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Laura dos Santos Sousa | Medicina veterinária | 6º período Necropsia, definição e sua relevância O termo necropsia vem do grego, nekros – cadáver e opsis – vista, ou seja, a inspeção ou visualização de um cadáver. Também é chamado de necroscopia, exame necroscópico e mortopsia, porém o último é muito pouco utilizado. Temos que, a necropsia é a secção e inspeção detalhada e metódica das cavidades e órgãos de um cadáver, sendo estes de qualquer uma das diferentes espécies de animais, cujo objetivo desta secção e inspeção visa verificar as alterações que culminam na morte do animal. A realização deste processo, quando retratado a ação em humanos é chamado de autópsia. A diferenciação quanto ao uso de termos se dar por conta das espécies, na qual nós veterinários realizamos a análise de cadáveres de outro espécie, já humanos realizam a ação sob a mesma espécie, por isso o “AUTÓpsia”. A necropsia pode ser completa ou parcial; a necropsia completa realiza-se um exame aprimorado de todos os órgãos para estabelecer, após o estudo, a enfermidade principal, a causa mortis e os achados relacionados. A necropsia parcial a secção é realizada em parte do cadáver, para verificar ou não determinada lesão. A partir da imagem a seguir ilustra um momento na qual foi realizada a necropsia parcial, comum de ser realizada em hospitais em tentativa de explanar uma suspeita. A necropsia cosmética/ estética se dá por um procedimento completo ou parcial que contém uma desfiguração mínima do cadáver, na qual é recomposto, suturado e preparado para a devolução ao proprietário após realização do exame. A necropsia por verificação de óbito (VO) é também uma necropsia completa ou parcial, realizada com um único objetivo que é estabelecer a causa da morte. A necropsia por obdução é referente ao exame microscópico realizado com a finalidade médico legal, não sucedendo diferenças em relação á necropsia completa, apenas os resultados obtidos após os exames microscópicos, emitidos em forma de laudos, onde os mesmos são utilizados em um processo de responsabilidade criminal, por exemplo, em casos de verificação de envenenamento. Paramentação, material para execução e coleta de amostras PARAMENTAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE TÉCNICA DE NECROPSIA Luvas de látex; Macacão, jaleco ou avental; Sapato fechado (botas de borracha); Retirar anéis, relógio ou outros acessórios; Máscara, óculos e touca (opcionais). Os exames devem ser previamente preparados, iniciando na organização e manutenção do material base, tanto para realização quanto para coleta de materiais para realização de exames complementares, compreendem atividades pré exame, ou seja, necessita de uma atenção redobrada, pois interfere diretamente a evolução e na qualidade do procedimento de necropsia. O exame necroscópico é individual, específico e único, não sendo possível rever perdas por falta de material adequado. Algo que se deve ser discutido é quanto ao local do procedimento; a escolha deve ser feita a partir de um ambiente/ sala limpo (a), com a presença de estruturas de água, luz, esgoto, mesa para apoiar o cadáver e janelas e portas teladas. Cuidados devem ser redobrados para evitar quaisquer tipos de contaminação, a campo devemos escolher um local isolado, com persistência de sombra, com boa iluminação, deve-se forrar o solo com estrutura plástica, lona ou algo similar, é importante a utilização de medidas sanitárias básicas para enterrar ou descartar os despojos. NUNCA deve ser realizado em ambientes de nascentes, rios, córregos e/ou açudes. O processo de necropsia deve-se ser apenas realizado após a autorização do proprietário ou responsável e mediante o conhecimento do histórico. Em caso de seguro, solicitar a apólice, documento emitido por uma seguradora que faz a formalização da aceitação do risco e o principal, obterem a ficha clínica ou prontuário do animal. MATERIAIS PARA REALIZAÇÃO DE TÉCNICA DE NECROPSIA Faca Magarefe; Faca de órgãos; Pinça anatômica; Serra; Tábua de carne; Auxílio diagnóstico em patologia post-mortem Laura dos Santos Sousa | Medicina veterinária | 6º período Costótomo (alicate de jardinagem); Tesoura reta romba- romba; Tesoura curva romba-fina; Enterótomo; Pinça dente de rato; Frasco com água; Esponja; Frasco com formol a 10%; Régua; Barbante para fixar o cadáver à mesa. PRINCIPIOS E VARIÁVEIS DA AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA O objetivo da secção e inspeção do cadáver é reconhecer e descrever, explicando como e porque, essas alterações acontecerão, para posteriormente determinarmos o diagnóstico. Sendo a anatomia patológica essencialmente uma ciência descritiva, obtenha- se um favorecimento na interpretação correta por parte do profissional. As variações são estas: O odor dos cadáveres é umas das variáveis; o cheiro é um aspecto inerente á qualquer ser vivo, na qual o odor pode ser alterado, mediante ás alterações das funções e substâncias, substâncias essas que também podem ser ingeridas pelo animal, por exemplo, o uso de algum fármaco, como o dimetil sulfóxido, utilizado na clínica de grandes animais, possui cheiro forte um odor característico e diante disso realizar questionamentos, como “este animal está sob tratamento?”, “esta medicação pode ter influenciado seu óbito?”, etc. Quanto a localização e tamanho Deve-se avaliar a condição geral do cadáver, incluindo a observação dos bordos dos órgãos, na qual podem ser encontrados abaulados ou diminuídos, onde também devemos levar em consideração a utilização de unidades de medidas métricas para aferição de comprimento de tais órgãos observados. Quanto a cor: Assim como a pele e mucosas, as vísceras são pigmentadas, na qual, alguns exsudatos possuem cor próprias e podem alterar a cor fisiológica das estruturas que estejam. A cor representa informações importantes quanto aos órgãos, observar se estão avermelhadas, pálidas ou enegrecidas. Tanto substancias exógenas, medicamentosas ou não, como endógenas, hemoglobina e bilirrubina, podem alterar as cores dos tecidos. Mediante a isso, deve-se então associar cores básicas, tais como: Quanto a forma: As formas são caracterizadas a partir do que se observa, para a mesma utilizam-se termos como circular, oval, cônica, cilíndrica, tortuosa, fusiforme, nodular, puntiforme e chata. Quanto a consistência: As variáveis de distribuição, quanto as lesões, podem ser classificadas de acordo com sua distribuição, como em focais, multifocal, difusa, segmentar, simétrica e aleatória. a) FOCAL – apenas um ponto apresenta lesão; b) MULTIFOCAL – vários pontos apresentam lesões – hemorragias multifocais Localização Tamanho Cor Forma Consistência Número Extensão Superfície Corte Conteúdo Distribuição Laura dos Santos Sousa | Medicina veterinária | 6º período I. M. COALESCENTES – quando os pontos de lesão vão se juntando, se encontrando; II. M. MILIARES – os pontos de lesão apresentam cerca de 1mm, são apenas circulares; c) DIFUSA – lesão por todo corpo, tecido todo comprometida; d) SEGMENTAR – uma parte do órgão apresenta lesão, uma porção anormal. Utilizada em órgãos tubulares; e) SIMÉTRICA – estabelece um padrão anatômico, mesma lesão dos dois lados – cérebro, no mesmo loo pulmonar; f) ALEATÓRIA – lesões que não possuem um padrão anatômico. TÉCNICAS DE EXECUÇÃO A técnica de necropsia é um conjunto de procedimentos mecânicos que tem por finalidade expor, de maneira ordenada, as partes dos organismos para análises. Sabe-se que há uma grande variedade de técnicas para realização de necropsia, na qual os profissionais se adaptam as suas melhores técnicas. Independente dos métodos que seja empregado ao profissional, o exame microscópico, obrigatoriamente, é composto por três momentos essenciais, sãoeles o exame externo, a abertura – secção – e o exame interno. I. EXAME EXTERNO – os primeiros passos para a técnica é a avaliação do local. O exame externo consiste em observar, ambos os lados do animal, e detectar alterações quanto ao estado geral do animal, incluindo estado nutricional, presença de ectoparasitas, escaras e escoriações, cicatrizes, presença de neoplasia, alterações cadavéricas, exame da cavidade oral e situação das mucosas (oral, ocular, vaginal, peniana e anal), portanto, qualquer alteração externa observada no cadáver. a) Identificação – espécie, sexo, idade, raça, peso, marcas características*, estado nutricional, rigidez e alterações cadavéricas; b) Pelame: cor, aspecto; c) Pele – coloração, elasticidade, corpo estranho, umidade, lesões, parasitas; d) Cavidades naturais – olhos, narinas, boca, ouvidos, ânus e genitais. II. ABERTURA DO CADÁVER – através da abertura obtêm-se informações a partir do exame macroscópico. O animal deve ser, quando possível, fixado à mesa com barbantes posicionados acima das articulações do carpo e tarso, com o cadáver