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1 CURSO: Licenciatura em Pedagogia DISCIPLINA: PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO AULA 7: A CRIANÇA DE 6 A 12 ANOS Vilma Barbosa Soares 1ª parte: A criança de 6 a 9 anos A maioria das crianças entre 6 e 9 anos apresenta um equilíbrio bastante satisfatório entre dependência e independência, amenizando assim os conflitos entre elas e seu ambiente. Elas são independentes o bastante para desempenharem adequadamente as atividades do dia-a-dia: tomam banho, escolhem as roupas, vestem-se, alimentam-se, arrumam a cama, guardam seus pertences, conquistam amigos, cumprem as tarefas escolares, escolhem programas e brincadeiras, e já obedecem às regras dos jogos. Também levam e trazem recados da escola, fazem compras, lidam com pequenas quantias de dinheiro com desenvoltura e são capazes de ocuparem-se alegremente com inúmeros afazeres e interesses os mais diversos. Ainda brincam muito, sozinhas ou acompanhadas, e têm bastante força e habilidade física, que não se cansam de exercitar. As grandes decisões, entretanto, ainda têm que ser tomadas pelos pais e pessoas mais velhas, a quem recorrem quando se encontram em dúvida. Elas já estão suficientemente seguras de sua identidade e de sua capacidade de se controlar, podendo concentrar-se principalmente em seus relacionamentos fora de casa. O desenvolvimento agora está voltado, em grande parte, para a aprendizagem e a escola, e para o relacionamento com os colegas e professores, que decorre, grandemente, dos padrões que a criança aprende com sua família. Os adultos desempenham um papel importante nas áreas de formação de valores, de consciência, no interesse pela aprendizagem, na 2 vontade de vencer. Essas características são assumidas pela criança a partir dos modelos oferecidos pelos pais, e tornam-se inerentes à sua personalidade. À medida que se torna mais independente dos pais, a criança precisa de ajuda contra dois tipos de perigo. Existem ruas com tráfego intenso e pessoas sedutoras, lâminas afiadas, fogo e janelas sem grades em andares altos. Esse são perigos do mundo exterior. Existe também o seu “Super Homem” interior, que pode favorecer-lhe a ilusão de que ela “já pode tudo”, e tenta persuadi-la de que não precisa de aprendizagem, treinamento ou ajuda, mesmo quando a situação parece assustadora. O perigo interno existe mesmo quando a criança tem uma grande dose de bom-senso, pois este, num momento qualquer, pode ser ineficaz. Pois toda criança quer começar a fazer coisas novas imediatamente, e sem auxílio. Detesta ter que aprender com os adultos. Os pais sabem quanto é aborrecido tentar ensinar algo, e a criança, em vez de aprender, fica rabugenta e impertinente. Então, a criança começa a fingir que é gente grande, e se convence disso. É apressada, não suporta ter que esperar e aprender aos poucos, nem quer saber o modo como os outros fazem as coisas. Acha que pode arranjar-se sozinha – e isso nos faz entender o sucesso das histórias de super-heróis... Mas ela também gosta de ser ajudada, e assim assimila o que lhe ensinam. Procura lembrar-se do que aprendeu, manter e ampliar os conhecimentos, e isso a faz sentir que está crescendo. Os pais e professores precisam enfrentar essas duas facetas da natureza das crianças, com suas alternâncias por vezes incômodas, tendo paciência e levando-as a se interessarem por novas coisas, o que as fortalecerá. Pois é o sentimento da intensidade da ligação da criança com seus entes queridos o que tem realmente eficácia. Se a ligação é sentida como uma parte real do eu, a criança pode então controlar seu mau comportamento; primeiramente, em casa, e, depois, seus impulsos anti- sociais em geral. O desenvolvimento de uma consciência real, portanto, é o modo como as atitudes de proibição, censura e crítica dos pais são assumidos pela própria criança, como pessoais e subjetivas. Os problemas que ela tem para enfrentar envolvem os temas do desenvolvimento social, do domínio mais amplo do mundo fora de casa e da aprendizagem. Algumas dificuldades decorrem da permanência de 3 resquícios maturacionais dos anos mais infantis, pois o crescimento não é uniforme. Com referência à aprendizagem e à escola, encontramos os atrasos na aprendizagem, a relutância em ir para a escola, ou dificuldades de relacionamento com as outras crianças, causadas por excessiva timidez ou comportamento agressivo. Vinculados à permanência de hábitos infantis temos acessos de raiva, choro