgow = 13 (AO=3, RV=4, RM=6); sem déficits motores, Miniexame do estado mental = 15 1. Qual a hipótese diagnóstica principal do quadro descrito na história atual? Descreva as causas para esta confusão mental. - Delirium, possivelmente devido à infecção do trato urinário 2. Quais exames complementares solicitaria para investigação no Pronto Socorro? - Hemograma, exames bioquímicos, análise de urina, culturas e raio X de tórax 3. Na investigação dos diversos aparelhos, a filha descreve um quadro de perda de memória há dois anos. Qual a hipótese sindrômica? - Síndrome demencial 4. Supondo que esta paciente teve alta, quais os exames complementares solicitaria para investigação ambulatorial do quadro de perda de memória? - Exames laboratoriais (Hemograma, ureia, creatinina, albumina, enzimas hepáticas, cálcio, dosagem de vit B12, função tireoidiana, sorologia para sífilis) + Realização de exames de imagem (TC ou RNM de crânio) -> avaliar a presença de lesões estruturais e vasculares, bem como detectar hidrocefalia ou atrofias localizadas que auxiliam o raciocínio diagnóstico 5. Qual(is) a(s) provável(is) etiologia(s) da síndrome demencial? - Doença de Alzheimer - Tóxica (medicamentos) - Metabólica - Nutricional -> deficiência de vitamina B12
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