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Se Liga - Filosofia

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Material de Apoio 
Filosofia 
Prof. Daniel Gomes 
 
1 
FILOSOFIA: “O homem é o sonho de uma sombra” Píndaro 
O que é filosofia? Pitágoras: 
Dizia Pitágoras (criador da palavra “Filosofia”) que três tipos de pessoas compareciam aos 
jogos olímpicos (a festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, 
ali estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as disputas e 
os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois, durante os jogos também 
havia competições artísticas: dança, poesia, música, teatro); e as que iam para contemplar os 
jogos e torneios, para avaliar o desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse 
terceiro tipo de pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo. 
Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses comerciais – não 
coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser comprada e vendida no mercado; 
também não é movido pelo desejo de competir – não faz das ideias e dos conhecimentos uma 
habilidade para vencer competidores ou “atletas intelectuais”; mas é movido pelo desejo de 
observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida: em resumo, pelo desejo de saber. 
A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser 
contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê-la. 
1. Diferenças entre Mitologia e Filosofia 
A. Palavra: Philo = Amor/ Sophia = Sabedoria/ Logos = Discurso Racional. 
“Filosofia é um caro deleite” Platão 
“Ser filósofo, não é apenas ter pensamentos sutis, nem mesmo fundar uma escola, mas 
amar o saber a ponto de viver, segundo os ditames desse saber, uma vida de simplicidade, 
independência, magnanimidade e confiança” Thoureau 
“Filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber o que pode 
conhecer, o que pode fazer e o que pode esperar, tendo como finalidade a felicidade humana” 
Kant 
“Filosofia é um despertar para ver e mudar o nosso mundo” Merleau-Ponty 
 
 2
A filosofia responde três questões: “o que podemos saber? O que podemos fazer? O que 
podemos esperar?” Kant 
“É evidente que nós não buscamos a filosofia por nenhuma vantagem estranha a ela. Aliás, 
é evidente que, como consideramos homem livre aquele que é fim em si mesmo, sem estar 
submetido a outros, da mesma forma, entre todas as outras ciências, só a esta consideramos livre, 
pois só ela é fim em si mesma (...) todas as outras ciências podem ser mais necessárias do que 
esta, mas nenhuma será superior” Aristóteles  filosofia pode servir a muitos fins, mas, no fim das 
contas, possui um fim em si mesma 
- Quando viajamos, questionamos a narrativa que fazemos sobre nós mesmos – nosso 
valores, nossas escolhas e nossas ideias. Filosofar, nesse sentido, é viajar: é tratar o próprio 
pensamento como objeto de pensamento, é sair de si e, talvez, questionar as narrativas que 
fizemos sobre nós próprios. 
Instrumentos da Filosofia 
- Reflexão: flexionar-se sobre si mesmo – “diálogo consigo próprio” 
- Síntese: reunião de várias coisas numa união íntima para formar um todo. 
- Crítica: não é falar mal, mas capacidade de julgar, discernir e discutir corretamente, sem 
preconceito e sem prejulgamento 
- Análise: estudo pormenorizado de cada parte de um todo, para conhecer melhor sua 
natureza, suas funções, relações, causas etc 
- Ser Radical: vai à raiz do pensamento 
- Crise: conflito entre crenças preestabelecidas e saberes adquiridos 
Diferenças entre mito e filosofia 
- Mito: Origem cronológica indeterminada; lendas como criações coletivas; recorre ao 
mistério e ao sobrenatural; não se presta ao questionamento, crítica ou correção; explica a 
realidade por algo exterior ao homem. 
 
 3
Filosofia: explicar o mundo sem recorrer ao sobrenatural ou alguma realidade inexplicável, 
mas usando a o discurso racional (logos) e elementos do próprio mundo conhecido. Filosofia é 
um conhecimento passível de dúvida, crítica e questionamento. 
Filosofia NÃO é OPINIÃO, nem VERDADE ABSOLUTA: 
A Filosofia não é um “eu acho que” ou um “eu gosto de”. Não é pesquisa de opinião à 
maneira dos meios de comunicação de massa. Não é pesquisa de mercado para conhecer 
preferências dos consumidores e montar uma propaganda. As indagações filosóficas se realizam 
de modo sistemático. Que significa isso? Significa que a Filosofia trabalha com enunciados 
precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os enunciados, opera com conceitos ou 
idéias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, exige a fundamentação racional do 
que é enunciado e pensado. Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa 
experiência cotidiana, nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas. Não se 
trata de dizer “eu acho que”, mas de poder afirmar “eu penso que”. O conhecimento filosófico é 
um trabalho intelectual. É sistemático porque não se contenta em obter respostas para as 
questões colocadas, mas exige que as próprias questões sejam válidas e, em segundo lugar, que 
as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, 
formem conjuntos coerentes de ideias e significações, sejam provadas e demonstradas 
racionalmente. 
1. O que é um enunciado científico? 
“Um enunciado será científico se, e sem qualquer exceção, for logicamente possível refutá-
lo” Karl Popper  Para Marcel Conche, o ceticismo (ou seja, a suspensão dos julgamentos) é a 
essência da filosofia; dogmático(portador de verdades) é o filósofo que para cedo demais. 
2. Por que a Filosofia “surgiu” na Grécia Antiga? 
Na Grécia Antiga, houve, até onde sabemos, a passagem do pensamento "mitopoético" 
("fazedor de mitos") para o pensamento "filosófico-teorizante", centrado no logos. Vejamos 
quatro motivos: 
A. Motivos políticos: no mundo creto-micênico e no mundo do Antigo Oriente (Egito, 
Mesopotâmia), não há, na política, discussão, pois a palavra do soberano torna-se a lei, e não é 
 
 4
submetida a qualquer forma de debate. A escrita, por sua vez, é privilégio de uma classe 
profissional restrita. Com o surgimento da pólis grega, há uma enorme mudança: na política, a 
autoridade do rei é substituída por uma disputa oratória entre cidadãos , um combate de 
argumentos na ágora, a praça pública. A escrita, por sua vez, não é mais privilégio de um pequeno 
grupo. 
B. Motivos sociais: é preciso notar que a filosofia sempre foi exclusiva de uma elite grega. E, 
como se sabe, a elite grega tinha repulsa por toda forma de trabalho manual, visto como tarefa 
de escravos. Sem dúvida, boa parte da riqueza cultural da Grécia Antiga se deve à escravidão, uma 
vez que ela liberou os gregos do trabalho manual e permitiu a eles dedicarem enorme tempo à 
política, aos esportes ou à filosofia. 
“O trabalho permanece alheio a qualquer valor humano e em certos aspectos parece 
mesmo a antítese do que seja essencial ao homem” Platão 
 C. Motivos econômicos: a cultura grega, em sua grande maioria, se constitua voltada para 
o mar, sendo via de comunicação e de comércio com outros povos. Certamente, a troca de 
culturas efervescente na Grécia incentivou o surgimento da filosofia. 
D. Culturais: a cultura grega já era caracterizada por uma valorização do ser humano, de sua 
beleza, de suas capacidades, como se nota na arte e nos esportes.. A Grécia Antiga, portanto, já 
possuía uma cultura antropocêntrica, ou seja, que valorava o homem e suas capacidades. 
Na Grécia Antiga “o logos se teria desprendido bruscamente do mythos, como as escamas 
caem dos olhos do cego.” 
Jean Pierre Vernant, As Origens do Pensamento Grego. 
1. Ética e Moral 
A palavra ética vem de ethike, de ethikós, que diz respeito aos “bons costumes” ou 
“costumes superiores”. Na Grécia Antiga, até o século VI a.C., a palavra pode ser associada à 
“ethos”, que significa “morada humana.” A ética (também chamada de “filosofiamoral”) elabora 
uma reflexão sobre os problemas fundamentais da vida coletiva humana, como o sentido da vida, 
o dever, o bem e o mal, a consciência moral, entre outros. A ética é uma criação humana: 
enquanto o cachorro e o cavalo obedecem aos seus instintos (e não podem, portanto, pensar 
 
 5
sobre sua ação ser “correta ou errada”), o ser humano tem autonomia para pensar suas atitudes: 
a ética, diz Mario Sérgio Cortella, “é o que faz a fronteira entre o que a natureza manda e o que 
nós decidimos”. A ética não nos dá conforto, ela produz dilemas. Ninguém “não possui ética”: 
existe a “ética do bandido”, a “ética do bandido corrupto”, a “ética do furador de fila”, etc. 
Quando dizemos que alguém é “antiético”, queremos dizer que carrega uma ética contrária à 
nossa. 
A moral, do latim mos, mores, designa os costumes e as tradições. De acordo com Leonardo 
Boff, “a moral está ligada a costumes e a tradições específicas de cada povo, vinculada a um 
sistema de valores, próprio de cada cultura e de cada caminho espiritual. Por sua natureza, a 
moral é sempre plural. A moral dos yanomamis é diferente da moral dos garimpeiros. Existem 
morais de grupos dentro de uma mesma cultura: são diferentes a moral do empresário, que visa 
o lucro, e a moral do operário, que procura o aumento de salário. Aqui se trata da moral de classe. 
Existem as morais das várias profissões: dos médicos, dos advogados, dos comerciantes, dos 
psicanalistas, dos padres, dos catadores de lixo, entre outras”. Segundo o professor Danilo 
Marcondes, a moral “diz respeito aos costumes, valores e normas de conduta específicos de urna 
sociedade ou cultura, enquanto que a ética considera a ação humana do seu ponto de vista 
valorativo e normativo, em um sentido mais genérico e abstrato”. 
Em resumo, a ética ou filosofia moral é uma reflexão sobre a moral. Em alguns momentos, 
a palavra moral é usada em sentido amplo, como sinônimo de ética. Ética e moral podem 
coincidir, quando, por exemplo, a reflexão filosófica sobre os direitos humanos (reflexão ética) 
enraíza-se numa Constituição (tornando-se a moral de uma sociedade). Entretanto, a ética acolhe 
transformações e mudanças: é ela, por exemplo, que nos faz refletir sobre os limites das 
concepções iluministas de direitos humanos, reflexão que nos cria a necessidade de ampliar essa 
noção. De acordo com Boff, a “ética, portanto, desinstala a moral. Impede que ela se feche sobre 
si mesma. Obriga-a à constante renovação no sentido de garantir a habilidade e a sustentabilidade 
da moradia humana (...) Não basta sermos apenas morais, apegados a valores da tradição. Isso 
nos faria moralistas e tradicionalistas, fechados sobre o nosso sistema de valores. Cumpre 
também sermos éticos, quer dizer, abertos a valores que ultrapassam aqueles do sistema 
tradicional ou de alguma cultura determinada”. 
 
