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Parâmetros laboratoriais bioquímicos SORO É o fluido que resta após a coagulação do sangue obtido in vitro sem anticoagulante, espontaneamente ou por centrifugação, que deve ser removido. É obtido a partir da coleta de sangue em tudo sem anticoagulante. Não contém fibrinogênio. PLASMA É o fluido sobrenadante obtido in vitro com anticoagulante, espontâneo ou centrifugado. É obtido a partir da coleta de sangue em tubo com algum tipo de anticoagulante. Contém fibrinogênio. Para a obtenção do soro, atualmente são utilizados tubos que contêm ativador de coágulo jateado na parede do tubo, que acelera o processo de coagulação, e gel separador para obtenção de soro com a mais alta qualidade, proporcionando melhor eficiência no processo de trabalho dentro do laboratório. Vários exames no laboratório clínico, como os de bioquímica, são realizados utilizando o soro. Muitos podem ser feitos utilizando o plasma, mas, pela praticidade e qualidade (líquido livre de interferentes), a maioria dos laboratórios utilizam o soro. ALTERAÇÕES BIQUÍMICAS Para entender as principais alterações bioquímicas, deve- se entender antes a gama de exames que podem ser realizados nessa área. Alguns deles são a determinação da glicemia, do colesterol e diversos marcadores das funções corpóreas. Nesse sentido, as enzimas são proteínas que tem alguma atividade catalítica e estão presentes em todos os tipos celulares. Elas atuam no meio intracelular. Assim, sua concentração no plasma tende a ser baixa, mas pode acontecer um aumento quando houver lesão celular. A determinação dos teores de enzimas plasmáticas constitui uma importante ferramenta no diagnóstico e acompanhamento terapêutico de diversas doenças, principalmente, as hepáticas, cardiovasculares, ósseas, pancreáticas e musculares. Enzimas A determinação dos teores de enzimas plasmáticas possibilita ainda conhecer a extensão, a gravidade e a evolução de determinadas doenças ou mesmo o diagnostico diferencial entre duas morbidades com sintomatologia clinica semelhante, possibilitando, assim, maior eficácia no tratamento. Outros marcadores das funções corpóreas importantes: • Determinação do teor de ureia e creatinina: são fortes marcadores renais. • Dosagem das aminotransferases (ALT/TGO e AST/TGP) e gama-GT: marcadores enzimáticos da função hepática. • Dosagem das bilirrubinas e amilase: marcadores não enzimáticos da função hepática. Beatriz Loureiro Principais enzimas de uso clínico Enzima Fonte principal Principais aplicações clínicas Amilase Pâncreas, glândula salivar, ovários Pancreatites agudas, obstrução de vias biliares extra- hepática Aminotransferases (transaminases) Fígado, músculo esquelético, coração, rim, eritrócitos Lesões do parênquima hepática, infarto agudo do miocárdio Antígeno prostático específico Próstata Carcinoma da próstata Creatina quinase (CK) Músculo esquelético, coração, cérebro Infarto agudo do miocárdio, doenças musculares Fosfatase ácida Próstata, eritrócito Carcinoma da próstata Fosfatase alcalina Fígado, osso, placenta, rim Doenças ósseas (sarcoma osteogênico, doença de Paget), amiloidose hepática, obstrução biliar extra-hepática. Gama glutamiltransferase Fígado, rim Cirrose hepática, fígado gorduroso alcoólico (esteatose hepática) Lactato desidrogenase Coração, fígado, músculo esquelético, eritrócitos, plaquetas Infarto agudo do miocárdio, hemólise, doença do parênquima hepático Lipase Pâncreas Pancreatite aguda (aumenta) e crônica (diminui) CK total A creatina quinase ou creatina fosfoquinase é uma enzima que está presente em vários tecidos ou células. Essa enzima catalisa a conversão da creatina em fosfocreatina que cede sua ligação fosfórica