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T.J. Klune - The House in the Cerulean Sea

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Uma ilha mágica. Uma tarefa perigosa. Um segredo ardente. 
 
Linus Baker leva uma vida tranquila e solitária. Aos quarenta, ele mora em uma casinha 
com uma gata ardilosa e seus velhos discos. Como assistente social do Departamento 
Encarregado da Juventude Mágica, ele passa seus dias supervisionando o bem-estar das 
crianças em orfanatos sancionados pelo governo. 
Quando Linus é inesperadamente convocado pela Administração Extremamente 
Superior, ele recebe uma tarefa curiosa e altamente secreta: viajar para o Orfanato da Ilha 
Marsyas, onde seis crianças perigosas residem: um gnomo, uma fada, um serpe, uma mancha 
verde não identificável, um lulu-da-pomerânia e o anticristo. Linus deve deixar de lado seus 
medos e determinar se eles provavelmente causarão o fim dos dias. 
Mas as crianças não são o único segredo que a ilha guarda. Seu zelador é o charmoso e 
enigmático Arthur Parnassus, que fará de tudo para manter seus pupilos seguros. Conforme 
Arthur e Linus se aproximam, segredos antigos são expostos, e Linus deve fazer uma 
escolha: destruir uma casa ou ver o mundo queimar. 
 
 
Uma história encantadora, contada com maestria, The House in the Cerulean Sea é sobre 
a profunda experiência de descobrir uma família improvável em um lugar inesperado - e 
perceber que a família é sua. 
 
 
 
 
Para quem está comigo desde o início: veja o que fizemos. 
Obrigado. 
 
 
 
 
Um 
 
 — Oh, céus — disse Linus Baker, enxugando o suor da testa. — Isso é muito incomum. 
Isso foi um eufemismo. Ele observou maravilhado uma garota de onze anos chamada 
Daisy levitar blocos de madeira bem acima de sua cabeça. Os blocos giraram em círculos 
concêntricos lentos. Daisy franziu a testa em concentração, a ponta da língua esticada entre 
os dentes. Isso continuou por um bom minuto antes que os blocos baixassem lentamente até 
o chão. Seu nível de controle era surpreendente. 
 — Entendo — disse Linus, rabiscando furiosamente em seu bloco de papel. Eles estavam 
no escritório da mestra, uma sala arrumada com carpete marrom fornecido pelo governo e 
móveis antigos. As paredes estavam forradas com pinturas terríveis de lêmures em várias 
poses. A mestra os exibiu com orgulho, dizendo a Linus que a pintura era sua paixão, e que 
se ela não tivesse se tornado a mestra deste orfanato específico, ela estaria viajando com um 
circo como treinadora de lêmures ou mesmo teria aberto uma galeria para compartilhar sua 
arte com o mundo. Linus acreditava que o mundo estava melhor com as pinturas nesta sala, 
mas ele manteve o pensamento para si mesmo. Ele não estava lá para fazer crítica de arte 
amadora. — E com que frequência você - er, você sabe? Faz as coisas flutuarem? 
A dona do orfanato, uma mulher atarracada com cabelos crespos, deu um passo à frente. 
— Oh, nem sempre — ela disse rapidamente. Ela torceu as mãos, os olhos indo e voltando. 
— Talvez uma ou duas vezes... por ano? 
Linus tossiu. 
 
 
 — Por mês — a mulher corrigiu. — Eu sou boba. Não sei por que disse um ano. Um 
lapso. Sim, uma ou duas vezes por mês. Você sabe como é. Quanto mais velhas as crianças 
ficam, mais elas... fazem coisas. 
 — Isso está certo? — Linus perguntou a Daisy. 
 — Ah, sim — disse Daisy. — Uma ou duas vezes por mês e nada mais. — Ela sorriu 
beatificamente para ele, e Linus se perguntou se ela havia sido treinada em suas respostas 
antes de sua chegada. Não seria a primeira vez que isso aconteceria, e ele duvidava que fosse 
a última. 
 — Claro — disse Linus. Elas esperaram enquanto a caneta dele continuava a arranhar o 
papel. Ele podia sentir seus olhares sobre ele, mas manteve o foco em suas palavras. A 
precisão exigia atenção. Ele era muito meticuloso, e sua visita a esse orfanato em particular 
foi esclarecedora, para dizer o mínimo. Ele precisava anotar todos os detalhes que pudesse 
para completar seu relatório final, uma vez que voltasse ao escritório. 
A mestra se preocupou com Daisy, puxando seu cabelo preto rebelde para trás, 
prendendo-o no lugar com presilhas de plástico. Daisy olhava desamparada para seus blocos 
no chão, como se desejasse que estivessem levitando mais uma vez, suas sobrancelhas 
espessas se contraindo. 
 — Você tem controle sobre isso? — Linus perguntou. 
Antes que Daisy pudesse abrir a boca, a mestra disse: — Claro que ela tem. Nós nunca 
permitiríamos que ela... 
Linus ergueu a mão. — Eu apreciaria, senhora, se pudesse ouvir a própria Daisy. Embora 
não tenha dúvidas de que você tem os melhores interesses em mente, acho que crianças 
como Daisy aqui tendem a ser mais... francas. 
A mestra procurou falar novamente até que Linus arqueou uma sobrancelha. Ela suspirou 
enquanto balançava a cabeça, dando um passo para trás de Daisy. 
 
 
Depois de rabiscar uma nota final, Linus tampou sua caneta e colocou-a e o bloco de 
papel de volta em sua pasta. Ele se levantou de sua cadeira e agachou-se diante de Daisy, 
joelhos gemendo em protesto. 
Daisy mordeu o lábio inferior com os olhos arregalados. 
 — Daisy? Você tem controle sobre isso? 
Ela assentiu lentamente. — Acho que sim? Não machuquei ninguém desde que fui trazida 
para cá. — Sua boca se torceu para baixo. — Não até Marcus. Eu não gosto de machucar as 
pessoas. 
Ele quase podia acreditar nisso. — Ninguém disse que você gostava. Mas às vezes nem 
sempre podemos controlar os... dons que recebemos. E não é necessariamente culpa 
daqueles com os ditos dons. 
Isso não pareceu fazê-la se sentir melhor. — Então de quem é a culpa? 
Linus piscou. — Bem, suponho que haja todos os tipos de fatores. A pesquisa moderna 
sugere que estados emocionais extremos podem desencadear casos como o seu. Tristeza. 
Raiva. Até felicidade. Talvez você estivesse tão feliz que acidentalmente jogou uma cadeira 
em seu amigo Marcus? — Foi a razão pela qual ele foi enviado aqui em primeiro lugar. 
Marcus foi atendido no hospital para ter sua cauda cuidada. Ele tinha sido dobrado em um 
ângulo estranho, e o hospital relatou isso diretamente ao Departamento Encarregado da 
Juventude Mágica como eles deveriam fazer. O relatório desencadeou uma investigação, 
razão pela qual Linus fora designado para este orfanato em particular. 
 — Sim — disse Daisy. — É exatamente isso. Marcus me deixou tão feliz quando ele 
roubou meus lápis de cor que eu acidentalmente joguei uma cadeira nele. 
 — Entendo — disse Linus. — Você se desculpou? 
 
 
Ela olhou para seus blocos novamente, arrastando os pés. — Sim. E ele disse que não 
estava bravo. Ele até apontou meus lápis para mim antes de devolvê-los. Ele é melhor nisso 
do que eu. 
 — Que coisa cuidadosa de se fazer — disse Linus. Ele pensou em estender a mão e dar 
um tapinha no ombro dela, mas não era adequado. — E eu sei que você não quis fazer mal a 
ele, não realmente. Talvez no futuro, paremos e pensemos antes de permitir que nossas 
emoções tomem conta de nós. Como isso soa? 
Ela assentiu furiosamente. — Ah sim. Prometo parar e pensar antes de jogar mais 
cadeiras com nada além do poder da minha mente. 
Linus suspirou. — Eu não acho que seja exatamente isso que eu... 
Um sino tocou em algum lugar no fundo da velha casa. 
 — Biscoitos — Daisy respirou antes de correr em direção à porta. 
 — Apenas um — a mestra gritou atrás dela. — Você não quer estragar o seu jantar! 
 — Eu não vou! — Daisy gritou de volta antes de bater à porta atrás dela. Linus podia 
ouvir o pequeno tamborilar de seus passos enquanto ela corria pelo corredor em direção à 
cozinha. 
 — Ela vai — A mestra murmurou, caindo em sua cadeira atrás de sua mesa. — Ela 
sempre faz. 
 — Eu acredito que ela merece — disse Linus. 
Ela esfregou a mão no rosto antes de olhar para ele com cautela. — Bem, é isso, então. 
Você entrevistou todas as crianças. Você inspecionou a casa. Você viu que Marcus está bem. 
E embora houve o... incidente com a cadeira, Daisy obviamente não queria o mal. 
Ele acreditava que ela estava certa. Marcusparecia mais interessado em deixar Linus 
assinar seu gesso, em vez de colocar Daisy em problemas. Linus hesitou, dizendo que não 
 
 
era seu lugar. Marcus ficou desapontado, mas se recuperou quase imediatamente. Linus 
ficou maravilhado - como às vezes acontecia - com a capacidade de resistência de todos eles 
diante de tudo. — Bastante. 
 — Suponho que não me diga o que vai escrever no seu relatório... 
Linus se irritou. — Absolutamente não. Você receberá uma cópia assim que eu 
preencher, como você sabe. O conteúdo ficará claro para você então, e nem um momento 
antes. 
 — Claro — a mestra disse apressadamente. — Eu não quis sugerir que você... 
 — Estou feliz que você veja do meu jeito — disse Linus. — E eu sei que a DICOMY1 
certamente agradecerá também. — Ele se ocupou com a pasta, reorganizando o conteúdo 
até ficar satisfeito. Ele fechou e fechou as travas no lugar. — Agora, a menos que haja mais 
alguma coisa, vou me retirar e lhe dar um convite... 
 — As crianças gostam de você. 
 — Eu gosto delas — disse ele. — Eu não faria o que faço se não gostasse. 
 — Nem sempre é assim com outras pessoas como você. — Ela pigarreou. — Ou 
melhor, os outros assistentes sociais. 
Ele olhou para a porta com saudade. Ele esteve tão perto de escapar. Agarrando a pasta à 
sua frente como um escudo, ele se virou. 
A mestra se levantou da cadeira e contornou a mesa. Ele deu um passo para trás, 
principalmente por hábito. Ela não se aproximou, em vez disso, recostou-se na mesa. — 
Nós tivemos... outros — ela disse. 
 — Você já? Isso era esperado, é claro, mas... 
 