 6
2. Filosofia Política 
O que hoje nós entendemos por “política” é fruto de muitos séculos de história. A palavra 
política (politikos), advinda do grego, diz respeito a tudo que concerne à administração da cidade 
(na Grécia Antiga, a administração da polis), como a lei, a soberania, o discurso ou a cidadania. A 
emergência do debate sobre os rumos da cidade entre os cidadãos na cidade-estado grega, em 
contraposição à tirania do mundo egípcio, persa e mesopotâmico, foi condição para a criação da 
consciência da existência de um setor específico da atividade humana. 
3. Metafísica 
A palavra "metafísica" (do grego, meta ta physikd, “o que está além da natureza”) tem sua 
gênese em Andronico de Rodes, organizador da obra de Aristóteles, por volta do ano 50 a.C. Mas 
o que seria a Metafísica? 
Segundo o filósofo norte-americano Will Durant, a “Metafísica se caracteriza pela busca da 
realidade máxima de todas as coisas: da natureza real e final da matéria (ontologia), da mente 
(psicologia filosófica) e da inter-relação de ‘mente’ e matéria nos processos de percepção e 
conhecimento (epistemologia)”. A metafísica, desta maneira, implica numa tentativa de 
ultrapassar a natureza das coisas para além do que nos aparece numa primeira impressão. 
Usualmente, o metafísico é aquele que vislumbra captar a essência da realidade ou da natureza, 
busca entender a gênese de nossos conhecimentos ou a formação de nossas ideias. 
 
Por que a filosofia não é Oriental? - Marilena Chauí 
A Filosofia é grega 
A Filosofia, entendida como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da 
realidade natural e humana, da origem e causas do mundo e de suas transformações, da origem 
e causas das ações humanas e do próprio pensamento, é um fato tipicamente grego. 
Evidentemente, isso não quer dizer, de modo algum, que outros povos, tão antigos quanto 
os gregos, como os chineses, os hindus, os japoneses, os árabes, os persas, os hebreus, os 
africanos ou os índios da América não possuam sabedoria, pois possuíam e possuem. Também 
 
 7
não quer dizer que todos esses povos não tivessem desenvolvido o pensamento e formas de 
conhecimento da Natureza e dos seres humanos, pois desenvolveram e desenvolvem. 
Quando se diz que a Filosofia é um fato grego, o que se quer dizer é que ela possui certas 
características, apresenta certas formas de pensar e de exprimir os pensamentos, estabelece 
certas concepções sobre o que sejam a realidade, o pensamento, a ação, as técnicas, que são 
completamente diferentes das características desenvolvidas por outros povos e outras culturas. 
Vejamos um exemplo. Os chineses desenvolveram um pensamento muito profundo sobre 
a existência de coisas, seres e ações contrários ou opostos, que formam a realidade. Deram às 
oposições o nome de dois princípios: Yin e Yang. Yin é o princípio feminino passivo na Natureza, 
representado pela escuridão, o frio e a umidade; Yang é o princípio masculino ativo na Natureza, 
representado pela luz, o calor e o seco. Os dois princípios se combinam e formam todas as coisas, 
que, por isso, são feitas de contrários ou de oposições. O mundo, portanto, é feito da atividade 
masculina e da passividade feminina. 
Tomemos agora um filósofo grego, por exemplo, o próprio Pitágoras. Que diz ele? Que a 
Natureza é feita de um sistema de relações ou de proporções matemáticas produzidas a partir da 
unidade (o número 1 e o ponto), da oposição entre os números pares e ímpares, e da combinação 
entre as superfícies e os volumes (as figuras geométricas), de tal modo que essas proporções e 
combinações aparecem para nossos órgãos dos sentidos sob a forma de qualidades contrárias: 
quente-frio, seco-úmido, áspero-liso, claro-escuro, grande-pequeno, doce-amargo, duro-mole, 
etc. Para Pitágoras, o pensamento alcança a realidade em sua estrutura matemática, enquanto 
nossos sentidos ou nossa percepção alcançam o modo como a estrutura matemática da Natureza 
aparece para nós, isto é, sob a forma de qualidades opostas. 
Qual a diferença entre o pensamento chinês e o do filósofo grego? 
O pensamento chinês toma duas características (masculino e feminino) existentes em 
alguns seres (os animais e os humanos) e considera que o Universo inteiro é feito da oposição 
entre qualidades atribuídas a dois sexos diferentes, de sorte que o mundo é organizado pelo 
princípio da sexualidade animal ou humana. 
 
 8
O pensamento de Pitágoras apanha a Natureza numa generalidade muito mais ampla do 
que a sexualidade própria a alguns seres da Natureza, e faz distinção entre as qualidades 
sensoriais que nos aparecem e a estrutura invisível da Natureza, que, para ele, é de tipo 
matemático e alcançada apenas pelo intelecto, ou inteligência. 
São diferenças desse tipo, além de muitas outras, que nos levam a dizer que existe uma 
sabedoria chinesa, uma sabedoria hindu, uma sabedoria dos índios, mas não há filosofia chinesa, 
filosofia hindu ou filosofia indígena. 
Em outras palavras, Filosofia é um modo de pensar e exprimir os pensamentos que surgiu 
especificamente comos gregos e que, por razões históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo 
de pensar e de se exprimir predominante da chamada cultura europeia ocidental da qual, em 
decorrência da colonização portuguesa do Brasil, nós também participamos. 
Através da Filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente europeu as bases e os princípios 
fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica, arte. 
Aliás, basta observarmos que palavras como lógica, técnica, ética, política, monarquia, 
anarquia, democracia, física, diálogo, biologia, cronologia, gênese, genealogia, cirurgia, ortopedia, 
pedagogia, farmácia, entre muitas outras, são palavras gregas, para percebermos a influência 
decisiva e predominante da Filosofia grega sobre a formação do pensamento e das instituições 
das sociedades europeias ocidentais. 
 
 
Material de Apoio 
Filosofia 
Prof. Daniel Gomes 
 
 
1 
FILOSOFIA E MITOLOGIA: “Por natureza, todos os homens aspiram ao saber” Aristóteles, 
Metafísica 
 
Palavras iniciais 
Os Físicos fazem equações que dão o espaço percorrido em função do tempo gasto para percorrê-
lo e da aceleração do movimento, mas não definem o que de fato é o espaço ou o tempo – isso é 
tarefa do filósofo. Biólogos e médicos identificam organizamos vivos como estando na origem das 
fermentações ou doenças infecciosas, mas não respondem o que é a vida – isso é tarefa do filósofo. 
O jurista articula-se em prol da justiça, mas não define o que é a autoridade ou o certo e o errado – 
isso é tarefa do filósofo. Claro que juristas, físicos e médicos costumam fazer para si mesmos essas 
perguntas, mas se o fazem – e devem fazer! – não estarão diretamente em suas áreas, mas atuando 
como filósofos, uma vez que não obterão conhecimentos certeiros ou “úteis”. Veja que, nas 
ciências, há sempre algo que elas próprias não podem alcançar, e é nesse momento que entra a 
filosofia. A filosofia pode ser útil para bem viver, para ser uma “terapia da alma”, nos tornar felizes, 
para votarmos melhor, etc. Mas, da mesma forma, ela pode nos tornar infelizes e nos fazer ter mais 
dúvidas na hora de votar. A filosofia não existe com um objetivo exterior a ela; a filosofia que visa 
ser útil não é filosofia. A filosofia que quer ser “agradável” não é filosofia. A filosofia, assim, possui 
um fim em si mesma. Para Platão, a filosofia surge a partir de uma “admiração” com o real; para 
Aristóteles, surge a partir do “espanto”: afinal, por que as coisas existem em vez de não existirem? 
O trabalho da filosofia não é construir prédios ou usinas hidrelétricas, mas evitar que vivamos uma 
vida não refletida, automática - bons estudos! Prof Daniel Gomes 
 
1. O Que é a Mitologia? 
 
A, Mythos = contar narrar, falar, conversar, designar -> 
Mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa (astros, terra, homens, plantas, bem, mal, 
morte, guerras, poder, etc), pronunciado e proferido para ouvintes que recebem bem a narrativa 
como verdadeira porque confiam naquele que narra. Na Grécia, quem narra o mito é o poeta 
rapsodo, escolhido pelos deuses, que lhe mostram os acontecimentos passados – inquestionável e 
incontestável. 
 
B. Jung: Mitos são arquétipos do inconsciente coletivo: Arquétipos: 
Nos sonhos, muitas vezes aparecem elementos que não são individuais e nem podem fazer parte 
da experiência pessoal do sonhador. Para Jung, assim como o nosso corpo possui elementos dos 
nossos ancestrais, o mesmo ocorre com nossa mente, que carrega “resíduos arcaicos”, aspectos 
inatos e primitivos que se repetem. É o que Jung chama de arquétipos, uma tendência instintiva do 
homem, anterior à experiência, de formar as mesmas representações de um motivo que seus 
antepassados. Em cada época ou lugar, os arquétipos aparecem com diferentes roupagens. Eles 
persistem através dos milênios (nos sonhos, narrativas, filmes, etc) e exigem novas interpretações. 
Exemplo de arquétipos: “herói”, “homem-deus”, “ressureição”, “irmãos-inimigos”, “Grande Mãe” 
etc. 
 
C. Na visão de Jung, mitologia não é mentira, é metáfora: mitologia utiliza imagens, símbolos, 
parábolas e contos para relatar grandes experiências, sonhos e temores humanos, ajudando a 
 
 2 
entender a universalidade de certas experiências humanas, (amor, a morte, o nascimento, a vida, o 
universo, a velhice, os medos etc). 
 
“Todos os mitos são verdadeiros em diferentes sentidos. Toda mitologia tem a ver com a 
sabedoria da vida, relacionada a uma cultura específica, numa época específica. Integra o 
individuo na sociedade e a sociedade no campo da natureza.” Joseph Campbell, O Poder do Mito, 
Editora Palas Athena, p. 58. 
 
 
 
C. Quatro diferentes funções da mitologia: 
 
- Função Pedagógica: a mitologia pode nos ajudar a refletir sobre experiências que são, em sua 
essência, universais, como a morte, o nascimento ou o envelhecimento. 
 