em decúbito dorsal – cães, gatos e primatas, decúbito lateral esquerdo – ruminantes e decúbito lateral direito – equinos. III. EXAME INTERNO – recomenda-se que o exame das vísceras seja feito em sequência anatômica, devido á possibilidade de alterações nas vísceras, dos órgãos, que ocorreram durante os procedimentos. Pulmões (devido ao processo de oxidação), por exemplo, deve ser um dos primeiros órgãos a serem analisados, já o sistema digestório pode ficar por último, devido ao mau cheiro. Analisa-se tanto os órgãos individualmente como em grupo, como um todo. COLETA E ENVIO DE MATERIAS PARA EXAMES Primeiramente deve-se ter o material por completo disponível, como o frasco com formol a 10%, frascos vazios, régua, câmera fotográfica, barbante e etiquetas, como por exemplo. A colheita de material para exame histopatológico deve ser realizada logo após a morte do animal, pois quanto maior o tempo de morte, maior a possibilidade de autólise dos tecidos. Em média, até 12 horas após a morte é possível realizar a colheita, exceto em casos onde a enfermidade principal acelera o processo autolíco, como ocorre nas clostridioses. Assim, se a suspeita envolve doenças que aceleram o fenômeno de autólise, a colheita deve ser realizada, no máximo, até seis horas após a morte do animal. Tendo em vista a grande importância de como iremos manusear o material enviado e coletado, a restrições as quais nunca devem acorrer, tais como: Selecionar material exclusivamente necrótico, hemorrágico ou esmagado. Laura dos Santos Sousa | Medicina veterinária | 6º período Envio de amostras em quantidade ou qualidade não representativa da lesão e sem tecido normal adjacente. Envio de amostras grandes não selecionadas. Envio de órgãos tubulares fechados e sujos. Envio de material demasiado pequeno, fraccionado e não identificado anatomicamente orientado. Envio de amostra sem qualquer identificação e/ou dados clínicos. Envio em recipientes primários com identificação incompleta e sem identificação com tinta NÃO indelével Utilização de recipientes primários não estanques. O relatório de necropsia é um documento que pode ser utilizado demandas jurídicas, periciais, na qual, possuem justificativas de responsabilidade profissional, ou seja, são documentos que possuem aspectos legais. Então, tende a ser uma documentação com descrição detalhada com clareza, cuja linguagem e conteúdo devem ser claros, deve conter cabeçalho com informações tanto do animal como do proprietário, deve conter também o histórico do caso, os achados necroscópicos, os diagnósticos presuntivo ou definitivo feito pelo avaliador e a descrição do material colhido. DESTINO DOS DESPOJOS E DESINFECÇÃO DE AMBIENTES Após a necropsia, restam carcaças e as vísceras em partes, cujo destino são de grande importância, na qual podem ser realizados de diversas formas, como o enterramento, a cremação ou a incineração. Em caso de enterramento, o “buraco” deve conter cobertura de 1m e 1,5m acima do lençol subterrâneo de água. Considera-se que enterrar, mesmo sendo algo simples e econômico, não é definitivo, assim como é a incineração, na qual a mesma é a representação melhor para destino do resíduo biológico, onde elimina os agentes biológicos e reduz grandes quantidades de resíduos á cinzas. Após óbito do animal, é recomendada a desinfecção do local, através da utilização de lança chamas, indispensável na suspeita de doenças infectocontagiosas, e também a fulmigação, mais utilizadas em ambientes fechados – 150ml de formol, á 25%, com adição de 75 gramas de permanganato de potássio, para cada 2,5 metros cúbicos diários. O mais adequado é associar os dois métodos, incineração no inteior de uma vala, seguida de cobetura com tera, pois elimina odores que atraem os animais silvestres e domésticos, além de eliminar os agentes biológicos. LAUDO DE NECROPSIA O laudo de necropsia é um documento semelhante ao relatório, porém é um documento onde o profissional conclui o caso, através deste laudo, ou seja, deve-se ser o mais detalhado possível. O laudo necropsia é fundamental para os donos que podem ter o conhecimento se houve algum tipo de falha médica, intoxicação acidental ou proposital, entre outros, o que ajuda na tomada de providências. Tem-se anexado o diagnóstico e os anexos relacionados aos resultados de exames complementares e imagens, tornando-se assim um documento conclusivo.
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