ao difosfato de adenosina, gerando o ATP (trifosfato de adenosina). A CK está presente em maiores concentrações no tecido muscular estriado esquelético e cardíaco e no tecido cerebral. A atividade dessa enzima encontra-se elevada em casos de distrofia muscular. É uma enzima útil no diagnóstico do infarto do miocárdio devido ao seu aumento precoce (de 4 a 6 horas após) em episódios agudos. Entretanto, o aumento ocorre também em embolia pulmonar, lesão cerebral, doença muscular, inclusive após uma injeção muscular, por isso a confirmação de um provável infarto deve ser feita após dosagem da fração da CK-MB, que é específica do músculo cardíaco e aparece de 4 a 8 horas após a dor do infarto e atinge o pico em 24 horas, persistindo a presença até 48 horas. Além dessa fração específica do coração (CK-MB), há a fração CK-B (cérebro) e CK-M (músculo esquelético). CASO CLÍNICO Sr. Ronaldo foi internado, apresentando quadro clínico de mal-estar, náuseas, icterícia, perda de apetite, urina escura, vômitos e dor abdominal difusa. Os médicos que atendiam o paciente começaram uma discussão clínica para fechar o diagnóstico desse caso. Ao checar seu histórico, o médico verificou que o paciente havia recebido transfusão de sangue durante uma cirurgia, ocorrida ha quatro meses. Intrigado com o caso, o médico solicitou alguns exames para o laboratório, como dosagem sérica de bilirrubinas (direta e indireta), aminotransferases (ALT e AST) e diversas outras enzimas, hemograma, exame de urina de rotina (EAS), entre outros. Após alguns minutos, começaram a chegar alguns resultados que foram observados: bilirrubina total = 3,2 mg/dL, bilirrubina indireta = 0,7 mg/dL, bilirrubina direta = 2,7 mg/dL; ALT = 822 U/L e AST = 402 U/L. Ainda faltam alguns exames, mas, olhando para esses resultados, qual interpretação podemos ter dos possíveis problemas que o paciente apresenta? Você sabe o que significa cada um desses resultados? Quadro sugestivo de lesão hepática apresentado pelo paciente. Função hepática à o fígado, o maior órgão glandular do ser humano, é responsável pela síntese da maioria das proteínas plasmáticas e também realiza a depuração de substâncias tóxicas em virtude da presença de inúmeras enzimas localizadas nos hepatócitos. Apresenta intensa irrigação sanguínea proveniente da artéria hepática e veia porta. Beatriz Loureiro A avaliação da função hepática pode indicar distúrbios pré-hepáticos, como as anemias hemolíticas ou defeitos na conjugação da bilirrubina; distúrbios hepáticos, como as hepatites, cirrose ou neoplasias; e distúrbios pós- hepáticos, como nas colestases, dependendo dos resultados encontrados nos testes solicitados. O estudo da concentração plasmática de elementos bioquímicos próprios do hepatócito ou provenientes do metabolismo hepático fornece parâmetros valiosos para a avaliação da função hepática no que diz respeito a doenças direta ou indiretamente relacionadas ao fígado. Testes laboratoriais Os testes laboratoriais mais empregados na avaliação da função hepática são as dosagens das concentrações plasmáticas de bilirrubinas, transaminases (aminotransferases), fosfatase alcalina, gama glutamil transferase (gama GT ou GGT), proteínas totais, albumina, protrombina, amônia, ácidos biliares. Outras dosagens são auxiliares no diagnóstico da função hepática, como é o caso da pesquisa de marcadores virais para hepatite. Principais marcadores hepáticos Os marcadores que normalmente são usados para avaliação da atividade hepática são as enzimas aspartato- aminotransferase (AST), alanina-aminotransferase (ALT), gama glutamil-transferase (GGT), fosfatase alcalina (FA), desidrogenase lática (LDH). As enzimas AST e ALT estão mais relacionadas às