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Copia N107 DIR CRIANÇA EST IDOSO

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N107 DIR CRIANÇA EST IDOSO - 
Matéria Segundo Semestre 2021
Direito da Criança, Adolescente e Estatuto do Idoso
 
 
 
Caro Aluno
 
Seja bem vindo.
 
Nesta nossa disciplina trataremos de assuntos referentes aos direitos fundamentais da criança e do adolescente. Prevenção no direito da Criança e do Adolescente. Política de atendimento. Medidas de proteção. Prática de ato infracional. Medidas pertinentes aos pais ou responsável. Crimes e as infrações administrativas no Estatuto da Criança e do Adolescente. E também, os direitos fundamentais do idoso. Medidas de proteção ao idoso e política de atendimento ao idoso e, crimes no Estatuto do Idoso. E é nossa expectativa que você aprenda bastante.
Considerando-se que será você quem administrará seu próprio tempo, nossa sugestão é que você dedique ao menos 2 (duas) horas por semana para esta disciplina, estudando os textos sugeridos e realizando os exercícios de auto-avaliação. Uma boa forma de fazer isso é já ir planejando o que estudar, semana a semana.
 
Para facilitar seu trabalho, apresentamos na tabela abaixo, os assuntos que deverão ser estudados e, para cada assunto, a leitura fundamental exigida e a leitura complementar sugerida. No mínimo você deverá buscar entender bastante bem o conteúdo da leitura fundamental, só que essa compreensão será maior, se você acompanhar, também, a leitura complementar. Você mesmo perceberá isso, ao longo dos estudos.
 
a – Conteúdos (assuntos) e leituras sugeridas
 
Assuntos/módulos
Leituras Sugeridas
Fundamental
Complementar
1 – Princípios e Direitos Fundamentais da Criança e do Adolescente
 
 
CURY, Munir; et al (Coords.). Estatuto da criança e do adolescente: comentários jurídicos e sociais
 PINHEIRO, Naide Maria. Estatuto do idoso comentado.
 
 
2 – Da Família Substitutiva: guarda, tutela e adoção
 
 MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de direito da criança e do adolescente. 3ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008
 
FONSECA, Antonio Cezar Lima da. Direitos da criança e do adolescente. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2012.
 
 
3 – Da prevenção. Política de Atendimento. Entidades de Atendimento. Dos Conselhos.
CURY, Munir; et al (Coords.). Estatuto da criança e do adolescente: comentários jurídicos e sociais
 FONSECA, Antonio Cezar Lima da. Direitos da criança e do adolescente. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2012.
 
 
4- Do Ato Infracional e das Medidas Socioeducativas
 
 CURY, Munir; et al (Coords.). Estatuto da criança e do adolescente: comentários jurídicos e sociais
 
FONSECA, Antonio Cezar Lima da. Direitos da criança e do adolescente. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2012.
 
5- Dos Crimes e Infrações Administrativas previstas no ECA
 
MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de direito da criança e do adolescente. 3ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008
 
 FONSECA, Antonio Cezar Lima da. Direitos da criança e do adolescente. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2012.
 
6 – Direitos Fundamentais do Idoso
 PINHEIRO, Naide Maria. Estatuto do idoso comentado. São Paulo: Servanda, 2008.
 
 JUNIOR, Roberto Mendes de Freitas. Direitos e garantias do idoso. Doutrina, jurisprudência e legislação. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2011.
 
7 - Medidas de Proteção e Política de Atendimento ao Idoso
 
 PINHEIRO, Naide Maria. Estatuto do idoso comentado. São Paulo: Servanda, 2008
 JUNIOR, Roberto Mendes de Freitas. Direitos e garantias do idoso. Doutrina, jurisprudência e legislação. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2011.
 8- Crimes no Estatuto do Idoso
 PINHEIRO, Naide Maria. Estatuto do idoso comentado. São Paulo: Servanda, 2008 
 ) JUNIOR, Roberto Mendes de Freitas. Direitos e garantias do idoso. Doutrina, jurisprudência e legislação. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2011.
 
Nota: ver as referências bibliográficas, para maior detalhamento das fontes de consulta indicadas
 
 
b – Avaliações
Como é de seu conhecimento, você estará obrigado a realizar uma série de avaliações, cabendo a você tomar conhecimento do calendário dessas avaliações e da marcação das datas das suas provas, dentro dos períodos especificados.
Por outro lado, é importante destacar que uma das formas de você se preparar para as avaliações é realizando os exercícios de auto-avaliação, disponibilizados para você neste sistema de disciplinas on line. O que tem que ficar claro, entretanto, é que os exercícios que são requeridos em cada avaliação não são a repetições dos exercícios da auto-avaliação.
Para sua orientação, informamos na tabela a seguir, os assuntos que serão requeridos em cada uma das avaliações às quais você estará sujeito:
 Conteúdos a serem exigidos nas avaliações
Avaliações
Assuntos
Exercícios de auto-avaliação relacionados
NP1
Princípios e Direitos Fundamentais da Criança e Adolescente (Módulo 1 ) até Do Ato Infracional e das Medidas Socioeducativas ( Módulo 4)
 
Exercícios dos módulos correspondentes
NP2
Dos Crimes e Infrações administrativas previstas no ECA (módulo 5) até Crimes no Estatuto do Idoso (módulo 8)
 
Exercícios dos módulos correspondentes
Substitutiva
Toda a matéria
 
Todos os exercícios
Exame
Toda a matéria
 
Todos os exercícios
 
 
 
C – Referências bibliográficas
 
 Livro texto
 
CURY, Munir; et al (Coords.). Estatuto da criança e do adolescente: comentários jurídicos e sociais. São Paulo: Malheiros, 2008.
MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade. Curso de direito da criança e do adolescente. 3ª ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2008.
PINHEIRO, Naide Maria. Estatuto do idoso comentado. São Paulo: Servanda, 2008.
 
Outras referências
 BRAGA, Pêrola Melissa Vianna. Curso de direito do idoso. São Paulo: Atlas, 2011.
FRANCO, Paulo Alves. Estatuto do idoso anotado. 2ª ed. São Paulo: Servanda, 2005.
FONSECA, Antonio Cezar Lima da. Direitos da criança e do adolescente. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2012.
JUNIOR, Roberto Mendes de Freitas. Direitos e garantias do idoso. Doutrina, jurisprudência e legislação. 2ª edição. São Paulo: Atlas, 2011.
LIBERATI, Wilson Donizeti. Direito da criança e do adolescente. 2ª ed. São Paulo: Rideel, 2007.
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Comentários ao estatuto do idoso. São Paulo: LTR, 2006.
PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da criança e do adolescente: uma proposta interdisciplinar. 2ª ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2008.
VERONESE, Josiane Rose Petry; MOTA, Moacyr. Da tutela jurisdicional dos direitos da criança e do adolescente. São Paulo: LTR, 1998.
VERONESE, Josiane Rose Petry. Direito da criança e do adolescente. Florianópolis: OAB/SC, 2006.
 
 
 
MÓDULO 1: PRINCÍPIOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
Exercícios
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
 
 
 
