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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO MARKETING DE RELACIONAMENTO COMO ESTRATÉGIA DE OTIMIZAÇÃO DA CARTEIRA DE CLIENTES: O CASO DE UMA EMPRESA OPERADORA DE PLANOS DE SAÚDE NO RIO GRANDE DO SUL Dissertação apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas para obtenção do grau de Mestre JOSÉ CARLOS AVINO Rio de Janeiro 2003 FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO TITULO MARKETING DE RELACIONAMENTO COMO ESTRATÉGIA DE OTIMIZAÇÃO DA CARTEIRA DE CLIENTES : O CASO DE UMA EMPRESA OPERADORA DE PLANOS DE SAÚDE NO RIO GRANDE DO SUL DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR: JOSÉ CARLOS AVINO E APROVADO EM PELA COMISSÃO EXAMINADORA 4 vJc/^^- —-&J?y*. EDUARDO ANDRETEIXEIRA AYROSA Doutor em Marketing LUÍS CÉSAR GONÇALVES DE ARAÚJO Doutor em Administração VIVIAN IARA STREHLAU Doutora em Marketing RESUMO Os serviços em geral estão em evolução dentro de um cenário de crescente competição, e as particularidades de cada segmento necessitam ser atendidas de forma a manter os clientes atuais e ampliar a carteira dentre os clientes potenciais. O papel do relacionamento nas atividades de serviços torna-se cada dia mais importante, em especial se o setor da atividade é o da saúde. A saúde é um setor onde a tecnologia pouco contribui para a redução dos custos; ao contrário, encarece a prática da medicina, juntamente com o acréscimo da demanda e das expectativas dos usuários. Além disso, o setor passou para a condição de concessionário, regulamentado por uma Agência governamental, com forte pressão de nova legislação a qual aumentou significativamente as coberturas a serem entregues pelos Planos de Saúde a seus usuários, ampliada pelos órgãos de defesa do consumidor e pela exposição na mídia, por tratar-se de assunto de forte apelo social, econômico e político. O estudo analisa, através de uma pesquisa, a importância de um programa de Marketing de Relacionamento desenvolvido por um Grupo que presta serviços de saúde no interior do Rio Grande do Sul, o qual procura manter os clientes atuais e ampliar sua carteira. A organização desenvolve um programa valorizando os colaboradores, orienta-se para o mercado e busca fortalecer as relações internas e externas, por meio do comprometimento, da confiança e da cooperação, que são as bases do relacionamento. Os resultados apontam para a validade do programa no tocante à fidelização dos atuais clientes, e sua evolução permite prever o fortalecimento dos vínculos do Grupo com seus colaboradores e clientes, necessitando de mais tempo para confirmar a eficácia também na ampliação de sua carteira. ABSTRACT Services in general are developing in a scenario of increasing competition, and particularities of each segment need to be considered in order to keep current customers and to gain potential ones. The role of relationships in services activities becomes more important every day, specially if the activity sector is the health care one. Health care is a sector where technology has a small contribution to reduce costs. On the contrary, it raises the price of medicai practice together with demand increase and users expectations. Besides, the sector has become a concessionaire, regulated by a government agency, with a heavy pressure from a new legislation which has increased meaningfully coverages offered by Health Care Plans to their users, amplifies by consumer protection boards and by media exposure for being a subject with a strong social, economical and political appeal. This study analyses through a research the importance of a Relationship Marketing program developed by a Group that renders health care services in the state of Rio Grande do Sul, and aims at keeping current customers and gaining new ones. The organization develops the program by valuing their collaborators, it is market-oriented, and seeks to strengthen the bases of internai and externai relations by means of commitment, trust and cooperation, which are the fundaments of relationship strategy. The results point to the validity of the program with respect of fidelity of current customers, and its evolution allows to forecast the strengthening of Group's bonds with its collaborators and customers, at the same time as it needs more time for its effícacy in also gaining new customers to be confirmed. SUMARIO 1.1 Visão geral ' 1.1.1 Introdução 7 1.1.2 Cenário do estudo 9 1.1.3 Amplitude do marketing de relacionamento 11 1.2 Contextualização do problema 14 1.2.1 Os serviços 14 1.2.2 Os serviços e as pessoas 17 1.2.3 Os relacionamentos 18 1.3 Formulação do problema 19 1.4 Objetivos I9 1.5 Suposições 20 1.5.1 Premissa I - O programa de relacionamento deve iniciar pelo cliente interno.... 20 1.5.2 Premissa II-O relacionamento é, como a venda, tarefa de todos 21 1.5.3 Premissa III - A compreensão da atividade é fundamental para a eficácia da operação 21 1.5.4 Premissa IV - Prestação de serviços versus resultados 22 1.6 Delimitação do estudo 23 1.7 Relevância do estudo 23 2.1 Serviços 28 2.1.1 Conceitos de serviços 28 2.1.2 Operações de serviços 30 2.1.3 Classificação dos serviços 31 2.1.4 O Pacote de serviços 32 2.1.5 Características dos serviços 33 2.1.6 Serviços como um sistema aberto 39 2.1.7 A cadeia de lucro dos serviços 39 2.1.8 Serviços como fonte de vantagem competitiva 40 2.2 Pessoas 41 2.2.1 Aspectos de cultura e clima 42 2.2.2 As horas da verdade 44 2.2.3 O marketing interno ou endomarketing 46 2.2.4 Delegação de poder 48 2.2.5 Pessoas sustentando o sucesso em serviços 51 2.3 Relacionamento 52 4 2.3.1 Conceito de marketing de relacionamento 52 2.3.2 Marketing transacional versus marketing relacionai 57 2.3.3 Filosofia, estratégia e tática no marketing de relacionamento 63 Filosofia 63 Estratégia 63 Tática 64 2.3.4 Novos formatos organizacionais 65 2.3.5 Comprometimento, confiança, interdependência e cooperação 66 Comprometimento 67 Confiança 68 Cooperação e interdependência 69 Modelo 70 2.3.6 Fatores condicionantes 70 Orientação para o mercado 71 2.3.7 Conclusões sobre marketing de relacionamento 72 3.1 Critérios para pesquisa 74 3.2 A escolha do método 74 3.2.1 A metodologia do estudo 75 3.2.2 Estudo de caso 76 3.3 Seleção dos sujeitos 78 3.4 Coleta de dados 79 3.4.1 A escolha dos casos 79 3.4.2 A escolha do caso estudado 80 3.4.3 Os instrumentos para coleta de dados 80 3.4.4 Pressupostos do estudo 83 3.4.5 Hipóteses do estudo 83 4.1 Histórico do grupo 86 4.2 Estrutura corporativa 88 4.3 Análise ambiental 88 4.3.1 Ambiente interno 89 Pontos fortes 89 Pontos fracos 89 4.3.2 Ambiente externo 90 Oportunidades 90 Ameaças 90 4.4 Análise das forças competitivas 91 4.4.1 Clientes (compradores) 91 4.4.2 Fornecedores 91 4.4.3 Entrantes 92 4.4.4 Substitutos 92 4.4.5 Rivalidade 92 5.1 Apresentação e análise dos resultados 94 5.1.1 Proposição 1: o programa tem significado estratégico para a organização 95 Apresentação dos dados 95 Análise e interpretação dos dados 99 5.1.2 Proposição 2: as empresas que implantam o marketing de relacionamento valorizam os clientes internos 101 Apresentação dos dados 101 Análise e interpretação dos dados 104 5.1.3 Proposição 3: as empresas que implementam o marketing de relacionamento são orientadas para o mercado 105 Apresentação dos dados 106 Análise e interpretação dos dados 108 5.1.4 Proposição 4: as ações relacionais da empresa são decorrentes da estratégia e influem na fidelização dos clientes 110 Apresentação dos dados 110 Análise e interpretação dos dados 113 5.1.5 Proposição 5: o marketing de relacionamento consolida a relação negociai e amplia as trocas relacionais 115 Apresentação dos dados 116 Análise e interpretação dos dados 118 6.1 Conclusão sobre a Proposição 1: a estratégia de marketing derelacionamento existe e tem significado estratégico na organização 120 6.2 Conclusão sobre a Proposição 2: os clientes internos são valorizados pela organização 121 6.3 Conclusão sobre a Proposição 3: a empresa é orientada para o mercado 123 6.4 Conclusão sobre a Proposição 4: as ações relacionais da empresa são decorrentes da estratégia e influem na fidelização dos clientes 124 6.5 Conclusão sobre a Proposição 5: o programa consolida e aumenta a relação, ampliando a base de clientes 125 6.6 Recomendações para trabalhos futuros 126 6.7 Limitações do estudo 127 6.8 Palavra final 127 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Importância do tempo no Relacionamento 12 Figura 2 - Áreas de estudo doMarketing de Relacionamento 13 Figura 3 - Distribuição da Força de Trabalho em Países da América Latina e Caribe 15 Figura 4 - Modalidades de Assistência Médica Suplementar 25 Figura 5 -Conceitos de Serviços 29 Figura 6 - Diferenças entre Serviços e Bens Físicos 36 Figura 7 - Natureza e papéis do marketing de mercadorias 37 Figura 8 -Natureza e papéis do marketing de serviços 37 Figura 9 - Classificação dos serviços 38 Figura 10-Cadeia de lucro no serviço 42 Figura 11 - Os três níveis do Marketing de Relacionamento 57 Figura 12 - Continuum do Relacionamento 66 Figura 13 - Antecedentes e conseqüentes do comprometimento 68 Figura 14 - Importância do comprometimento e da confiança na cooperação 70 Figura 15 -Abordagens sobre Orientação para o mercado 71 Figura 16 - Relação dos entrevistados 79 Figura 17-Empresas do Grupo 88 Figura 18 -Número de funcionário do Grupo 88 1 APRESENTAÇÃO A motivação do presente trabalho tem origem na experiência do autor com a prestação de serviços ao longo de mais de três décadas, em diferentes segmentos do setor. Essa identidade permitiu acompanhar as aplicações dos conceitos e das premissas do marketing, que apontam para a constante ampliação da utilização do Marketing de Relacionamento. 