funções hepatocelulares, enquanto a GGT e FA têm predominância colestáticas (mais presente nos ductos biliares). Em lesões hepáticas é mais comum observamos a alteração conjunta da AST e da ALT, mas em alguns casos podemos ver um aumento isolado de AST e por isso a possibilidade de doença hepática é muito pequena, enquanto o aumento isolado deALT pode ser considerado uma lesão hepática por ser uma enzima com produção mais elevada no fígado. É importante lembrar que podem ocorrer resultados normais de AST e ALT e mesmo assim o paciente pode ter uma doença hepática crônica. ASPARTATO-AMINOTRANSFERASE (AST) Também denominada transaminase glutâmica oxalacética (TGO), a AST é uma enzima envolvida na transferência de radicais amino entre o aspartato e o cetoácido, presente nos músculos esqueléticos e cardíaco, nos parênquimas hepáticos e renal, nas hemácias e no sistema nervoso central. Quando observada isolada com valores alterados, não é possível afirmar falha da função hepática, pois é produzida em outros órgãos. Seu aumento varia conforme a doença, podendo aumentar mais de 50 vezes o valor de referência superior nas hepatites virais agudas; nos casos de cirrose, o aumento é em torno de quatro vezes. Outras situações em que há elevação da enzima não hepatites não virais e crônicas, colestase, medicamentos como paracetamol e anticonvulsivantes. ALANINA-AMINOTRANSFERASE-ALT Também chamada de transaminase glutâmico pirúvica (TGP), enzima envolvida em transferência de radicais amino entre alanina e cetoácido, e encontrada em maior quantidade no fígado e pouco no músculo estriado, por isso o seu aumento é um indicativo mais específico de lesão hepática. É uma enzima livre apenas no citoplasma, diferentemente da AST e, portanto, também é marcador de lesão hepática quando há aumento na circulação sanguínea. Em casos agudos, seu valor costuma ser superior ao da AST. Em dano hepático leve, a forma predominante no soro é a citoplasmática, enquanto que em lesões graves, há liberação da enzima mitocondrial (AST). Valores de referência • AST: até 32 U/L (mulheres) e 37 U/L (homens); • ALT: até 33 U/L (mulheres) e 41 U/L (homens). AST e ALT com resultados acima de 150 U/L (unidades por litro) podem ser fortes indicadores de problemas Beatriz Loureiro hepáticos, mas não podem ser fatores analisados de forma isolada. Quando a AST e a ALT apresentam valores maiores do que 1000 U/L, normalmente há presença de hepatites virais, hepatites por drogas ou hepatite isquêmica. Relação ALT/AST Além dos resultados das aminotransferases, a relação entre os valores de AST e ALT podem ser indicativos de alguns possíveis diagnósticos. Normalmente, a relação AST/ALT é menor do que 1,0, ou seja, a ALT costuma ser um pouco maior do que a AST. Já na hepatite alcoólica, a AST eleva-se mais, tornando-se pelo menos duas vezes maior do que a ALT (AST/ALT é maior do que dois). Nos casos de cirrose, os valores podem ter elevação e ficar com uma relação igual a um. Obviamente esses dados são caminhos que podem ser percorridos para um possível desfecho, mas quando isolados não estabelecem nenhum diagnóstico. Mesmo em alterações na relação AST/ALT o médico pode considerar a possibilidade de doenças do fígado, sendo necessária uma anamnese mais detalhada. BILIRRUBINAS É formada, em sua maior parte, a partir da hemoglobina e outras hemoproteínas. Os órgãos de degradação são o fígado, o baço e a medula óssea. A bilirrubina livre liga- se à albumina, conhecida como bilirrubina não conjugada ou indireta (Blnd), sofre o processo de conjugação no fígado e é convertida em bilirrubina conjugada ou direta (BDir). A BInd é insolúvel (lipossolúvel) e não pode ser excretada pela urina, circulando ligada à