 Introdução
 
Vivemos um momento único no plano do direito das crianças e adolescentes. Tais pessoas ultrapassam a esfera de meros objetos de “proteção” e passam à condição de sujeitos de direito, beneficiários e destinatários imediatos da doutrina da proteção integral.
A Constituição de 1988 trouxe e coroou significativas mudanças em nosso ordenamento jurídico estabelecendo novos paradigmas. No campo político, houve necessidade de reafirmar valores caros que nos foram aniquilados durante o regime militar. No campo das relações privadas se fazia imprescindível atender aos anseios de uma sociedade mais justa e fraterna, menos patrimonialista e liberal. Movimentos europeus pós-guerra influenciaram o legislador constituinte na busca de um direito funcional, voltado mais para o social. Dentro desse contexto, o legislador constitucional não poderia deixar intocado o sistema jurídico da criança e do adolescente, restrito aos “menores” em abandono ou estado de delinqüência. E, de fato, não o fez.
A imensa mobilização de toda a sociedade e de especialistas da área, acrescida da pressão de organismos internacionais, como o UNICEF, foi essencial para que o legislador constituinte se sensibilizasse a uma causa já reconhecida como primordial em diversos documentosinternacional, como a Declaração de Genebra, de 1924, a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas (França, 1948); a Convenção Americana Sobre os direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica, 1969) e Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude – Regras Mínimas de Beijing (Res. 40/33 da Assembleia-Geral, de 29 de novembro de 1985). A nova ordem rompeu, assim com o já consolidado modelo da situação irregular e adotou a proteção integral.
A atuação do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua (MNMMR), resultado do 1º Encontro Nacional de Meninos e Meninas de Rua, realizado em 1984, foi um dos movimentos mais importantes de mobilização nacional na busca de uma participação ativa de diversos segmentos da sociedade atuantes na área da infância e juventude. O objetivo a ser alcançado era uma Constituinte que garantisse e ampliasse os direitos sociais e individuais de nossas crianças e adolescentes.
Esse objetivo foi alcançado, com a aprovação da Constituição Federal de 1988, que assegurou nos artigos 227 e seguintes proteção à criança e adolescente. Objetivando regulamentar e implementar o novo sistema, foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei Federal nº 8.069/90 – de autoria do Senador Ronan e relatório da Deputada Rita Camata, suprindo uma lacuna infraconstitucional, pois a antigo Código de Menores, editado em 1979 e inspirado pela doutrina da situação irregular, havia sido praticamente sepultado pela nova ordem jurídica vigente e inúmeros dispositivos sequer foram recepcionados pela nova Carta.
Em seu lugar, implanta-se a Doutrina da Proteção Integral, com caráter de política pública. Crianças e Adolescentes deixam de ser objeto de proteção assistencial e passam a titulares de direitos subjetivos. Para assegurá-los é estabelecido um sistema de garantias de direitos, que se materializa no Município, a quem cabe estabelecer a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, por meio do Conselho Municipal de Direito da Criança e do Adolescente (CMDCA), bem como, numa co-participação com a sociedade civil, executá-la.
Trata-se de um novo modelo, democrático e participativo, no qual família, sociedade e Estado são co-partícipes do sistema de garantias que não restringe à infância e juventudes pobres, protagonistas da doutrina da situação irregular, mas sim a todas as crianças e adolescentes, pobres ou ricas, lesados em seus direitos fundamentais de pessoas em desenvolvimento.
 
1. Âmbito de aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/90
 
O artigo 2º do ECA considera criança a pessoa com até doze anos de idade incompletos e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade. Por exceção e apenas nos casos expressos na lei especial, permite-se sua aplicação a pessoas entre 18 e 21 anos de idade.
Percebe-se que o artigo 2.º levou em conta o critério biológico – objetivo, igualitário e mais seguro – para a fixação do âmbito de aplicação do Estatuto. (critério cronológico absoluto: a idade, não se indagando da eventual capacidade de discernimento para determinação da condição jurídica do pequeno)
 
Criança → pessoa até 12 (doze) anos incompletos.
Adolescente → pessoa dos 12 (doze) aos 18 (dezoito) anos incompletos
Tal distinção é de suma importância com relação à aplicação das medidas sócio-educativas (que podem implicar privação de liberdade) e, também, nos casos em que se exige autorização para viagens.
Assim, para a criança exige-se, em certos casos, a autorização para viagens internas, o que não ocorre com os adolescentes. Para estes, há a exigência somente quanto se tratar de viagem ao exterior.
As medidas sócio-educativas aplicam-se apenas aos adolescentes. Às crianças, mesmo que cometam atos infracionais graves, só serão aplicadas as medidas de proteção elencadas no art. 101 do ECA.
OBS.: Foi publicada mais uma novidade legislativa. Trata-se da Lei nº 13.257/2016.
Referida lei prevê a formulação e implementação de políticas públicas voltadas para as crianças que estão na "primeira infância". Além disso, a Lei nº 13.257/2016 altera o ECA, a CLT, a Lei nº 11.770/2008 e o Código de Processo Penal . (VER ALTERAÇÕES DA LEI Nº 13.257/16)
Assim, segundo a Lei nº 13.257/2016, considera-se primeira infância o período que abrange os primeiros 6 (seis) anos completos ou 72 (setenta e dois) meses de vida da criança.(artigo 2º)
 
 Dispõe o ECA em seus artigos 5º e 6º o seguinte:
 “Art. 5.º- Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
Art. 6.º- Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.”
A norma estabelece os critérios de interpretação (fins sociais, condição peculiar da criança ou adolescente, exigências do bem comum, direitos e deveres individuais e coletivos), e, com isso, consagra o Princípio da Prevalência dos Interesses do Menor.
 
I- PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente é um sistema aberto de regras e princípios. As regras nos fornecem a segurança necessária para delimitarmos a conduta. Os princípios expressam valores relevantes e fundamentais as regras, exercendo uma função de integração sistemática, são os valores fundantes da norma.
Segundo Humberto Ávila, as regras e princípios são “sentidos construídos a partir da interpretação sistemática de textos normativos”. [1]
São quatro os princípios informadores do Direito da Criança e do Adolescente que merecem especial destaque da doutrina especializada. Os princípios da proteção integral, da prioridade absoluta, do respeito à condição peculiar da criança e do adolescente de pessoa em desenvolvimento e da participação popular, inspiram cada norma do novo direito.
 
1. Princípio da Proteção Integral
 
Mais do que um princípio do direito brasileiro a Proteção Integral é uma doutrina difundida em todo o mundo e tem inspirado as nações a consorciarem-se em pactos e convenções internacionais, que acabam por refletir no direito interno.
A doutrina da Proteção Integral preconiza o dever do Estado, da sociedade e da família de zelar pela inviolabilidade dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, deixando-os a salvo de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Desse modo, a criança e o adolescente são sujeitos desses direitos, ditos fundamentais, a que se subordinam as pessoas adultas e, notadamente, o próprio Estado, como pessoa jurídica do direito público e a sociedade.
No direito nacional, a Proteção Integral tem status de princípio, no qual busca validade toda a norma relativa ao tema da infância e da juventude, sendo a pedra fundamental deste ramo do direito e sua gênese foi a Constituição da República de 1988, precisamente no caput do artigo 227, que praticamente sintetiza a doutrina da proteção integral em uma só sentença.
O Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei Federal nº 8069/90, principal norma infraconstitucional que regula o Direito da Criança e do Adolescente, para que não ficasse qualquer dúvida, proclama logo no seu artigo 1º que: “Esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente”. Em seguida, após as disposições preliminares, cuida de regulamentar os direitos fundamentais de crianças e adolescentes e definir os instrumentos de garantia com os quais a família, a sociedade e o Estado cumprirão sua missão constitucional.
Pode-se resumir o Estatuto da Criança e do Adolescente como uma grande ampliação do artigo 227 da Constituição da República. A lei, advinda dois anos após a Carta Magna, regulamenta e dá concretude à implantação da doutrinada proteção integral no ordenamento jurídico nacional.
 
2. Princípio da Prioridade Absoluta
 
Corolário da Proteção Integral, que correria o risco de ser letra morta inserta na lei brasileira, surge com a Constituição Federal o Princípio da Prioridade Absoluta e, pela primeira vez o Texto Constitucional, o legislador expressamente proclama que criança e adolescente é prioridade absoluta.
Trata-se de princípio estabelecido no caput artigo 227 da Constituição Federal, com previsão no art. 4º e no artigo 100, parágrafo único, II da Lei n. 8069/90 – ECA, estabelecendo primazia em favor das crianças e adolescentes em todas as esferas de interesse. Seja no campo judicial, extrajudicial, administrativo, social ou familiar, o interesse dessas pessoas devem prevalecer. Não cabe indagações ou ponderações sobre o interesse a tutelar em primeiro lugar, já que a escolha é norma constitucional.
Esse princípio está inserido no 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente, depois de repeti-la no caput, define no parágrafo único que a prioridade absoluta compreende:
a. primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
b. procedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;
c. preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;
d. destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
 
Tais hipóteses são meramente exemplificativas, o direito da criança e do adolescente terá sempre primazia frente aos outros interesses, podendo a própria lei estabelecer outras situações de prioridade ou, no caso concreto, o juiz decide pela priorização, seguindo o mandamento constitucional.
E a prioridade deve ser assegurada por todos: família, comunidade, sociedade em geral e Poder Público.
O Estatuto do Idoso – Lei Federal nº 10.741/2003, inspirado no ECA, também proclama que os direitos do idoso são prioritários. Com isso, ao lado da criança e do adolescente, o idoso também possui a garantia do atendimento prioritário aos seus direitos fundamentais, assentando-se tal prerrogativa, na condição peculiar de fragilidade que reclama a especial proteção do Estado e da sociedade.
Forçoso reconhecer que a priorização da criança e do adolescente possui status constitucional, eis que insculpido na própria Carta da República, enquanto a garantia de prioridade do idoso está prevista tão somente em legislação infra-constitucional.
Assim, se o administrador público precisar decidir entre a construção de uma creche e de um abrigo para idosos, pois ambos são necessários, obrigatoriamente terá de optar pela construção da creche. Isso porque o princípio da prioridade para os idosos é infraconstitucional, estabelecido no artigo 3º da Lei 10.741/2003, enquanto a prioridade em favor das crianças é constitucionalmente assegurada, integrante da doutrina da proteção integral.
Todavia, o fato da prioridade do idoso verter de lei ordinária não lhe coloca em segundo plano frente as crianças e adolescentes, a todos devendo ser assegurada igualmente a prioridade, somente refletido a hierarquização na fixação da garantia no ordenamento jurídico.
 