constante, chupar o dedo, agarramento à mãe, desobediência e teimosia. A transição da educação infantil para o ensino fundamental pode ser marcante: representa a colocação de ênfase maior na aprendizagem formal, com aulas organizadas para uma turma inteira, exigindo atenção mais concentrada. A transformação da criança em um colegial ajustado não ocorre subitamente – aliás, é um processo que leva anos - e alguma ansiedade pode decorrer dessa alteração na vida escolar. A humanidade atingiu seu estágio atual em cerca de 10 ou 15 mil anos de evolução: o indivíduo tem que alcançá-lo em um período de 10 ou 15 anos. Os primeiros cinco anos desse processo em direção à civilização são despendidos no núcleo familiar. Ao freqüentar a escola fundamental, que tem exigências diferentes daquelas dos anos de educação infantil, a criança é submetida a outro tipo de demanda. Assim, ocorrem-lhe modificações realmente importantes nesses anos da 2ª infância e da latência que a habilitarão a viver em uma comunidade mais ampla. Há regras a serem respeitadas, tarefas, regulamentos, horários, normas de cortesia e de boa convivência. O que se percebe, inicialmente, é um conflito entre as necessidades e tendências interiores da criança em desenvolvimento e as proibições e limitações impostas pelos adultos. Gradualmente, as restrições partem, cada vez mais, da própria criança: o conflito, então, não é apenas entre os desejos infantis e os adultos que cercam a criança, ou entre desejos interiores conflitantes, mas no íntimo da criança, que se impõe limitações e proibições. Os anos dessa fase de latência representam um período mais calmo entre as fases muito conturbadas da tenra infância e da adolescência, mesmo se delas conservam os elementos de conflito. Dúvidas e incertezas sobre a vida ainda permanecem; questões sobre a sexualidade humana continuam a fazer parte do seu universo de interesses, mesmo se a criança já está bem informada sobre as diferenças entre meninos e meninas e de onde vêm os bebês. 4 Meninas e meninos costumam brincar separadamente – é a época áurea do “clube do Bolinha” – procurando se assegurar, com maior firmeza, de suas personalidades femininas ou masculinas. Há concorrência e rivalidades entre colegas e irmãos, levando talvez a brigas e ressentimentos, mas, também, preparando a criança para enfrentar as rivalidades mais agressivas da adolescência. A criança precisa testar-se e ganhar auto-confiança – que é a base do auto-respeito e do ajustamento futuro - e ela é capaz tanto de ser cooperativa como competitiva, necessitando experimentar ambas as situações. As crianças nesta fase parecem muito diferentes daquelas em idade de educação infantil: são mais altas e delgadas, e podem ser bastante musculosas; crescem com regularidade, porém menos intensamente. As proporções do rosto se modificam: a testa já não é tão alta, os traços faciais tornam-se proeminentes e distintamente individuais. Entre 6 e 10 anos há um marco importante, que é o ciclo da perda de dentes de leite e a chegada dos dentes permanentes. O impulso de crescer, e mudar, com o crescimento, é particularmente marcante nessa fase. Não são incomuns mudanças acentuadas de comportamento durante o 1º ou o 2º ano escolar, aparecendo, em poucas semanas, uma maturidade insuspeitada. Há grande mudança na vida interior da criança, em seu mundo interno de fantasias e anseios. A intensidade dos sentimentos de afeto ou raiva, voltados paraos pais, muda de qualidade, e sua demonstração é suavizada, perdendo a espontaneidade rude, típica da criança muito pequena. As exigências que fazem à família diminuem de intensidade; as crianças e seus pais estão mais libertos, e o mundo de interesses delas torna-se mais amplo. Isso decorre por ter acontecido uma espécie de desilusão: baseada no seu conhecimento e experiência crescentes do mundo externo, as crianças reavaliam seus pais. Sua objetividade crescente as ajudam a perceber algumas das qualidades reais dos adultos. Uma animosidade acompanha essa desilusão; o desapontamento se revela nas histórias que elas inventam, onde se imaginam pertencendo a outra família, com pais e irmãos diferentes (“romance familiar”). Há mudanças no modo de pensar e usar as palavras, e elas são evidentes nas brincadeiras, devaneios e histórias que as crianças contam. Elas mostram a necessidade de superar anseios e aspirações que antes eram expressos abertamente. Essa supressão da manifestação dos sentimentos infantis liga-se a uma grande dose de