1.1 Visão geral A área temática em que se insere este trabalho é a de Marketing de Relacionamento. O Marketing de Relacionamento, ou Marketing de Relações, é uma resposta a novas condições surgidas no ambiente mercadológico, fruto das alterações decorrentes das novas formas de competição. São cenários de novas tecnologias, em permanente evolução e de influências ampliadas em níveis mundiais, atingindo todos os espaços negociais. Essas condições atingem, com maior ou menor intensidade, vários setores, cujas características determinam as alternativas a serem adotadas pelas empresas e demais instituições na busca de sua consolidação. Este trabalho aborda o setor da saúde, que sofre influências políticas, legais, sociais e econômicas as quais podem comprometer severamente o resultado e, por conseqüência, a sobrevivência de uma organização que nele atua. Assim sendo, o estudo busca analisar ações que, uma vez desenvolvidas nessa área de atuação, permitam o fortalecimento de empresa que nela concorre e estuda o caso de uma empresa do setor, que opera um Plano de Saúde, possuindo hospital próprio, bem como farmácias, laboratório de análises clínicas e medicina ocupacional, ou medicina do trabalho: Grupo Fátima, de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Mais detalhes sobre este Grupo estão no Capítulo 4. 1.1.1 Introdução MORGAN & HUNT(1994) distinguiram a natureza do Marketing de Relacionamento, que não abrange as transações discretas, que têm início definido, são imediatas e finalizam com a performance do produto ou serviço. Ele compreende aquelas trocas relacionais que incluem entendimentos iniciais e de longa duração, sinalizando um processo de contínua evolução. Os autores mencionaram 10 formas de relacionamento, trabalhadas por diversos estudiosos, conforme os focos das empresas e suas trocas relacionais internas e externas: 1) parceria entre produtores e seus fornecedores, como nas aplicações do Just-in-Time - JIT (sistema em que se mantém pouco estoque e o fornecedor supre à medida da necessidade) ou de Total Quality Management - TQM (Gestão pela Qualidade Total); 2) relações das empresas com provedores de serviços, como agências de propaganda ou de pesquisa; 3) alianças estratégicas entre competidores; em tecnologia ou marketing, ou ações globais; 4) alianças com entidades sem fins lucrativos; 5) parcerias para pesquisas conjuntas, entre empresas e governos; 6) trocas de longo prazo entre firmas e consumidores finais, especialmente na área de serviços; 7) relacionamento de parceiros em atividades, como nos canais de distribuição; 8) envolvimento de departamentos operacionais; 9) marketing interno; 10) relações entre-firmas, envolvendo negócios de corporações, subsidiárias, divisões ou Unidades Estratégicas de Negócios - UEN's. É importante destacar a abrangência de um conceito de Marketing de Relacionamento para todas as relações (MORGAN & HUNT, 1994). Nos serviços, o relacionamento significa atrair, desenvolver e reter clientes (BERRY & PARASURAMAN, 1995). No marketing industrial, refere-se à orientação para relações fortes e finais entre contabilidades de firmas (JACKSON, 1985). Nesta relação os parceiros trabalham com abertura de números, onde os resultados são previamente definidos e mutuamente aceitos. Em vários setores poderá haver um conceito específico de Marketing de Relacionamento. COOTE, apud RIBEIRO (1999, p. 13), relacionou a evolução dos vários conceitos do Marketing de Relacionamento com contribuições de três diferentes abordagens, decorrentes da origem dos autores dos trabalhos: 1) a anglo-australiana, onde o Marketing de Relacionamento representa a convergência das teorias de marketing de serviços, qualidade total e economia de relacionamentos com clientes, que trata de um corpo teórico em que se mensura o valor dos clientes ao longo de seus ciclos de vida como clientes de uma empresa; 2) a escola nórdica, agregando teorias de marketing de serviços, a economia de relacionamentos com clientes e a teoria de redes interativas, na qual as organizações são vistas como redes de relações e interações; e 3) a americana, mais focada nas relações entre comprador e vendedor, visando dar suporte a essas relações. No início do estudo sobre o conceito, centravam-no como parte da estratégia de serviço ao cliente, destacando a importância de esforços de marketing para manutenção de clientes, tão importantes ou mais do que os destinados à sua captura (BERRY, 1983 e 2002; LEVITT, 1985; VAVRA, 1993; GRÒNROOS, 2000). 1.1.2 Cenário do estudo A forte competição decorrente do seu grau de saturação ou excesso de oferta atinge hoje quase todos os setores, alguns com mais intensidade. Em outros, é função de poucas barreiras à entrada. No caso brasileiro, além desses fatores, há influência do processo de abertura dos mercados, da regulamentação e da instabilidade de políticas governamentais, que atingem quase todas as atividades. Em vários setores resulta não existir massa crítica para alguns dos competidores que justifique maciços investimentos em comunicação visando atingir novos clientes e os já existentes. Destaca-se, assim, o valor da manutenção dos clientes atuais, leais ou não, e da utilização de táticas eficazes, de baixo custo e alta resposta. Para sobreviver em mercados dinâmicos, com forte turbulência ambiental, as empresas precisam estabelecer estratégias que sobrevivam às 10 mudanças imprevisíveis no mercado, onde os padrões estabelecidos não mais se sustentem (McKENNA, 1992). Autores destacam as condições do ambiente e as necessidades das empresas, como: contínuas inovações e aumento da eficiência, levando à horizontalização das organizações (BROWN, 1991), ações gerenciais que favoreçam a participação e o envolvimento crítico dos funcionários (HESKETT, et. ai 1994), e, ao final, a adoção de estruturas flexíveis (ACHKROL, 1991). COBRA (1995) sugere uma reengenharia com foco no mercado, com mudanças e melhoramentos nos processos de marketing para tornar as empresas mais competitivas.Estas necessitam e buscam constantemente desenvolver ações que fortaleçam sua posição, pois as mudanças ambientais e inovações tecnológicas determinam alterações de produtos, preços, canais e composto de comunicação. O autor destaca que as boas relações são duradouras, mantêm o valor do produto ou serviço, bem como a força da marca e garantem a evolução de seu posicionamento. Este é o lugar que um produto, uma marca, uma idéia, uma pessoa, uma empresa ocupa na mente do cliente e do prospect, ou cliente potencial (RIES & TROUT, 1993). Nesse contexto, e de certa forma em resposta a ele, surge o chamado Marketing de Relacionamento, enfatizando a necessidade de relacionamentos de longo prazo, contrapondo- se à prática das transações com objetivo de curto prazo. É necessário cooperar para competir (GUMMESSON, 1987; GRÒNROOS, 1994; HUNT & MORGAN, 1994; DAY, 1995). O Marketing de Relacionamento encoraja o marketing a manter os investimentos na cooperação com os parceiros, aumenta a resistência aos apelos das alternativas de curto prazo, a favor dos benefícios no longo prazo, mantendo os parceiros. E permite maior e melhor visão do risco das ações, pela crença de que os parceiros não agirão de forma oportunista (WATHNE & HEIDE, 2000). A aplicação do Marketing de Relacionamento vem ocorrendo de forma rápida, muitas vezes de forma parcial ou inadequada, confundindo ferramentas de apoio, como a Tecnologia da Informação e mídias interativas, como práticas representativas de todo o conceito. Isto leva inclusive especialistas a usar uma sinonímia entre os termos Marketing de Relacionamento, Database Marketing e Marketing Direto (RIBEIRO, 1999). A utilização do conceito de forma parcial, valorizando mais instrumentos e forma sobre o conteúdo, função da premência prática de respostas aos desafios, levou as áreas de marketing 11 das empresas à identificação e eleição precoce de ferramentas e procedimentos, aparentemente eficazes mas ainda não consolidados, para aproveitar oportunidades de mercado. Assim, a realidade registrada pela literatura aponta dificuldades restritas de caráter operacional na implantação de projetos dessa natureza (RIBEIRO, 1999). 1.1.3 Amplitude do marketing de relacionamento MORGAN & HUNT (1994) apontam o comprometimento como foco central no marketing de relacionamento e mencionam que há muito tempo ele é central na literatura das trocas sociais, citando BLAU (1964), THIBAUT & KELLEY (1959), e também na literatura sobre o matrimônio, onde McDONALD (1981) destaca o comprometimento e a confiança como diferenciação maior dos vários tipos de relacionamento e sua importância em estabelecer e manter relacionamentos. Nas atividades de serviços as relações são construídas sobre as fundações de um mútuo comprometimento (BERRY & PARASURAMAN, 1995). E referem a ASSAEL (1987) que define a lealdade a uma marca como um comprometimento com ela e esse comprometimento se assemelha ao conceito de HUNT & MORGAN (1994). Também a confiança é objeto da literatura social e igualmente tratada nos negócios, como por BERRY & PARASURAMAN (1995) nos serviços, onde a relação cliente-empresa requer confiança. Nas alianças estratégicas o maior obstáculo é a falta de confiança (SHERMAN, 1992). BERRY (1993) afirma que no varejo a confiança é a base da lealdade. MORGAN & HUNT (1994) citam a revista Advertising Age (1992) sobre as parcerias desenvolvidas pela General Motors com o lançamento do automóvel Saturno, enfatizando o papel da estratégia ganha-ganha, exigindo a confiança mútua; e a revista Business Week (1992), com a Ford realçando a importância de um "espírito de confiança" nas relações com seus fornecedores, para poder competir com a indústria automobilística japonesa. BITNER (1995), comentando um trabalho do mentor da expressão Marketing de Relacionamento, BERRY (1983), destaca a noção e importância das promessas, visto que os relacionamentos, especialmente em serviços, estão voltados para uma mútua troca e cumprimento de promessas. Em resumo, o comprometimento e a confiança, presentes