3. Princípio do Respeito à condição Peculiar da Criança e do Adolescente como Pessoa em desenvolvimento.
 
Por que será que o Estado, a Sociedade e a Família são juridicamente compelidos a assegurar, com absoluta prioridade, a proteção integral aos direitos fundamentais de crianças e adolescentes?
Que ninguém se engane, ao assegurar a prioridade aos pequenos, claramente outros interesses serão qualificados como não prioritários.
A necessidade de proteção especial e prioritária advém do fato de crianças e adolescentes devem ser tratadas como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e, portanto, que apresentam hipossuficiência frente a defesa dos seus próprios interesses, além de apresentarem interesses especiais; isso decorre da própria situação de imaturidade, revelada pela constante transformação física, moral, espiritual e social.
 Assim, por exemplo, o respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento não autoriza a eternizar e alongar por muito tempo a disputa de guarda de uma criança.
 
4. Princípio da Participação Popular
 
A Constituição da República, no seu artigo 1º, parágrafo único, consagra a democracia participativa, proclamando que o poder será exercido não só através dos representantes, mas também pelo próprio povo, diretamente.
Inspirado nesse dispositivo, que assegura a democracia participativa, o artigo 227 da Magna Carta convoca a Sociedade para, ao lado do Estado e da Família, zelarem pela inviolabilidade dos direitos fundamentais da criança e do adolescente. Vale dizer, a participação popular deve ser assegurada quando se tratar de defesa dos direitos das crianças e adolescentes.
Ao legislador infraconstitucional coube regulamentar e com isso possibilitar com efetividade, a participação da sociedade no cenário da luta pelos direitos das crianças e adolescentes, criando assim diversos instrumentos que concretizam a participação da sociedade, tais como o Conselho Tutelar, Conselhos dos Direitos, Entidades de Atendimento etc.
Como se verá, tais entes constituem formas efetivas de participação popular na discussão das questões e definição de providências destinadas a resolução dos problemas afetos a criança e a adolescentes.
 
II- DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS PREVISTOS NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
 
Direitos humanos fundamentais podem ser definidos, segundo Alexandre de Moraes, como o conjunto de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de proteção contra o arbítrio do poder estatal, e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana.[2]
São direitos inatos ao ser humano, mas variáveis ao longo da história. Estão atualmente previstos em documentos internacionais e presentes no Estado democrático de Direito. O importante é realçar que tais direitos relacionam-se diretamente com a garantia de não ingerência do Estado na esfera individual e a consagração da dignidade humana, tendo um universal reconhecimento por parte da maioria dos Estados, seja em nível constitucional, infraconstitucional, seja em nível de direito consuetudinário ou mesmo por tratados e convenções internacionais.
O Brasil tem na proteção dos direitos humanos um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Ao longo do texto constitucional, principalmente em seu artigo 5º, prevê e reconhece direitos e garantias fundamentais.
No que diz respeito às crianças e adolescentes, o legislador constituinte particularizou dentre os diretos fundamentais aqueles que se mostram indispensáveis à formação do indivíduo ainda em desenvolvimento, elencado-os no caput do artigo 227. E no Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/90, tais direitos estão disciplinados nos artigos 7º ao 69.
OBS.: LEMBRANDO QUE A PARTIR DA LEI Nº 13.257/2016, TAIS DIREITOS SÃO APLICÁVEIS A "PRIMEIRA INFÂNCIA". 
Abaixo, relacionamos os mais importantes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente. São eles: direito à vida e à saúde, direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, direito à convivência familiar e comunitária, direito à educação, cultura, esporte e lazer e, direito à profissionalização e proteção no trabalho.
1- Direito à Vida e à Saúde.
 O direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, pois, sem vida não há que se falar nos demais direitos fundamentais.
 O artigo 5º caput da CF/88 garante “aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida....”. O artigo 227, por sua vez, preceitua que é “dever da família, sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida...”. Por seu turno, o Estatuto da Criança e do Adolescente, estatui em seu artigo 7º que “a criança e o adolescente têm direito à proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas públicasque permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.”
 O direito fundamental à vida deve ser entendido como o direito a um nível de vida adequado com a condição humana, ou seja, direito à alimentação, vestuário, educação, cultura, assistência médico-odontológico e demais condições vitais. Dessa forma, o Estado deverá garantir esse direito em dupla obrigação: obrigação de cuidado a toda pessoa humana que não disponha de recursos suficientes e que seja incapaz de obtê-los por seus próprios meios; e na efetivação de órgãos competentes públicos ou privados, através de permissões, concessões ou convênios, para prestação de serviços públicos adequados que pretendam prevenir, diminuir ou extinguir deficiências existentes pra um nível mínimo de vida digna da pessoa humana.
 Exemplificando de forma muito singela, se um adolescente estiver à beira da morte, deve-se buscar, minimamente, assegurar recursos para tentar mantê-lo vivo, ou se inevitável a morte precoce, que, ao menos, seja digna, com tratamento e apoio.
O Estatuto da Criança e do Adolescente conforme determina o artigo 7º, protege a criança desde a vida intra-uterina, ainda como feto, a partir da fecundação e não apenas a partir do nascimento com vida.
A Lei nº 8.069/90 – ECA, em defesa do direito à vida e à saúde, determina várias medidas de caráter preventivo, além de políticas sociais públicas que permitam o nascimento sadio.
Assim, é assegurado a todas as mulheres o acesso aos programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde, (art. 8º). Cuida-se, ademais, sempre que necessário, do apoio alimentar à gestante é à nutriz (mulher que amamenta, ama-de-leite), fortalecem a existência da ampla proteção à vida e à saúde que o Estatuto da Criança e do Adolescente prescreve.
A Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 396, protege o direito da mulher que trabalha e a Constituição Federal, em seu artigo 5.º, incisos XLIX e L, além disso, assegura as mães submetidas à medida privativa de liberdade o direito de amamentar seus filhos, visto que isso redundará no melhor desenvolvimento físico da criança, prevenindo, até mesmo, a mortalidade infantil (art. 9º do ECA).
Ainda, temos a proteção à maternidade de acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho, artigo 392, que proíbe o trabalho da mulher grávida pelo prazo determinado de 120 dias (ver artigo 7.o, inciso XVIII, da Constituição Federal e artigo 71, da Lei n. 8.213/91 – Plano de Benefícios da Previdência Social).
Toda criança e adolescente têm direito a atendimento médico e odontológico obrigatório pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A comunicação de maus tratos, tipificado como crime (artigo 136 do Código Penal), à criança e ao adolescente é obrigatória. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de outras providências legais. (art. 13, do ECA, segundo redação dada pela Lei n. 13.257/16.)
Ainda para assegurar o cumprimento de medida socieducativa, a Lei n. 12.594, de 18 de janeiro de 2012, que constitui o Sistema Nacional de Atendimento Socieducativo (Sinase), estabeleceu parâmetros mínimos para garantir o direito à saúde aos adolescentes em conflito com a lei, durante o cumprimento de medida.
É direito fundamental receber assistência integral à saúde (art. 49, VII, do referido diploma legal), cujas diretrizes são enumeradas pelo artigo 60.
Resta claro que a intenção do legislador, a par de atender o adolescente, foi também integrá-lo ao SUS, garantindo informação e acesso a todos os níveis de atenção à saúde. Seus dados serão incluídos no Sistema de Informações sobre o Atendimento Socioeducativo, medida de todo profícua na análise e formulação de políticas infantojuvenis.
Ver as alterações trazidas pela Lei n. 13.257/16. 
2- Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
 O direito de liberdade pode ser encarado sob diversas formas. È normalmente traduzido como o direito de ir e vir. Mas não é só. A liberdade preconizada no art. 16 do Estatuto da Criança e do Adolescente é mais ampla, compreendendo também a liberdade de opinião, expressão, crença e culto religioso, liberdade para brincar, praticar esportes, divertir-se, participar da vida em família, na sociedade e vida política, assim como buscar refúgio, auxilio e orientação.
 A Lei n. 12.594/2012, no artigo 49, III, elenca a liberdade de pensamento e religião dentre os direitos individuais do adolescente em cumprimento de medida socioeducativa.
 No tocante a liberdade de ir e vir, que envolve também a liberdade estar e permanecer (liberdade de locomoção), não se traduz na absoluta autodeterminação de crianças e adolescentes decidirem seu destino, pois a lei ressalva as restrições. Assim, caberá aos pais, família e comunidade fiscalizar o exercício desse direito concedido pró-criança e adolescente e não em seu desfavor. Não se pode permitir que uma criança ou jovem permaneça nas ruas, afastado das escolas, dormindo em calçadas, cheirando cola, sobrevivendo de caridade ou pequenos furtos, mesmo que afirmem que estão na rua porque assim desejam.
 No tocante a liberdade de opinião e expressão a criança e adolescente têm assegurada a liberdade de pensar e formar sua opinião sobre os mais variados assuntos. Assim, por exemplo, o adolescente sempre deve manifestar-se em caso de adoção, assim, como, tanto ele como a criança, em casos referentes à guarda e ao direito de visitas. Devem ser ouvidos pelo juiz ou, então, por visitantes sociais e psicológicos, encarregados do estudo social de cada caso.
Mas a participação não se restringe à orbita familiar. È ampla e compreende a participação na vida comunitária e política, na forma da lei. Reflexo desta última é o direito de voto assegurado aos adolescentes a partir dos 16 anos. Participar, opinar, discutir sobre a vida comunitária e sobre a direção do país é mais uma etapa do desenvolvimento e crescimento pessoal dos adolescentes.
 Crença e cultos religiosos livres, também estão compreendidos no direito à liberdade. Os pais, no cumprimento do dever de educar, devem oferecer aos filhos educação formal e moral, formação religiosa. De início, os filhos absorvem à religião dos pais, pois normalmente a única que lhes foi apresentada. Quando amadurecem, já na adolescência, questionam e aprendem que a religião se expressa de várias formas e a lei lhes assegura o direito de escolher uma dessas formas como a que melhor realiza seus objetivos de vida.
 A liberdade de brincar, praticar esportes e se divertir, com respeito à sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento, é liberdade de ser criança e adolescente. Os esportes e atividades lúdicas devem-se concretizar no lar, na escola, bem como em ambientes sociais públicos adequados para isso, pois são importantes para o desenvolvimento motor, físico e integração social dessas pessoas. Integram e permitem experiências que se refletem no amadurecimento paulatino da criança e do adolescente.
3- Direito ao Respeito e à Dignidade
 Respeito é o tratamento atencioso à própria consideração que se deve manter nas relações com as pessoas respeitáveis, seja pela idade, por sua condição social, pela ascendência ou grau de hierarquia em que se acham colocadas.[3]
 No artigo 17 do ECA, o legislador anota várias hipóteses em que consiste referido direito. O que se extrai da leitura desse dispositivo é que se exige de todos a ausência de ação que possa ferir, de alguma maneira, a integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente.
 Uma das manifestações mais evidentes de ofensa ao direito ao respeito consistena prática da violência doméstica, que se manifesta sob modalidades de agressão física, sexual, psicológica ou em razão da negligência, que como é sabido, está presente em todas as classes sociais, sem distinção, e ocorre de forma intensa como resultado do abuso do poder disciplinados dos adultos, sejam eles pais, padrastos, responsáveis, que transformam a criança e adolescente em meros objetos, com consequente violação de seus direitos fundamentais, em especial o direito ao respeito como ser humano em desenvolvimento.[4]
 O direito à dignidade não é muito diferente do de respeito. Dignidade, segundo de Plácido e Silva, em Vocabulário Jurídico, editora Forense, 1987, p. 124, se traduz na qualidade moral, que possuída por uma pessoa, serve de base ao próprio respeito em que é tida.
 No ECA, referido direito é tratado no artigo 18. Ressalta-se, no caso, que a incumbência de garanti-lo é de todos. Assim, todas as pessoas são convocadas para evitar que a criança e o adolescente sejam vítimas de tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
 È evidente que, em primeiro lugar, tal atribuição é dos genitores, pais, conforme o artigo 229 da CF/88: “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores”, e, tratando-se de obrigações decorrentes do pátrio poder, não podem ser relegadas a segundo plano nem ser delegadas. O Estado por sua vez, não pode ficar inerte ante as investidas contra os direitos da personalidade do menor, devendo, em todas as áreas, atuar para que aqueles sejam assegurados.
 