1 Ele se refere ao Department in Charge of Magical Youth: Departamento Encarregado da Juventude 
Mágica. 
 
 
 — Eles não veem as crianças — disse ela. — Não pelo que elas são, apenas pelo que são 
capazes. 
 — Elas deveriam ter uma chance, como todas as crianças deveriam. Que esperança elas 
teriam de ser adotadas se fossem tratadas como algo a ser temido? 
A mestra bufou. — Adotadas. 
Ele estreitou os olhos. — Algo que eu disse? 
Ela balançou a cabeça. — Não, me perdoe. Você é revigorante, do seu jeito. Seu 
otimismo é contagiante. 
 — Eu sou positivamente um raio de sol — Linus disse categoricamente. — Agora, se 
não houver mais nada, eu posso ir andando... 
 — Como é que você pode fazer o que faz? — Ela perguntou. Ela empalideceu como se 
não pudesse acreditar no que disse. 
 — Eu não sei o que você quer dizer. 
 — Trabalhar para DICOMY. 
O suor escorria pela nuca até a gola da camisa. Estava terrivelmente quente no escritório. 
Pela primeira vez em muito tempo, ele desejou estar lá fora na chuva. — E o que há de 
errado com DICOMY? 
Ela hesitou. — Não quero ofender. 
 — Espero que não. 
 — É só que... — Ela se levantou de sua mesa, os braços ainda cruzados. — Você não se 
pergunta? 
 — Nunca — Linus disse prontamente. Então — Sobre o que? 
 — O que acontece com um lugar como este depois que você envia seu relatório final. O 
que acontece com as crianças. 
 
 
 — A menos que eu seja chamado para retornar, espero que elas continuem a viver como 
crianças brilhantes e felizes até se tornarem adultos brilhantes e felizes. 
 — Que ainda são regulamentadas pelo governo por causa de quem são. 
Linus se sentiu encurralado em um canto. Ele não estava preparado para isso. — Eu não 
trabalho para o Departamento Encarregado de Adultos Mágicos. Se você tiver alguma dúvida 
a esse respeito, sugiro que fale com a DICOMA. Estou focado exclusivamente no bem-estar 
das crianças, nada mais. 
A mestra sorriu tristemente. — Elas nunca ficam como crianças, Sr. Baker. Elas sempre 
crescem eventualmente. 
 — E elas fazem isso usando as ferramentas que alguém como você fornece para elas, caso 
elas saiam do orfanato sem terem sido adotadas. — Ele deu outro passo para trás em direção 
à porta. — Agora, se você me der licença, eu tenho que pegar o ônibus. É uma viagem 
bastante longa para casa e não quero perdê-la. Obrigado por sua hospitalidade. E, 
novamente, assim que o relatório for preenchido, você receberá uma cópia para seus 
próprios registros. Informe-nos se tiver alguma dúvida. 
 — Na verdade, eu tenho outra... 
 — Envie por escrito — Linus chamou, já passando pela porta. — Estou ansioso por isso. 
— Ele a fechou atrás de si, a trava clicando no lugar. Ele respirou fundo antes de exalar 
lentamente. — Agora que você fez isso, meu velho. Ela vai lhe enviar centenas de 
perguntas. 
 — Eu ainda posso ouvir você — a mestra disse através da porta. 
Linus se assustou antes de correr pelo corredor. 
 
*** 
 
 
Ele estava prestes a sair pela porta da frente quando ele parou em uma explosão de risos 
vindo da cozinha. Contra seu melhor julgamento, ele caminhou na ponta dos pés em direção 
ao som. Ele passou por pôsteres pregados nas paredes, as mesmas mensagens penduradas em 
todos os orfanatos sancionados pela DICOMY em que ele tinha estado. Eles mostravam 
crianças sorridentes abaixo de legendas como SOMOS MAIS FELIZES QUANDO 
OUVIMOS OS RESPONSÁVEIS E UMA CRIANÇA CALMA É UMA CRIANÇA 
SAUDÁVEL e QUEM PRECISA DE MÁGICA QUANDO VOCÊ TEM SUA 
IMAGINAÇÃO? 
Ele enfiou a cabeça na porta da cozinha. 
Lá, sentado a uma grande mesa de madeira, estava um grupo de crianças. 
Havia um menino com penas azuis crescendo em seus braços. 
Havia uma garota que gargalhava como uma bruxa; era apropriado ver como isso era o 
que seu arquivo dizia que ela era. 
Havia uma garota mais velha que cantava de forma tão sedutora que fazia os navios se 
espatifarem na costa. Linus empacou quando leu isso em seu relatório. 
Havia um selkie2, um menino jovem com uma pele repousando sobre os ombros. 
E Daisy e Marcus, era claro. Sentados lado a lado, Daisy exclamando sobre a sua cauda 
com a boca cheia de biscoito. Marcus sorriu para ela, seu rosto era um campo de sardas 
enferrujadas, a cauda apoiada na mesa. Linus observou enquanto ele perguntava se ela 
poderia fazer outro desenho em seu gesso com um de seus lápis de cor. Ela concordou 
imediatamente. — Uma flor — disse ela. — Ou um inseto com dentes afiados e ferrão. 
 — Ooh — Marcus respirou. — O inseto. Você tem que fazer o inseto. 
 
2 Selkies (também conhecidos como silkies ou selchies) são criaturas mitológicas encontradas no folclore 
das Ilhas Faroé, Islândia, Irlanda e Escócia. A palavra deriva do escocês primitivo selich, (do inglês antigo 
seolh que significa foca). Os selkies vivem como focas no mar, mas mudam a sua pele para se tornar humanos 
na terra. 
 
 
Linus os deixou em paz, satisfeito com o que tinha visto. 
Ele caminhou até a porta mais uma vez. Ele suspirou quando percebeu que havia 
esquecido seu guarda-chuva mais uma vez. — De todos os... 
Ele abriu a porta e saiu na chuva para começar a longa jornada para casa. 
 
 
 
Dois 
 
 — Sr. Baker! 
Linus gemeu para si mesmo. Hoje estava indo tão bem. Um pouco. Ele tinha pegado uma 
mancha de molho laranja em sua camisa branca da salada encharcada que comprou no 
refeitório, uma mancha persistente que só borrou quando ele tentou esfregá-la. E a chuva 
estava trovejando no telhado acima, sem sinais de diminuir tão cedo. Ele tinha esquecido o 
guarda-chuva em casa mais uma vez. 
Mas, fora isso, seu dia estava indo bem. 
Na maioria das vezes. 
O som de teclas de computador batendo parou em torno dele quando a Sra. Jenkins se 
aproximou. Ela era uma mulher severa, o cabelo puxado para trás tão severamente que 
levava sua sobrancelha até o meio da testa. Ele se perguntava de vez em quando se ela já 
havia sorrido em sua vida. Ele achava que não. A Sra. Jenkins era uma mulher severa com a 
disposição de uma cobra teimosa. 
Ela também era sua supervisora e Linus Baker não se atreveu a contrariá-la. 
Ele nervosamente puxou a gola de sua camisa quando a Sra. Jenkins se aproximou, 
abrindo caminhoentre as mesas, seus saltos batendo contra o chão frio de pedra. Seu 
assistente, um sapo desprezível de um homem chamado Gunther, a seguia de perto, 
carregando uma prancheta e um lápis obscenamente longo que ele costumava ter para 
registrar aqueles que pareciam ser negligentes no trabalho. A lista seria totalizada no final do 
dia e os deméritos seriam adicionados a uma contagem semanal contínua. No final da 
https://translate.googleusercontent.com/h#Two
 
 
semana, aqueles com cinco ou mais deméritos os teriam adicionado a seus arquivos pessoais. 
Ninguém queria isso. 
Aqueles por quem a Sra. Jenkins e Gunther passaram mantiveram a cabeça baixa, fingindo 
trabalhar, mas Linus sabia melhor; eles estavam ouvindo o melhor que podiam para 
descobrir o que ele havia feito de errado e qual seria sua punição. Possivelmente ele seria 
forçado a sair mais cedo e ter seu pagamento reduzido. Ou talvez ele tivesse que ficar até 
mais tarde do que o normal e ainda ter seu pagamento reduzido. Na pior das hipóteses, ele 
seria demitido, sua vida profissional terminaria e ele não teria qualquer pagamento para ser 
demitido nunca mais. 
Ele não conseguia acreditar que era apenas quarta-feira. 
E piorou quando percebeu que na verdade era terça-feira. 
Ele não conseguia pensar em uma única coisa que tivesse feito fora de ordem, a menos 
que tivesse voltado um minuto atrasado de seu almoço de quinze minutos, ou seu último 
relatório tivesse sido insatisfatório. Sua mente disparou. Ele havia passado muito tempo 
tentando tirar a mancha da camisa? Ou houve um erro de digitação em seu relatório? 
Certamente não. Estava imaculado, ao contrário de sua camisa. 
Mas a Sra. Jenkins tinha uma expressão distorcida no rosto, que não era um bom 
presságio para Linus. Para uma sala que ele sempre achou que era fria, agora estava 
desconfortavelmente quente. Mesmo que estivesse ventoso - o tempo miserável só piorava 
as coisas - não fez nada para impedir o suor de escorrer por sua nuca. O brilho verde da tela 
de seu computador parecia muito brilhante, e ele lutou para manter a respiração lenta e 
uniforme. Seu médico lhe disse que sua pressão arterial estava muito alta em seu último 
exame físico e que ele precisava eliminar os estresses de sua vida. 
A Sra. Jenkins era um estresse. 
Ele manteve esse pensamento para si mesmo. 
 
 
Sua pequena mesa de madeira ficava quase no centro da sala: Fila L, Mesa Sete em uma 
sala composta por vinte e seis filas com quatorze escrivaninhas em cada fila. Quase não havia 
espaço entre as mesas. Uma pessoa magrinha não teria problemas para sobreviver, mas uma 
que carregava alguns quilos extras no meio? (Poucos sendo a palavra-chave, era claro) Se eles 
pudessem ter bugigangas pessoais em suas mesas, provavelmente terminaria em um desastre 
para alguém como Linus. Mas vendo como isso era contra as regras, ele acabou esbarrando 
neles com seus quadris largos e se desculpando apressadamente com os olhares que recebeu. 
Essa era uma das razões pelas quais ele geralmente esperava até que a sala estivesse quase 
vazia antes de sair para o dia. Isso e o fato de que ele recentemente completou quarenta 
anos, e tudo o que ele tinha para mostrar era uma casa minúscula, uma gata rabugenta que 
provavelmente sobreviveria a todos e uma cintura cada vez maior que seu médico cutucou e 
cutucou com uma quantidade estranha de alegria enquanto divagava sobre as maravilhas da 
dieta. 
Daí a salada encharcada do refeitório. 
Pendurados bem acima deles havia letreiros terrivelmente alegres proclamando: VOCÊ 
ESTÁ FAZENDO UM BOM TRABALHO e CONTA POR CADA MINUTO DO SEU DIA 
PORQUE UM MINUTO PERDIDO É UM MINUTO DESPERDIÇADO. Linus os odiava 
tanto. 
Ele colocou as mãos espalmadas sobre a mesa para não cravar as unhas nas palmas. O Sr. 
Tremblay, que estava sentado na Fila L, Mesa Seis, sorriu sombriamente para ele. Ele era 
um homem muito mais jovem que parecia apreciar seu trabalho. — Encrencado agora — 
ele murmurou para Linus. 
A Sra. Jenkins alcançou sua mesa, sua boca uma linha fina. Como de costume, ela parecia 
ter aplicado a maquiagem generosamente no escuro, sem a ajuda de um espelho. O blush 
pesado em suas bochechas era magenta e seu batom parecia sangue. Ela usava um terninho 
 