- Função Cosmológica: a mitologia pode fornecer explicações sobre a forma, origem e destino do 
universo. Nesse ponto, não raro, religião e ciência entram em discordância. 
 
- Função Sociológica: a mitologia pode servir aos poderes políticos e econômicos estabelecidos, 
legitimando determinada ordem social, privilégio ou convenção moral. 
 
- Função Mística: a mitologia poderia também lembrar o mistério e maravilha do universo, 
poetizando nossa relação com o real. É a essa função mística da religiosidade que Jung alude no 
texto abaixo: 
 
“À medida que aumenta o conhecimento científico, diminui o grau de humanização do nosso mundo. 
O homem sente-se isolado no cosmos porque, já que não estando envolvido com a natureza, perdeu 
sua identificação emocional inconsciente com os fenômenos naturais. E estes, por sua vez, perderam 
aos poucos as suas implicações simbólicas. O trovão já não é a voz de um deus irado, nem o raio o 
seu projétil vingador. Nenhum rio abriga mais um espírito, nenhuma árvore é o princípio de vida do 
homem, serpente alguma encarna a sabedoria e nenhuma caverna é habitada por demônios. Pedras, 
plantas e animais já não têm vozes para falar ao homem, e ele não se dirige mais a eles na presunção 
de que possam entendê-lo. Acabou-se o seu contato com a natureza, e com ele foi-se também a 
profunda energia emocional que essa conexão simbólica alimentava (...) A despeito da nossa 
orgulhosa pretensão de dominar a natureza, ainda somos suas vítimas pois não aprendemos nem a 
nos dominar (...) Nossas vidas são agora dominadas por uma deusa, a Razão, que é nossa ilusão maior 
e mais trágica.” 
Carl Jung (org.), O Homem e Seus Símbolos, Editora Nova Fronteira, p. 121 - 128 
 
2. O Poder do Mito – A Visão de Joseph Campbell 
 
A. Tese de Joseph Campbell: Monomito: os mitos (e aqui ele inclui as religiões) falam dos mesmos 
temas universais, carregam as mesmas mensagens, de maneira há uma espécie de “unidade 
espiritual do homem”. As diferenças devem-se às culturas de cada grupo. Exemplo: Jornada do 
Herói, cuja estrutura, há milênios, se repete. 
 
 3 
 
B. Conclusão: “razão é uma forma de pensar, mas pensar não é sempre razão” Joseph Campbell – 
mito é uma forma distinta, mas não inferior, da forma racional de pensar. 
 
O homem como ser de transcendência: creio que a transcendência é, talvez, o desafio mais secreto 
e escondido do ser humano (...) Recusamo-nos a aceitar a realidade na qual estamos mergulhados 
porque somos mais, e nos sentimos maiores do que tudo o que nos cerca. Desbordamos todos os 
esquemas, nada nos encaixa. Não há sistema militar mais duro, não há nazismo mais feroz, não há 
repressão eclesiástica mais dogmática que possam enquadrar o ser humano. Sempre sobra alguma 
coisa nele. E não há sistema social, por mais fechado que seja, que não tenha brechas por onde o ser 
humano possa entrar, fazendo explodir essa realidade. Por mais aprisionado que ele esteja, nos 
fundos da Terra, ou dentro de uma nave espacial no espaço exterior, mesmo aí o ser humano 
transcende tudo. Porque, com seu pensamento, ele habita as estrelas,rompe todos os espaços. Por 
isso, nós, seres humanos, temos uma existência condenada – condenada a abrir caminhos, sempre 
novos e sempre surpreendentes (...)Emile Durkheim, um dos fundadores da sociologia, fala da 
singularidade do ser humano como ser social, capaz de criar utopia, de acrescentar algo ao real. É 
algo exclusivo dele, nenhum animal é capaz de utopia. Por isso, ele cria símbolos, cria projeções, cria 
sonhos. Porque ele vê o real transfigurado. Essa capacidade é o que nós chamamos de 
transcendência, isto é, transcende, rompe, vai para além daquilo que é dado. Numa palavra, eu diria 
que o ser humano é um projeto infinito. Um projeto que não encontra neste mundo o quadro para 
sua realização. Por isso é um errante, em busca de novos mundos e novas paisagens. (...) O ser 
humano é um projeto ilimitado, transcendente, não dá para ser enquadrado. Ele pode, 
amorosamente, acolher o outro dentro de si. Pode servi-lo, ultrapassando limites. Mas é só na sua 
liberdade que ele o faz, é só quando se decide a isso, sem nenhuma imposição. Não há nada que 
possa enquadra- lo, nenhuma fórmula cientifica, nenhum modo de produção, nenhum sistema de 
convivialidade. Nem mesmo o nosso moderno sistema globalizado, dentro do pensamento único que 
afirma que “não há alternativa” (...)Sartre afirma que a fenomenologia do ser humano, isto é, a 
descrição de como se manifesta e de como funciona o ser humano, reside em revelar que ele é um 
ser em si, mas que se abre sempre para o outro, que se abre ao mundo, que se abre à totalidade. 
Esta é a condição humana básica. – Leonardo Boff, Tempos de Transcendência. 
 
 
 GLOSSÁRIO DE TERMOS FILOSÓFICOS 
 
- Adventício: do latim, “que vem de fora”. Na filosofia cartesiana, indica ideias provenientes dos 
sentidos. 
- Aforismo: do grego, “aphorismós”, definição. Originalmente, utilizada para exprimir um pensamento 
filosófico de forma concisa. Nietzsche utiliza do aforismo para ressaltar o lado questionador e 
sugestivo de seu pensamento. 
- Alienação: do latim, “não pertence a si”. É quando um indivíduo, por motivos diversos, passa a não 
ser dono de si próprio. O termo possui vários significados, dependendo do filósofo em questão. Em 
Marx, quando o homem vende sua força de trabalho, por exemplo, torna-se alienado, perdendo o 
controle de seu potencial de transformar a natureza. 
 
 4 
- Apolíneo: em Nietzsche, o “espírito apolíneo”, derivado de Apolo, severo deus da ordem e do 
equilíbrio, representa a razão, a luz, a harmonia e o equilíbrio. Para Nietzsche, o excesso de espírito 
apolíneo trouxe uma debilitação da própria vida. É o oposto do espírito “dionisíaco”. 
- Apologética: do grego, apologetikós, defesa. No cristianismo, a teologia apologética é aquela que 
defende o cristianismo contra seus ataques. 
- Aporia: do grego, aporetikós, insolúvel. Em Platão, temos uma aporia quando o diálogo termina sem 
solução final. 
- A Posteriori: do latim, refere-se àquilo que é conhecido em função da experiência. 
- A Priori: do latim, refere-se àquilo que é independente da experiência. Na filosofia kantiana, os a 
priori são, por exemplo, as intuições do espaço e do tempo e as categorias e ideias. 
- Arquétipo: do grego, archétypon, o tipo original. O termo representa, na psicologia de Jung, uma 
tendência instintiva do homem (tão instintiva quanto o impulso das aves para fazer seus ninhos), 
anterior à experiência (a priori), de formar as mesmas representações de um motivo que seus 
antepassados. Tais arquétipos exprimem-se nos mitos, lendas, nos sonhos ou na arte, por exemplo. 
- Ascetismo: do grego, askesis, exercício. Originalmente é uma maneira de viver típica dos monges 
medievais, que preconizam a renúncia das paixões e desejos do corpo para pautar-se no 
desenvolvimento espiritual. Nos dias de hoje, é utilizado para designar qualquer vida de privações. 
- Ataraxia: termo grego que designa um estado imperturbável, típico de um ser que obtém a paz de 
espírito. 
- Aufklärung: palavra alemã utilizada por Kant como sinônimo de Esclarecimento ou Iluminismo. 
- Autonomia: originalmente, a palavra designa “nomear-se a si mesmo”, e indica alguma forma de 
determinação. Ao longo da história, os filósofos divergem sobre a maneira de obter autonomia: 
alguns, por exemplo, valorizam a importância da liberdade política, ao passo que outros dão maior 
ênfase à autonomia financeira ou intelectual. O oposto de autonomia é heteronomia. 
- Catarse: do grego, katharsis, purificação. Em Aristóteles, designa a purificação das paixões por meio 
da arte, sobretudo a tragédia. 
- Ceticismo: do grego, skeptikós, o investigador. Na Grécia, designa uma posição segundo a qual o 
homem deve suspender o juízo sobre as coisas. 
- Cinismo: do grego, kynikós, como um cão. Na Grécia, representa uma posição segundo a qual a paz 
advém do desprezo às convenções sociais. 
- Cogito Ergo Sum: do latim, “penso, logo sou”, ou “penso, logo existo”. Para Descartes, a existência 
do pensamento (o cogito) é indicativo da existência de um sujeito que pensa. 
- Contrato Social: ideia básica da filosofia política moderna, segundo a qual a sociedade surge a partir 
de um pacto entre os cidadãos. 
- Cosmo: do grego, cosmos, palavra que pode significar “ordem”, “universo” ou “beleza”. A cosmologia 
é o conhecimento que pensa as origens ou propriedades do universo. 
- Criticismo: o termo designa o setor do pensamento de Kant que se pergunta “o que posso 
conhecer?”, ou seja, quais condições e limites de nossa razão. Ele mostra, em seu criticismo, que é 
impossível conhecer a Coisa-em-si, mas apenas o que nosso pensamento é capaz de conhecer. 
- Darwinismo Social: trata-se de um pensamento racista que é um desvirtuamento do pensamento 
original de Darwin. O darwinismo social o aplicar as notáveis ideias desse biólogo às sociedades 
humanas, defendendo que a humanidade é dividida em raças (o que sabemos hoje ser falto) e que há 
raças superiores e inferiores. O domínio de uma civilização ou classe social sobre outra seria uma 
questão de “sobrevivência do mais apto” 
- Dedução: operação lógica que busca conclusões a partir de uma ou várias proposições. 
 