 
4- Direito à convivência familiar e comunitária
 
A criança e o adolescente somente poderão desenvolver-se plenamente no seio de uma família. A família é o habitat natural do ser humano, que, como é notório, é um ser gregário. Nenhuma outra instituição, por melhor que seja, pode substituir a família na criação do ser humano.
De suma importância é o direito à convivência familiar. Tanto é assim que ela consta do artigo 227 da CF. No ECA, é tratado nos arts. 19 a 24, sob vários aspectos.
O novo Código Civil tratou de temas que são objeto de cuidado do Estatuto da Criança e do Adolescente. O ECA e o novo Código Civil seguirão convivendo, cabendo ao operador do direito harmonizar suas regras, notadamente no que diz respeito ao poder familiar e a colocação em família substituta.
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral.
 A família natural, tal como conceituada no artigo 25 do ECA, é aquela compreendida pelos pais e seus filhos, mas também se apresenta como aquela formada por qualquer um deles e sua prole. Podemos observar que a lei estatutária não menciona em qualquer destes dispositivos a origem da relação jurídica dos pais, diante do princípio da isonomia filial consagrada constitucionalmente (art. 227, § 6º). Portanto, não importa se matrimonial ou não o vínculo que une ou uniu os pais, estes e a respectiva prole constituem uma família natural ou nuclear.[5]
Com a entrada em vigor da Lei n. 12.010/2009, houve o alargamento da conceituação estatutária da expressão família natural. Reconheceu-se naquela lei a importância de uma vertente familiar, já estabelecida no Direito de Família no capítulo do parentesco (arts 1591 a 1595 do Código Civil), denominada família extensa ou ampliada.
Dispõe o ECA, no artigo 25 que: “entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes”
E no seu parágrafo único: “ Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade”.
O conceito de família natural se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal; é formado por parentes próximos com os quais a criança e o adolescente conviva e mantenha vínculos de afinidade e de afetividade.
 Assim, a regra a permanência da criança e do adolescente com a sua família natural/ extensa é a regra. Na falta dos pais ou quando estes não possam garantir o direito à convivência familiar, a busca pela família extensa deve estar pautada em dois aspectos da relação: a afinidade e o afeto.
Retirar a criança ou o adolescente da família natural é medida de exceção, só podendo ser aplicada quando a lei determinar, casos em que os menores serão retirados da convivência familiar e colocados em família substituta e acolhedora, mas com finalidade provisória.
O art. 19 do ECA expressa que é absolutamente excepcional a colocação em família substituta, preferindo-se a família natural:
“ É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral ”.
A CF/88, no § 6, do artigo 227, proíbe quaisquer discriminações entre filhos. Isso significa que, depois de muito tempo, os direitos dos filhos, sejam havidos fora do casamento, sejam adotivos, foram igualados aos dos nascidos na constância do matrimônio.
A norma constitucional, foi repetida no artigo 20 do ECA, produz vários efeitos. Dentre outros, o do reconhecimento imediato e filho havido fora do casamento e o da legitimação para ingressar com ação de investigação de paternidade.
O ECA tratou do instituto do pátrio poder, hoje chamado pelo novo Código Civil ((Lei nº 12.010, de 2009) de Poder familiar. Vejamos o que dispõe os artigos no ECA:
“Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência. 
 Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão o poder familiar.
Parágrafo único. Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio.
Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.”
 