no Marketing de Relacionamento, dirigem o comportamento cooperativo que conduz ao sucesso dos envolvidos (MORGAN & HUNT, 1994). Essas abordagens implicam em mudança estratégica de uma organização, alinhando cultura, objetivos e estrutura, para a implantação do Marketing de Relacionamento, visando torná-la mais competitiva. Isto remete à dimensão filosófica do Marketing de Relacionamento, como 12 SHETH (1994) afirma que ele é a criação e distribuição de valor por meio de cooperação mútua e interdependência. Do ponto de vista da cultura, o Marketing de Relacionamento é a filosofia central do negócio, considerando a criação e agregação de valor ao relacionamento, em função de uma recompensadora cooperação mútua, quando a troca relacionai se caracteriza por ser estável, amigável, de confiança e comprometimento recíprocos (SHETH, 1994; PALMER, 1995). Segundo LEVITT (1985, p.124): "o futuro será de relacionamentos cada vez mais intensificados". O autor usou a metáfora do casamento, com as fases que o precedem, o conhecimento e o noivado, para caracterizar a relação mais intensa após o enlace, este significando a venda, ou processo no qual se espera que sejam cumpridas todas as promessas. LEVITT (1985) destaca a importância do aspecto "tempo" no relacionamento e mostra que a compreensão do futuro é bem maior quando relacionado com o passado e o presente. E afirma que nas atividades de serviços, no passado, o valor do relacionamento era modesto; no presente é importante e no futuro o relacionamento é vital. Essa idéia pode ser expressa na Figura 1 abaixo: Categoria Item Venda Valor Tempo de avanço Serviço Lugar de entrega Fase de entrega Estratégia Passado Produto Unidade Vantagem da característica Curto Modesto Local Uma vez Vendas Presente Produto aumentado Sistema Vantagens da tecnologia Longo Importante Nacional Freqüentemente Marketing Futuro Contratos de sistemas Sistema / tempo Vantagens de sistema Longuíssimo Vital Global Contínua Relacionamento Figura 1 - Importância do tempo no Relacionamento Fonte: LEVITT (1985, p. 124) De acordo com a Figura 1, o item, ao princípio, era simplesmente o produto. Mais recentemente, o produto teve que ser ampliado e agora já demanda "contratos sistêmicos", que se configuram em "agregados complexos de contatos contínuos e envolvendo relacionamentos". A transação ou "a venda será um sistema em relação ao tempo, não apenas 13 um sistema em si. Há um sistema de dependências recíprocas." O valor virá desse sistema mais do que da tecnologia, sendo mais importantes "outros benefícios e interações" (LEVITT, 1985, p. 124). Assunto Inter-organizações: compra e venda Estruturas de rede e arranjos Relações entre canais Administração de vendas Marketing de serviços Alianças estratégicas Autores Dwyer, Schurr & Oh, 1987; Johanson, Hallén & Seyed- Mohamed, 1991 Anderson, Hakanssson & Johanson, 1994 Boyle, Dwyer, Robicheaux & Simpson, 1992; Ganesan, 1994 Swan&Nolan, 1985 Berry, 1983; Crosby, Evans & Coles, 1990 Bucklin & Sengupta, 1993; Heide & John, 1990; Shet &Parvatiyar, 1992 Figura 2 - Áreas de estudo do Marketing de Relacionamento Fonte: SHETH & PARVATIYAR (1995, p. 255) Este trabalho busca descrever uma estratégia de relacionamento, desde a sua preparação até os efeitos de sua implantação, que inclui quatro etapas em sua evolução: 1) conscientização e aprendizagem do público interno, para aplicação sistêmica da estratégia em todos os relacionamentos internos e externos; 2) desenvolvimento e controle das atividades que representem valor para o mercado-alvo e para o sucesso do negócio; 3) aprofundamento permanente do conhecimento de seu público-alvo, para orientar as ações a serem desenvolvidas; 4) reconhecimento pelo público-alvo sobre o valor a ele entregue, que fortaleça a manutenção de sua carteira e propicie o crescimento no número de clientes. 14 1.2Contextualização do problema O desenvolvimento deste trabalho tratará do macro ambiente onde se insere o seu objetivo, que é a área de serviços. Aborda em seguida a importância do público interno, em especial dos prestadores de serviços, numa atividade baseada em pessoas. E conclui com a revisão do conceito de Marketing de Relacionamento, o confronto desse paradigma com o Marketing Transacional e sua aplicação no caso da empresa estudada. 1.2.1 Os serviços Serviços são definidos como sistemas organizados à base de equipamentos e/ou empregados para realizar certas tarefas demandadas pelo público (SASSER, OLSEN & WYCKOFF, 1978, apud NORMANN, 1993). KOTLER (2000, p. 448) define serviços como "qualquer ato ou desempenho, essencialmente intangível, que uma parte pode oferecer a outra e que não resulta na propriedade de nada. A execução de um serviço pode estar ou não ligada a um produto concreto". O grande crescimento das atividades de serviços tem sido destaque nas economias centrais. "O setor de serviços das nações industrialmente avançadas tem estado em ascendência proporcional há aproximadamente três quartos de século. Nos Estados Unidos, somente nos últimos vinte anos, o setor não produtor de bens, da força de trabalho não agrícola, elevou-se 40% mais rapidamente do que o setor produtor de bens." (LEVITT, 1985, p.66) Serviços são consumidos diariamente. Iluminação, transporte, telecomunicações, saúde, lazer, atendimentos pessoais, são exemplos de serviços. Algumas instituições, como universidades, disponibilizam variada gama de serviços, desde o educacional até assistenciais, e vários outros de suporte (LOVELOCK & WRIGHT, 2001). O rumo da economia, da produção para o serviço, é uma realidade mundial. Serviços estão se tornando, de várias formas, em uma fonte crítica de riqueza e o setor tem sido responsável pelo aumento da riqueza e do nível de emprego na sociedade. E isto não vale apenas para países desenvolvidos. Como escreve GRÒNROOS (1993, p. 1), "vivemos em uma Economia de Serviços". Ou, se preferirmos, em uma sociedade de serviços. Dados estatísticos do Acordo Geral de Tarifas e Comércio - GATT (1984) mostram que o setor de serviços respondia por 66% da economia dos Estados Unidos da América e por 58% nos países do Mercado Comum Europeu - MCE. 15 Entre os trabalhadores norte-americanos que atuam nos setores de fabricação, também cerca de 70% realizam tarefas de serviços, os quais, no total, representam mais de três quartos de todos os custos na maioria dos negócios americanos. Em 1993, os serviços foram responsáveis por 74% do Produto Interno Bruto - PIB dos Estados Unidos. Isso significa que a manufatura precisa de serviços e não o inverso. (BATESON & HOFFMAN, 2001) A força de trabalho dos Estados Unidos ocupava 30% nos serviços em 1900, subindo para 74% em 1984, enquanto reduzia de 42% para 3% na agricultura (BATESON & HOFFMAN, 2001). No início dos anos 90, confrontando-se com marcas inferiores a 40% em 1970, a porcentagem de participação dos serviços no PIB de alguns países desenvolvidos era: 58 na Alemanha Ocidental, 59 no Japão, 62 na Grã-Bretanha, 63 na Itália, 65 na França, 66 no Canadá e 71% nos Estados Unidos (The Economist, 1994). Também em economias em desenvolvimento ou sub-desenvolvidas a ocupação nos serviços é maioria, como em vários países da América Latina e Caribe, conforme Figura 3 abaixo. País Argentina Brasil Costa Rica R. Dominicana Equador El Salvador Guatemala Honduras México Panamá Porto Rico Trinidad-Tobago Uruguay Venezuela % de participação dos Serviços no PNB 63 52 59 62 50 66 55 50 63 72 57 55 64 53 % da distribuição da força de trabalho (Agricultura+Indústria+Serviços= 100%) Agricultura 12 22 25 24 31 11 50 37 23 27 4 10 15 11 Indústria 32 23 27 18 18 29 18 21 28 15 26 33 26 28 Serviços 57 53 48 58 51 60 32 42 50 67 70 57 60 61 Figura 3 - Distribuição da Força de Trabalho em Países da América Latina e Caribe Fonte: Banco Mundial (Apud LOVELOCK & WRIGHT, 2001) 16 De acordo com a Figura 3, no Brasil o setor foi responsável por 52,41%, em 2000 e por 55,35% em 2001 de participação no PIB, conforme informação do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE ( www.ibge.gov.br). GRÓNROOS (1993), destacando a importância dos serviços, afirma que a informação tem grande influência na sociedade atual por sua expansão exponencial. Ela sempre existiu, sempre houve um fluxo de informações, sem representar uma mudança estrutural da economia. Para esse autor, o crescimento dos serviços, em participação e importância, não se trata de aumento, mas de uma mudança estrutural da economia. Essa mudança determina o que ele chama de "concorrência por serviços" trazendo "novas dificuldades nos métodos gerenciais, uma nova lógica organizacional nos negócios, em comparação com a sociedade industrial" (GRÓNROOS, 1993, p. 3). É necessário destacar que as afirmações dos parágrafos anteriores podem induzir ao entendimento equivocado de que os serviços representem o único fator que importa na nova economia minimizando a fabricação, a qual merecerá atenção menor, assim como o chamado setor primário. Ambos demandam o mesmo tratamento, ou maior, do que sempre tiveram. Os serviços podem representar o diferencial para garantir a vantagem competitiva. Compreendê- los é "a questão crítica, tanto para fabricantes de bens tangíveis como para empresas e instituições prestadoras de serviços no setor público e privado" (GRÓNROOS, 1993, p.3). Vários são os fatores que, conforme GIANESI e CORRÊA (1996), propiciam o aumento da demanda por serviços, tais como: desejo de melhor qualidade de vida; mais tempo de lazer; a urbanização, tornando necessários alguns serviços (como: segurança); mudanças demográficas que aumentam a quantidade de crianças e/ou idosos, os quais consomem maior variedade de serviços; mudanças socioeconômicas, como o aumento da participação da mulher no trabalho remunerado e pressões sobre o tempo pessoal; aumento da sofisticação dos consumidores, levando a necessidades mais amplas de serviços; mudanças