 5 
- Deísmo: concepção filosófica que acredita numa religião natural e conforme a razão, isto é, que não 
aceita dogmas ou Igrejas estabelecidas. 
- Dialética: do grego, dialektike, discussão. Em Platão, representa o diálogo que é fundamental para a 
alma se elevar do mundo sensível ao mundo inteligível. Em Hegel, é um movimento que supera uma 
contradição. Apesar de Hegel nunca utilizar esses termos, no ensino médio se ensina a dialética 
hegeliana de maneira didática a partir dos termos “tese”, “antítese” e “síntese”: um momento opõe-
se ao anterior e o nega, superando suas contradições. Em Marx e Engels, a realidade concreta é 
dialética: em vez de a realidade ser estável, numa unidade indiferenciada, ela é um processo de 
transformação progressiva e constante, tanto evolucionária como revolucionária, e, em suas 
transformações, dá origem à novidade. Como diria Hegel: “a compreensão dos contrários em sua 
unidade ou do positivo no negativo.” A realidade, assim, é composta por contrários, de maneira que, 
no conflito dos contrários, o contrário nega o outro e é, por sua vez, negado por um nível superior de 
desenvolvimento histórico que preserva alguma coisa de ambos os termos negados. É a chamada Lei 
da Negação da Negação. 
- Dionisíaco: derivado do deus Dionísiaco, em Nietzsche representa a proximidade da natureza e suas 
forças vitais, a alegria, o excesso, ou seja, o “espírito dionisíaco”, a própria pulsão da vida. É o oposto 
do “espírito apolíneo”. 
- Dogma: pensamento transmitido de maneira impositiva, sem submeter-se à discussão ou 
experimentação. Na teologia, o dogma indica uma verdade transmitida, por exemplo, pelas Sagradas 
Escrituras ou pela Tradição. 
- Ecletismo: do grego, eklektikós de eklegein, esconder. Em filosofia, o ecletismo é um método ou 
atitude de criar um sistema filosófico apartir de elementos de vários sistemas distintos. 
- Empirismo: do grego empeirikós, médico que trabalha a partir da experiência. Partindo da máxima 
aristotélica segundo a qual “não há nada no intelecto que não estivesse antes nos sentidos”, é uma 
corrente filosófica que acredita que todo conhecimento filosófico provém da experiência sensível. 
- Epicurismo: pensamento grego oriundo de Epicuro, segundo o qual a paz é obtida a partir da busca 
pelo prazer (hedoné). O prazer, nesse contexto, simboliza a ausência de dor, e não a busca pela 
satisfação de desejos de fora desenfreada, o que poderia trazer dores ainda maiores. 
- Epistemologia: de episteme, ciência, e logos, discurso racional. A epistemologia – palavra 
frequentemente empregada como sinônimo de filosofia da ciência ou teoria do conhecimento - 
investiga as próprias ciências, criticando seu conhecimento científico, sua filosofia e mesmo sua 
história. Ela pensa a teoria geral do conhecimento (ou gnoseologia) e a gênese e estruturação das 
ciências. Quando falamos de racionalismo, empirismo, do aprendizado das crianças estamos falando 
de epistemologia. 
- Epoché: em grego, significa a suspensão do juízo, método para obter paz. 
- Erística: de Eris, a deusa da discórdia. É a arte da disputa, desenvolvida pelos sofistas. No sentido 
pejorativo, é a argumentação que visa a vitória contra o adversário. 
- Escolástica: termo que significa “pensamento da escola”, representa o pensamento difundido nas 
Universidades europeias a partir da Baixa Idade Média. Em São Tomás de Aquino, é caracterizada pela 
tentativa de conciliar o pensamento Aristotélico com a tradição cristã. A escolástica, cabe frisar, 
sobreviveu em muitas universidades após ser criticada pelos humanistas e protestantes. 
- Esotérico: do grego, esoterilvos, do interior. Na Grécia, era o ensino ministrado nas escolas gregas. 
Atualmente, o termo é utilizado para designar o ensinamento ou doutrina secreta. 
 
 6 
- Estética, do grego aisthetikós, sensações. O termo foi criado por Baumgarten (XVIII) para nomear a 
ciência que estuda a beleza, aquilo que agrada aos sentidos. Atualmente, existem várias correntes que 
pensam a estética e muitas noções sobre o que é o belo, a arte e o agradável. 
- Estoicismo: corrente filosófica grega que prega um equilíbrio entre o homem e o cosmo, com a 
finalidade de obter a paz de espírito, um estado no qual o homem não é afetado pelos problemas da 
vida. 
- Ética ou Filosofia Moral: do grego, “ethikós”, casa comum ou aquilo que diz respeito aos costumes. 
Ramo da filosofia que reflete sobre os problemas fundamentais da moral e sobre as regras de conduta 
universalmente válidas. Diferentemente da moral, a ética busca elaborar uma reflexão sobre as razões 
de se desejar a justiça e a harmonia e sobre os meios de alcança-las. A moral, pelo contrário, relaciona-
se mais a um conjunto de regras destinadas à assegurar uma vida comum harmônica. 
- Eudaimonia: traduzido como felicidade, a origem da palavra representa “ser governado com um 
bom gênio” ou “bom demônio”. O daímôn era uma entidade na filosofia grega. 
- Existencialismo: corrente filosófica cuja proposição máxima é “a existência precede a essência” 
(Sartre). Não existindo uma essência humana, cabe ao homem construir-se pelas suas escolhas. 
- Exotérico: oposto de esotérico, eram os ensinamentos que, na Grécia Antiga, eram ministrados ao 
público, e não apenas aos alunos da escola. 
- Fatalismo: do latim fatum, destino. É uma doutrina que acredita existir um destino ou necessidade 
de que os homens não podem escapar. 
- Filosofia: philo significa amor ou amizade, e sophia significa conhecimento. A filosofia, em sua 
origem, representa o amor ao conhecimento. Historicamente, entretanto, a palavra sofreu várias 
transformações. Frequentemente, era utilizada para designar a totalidade do saber. Atualmente, pode 
designar muitas coisas. Por exemplo, significa tanto uma reflexão sobre um campo do saber (filosofia 
do direito, filosofia da matemática, filosofia da ciência, filosofia da arte, etc), quanto um campo do 
saber universitário que se dedica ao estudo da história da filosofia. 
- Forma: em Aristóteles, é o princípio de determinação da matéria, isto é, aquilo que a torna 
“definível”, faz sê-la o que é. 
- Genealogia: designa a origem (gene) de determinada ideia, como faz Nietzsche em A Genealogia da 
moral, quando questiona a origem de nossos valores morais. Michel Foucault retoma o método de 
Nietzsche para investigar a origem de nossos conceitos e discursos. 
- Hedonismo: de hedoné, que significa prazer, é um nome dado a diversas doutrinas que colocam o 
prazer como um princípio máximo da vida humana. Pode ser associado tanto à escola epicurista, que 
prega a busca por prazeres moderados e bons em longo prazo, quanto a um pensamento egocêntrico 
preocupado com a satisfação individual. 
- Helenístico: refere-se à influência da cultura grega (helênica) no Oriente (Egito, Síria, Pérsia, 
Mesopotâmia) na Antiguidade, período iniciado pelas conquistas de Alexandre o Grande (333-323 
a.C.) e que se estende até o fechamento das escolas de filosofia no Império Bizantino pelo Imperador 
Justiniano (525 d.C.) 
- Holismo: do grego holos, totalidade. É um pensamento que, ao invés de considerar o todo como 
soma das partes, o enxerga como uma unidade, de forma que as partes só podem ser compreendidas 
a partir do todo. 
- Humanismo: movimento intelectual renascentista que se esforça por defender o homem, a razão e 
o espírito crítico contra a escolástica. Nas universidades renascentistas, os humanistas eram aqueles 
que valorizavam uma sólida cultura clássica. Na contemporaneidade, os humanistas são aqueles que 
acreditam que o homem fabrica a si mesmo. 
 
 7 
- Idealismo: usualmente, idealismo significa uma ausência de compromisso com o mundo concreto. 
Em filosofia, o idealismo compreende diversas correntes que têm em comum a interpretação da 
realidade a partir das ideais. O idealismo radical leva ao solipsismo, isto é, a crença de que todo o 
mundo não passa de uma criação de nossa mente. 
- Inatismo: crença de que certos pensamentos são inatos, isto é, pertencem à natureza humana. A 
ideia de reminiscência de Platão é uma forma clássica de inatismo, pois acredita que a alma carrega 
ideias do mundo inteligível, isto é, o mundo das ideias, que é acessível apenas pelo conhecimento, e 
não pelos sentido (mundo sensível). Em Descartes, as ideias inatas são a base de sua teoria do 
conhecimento. 
- Indução: uma forma de raciocínio que se processa a partir da observação, movimentando-se do 
particular ao geral. 
- Inefável: aquilo que não pode ser expresso em palavras. 
- Lógica: estudo dos princípios e estruturas relativos à argumentação válida. 
- Logos: termo fundamental da filosofia antiga, que pode significar razão, palavra ou discurso racional. 
- Maiêutica: do grego, maieutiké, trabalho de parto. Sócrates afirma que, se sua mãe era parteira de 
crianças, o filósofo era parteiro de ideias: a maiêutica seria o trabalho filosófico de despertar nos 
homens o pensamento, de maneira que eles são levados a reconhecer a própria ignorância. 
- Materialismo: diversas correntes de pensamento que têm em comum a crença de que o mundo 
material é anterior e independente de qualquer consciência. Os materialistas mais radicais chegam, 
inclusive, a reduzir a consciência à matéria. 
- Metafísica: significa, literalmente, “além da física”, isto é, “além da natureza”, já que physis significa 
“natureza.” Metafísica é a pretensão do conhecimento de ultrapassar o campo da experiência 
possível, da aparência das coisas, para entender aquilo que se oculta. No mundo clássico e medieval, 
a metafísica é o campo da filosofia que investiga as causas gerais e essências do Ser (ontologia, aqui 
parte da metafíscia), o ser humano em seu aspecto geral, e não suas particularidades e investiga 
também tudo que diz respeito ao divino. É Kant que impõe limites à metafísica, ao mostrar que a razão 
coloca para siquestões que não podem ser respondidas. 
- Mitologia: conjunto de mitos de uma determinada tradição. Geralmente, são criações coletivas, 
transmitidas oralmente e de origem cronológica indeterminada, recorrendo ao mistério e ao 
sobrenatural para explicar a realidade. No mundo contemporâneo, a palavra “mitologia” costuma ser 
associada ao erro ou ao engano. 
- Moral: do latim moralis, costumes. São os costumes, valores e normas de uma sociedade ou cultura, 
diferente da ética, que considera a ação humana em seu sentido mais abstrato e reflexivo. 
- Niilismo: do latim nihil, nada. Em Nietzsche, designa a crença de que os valores ocidentais (progresso, 
Deus, ciência, razão) representam a decadência da Europa, pois seriam a própria consagração do nada. 
O niilismo de Nietzsche nos leva a defender valores que afirmem a vida. 
- Nominalismo: corrente filosófica que se origina na Idade Média, com Guilherme de Ockham, e cuja 
proposição básica é a crença de que as ideias ou conceitos universais não possuem existência real. 
Pelo contrário, não passam de nomes. 
- Númeno: em Kant, significa a coisa-em-si, a realidade em si mesma, e não a realidade para nós, isto 
é, concebida a partir do que nossa mente é capaz de pensar. 
- Ontologia: designa o estudo de uma questão fundamental da metafísica, a questão do “ser”. Alguns 
autores colocam a ontologia como parte da metafísica, enquanto outros colocam-na como 
equivalente a ela. 
 