 
preto, cujos botões estavam fechados até o queixo. Ela estava magra como um sonho, feita 
de ossos afiados cobertos por uma pele esticada demais. 
Gunther, por outro lado, era tão jovem quanto o Sr. Tremblay. Dizia-se que ele era filho 
de Alguém Importante, provavelmente da Administração Extremamente Superior. Embora 
Linus não falasse muito com seus colegas de trabalho, ele ainda ouvia seus sussurros de 
fofoca. Ele aprendeu cedo na vida que se ele não falasse, as pessoas muitas vezes esqueciam 
que ele estava lá ou mesmo existia. Sua mãe lhe disse uma vez quando ele era criança que ele 
se misturava com a tinta na parede, apenas memorável quando alguém era lembrado de que 
ela estava ali. 
 — Sr. Baker — disse Jenkins novamente, praticamente rosnando seu nome. 
Gunther estava ao lado dela, sorrindo para ele. Não era um sorriso muito bonito. Seus 
dentes eram perfeitamente brancos e quadrados, e ele tinha covinhas no queixo. Ele era 
bonito de uma forma assustadora. O sorriso deveria ser adorável, mas não alcançou seus 
olhos. As únicas ocasiões em que Linus poderia dizer que acreditaria no sorriso de Gunther 
eram quando ele realizava inspeções de surpresa, longos lápis arranhando a prancheta, 
marcando demérito após demérito. 
Talvez fosse isso. Talvez Linus recebesse seu primeiro demérito, algo que ele 
milagrosamente foi capaz de evitar desde a chegada de Gunther e seu sistema de pontuação. 
Ele sabia que eles eram monitorados constantemente. Havia câmeras grandes penduradas no 
teto gravando tudo. Se alguém fosse pego fazendo algo errado, as grandes caixas de som 
fixadas nas paredes ganhariam vida, e haveria gritos de deméritos para a Fila K, Mesa Dois 
ou Fila Z, Mesa Treze. 
Linus nunca foi pego administrando mal seu tempo. Ele era muito inteligente para isso. E 
com muito medo. 
Talvez, entretanto, não seja inteligente ou temeroso o suficiente. 
 
 
Ele iria receber um demérito. 
Ou talvez recebesse cinco deméritos e isso iria para seu arquivo pessoal, uma marca que 
mancharia seus dezessete anos de serviço no Departamento. Talvez eles tenham visto a 
mancha na camisa. Havia uma política rígida em relação ao traje profissional. Ela foi listada 
em detalhes nas páginas 242–246 das REGRAS E REGULAMENTOS, o manual do funcionário 
do Departamento Encarregado da Juventude Mágica. Talvez alguém tenha visto a mancha e 
o denunciou. Isso não surpreenderia Linus nem um pouco. E as pessoas não foram demitidas 
por coisas menores? 
Linus sabia que sim. 
 — Sr. Jenkins — disse ele, a voz quase um sussurro. — É bom ver você hoje. — Isso 
era mentira. Nunca foi bom ver a Sra. Jenkins. — O que posso fazer para você? 
O sorriso de Gunther se alargou. Possivelmente dez deméritos, então. Afinal, o molho 
era laranja. Ele não precisaria de uma caixa marrom. As únicas coisas que pertenciam a ele 
eram as roupas do corpo e o mouse pad, uma imagem desbotada de uma praia de areia 
branca e o oceano mais azul do mundo. No topo estava a legenda NÃO DESEJA ESTAR 
AQUI? 
Sim. Diariamente. 
A Sra. Jenkins não parecia inclinada a responder à saudação de Linus. — O que é que 
você fez? — Ela perguntou, as sobrancelhas perto da linha do cabelo, o que deveria ser 
fisicamente impossível. 
Linus engoliu em seco. — Perdoe-me, mas acho que não sei a que você está se referindo. 
 — Acho isso difícil de acreditar. 
 — Oh. Eu sinto muito? 
 
 
Gunther arranhou algo em sua prancheta. Ele provavelmente estava dando a Linus mais 
um demérito pelas óbvias manchas de suor sob seus braços. Ele não podia fazer nada sobre 
isso agora. 
A Sra. Jenkins não parecia aceitar suas desculpas. — Você deve ter feito algo. — Ela foi 
muitoinsistente. 
Talvez ele devesse confessar sobre a mancha da camisa. Seria como arrancar uma 
bandagem. Melhor fazer tudo de uma vez em vez de arrastar para fora. — Sim. Bem, você 
vê, estou tentando comer mais saudável. Uma espécie de dieta. 
Sra. Jenkins franziu a testa. — Uma dieta? 
Linus acenou com a cabeça bruscamente. — Ordens médicas. 
 — Carregando um pouco mais de peso, não é? — Gunther perguntou, parecendo muito 
satisfeito com a ideia. 
Linus enrubesceu. — Eu acho. 
Gunther fez um barulho simpático. — Percebi. Você, pobre querido. Melhor tarde do 
que nunca, suponho. — Ele bateu em sua própria barriga lisa com a borda da prancheta. 
Gunther era odioso. Linus manteve esse pensamento para si mesmo. — Que 
maravilhoso. 
 — Você ainda não respondeu à minha pergunta — disparou a Sra. Jenkins. — O que é 
que você pode ter feito? 
Era melhor acabar com isso. — Um erro. Eu sou desajeitado. Eu estava tentando comer a 
salada, mas, aparentemente, a couve tem vontade própria e escorregou da minha... 
 — Não tenho ideia do que você está tagarelando — disse Jenkins, inclinando-se para a 
frente e colocando as mãos sobre a mesa. Suas unhas estavam pintadas de preto e ela as batia 
na madeira. Parecia o barulho de ossos. — Pare de falar. 
 
 
 — Sim, senhora. 
Ela olhou para ele. 
Seu estômago se revirou bruscamente. 
 — Você foi solicitado — disse ela lentamente — para participar de uma reunião amanhã 
de manhã com a Administração Extremamente Superior. 
Ele não esperava isso. Nem um pouco. Na verdade, de todas as coisas que Bedelia Jenkins 
poderia ter dito naquele exato momento, essa tinha sido a opção menos provável. 
Ele piscou. — Diga novamente? 
Ela ficou de pé, cruzando os braços sob os seios, segurando os cotovelos. — Eu li seus 
relatórios. Eles são marginalmente adequados, na melhor das hipóteses. Então imagine 
minha surpresa quando recebi um memorando informando que Linus Baker estava sendo 
convocado. 
Linus sentiu frio. Ele nunca foi convidado a se encontrar com a Administração 
Extremamente Superior em toda a sua carreira. A única vez que ele realmente viu a 
Administração Extremamente Superior foi durante as férias, quando ocorreu o almoço, e a 
Administração Extremamente Superior ficou em uma fila na frente da sala, distribuindo 
alimentos secos, presunto e batatas encaroçadas em bandejas de papel alumínio, sorrindo 
para cada um de seus subordinados, dizendo-lhes que haviam merecido esta bela refeição por 
todo o seu trabalho duro. Claro, eles tiveram que comer em suas mesas porque sua pausa 
para o almoço de quinze minutos tinha sido usada por ficar na fila, mas ainda assim. 
Era setembro. As férias ainda estavam a meses de distância. 
Agora, de acordo com a Sra. Jenkins, eles o queriam pessoalmente. Ele nunca tinha 
ouvido falar disso antes. Não poderia significar nada de bom. 
A Sra. Jenkins parecia estar esperando uma resposta. Ele não sabia o que dizer, então 
disse: — Talvez tenha havido um erro. 
 
 
 — Um erro — repetiu a Sra. Jenkins. — Um erro. 
 — Sim? 
 — Administração Extremamente Superior não comete erros — disse Gunther com um 
sorriso afetado. 
Sim, era isso. — Então eu não sei. 
A Sra. Jenkins não ficou satisfeita com sua resposta. Ocorreu a Linus então que ela não 
sabia mais do que estava dizendo a ele, e por razões que ele não queria explorar, a própria 
ideia deu-lhe uma pequena emoção desagradável. Certo, estava tingido de um terror 
inimaginável, mas estava lá mesmo assim. Ele não sabia que tipo de pessoa isso o fazia. 
 — Oh, Linus — sua mãe disse a ele uma vez. — Nunca é educado se deleitar com o 
sofrimento dos outros. Que coisa terrível de se fazer. 
Ele nunca se permitiu festejar. 
 — Você não sabe — disse Jenkins, soando como se estivesse se preparando para atacar. 
— Talvez você tenha apresentado algum tipo de reclamação? Talvez você não aprecie minha 
técnica de supervisão e pensou que poderia ir além da minha cabeça? É isso, Sr. Baker? 
 — Não Senhora. 
 — Você gosta da minha técnica de supervisão? 
Absolutamente não. — Sim. 
Gunther arranhou o lápis na prancheta. 
 — O que exatamente você gosta na minha técnica de supervisão? — Sra. Jenkins 
perguntou. 
Dilema. Linus não gostava de mentir sobre nada. Mesmo pequenas mentiras brancas 
faziam sua cabeça doer. E uma vez que a pessoa começou a mentir, tornou-se mais fácil fazê-
 
 
lo repetidamente, até que a pessoa teve que acompanhar centenas de mentiras. Era mais fácil 
ser honesto. 
Mas então chegavam momentos de grande necessidade, como este. E não era como se ele 
tivesse que mentir, não completamente. Uma verdade pode ser distorcida e ainda assim se 
parecer com a verdade. — É muito confiável. 
Suas sobrancelhas subiram até a linha do cabelo. — É, não é? 
 — Bastante. 
Ela ergueu a mão e estalou os dedos. Gunther folheou alguns dos papéis de sua prancheta 
antes de entregar a ela uma página de cor creme. Ela o segurou entre dois dedos como se o 
pensamento de tocar qualquer outra parte dela pudesse causar uma infecção com bolhas. — 
Nove em ponto amanhã, Sr. Baker. Deus te ajude se você estiver atrasado. Você vai, é claro, 
recuperar o tempo que perdeu depois. No fim de semana, se necessário. Você não está 
programado para estar no campo por pelo menos mais uma semana. 
 — Claro — Linus concordou rapidamente. 
Ela se inclinou para frente novamente, baixando a voz até que era apenas um sussurro. — 
E se eu descobrir que você reclamou de mim, vou tornar sua vida um inferno. Você me 
entende, Sr. Baker? 
Ele entendeu. — Sim, senhora. 
Ela largou o papel na mesa dele. Ele esvoaçou para um canto, quase caindo no chão. Ele 
não se atreveu a estender a mão e agarrá-lo, não enquanto ela ainda estava em cima dele. 
Então ela estava girando sobre os calcanhares, gritando que era melhor todo mundo estar 
trabalhando se soubesse o que era bom para eles. 
Imediatamente, o som de teclados retumbando foi retomado. 
Gunther ainda estava parado perto de sua mesa, olhando para ele estranhamente. 
 