albumina. Já a BDir é hidrossolúvel, sendo excretada pela urina e pelos canais biliares, chegando às fezes. Assim, o doseamento das bilirrubinas pode nos orientar para problemas pré- hepáticos, hepáticos e pós-hepáticos. O método de análise ocorre com a determinação dos valores de bilirrubina total e direta. O aumento da BInd é causada por dois fatores: aumento da degradação das hemácias ou por alterações da conjugação no fígado; enquanto o aumento da BDir é causado sobretudo por problemas na eliminação da bilirrubina pela bile. A obstrução do fluxo de bile pode causar aumento de ambas, predominando o aumento da bilirrubina direta ou quando há deficiência na conjugação ou o aumento da bilirrubina conjugada no sangue (indicando lesão mais intensa dos hepatócitos). Assim, o doseamento das bilirrubinas pode nos orientar para problemas pré-hepáticos, hepáticos e pós-hepáticos. O método de análise ocorre com a determinação dos valores de bilirrubina total e direta. A bilirrubina indireta é calculada pela diferença entre elas. O aumento da bilirrubina leva ao seu depósito nos tecidos e olhos, dando a eles uma colocarão amarela (icterícia), percebida geralmente quando os níveis de bilirrubina totais são superiores a 3,0 mg/dL. CASO CLÍNICO Quadro clínico: mal-estar, náuseas, icterícia, perda de apetite, urina escura, vômitos, dor abdominal difusa. • Bilirrubina total: 3,2 mg/dL; • Bilirrubina indireta: 0,7 mg/dL; • Bilirrubina direta: 2,7 mg/dL; • ALT: 822 U/L; • AST: 402 U/L. Hipótese diagnóstica à hepatite medicamentosa, hepatite viral... Hepatite medicamentosa Exemplo: paracetamol. A N-acetilcisteína (NAC) foi introduzida nos anos 60 como um medicamento mucolítico para o tratamento de doenças respiratórias crônicas. Hepatite viral Nesse caso, o quadro de hepatite se dá devido à lesão celular causada pelo vírus, alterando o funcionamento normal do fígado e aumentando os valores das enzimas Beatriz Loureiro hepáticas ALT para o dobro dos valores de AST além de alterar a bilirrubina, principalmente a direta (forma conjugada), ficando muito mais alta do que a indireta (forma não conjugada), mostrando com isso um problema hepático. O tipo provável de hepatite viral só pode ser confirmado pelo diagnóstico imunológico. FUNÇÃO HEPÁTICA: PROTEÍNAS TOTAIS Estão presentes nos fluídos corporais e exercem muitas funções fisiológicas, como, transporte, imunidade, manutenção da pressão osmótica, enzimas, tampões, inibidores de protease. A albumina é a proteína mais abundante no plasma, sua síntese ocorre no fígado e participa do transporte de hormônios, medicamentos, ácidos graxos, bilirrubina, entre outros. A albumina é utilizada como recurso no diagnóstico de alterações hepáticas e renais. FUNÇÃO HEPÁTICA: AMÔNIA Pode ter origem de duas fontes: a partir da ação putrefativa de bactérias do TGI sobre substâncias nitrogenadas ou de processos de desaminação oxidativa e transaminação dos aminoácidos de origem da dieta ou dos tecidos. A amônia presente na circulação sistêmica chega à veia porta e no fígado converte-se em ureia. O teor de amônia em indivíduos normais é extremamente baixo e se eleva em presença de insuficiência hepática grave. GLICOSE A dosagem da glicemia é feita na maioria das vezes para o diagnóstico do diabetes. A dosagem da glicemia é feita na maioria das vezes para o diagnóstico do diabetes. Valores de referência: • Glicemia de jejum normal: inferior a 99 mg/dL; • Glicemia de jejum alterada: entre 100 mg/dL e 125 mg/dL; • Diabetes: igual ou superior a 126 mg/dL; • Glicemia de jejum baixa ou hipoglicemia: igual ou inferior a 70 mg/dL. CASO CLÍNICO: Uma mulher de 50 anos, da região do interior de Minas Gerais, chega à clínica com queixas de sede