 8 
- Ortodoxia: vem de orto, que significa correto, e doxa, que significa opinião. A ortodoxia é a maneira 
como uma concepção religiosa, política ou filosófica consideram-se corretas. 
- Patrística: termo que designa a filosofia dos “pais” da Igreja Católica, os apologetas, cujo principal 
expoente é Santo Agostinho. A Patrística, sucedida pela Escolástica, representa a formação da base 
filosófica da doutrina cristã, sendo dominante entre o fim do Império Romano e o advento da 
escolástica. 
- Peripatética: do grego peripatetikós, caminhar. Remete à tradição segundo a qual Aristóteles 
ensinava filosofia enquanto caminhava em seu Liceu. 
- Praxis: em Marx, designa a maneira pela qual o homem, ao transformar a natureza pelo seu trabalho, 
também se transforma a si mesmo. 
- Racionalismo: corrente filosófica que, privilegiando a razão como fonte de todo conhecimento 
possível, nos séculos XVII e XVIII opôs-se ao empirismo ao pensar que o conhecimento não deriva 
totalmente da experiência, existindo, de acordo com Descartes, ideias inatas que, sendo a priori, 
dispensam as sensações. 
- Razão: “A capacidade de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, que é o que propriamente se 
denomina o bom senso ou razão, é naturalmente igual em todos os homens" (Descartes, Discurso do 
método, I) 
- Sofisma: raciocínio incorreto ou enganador, que produz uma ilusão de verdade. O nome deriva dos 
sofistas, professores de filosofia da Grécia Antiga, muito criticados por Sócrates. 
- Super-homem: em alemão, Ubermensch: designa, em Nietzsche, o homem superior, livre de todo 
medo e ressentimento, que não procura além das estrelas uma razão para viver, que supera-se a si 
mesmo e vive de acordo com sua liberdade e potência. 
- Tábula rasa: expressão utilizada por John Locke para se opor ao inatismo, defendendo que todo 
conhecimento humano provém da experiência. 
- Transcendental: em Kant, a filosofia transcendental é aquela que se ocupa com as condições de 
possibilidade de conhecimento, isto é, do que é possível à razão conhecer. A Revolução Copernicana 
de Kant é, justamente, quando a filosofia passa a se ocupar com as possiblidades da razão. 
- Utilitarismo: doutrina filosófica que, segundo Stuart Mill, defende que "as ações são boas quando 
tendem a promover a felicidade, más quando tendem a promover o oposto da felicidade". 
- Utopia: termo criado por Thomas Morus em 1516 significando o “não lugar”. Nesse livro, utopia 
designa uma ilha perfeita onde todos viveriam felizes. Atualmente o termo designa o projeto de uma 
sociedade ideal e perfeita. No sentido negativo, utopia é algo irreal, fantasioso. No sentido positivo, a 
utopia é entendida como aquilo que nos move: mesmo que a perfeição não seja atingida, é preciso 
busca-la e tê-la em vista para que exista progresso ou mudança. 
 
Material de Apoio 
Filosofia 
Prof. Daniel Gomes 
 
 
1 
OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS 
 
 A. Tales de Mileto1: água (hydron) era a origem (physis) de todas as coisas. Tales foi o 
primeiro a pensar que, no fundo, "tudo é um", ou seja, há uma unidade geral do universo, algo 
comum que compõe tudo, a água. 
 
B. Anaximandro de Mileto: introdutor do conceito de "princípio", para ele, o princípio do 
universo 
seria o ápeiron (palavra que significa infinito ou ilimitado). Sendo o princípio de tudo que 
existe, o ápeiron não tem princípio nem fim, é eterno. Por que o universo necessariamente deve ter 
uma origem? Porque nada pode ter origem no "nada", uma vez que, do nada, nada sai; logo, tudo 
possui uma origem. Além disso, tal origem deve ser imortal, posto que, se fosse mortal, ela própria 
teria outra origem - "o verdadeiro critério para o julgamento de cada homem é ser ele propriamente 
um ser que absolutamente não deveria existir, mas se penitencia de sua existência pelo sofrimento 
multiforme e pela morte: o que se pode esperar de tal ser? Não somos todos pecadores condenados 
à morte? Penitenciamo-nos nos de nosso nascimento, em primeiro lugar, pelo viver e, em segundo 
lugar, pelo morrer." 
 
C. Pitágoras de Samos: a verdadeira essência do universo é o arithmós. Ao descobrirmos a 
estrutura numérica de todas coisas e, assim, vemos sua relação com o cosmo. Os números não 
seriam, portanto meros símbolos a exprimir o valor das grandezas: para os pitagóricos, eles são 
reais, são a própria "alma das coisas". 
Diz Nieztsche, explicando Pitágoras: "a música, como tal, só existe em nossos nervos e em 
nosso cérebro; fora de nós compõe-se somente de relações numéricas quanto ao ritmo, se se trata 
de sua quantidade, e quanto à tonalidade, se se trata de sua qualidade, conforme se considere o 
elemento harmônico ou o elemento rítmico. No mesmo sentido, poder-se-ia exprimir o ser do 
universo, do qual a música é, pelo menos em certo sentido, a imagem, exclusivamente com o auxílio 
de números" 
 
D: Heráclito de Éfeso: ao contrário de Zenão e Parmênides, defendia que o movimento e a 
transformação não apenas existem como também constituem a essência das coisas. Heráclito disse, 
por isso, que "tudo flui (panta rei), nada persiste, nem permanece o mesmo". Como o fogo (pyr), o 
universo parece permanecer inalterado, mas está em mudança constante: "Tu não podes entrar 
duas vezes no mesmo rio, porque novas águas correm sempre sobre ti". 
 
E. Parmênides de Eleia: Na "via da opinião" (doxa), os mortais, por confiarem em seus 
sentidos, não chegariam à verdade (aletheia), permanecendo nas convenções de linguagem. 
Parmênides, assim, desconfia dos sentidos, afirma que eles nos enganam, nos levam ao erro Como, 
então, saber da verdade ("Via da Verdade")? Não devemos confiar nos sentidos, mas apenas na 
razão. Parmênides é o primeiro filósofo a identificar claramente a distinção entre realidade e 
aparência2 – ele é o primeiro filósofo a dizer que a Verdade não reside em nossos sentidos, mas nas 
abstrações! Assim, para Parmênides, por mais que os sentidos digam que no mundo há movimento 
 
1 Evidentemente, outros podem ter formulado teorias que desvinculassem razão e mito; Tales é apenas o primeiro filósofo ocidental que conhecemos. 
2 Veremos muitos filósofos distinguindo essência e aparência. Tal distinção é fundamental para toda a ciência, pois, como disse Karl Marx, "se a aparência e a essência 
das coisas coincidissem, a ciência seria desnecessária". 
 
 
 2 
e que tudo é mutável e móvel, a razão nos afirma ser tudo eterno, imóvel, imutável, pleno, contínuo, 
homogêneo e indivisível. Por quê? O nada, o não-ser, não existe,não é, não pode ser! O movimento, 
portanto, não existe: se o nada não existe, para onde iriamos nos movimentar? O ser é indivisível, 
pois onde está a segunda potência que devia dividi-lo? Ele é imóvel, pois para onde ele devia 
movimentar-se?. 
 
F. Zenão: discípulo de Parmênides, ele mostrou com quarenta argumentos que o 
movimento e a mudança não existem, mas são apenas ilusões. Dos quarenta, quatro foram 
conservados. Vejamos o argumento da dicotomia. Imagine um atleta querendo correr uma distância 
de 60m. Para chegar ao final do percurso ele primeiro terá que passar no ponto que corresponde a 
1/2 (metade) do percurso, depois no próximo ponto que corresponde a 2/3 do percurso, depois 3/4 
do percurso, para assim chegar a 4/5 do percurso e depois 5/6 do percurso e depois 30/31 do 
percurso ao ponto correspondente a 199/200 e depois ao ponto 5647/5648 do percurso (que 
numericamente corresponderia a 59,9893798 metros), tendendo assim a ser um número infinito de 
pontos antes que o corredor chegue ao final. Se admitirmos que o espaço é infinitamente divisível 
e que, portanto, qualquer distância finita contém um número infinito de pontos, chegamos à 
conclusão de que é impossível alcançar o fim de uma série infinita num tempo finito. Assim, Zenão 
acreditava ter provado que, apesar de nossos sentidos afirmarem que o movimento existe, é 
absurdo admitir sua existência. 
 
G: Empédocles o universo poderia ser entendido como o resultado de quatro raízes 
(rizómata) — a água, o ar, a terra, o fogo. Essas raízes são "iguais", ou seja, nenhuma é mais 
importante, nenhuma é mais antiga e todas são eternas e imutáveis: "Não há nascimento para 
nenhuma das coisas mortais; não há fim pela morte funesta; há somente mistura e dissociação dos 
componentes da mistura. Nascimento é apenas um nome dado a esse fato pelos homens". Não há 
mudança real na natureza, apenas um rearranjo de elementos. 
 
H: Atomistas: Leucipo e Demócrito de Abdera teriam concluído que para o movimento 
existir era necessário existir o vazio. São os primeiros, portanto, a pensar a existência do vazio. 
Também pensaram: de longe, uma praia parece ser uma coisa só; de perto, percebe-se que é 
composta por minúsculos grãos de areia. Assim também seria o universo, ou seja, composto por 
átomos, partículas corpóreas, indivisíveis e invisíveis. Todos os nomes (frio, calor, etc) são apenas 
convenções – tudo que há são átomos e suas disposições (por isso, alguns os chamam de os 
primeiros materialistas da história)! 
 