5- Direito à Educação, cultura, esporte e lazer
 
 A educação é um dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, devendo ser assegurado pelo Poder Público, encarregado de fornecer as condições necessárias para sua efetivação.
 No ECA, esse direito vem assegurado no artigo 53:
 
Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes....”
O artigo 54, § 1.º, do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é um direito público subjetivo da criança e do adolescente. É um direito que pode ser exigido judicialmente por ação civil pública ou por ação particular.
Nesse contexto, do direito à educação, a criança e o adolescente têm direito a escola próxima à residência, ou seja, a escola deve ser acessível. O Estado tem o dever de assegurar o ensino fundamental (primeiro grau). O não oferecimento desse ensino acarreta a responsabilidade pessoal da autoridade competente (artigo 54, § 2.º).
Segundo dispõe o artigo 55, “os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilosna rede regular de ensino”. É também um direito que pode ser exigido judicialmente.
Os dirigentes dos estabelecimentos de ensino, além de comunicar maus-tratos envolvendo seus alunos, têm obrigação de comunicar ao Conselho Tutelar evasão escolar (saída injustificada da criança e do adolescente da escola), reiteração de faltas injustificadas e elevados níveis de repetência, para que este possa tomar as medidas cabíveis. (art. 56 e incisos do ECA).
No que se refere ao direito à cultura, ao esporte e ao lazer, o artigo 59 do ECA, determina que cabe aos municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude.
 
6- Direito à profissionalização e proteção no trabalho
 
A profissionalização integra o processo de formação do adolescente e, por isso, lhe é assegurada.
A CF/88, mantendo a tradição brasileira, fixada a idade mínima de trabalho para o adolescente em 14 anos de idade, salvo a condição de aprendiz. A Emenda Constitucional n. 20/98, alterou o inciso XXXIII do artigo 7º restringindo o trabalho adolescente a partir dos 16 anos, salvo a condição de aprendiz a partir de 14 anos.
Além de limitação etária, é também proibido o trabalho noturno (entre 22 e 5 horas), perigoso, insalubre ou penoso, realizado em locais prejudiciais à sua formação e desenvolvimento físico, psíquico, moral e social.
Os artigos 60 a 69 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõem sobre o direito à profissionalização e à proteção do trabalho.
O artigo 67 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe sobre o trabalho de aprendiz, dizendo que o aprendiz não pode :
? trabalhar durante a noite, estipulando ser trabalho noturno aquele realizado das 22 horas às 5 horas;
? trabalhar em local insalubre ou penoso; 
? trabalhar em local impróprio para sua formação;
? trabalhar em horários e locais que não permitam sua freqüência na escola.
O contrato de aprendizagem é definido no artigo 428 da CLT como : “contrato de trabalho especial, ajustado por escrito e por prazo determinado, em que o empregador se compromete a assegurarão maior de quatorze e menor de dezoito anos, inscrito em programa de aprendizagem, formação técnico-profissional metódica, compatível com o seu desenvolvimento físico, moral e psicológico, e o aprendiz a executar com zelo e diligência, as tarefas necessárias a essa formação.
Trata-se de um contrato especial de trabalho com duração máxima de 2 anos sobre o qual incidirão direitos trabalhistas. Assim, é obrigatória sua anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social.
O artigo 68 permite o chamado “trabalho educativo”, que é aquele realizado em programas sociais. É uma atividade de trabalho pedagógico. A finalidade desse trabalho educativo é preparar o adolescente para o mercado de trabalho.
O menor tem direito à profissionalização, desde que observados sempre o respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e a sua capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.
 
[1] Humberto Ávila. Teoria dos princípios. Da definição à aplicação dos princípios jurídicos. 4ª edição. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 2.
[2] Alexandre de Moraes. Direitos humanos fundamentais. Teoria geral. 9ª edição. Editora Altas: São Paulo, 2011, p. 20.
[3] Trecho retirado do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – versão preliminar – Ministério da Educação e do Desporto – Brasília – janeiro/98.
[4] Luiz Antonio Miguel Ferreira. O estatuto da criança e do adolescente e os direitos fundamentais. São Paulo: Edições APMP, 2008, p. 38.
[5] Kátia Regina Ferreira Lobo Andrade Maciel. Direito fundamental à convivência familiar. IN: Curso de direito da criança e do adolescente. (Coordenadora). São Paulo: Atlas, 2013, p. 121.
MÓDULO 2: DA FAMÍLIA SUBSTITUTA: GUARDA, TUTELA E ADOÇÃO
Exercícios
FAMILIA SUBSTITUTA
 
Conforme vimos anteriormente no Módulo 1 – Dos Princípios e dos Direitos Fundamentais da Criança e do Adolescente, constitui direito fundamental dessas pessoas a convivência familiar, devendo o Estado e a Sociedade zelarem para que tal direito seja plenamente assegurado, prioritariamente no âmbito da família natural (art. 19, ECA).
A regra, na disciplina da infância e da juventude é a de que os filhos permaneçam no seio da família natural (ou extensa). Apenas em caso de impossibilidade manifesta – “absoluta impossibilidade”, como diz Lei nº 12.010/90 -, demonstrada por decisão judicial fundamentada, crianças e adolescentes poderão ser colocados em família substituta, sob as formas de adoção, tutela ou guarda (art. 1º, §§ 1º e 2º, da Lei 12.010/09 – Lei Nacional da Adoção).
Quando a criança ou adolescentes são afastados de sua família de origem, a família substituta é “a família que substitui a família natural” – aquela que faz as vezes de. Aquela que assume o lugar da família natural, de origem ou biológica. Para tanto, não importa o número de pessoas que componham a família substituta, pois a Constituição Federal reconhece a existência de famílias com até um membro. Não se pode olvidar a família homoafetiva – entidade familiar formada por duas pessoas do mesmo sexo – também pode ser considerada família substituta.
Portanto, são três (3) as formas de colocação em família substituta, segundo artigo 33 do ECA:
1. Guarda,
2. Tutela e,
3. Adoção.
Todavia, encontrados na situação descrita no artigo 98 e incisos do ECA, podem seguir aos programas de acolhimento familiar ou de acolhimento institucional, que, na forma disciplinada no ECA (pela Lei n. 12.010/90), vieram para substituir os “abrigos” e a “colocação familiar”, sempre de forma temporária e excepcional.
Primeiro, deve-se tentar, a manutenção ou reintegração familiar, em família natural ou extensa; depois, o acolhimento em programas familiar; após o acolhimento institucional e, por fim, a família substituta (guarda, tutela ou adoção). Evidente, a orientação é a de que não se passe da primeira fase, sendo que o acolhimento em programas familiar é recomendado para a guarda de criança ou adolescente, enquanto não localizada a pessoa ou casal interessado em sua adoção (art. 50, § 11, ECA).
Cabe esclarecer que há diferença em acolhimento familiar e família substituta. Aquele ocorre em ambiente familiar de pessoa ou de casal previamente cadastrado, sendo um dos programas de colocação de crianças e adolescentes, forma temporária e excepcional, provisório e coordenado por instituição que adote dito programa (art. 19, caput, 34, § 1º ECA); e família substituta é uma família (ampliada ou composta por terceiros), que assume o lugar da família natural, ocorrendo de três formas ou maneiras: pela guarda, tutela ou adoção. Cabe reprisar que: apenas na impossibilidade de permanência da criança ou adolescente na família natural ou ampliada (art. 1º, § 2º, Lei nº 12.010/90) é que devem ser utilizados os caminhos para a família substituta (guarda tutela ou adoção).
 
No § 1º do artigo 28, o ECA assegura que, sempre que possível, a criança ou o adolescente deverá ser ouvido e sua opinião considerada. No caso do adolescente, que pode expressar-se, sempre é bom que seja ouvido. No que se refere à criança, deve ao menos ser ouvida por psicólogos e assistentes sociais, a não ser quando seja de tenra idade.
No parágrafo terceiro desse mesmo artigo, o Estatuto assegura que:
“...§ 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida....”
Na apreciação do pedido de guarda e tutela, que são medidas precárias, é adequado que o juiz se dê preferência aos parentes. No que tange à afetividade, é um aspecto relevante, especialmente quanto ao equilíbrio emocional da criança e do adolescente, e deve ser considerado de modo especial no caso em que há vários interessados.
Embora a lei mencione o grau de parentesco e a relaçãode afinidade ou de afetividade, tais indicações não são as únicas e taxativas, pois outros aspectos podem ser aferidos pelo juiz por ocasião da colocação em família substituta (art. 28, § 3º). Basta vermos que o artigo 29, veda a colocação de criança ou adolescente com pessoas que não ofereçam um ambiente familiar adequado, sendo que o artigo 19, caput, ECA, assegura ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.
“Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado.”
Já vimos que a criança e adolescente pode ser colocado em família brasileira sob três modalidades – guarda, tutela ou adoção - , desde que atendidos os demais pressupostos legais. Entretanto a colocação de crianças ou adolescentes em família substituta estrangeira é excepcional e somente pode ocorrer sob a modalidade de adoção. Em outras palavras, implicitamente, o legislador considerou prioritária a colocação em família substituta nacional. Assim dispõe a lei:
“Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível na modalidade de adoção.”
O fecho formal dos processos de guarda ou tutela, independente de a criança ou adolescente encontrar-se com a família substituta, é um documento judicial pelo qual a família ou o responsável assume o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo a que se incumbiu. É o compromisso ou Termo de Guarda ou Tutela. Nesse sentido determina a Lei:
“Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo, mediante termo nos autos.”
 