tecnológicas (como o avanço dos computadores e das telecomunicações) que têm aumentado a qualidade dos serviços, ou ainda criando serviços completamente novos. A presença ainda crescente dos serviços agregados aos produtos, mais os chamados "serviços ocultos", isto é, aqueles prestados por empresas fabricantes de bens, do chamado setor industrial, faz com que os serviços sejam prestados de forma inadequada para concorrer na nova economia de serviços, altamente competitiva. Nesta, as atividades de serviços "exercem 17 papel importante no desempenho de outros setores da economia, principalmente o industrial." (GIANESI e CORRÊA, 1996, p. 17) Este crescimento no setor de serviços tem-se acelerado, principalmente, pelo aumento da eficácia no setor de produção de bens, o que tem relação direta com o desenvolvimento da tecnologia aplicada à produção (NORMANN, 1993). Os serviços tendem a tornar-se o principal diferencial, podendo representar um real valor agregado para a empresa industrial, na economia de serviços. Isto porque os serviços estão representados em vários setores, abrangendo diversas atividades essenciais à produção industrial, mas que são, na verdade, operações de serviços (LOVELOCK & WRIGHT, 2001; GIANESI & CORRÊA, 1996). Mais importante ainda, a evolução dos serviços deve levá-los da posição de simples apoio à condição de atividades-fim, geradoras de lucro. Como afirma PETERS (1998), a grande maioria dos departamentos das empresas - recursos humanos, compras, finanças, logística, marketing - funcionam como firmas de serviços profissionais, que acabam gerando bilhões de dólares de receita para as empresas. 1.2.2 Os serviços e as pessoas A prestação de um serviço pode enfrentar ainda a dificuldade de ser vista como atividade menor, determinando uma atenção inferior à pessoa que trabalha nessaatividade. E pior, além de sem importância, o prestador de serviços é considerado facilmente substituível. Em razão disto, o investimento feito em sua preparação, treinamento e desenvolvimento é, em inúmeros casos, bastante precário. "Enquanto pensarmos em serviço como próximo do servilismo, como uma ocupação inferior, nem um pouco da racionalidade que produziu a magnífica eficiência do sistema industrial poderá influenciar o que ainda hoje resta do labirinto de ineficiência dos setores de serviço." (LEVITT, 1985, p. 68) Tal firmação reflete a visão do autor à época, nos Estados Unidos, e certamente seria totalmente aplicável ao Brasil. Contudo, a atividade de prestação de serviços apresentou evolução relacionada com a expansão da economia de serviços. A princípio vista como uma tarefa menos importante, recebendo menor atenção, determinou um ciclo vicioso na relação causa-efeito: atividade sem valor, pouco investimento na preparação, serviço ruim, menor valor à atividade, menor investimento, pior serviço. Essa observação, vista nos dias de hoje no Brasil aponta para extremos distantes. Algumas atividades de serviços têm merecido atenção adequada, elevando a performance da área correspondente, como no caso das telecomunicações, da consultoria, da propaganda, entre outras. Em contrapartida, algumas 18 continuam no círculo vicioso negativo acima referido, como nos serviços públicos, no varejo, na assistência técnica em geral, entre outras. Esta visão pode ser um fator importante na performance do prestador de serviços, não o único. Inúmeros outros fatores influenciam o seu rendimento e, por conseqüência, o resultado de seu trabalho e o das organizações deles dependentes. Assim o desdobramento da performance do prestador de serviço é o sucesso ou o fracasso da empresa prestadora de serviços. Essa performance se materializa nos "Momentos da Verdade", quando a troca se concretiza entre a empresa e o cliente, por intermédio do prestador de serviços. Trata-se, então, de todo e qualquer contato, de qualquer tipo, de um elemento da organização com o consumidor, ou cliente (CARLZON, 1994). A eficácia do contato compreende a atitude decorrente da atenção ao colaborador, da fidelidade entre organização, colaborador e cliente, e do conceito de serviço a ser fornecido (HESKETT, SASSER & HART, 1994). BELL, mencionado por GRÕNROOS (1993, p. 2), titulou, em 1973, a sociedade de serviços como um "jogo entre pessoas", para diferenciar a fase da era pós-industrial, comparando-a com a era industrial, ou "jogo contra uma natureza fabricada". Esta sucedeu à era do "jogo contra a natureza", que significa o empenho do homem na produção de alimentos. Nestas metáforas temos uma releitura dos setores primário, secundário e terciário, referindo-se à luta do homem contra a natureza, na agricultura, depois à nova postura do homem em relação às máquinas, na indústria, e às soluções organizacionais, desaguando na interação entre as pessoas. 1.2.3 Os relacionamentos Na essência da prestação de serviços surge "a importância crítica de gerenciar os relacionamentos entre as pessoas" (GRÕNROOS, 1993, p.2). Esse relacionamento envolve todos os participantes do processo de troca, sejam eles internos ou externos às organizações. Nos negócios crescentes de serviços, os clientes transformam-se de parceiros em números estatísticos, em trocas. Para McKENNA (1992), isso indica que a estratégia para o futuro precisa saber lidar com um mercado em mutação. Não significa previsões amplas e sofisticadas, ou abrangentes pesquisas de mercado. É preciso treinar o processo de raciocínio criativo; explorar e adaptar-se às novas formas de abordar estratégias empresariais e de marketing; e desenvolver relações duradouras com os clientes. 19 O Marketing de Relacionamento realça o valor das relações de longo prazo, destacando a importância da cooperação (DAY, 1994; HUNT & MORGAN, 1995). Isto significa aceitar, tentar entender e tratar a mudança do ponto de vista dos indivíduos que a vivenciam. 1.3 Formulação do problema O objetivo deste trabalho é descrever como um programa de relacionamento pode manter e incrementar a carteira de clientes de uma empresa operadora de Planos de Saúde no RGS. O problema de pesquisa deste trabalho é: Um programa de Marketing de Relacionamento permite manter e ampliar a carteira de clientes de uma operadora de Planos de Saúde? 1.4 Objetivos Objetivo Geral: descrever um programa de relacionamento que possibilite o desenvolvimento de ações que influenciem na manutenção e crescimento dos clientes de empresa prestadora de serviços de saúde, de Caxias do Sul - RS. Objetivos Específicos: 1) Identificar a existência e os elementos que caracterizam uma estratégia de relacionamento. 2) Analisar ações que habilitam e envolvem o público interno, os prestadores de serviços. 3) Investigar as ações relacionais que influenciam a fidelidade dos clientes junto à empresa e são decorrentes da estratégia de relacionamento, sustentadas na orientação da empresa para o mercado. 4) Examinar as ações de um programa de relacionamento necessárias à manutenção e ampliação dos clientes. 20 1.5 Suposições As suposições, alternativamente às hipóteses, "estão mais associadas a pesquisas chamadas qualitativas" (VERGARA, 2000, P.29). LEVITT (1985, p. 119) menciona um velho provérbio que diz que "nada acontece enquanto você não fizer uma venda" e a decorrência natural disso passa a ser a manutenção do cliente que adquiriu um bem ou serviço, bem como o crescimento da carteira de clientes, em função da satisfação pelos benefícios e seu valor a eles entregues. No negócio de serviços, toma-se cada vez mais importante para realizar e manter a venda: tornar tangível o intangível consolidando as vantagens e fortalecendo a empresa prestadora dos serviços. Seguindo com a idéia de LEVITT (1985), de que um relacionamento se segue ao ato da venda, decorrem algumas premissas, ou sejam, fatos ou princípios que servem de base a um raciocínio, que balizarão o programa em estudo: 1.5.1 Premissa I - O programa de relacionamento deve iniciar pelo cliente interno "Seus funcionários são o seu primeiro mercado; você precisa primeiro convencê-los da idéia de 'serviço', ou eles nunca a conseguirão passar aos clientes." (ALBRECHT, 1992, p.5) "Se os bens, os serviços e as campanhas de comunicação externas não conseguirem ser vendidos ao grupo-alvo interno, o marketing tampouco poderá ser bem-sucedido junto aos clientes finais externos."(GRÕNROOS, 1993, p. 277). O autor destaca dois aspectos ou tipos de processos gerenciais no marketing interno: o gerenciamento de atitudes e o gerenciamento da comunicação. O primeiro enfoca a consciência de serviços e o segundo a informação sobre a tarefa. Como afirmam LOVELOCK e WRIGHT(2001) são oito os Componentes da Administração Integrada de Serviços: (l)Elementos do Produto; (2)Lugar e Tempo; (3)Processo; (4)Produtividade e Qualidade; (5)Pessoas; (6)Promoção e Educação; (7)Evidência Física e (8)Preço e Outros Custos do Serviço, os recursos humanos devem estar integrados às duas outras funções gerenciais centrais, marketing e operações, visando o atendimento às necessidades do cliente. BIBLIOTECA MAR;:.' íí\N^.:«: ,:: :,,MONSEN 21 1.5.2 Premissa II - O relacionamento é, como a venda, tarefa de todos É comum que as pessoas nas funções administrativas tenham muita dificuldade de entender que trabalham em prestação de serviços, que os funcionários da linha de frente são seus clientes e que seu sucesso depende da satisfação do usuário ou cliente da empresa, e não apenas da eficiência de sua atividade. "Durante os contatos com os clientes, os especialistas em marketing são normalmente superados em número por uma variedade de empregados com responsabilidades tradicionalmente consideradas alheias ao marketing. Entretanto, as habilidades, a orientação para o cliente e a consciência dos serviços são fatores críticos na percepção que o cliente temda empresa e na preferência que poderá dar a essa empresa no futuro."