Atenção: Três características gerais dos filósofos pré-socráticos: 
I. Eram estudiosos da natureza (physis) – nas palavras de Aristóteles, opinam sobre uma 
natureza original de tudo, discordando da posição de que tudo seria transformação e mutação 
sem uma essência. Ao buscar entender a organização racional do universo, a partir de princípios 
e leis que o regem, dizemos que eram voltados para a cosmologia, ou seja, a busca por entender 
a razão que rege o universo. Também debatiam acerca da ontologia, isto é, a natureza do ser. 
II. Buscavam encontrar uma relação de causalidade entre os fenômenos. 
III. Buscavam um princípio ou elemento primordial (arkhé) a partir do qual explicariam 
os fenômenos naturais (a água, o apeiron, ou o átomo, por exemplo). 
 
Material de Apoio 
Filosofia 
Prof. Daniel Gomes 
 
 
1 
OS SOFISTAS E SÓCRATES 
 
1. Os Sofistas - (Sophistés) = Mestres do Saber 
A. Uma virada antropológica! 
Os sofistas foram muito desvalorizados pela tradição ocidental, tidos como meros retóricos 
ou falaciosos. Esta, entretanto, é uma visão incorreta, imposta por Platão, a qual acabamos, por 
vários motivos, seguindo. Os sofistas, pelo contrário, operam uma verdadeira revolução espiritual 
na Grécia Antiga, e sem eles não haveria Platão e Aristóteles: com os sofistas, deslocou-se o eixo da 
reflexão filosófica da physis e do cosmos para o homem e aquilo que concerne a vida do homem 
como membro de uma sociedade, isto é, a ética, a política, a retórica, a arte, a língua, a religião e a 
educação. Inicia-se o período humanista da filosofia antiga. 
 
B. Educação. Porque enquanto os aristocratas viam o conhecimento como algo livre e 
desinteressado, os sofistas tinham um interesse prático: buscar alunos e conseguir dinheiro. Os 
sofistas, ao contrário dos filósofos pré-socráticos, consideravam-se professores, ou seja, 
acreditavam que tinham posse do conhecimento e, por isso, poderiam transmiti-lo 
 
Em contrapartida, os sofistas são importantes para a noção de educação e de que a 
virtude não depende da nobreza, mas se funda no saber – numa época em que a democracia 
ateniense se formava, eles são os primeiros a colocar em questão o compromisso pedagógico. Se 
a primeira geração de Sofistas (como Protágoras e Górgias) eram considerados “dignos de 
respeito” por Platão, outros chegarão aos excessos se concentrar na erística, isto é, na arte de ter 
razão, com a noção de que, com uma consistente argumentação, qualquer ideia pode ser 
defendida 
 
C. Relativismo: O momento sofista caracteriza-se por uma percepção: nada é eternamente 
válido, e o que tem valor em uma época, é desprovido de importância em outra. Essa é a grande 
descoberta dos sofistas. A grande característica desses filósofos sofistas é acreditar que não existe 
Verdade objetiva e absoluta e, assim, tudo aquilo que chamamos Verdade não passa de uma 
convenção, uma opinião. Tudo é relativo: não existe uma essência no mundo, mas tudo muda 
conforme a época e a sociedade; cada geração possuiria, por exemplo, uma moral diferente, de 
maneira que a ideia de certo e errado, variam conforme as diversas sociedades. Pela primeira vez, 
era relativizada, assim, a moral – e essa é a grande importância histórica dos sofistas. 
 
D. Retórica: sendo a Verdade uma convenção, os sofistas, homens que sabiam argumentar, 
persuadir e falar em público - ou seja, eram mestres da retórica1 - poderiam defender qualquer 
posição2. O sofista Protágoras, em sua Antilogia, buscou mostrar como todos podem ser vencidos 
numa discussão, pois sempre há contradições num discurso. “O homem é a medida de todas as 
coisas, das que são, que elas são, e das que não são, que elas não são” – tudo é relativo e, portanto, 
a sabedoria consiste em saber qual é a verdade mais útil, mais conveniente e, portanto, mais 
oportuna O sofista Górgias de Leontini passou a defender que a verdade não pode ser conhecida, 
pois tudo o que sabemos são palavras, o nome das coisas, e não elas mesmas. Enquanto Protágoras 
era um agnóstico, Górgias chega a falar que tudo é sem fundamento, tudo é vazio (niilismo). 
 
1 Retórica: arte ou técnica de discursar ou escrever de forma persuasiva ou comovente; eloquência; oratória; discurso primoroso. 
2 Por essa razão, hoje se chamam sofismas os enganosos jogos de palavras. 
 
 2 
 
 
Tudo é relativo, mas o Relativismo e uma posição filosófica correta? Hoje, é correto dizer, 
como sustentavam os sofistas, que são todas as opiniões válidas e todas as verdades pessoais? Se 
todos podem ter sua verdade, e aqueles que rejeitam as outras verdades, como seriam aceitos? 
Todas as culturas devem ser respeitadas ao extremo ou há limites? E quem impõe esses limites? 
Cabe a você refletir. Podemos comparar os sofistas com os relativistas de hoje, que acreditam que 
"tudo é questão de opinião" e que "cada um tem sua própria verdade". Muitos consideram essa 
posição demasiado superficial e um tanto perigosa. Como disse recentemente o famoso sociólogo 
português Boaventura de Souza Santos: “Todas as cultuas são relativas, mas o relativismo cultural 
enquanto atitude filosófica é incorreto”. O que você pensa? 
 
Cabe a nós lembrar que, no mercado de Atenas, apareceu a figura de Sócrates, criticando 
fortemente os sofistas; para ele, as ideias sofistas não levam os homens ao conhecimento 
verdadeiro, mas apenas à opinião. Sócrates vai dizer também que, na democracia ateniense, muitas 
decisõesestavam sendo tomadas não com base no saber, mas na retórica. Sócrates rejeita o 
relativismo e lembra que existe uma verdade, não obstante ninguém ter posse dela. 
 
3. Sócrates 
 
VIRTUDE 
 
Nasce, com Sócrates, uma nova concepção de virtude (areté): não deveis cuidar do 
corpo, nem das riquezas, nem de qualquer outra coisa antes e mais do que da alma, de modo que 
ela se torne ótima e virtuosa; não é das riquezas que nascem as virtudes. O homem é definido por 
sua alma (alma, aqui, significa inteligência, a psyché) – o vício é a privação da ciência, a virtude é o 
conhecimento. O homem virtuoso e livre é um homem dominado pela razão, e não escravo dos 
instintos, e não vítima dos desejos. 
Muda-se, assim, o conceito de herói: antes, o herói era alguém capaz de vencer todos os 
inimigos, todos os perigos, todas as adversidades e o cansaço externo; agora, o herói é aquele 
que, livre, vive de seu conhecimento: “somente o sábio, que esmagou os monstros selvagens das 
paixões que se lhe agitam o peito, é verdadeiramente suficiente a si mesmo”. A felicidade (em 
grego, eudaimonia, na origem da palavra o “bom demônio”, isto é, aquele que teve a sorte de ter 
um bom demônio guardião, que garante sorte e prosperidade) não vem das coisas exteriores, mas 
somente da alma. O sujeito Socrátes ensinava: “seja o que você gostaria de parecer aos outros” – 
o homem, devido à capacidade de pensamento, traz em seu interior uma testemunha da qual não 
pode fugir, onde quer que fosse, isto é, sua consciência. 
 
 
A. Nada Sei: o oráculo de Delfos declarou Sócrates o maior sábio da Grécia, dizendo: "sábio 
é Sófocles, mais sábio é Eurípedes, mas entre todos os homens, Sócrates é sapientíssimo". 
Categoricamente, o filósofo afirmou: “Só sei uma coisa. E é que nada sei”. Ele sabia o quão pouco 
sabia perante imensas e intermináveis questões da vida e do mundo, e isso era a maior prova de 
sua sabedoria. Ao contrário dos sofistas, Sócrates não cobrava por seus ensinamentos, 
simplesmente se autodenominava um “amante da sabedoria”. O reconhecimento da própria 
 
 3 
ignorância é o primeiro passo para a busca da Verdade. A Verdade existe, sim; ela não é, entretanto, 
propriedade de nenhum homem, e ser filósofo é estar numa incessante busca por ela – para 
Sócrates, dizer, como os jovens fazem no século XXI, que “cada um tem sua verdade”, é uma atitude 
antifilosófica. "E o que é senão ignorância, a mais reprovável, acreditar saber aquilo que não se 
sabe?" (Fonte: Platão, Apologia de Sócrates) 
 
 
"A vida não refletida não vale a pena ser vivida". 
 
B. Conhece-te a ti mesmo: Sócrates acreditava que ouvir a si mesmo era a maior fontes de 
sabedoria. Repetindo o oráculo de Delfos, dizia: “conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo”. 
 
 σαυτόν ίσθι 
 
C. Dialética: Sócrates costumava andar pelas ruas de Atenas e abordar algum jovem ou 
erudito, dialogando com eles no meio de toda a gente. O diálogo, suscitando a busca pela verdade, 
era a forma de livrar a alma do erro. A partir do diálogo, qualquer um, de forma autônoma, pode 
ser um filósofo3. Como agia nosso filósofo? 
 
 
 Exortação: Sócrates apresentava-se ao seu interlocutor, convidando-o à jornada para 
a sabedoria; 
 
 
 Indagação e Ironia Socrática: comportando-se como um ignorante ávido pelo 
conhecimento de seu interlocutor, o qual se julgava sábio, começava a questioná-lo. 
 
 Maiêutica: Sócrates continua a fazer diversas perguntas, mostrando as contradições 
e pontos fracos de seu interlocutor, levando-o a questionar as próprias verdades pré-
estabelecidas e, assim, parir uma nova concepção (maiêutica) Por isso Sócrates diz ter uma 
função semelhante à de sua mãe: enquanto ela era parteira de crianças, ele era parteiro das 
ideias, ou seja, dava luz à razão. (Ver filme Sócrates, Roberto Rossellini, 1971) 
 
Retórica VS Dialética: 
Enquanto a retórica busca encontrar argumentos para persuadir um auditório, a dialética 
serve-se de perguntas e respostas. A dialética é a técnica de discutir com um adversário, tentando 
refutar a tese deste ou tentando não deixar que este lhe refute a própria tese. Aquele que ataca 
levanta perguntas, e essas, em geral, supõem respostas endoxais (endoxais é o mesmo que 
verossímil e o contrário de paradoxal, um adjetivo que caracteriza uma opinião compartilhada por 
todos ou pela maioria) das quais quer deduzir uma contradição com a tese do adversário. 
 