DA GUARDA
 Está regulada nos artigos 33 a 35 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
1. Conceito
É a mais simples das espécies de colocação em família substituta. É o primeiro passo que se dá para colocar o menor sob a proteção de uma família.
O exemplo comum de concessão da guarda é o caso da mãe solteira que mora, com sua filha, na casa de seus pais, dos quais é dependente. Os avós poderão obter a guarda da neta e até se oporem a terceiros, inclusive à mãe, para defendê-la.
A guarda só poderá ser concedida por decisão judicial. É medida de proteção, ou seja, pode ser concedida tanto para a criança como para o adolescente (artigo 101 do Estatuto da Criança e do Adolescente).
Podemos encontrar duas modalidades dessa concessão:
A guarda pode ser provisória, quando determinada precariamente para resolver a situação emergencial, como, por exemplo, de alguma criança abandonada, e nos casos de separações de casais com filhos menores até que seja solucionada a situação - com decisão final; ressaltamos que nesses casos o julgamento estará afeto aos juízes das varas de família, e não de menores. É uma medida cautelar, preparatória ou incidental, para regularizar a guarda de fato ou atender casos urgentes. Em virtude de seu caráter transitório, a medida terá prazo de duração e, findo o lapso, deverá ser requerido sua prorrogação ou, então, outra forma de colocação em lar substituto.
A guarda pode ser definitiva quando for resultante de uma decisão que põe fim ao processo, determinando com quem deverá ficar o menor. Na maioria dos casos, a guarda é concedida como medida preparatória para futura adoção, ou, então tutela. Contudo, apesar de batizada de “definitiva”, a guarda sempre poderá, ou mesmo, deverá ser revista a qualquer tempo, segundo o interesse do menor. Em qualquer caso, somente por decisão judicial será possível a modificação da guarda já estabelecida. “A concessão da guarda, provisória ou definitiva, não faz coisa julgada podendo ser modificada no interesse exclusivo do menor e desde que não tenham sido cumpridas as obrigações pelo seu guardião.” [1]
 
2. Características
A guarda conserva as seguintes características:
Autônoma: poderá ser concedida como pedido final, ou independentemente de eventual pedido de adoção. Apesar de autônoma, a guarda pode ser utilizada num processo de adoção sendo uma medida incidental.
Precária: o juiz poderá decidir retirar a guarda do detentor a qualquer momento, fundamentando sua decisão.
3. Obrigações do Guardião
A partir do momento em que o guardião inicia o exercício de suas funções, passa a ter obrigações para com a criança e o adolescente, sendo responsabilizado, se for o caso, por sua desídia, o que poderá acarretar, em última instância, a destituição do cargo.
“Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência material, moral e educacional à criança ou adolescente, conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais. “
Como vimos anteriormente, o artigo 205 da CF/88 preceitua que a educação é direito de todos e dever do Estado e família. Esta tem o dever de matricular os seus membros menores e aquele o de garantir vagas para todos. E o artigo 208, também da CF, afirma que o dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de ensino fundamental obrigatório e gratuito. O § 1º deste último artigo, além disso, qualifica o acesso ao ensino obrigatório e gratuito como um direito público subjetivo.
Como já anotado anteriormente, a finalidade do ECA é fornecer à criança e ao adolescente a proteção integral, e esta se concretiza, de forma plena, no seio de uma família, se possível a de sangue. Assim, no caso de família substituta, exige-se dela, com todo o rigor, a assistência que é devida aos menores.
4. Direitos do Guardião
O artigo 33 do ECA, como vimos, preceitua que a guarda confere ao seu detentor o direito de opor-se a terceiros, inclusive aos pais.
Portanto, se porventura os genitores, ou um deles, pretenderem recobrar a guarda, conquanto esteja no exercício do pátrio poder, necessitarão de um provimento jurisdicional para tanto. Devem requerê-lo perante a mesma Vara da Infância e da Juventude que, anteriormente, colocou o menor na família substituta.
Os pais não podem, sem autorização judicial, apoderar-se do filho. Se assim, agirem, estarão sujeitos a sanções civis e penais. O artigo 237 do ECA prevê a pena de 2 a 6 anos de reclusão para aquele que subtrair criança ou adolescente do poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto. Na esfera civil, os pais podem ser suspensos ou até destituídos do poder familiar.
5. Finalidade da Guarda
Preceitua o § 1º do artigo 33 do ECA:
“§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por estrangeiros.”
Seja quem for que estiver com a criança ou adolescente, desde que não seja um dos pais, deve providenciar junto à Vara da Infância e da Juventude a regularização de tal situação.
Acrescenta o mesmo parágrafo que a guarda pode ser deferida nos procedimentos de tutela e adoção. Em tais acasos, se for conveniente, o juiz deverá deferi-la de plano, enquanto tramita o processo principal.
E o § 2 º desse mesmo artigo do ECA, dispõe que:
“§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser deferido o direito de representação para a prática de atos determinados.”
Quando se refere a “situações peculiares”, o ECA, naturalmente, abre ampla possibilidade de concessão de guarda. As várias hipóteses devem, é claro, ser analisadas pelo magistrado e, ressalta-se, não se deve deixar uma criança ou adolescente desamparado.
6. Perda da Guarda
A guarda é a forma mais precária de colocação em família substituta. Assim sendo, ela cessa quando o menor tutelado ou adotado, ou, então, quando os genitores recobram a guarda do filho. Todas essas formas ocorrem no âmbito do Poder Judiciário, por decisão do Juiz da Infância e da Juventude.
“Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo, mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério Público.”DA TUTELA
 
A tutela está disposta nos artigos 36 a 38 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
1. Conceito
É a forma de colocação em família substituta, tendo por finalidade a administração da pessoa e dos bens do incapaz. É mais complexa que a guarda, tendo em vista envolver administração de pessoa e bens.
A tutela dá uma proteção mais ampla, pois substitui o poder familiar. Assim, quando suspenso, perdido ou extinto o poder familiar é que surge o instituto da Tutela, cuja disciplina é a da lei civil, do Código Civil.
A diferença entre a tutela prevista no ECA (estatutária) e a do Código Civil é a de que esta “é mais ampla, com finalidade própria de proteção do menor, independentemente de sua inserção em família substituta”. A tutela do Estatuto é tutela destinada à criança ou adolescente nas condições do art. 98, incisos, do ECA, apenas.
A suspensão do poder familiar é temporária e reversível; a extinção e a perda são definitivas: suspende-se e perde-se o poder familiar por ordem judicial (via ação de suspensão ou de destituição do poder familiar); extingue-se o poder familiar pela letra da lei: a) por morte dos pais; b) quando o adolescente completa 18 anos de idade (maioridade civil); ou pela c) emancipação.
 