(GRÕNROOS, 1993, p. 280). O marketing interno é o relacionamento com o "mercado dos empregados" que serve de suporte indireto e necessário para o relacionamento com os consumidores externos (GUMMESSON, 1994). 1.5.3 Premissa III - A compreensão da atividade é fundamental para a eficácia da operação A empresa prestadora de serviços comercializa "sentimentos", os quais são intercambiados em uma via de mão dupla entre o prestador de serviços e o usuário ou consumidor do serviço. Este, por sua vez, influencia a sensação que leva à decisão final. Seja dele próprio, como indivíduo ou família, ou a empresa onde trabalha. "O comprador de uma corrente contínua de transações está interessado não em 'fechar negócio', mas em manter um processo." (LEVITT, 1985, p. 121) O cliente espera cada vez mais da prestação de serviços, razão pela qual o treinamento em si não resolve a questão. "Treinar não basta. [...] O fornecimento de serviços excelentes requer educação também. Os prestadores de serviços devem aprender sobre valores, estratégias, produtos (mercadorias e serviços) e as práticas da empresa. Eles devem aprender sobre as expectativas do cliente, concorrentes, desenvolvimentos no setor e o ambiente dos negócios." (BERRY, 1996, ps. 192 e 193). E, complementando, o autor menciona o executivo de Recursos Humanos da Federal Express, empresa de correios dos Estados Unidos, Larry McMahon: "Nós verificamos que as pessoas estão muito mais aptas a se envolverem na melhoria de qualidade e adquirirem um senso de propriedade, se elas tiverem uma melhor compreensão das coisas." 22 1.5.4 Premissa IV - Prestação de serviços versus resultados O comportamento do prestador influi diretamente no resultado da interação cliente / empresa. Por conseqüência, a atuação do prestador de serviços refletirá no sucesso ou fracasso, imediato ou em longo prazo, do negócio. Diz a Primeira Regra, A Abordagem Geral, das cinco regras de serviços: "Pessoas desenvolvem e mantêm bons e duradouros contatos com clientes. Os empregados devem agir como consultores que estejam preparados para desempenhar suas tarefas quando o cliente delas necessitar e da forma que os clientes desejarem. A empresa que conseguir fazer isto, da melhor forma, fortalecerá seu relacionamento com os clientes e alcançará a melhor lucratividade." (GRÕNROOS, 1993, p. 337). Portanto, a relação, seja dentro da empresa, entre a empresa e o cliente, ou fornecedor, ou entre o prestador e o usuário, é uma premissa básica e fator fundamental no resultado da empresa prestadora de serviços. A gama de clientes de uma empresa apresenta diferentes valores ou conjunto de necessidades (PEPPERS & ROGERS, 1997). E a boa relação beneficia clientes e empresa. Estas suposições nos indicam que um trabalho sobre relacionamento interno e externo permitirá: a) identificar os elementos ou fatores que influem na permanência dos clientes ou usuários, na empresa de prestação de serviços de saúde; b) descrever as atividades que preparam e mantêm os colaboradores eficazes na prestação de serviços, tanto na linha de frente, como no suporte; c) reconhecer os efeitos de serviços e tangíveis no fortalecimento dos vínculos com os clientes e no desenvolvimento da carteira de clientes; d) buscar indicadores favoráveis da relação entre a gestão e o colaborador, entre o colaborador e o cliente ou usuário, e entre o programa de relacionamento com o sucesso da empresa prestadora de serviços de saúde. 23 1.6 Delimitação do estudo Este estudo abrange os relacionamentos dos prestadores de serviços da empresa, seus colaboradores, com os clientes e usuários da empresa e sua influência na manutenção e evolução dos negócios entre eles. Incluirá também os demais colaboradores que participam das atividades de suporte, tendo portanto como clientes os prestadores da chamada linha de frente, que interage diretamente com os clientes ou usuários. As relações a serem abordadas incluem os contatos pessoais e impessoais entre os grupos antes mencionados - interno e externo - dentro do escopo de atividade da empresa prestadora de serviços de saúde. Não inclui os contatos decorrentes de sua condição constitutiva como pessoa jurídica e, portanto, relacionada com as várias obrigações tributárias e legais. 1.7 Relevância do estudo A atividade médica e as de saúde em geral, representadas pelas demais tarefas de suporte ligadas à atividade médica, possuem significado muito particular para a maioria das pessoas e são hoje objeto de expressiva exposição na mídia em geral. Acrescente-se a essa realidade a situação mercadológica, onde o negócio da saúde está, diferentemente de épocas passadas, integrado no mesmo contexto competitivo das demais atividades. O setor não tem, como em outras épocas, suporte de verbas públicas e também enfrenta excesso de oferta de serviços de empresas e de profissionais, onde antes predominava o monopólio e a escassez de mão de obra. As empresas do setor de saúde necessitam buscar, com profissionalismo, diferenciais comparativos e vantagens competitivas, em uma arena concorrencial degradada e dentro de atividade regulada, por meio da Agência governamental que determina as condições de atuação do setor, com fortes influências políticas, dada a sua sensibilidade social. Existe muito pouca literatura no País tratando do aspecto competitivo no setor e de estratégias voltadas a consolidar empresas nesse ambiente concorrencial. Neste cenário, o desenvolvimento de um estudo voltado a confirmar a validade de um programa de relacionamento pode representar um referencial de aplicação prática. 24 Para mencionar apenas algumas das possibilidades onde o estudo naturalmente trará um maior domínio, certamente destacam-se os aspectos relativos ao desenvolvimento dos conhecimentos, habilidades e atitudes hoje demandados pelos usuários ou clientes das empresas de saúde, até então desconhecidos, face à situação de dependência que havia para os tomadores dos serviços, pouco ofertados e entendidos como imunes a falhas e faltas. O cenário de início de milênio não isentará o setor da saúde de iniciativas no sentido de aparelhar os agentes responsáveis pela assistência médica com padrões de gestão capazes de elevar a produtividade, melhorar os indicadores de qualidade e permitir às organizações condições de sobrevivência em um ambiente de acirrada competição. Soma-se a isso que podemos chamar de questões internas das empresas, a face externa do problema, "as questões específicas do setor relacionadas à adequação do modelo assistencial, à regulamentação dos planos de saúde e à reformulação do modelo de remuneração dos serviços médico- hospitalares" (MATOS, 2000, p. 12). O mesmo autor destaca a importância de uma gestão que compreenda toda a cadeia que envolve a atividade de assistência à saúde, e que "só uma orientação estratégica com lucidez do quadro de mudanças que se avizinha responderá a essa questão." (MATOS, 2000, p. 13) Assim, outro aspecto que poderá emanar deste estudo é um repensar a estrutura organizacional do negócio da empresa estudada, especialmente em função de seu particular modelo, dentro do setor de atendimento à saúde no país, conforme a sua atual conformação. Para melhor compreensão dessa condição específica da empresa, na Figura 4 abaixo são descritos os tipos de empresas que atuam no setor da saúde. Modalidade Medicina de Grupo Autogestão Cooperativa Médica Características Opera com recursos próprios, ofertando serviços para o diagnóstico, tratamento e hospitalização. Coordena e administra, com recursos de terceiros, a prestação de serviços de diagnóstico tratamento e hospitalização em rede credenciada. Médicos cooperados oferecem serviços de diagnóstico e tratamento, e hospitalização em rede credenciada. 25 Seguro Saúde Planos de Administração Empresa seguradora oferece serviços de saúde com livre escolha de médicos e hospitais,utilizando o sistema de reembolso de despesa. Intermediários contratados administram a prestação de serviços para a empresa, no lugar desta, o que os diferencia da auto-gestão. Figura 4 - Modalidades de Assistência Médica Suplementar Fonte: ABRAMGE De acordo com a Figura 4, a empresa em estudo, da modalidade Medicina de Grupo, diferencia-se da grande maioria. Ela não utiliza o sistema tradicional de "fee for service", isto é, taxa paga por serviço prestado, mais comum no setor, onde os prestadores de serviços médicos recebem um valor fixo previamente determinado de CH, por todos os serviços executados, independentemente da saúde do negócio, se o mesmo está sendo rentável ou não. Esta última forma de remuneração, ou modelo, em função dos vários fatores intervenientes no setor de saúde, vem apresentando forte deterioração nos resultados das empresas que a utilizam, onde o valor da remuneração e o dispêndio representado pelos serviços prestados são de livre disposição pelos principais prestadores de serviços, independentemente das receitas que os suportam. Ao passo que, no modelo do estudo, a remuneração contempla um número restrito de prestadores de serviço, e trabalha fortemente a prevenção e orientação dos usuários, permitindo a busca de uma gestão não deficitária e compatível com as condições impostas ao setor. Este modelo tem desvantagens inerentes, decorrentes da menor liberdade de escolha pelo usuário dos serviços e a possível insatisfação dos prestadores em função da redução da remuneração. KALDENBERG (1999) afirma que pacientes que sentem o acesso limitado aos serviços tendem a ficar menos satisfeitos com seu tratamento do que aqueles que não vêem restrições. Por essa razão, o modelo da empresa, com número controlado de médicos, pode desagradar aos clientes, por não atender ou satisfazer suas expectativas. A importância de caracterizar um programa de relacionamento que possibilite o desenvolvimento de ações que influenciem na manutenção e crescimento dos clientes de uma 26 empresa, definido como objetivo do presente trabalho, pode ser assim traduzida: "Nessa nova era, em que o indivíduo ganha nova dimensão, o marketing deve aperfeiçoar as atuais formas de comunicar-se e estabelecer um relacionamento duradouro e gratifícante com clientes e prospects, ou clientes em potencial" (BRETZKE, 2000, p. 13). 