intensa, aumento da ingestão de líquidos e micção excessiva. Relata não sentir sintomas de infecção do trato urinário e não ter qualquer outro problema médico. Entretanto, não é examinada por um médico ha muitos anos. O exame mostrou que estava obesa, porem sem qualquer perturbação aguda. O exame físico está normal, o de urina mostrou a presença de glicose e o valor de glicemia foi de 320 mg/dL. Qual o diagnostico mais provável? Quais outros órgãos ou sistemas podem estar envolvidos na doença? à DM tipo 2. Cérebro, causando acidente vascular cerebral; olhos (retinopatia diabética), causando cegueira; coração, causando ataque cardíaco; rins (nefropatia diabética), causando doença renal crônica;nervos (neuropatia diabética), causando diminuição da sensibilidade nos pés. Beatriz Loureiro PERFIL LIPÍDICO A dosagem do perfil lipídico auxilia no diagnóstico de dislipidemias e faz parte, juntamente com outros exames, para prever o risco de doenças cardiovasculares e aterosclerose. Quando é pedido o perfil lipídico do paciente, significa que o laboratório dosará: • O colesterol total (CT); • HDL-colesterol (HDL-C); • Triglicérides (TG). E fará os cálculos para a estimativa do VLDL-colesterol e do LDL-colesterol (LDL-C). Os lipídios principais para o ser humano são: ácidos graxos, colesterol, triglicérides (TG) e fosfolípides (FL). Esses constituem a porção de lipídios das lipoproteínas (LP). As LP plasmáticas são funcionalmente muito importantes, pois transportam todo o colesterol e os lipídios no sangue. • VLDL: lipoproteínas de densidade muito baixa; • LDL: lipoproteínas de baixa densidade; • HDL: lipoproteínas de alta densidade. Tecnicamente, existem duas classes principais de lipoproteínas: as lipoproteínas que transportam triglicerídeos e colesterol para os tecidos (contendo predominantemente VLDL e LDL) e a lipoproteína HDL que faz transporte reverso do colesterol, isto é, retira o excesso dos tecidos e retorna-os para o fígado, onde são transformados em sais biliares e excretados na bile, sendo por isso chamado de “colesterol bom”, enquanto o LDL, principal partícula formadora de placas arterioscleróticas é chamado de “colesterol ruim”. ÁCIDO ÚRICO Representa o produto final do metabolismo das purinas. Esse é absorvido do plasma e filtrado nos glomérulos e reabsorvido pelos túbulos renais. A dosagem de ácido úrico é útil no diagnóstico de “gota” (artrite gotosa, doença caracterizada pelo aumento de ácido úrico e pelo acúmulo de cristais de monourato de sódio nas articulações). O aumento nas taxas de ácido úrico no sangue pode ocorrer tanto pela produção excessiva quando pela eliminação deficiente da substância. URÉIA A uréia é proveniente do catabolismo proteico e é a principal forma excretora de nitrogênio. Ela é formada no fígado. Cerca de 40% deste analito filtrado nos glomérulos é reabsorvido nos túbulos renais. A dosagem de uréia é muito utilizada para uma avaliação do funcionamento dos rins e do fígado, é comum solicitar, juntamente com a dosagem de creatinina, a qual se eleva mais tardiamente e tem maior valor prognóstico. O aumento de uréia pode ter origem de causas renais, pré- renais e pós-renais. Exemplo: em casos de cirrose, o dano hepático faz com que haja um aumento nos níveis circulantes de uréia, podendo causar a encefalopatia hepática. CREATININA É formada a partir da desidratação da creatina. É um composto orgânico nitrogenado e não proteico. Ela é proveniente do metabolismo muscular e seu valor depende da massa muscular do indivíduo. É eliminada no plasma através de filtração glomerular e não é absorvida nos túbulos renais como a ureia, Para averiguar o bom funcionamento dos rins, não basta só os exames de ureia e creatinina, é preciso