2. Da Tutela estatutária
 
O instituto da tutela pertence ao direito assistencial, ao direito protetivo, mas veio previsto no ECA como uma das “espécies de colocação” de criança ou adolescente em família substituta (art. 28, ECA). É a chamada tutela estatutária ou tutela extraordinária, sendo disciplinada pela lei civil (art. 36, ECA c/c 1728 a 1766 do Código Civil/2002).
A finalidade dessa tutela é proteção do incapaz e administração de seu patrimônio, quando houver. A tutela visa propiciar ao menor de idade as condições necessárias à educação, assistência e administração de seu eventual patrimônio.
Dispõe o ECA:
“Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos. 
Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a prévia decretação da perda ou suspensão do familiar e implica necessariamente o dever de guarda. “
Assim, só pode ser tutelado o menor até completar 18 anos de idade. No dia seguinte à maioridade, cessará a tutela, independentemente de pedido ou autorização judicial.
A tutela estatutária ou extraordinária pode surgir em procedimento de jurisdição voluntária ou contenciosa, conforme a hipótese esteja adequada a algum dispositivo da lei civil, bem como da situação fática em que se encontra a criança ou adolescente. Vejamos, que, para o deferimento de tutela estatutária ou extraordinária, de crianças e adolescentes na situação do artigo 98 do ECA, a competência é do Juizado da Infância e da Juventude, devendo ser atendidos os requisitos do artigo 156 do ECA para a suspensão ou perda do poder familiar. São processados, no mais das vezes, em jurisdição contenciosa, pois a Lei estatutária exige para a tutela a prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar, sendo esta uma verdadeira sanção civil imposta a pais desidiosos ou que abandonam seus filhos. A imposição de sanção civil exige o contraditório e ampla defesa. Todavia, nada impede que a tutela seja aferida pelo Juizado da Infância e da Juventude em jurisdição voluntária, como no caso de crianças e adolescentes na orfandade total.
No Código Civil, temos a tutela ordinária que pode ser: tutela testamentária ou voluntária (art. 1729, CC), tutela legítima (art. 1731, CC) e a tutela dativa (art. 1732, CC), as quais decorrem da interveniência do juiz da família.
 
4. Tutor, protutor, pupilo ou tutelado
 
Tutor é a pessoa nomeada para exercer a tutela, podendo ser homem ou mulher, ou ambos, desde que tenha idoneidade (pessoa maior de idade e de bons antecedentes) e boa saúde. Em princípio, são nomeados como tutor os parentes, os ascendentes, e em falta deles, os colaterais até o terceiro grau. Na falta comprovada de parentes, seja porque inexistentes ou por escusa justificada, o juiz pode nomear terceira pessoa. È necessário o aval judicial mesmo no caso de haver sido indicado o tutor em testamento ou documento público.
Isso se justifica, porquanto há o superior interesse e a proteção integral da criança ou adolescente que devem ser protegidos. Ademais, a nomeação tem característica da pessoalidade, ou seja, é um encargo pessoal.
O Código Civil de 2002 criou a figura do protutor, é também nomeado pelo juiz devendo deter as mesmas condições morais do tutor, sendo quem fiscaliza os atos do tutor (art. 1742, CC/02). A rigor, a lei criou “mais uma instância verificatória para a comprovação da prestação de contas do tutor”. Embora a raridade, é cabível a figura do protutor nos feitos dos Juizados da Infância e da Juventude, porque se trata de disciplina tutelar (civil). No entanto, dita figura, fatalmente, pouco surgirá na tutela estatutária, uma vez que já existe dificuldade para conseguir-se um tutor para a criança ou adolescente, imagine-se um protutor. Diante do Código Civil, tutor e protutor recebem uma gratificação pelo seu cuidado com o menor de idade (art. 1752, § 1º, CC/02), o que também dificilmente ocorrerá na tutela estatutária, porque esta se aplica a criança ou adolescente muitas vezes em desamparo.
E, pupilo ou tutelado é a pessoa menor de idade, criança ou adolescente, sobre a qual recai a tutela.
 
5. Nomeação e destituição do tutor
 
A nomeação do tutor é tratada no artigo 1734 do CC/02, com redação da Lei n. 12.010/09, “que as crianças e os adolescentes cujos pais forem desconhecidos, falecidos ou que tiverem suspensos ou destituídos do poder familiar terão tutores nomeados pelo juiz ou serão incluídos em programa de colocação familiar, na forma prevista pela Lei 8069/90, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente”.
A nova redação do artigo 1734 do CC/02 demonstra o esforço do legislador para modificar a situação de crianças e adolescentes, cujos pais forem desconhecidos (ditos expostos), filhos de pais falecidos (órfãos), ou aqueles pais que tiveram contra si ação de destitução ou suspensão do poder familiar julgada procedente (art. 36, parágrafo único, ECA, c/c 1728, II, CC/02). A intenção foi dificultar a colocação de criança ou adolescente – que estiver em alguma situação prevista no artigo 98, ECA, nos antigos abrigos, agora em acolhimento institucional (art. 90, IV ECA), nos quais ficavam praticamente esquecidos por longo tempo de suas vidas.
 
 Dispõe ainda, o artigo 37 do ECA que:
 
 Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009)
 Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em melhores condições de assumi-la. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) 
 No sistema do Estatuto, ao assumir a tutela, o tutor necessariamente assinava um termo no qual eram especificados os bens e valores que eram passados à sua administração, sendo que os bens particulares do tutor, em valor dos bens do menor, ficavam sob hipoteca legal. Isso para garantir eventual prejuízo ou dilapidação ao patrimônio do menor. Como se sabe, a hipoteca é um direito real de garantia, que grava coisa imóvel ou outro bem que a lei entende hipotecável. Diz-se hipoteca legal porque prevista em lei e a anterior norma estatutária estava de acordo com o Código Civil de 1916, que também determinavaque o tutor, antes de assumir a administração dos bens do pupilo, era obrigado a especializar, em hipoteca legal, os imóveis necessários para acautelar os bens do menor (art. 418, c/c 840, I CC/16). A hipoteca legal, portanto, era uma garantia para o menor proprietário de bens que seriam administrador pelo tutor.
 Com a redação da Lei n. 12.010/09, foi modificado o artigo 37 do ECA, dispondo o seguinte:
 ‘”O tutor nomeado por testamento ou qualquer documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único do artigo 1729 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 – Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao controle judicial do ato, observando o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei.
Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão observados os requisitos previstos nos arts. 28 a 29 desta Lei, sendo deferida a tutela à pessoa indicada na disposição de última vontade, se restar comprovado que a medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa em melhores condições para assumi-a”.
 Como se percebe, a situação agora é diferente, porque o artigo 1489 do CC/2002, que arrola as hipóteses legais de hipoteca, não repetiu o inciso IV do art. 827 do CC/16. Isso foi diretamente confirmado pelo artigo 2040 do CC/02, quando determina que:
 “A hipoteca legal dos vens do tutor ou do curador, inscrita em conformidade com o inciso IV do art. 827 do Código Civil anterior, Lei 3.071, de 1º de janeiro de 1916, poderá ser cancelada, obedecido o disposto no parágrafo único do artigo 1745 deste Código”.
 O artigo 1745 do CC/02 referido dispõe que: “os bens do menor serão entregues ao tutor mediante termo especificado deles e seus valores, ainda que os pais o tenham dispensado”. Assim, não há mais obrigatoriedade de hipoteca legal nos casos da tutela do Estatuto, mas apenas um termo de entrega dos bens ao tutor, especificando os bens e valores. [2]
E, no artigo 38 do ECA, expressa que, à destituição da tutela, aplica-se o art. 24.
Dispõe o artigo 24 do ECA: “A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipóteses de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o artigo 22”, o qual refere: “Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesses destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.”
 
DA ADOÇÃO
 
Prevista nos artigos 39 a 52 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
 
1. Conceito
 
Eduardo Oliveira Leite conceitua a adoção como uma forma de filiação puramente jurídica, calcada na presunção de uma realidade afetiva, e não biológica.[3]
A adoção, no ECA, é forma definitiva de colocação de família substituta, e, em regra, deve ser precedida de estágio de convivência do adotando com os adotantes.
Com a adoção, os adotantes passam a ter o poder familiar e, caso não cumpram os deveres inerentes à condição de pais, podem dele ser destituídos.
Na verdade, com a adoção inicia-se uma relação entre pais (adotantes) e filhos (adotados), que é semelhante à existente entre genitores biológicos e seus filhos. Os direitos e obrigações são os mesmos e, conforme dispõe a Constituição Federal no § 6º do artigo 227, repetido no artigo 20 do ECA, não pode haver quaisquer discriminações relativas à filiação.
2. Natureza jurídica
A adoção é instituição jurídica de ordem pública, constituída por sentença judicial, de natureza constitutiva, porque cria uma nova situação jurídica, devendo ser inscrita no registro civil.
 