2 REFERENCIAL TEÓRICO Este capítulo visa apresentar os principais estudos sobre Marketing de Relacionamento, para familiarizar a leitura com seu horizonte teórico e permitir uma sustentação para a pesquisa desenvolvida. Essa base teórica inicia com a abordagem do contexto maior onde se enquadra este estudo, que é o setor de serviços, o qual ocupa cada vez mais o espaço negociai, seja como atividade direta, seja como suporte a outras atividades. As atividades de serviços são explicadas neste capítulo e também é demonstrada sua evolução dentro da economia, onde, sob as mais variadas formas, elas se destacam em ritmo crescente. Como seqüência natural da análise da atividade de serviços, surgem as pessoas neles participantes, assunto da seção seguinte. A abordagem contempla a importância dos elementos direta e indiretamente envolvidos na prestação de serviços e as conseqüências de sua interveniência nas atividades desenvolvidas. Finalmente, o capítulo trata do Marketing de Relacionamento, desde suas origens nas várias áreas de estudo do marketing, servindo como foco para a análise principal do estudo, como sustentação para manutenção e desenvolvimento das atividades de uma empresa. E um tema que vem ocupando espaço crescente nas organizações, na literatura e mídia especializadas. A literatura mostra o desafio que representa para as empresas o conhecimento e a aprendizagem sobre o mercado, visando fortalecer sua posição competitiva, aproximando o Marketing de Relacionamento da Teoria de Aprendizagem Organizacional. Isto demanda que as organizações atentem para os aspectos de cultura e clima, que devem ser cuidados para a implantação de uma estratégia de Marketing de Relacionamento, bem como para a relação do Marketing de Relacionamento com a aprendizagem organizacional e as bases teóricas das organizações de aprendizagem, visando a compreensão das razões do sucesso e das limitações que se apresentam na aplicação desse conceito (DAY, 1994; SINKULA, 1994; SENGE, 2000). 28 2.1 Serviços Os serviços estão de certa forma abrangendo toda a cadeia operacional produtiva, seja a de produção de bens, seja a de prestação de serviços, tanto no Brasil, como no mundo. O crescimento de uma economia muda a relação dos empregos nas atividades agrícolas, manufatureiras e de serviços (LOVELOCK & WRIGHT, 2001). 2.1.1 Conceitos de serviços Serviços recebem inúmeras conceituações. GRONROOS escreve que todas vêem de forma limitada o fenômeno dos serviços, restringindo-os às empresas que prestam serviços e, numa combinação de contribuições de Lehtinem, Kotler & Bloom, e Gummesson, "ainda que relutantemente", assim define a atividade: O serviço é uma atividade ou uma série de atividades de natureza mais ou menos tangível - que normalmente, mas não necessariamente, acontece durante as interações entre cliente e empregados de serviço e/ou recursos ou bens e/ou sistemas do fornecedor de serviços - que é fornecida como solução ao(s) problema(s) do(s) cliente(s) GRONROOS (1993, p.36). São inúmeras as definições de serviços. De alguma forma todas elas estão mais ou menos restritas à visão de cada autor, limitando-a a empresas ditas de prestação de serviços. A Figura 5 abaixo ilustra isso. AUTOR Regan, 1963 American Marketing Association, 1960 Judd, 1964 Blois, 1974 CONCEITOS DE SERVIÇOS Serviços representam ou satisfações intangíveis apresentadas diretamente (transporte, acomodação), ou satisfações intangíveis apresentadas indiretamente quando da compra de mercadorias ou de outros serviços, como, por exemplo, crédito, entrega. Atividades, benefícios ou satisfações que são colocados à venda ou proporcionados em conexão com a venda de bens. Serviços colocados no mercado: uma transação no mercado, realizada por uma empresa ou um empreendedor, onde o objeto da transação é outro que não a transferência de propriedade (ou título, se algum) de uma mercadoria tangível. Um serviço é uma atividade colocada à venda que gera benefícios e satisfações, sem levar a uma mudança física na forma de um bem. 29 Stanton, 1974 Andresene/a/., 1983 Lehtinen, 1983 Kotler e Bloom, 1984 Free, 1987 Atividades separadamente identificáveis e intangíveis que provêem a satisfação de um desejo quando colocados no mercado a consumidores e/ou usuários industriais e que não estão necessariamente associados à venda de um produto ou de um outro serviço. Serviços são quaisquer benefícios intangíveis, que são pagos direta ou indiretamente e que freqüentemente incluem um componente físico ou técnico maior ou menor. Um serviço é uma atividade ou uma série de atividades que tem lugar nas interações com uma pessoa de contato ou com uma máquina física e que prove satisfação ao consumidor. E qualquer atividade ou benefício que uma parte possa oferecer à outra que seja essencialmente intangível e que não resulte em propriedade de coisa alguma. Sua produção pode ou não estar ligada a um produto físico. 0 atendimento das expectativas do cliente durante uma venda e na atividade pós venda, através da realização de uma série de funções que se equiparam ou que superam a concorrência, de forma a prover um lucro incrementai para o fornecedor. Figura 5 - Conceitos de Serviços Fonte: GRÒNROOS, 1993, p. 35 De acordo com a Figura 5, os conceitos têm benefícios e limitações, sendo restritas cada uma de certa forma. GUMMESSON (1987) apresenta um conceito que representa uma crítica à tentativa de consenso e abrangência, quando cita uma fonte não identificada, e afirma que serviço é algo que pode ser comprado e vendido, mas que não vai cair sobre o pé de ninguém.Para ALBRECHT (1992), a distinção entre produto e serviço está obsoleta, sendo que qualquer trabalho envolve atividades de serviço. O novo preceito definidor é o valor que se propicia ao cliente, onde este valor é o resultado percebido pelo cliente. LOVELOCK & WRIGHT (2001, p. 5) citam a essência dos serviços em duas definições: 1) Serviço é um ato ou desempenho oferecido por uma parte a outra. Embora o processo possa estar ligado a um produto físico, o desempenho é essencialmente intangível e normalmente não resulta em propriedade de nenhum dos fatores de produção. 30 2) Serviços são atividades econômicas que criam valor e fornecem benefícios para clientes em tempos e lugares específicos, como decorrência da realização de uma mudança desejada no - ou em nome do - destinatário do serviço. 2.1.2 Operações de serviços Operações de serviços são hoje tão abrangentes que é melhor definir o que não é operação de serviços (SCHMENNER, 1999), pois elas incluem hotéis, alimentação, consertos em geral, entretenimento, saúde, todos os chamados serviços profissionais e ainda a educação, os setores financeiro, imobiliário e os transportes em geral. "É extremamente difícil distinguir um produto puro ou serviço puro" (BATESON e HOFFMAN, 2001, p. 33). Essa diferença perpassa um conünuum que vai da percepção pelo cliente do benefício exclusivamente derivado do bem até onde não existe o elemento tangível, o produto, no benefício sentido. Essa dicotomia é abordada há muito tempo. SCHMENNER (1999) escreve o quanto é problemático para as pessoas definir se uma empresa é fabricante de equipamentos ou empresa de serviços, como a IBM. Para o autor se enquadra em ambas, e esse enquadramento se altera conforme a perspectiva da qual se considera cada caso. A operação de serviços ocorre, segundo FITZSIMMONS & FITZSIMMONS (2000, p. 224), conforme a "tríade do encontro de serviço", envolvendo a organização de serviço, o pessoal da linha-de-frente, o que aprofundaremos ao tratar de pessoas, na seção 2.2, e o cliente. Conforme os autores, é na organização que ocorre a interação entre o pessoal e o cliente, no ambiente do encontro, dentro de um contexto de uma cultura organizacional e das instalações físicas. O pessoal que opera o serviço apresenta atributos da personalidade moldados na organização, que afetarão , positiva ou negativamente, o cliente. GUTEK (1997) aponta uma revolução no serviço, representada por uma mudança de entrega de serviços para relacionamentos, versus a entrega em encontros. A autora afirma que a alta qualidade na entrega do serviço pode ser mantida de forma simples, pela dinâmica do relacionamento, que antecipa interações futuras e define um relacionamento de serviços. No relacionamento, a ligação entre o cliente e o provedor é forte, contrariamente aos encontros, onde ela é fraca. A pesquisa de GUTEK (1997) enfatiza algumas características que diferenciam os relacionamentos dos encontros: 1) atribuições: o provedor e o consumidor sabem, cada um, o seu papel; 2) estereótipos e discriminação: afetam mais os relacionamentos; e 3) trabalho emocional: que é mais forte no relacionamento e pode ser enganoso, de ambas as partes, nos encontros. 