 
Linus remexeu-se na cadeira. 
 — Eu não sei por que eles perguntariam por você — Gunther finalmente disse, aquele 
sorriso terrível retornando. — Certamente há mais... pessoas adequadas. Oh, e Sr. Baker? 
 — Sim? 
 — Você tem uma mancha em sua camisa. Isso é inaceitável. Um demérito. Atente-se 
para que isso não aconteça novamente. — Então ele se virou e seguiu a Sra. Jenkins pelas 
fileiras. 
Linus prendeu a respiração até chegarem à Linha B antes de exalar de forma explosiva. 
Ele precisaria lavar sua camisa assim que chegasse em casa se tivesse alguma esperança de 
tirar as manchas de suor. Ele esfregou a mão no rosto, sem saber como estava se sentindo. 
Aflito, com certeza. E provavelmente assustado. 
Na mesa ao lado dele, o Sr. Tremblay nem mesmo tentava esconder o fato de que estava 
esticando o pescoço para ver o que estava escrito na página deixada pela Sra. Jenkins. Linus a 
puxou com cuidado para não amassar as bordas. 
 — Teve o que mereceu, não foi? — O Sr. Tremblay perguntou, parecendo muito alegre 
com a perspectiva. — Eu me pergunto quem será meu novo vizinho de mesa. 
Linus o ignorou. 
O brilho verde da tela do computador iluminou a página, tornando a escrita grossa das 
palavras muito mais sinistra. 
Dizia: 
DEPARTAMENTO RESPONSÁVEL PELA JUVENTUDE MÁGICA 
MEMORANDO DA ADMINISTRAÇÃO EXTREMAMENTE SUPERIOR 
 
CC: BEDELIA JENKINS 
 
 
SR. LINUS BAKER DEVE SE APRESENTAR NOS ESCRITÓRIOS DA 
ADMINISTRAÇÃO EXTREMAMENTE SUPERIOR ÀS NOVE DA QUARTA-
FEIRA, 6 DE SETEMBRO. 
SOZINHO. 
 
E foi só isso. 
 — Oh Deus — Linus sussurrou. 
 
Naquela tarde, quando o relógio bateu cinco horas, as pessoas ao redor de Linus 
começaram a desligar seus computadores e vestir seus casacos. Eles conversaram enquanto 
saíam da sala. Nem uma única pessoa disse boa noite para Linus. Se qualquer coisa, a maioria 
olhou para ele enquanto saíam. Aquelesque estavam longe demais para ouvir o que a Sra. 
Jenkins havia dito provavelmente foram informados por meio de sussurros especulativos em 
torno do bebedouro. Os rumores provavelmente eram selvagens e completamente 
imprecisos, mas como Linus não sabia por que havia sido convocado, ele não podia discutir 
com o que quer que estivesse sendo dito. 
Ele esperou até as cinco e meia antes de também começar a se preparar para o dia. A essa 
altura, a sala estava quase vazia, embora ele ainda pudesse ver a luz acesa no escritório da 
Sra. Jenkins na outra extremidade. Ele estava grato por não ter que passar por ela ao sair. 
Ele não achava que poderia lidar com outro cara a cara com ela hoje. 
Assim que a tela do computador escureceu, ele se levantou e ergueu o casaco das costas 
da cadeira. Ele o vestiu, gemendo ao lembrar que havia deixado o guarda-chuva em casa. 
Pelo que parecia, a chuva ainda não tinha diminuído. Se ele se apressasse, ainda conseguiria 
pegar o ônibus. 
 
 
Ele só esbarrou em seis mesas em quatro fileiras diferentes ao sair. Mas ele fez questão de 
colocá-las de volta em seus lugares. 
Teria que ser outra salada para ele esta noite. Sem molho. 
 
*** 
Ele perdeu o ônibus. 
Ele viu suas luzes traseiras através da chuva enquanto descia a rua, o anúncio nas costas de 
uma mulher sorridente dizendo SE VER ALGO, DIGA ALGO! O REGISTRO AJUDA A 
TODOS! Ainda claro, mesmo com a chuva. 
 — Claro — ele murmurou para si mesmo. 
Haveria outro em quinze minutos. 
Ele segurou a pasta acima da cabeça e esperou. 
 
*** 
Ele desceu do ônibus (que estava, era claro, dez minutos atrasado) na parada a alguns 
quarteirões de sua casa. 
 — Está molhado lá fora — disse o motorista. 
 — Uma bela observação — Linus respondeu enquanto pisava na calçada. — Sério. 
Obrigado por... 
As portas se fecharam atrás dele e o ônibus partiu. O pneu traseiro direito atingiu uma 
poça bastante grande, respingando e encharcando as calças de Linus até os joelhos. 
Linus suspirou e começou a caminhar para casa. 
 
 
A vizinhança estava tranquila, as lâmpadas da rua acesas e convidativas, mesmo na chuva 
fria. As casas eram pequenas, mas a rua estava alinhada com árvores cobertas por folhas que 
estavam começando a mudar de cor, o verde opaco se transformando em um vermelho e 
dourado ainda mais opaco. Havia roseiras em 167 Lakewood que floresciam 
silenciosamente. Havia um cachorro em 193 Lakewood que latia animadamente sempre que 
o via. E 207 Lakewood tinha um balanço de pneu pendurado em uma árvore, mas as crianças 
que moravam lá aparentemente pensaram que estavam muito velhas para usá-lo mais. Linus 
nunca havia balançado um pneu antes. Ele sempre quis um, mas sua mãe disse que era muito 
perigoso. 
Ele virou à direita em uma rua menor e lá, fixada à esquerda, estava o 86 Hermes Way. 
Casa. 
Não era muito. Era minúscula e a cerca traseira precisava ser substituída. Mas tinha uma 
linda varanda onde se podia sentar e ver o dia passar, se quisesse. Havia girassóis no canteiro 
de flores na frente, coisas altas que balançavam com a brisa fresca, embora estivessem 
fechadas agora para a noite que se aproximava e a chuva sombria. Estava chovendo por 
semanas no final, principalmente uma garoa desagradável intercalada com uma chuva 
entediante. 
Não era muito. Mas pertencia a Linus e a mais ninguém. 
Ele parou na caixa de correio em frente e pegou a correspondência do dia. Parecia que 
todos os anúncios eram dirigidos impessoalmente ao RESIDENTE. Linus não conseguia se 
lembrar da última vez que ele recebeu uma carta. 
Ele subiu na varanda e estava sacudindo inutilmente a água de seu casaco quando seu 
nome foi chamado da casa ao lado. Ele suspirou, imaginando se conseguiria fingir que não 
tinha ouvido. 
 — Nem pense nisso, Sr. Baker — disse ela. 
 
 
 — Não sei o que quer dizer, Sra. Klapper. 
Edith Klapper, uma mulher de uma idade indiscernível (embora ele pensasse que ela tinha 
passado da velhice para a lendária terra da antiguidade) estava sentada em sua varanda em seu 
roupão de banho atoalhado, cachimbo aceso em sua mão como de costume, fumaça subindo 
ao redor do seu bufar. Ela cortou uma tosse úmida em um lenço de papel que 
provavelmente deveria ter sido descartado uma hora antes. — Sua gata estava no meu 
quintal novamente, perseguindo os esquilos. Você sabe como me sinto sobre isso. 
 — Calliope faz o que ela quer — ele a lembrou. — Eu não tenho controle sobre ela. 
 — Talvez você deva tentar — a Sra. Klapper disparou para ele. 
 — Certo. Vou cuidar disso imediatamente. 
 — Você está brincando comigo, Sr. Baker? 
 — Eu nem sonharia com isso. — Ele sonhava com isso muitas vezes. 
 — Eu pensei que não. Você vai passar a noite? 
 — Sim, Sra. Klapper. 
 — Sem encontros de novo, hein? 
Sua mão apertou a alça de sua pasta. — Sem encontros. 
 — Nenhuma amiga de sorte? — Ela chupou o cachimbo e soprou a fumaça espessa pelo 
nariz. — Oh. Me perdoe. Devo ter esquecido. Não é para mulheres, não é? 
Não tinha escapado de sua mente. — Não, Sra. Klapper. 
 — Meu neto é contador. Muito estável. Na maioria das vezes. Ele tem uma tendência ao 
alcoolismo excessivo, mas quem sou eu para julgar seus vícios? A contabilidade é um 
trabalho árduo. Todos esses números. Vou pedir para ele ligar para você. 
 — Eu preferiria que você não fizesse. 
Ela gargalhou. — Bom demais para ele, então? 
 
 
Linus balbuciou. — Eu não... eu não estou... eu não tenho tempo para essas coisas. 
A Sra. Klapper zombou. — Talvez você devesse pensar em arranjar tempo, Sr. Baker. 
Ficar sozinho na sua idade não é saudável. Eu odiaria pensar no que aconteceria se você 
explodisse seus miolos. Isso prejudicaria o valor de revenda de toda a vizinhança. 
 — Não estou deprimido! 
Ela o olhou de cima a baixo. — Você não está? Por que diabos não? 
 — Há mais alguma coisa, Sra. Klapper? — Linus perguntou com os dentes cerrados. 
Ela acenou com a mão com desdém para ele. — Tudo bem então. Vá. Vista seu pijama e 
aquela sua vitrola velha e dance pela sala enquanto dança. 
 — Eu pedi para você parar de me olhar pela janela! 
 — Claro que você pediu — ela disse. Ela se recostou na cadeira e enfiou o cachimbo 
entre os lábios. — Claro que você pediu. 
 — Boa noite, Sra. Klapper — disse ele enquanto deslizava a chave na maçaneta. 
Ele não esperou por uma resposta. Ele fechou a porta atrás de si e trancou-a com força. 
 
*** 
Calliope, uma coisa do mal, sentou-se na beira da cama dele, o rabo preto se contorcendo 
enquanto ela o observava com olhos verdes brilhantes. Ela começou a ronronar. Na maioria 
dos gatos, seria um som calmante. Em Calliope, indicava trama tortuosa envolvendo atos 
nefastos. 
 — Você não deveria estar no quintal ao lado — ele a repreendeu enquanto tirava o 
paletó. 
Ela continuou ronronando. 
 