3. Adoção na Constituição
No artigo 227, § 5, da CF/88, verifica-se que: “a adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros”.
Quando à presença do Estado, em se tratando de criança e adolescentes (art. 227 da Constituição trata de seus direitos), a adoção se concretiza por meio de um processo judicial próprio, com a sentença que a estabelece. Não há outra forma válida/lícita para sua concretização.
A outra preocupação do constituinte foi com a adoção por estrangeiros. Não se proíbe a adoção por estrangeiros residentes no exterior, mas há exigências para se evitarem os problemas como “venda” de crianças e outros em que, por meios ilícitos, os menores poderão vir a ser arrebatados de seus pais sem a devida anuência.
4. Adoção no Código Civil
O novo Código Civil (Lei n. 10.406/2002) trata da adoção nos arts. 1618 a 1929.
Há duas inovações importantes. A primeira é a que cuida da adoção de crianças e adolescentes, a qual, anteriormente, só era tratada pelo ECA. A segunda é que também os casos de adoção de pessoas maiores de idade (com mais de dezoito anos) serão realizados perante o Poder Judiciário, por meio de sentença constitutiva (art. 1623, parágrafo único do CC). NO regime anterior, as adoções de maiores eram realizadas por meio de escritura pública em Tabelião de Notas, de acordo com o artigo 375 do Código Civil de 1916.
Como mencionado, tratando da adoção de menores, o Código Civil, a rigor, repete os mesmos dispositivos do ECA em seus artigos 39 a 52.
 5. Requisitos quanto ao Adotante
 O primeiro requisito é que não se admite adoção por procuração. Dispõe o artigo 39, § 2º do ECA: “é vedada a adoção por procuração”. Assim é imprescindível a presença daquela que vai adotar, mesmo porque, é necessário um estágio de convivência.
 Dispõe ainda o artigo 42 do ECA e seus parágrafos que, para adotar é necessário ser maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil. Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando. E, para adoção conjunta, é indispensável que os adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união estável, comprovada a estabilidade da família. E ainda, que o adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.
E no artigo 46 do ECA determina que, a adoção será precedida de estágio de convivência com a criança ou adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as peculiaridades do caso. E no § 1º desse mesmo artigo, assegura que, § 1o o estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a conveniência da constituição do vínculo.
Em caso de adoção por estrangeiros residentes fora do País, para facilitar a convivência, o prazo de estágio é reduzido, ou seja, de quinze dias para crianças até dois anos e de trinta dias nos outros casos. Ao estrangeiro residente no exterior seria inadequado exigir um estágio maior.
5. Requisitos quanto ao Adotando
O artigo 40 do ECA, determina que o adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.
Outro requisito, é o previsto no artigo 43 do ECA a, que assegura que a adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.
 Não se pode esquecer que se a criança ou o adolescente estiver sob o poder familiar (pátrio poder), é necessária a destituição, para que com a adoção uma nova relação familiar seja constituída. Aliás, o artigo 45 do ECA estabelece que adoção depende dos pais ou do representante legal do adotando. Assim, se os genitores concordarem, perderão o poder familiar. No caso do tutor ou do curador, a falta de consentimento não impedirá a adoção se ela for conveniente a menor.
 
6. Procedimento da adoção
Para haver adoção, nacional ou internacional, há necessidade de intervenção do Poder Judiciário, pois se exige uma sentença judicial (art. 47, caput do ECA). Logo, há de existir um processo que tramitará em segredo de justiça, iniciado por petição assinada pela parte, pessoalmente ou por seu advogado, com toda a documentação necessária à identificação daspartes sendo observados os artigos 282 do CPC e incisos e art. 165 do ECA. O processo de adoção depois de findo é mantido em arquivo, admitindo-se seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida sua conservação para consulta a qualquer tempo (art. 47, § 8º do ECA).
O art. 165 e incisos do ECA apresenta os requisitos para os pedidos de colocação em família substituta, sendo que, para a adoção, nacional ou internacional, dependendo do caso, devem ser também observados requisitos específicos (art. 165, parágrafo único, ECA). A petição é apresentada diretamente no Cartório da Infância e da Juventude da comarca na qual se pretende adotar.
O Estatuto disciplinou a questão da necessidade de advogado na adoção, determinando que o pedido, quando os pais forem falecidos, já tiverem sido destituídos ou suspenso do poder familiar ou houverem aderido de forma expressa ao pedido de adoção, possa ser formulado diretamente em cartório em petição assinada pelos próprios requerentes, dispensando a assistência de advogado. Embora haja quem entenda inconstitucional essa norma (art. 166, caput do ECA), parece-nos que isso facilita a adoção e vem em benefício da criança e do adolescente adotandos.[4]
Havendo consentimento dos pais com a adoção, eles serão ouvidos pela autoridade judiciária e pelo membro do Ministério Público, tomando-se por termo as declarações, segundo determina o artigo 166, § 1º do ECA, mas desde que previamente tenham sido orientandos , por atuação da equipe interprofissional, esclarecidos e advertidos acerca desse importante ato e da irrevogabilidade da adoção. (art. 166, § 2º).
À vista do pedido e da prévia ciência do Ministério Público, a autoridade judiciária determina a realização de estudo social ou perícia por equipe interprofissional, decidindo sobre eventual guarda provisória. Sendo caso de adoção, deve o julgador deliberar acerca do estágio de convivência, em havendo assentimento dos pais. Em qualquer caso, deve a autoridade determinar a citação dos pais ou responsável (art. 158 do ECA), seja para resposta (contestação ou reconvenção, em dez dias), seja para os pais serem ouvidos em audiência fins consentimento (art. 166 § 3º, ECA).
Após eventual contestação, estudo social, réplica, o escrivão certifica o ocorrido e o juiz dá vista dos autos ao Ministério Público, o qual manifesta-se no prazo de cinco dias pela realização de audiência (necessário e imprescindível nos casos de revelia) ou emite parecer final. A audiência segue as regras da lei processual civil, com a ouvida das partes, das testemunhas e peritos, quando for necessário.
A sentença que acolhe ou não o pedido deve sobrevir em audiência, ou no prazo máximo de cinco dias. O procedimento de colocação em família substituta não pode exceder o prazo de 120 dias (art. 163 do ECA), sob pena de sérios prejuízos à criança ou ao adolescente, podendo ser apurada a responsabilidade administrativa do juiz em face da demora no procedimento.
Segundo dispõe o artigo 47 e parágrafos do ECA:
“Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.
§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de seus ascendentes.
§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro original do adotado.
 § 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua residência
 § 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do registro. 
 § 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a modificação do prenome.
 § 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. 
 § 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à data do óbito. 
 § 8o O processo relativo à adoção assim como outros a ele relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida a sua conservação para consulta a qualquer tempo.”
 
7. Adoção Internacional
 
Se a colocação de uma criança sob adoção é uma medida excepcional (art. 31, ECA), pois só pode ocorrer na provada impossibilidade de a criança ficar com sua família natural ou extensa, a adoção internacional “materializa a exceção da exceção”[5], pois também exige a impossibilidade de a criança adotada ficar no Brasil. Portanto, devem-se esgotar as possibilidades de colocação em família substituta brasileira, observando-se os cadastros existentes.
Como mencionamos anteriormente, a adoção por estrangeiros está assegurada na Constituição Federal no artigo 227, § 5º, que determina que a mesma será efetivada nos termos da lei específica. Essa lei, é o Estatuto da Criança e do Adolescente. As modificações trazidas ao Estatuto pela Lei n. 12.010/09, em matéria de adoção internacional, incorporam a Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, como se vê do artigo 51 caput , do ECA : “Considera-se adoção internacional aquela na qual a pessoa ou casal postulante é residente ou domiciliado fora do Brasil, conforme previsto no Artigo 2 da Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, aprovada pelo Decreto Legislativo no 1, de 14 de janeiro de 1999, e promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 de junho de 1999”.
Dispõe ainda, parágrafo 1º e incisos, e §§ do 51, do ECA que:
“ ... § 1o A adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando restar comprovado: 
 I - que a colocação em família substituta é a solução adequada ao caso concreto; 
 II - que foram esgotadas todas as possibilidades de colocação da criança ou adolescente em família substituta brasileira, após consulta aos cadastros mencionados no art. 50 desta Lei; 
 III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi consultado, por meios adequados ao seu estágio de desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida, mediante parecer elaborado por equipe interprofissional, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
 § 2o Os brasileiros residentes no exterior terão preferência aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança ou adolescente brasileiro. 
 § 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção das Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de adoção internacional. “
 
 E ainda os artigos seguintes do ECA sobre a adoção internacional. Vejamos:
 
 Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes adaptações: 
 I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido aquele onde está situada sua residência habitual; 
 II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar, emitirá um relatório que contenha informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir uma adoção internacional; 
 III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade Central Federal Brasileira; 
 
 IV - o relatório será instruído com toda a documentação

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