31 2.1.3 Classificação dos serviços A classificação dos serviços pode ajudar na organização da discussão a respeito da administração de serviços e nas definições estratégicas e operacionais do negócio em si. SCHMENNER (1999) propôs uma classificação para os serviços, considerando duas dimensões - grau de interação e customização, e grau de intensidade de mão-de-obra - que interferem significativamente no processo de atendimento aos clientes. Dessa classificação derivam quatro tipos de serviços: 1) Fábrica de serviços: intensidade de mão-de-obra relativamente baixa, com uma maior significância de seus custos associada aos aspectos tangíveis da empresa - instalações e equipamentos - e baixo grau de interação com o cliente e customização. Exemplos: companhias aéreas e hotéis; 2) Loja de serviços: o grau de intensidade de mão-de-obra ainda é relativamente baixo, porém, aumenta o grau de interação eom o cliente e se faz presente a necessidade de customização da oferta para o mercado. Neste momento, a operação de fluxo de linha dá lugar à operação de atendimento de pedidos. Exemplos: hospitais e serviços de reparos; 3) Serviços de massa: apresentam alto grau de intensidade de mão-de-obra, contudo, um grau muito baixo de interação com o cliente e de customização. Exemplos: varejo, atacado e escolas; 4) Serviços profissionais: associam alto grau de intensidade de mão-de-obra com grau de interação e customização igualmente altos. Exemplos: médicos e advogados. STELL & DONOHO (1996) pesquisando a literatura sobre a classificação de serviços afirmam que a maior parte dos estudos trata de encontros eom curta duração. E buscaram unificar a classificação, incluindo as interações de maior tempo, especialmente no lazer. Os autores destacaram a presença de cerca de 19 atributos para classificar os serviços, dentre eles a intangibilidade, o nível de customização, a variabilidade e a importância do prestador de serviço versus a máquina. Essa diversidade dificulta a tomada de decisão sobre ações estratégicas e de marketing a serem aplicadas. 32 Disso resulta a possibilidade de uma classificação do serviço, do ponto de vista do consumidor, baseada nos seguintes pontos: 1. percepção de risco pelo consumidor; 2. esforço para a escolha; e 3. envolvimento. O risco é a pré-escolha, a ansiedade ou incerteza com o que será entregue (seja serviço ou produto); o esforço refere-se ao montante de dinheiro, tempo e energia a ser despendido; e o nível de envolvimento diz respeito à soma da importância ou do interesse que o consumidor atribui ao tipo de serviço (STELL & DONOHO, 1996). 2.1.4 O Pacote de serviços O pacote de serviços é "um conjunto de itens relacionados oferecidos ao cliente" (NORMANN, 1993, p. 67). Para FITZSIMMONS & FITZSIMMONS (2000, p.45), "o pacote de serviços é definido como um conjunto de mercadorias e serviços que são fornecidos em um ambiente". Para SASSER, OLSEN & WYCKOFF (apud NORMANN 1993, p. 70-71) uma oferta de serviços pode incluir componentes que objetivem "facilitar a utilização de bens, explicitar intangíveis ou benefícios físicos e incorporar intangíveis ou benefícios psicológicos". O pacote de serviços, então, deve consistir de um conjunto de características, que serão descritas a seguir (FITZSIMMONS & FITZSIMMONS,2000): 1) Instalações de apoio: são os recursos físicos (tangíveis) que devem estar à disposição dos clientes antes de se ofertar um serviço. Os aspectos considerados são localização, decoração das instalações, equipamento de apoio, adequação da arquitetura e layout e manutenção das instalações. Exemplos: hospital e aviões. 2) Bens facilitadores: material adquirido, consumido ou fornecido ao cliente. Os aspectos considerados são consistência com o serviço como um todo, quantidade e seleção. Exemplos: suprimentos médicos e substituição de autopeças; 33 3) Serviços explícitos: benefícios facilmente sentidos pelo cliente. São características essenciais ou intrínsecas aos serviços. Os aspectos considerados são treinamento do pessoal, abrangência do serviço, consistência e disponibilidade. Exemplos: ausência de dor após um tratamento médico e a chegada ao destino desejado após uma viagem aérea. 4) Serviços implícitos: benefícios psicológicos que o cliente pode sentir vagamente ou como características extrínsecas. Os aspectos considerados são: atitude do prestador de serviços, ambiente, espera, status. sensação de bem-estar, privacidade, segurança e conveniência. Exemplos: ser atendido por um médico renomado e com ótima formação e utilizar uma companhia aérea com excelente reputação em relação ao atendimento aos passageiros. 2.1.5 Características dos serviços O serviço apresenta características específicas, diferentemente do produto, como a intangibilidade,pois não pode ser tocado, a perecibilidade, desde que se esgota na medida em que se efetiva. Portanto, não permite sua estocagem, e a simultaneidade ou inseparabilidade, pois quase sempre implica na presença de prestador e consumidor, ou um bem de sua propriedade, sendo consumido ao mesmo tempo em que é produzido. Além dessas características, a prestação do serviço reveste-se de uma particularidade quanto ao desempenho - a variabilidade ou heterogeneidade - pelo fato de que na mesma operação, desde a mais simples até a mais complexa, sua efetivação será sempre diferente (ZEITHAML, PARASURAMAN & BERRY, 1985, p. 33-46; GRONRÒOS, 1993, p. 37-39). A seguir são referenciados autores e suas abordagens sobre essas características: Intangibilidade: "Os serviços são intangíveis. Ao contrário de produtos físicos, eles não podem ser vistos, sentidos, ouvidos, cheirados ou provados antes de serem adquiridos" (KOTLER, 2000, p. 450). "O setor de serviços é como algo que não podemos toear ou sentir" (SCHMENNER, 1999, p. 21). "Os serviços são experiências que o cliente vivência enquanto que os produtos são coisas que podem ser possuídas" (GIANESI & CORRÊA, 1994, p. 32). GRÒNROOS (1993, p. 38): "um serviço é normalmente percebido de maneira subjetiva. Quando os serviços são descritos pelos clientes, expressões como experiência, confiança, tato e segurança são utilizadas". 34 Perecibilidade: FITZSIMMONS & FITZSIMMONS (2000, p. 48-49) conferem aos serviços uma capacidade perecível com o tempo. "Como um serviço não pode ser estocado, se não for usado, está perdido". LOVELOCK & WRIGHT (2001, p. 20) contrapõem com o produto: "Uma vez que o serviço é uma ação ou realização, e não um artigo tangível que o cliente guarda, ele é perecível e não pode ser estocado". "A perecibilidade dos serviços não é um problema quando a demanda é estável. Porém, quando a demanda oscila, as empresas prestadoras de serviços têm problemas" (KOTLER, 2000, p. 453). Por isso, um dos maiores desafios gerenciais é administrar a utilização total da capacidade de serviços, tendo em vista que as demandas dos clientes apresentam variações consideráveis, não permitindo a opção de formar estoques para absorver tais flutuações (FITZSIMMONS & FITZSIMMONS, 2000). Simultaneidade ou Inseparabilidade: "De modo geral, os serviços são produzidos e consumidos simultaneamente" (KOTLER, 2000, p. 451). "O cliente não é apenas um receptor dos serviços; o cliente participa como um recurso da produção também" (GRÕNROOS, 1993, p. 39). "O cliente é o elemento que, de alguma forma, dispara a operação, muitas vezes em termos de quando e como esta deve realizar-se, constituindo uma entrada do sistema de operações que não é diretamente controlada pela gestão" (GIANESI & CORRÊA, 1994, p. 33). "O fato de produção e consumo serem simultâneos, nos serviços, também elimina muitas oportunidades para intervenções do controle de qualidade" (FITZSIMMONS & FITZSIMMONS, 2000, p. 48). Para SCHMENNER (1999), a simultaneidade ou inseparabilidade nada mais é do que a produção e o consumo fisicamente unidos, onde "tanto o prestador de serviços quanto o cliente afetam o resultado" (KOTLER, 2000, p. 452). Heterogeneidade ou Variabilidade: "Pelo fato de dependerem de quem os fornece, além de onde e quando são fornecidos, os serviços são altamente variáveis" (KOTLER, 2000, p. 452). "Um serviço ao cliente não é exatamente este mesmo serviço ao próximo cliente" (GRÕNROOS, 1993, p. 40). Pela presença de pessoas na prestação de serviços, seja dos colaboradores, seja dos clientes, no sistema operacional, torna-se difícil controlar a variabilidade tanto no processo quanto no resultado final dos serviços (LOVELOCK & WRIGHT, 2001; BATESON & HOFFMAN, 2001). Esta característica cria uma das maiores dificuldades para o gerenciamento dos serviços, que é o "como manter um nível de qualidade uniforme percebida dos serviços produzidos e entregues aos clientes" (GRÕNROOS, 1993, p. 40). Entretanto, nem todas as variações na entrega de serviço são necessariamente negativas, e "as modernas empresas de serviço estão começando a reconhecer o valor de se personalizar pelo menos alguns aspectos da oferta de serviço segundo as necessidades e expectativas dos 35 clientes. Em campos como a assistência médica, isso é essencial" (LOVELOCK & WRIGHT, 2001, p. 19, grifo do autor) A compra de um produto identifica claramente a busca de um benefício. A compra de um serviço representa uma experiência. Em serviços a operação é o produto. O conjunto, ou pacote, de benefícios esperados pelo consumidor constitui o núcleo do marketing de produtos e serviços. Nos serviços, os benefícios podem vir de várias fontes, que se podem resumir em invisíveis: a organização e seus sistemas; e visíveis: o ambiente físico inanimado e a equipe de contato, ou prestadores de serviços, e implica na participação do consumidor, na forma de uma experiência interativa, sendo influenciado pelo serviço e influenciando outros consumidores (BATESON & HOFFMAN, 2001). A entrega do pacote de serviços, ou seja do benefício esperado pelo consumidor, ou sua expectativa é fundamental para a idéia de qualidade de serviços, medida pela razão do serviço entregue sobre a expectativa do cliente. A importância do pacote de serviços e de sua entrega ao cliente pode ser resumida na expressão: "Serviço diz respeito a sentimentos. O resultado final de um serviço é um sentimento". (ALBRECHT, 1995, p. 86). GRÕNROOS (1993, p.38) estabelece diferenças entre produtos e serviços, as quais são apresentadas na Figura 6. Bens Físicos Tangível. Homogêneo. Produção e distribuição separadas do consumo. Serviços Intangível. Heterogêneo. Produção, distribuição e consumo são processos simultâneos. 