 
Ele a encontrou um dia quase dez anos atrás, uma gatinha minúscula sob sua varanda, 
gritando como se o rabo dela estivesse em chamas. Felizmente, não estava, mas assim que 
ele se arrastou para baixo da varanda, ela sibilou para ele, o cabelo preto em suas costas se 
arrepiou enquanto ela se arqueava. Em vez de esperar para ter um rosto vermelho cheio de 
arranhão de gatinho, ele recuou rapidamente e voltou para sua casa, decidindo que se ele a 
ignorasse por tempo suficiente, ela seguiria em frente. 
Ela não tinha. 
Em vez disso, ela passou a maior parte da noite uivando. Ele tentou dormir. Ela falava 
muito alto. Ele puxou o travesseiro sobre a cabeça. Não ajudou. Eventualmente, ele agarrou 
uma lanterna e uma vassoura, e tentou cutucar a gata até que ela fosse embora. Ela estava 
esperando por ele na varanda, sentada na frente da porta. Ele ficou tão surpreso que largou a 
vassoura. 
Ela entrou em sua casa como se pertencesse. 
E ela nunca foi embora, não importava quantas vezes Linus a tivesse ameaçado. 
Seis meses depois, ele finalmente desistiu. A essa altura, a casa estava cheiade brinquedos 
e uma caixa de areia e pratinhos com CALLIOPE impressa nas laterais para sua comida e 
água. Ele não tinha certeza de como tinha acontecido, mas era isso. 
 — Sra. Klapper vai te pegar um dia — disse ele enquanto tirava as roupas molhadas. — 
E eu não estarei aqui para te salvar. Você vai se banquetear com um esquilo e ela... Ok, não 
sei o que ela vai fazer. Mas será algo. E não vou me sentir nem um pouco triste. 
Ela piscou lentamente. 
Ele suspirou. — Bem. Um pouco triste. 
Ele colocou o pijama, abotoando a frente. Ele tinha o monograma com um LB no peito, 
um presente do Departamento após quinze anos de serviço. Ele o selecionou de um catálogo 
 
 
que ele recebeu no dia. O catálogo tinha duas páginas dentro. Uma página era o pijama. A 
segunda página era um castiçal. 
Ele selecionou o pijama. Ele sempre quis ter algo com monograma. 
Ele pegou as roupas molhadas e saiu do quarto. O baque alto atrás dele disse que ele 
estava sendo seguido. 
Ele jogou suas roupas de trabalho sujas na máquina de lavar e a deixou de molho enquanto 
preparava o jantar. 
 — Eu não preciso de um contador — ele disse à Calliope enquanto ela se enrolava entre 
suas pernas. — Tenho outras coisas em que pensar. Como amanhã. Por que sempre devo 
me preocupar com amanhã? 
Ele moveu-se instintivamente para a velha Vitrola. Ele folheou os discos na gaveta antes 
de encontrar o que queria. Ele o deslizou para fora da capa e colocou-o na plataforma 
giratória antes de baixar a agulha. 
Logo, os Everly Brothers começaram a cantar que tudo o que tinham a fazer era sonhar. 
Ele balançou para frente e para trás enquanto se dirigia para a cozinha. 
Comida seca para Calliope. 
Salada de saquinho para Linus. 
Ele trapaceou, mas só um pouco. 
Um respingo de molho nunca fez mal a ninguém. 
 — Sempre que eu quiser — ele cantou baixinho. — Tudo o que tenho de fazer é 
sonhar. 
 
*** 
 
 
 
Se alguém perguntasse se Linus Baker estava sozinho, ele teria franzido o rosto de 
surpresa. O pensamento seria estranho, quase chocante. E embora a menor das mentiras 
machucasse sua cabeça e fizesse seu estômago revirar, havia uma chance de que ele ainda 
dissesse não, mesmo que estivesse, e quase desesperadamente. 
E talvez parte dele acreditasse. Ele tinha aceitado há muito tempo que algumas pessoas, 
não importava o quão bom era seu coração ou como muito amor elas tinham para dar, 
estariam sempre sozinhas. Era a sorte delas na vida, e Linus havia descoberto, aos 27 anos, 
que parecia ser assim para ele. 
Oh, não houve nenhum evento específico que trouxe essa linha de pensamento. Só que 
ele se sentia... mais fraco do que os outros. Como se ele estivesse desbotado em um mundo 
cristalino. Ele não foi feito para ser visto. 
Ele havia aceitado na época, e agora tinha quarenta anos, pressão alta e um pneu 
sobressalente na cintura. Claro, havia momentos em que ele se olhava no espelho, 
imaginando se poderia ver o que os outros não podiam. Ele era pálido. Seu cabelo escuro 
estava curto e bem cuidado, embora parecesse estar ralo na parte superior. Ele tinha rugas 
ao redor da boca e dos olhos. Suas bochechas estavam cheias. O pneu sobressalente parecia 
caber em uma lambreta, mas se ele não tomasse cuidado, se transformaria em um que 
pertenceria a um caminhão. Ele parecia... bem. 
Ele se parecia com quase todo mundo quando chegavam aos quarenta. 
Enquanto ele comia sua salada com uma ou duas gotas de molho em sua pequena cozinha 
em sua pequena casa enquanto os Everly Brothers começavam a pedir acorde, acorde para 
Little Susie, preocupado com o que o amanhã traria com a Administração Extremamente 
Superior, o pensamento de estar sozinho nem passou pela cabeça de Linus Baker. 
Afinal, havia pessoas com muito menos do que ele. Havia um teto sobre sua cabeça e 
comida de coelho em sua barriga, e seu pijama tinha monograma. 
 
 
Além disso, não estava aqui nem lá. 
Ele não tinha tempo de sentar em silêncio e ter pensamentos tão frívolos. Às vezes, o 
silêncio era a coisa mais alta de todas. E isso não funcionaria. 
Em vez de permitir que seus pensamentos vagassem, ele ergueu a cópia que mantinha em 
casa de REGRAS E REGULAMENTOS (todas as 947 páginas, compradas por quase duzentos 
dólares; ele tinha uma cópia no trabalho, mas parecia certo ter uma para si em casa 
também), e começou a ler as letras minúsculas. O que quer que o amanhã trouxesse, era 
melhor estar preparado. 
 
 
 
Três 
 
Na manhã seguinte, ele chegou cedo ao escritório quase duas horas. Ninguém mais havia 
chegado ainda, provavelmente ainda aninhados em segurança em suas camas, sem nenhuma 
preocupação no mundo. 
Ele foi até sua mesa, sentou-se e ligou o computador. A familiar luz verde não fez nada 
para confortá-lo. 
Ele tentou realizar o máximo de trabalho possível, constantemente ciente do relógio 
acima batendo a cada segundo. 
A sala começou a encher quinze para as oito. A Sra. Jenkins chegou precisamente às oito 
horas, os saltos estalando no chão. Linus se afundou em seu assento, mas podia sentir os 
olhos dela nele. 
Ele tentou trabalhar. Ele realmente tentou. As palavras verdes eram um borrão na tela à 
sua frente. Mesmo as REGRAS E REGULAMENTOS não conseguiram acalmá-lo. 
Exatamente às oito e quarenta e cinco, ele se levantou de sua cadeira. 
As pessoas nas carteiras ao redor dele se viraram e olharam. 
Ele as ignorou, engolindo em seco enquanto pegava sua pasta e descia as fileiras. 
 — Desculpe — ele murmurou com cada mesa que ele esbarrou. — Desculpe. Sinto 
muito. Sou só eu ou as carteiras estão cada vez mais próximas? Desculpe. Sinto muito. 
Sra. Jenkins estava na porta de seu escritório quando ele saiu da sala, Gunther ao lado 
dela, arranhando seu longo lápis na prancheta. 
*** 
https://translate.googleusercontent.com/h#Three
 
 
Os escritórios da Administração Extremamente Superior estavam localizados no quinto 
andar do Departamento Encarregado da Juventude Mágica. Ele tinha ouvido rumores sobre 
o quinto andar, a maioria deles francamente alarmantes. Ele mesmo nunca esteve lá, mas 
presumiu que pelo menos alguns dos rumores deviam ser verdade. 
Ele estava sozinho no elevador enquanto pressionava um botão que nunca esperava. 
Os cinco dourados brilhantes. 
O elevador começou a subir. A boca do estômago de Linus parecia ficar no porão. Foi a 
viagem de elevador mais longa da vida de Linus, durando pelo menos dois minutos. Não 
ajudou que parou no primeiro andar, abriu e começou a encher-se de pessoas. Eles pediram 
dois e três e quatro, mas ninguém nunca pediu cinco. 
Um punhado desceu no segundo andar. Ainda mais no terceiro. E foi no quarto que os 
demais saíram. Eles olharam para ele com curiosidade. Ele tentou sorrir, mas tinha certeza 
de que saiu mais como uma careta. 
Ele estava sozinho quando o elevador começou a subir novamente. 
Quando as portas do quinto andar se abriram, ele estava suando. 
Certamente não ajudou que o elevador abriu para um corredor longo e frio, o chão feito 
de ladrilhos de pedra, os castiçais de ouro na parede lançando luz fraca. Em uma 
extremidade do corredor estava a fileira de elevadores onde ele estava. Na outra 
extremidade, havia uma vidraça com venezianas ao lado de duas grandes portas de madeira. 
Acima deles havia uma placa de metal: 
 
ADMINISTRAÇÃO EXTREMAMENTE SUPERIOR 
SOMENTE COM AGENDAMENTO 
 
 
 
 — Ok, meu velho — ele sussurrou. — Você consegue fazer isso. 
Seus pés não entenderam a mensagem. Eles permaneceram firmemente presos ao chão. 
As portas do elevador começaram a fechar. Ele as deixou. O elevador não se moveu. 
Naquele momento, Linus pensou muito em voltar para o primeiro andar, sair do prédio 
da DICOMY, e talvez caminhar até não poder mais andar, só para ver onde ia parar. 
Isso soou bem. 
Em vez disso, ele pressionou o cinco novamente. 
As portas se abriram. 
Ele tossiu. Ecoou pelo corredor. 
 — Não há tempo para covardia — ele serepreendeu baixinho. — Queixo para cima. 
Pelo que você sabe, talvez seja uma promoção. Uma grande promoção. Uma com um salário 
mais alto e você finalmente poderá ir nas férias com que sempre sonhou. A areia da praia. O 
azul do oceano. Você não gostaria de estar lá? 
Ele gostaria. Ele desejou muito. 
Linus começou a andar lentamente pelo corredor. A chuva açoitava as janelas à sua 
esquerda. As luzes nas arandelas à sua direita piscaram ligeiramente. Seus mocassins 
rangeram no chão. Ele puxou a gravata. 
No momento em que ele alcançou a extremidade oposta do corredor, quatro minutos se 
passaram. De acordo com seu relógio, eram cinco para as nove. 
Ele experimentou as portas. 
Elas estavam trancadas. 
A janela ao lado das portas tinha uma grade de metal puxada para baixo por dentro. Havia 
uma placa de metal ao lado dele, com um pequeno botão na lateral. 
 
 
Ele debateu brevemente antes de apertar o botão. Uma campainha alta soou do outro 
lado da grade de metal. Ele esperou. 
Ele podia ver seu reflexo na janela. A pessoa olhando para ele parecia com os olhos 
arregalados e chocada. Ele alisou apressadamente para baixo seu cabelo de onde tinha 
começado a se projetar para o lado, como sempre acontecia. Não ajudou muito. Ele 
endireitou a gravata, endireitou os ombros, encolheu a barriga. 
A grade de metal deslizou para cima. 
Do outro lado estava uma jovem de aparência entediada estalando chiclete por trás dos 
lábios vermelhos brilhantes. Ela soprou uma bolha rosa, que estourou antes que ela o sugasse 
de volta para a boca. Ela inclinou a cabeça, os cachos loiros saltando em seus ombros. — 
Posso ajudar você? — Ela perguntou. 
Ele tentou falar, mas nenhum som saiu. Ele pigarreou e tentou novamente. — Sim. 
Tenho um compromisso às nove. 
 — Com quem? 
Essa era uma pergunta interessante, para a qual ele não tinha uma resposta. — Eu... não 
sei bem. 
A Sra. Chiclete olhou para ele. — Você tem um compromisso, mas não sabe com quem? 
Isso parecia certo. — Sim? 
 — Nome? 
 — Linus Baker. 
 — Fofo — disse ela, batendo as unhas perfeitamente com manicure contra o teclado. — 
Linus Baker. Linus Baker. Linus... — Seus olhos se arregalaram. — Oh. Eu vejo. Espere 
um momento, por favor. 
 