 
D. A Morte de Sócrates: Sócrates era, na verdade, um questionador, figura que incomoda 
as sociedades todas as épocas. Acusado de corromper a juventude de Atenas e não reconhecer a 
 
3 No Diálogo Fédon, por exemplo, Sócrates faz um escravo, que nunca foi alfabetizado, provar um teorema geométrico. 
 
 4 
existência dos deuses, foi condenado à morte. Por mais que seus amigos quisessem o libertar, o 
sábio se recusava, pois fugir de sua condenação seria renegar suas próprias ideias: "conservando a 
vida, eu me tornaria indigno. Não me peças que eu mate a minha palavra". Ele suicidou-se antes de 
sua execução, utilizando para isso um cálice de cicuta4: 
 
Eu digo cidadãos que me haveis matado, que uma vingança recairá sobre vós logo depois 
da minha morte , bem mais grave do que aquela pela qual vos vingastes de mim , matando - me. 
Hoje, vós fizestes isso na esperança de que vos tereis libertado de ter que prestar contas de vossa 
vida. no entanto, vos acontecerá inteiramente o contrário: eu vô-lo predigo. Não serei mais somente 
eu, mais muitos a vos pedir contas (Platão, Apologia de Sócrates). 
 
 
 
4 Xenofonte, em sua Memorabilia, trata das concepções de Sócrates sobre Deus, a mais antiga tentativa de provar racionalmente Sua existência. Tais são os 
argumentos: 1) tudo que está constituído para alcançar um objetivo e um fim pressupõe uma inteligência que o produziu 2) esta inteligência não pode ser vista, é fato; 
entretanto, a nossa própria inteligência (alma) não pode ser vista também, entretanto ela existe em tudo o que fazemos 3) a preexcelência que o homem tem sobre os 
outros animais mostra nossa posição especial no Cosmos 4) O homem possui, em si, elementos que estão presentes em todo o universo; isso indica que há, fora de 
nós, uma inteligência. 
 
Material de Apoio 
Filosofia 
Prof. Daniel Gomes 
 
 
1 
PLATÃO E O MUNDO DAS IDEIAS 
1. Platão e seu contexto 
 
1. A. Contexto: Aristocnes - "Platão" ou "Platon" seria um apelido derivado da largura de 
seus ombros - Serviu no exército entre 409 e 404 a.C., final da Guerra do Peloponeso. Após a guerra, 
se estabeleceu a oligarquia em Atenas, em 404a.C., o chamado governo dos Trinta Tiranos (um deles 
Carmides, tio de Platão) para, em seguida, a democracia ser restabelecida. Foi nesse contexto que 
Platão viu a condenação de Sócrates em 399 a.C.. A Filosofia de Platão pode ser vista como uma 
resposta ao fracasso e decadência da democracia ateniense. 
 
1. B. Academia: Platão fundou a Academia, que existiu por nove séculos, até ser fechada 
pelo imperador cristão Justiniano. 
 
2. A Dialética Platônica 
 
2. A. O Diálogo: 
 Platão escreveu em forma de diálogo - nos livros de Platão, não vemos uma exposição 
sistemática de uma filosofia, mas, por exemplo, conversas entre Sócrates sobre justiça, amor, 
virtude, etc. O próprio Platão não figura em seus diálogos. 
 
 O diálogo é a melhor maneira de se buscar a Verdade; ele opõe-se à violência, à força 
física e à retórica manipuladora dos sofistas. Através do diálogo a opinião, que se crê certa de si 
mesma, ao se expor, revela-se contraditória, inconsequente. 
 
 Nesse sentido, Platão chama de dialética a conversão do sensível ao inteligível, o 
procedimento pelo qual a alma se liberta das aparências para se abrir ao conhecimento das Ideias 
verdadeiras. A dialética nos leva ao verdadeiro saber. 
. 
2. B. Objetivo da filosofia: estabelecer um método que deve superar o sensocomum e ser, 
por meio da razão, universal, aceito por todos, independentemente da origem, classe ou função. 
 
Atenção: Dialética para Platão (há outros conceitos de dialética): 
Arte de argumentar por questões e respostas em uma situação dialógica, conduzindo às 
Ideias verdadeiras. 
 
3. Epistemologia1: Teoria das Ideias ou Formas (forte influência de Sócrates, Parmênides, 
Zenão, Pitágoras e do orfismo), sendo o inicio da metafísica clássica. 
 
3. A. Reminiscência e Inatismo: 
 Paradoxo de Ménon: diz Ménon a Sócrates: “como procurar por algo, Sócrates, 
quando não se sabe pelo que se procura? Como propor investigações acerca de coisas as quais nem 
mesmo conhecemos? Ora, mesmo que viéssemos a depararmo-nos com elas, como saberíamos que 
 
1 Epistemologia = temática do conhecimento, isto é, de uma representação correta do real, e o papel crítico da filosofia. 
 
 2 
são o que não conhecíamos?” Como o ser humano obtém, pela primeira vez, o conhecimento? Para 
conhecer um objeto, precisamos ser capazes de identifica-lo e conhece-lo. Mas, como identifica-lo 
se não sabemos o que é? 
A solução platônica: a alma traz consigo desde o seu nascimento (é o chamado inatismo) 
um conhecimento prévio, a priori, que lhe permite a identificação do objeto. Tais conhecimentos 
são as Ideias ou Formas. As Ideias ou Formas, assim, residiriam no mundo inteligível, fora do tempo 
e do espaço, e não no mundo sensível – isto é, acessível pelos sentidos - ou material. Os objetos do 
mundo comum organizam suas estruturas conformes a estas Ideias ou Formas primordiais, mas não 
são capazes de revelá-las em sua plenitude, sendo apenas imitações. Exatamente por ser inteligível, 
essa realidade do mundo das Ideias tem como características: ser metafísica, isto é, imaterial, ou 
incorpórea; ser una, isto é, reduz a multiplicidade das coisas sensíveis a uma unidade; ser eterna, 
por não se submeter ao ciclo de geração e degeneração das coisas do mundo sensível. 
 
 Maiêutica: quando a alma está no corpo, entretanto, tem uma visão das Formas ou 
Ideias, que são anteriores, distorcidas. A maiêutica, assim, consiste em despertar, reviver, relembrar 
esse conhecimento esquecido. A filosofia consiste na libertação da alma das distorções do mundo 
sensível – “a filosofia é a meditação sobre a morte” (Fédon). De alguma forma, somos espíritos 
presos na caverna do corpo. 
 
3. B. Dualismo platônico: 
 Dois Mundos: tendo isso em vista, existem dois mundos, qual seja, um anterior à 
experiência, o mundo das Formas ou Ideias, e o mundo concreto, sensível. Cabe ao diálogo e à 
maiêutica trazer à tona esse conhecimento ideal adormecido. 
 
 Alegoria da Linha Dividida: quais as Etapas para chegar ao conhecimento das Ideias 
ou Formas? 
 
I) O segmento inferior do real representa o mundo material ou visível, composto de 
objetos naturais, particulares, imperfeitos, perecíveis, conhecidos pela sensibilidade. 
II) O segundo tipo de relação com a realidade é a crença, ou convicção, que consiste em 
um conhecimento mais elaborado sobre o mundo, que incluiria, por exemplo, a botânica, a zoologia, 
estabelecendo classificações. 
III) Em seguida, passamos a buscar o mundo das Ideias (eide) ou Formas, realidades 
abstratas, perfeitas, eternas, imutáveis, inteligíveis. Nossa primeira chegada a esse mundo é a 
geometria, que, embora ainda guarde relações com o sensível, pensa idealmente: o triângulo, o 
quadrado e o círculo, por exemplo, são formas ideais. A matemática, assim, é a grande preparação 
para entrada no mundo das Ideias. 
IV) A etapa superior do conhecimento são as realidades inteligíveis pelo método 
dialético. Chegamos, assim, aos princípios mais elevados do ser, o âmago da realidade em seu 
sentido abstrato, genérico, básico. São os princípios últimos desta realidade. Platão é vago ao falar 
deste mundo, como se ele não fosse possível de ser explicado no discurso comum, mas precisasse 
ser vivido. 
 
 
 3 
 
3. C. Alegoria da Caverna e seu(s) significado(s): a famosa Alegoria da Caverna de Platão 
está presente no Livro VII da República. 
 
A Alegoria - começa com algumas pessoas no interior de uma caverna, acorrentadas desde 
a infância. Acorrentadas no pescoço e nos pés, elas não conseguem ver a saída da caverna, apenas 
sombras de figuras humanas que estão do lado de fora. Como essas pessoas vivem na caverna desde 
que nasceram, acham que as sombras são a única coisa que existe. Porém, em determinado 
momento, um habitante da caverna se livra das correntes. Nesse instante, começa a indagar de 
onde vêm as sombras e, assim, sai da caverna. Ao sair da caverna, a luz do sol, de início, ofusca seus 
olhos e o assusta. Em seguida, entretanto, seus olhos adéquam-se à luz do sol, e ele vê o mundo, e 
percebe que as sombras da caverna são apenas imitações baratas do verdadeiro mundo. Feliz, o 
homem, lamentando a sorte de seus companheiros presos, volta à caverna e conta o que viu. Os 
habitantes da caverna não acreditam no homem, dizem que tudo que existe são as sombras, e, por 
fim, matam-no. 
 
Seu significado: vamos, agora, interpretar a alegoria, como sempre nos pedem os 
vestibulares. 
 
 
A caverna - é uma alegoria ao modo que os homens permanecem antes da filosofia: 
homem comum, prisioneiro de hábitos, preconceitos, costumes e práticas que adquiriu desde a 
infância é um homem que está na caverna, e só consegue enxergaras coisas de maneira parcial, 
limitada, incompleta. A caverna representa, portanto, o domínio da opinião (doxa). Políticos e falsos 
filósofos (sofistas) teriam o interesse de manter os homens na caverna. 
 
 
Libertação - A partir da filosofia, o homem buscaria compreender o mundo, se libertaria 
das correntes e sairia da escuridão da caverna, tomando contato com a luz do sol. Por que o homem 
iria querer sair das sombras? No diálogo Fedro, Platão nos lembra que há, na alma humana, um 
conflito entre a força do hábito, que faz com que o prisioneiro se sinta confortável em sua situação 
familiar, e a força do eros, quer dizer, a curiosidade, o impulso, que o estimula para fora, para buscar 
algo além de si mesmo. 
 