realizar também o cálculo do clearance de creatinina. É através desse cálculo que se estima a filtração glomerular, ou melhor, a capacidade dos rins de filtração no período de 1 minuto. Para realizar esse cálculo, utiliza-se a creatinina plasmática e amostra de urina. SÓDIO É um eletrólito que constitui o líquido extracelular. As dosagens de sódio estão relacionadas ao diagnóstico de hiponatremia (diminuição de sódio) ou hipernatremia (aumento de sódio) associadas à desidratação, desequilíbrios eletrolíticos, edemas e outras doenças. Essa dosagem é solicitada, muitas vezes, em conjunto com outros eletrólitos. POTÁSSIO É extremamente abundante no interior das células. As dosagens de potássio estão relacionadas ao diagnóstico de hipocalemia (diminuição de potássio) ou hipercalemia (aumento de potássio). Beatriz Loureiro As causas de hipocalemia podem ocorrer por diminuição na ingestão, aumento de potássio intracelular, perdas na urina, trato gastrointestinal (TGI) ou suor, essa diminuição de potássio pode levar à fraqueza muscular, irritabilidade, paralisia e, quando em níveis muito baixos, à parada cardíaca. As causas de hipercalemia podem ocorrer pelo excesso de liberação de potássio intracelular na corrente sanguínea e estão presentes na desidratação, insuficiência renal e queimaduras graves e esse aumento pode acarretar fraqueza muscular, alterações no eletrocardiograma e confusão mental. CÁLCIO A maior parte do cálcio no organismo humano está concentrada nos ossos e nos dentes, porém, os níveis plasmáticos devem sempre ser mantidos em equilíbrio, caso esses níveis diminuam, o cálcio pode migrar para o plasma A diminuição de cálcio (hipocalcemia) pode ser vista no hipoparatireoidismo, insuficiência renal, síndrome de má- absorção, entre outros. O aumento de cálcio pode ser visto em casos de mieloma múltiplo, sarcoidose, intoxicação por vitamina D, entre outras. FÓSFORO O fósforo é um elemento químico de origem mineral, essencial e abundante nos seres humanos. As concentrações anormais desse elemento podem ser oriundas de um excesso de excreção ou diminuição da ingestão. Níveis diminuídos de fósforo (hipofosfatemia) podem ser vistos no raquitismo, hiperparatireoidismo, síndrome de má-absorção, entre outros. Níveis aumentados (hiperfosfatemia) podem ser vistos em casos de insuficiência renal, hipervitaminose D, no hipoparatireoidismo, pseudo-paratireodismo, entre outros. As dosagens séricas podem auxiliar no caso de doenças renais, endócrinas, desequilíbrio acidobásico ou esqueléticas ligadas ao cálcio. Entretanto, a dosagem de fósforo sozinha é muito limitada para auxílio no diagnóstico, estando sempre associada ao cálcio em uma relação inversa, quando um está aumentado, outro está diminuído. Todo aumento de fósforo causa uma diminuição do cálcio por um mecanismo desconhecido, um exemplo dessa relação é na insuficiência renal, onde há um aumento de fósforo, resultando em diminuição de cálcio. TP E TTPA: COAGULOGRAMA Ambos os exames são utilizados para avaliar os fatores de coagulação e fazem parte do coagulograma, os quais avaliam um segundo momento da hemostasia. Dentre os exames que fazem parte do coagulograma temos também: Contagem de Plaquetas, Teste de Agregação Plaquetária, (Prova do Laço, Tempo de Sangramento, Tempo de Coagulação). • Tempo de protrombina (TP): Esse teste é pedido na rotina clínica para acompanhamento do uso de anticoagulantes e avaliar o risco cirúrgico. O TP estará aumentado em casos de deficiência dos fatores VII, X, V, II e o fibrinogênio, em pacientes que usam anticoagulantes, nas doenças hepáticas e deficiência de vitamina K. • Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA): O TPPA estará aumentado quando