 
Ela bateu a grade de metal novamente. Linus piscou, sem saber o que ele deveria fazer. 
Ele esperou. 
Um minuto se passou. 
E depois outro. 
E depois outro. 
E depois... 
A grade de metal deslizou de volta. A Sra. Chiclete parecia muito mais interessada nele 
agora. Ela se inclinou para frente até que seu rosto estava quase pressionado contra o vidro 
que os separava. Sua respiração fez a janela embaçar ligeiramente. — Eles estão esperando 
por você. 
Linus deu um passo para trás. — Quem é? 
 — Todos eles — ela disse enquanto o olhava de cima a baixo. — Toda a Administração 
Extremamente Superior. 
 — Oh — Linus disse fracamente. — Que delicioso. E tem certeza de que sou eu que 
eles querem? 
 — Você é Linus Baker, não é? 
Ele esperava que sim, porque não sabia ser outra pessoa. — Eu sou. 
Outra campainha soou e ele ouviu um clique nas portas ao lado dele. Elas se abriram em 
dobradiças silenciosas. — Então, sim, Sr. Baker — disse ela, a bochecha ligeiramente 
saliente por causa da gengiva. — É você que eles querem. E eu me apressaria, se fosse você. 
A Administração Extremamente Superior não gosta de ficar esperando. 
 — Certo — disse ele. — Como estou? — Ele encolheu o estômago um pouco mais. 
 — Como se você não tivesse ideia do que está fazendo — ela disse antes de bater a grade 
de metal novamente. 
 
 
Linus olhou ansiosamente para os elevadores do outro lado do corredor. 
Você não gostaria de estar aqui? Eles perguntaram a ele. 
Ele queria. Muito mesmo. 
Ele se afastou da janela em direção às portas abertas. 
Dentro havia uma sala circular com uma rotunda no alto de vidro. Havia uma fonte no 
centro da sala, uma estátua de pedra de um homem em uma capa, água derramando em um 
fluxo contínuo de suas mãos estendidas. Ele estava olhando para o teto com olhos frios e 
cinzentos. Em torno dele, agarrando-se a suas pernas, estavam crianças pequenas de pedra, 
água espirrando no topo de suas cabeças. 
Uma porta se abriu à direita de Linus. Sra. Chiclete saiu de sua cabine. Ela alisou o 
vestido, estalando o chiclete ruidosamente. — Você é mais baixo do que parece através do 
vidro. — Ela disse a ele. 
Linus não sabia como responder a isso, então ele não disse nada. 
Ela suspirou. — Siga-me por favor. — Ela se moveu como um pássaro, seus passos 
minúsculos e rápidos. Ela estava no meio da sala antes de olhar para ele. — Isso não foi uma 
sugestão. 
 — Certo — Linus disse, quase tropeçando nos próprios pés enquanto corria para 
alcançá-la. — Desculpas. Eu... eu nunca estive aqui antes. 
 — Obviamente. 
Ele pensou que estava sendo insultado, mas não conseguia descobrir como. — Eles são... 
todos eles? 
 — Estranho, não é? — Ela estourou outra bolha, que estourou delicadamente. — E para 
você, de todas as pessoas. Eu não sabia que você existia até este momento. 
 — Eu recebo muito isso. 
 
 
 — Não consigo imaginar por que. 
Sim, definitivamente insultado. — Como eles são? Eu só os vi quando eles me serviram 
batatas com grumos. 
A Sra. Chiclete parou abruptamente e se virou para olhar para ele por cima do ombro. 
Linus pensou que ela provavelmente poderia girar a cabeça completamente se ela se 
concentrasse nisso. — Batatas com grumos. 
 — Para o almoço de feriado? 
 — Eu fiz aquelas batatas. Do zero. 
Linus empalideceu. — Bem, eu... é uma questão de gosto... tenho certeza que você... 
A Sra. Chiclete pigarreou e avançou novamente. 
Linus não teve um bom começo. 
Eles alcançaram outra porta do outro lado da rotunda. Era preta com uma placa de 
identificação de ouro presa perto do topo. A base estava vazia. A Sra. Chiclete estendeu a 
mão e bateu a unha contra a porta três vezes. 
Houve uma batida, e depois outra, e então... 
A porta se abriu lentamente. 
Estava escuro lá dentro. 
Até preto como breu. 
Sra. Chiclete deu um passo para o lado quando ela se virou para encará-lo. — Depois de 
você. 
Ele perscrutou a escuridão. — Hmm, bem, talvez possamos remarcar. Estou muito 
ocupado, como você sabe. Tenho muitos relatórios para preencher... 
 — Entre, Sr. Baker — uma voz ressoou pela porta aberta. 
 
 
A Sra. Chiclete sorriu. 
Linus estendeu a mão e enxugou a testa. Ele quase deixou cair sua pasta. — Suponho que 
devo entrar, então. 
 — Parece que sim — disse Chiclete. 
E ele fez exatamente isso. 
Ele deveria estar esperando que a porta se fechasse atrás dele, mas ele ainda estava 
assustado, quase pulando fora de sua pele. Ele segurou a pasta contra o peito como se ela 
pudesse protegê-lo. Era desorientador estar no escuro, e ele tinha certeza de que era uma 
armadilha, e passaria o resto de seus dias vagando sem ver. Seria quase tão ruim quanto ser 
despedido. 
Mas então luzes começaram a brilhar a seus pés, iluminando um caminho diante dele. Ele 
era macio e amarelo, como uma estrada de tijolos. Ele deu um passo hesitante para se afastar 
da porta. Quando ele não tropeçou em nada, ele continuou. 
As luzes o levaram muito mais longe do que esperava, antes de formar um círculo a seus 
pés. Ele parou, sem saber para onde deveria ir. Ele esperava que não precisasse fugir de nada 
terrível. 
Outra luz, esta muito mais brilhante, acendeu no alto. Linus olhou para cima, 
semicerrando os olhos contra ela. Parecia um holofote, brilhando sobre ele. 
 — Você pode deixar sua pasta — disse uma voz profunda de algum lugar acima dele. 
 — Está tudo bem — Linus disse, agarrando-a com força. 
Então, como se um interruptor tivesse sido acionado, mais luzes começaram a brilhar 
acima dele, brilhando nos rostos de quatro pessoas que Linus reconheceu como a 
Administração Extremamente Superior. Elas estavam sentadas muito acima de Linus, no 
topo de uma grandeparede de pedra, olhando para baixo de seus poleiros com várias 
expressões de interesse. 
 
 
Havia três homens e uma mulher e, embora Linus tivesse aprendido seus nomes no início 
de sua carreira na DICOMY, pelo que queria, ele não conseguia se lembrar deles naquele 
momento. Sua mente chegou à conclusão de que estava passando por dificuldades técnicas e 
transmitindo nada além de neve difusa. 
Ele olhou para cada um deles, começando da esquerda para a direita, acenando com a 
cabeça enquanto tentava manter sua expressão neutra. 
O cabelo da mulher era cortado curto, e ela usava um grande broche em forma de 
besouro, a carapaça iridescente. 
Um dos homens estava ficando careca, com a papada pendurada no rosto. Ele fungou em 
um lenço, limpando a garganta do que parecia um pouco de catarro. 
O segundo homem era muito magro. Linus pensou que ele desapareceria se virasse de 
lado. Ele usava óculos grandes demais para o rosto, as lentes em forma de meia-lua. 
O último homem era mais jovem que os outros, possivelmente em torno da idade de 
Linus, embora fosse difícil dizer. Seu cabelo era ondulado e ele era intimidantemente 
bonito. Linus o reconheceu quase imediatamente como aquele que sempre servia o presunto 
seco com um sorriso. 
Foi ele quem falou primeiro. — Obrigado por participar desta reunião, Sr. Baker. 
A boca de Linus estava seca. Ele lambeu os lábios. — De nada? 
A mulher se inclinou para frente. — Seu arquivo pessoal diz que você é empregado do 
Departamento há dezessete anos. 
 — Sim, senhora. 
 — E em todo esse tempo, você manteve sua posição atual. 
 — Sim, senhora. 
 — Por que? 
 
 
Porque ele não tinha perspectivas para mais nada e nenhum desejo de supervisão. — Eu 
gosto do trabalho que faço. 
 — Você? — Ela perguntou, inclinando a cabeça. 
 — Sim. 
 — Por que? 
 — Sou assistente social — disse ele, deslizando os dedos levemente sobre a pasta. — 
Não sei se existe uma posição mais importante. — Seus olhos se arregalaram. — Além do 
que você faz, é claro. Eu não teria a pretensão de pensar... 
O homem de óculos folheou os papéis à sua frente. — Eu tenho aqui seus últimos seis 
relatórios, Sr. Baker. Você quer saber o que eu vejo? 
Não, Linus não. — Por favor. 
 — Vejo alguém que é muito meticuloso. Sem disparates. Clínico em um grau 
surpreendente. 
Linus não tinha certeza se isso era um elogio ou não. Certamente não parecia um. — Um 
assistente social deve manter um certo grau de separação — recitou obedientemente. 
Papada fungou. — É assim mesmo? De onde é isso? Parece familiar. 
 — É de REGRAS E REGULAMENTOS — disse Bonito. — E eu espero que você reconheça 
isso. Você escreveu a maior parte. 
Papada assoou o nariz no lenço. — De fato. Eu sabia. 
 — Por que é importante manter um certo grau de separação? — A mulher perguntou, 
ainda olhando para ele. 
 — Porque não seria bom se apegar às crianças com quem trabalho — disse Linus. — 
Estou lá para garantir que os orfanatos que inspeciono sejam mantidos em boas condições e 
 
 
nada mais. Seu bem-estar é importante, mas como um todo. A interação individual é 
desaprovada. Isso pode afetar minha percepção. 
 — Mas você entrevista as crianças — disse Bonito. 
 — Sim — Linus concordou. — Eu faço. Mas pode-se ser profissional ao lidar com 
jovens mágicos. 
 — Você já recomendou o fechamento de um orfanato em seus dezessete anos, Sr. Baker? 
— Perguntou o homem de óculos. 
Eles já deviam saber a resposta. — Sim. Cinco vezes. 
 — Por que? 
 — Os ambientes não eram seguros. 
 — Então, você se importa. 
Linus estava ficando nervoso. — Eu nunca disse que não. Eu apenas faço o que é exigido 
de mim. Há uma diferença entre formar apegos e ser empático. Essas crianças... elas não 
têm mais ninguém. Para começar, é a razão pela qual estão nos orfanatos. Elas não deveriam 
ter que deitar suas cabeças à noite com o estômago vazio, ou se preocupar em trabalhar até 
os ossos. Só porque esses órfãos devem ser mantidos separados das crianças normais, não 
significa que devam ser tratados de forma diferente. Todas as crianças, não importa sua... 
disposição ou do que sejam capazes, devem ser protegidas, independentemente do custo. 
Papada tossiu muito. — Você acha mesmo? 
 — Sim. 
 — E o que aconteceu com as crianças nos orfanatos que você fechou? 
Linus piscou. — Isso é assunto da Supervisão. Eu faço minha recomendação e o 
Supervisor cuida do que vem a seguir. O mais provável é que foram colocadas nas escolas 
geridas pela DICOMY. 
 