36 Uma coisa. Valor principal produzido em fábricas. Clientes normalmente não participam da produção. Pode ser mantido em estoque. Transferência de propriedade. Uma atividade ou processo. Valor principal produzido nas interações entre comprador e vendedor. Clientes normalmente participam do processo de produção. Não pode ser mantido em estoque. Não transfere propriedade. Figura 6 - Diferenças entre Serviços e Bens Físicos. Fonte: GRÓNROOS (1993, p.38) BERRY & PARASURAMAN (1995, p. 18 e 19) mostram graficamente as diferentes naturezas do marketing de mercadorias e de serviços. Destacam as diferenças entre as percepções e a possibilidade de experimentação antes da compra entre mercadorias e serviços, também a influência promocional e a consciência do benefício e da marca, permitida pela embalagem, promoções diversas e pela distribuição, o que não ocorre com os serviços. Estes, intangíveis, têm que ser vivenciados. São fortemente relacionais. A Figura 7 e Figura 8 a seguir ilustram isso. 37 Marketing prí-produçâo 1 Pró*jç8o 1 Marketing 1 Coroumo m In Criar consciência íikíu/ir a análise benefício?. I-labí>rar as fvefcrertcias IX'la niarca *vj---"" = Comui b<x:a- níi u2i>cía fraca tícav*>:s Figura 7 - Natureza e papéis do marketing de mercadorias Fonte: BERRY & PARASURAMAN (1995, p. 18 e 19) Marketing pré-vendagem Marketing pós-vendagem Consunw* Criar consciência Imluzir a aitáltse os benefíck*» pela boca-a-boca Inlluência ftwie Influencia fraca Figura 8 - Natureza e papéis do marketing de serviços Fonte: BERRY & PARASURAMAN (1995) A Figura 7 e Figura 8 acima demonstram a importância do contato e, em decorrência, da forte influência da comunicação boca-a-boca na imagem e consolidação dos serviços. 38 GRÕNROOS (1993, p. 42) listou várias abordagens voltadas à classificação de serviços para auxiliar sua compreensão, mostrando grande diversificação e explicitando algumas situações específicas, destacadas na Figura 9 a seguir. O trabalho de GRÕNROOS (1993), com as abordagens que caracterizam a natureza dos serviços e objetivos das organizações prestadoras de serviços, apresenta uma evolução da visão do serviço, que possibilitou o desenvolvimento desua gestão, onde começa a destacar-se a importância de todos os colaboradores na empresa prestadora de serviços e, especialmente, do prestador de serviços. AUTOR JUDD(1964) SHOSTACK (1977); SASSER et. ai. (1978) HILL(1977) CHASE(1978) LOVELOCK(1983) SCHMENNER(1986) ABORDAGEM Experiências pessoais Existência de poucos serviços puros Natureza dos benefícios dos serviços e as variações no ambiente de entrega/consumo. Extensão dos contatos com clientes na entrega dos serviços, em particular os de saúde, fgrifo do autor.) Natureza complexa dos serviços, destacando o relacionamento com clientes. Alguns serviços podem ser mais personalizados e envolvem grau mais intenso de mão de obra. Figura 9 - Classificação dos serviços Fonte: GRÕNROOS, 1993 A Figura 9 demonstra o grau de complexidade dos serviços, devido à tangibilização, à simultaneidade e participação do cliente no processo de produção dos serviços. BITNER (1995) escreve sobre serviços resumindo no título a sua importância e a das pessoas envolvidas: It's Ali About Promisses. Para capacitar a empresa a entregar promessas, BITNER (1995) destaca o marketing interno, a relevância do envolvimento dos funcionários, para que possam se comprometer com a qualidade do serviço prometido, promovendo o treinamento, disponibilizando ferramentas, tecnologias e maior autonomia para os funcionários. Essa condição explica o forte empenho das organizações prestadoras de serviços, no sentido de atingir a participação e integração, por parte dos colaboradores que os executam, na compreensão da natureza e das características do serviço, e na disseminação da filosofia corporativa, voltada à eficácia e aos resultados, dentro dos objetivos que são buscados (ALBRECHT, 1992; GRÕNROOS, 1993; HESKETT, SASSER & HART, 1994; BERRY & PARASURAMAN, 1995). 39 2.1.6 Serviços como um sistema aberto Pelas características diferenciadoras entre empresas prestadoras de serviços e de manufatura, que exigem atuação muito além das competências ditas técnicas, é necessário que se amplie a visão sistêmica para os serviços, vista a importância da participação do cliente, que é visto como uma entrada, que é transformada pelo processo de serviços em uma saída com algum grau de satisfação. Papel fundamental tem a gerência em educar o cliente para o momento em que este desempenhar um papel ativo no processo, além da importância em buscar equilibrar a demanda com a capacidade e no gerenciamento do pessoal, sugerindo treinamento e delegação de poder aos funcionários, pois há uma interação direta com os clientes (FITZSIMMONS & FITZSIMMONS, 2000, p. 52). "Em matéria de serviços, o processo é o produto. A presença do cliente no processo dos serviços anula a perspectiva de sistema fechado, presente na manufatura." A presença e participação constantes do cliente na prestação dos serviços, determinam diferentes controles, com indicadores múltiplos de desempenho e geram percepções diversas nos clientes baseadas "na experiência com a totalidade do serviço, e não apenas no serviço explícito prestado". (FITZSIMMONS & FITZSIMMONS, 2000, p. 52) 2.1.7 A cadeia de lucro dos serviços Para ANDERSON & FORNELL (1999), a satisfação de clientes pode levar a um processo de maior lealdade, assegurando receitas futuras para a empresa, além de proporcionar retorno acima da média do mercado em termos de rentabilidade (BLATTBERG & DEIGHTON, 1991; HOEKSTRA & HUIZINGH, 1999; BLATTBERG, GETZ & THOMAS, 2001). Muitos autores vêm trabalhando com a idéia de analisar o cliente ao longo dos anos, entendendo quanto de valor geram para a empresa. Sob a ótica de valor do cliente, BLATTBERG, GETZ & THOMAS (2001), afirmam que o cliente deve ser visto como um ativo financeiro da empresa, mensurando seu valor ao longo do tempo e centrando seus sistemas em quatro práticas-chave: 1) comparando a aquisição de clientes, a retenção e aumento de vendas a clientes atuais; 2) gerenciando o ciclo de vida do cliente; 3) explorando o potencial do banco de dados; e 4) quantificando pontualmente o valor do cliente. "Os lucros são importantes não apenas como um fim em si mesmo, mas porque eles permitem à empresa melhorar o valor ofertado e prover incentivos para colaboradores, clientes e investidores a permanecerem leais à empresa" (REICHHELD, MARKEY Jr. & HOPTON, 40 2000, p. 136). De forma mais operacional, ZAHORIK & RUST (1993) distinguem cinco tarefas que devem compor o modelo de impacto do serviço nos lucros: 1) identificar os atributos-chave a incluir no modelo; 2) selecionar os atributos mais importantes; 3) modelar o elo entre os programas e as atitudes; 4) modelar as respostas comportamentais aos programas de serviço; e 5) modelar o impacto dos programas de serviço nos lucros. A relação é direta entre o lucro ou resultado da atividade com os relacionamentos dos operadores com os clientes, gerando a fidelização destes: A cadeia de serviço-lucro estabelece relacionamentos entre lucratividade, lealdade do cliente e satisfação do colaborador, lealdade e produtividade. [...] Lucro e crescimento são estimulados fundamentalmente pela lealdade do cliente. A lealdade é um resultado direto da satisfação do cliente. A satisfação é amplamente influenciada pelo valor dos serviços fornecidos aos clientes. A satisfação do colaborador resulta primeiramente da alta qualidade do suporte aos serviços e de uma política que permita aos colaboradores entregar resultados aos clientes (HESKETT et ai., 1994, p. 110-111). REICHHELD (1993, 1996), REICHHELD & SASSER (1990) propõem a gestão baseada na lealdade. O lucro é indispensável e junto com a lealdade compõe a verdadeira essência de qualquer instituição comercial duradoura e bem sucedida. E pode ainda representar rentabilidade maior. Para esses autores a lealdade é um teste definitivo do desempenho da empresa e que as organizações devem ter como objetivo a criação de valor superior para o cliente. 2.1.8 Serviços como fonte de vantagem competitiva De acordo com PORTER (1989, p. 9), "a base fundamental do desempenho acima da média, a longo prazo, é a vantagem competitiva sustentável". Que pode advir de três estratégias 41 genéricas: custo, diferenciação e enfoque. O risco é a não-definição da estratégia ou a tentativa de alcançar um meio-termo fazendo com que a empresa não tenha qualquer vantagem competitiva, a qual está relacionada com a criação de valor para o cliente e pode ser consolidada através das estratégias citadas. A criação de valor superior resulta de uma gestão equilibrada dos condutores de valor, que são os ativos, ou recursos; as habilidades exclusivas; e cultura, organização e recursos humanos (PORTER, 1989). Para ALBRECHT & BRADFORD (1992), no setor de serviços, a diferença passa, inicialmente, por melhor conhecer os clientes, culminando com a oferta de algum benefício que tenha valor real para o público-alvo da empresa. Para que uma organização seja detentora de uma vantagem competitiva sustentável deve apresentar o que HAMEL & PRAHALAD (1995, p. 233) denominam competência essencial (core competence). "Uma competência é um conjunto de habilidades e tecnologias, e não uma única habilidade ou tecnologia isolada" . Ela, portanto, serve de suporte ao valor percebido pelo cliente. "Uma competência essencial precisa dar uma contribuição desproporcional para o valor percebido pelo cliente. As competências essenciais são as habilidades que permitem à empresa oferecer um benefício fundamental ao cliente" (HAMEL & PRAHALAD, 1995, p. 235). Na mesma linha de raciocínio, BAND (1997, p. 2) lista "os quatro fatores críticos que criam valor aos olhos dos clientes: (1) qualidade; (2) serviço; (3) custos e (4) tempo". São esses fatores que, na ótica desse autor, fomentam as competências críticas que a empresa deve observar, o que nada mais são do que as competências essenciais defendidas por HAMEL & PRAHALAD (1995). 2.2 Pessoas O tema Marketing de Relacionamento desenvolvido, neste trabalho, dentro
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