 
O Sol e o Bem - O sol representa o Bem. Para Platão, assim como o sol é causa de nossas 
percepções graças à luz que emite, a Ideia do Bem é a fonte da verdade e da razão nos seres 
 
 4 
humanos, de onde derivam todas as demais ideias. O dever da filosofia era ensinar a usar a razão 
de maneira apropriada. “Não posso falar do Bem, posso falar apenas do filho do Bem (...) O que o 
sol é para o mundo sensível, o bem é para o mundo inteligível” – Bem: dá unidade e inteligibilidade 
às ideias 
 
 
Tarefa do Filósofo: Porém, os homens preferem ficar na escuridão, e, não compreendendo 
o filósofo, matam-no. Aquele que alcança o Bem e a Verdade, frequentemente, é visto pelos outros 
como um insensato. Sócrates, então, teria saído da caverna, e, ao contar aos homens o que viu, foi 
condenado à morte. A condenação de Sócrates representa a condenação da própria filosofia – a 
democracia, que acha que a vontade da maioria é a verdade (ou seja, que a opinião é a verdade) 
condena e mata homens como Sócrates!. De qualquer forma, compete ao filósofo a tarefa de 
mostrar aos homens a verdade, libertando-os das amarras da ignorância. Para Platão o filosofo, 
podemos dizer, tem uma função social político-pedagógica, de ajudar os homens. Veja, portanto, 
como não é correta a ideia de que ser "platônico" é ser alguém contemplativo. 
 
 Platão e as Artes? Platão define as belas-artes como instâncias da imitação e como o 
inverso do verdadeiro saber. Como assim? Ao copiar o mundo empírico, que já é uma cópia do 
Mundo Ideal, a arte é, semelhante à opinião sensível. Assim, as belas-artes estão “a uma distância 
de três graus da verdade” (República 602c). 
 
4. A REPÚBLICA (POLITEIA) 
 
 Estado: Em A República, Platão admite que o Estado é necessário, pois nós somos 
incapazes de garantir uma existênciafeliz individualmente; da necessidade de cooperação entre os 
homens para a felicidade, a autopreservação e a existência, surge o Estado. 
 
 Tipos falhos de governo: Em A República, no livro 8, Platão, classifica os tipos de 
governo em cinco, quatro falhos e um justo. O sistema mais justo seria a aristocracia, na qual os 
governantes seriam os "melhores", e os "melhores" seriam os "mais sábios"; 
 
Degeneração: Timocracia – oligarquia – democracia – democracia - A timocracia, governo 
militar, dos mais ambiciosos ou honrados, marcado pela disciplina, seria negativa, pois coloca a 
honra e a ambição acima da sabedoria e da razão e, por consequência, coloca os feitos militares 
acima dos intelectuais – o que é muito reprimido e disciplinado se degenera em ambição. Daí, a 
degeneração da timocracia é a oligarquia, que Platão identificava como governo dos mais "ricos", 
é negativa, pois os governantes são dominados pelo desejo de riqueza, e não pela razão. Então, a 
oligarquia se degenera em democracia, reino da liberdade absoluta, também como um governo 
falho, uma vez que o povo não estaria apto a selecionar os melhores governantes, e acabaria vítima 
da demagogia. Na democracia, o pai teme o filho e o professor teme o aluno. A democracia, 
portanto, valoriza as paixões, a opinião, o interesse e não o conhecimento2. A anarquia se instaura 
e, então, a democracia se degenera em tirania, uma vez que aparece um salvador da pátria, um 
líder popular, inicialmente, faz tudo o que o povo deseja, e depois, por meio de conspirações, roubo 
 
2 Pense você: como rebateria esses argumentos? qual seus argumentos para defender a Democracia? Para pensar nesse assunto, deixo a famosa sentença de 
Norberto Bobbio: “A única solução para os males da democracia é mais democracia". 
 
 5 
e manipulação, faz o que ele próprio quer. O tirano é aquele que é dominado pelas próprias paixões 
(é tirano de si, é um tipo psicológico que realiza todos os desejos) e faz acordado o que os outros só 
podem fazer sonhando. 
 
 O Governo Ideal: assim, no seu livro A República, Platão idealizou a forma ideal de 
governo, uma aristocracia na qual os mais sábios deveriam governar: "enquanto os filósofos não 
forem reis, ou os reis não tiverem o poder da filosofia, as cidades jamais deixarão de sofrer". 
 
 O Estado ideal não possui famílias divididas, mas uma Grande Família, de modo que 
todas as crianças ao crescerem, chamam-se de "irmãos", ao passo que todos os adultos são 
chamados pelas crianças de “pai” e “mãe”. Não há na República platônica, portanto, a propriedade 
privada; toda propriedade é comum, sendo o Estado uma grande família, e os cidadãos irmãos. O 
Estado ideal deveria ser justo e racional, dividido em três: 
 
 
1) governantes ou guardiões (função política), composto pelos filósofos, ou seja, aqueles 
com a qualidade da sabedoria e virtude, únicos capazes de governar por serem os conhecedores da 
realidade imutável. Os governantes não devem ter nem propriedade, nem família. 
2) soldados (função militar), composto por aqueles com coragem. Coragem é definida 
como a força de preservar, em todas as circunstâncias, a verdadeiras opiniões 
3) trabalhadores (função produtiva), ou seja, comerciantes, médicos, artesãos, 
camponeses. Um Estado justo é caracterizado pelo equilíbrio entre as três partes, estando o 
governo na parte filosófica. 
 
 
"Ora, estabelecemos, e repetimos muitas vezes, se bem te recordas, que cada um deve 
ocupar-se na cidade de uma única tarefa, aquela para a qual é melhor dotado por natureza" 
 Platão, "A República". Livro IV, 432 d - 433 b. 
 
A divisão do Estado em três partes corresponde à divisão da alma humana, que, para 
Platão, possui: 
1) Uma região racional ou calculadora, que reside na cabeça (ouro) 
2) Uma região, que reside no peito, a região irascível, e gera o ímpeto, a emoção (prata) 
3) E, por fim, uma região concupiscível ou apetitiva, que correspondente ao desejo, ao 
apetite, e reside no abdome (bronze)3 
 
O homem justo é aquele cuja razão sobrepõe-se às outras duas partes da alma, 
balanceando-as, coodenando-as, residindo aí a harmonia entre as partes (boa vida = prazer + 
reflexão). Tanto em nós quanto no governo, a justiça (dikê) corresponde à harmonia; a injustiça, 
à desarmonia. A Justiça é aqui entendida não como uma distribuição equânime da igualdade, mas 
como a necessidade de que cada um reconheça o seu lugar na sociedade segundo a natureza das 
coisas e não tente ocupar o espaço que pertence ao outro. 
 
3 Quando a razão domina a região concupiscível surge a temperança, e quando domina a irascível, a fortaleza. As quatro virtudes naturais, chamadas depois cardeais 
são: prudência, fortaleza, temperança e justiça. 
 
 
 6 
 
Como seriam escolhidos aqueles que iriam pertencer a cada classe? No Estado ideal, 
todos, homens ou mulheres, deveriam estudar desde a infância, e fazerem diversos testes. Seriam 
feitos, ao longo da vida, vários testes, junto com o estudo de matemática, literatura, música, guerra, 
treinamento físico e dialética. Aqueles que fossem deixados para trás no teste, iam sendo 
agricultores, comerciantes, militares, e assim por diante. Os homens que passassem em todos os 
testes, aos 50 anos, estariam prontos para governar, automaticamente, sem qualquer eleição. Era 
uma aristocracia, portanto, composta pelos “mais sábios no governo”. Não basta ser rico, militar ou 
popular; para governar era preciso ter uma perfeita formação ética e intelectual. Não poderia, 
portanto, ser dominado, por suas paixões, desejos ou ambições pessoais. Note como, para Platão, 
o filósofo não é simplesmente um intelectual, mas alguém com sabedoria, bondade, moderação, 
coragem e, principalmente, justiça. Homens e mulheres, igualmente, podem estudar e governar. 
“As cidades não serão justas enquanto os reis não forem filósofos, nem os filósofos reis.” 
 
COMPLEMENTO: 
O AMOR EM O BANQUETE 
 
"De fato, é desde então que o amor mútuo é inato aos homens, que recompõe a sua 
natureza primitiva, procura restituir a um a partir do dois e curar essa natureza humana ferida. 
Cada um de nós é, portanto, como um sinal de reconhecimento, a metade de uma peça, visto que 
nos cortaram com as solhas, em duas partes; e cada um vai procurando a outra metade de sua 
peça: então, todos aqueles homens que provinham da espécie total, daquilo a que se chamava o 
andrógeno, amam as mulheres (...) quanto às mulheres que saíram da divisão de uma mulher 
primitiva, não prestam espontaneamente atenção aos homens, antes se voltam para as outras 
mulheres Finalmente, todos os que provêm da divisão de um homem puro, esses perseguem o 
homem (...) Assim, quando os amantes - e descobriram precisamente a metade que é a sua, é 
admirável como são empolgados pela ternura, o sentimento de parentesco e o amor (..) E estes 
são os que ficam juntos até ao fim da vida e que nem sequer conseguiram definir o que espera 
um do outro!" (Platão, O Banquete, Livro de Bolso Europa-América, 1977, p.50-52) 
 
No mesmo texto, Sócrates apresenta outra questão acerca do amor: só se ama aquilo 
que lhe falta, que não se possui. O objeto de amor, sempre ausente, é sempre solicitado. Mesmo 
o amor por aquilo que supostamente lhe é seu, na verdade é o amor que deseja a permanência 
do objeto amado no futuro. O amor aparece aqui como uma espécie de inquietação, de procura. 
O amor (philia) pelo saber (sophia), isto é, a filosofia, implica exatamente nisso: é o amor pera 
pela busca da verdade, ainda que, quando acreditamos ter alcançando-a, ela escape por entre 
nossos dedos. 
 
 
 
Material de Apoio 
Filosofia 
Prof. Daniel Gomes 
 
 
1 
 
ARISTOTELES 
 
1. Quem foi Aristóteles? 
1. A. Meteco: nascido em Estagira (atual Stavros)., colônia grega na costa da Trácia. Aristóteles foi 
frequentador da Academia ateniense, sendo o mais

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