 
Bonito recostou-se na cadeira. Ele olhou para os outros ao seu redor. — Ele é perfeito. 
 — Eu concordo — disse Papada. — Não há realmente outra escolha para algo tão... 
sensível. 
O homem de óculos olhou para Linus. — Você entende a discrição, Sr. Baker? 
Linus se sentiu insultado. — Eu trabalho com jovens secretos diariamente — ele 
retrucou, mais severamente do que pretendia. — Eu sou um cofre. Nada sai. 
 — E parece que não entra nada — disse a mulher. — Ele servirá. 
 — Perdoe-me, mas posso perguntar do que exatamente você está falando? Eu vou fazer 
para que? 
Bonito esfregou a mão no rosto. — O que será dito a seguir não sai desta sala, Sr. Baker. 
Você entende? Isto é classificado como nível quatro. 
Linus respirou fundo, gaguejando. O nível de classificação quatro era a categoria mais 
alta. Ele sabia que existia em teoria, mas não sabia que estava realmente em uso. Ele só teve 
um caso classificado de nível três uma vez antes, e foi muito preocupante. Houve uma garota 
em um orfanato que acabou por ser uma banshee3, um arauto da morte. DICOMY foi 
convocada assim que ela começou a dizer a todas as outras crianças que elas iam morrer. O 
problema acabou sendo, era claro, que ela estava certa. A mestra do orfanato decidiu usar as 
crianças como parte de um sacrifício pagão. Linus mal escapou com as crianças e sua vida. 
Ele teve férias de dois dias depois dessa, a maior folga que ele teve em anos. 
 — Por que eu? — Ele perguntou, a voz quase um sussurro. 
 — Porque não há realmente mais ninguém em quem possamos confiar — disse a mulher 
simplesmente. 
 
3 É um ser fantástico da mitologia celta que é considerado o mensageiro da morte. 
 
 
Isso deveria ter enchido Linus de um sentimento de orgulho. Em vez disso, ele não sentiu 
nada além de pavor em seu estômago. 
 — Pense nisso como mais uma verificação — disse o homem de óculos. — Não 
recebemos nenhuma notícia de nenhum delito, mas o orfanato para o qual você irá é... É 
especial, Sr. Baker. O orfanato não é tradicional, e as seis crianças que vivem lá são 
diferentes de tudo que você já viu antes, algumas mais do que outras. Elas são... 
problemáticas. 
 — Problemáticas? O que isso deveria... 
 — Seu trabalho será garantir que tudo esteja bem. — Disse Bonito, com um pequeno 
sorriso no rosto. — É importante, sabe. O mestre deste orfanato específico, um certo 
Arthur Parnassus, é certamente qualificado, mas temos... preocupações. As seis crianças são 
da variedade mais extrema, e devemos garantir que o Sr. Parnassus continue sendo capaz de 
gerenciá-las. Um seria um punhado, mas seis deles? 
Linus vasculhou seu cérebro. Ele tinha certeza de que já tinha ouvido falar de todos os 
mestres da região, mas... — Eu nunca ouvi falar do Sr. Parnassus. 
 — Não, suponho que não — disse a mulher. — Mas isso é porque é classificado como 
nível quatro. Se você soubesse disso, significaria que tivemos um vazamento. Não lidamos 
bem com vazamentos, Sr. Baker. Isso está entendido? Vazamentos precisam ser fechados. 
Rapidamente. 
 — Sim, sim — disse ele apressadamente. — Claro. Eu nunca... 
 — Claro que não — disse Papada. — É parte da razão pela qual você foi escolhido. Um 
mês, Sr. Baker. Você vai passar um mês na ilha onde fica o orfanato. Esperamos relatórios 
semanais. Qualquer coisa que gere alarmes deve ser relatada imediatamente. 
Linussentiu seus olhos incharem. — Um mês? Não posso sair por um mês. Eu tenho 
deveres! 
 
 
 — Seu número de casos atual será reatribuído — disse o homem de óculos. — Na 
verdade, já está sendo feito. — Ele folheou outro papel. — E aqui diz que você está 
completamente sozinho. Sem cônjuge. Sem filhos. Ninguém sentiria sua falta se você tivesse 
que sair por um longo período de tempo. 
Isso doeu mais do que deveria. Ele estava ciente de tais coisas, era claro, mas tê-las 
expostas de forma tão descarada fazia seu coração gaguejar. Mas ainda... — Eu tenho uma 
gata! 
Bonito bufou. — Os gatos são criaturas solitárias, Sr. Baker. Tenho certeza de que ela 
nem saberá que você se foi. 
 — Seus relatórios serão direcionados à Administração Extremamente Superior — disse a 
mulher. — Eles serão supervisionados pelo Sr. Werner, embora todos estejamos 
envolvidos. — Ela acenou com a cabeça em direção ao Bonito. — E esperamos que sejam 
tão completos quanto os que você fez no passado. Na verdade, nós insistimos nisso. Mais 
ainda, se você julgar necessário. 
 — Sra. Jenkins... 
 — Será informada de sua atribuição especial — Bonito... Sr. Werner... assegurou-lhe. 
— Embora os detalhes sejam mantidos no mínimo. Pense nisso como uma promoção, Sr. 
Baker. Uma que eu acredito que vai demorar muito. 
 — Eu não tenho uma palavra a dizer sobre isso? 
 — Pense nisso como uma promoção obrigatória — corrigiu Werner. — Esperamos 
grandes coisas de você. E quem sabe onde isso pode levar você se tudo correr bem? Por 
favor, não nos decepcione. Agora, fique à vontade para tirar o resto do dia para colocar seus 
negócios em ordem. Seu trem parte amanhã, bem cedo. Você tem alguma pergunta? 
Dezenas. Ele tinha dezenas de perguntas. — Sim! A respeito... 
 
 
 — Excelente — disse Werner, batendo palmas. — Eu sabia que podíamos contar com 
você, Sr. Baker. Estamos ansiosos para ouvir de você sobre o estado das coisas na ilha. Deve 
ser interessante, para dizer o mínimo. Agora, toda essa tagarelice deixou minha garganta 
seca. Acho que é hora do chá. Nossa secretária vai te mostrar a saída. Foi um prazer 
conhecê-lo. 
A Administração Extremamente Superior se manteve unida, curvou-se para ele e então 
todas as luzes se apagaram. 
Linus guinchou. Antes que ele pudesse começar a tatear no escuro, uma luz acendeu de 
volta no topo da parede. Ele piscou para isso. O Sr. Werner olhou para ele com uma 
expressão curiosa no rosto. Os outros já haviam partido. 
 — Algo mais? — Linus perguntou nervosamente. 
O Sr. Werner disse: — Cuidado, Sr. Baker. 
Isso era certamente ameaçador. — Cuidado? 
O Sr. Werner assentiu. — Você deve se preparar. Eu não posso enfatizar o suficiente o 
quão importante é esta tarefa. Não deixe nenhum detalhe de fora, não importa o quão 
pequeno ou inconsequente possa parecer. 
Linus se irritou. Uma coisa era questionar sua prontidão, mas outra inteiramente 
diferente era questionar a exatidão de seus relatórios. — Eu sempre... 
 — Digamos que tenho grande interesse no que você encontrar — disse Werner, 
ignorando a indignação latente de Linus. — Vai além da mera curiosidade. — Ele sorriu, 
embora não tenha alcançado seus olhos. — Não gosto de ficar desapontado, Sr. Baker. Por 
favor, não me desaponte. 
 — Por que este lugar? — Ele perguntou um tanto desamparado. — O que chamou sua 
atenção para este orfanato e requer a supervisão de um assistente social? O mestre fez algo 
para... 
 
 
 — É mais o que ele não fez — disse Werner. — Seus relatórios mensais estão... 
faltando, especialmente diante de quem são seus pupilos. Precisamos saber mais, Sr. Baker. 
O pedido só funciona se houver transparência total. Se não pudermos ter isso, corremos o 
risco do caos. Mais alguma coisa? 
 — O que? Sim. Eu tenho... 
 — Ótimo — disse Werner. — Eu te desejo sorte. Eu acho que você vai precisar. 
E com isso, a luz se apagou mais uma vez. 
 — Oh querido — Linus disse. 
As luzes douradas no chão se acenderam mais uma vez. 
 — Você já terminou? — Uma voz disse perto de seu ouvido. 
Ele absolutamente não gritou, não importava a evidência em contrário. 
A Sra. Chiclete estava atrás dele, chiclete estalando. — Por aqui, Sr. Baker. — Ela se 
virou, o vestido caindo aos joelhos, e marchou em direção à saída. 
Linus a seguiu rapidamente, apenas olhando por cima do ombro uma vez para a 
escuridão. 
*** 
 
Ela esperou por ele do lado de fora das câmaras, batendo o pé com impaciência. Linus 
estava quase sem fôlego quando passou pela porta aberta. Ele não tinha certeza de que o que 
acabara de acontecer era algo mais do que um sonho febril. Ele certamente se sentia febril. 
Era possível que a Sra. Chiclete fosse uma alucinação conjurada por uma doença 
anteriormente não diagnosticada. 
Uma alucinação muito agressiva, com certeza, quando ela enfiou uma pasta grossa em suas 
mãos, fazendo-o se atrapalhar e quase deixar cair a pasta. — A passagem de trem está dentro 
 
 
— disse ela. — Além disso, você encontrará um envelope lacrado com os arquivos de que 
precisará. Eu não sei do que se trata e não me importo. Sou paga para não bisbilhotar, se 
você pode acreditar nisso. Você não deve abrir o envelope antes de descer do trem em seu 
destino final. 
 — Eu acho que preciso sentar — Linus disse fracamente. 
Ela semicerrou os olhos para ele. — Claro que você pode se sentar. Apenas certifique-se 
de fazer isso longe daqui. Seu trem parte às sete da manhã de amanhã. Não se atrase. A 
Administração Extremamente Superior ficará muito descontente se você se atrasar. 
 — Eu preciso voltar para minha mesa, e... 
 — Absolutamente não, Sr. Baker. Fui instruída a lhe dizer que você deve sair do local 
sem demora. Não fale com ninguém. Não acho que isso deva ser um problema para você, 
mas tinha que ser dito. 
 — Não tenho ideia do que está acontecendo — disse ele. — Eu nem tenho certeza se 
estou aqui. 
 — Sim — disse Chiclete com simpatia. — Parece uma crise existencial. Talvez 
considere tê-la em outro lugar. 
Eles estavam parados na frente dos elevadores. Ele nem sabia que eles estavam se 
movendo. As portas se abriram na frente dele. A Sra. Chiclete o empurrou para dentro e 
apertou o botão do primeiro andar. Ela saiu do elevador. — Obrigada por visitar os 
escritórios da Administração Extremamente Superior — disse ela alegremente. — Tenha 
um dia fantástico. 
As portas se fecharam antes que ele pudesse falar outra palavra. 
 