houver deficiência dos fatores que ativam a via intrínseca (XII, XI, IX e VII) e de fatores da via comum (X, V, II e fibrinogênio), em caso de pacientes com hemofilias A e B, doenças hepáticas, uso de anticoagulantes e deficiência de vitamina K. Beatriz Loureiro CASO CLÍNICO HCA, homem de 60 anos, cirrótico por uso abusivo de álcool, porem abstinente ha 3 anos, que foi internado com ascite volumosa, icterícia e hematêmese (vômito com sangue). A pressão arterial estava em 90/60 mmHg, frequência cardíaca de 120 batimentos por minuto e saturação de oxigênio de 89%. Apresentava-se agitado e confuso, com edema importante e diminuição na produção de urina (oligúria). Foram solicitados exames para avaliação de disfunção renal, do hemograma e de doença hepática, sendo obtidos os seguintes resultados: • Sódio (Na) = 154 mEq/L (referência: 135 a 148 mEq/L) * número de miliequivalentes. • Potássio (K) normal (referência: 3.50 a 5.10 mEq/L). • Creatinina = 2,3 mg/dL (referência: 0,7 a 1,3 mg/dL). • Ureia = 130 mg/dL (referência: 10 a 50 mg/dL). • Albumina =2,5 g/dL (referencia: 3,5 a 5,0 g/dL). • Hemoglobina = 8,0 g/dL (referência: 12,8 a 16,3 g/dL). • Hematócrito = 25% (referência: 40 a 50 %). • Bilirrubina total = 2,2 mg/dL (referencia 0,2 a 1,2 mg/dL). • Bilirrubina direta elevada e Bilirrubina indireta (conjugada) normal. • AST (aspartato aminotransferase) ou TGO (transaminase glutâmico oxalacetica) = 80 U/L (valor desejável: ate 37 U/L para homens). • ALT (alanina aminotransferase) ou TGP (transaminase glutâmico pirúvica) = 150 U/L (valor desejável: ate 41 U/L para homens). Correlação clínica e exames laboratoriais Na cirrose, o fígado aumenta de tamanho (hepatomegalia). Ocorre compressão dos vasos sanguíneos do fígado e a pressão sanguínea no interior do fígado aumenta muito podendo haver extravasamento de liquido para a cavidade peritoneal (ascite). Os ductos biliares intrahepáticos também ficam obstruídos e a bile se acumula no meio dos hepatócitos e faz com que a bilirrubina, que está continuamente sendo formada pela destruição/renovação das hemácias velhas, se acumule no sangue (aumento da bilirrubina total nos exames do paciente, devido ao aumento da bilirrubina direta ou conjugada, indicativo de colestase intra-hepática). Quando a concentração plasmática de bilirrubina aumenta, sua excreção também aumenta, o que torna a urina escura. O acumulo de bilirrubina no sangue causa a icterícia. Esses costumam ser os primeiros sinais de doença hepática com colestase. A congestão do sangue no sistema porta causa formação de varizes no esôfago que sangram, por isso há a hematêmese (vômitos com sangue) e a perda de sangue causa a pressão arterial baixa. Se o fígado não funciona direito, diminui a produção de proteínas e de hemoglobina (veja os valores baixos da albumina e do hematócrito no exame). Ainda se verifica acúmulo de ureia no sangue e nessa fase pode haver a encefalopatia hepática (ele estava agitado e confuso) e a insuficiência renal aguda (paciente com oligúria, diminuição na produção de urina). Em consequência da insuficiência renal o sódio está se acumulando causando edema e a hipoalbuminemia resulta em diminuição da pressão coloidosmótica do sangue e isso também causa o edema. A comprovação do dano no fígado causado pela cirrose hepática é dada pelas dosagens do AST (aspartato aminotransferase) e do ALT (alanina aminotransferase), ambos estão elevados (duas a três vezes os valores de referência), sendo a elevação de ALT maior do que a elevação do AST fazendo com que a relação AST/ALT seja menor do que 1, indicando que ainda é possível reverter o quadro com o tratamento adequado. Beatriz Loureiro
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