esquecimento, gerando 5 uma cisão entre os fatos lembrados e seu contexto, acontecimento freqüente nos relatos dos adultos em relação a sua vida infantil. Por outro lado, com o decréscimo da violência de sentimentos dirigidos à família (componentes da situação edipiana da fase anterior), as transformações desta fase ligam-se às soluções de alguns problemas, tais como perturbações na alimentação, distúrbios do sono e incontinência de esfíncteres. Assim também alguns medos anteriormente típicos, como os relacionados com a morte ou ferimentos físicos, podem agora desaparecer por completo. Mas há, nós sabemos, medos que acompanham o desenvolvimento e as transformações naturais: algumas crianças apresentam-se absorvidas e encantadas com as mudanças, e outras atemorizam-se, considerando que tudo se passa depressa demais. Essas, relutam em ir para a escola, ou mesmo passar uma tarde em casa de amigos; necessitam, ainda, de algum tempo para sentirem-se à vontade para desempenhar os novos papéis que a vida lhes disponibiliza. A fase de latência recebe tal nome em razão de sua implicação de desejos e atividades sexuais latentes. É uma das mais tranqüilas da infância. A nostalgia dos “bons velhos tempos”, dos “dias felizes da infância” provém em geral das recordações amenas dessa época. 2ª Parte: A criança de 9 a 12 anos A maior parte das crianças desta idade considera que nove anos é um longo tempo de vida, e que já sabe muito sobre o mundo. Consideram os pais obtusos, por não acreditarem na sua capacidade de cuidar de si mesmas, e não entendem o espalhafato que os pais provocam com suas preocupações. Mas elas ainda são dominadas pela idéia que fazem do mundo, ou por aquilo que desejam muito. É necessário saber se já há na sua mente uma voz interior que desempenha o papel dos pais, e que as ajuda a tomar os cuidados adequados quando sozinhas, pois lhes é difícil suportar o sentimento de ser inferior aos amigos da mesma idade. Há diversos fatores na personalidade das crianças que determinam o grau de responsabilidade que podem suportar. Por exemplo: 6 1 - A criança tem uma visão realista do que acontece em torno dela? 2- Já adquiriu uma consciência calma e sensata que a auxiliará a tomar as decisões corretas? Não é fácil formar um quadro único das diferentes características da criança: há uma grande diversidade nos aspectos do amadurecimento, e a idade apenas não revela muito sobre os aspectos intelectuais e de amadurecimento de uma pessoa. É importante a atitude geral dos pais e dos adultos sobre o que pode ser esperado da criança em cada idade. Algumas crianças cuidarão dos irmãos, atravessarão ruas e ali brincarão sozinhas, outras deverão esperar que alguém as pegue na escola. Elas se adaptam a essas peculiaridades, e podem amadurecer com isso. A sensação íntima de que o adulto sempre ajuda está ligada à imagem que os filhos fazem dos pais. Algumas crianças parecem seguras, e fazem amigos em qualquer lugar, trazendo à tona o calor humano daqueles em quem confia. Pode ser que os pais se preocupem, temendo que a criança confie na pessoa errada, e assim siga maus caminhos ou se decepcione. De modo geral, a criança suspeita de adultos desconhecidos, e seu comportamento natural a mantém afastada dos que não conhece, o que é uma garantia de segurança. Saber com quem procurar ajuda é uma orientação importante. Sair sozinho, viajar sozinho para colônias de férias, permanecer na casa de parentes e amigos, são os marcos desta idade. As crianças também opinam na escolha das roupas, na arrumação do quarto, nas viagens da família, e estão apegadas a lugares, atividades e pessoas. Por isso, mudanças importantes, como as de residência e de escola, devem- lhes ser participadas com antecedência, para que possam elaborar os lutos, preservar sua identidade e aproveitar o que de bom o futuro imediato lhes reserva. A escola é um lugar muito competitivo, e crianças que têm irmãos adquirem bem cedo prática em competir, aprendendo a dividir, a perder e a ganhar, a suportar as rivalidades, a fazer alianças. As relações fraternas favorecem uma enorme riqueza de experiências: de afetos, de conflitos, de tolerância, de autonomia, de compartilhamento, de auto- conhecimento. Na escola, a fraternidade acaba por tornar-se um parâmetro corriqueiro na interpretação que fazemos da vida, e as crianças 7 elaboram essa “convivência amistosa forçada” ligando-se a atividades de grupo, e se identificam profundamente com os sucessos ou os fracassos deste. A