*** 
 
 
Ainda estava chovendo. Ele mal percebeu. 
Em um momento, ele estava em frente ao Departamento Encarregado da Juventude 
Mágica e, no próximo, ele estava no caminho de pedra que levava à sua varanda. 
Ele não sabia como havia chegado lá, mas essa parecia ser a última de suas preocupações. 
Ele foi tirado de seu torpor quando a Sra. Klapper o chamou. — Você chegou em casa 
cedo, Sr. Baker. Você foi demitido? Ou talvez você tenha recebido notícias médicas terríveis 
e precise de tempo para se reconciliar com seu futuro sombrio? — Fumaça enrolada em 
torno do bufar do seu cachimbo. — Sinto muito por ouvir isso. Você fará muita falta. 
 — Não morrendo — ele conseguiu dizer. 
 — Oh. É uma pena, suponho. Então só falta ser demitido. Você, pobre querido. Como 
você vai continuar? Especialmente nesta economia. Suponho que você terá que vender sua 
casa e encontrar um apartamento sombrio em algum lugar da cidade. — Ela balançou a 
cabeça. — Você provavelmente vai acabar assassinado. O crime está aumentando, você 
sabe. 
 — Eu não fui demitido! 
Ela bufou. — Eu não acredito em você. 
Linus gaguejou. 
Ela se sentou em sua cadeira de balanço. — Sabe, meu neto está procurando uma 
secretária pessoal em sua firma de contabilidade. Este pode ser o seu lugar, Sr. Baker. Eu 
acredito que li histórias que começaram exatamente assim. Pense nisso. Sua vida está em seu 
ponto mais baixo neste exato momento, e você precisa começar de novo, o que o leva a 
encontrar seu verdadeiroamor. Praticamente se escreve sozinho! 
 — Bom dia, Sra. Klapper! — Linus gritou enquanto tropeçava em seus passos. 
 
 
 — Pense nisso! — Ela gritou atrás dele. — Se tudo correr bem, poderíamos ser uma 
família... 
Ele bateu a porta atrás de si. 
Calliope sentou-se em seu lugar de costume, tremendo o rabo, aparentemente sem 
surpresa com seu retorno precoce. 
Linus caiu contra a porta. Suas pernas cederam e ele escorregou para o tapete. 
 — Sabe — disse ele — não sei se tive um dia muito bom. Não, acho que não tive um 
bom dia. 
Calliope, como era seu costume, apenas ronronou. 
Eles ficaram assim por muito tempo. 
 
 
 
Quatro 
 
O vagão esvaziou ao entrar no campo. Pessoas entrando e saindo olhavam com 
curiosidade aberta para o homem um tanto desmazelado sentado no assento 6A, uma grande 
caixa de plástico no assento vazio ao lado dele. Lá dentro, uma grande gata olhava 
ameaçadoramente para qualquer um que se inclinasse para arrulhar para ela. Uma criança 
quase perdeu um dedo quando tentou enfiá-lo entre as ripas da caixa. 
O homem, um certo Linus Baker, do 86 Hermes Way, mal percebeu. 
Ele não tinha dormido bem na noite anterior, revirando-se na cama antes de finalmente 
desistir e decidir que seu tempo seria melhor gasto andando de um lado para o outro na sala 
de estar. Sua bagagem, uma bolsa velha e gasta com uma roda quebrada, estava perto da 
porta, zombando dele. Ele embalou antes de tentar dormir, certo que não teria tempo pela 
manhã. 
No final das contas, ele tinha todo o tempo do mundo, visto que o sono permaneceu 
indefinido. 
Quando ele embarcou no trem às seis e meia, ele estava atordoado, as bolsas sob seus 
olhos eram pronunciadas, sua boca curvada para baixo. Ele olhou para frente, uma mão 
descansando em cima da caixa onde Calliope fumegava. Ela nunca se deu bem com viagens, 
mas ele não tinha escolha no assunto. Ele considerou pedir à Sra. Klapper para cuidar dela 
em sua ausência, mas o desastre do esquilo provavelmente azedou qualquer chance de 
Calliope sobreviver ao mês ilesa. 
Ele esperava que nenhuma das crianças fosse alérgica. 
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A chuva escorria pelas janelas enquanto o trem avançava ruidosamente por campos vazios 
e florestas com grandes árvores antigas. Ele estava no trem por quase oito horas quando 
percebeu que estava quieto. 
Quieto demais. 
Ele ergueu os olhos das REGRAS E REGULAMENTOS que trouxe de casa. 
Ele era o único que restava no vagão. 
Ele não percebeu quando a última pessoa saiu. 
 — Huh — ele disse para si mesmo. — Isso não iria acabar com tudo se eu perdesse 
minha parada? Eu me pergunto a que distância o trem vai. Talvez continue indefinidamente, 
nunca chegando ao fim. 
Calliope não tinha opinião sobre isso de uma forma ou de outra. 
Ele estava prestes a começar a se preocupar por ter de fato perdido sua parada (Linus não 
era nada senão um consumado preocupante), quando um atendente em um uniforme 
elegante abriu uma porta no final do vagão. Ele estava cantarolando para si mesmo baixinho, 
mas foi interrompido quando percebeu Linus. — Olá — disse ele amavelmente. — Eu não 
esperava que mais ninguém estivesse aqui! Deve estar indo muito neste belo sábado. 
 — Eu tenho minha passagem — Linus disse. — Se você precisar ver. 
 — Por favor. Onde você está indo? 
Por um momento, Linus não conseguiu pensar. Ele enfiou a mão no casaco para pegar a 
passagem, o grande livro em seu colo quase caindo no chão. A passagem estava ligeiramente 
amassada e ele tentou alisá-la antes de entregá-la. O atendente sorriu para ele antes de olhar 
para a passagem. Ele assobiou baixinho. — Marsyas. Fim da linha. — Ele o bateu com sua 
passagem. — Bem, boas notícias, então. Mais duas paradas e você está lá. Na verdade, se 
você... ah sim, olhe. — Ele gesticulou em direção à janela. 
 
 
Linus virou a cabeça e sua respiração ficou presa na garganta. 
Era como se as nuvens de chuva tivessem chegado o mais longe que podiam. A escuridão 
cinza deu lugar a um azul brilhante e maravilhoso como Linus nunca tinha visto antes. A 
chuva parou quando eles saíram da tempestade para o sol. Ele fechou os olhos brevemente, 
sentindo o calor através do vidro contra seu rosto. Ele não conseguia se lembrar da última 
vez que sentiu a luz do sol. Ele abriu os olhos novamente, e foi quando ele viu, à distância. 
Era verde. Lindos e brilhantes verdes de grama ondulante e o que pareciam ser flores em 
tons de rosa, roxos e dourados. Eles desapareceram na areia branca. E além do branco estava 
cerúleo. 
Ele mal percebeu quando as REGRAS E REGULAMENTOS caíram no chão do trem com um 
baque alto. 
Você não gostaria de estar aqui? 
 — Isso é o oceano? — Linus sussurrou. 
 — É mesmo — disse o atendente. — Bela visão, não é? Porém, você age como se 
nunca... diga, você nunca viu o oceano antes? 
Linus balançou a cabeça minuciosamente. — Só em fotos. É muito maior do que pensei 
que seria. 
O atendente riu. — E isso é apenas uma pequena parte dele. Acho que você verá um 
pouco mais quando sair do trem. Há uma ilha perto da vila. Pegue uma balsa para chegar até 
lá, se quiser. A maioria não quer. 
 — Eu vou — disse Linus, ainda olhando para os vislumbres do mar. 
 — E quem temos aqui? — O atendente perguntou, curvando-se sobre Linus em direção 
à caixa. 
Calliope assobiou. 
 
 
O atendente se levantou rapidamente. — Acho que vou deixá-la em paz. 
 — Provavelmente é o melhor. 
 — Mais duas paradas, senhor — disse o atendente, dirigindo-se para a porta na 
extremidade oposta do vagão. — Aproveita a tua visita! 
Linus mal o ouviu sair. 
 — Está realmente lá — ele disse calmamente. — Está realmente lá. Eu nunca pensei... 
— Ele suspirou. — Talvez isso não seja tão ruim, afinal. 
 
*** 
Não foi ruim. 
Foi pior. 
Mas Linus não soube disso imediatamente. No momento em que desceu do trem, com a 
caixa em uma das mãos e a bagagem na outra, sentiu o cheiro de sal no ar e ouviu o pio das 
aves marinhas acima. Uma brisa bagunçou seu cabelo e ele virou o rosto para o sol. Ele se 
permitiu respirar por um momento, aquecendo-se com o calor. Não foi até que a campainha 
do trem tocou e começou a diminuir que ele olhou em volta. 
Ele estava em uma plataforma elevada. Havia bancos de metal na frente dele sob uma 
saliência. A saliência foi pintada em listras azuis e brancas. Ao longo das bordas da 
plataforma e se estendendo até onde ele podia ver, havia grama crescendo no topo das dunas 
de areia. Ele ouviu o que parecia ser ondas quebrando ao longe. Ele nunca tinha visto nada 
parecendo tão brilhante. Era como se aquele lugar nunca tivesse visto uma nuvem de chuva. 
O trem desapareceu em uma esquina e Linus Baker percebeu que estava completamente 
sozinho. Havia uma pequena estrada de paralelepípedos que desaparecia entre as dunas, mas 
 
 
Linus não conseguia ver aonde levava. Ele esperava não ter que andar por ali, não 
carregando sua bagagem e uma gata zangada. 
 — O que deveríamos fazer? — Ele se perguntou em voz alta. 
Ninguém respondeu, o que provavelmente foi o melhor. Se alguém tivesse respondido, ele 
provavelmente teria... 
Um barulho de toque alto o assustou desses pensamentos. Ele sacudiu a cabeça. 
Lá, pendurado na lateral da plataforma do trem, estava um telefone laranja brilhante. 
 — Devo atender? — Ele perguntou a Calliope, inclinando a cabeça em direção à frente 
da caixa. 
Calliope se virou completamente, apresentando a ele seu traseiro. 
Ele percebeu que era o melhor que conseguiria. 
Ele deixou sua bagagem onde estava e caminhou em direção ao telefone. Ele colocou a 
caixa na sombra. Ele olhou para o telefone tocando por um momento antes de se preparar e 
atender. 
 — Olá? 
 — Ah, finalmente — uma voz disse em resposta. — Você está atrasado. 
 — Eu estou? 
 — Sim. Liguei quatro vezes na última hora. Como não tinha certeza de que você 
realmente chegaria, não queria fazer a viagem para