tendência é resignar-se às regras e obedecê-las, mas quando a vontade de ser a melhor é muito intensa, a criança pode trapacear, e é penoso para ela quando se vê descoberta. Mas tais situações não devem ser supervalorizadas pelos adultos, pois a criança não é uma criminosa: é apenas alguém ainda imaturo, ingênuo nas suas demandas e nas suas formas de encarar os fatos. Alguém que precisa de ajudas amorosas para suportar a realidade dura da vida, que é a de que nem sempre somos vencedores, nem sempre temos o que desejamos – mas podemos viver muito bem sem isso, se a nossa auto-confiança se mantiver elevada e nossos amigos estiverem ao nosso lado. As dificuldades de aprendizagem decorrem de muitos fatores, e a inveja é um deles. A criança pode querer negar que há coisas que desconhece, não suportar depender de quem sabe mais que ela, confrontar-se com quem tem o que ela não tem: conhecimento. Ela pode ser incapaz de demonstrar gratidão pelo que lhe é ensinado, e anular o que lhe é oferecido. Os deveres de casa são elaborados para testar a competência da criança, o que ela assimilou da professora e até onde pode ir sozinha. São exercícios de fixação da aprendizagem, e a participação dos pais deve ser mais administrativa do que docente. Muitos pais temem os professores, e, nas reuniões escolares, sentem-se como fossem à escola para ser repreendidos, ou invertem a situação, posicionando-se de modo arrogante com os professores. Mas a criança precisa da segurança de saber que pais e mestres trabalham juntos, visto que as atividades na escola contêm demandas múltiplas, que implicam, muitas vezes, desafios sérios para as crianças. Essa idade às vezes nos surpreende com amizades indesejáveis, trazendo a questão: por que meu filho escolheu esse amigo? O que essas duas crianças querem uma da outra? As amizades têm motivações diversas, e nos ajudam no auto-conhecimento, no exercício de certas características de personalidade que o nosso ambiente rotineiro nem sempre favorece. Pois a criança desempenha, muitas vezes, papéis bem definidos na família: o generoso, o inteligente, o tímido, o invejoso, o sensato - e a 8 vida na escola, e os amigos destoantes, evidenciam outras possibilidades a experimentar, outras reflexões a fazer. As qualidades que idealizamossão aquelas que gostaríamos de ter, e às vezes pensamos possuí-las através de nossos filhos, como eu- ideal. Os pais podem facilitar ou dificultar o desenvolvimento da criança como indivíduo, mas não podem criar-lhe uma individualidade, “fabricá-lo”. Esta é a fase pré-púbere e é uma boa idéia falar com a menina a respeito da menstruação, de preferência quando ela demonstrar interesse, ou estiver consciente das transformações que indiquem que ela está crescendo. Ela tem teorias e fantasias a esse respeito, e pode ter muita ansiedade também. Algumas meninas sentem rancor da menstruação, que lhes confirma a feminilidade, mas limita a liberdade. Algumas têm um estágio “agarotado”, ligado ao desprezo pela mãe, as mulheres e os bebês, como coisinhas delicadas, desamparadas, e a liberdade masculina é mais valorizada. Os meninos também sentem as primeiras excitações adolescentes, e apresentam interesse pela aparência, roupa e cabelos, com preocupação pela impressão que causam, refletindo as incertezas e ansiedades pelo seu modo de sentir a vida e o mundo. A curiosidade sobre sexo se modifica, devido ao seu estágio evolutivo, ao seu conhecimento atual, e sofre influência das inibições dos adultos em falar do assunto. Há livros e revistas, que podem ser-lhe oferecidos para aquisição de informações, mediando as dificuldades em manter vivo esse assunto importante. Há algo a respeito de sexo relações, gravidez, nascimento, que deveríamos tentar ocultar a crianças dessa idade? Abordar o assunto honestamente é o melhor caminho, sem deixar a criança entregue às suas teorias e àquelas de outras crianças, geralmente mais chocantes que a realidade. *** Bibliografia: 1-Papalia, Diane E; Olds, Sally Wendkos – “O Mundo da Criança”. Ed MacGraw-Hill, São Paulo, 1981. 9 2-Dare, Christopher et alli – “Seu filho de 6 anos”. Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1975. 3-Osborne, Elsie et alli – “Seu filho de 7 anos”. Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1975. 4-O’Shaughnessy, Edna et allii – “Seu filho de 8 anos”. Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1975. 5- O’Shaughnessy, Edna et allii – “Seu filho de 9 anos”. Imago Editora Ltda, Rio de Janeiro, 1975.