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Maysa Veiga – Odontologia - UFPE Uma das características principais das neoplasias é justamente proliferação celular descontrolada. Quanto mais avançado é o estado de diferenciação, mais baixa é a taxa de reprodução. Assim se entende que, em neoplasias, em geral ocorre, paralelamente ao aumento da proliferação, perda da diferenciação celular. Como resultado de tudo isso, as células neoplásicas progressivamente sofrem perda de diferenciação e tornam-se atípicas. Proliferação celular em condições normais é atividade complexa que depende da atuação coordenada de produtos de vários genes, os quais controlam o processo em resposta a estímulos internos e externos. A célula neoplásica sofre alteração nos seus mecanismos regulatórios de multiplicação, adquire autonomia de crescimento e torna-se independente de estímulos fisiológicos. Neoplasia pode ser entendida como a lesão constituída por proliferação celular anormal, descontrolada e autônoma, em geral com perda ou redução de diferenciação, em consequência de alterações em genes e proteínas que regulam a multiplicação e a diferenciação das células. Destarte, o que diferencia uma neoplasia de urna displasia e hiperplasia é exatamente a autonomia de proliferação. Quando ocorre em um órgão sólido, o maior número de células de uma neoplasia forma um tumor. As neoplasias podem ser divididas em dois grupos: benignas as quais geralmente não são letais nem causam sérios transtornos para o hospedeiro; por isso mesmo, podem evoluir durante muito tempo e não colocam em risco a vida de seu portador. As malignas, ao contrário, em geral têm crescimento rápido, e muitas provocam perturbações homeostáticas graves que acabam levando o indivíduo à morte. Na grande maioria dos casos, as características macro e microscópicas das neoplasias permitem que sejam separadas em benignas e malignas. As neoplasias benignas e malignas têm dois componentes: (1) células neoplásicas (parênquima}; (2) estroma conjuntivovascular. As propriedades biológicas das neoplasias dependem das características desses componentes e das interações entre eles. TUMOR: AUMENTO DE VOLUME TECIDUAL NEOPLASIA: DIFERENCIAÇÃO X PROLIFERAÇÃO CELULAR = AUTONOMIA DE CRESCIMENTO CÂNCER: NEOPLASIA MALIGNA = CAPACIDADE DE METÁSTASE CLASSIFICAÇÃO E NOMECLATURA Os tumores podem ser classificados de acordo com vários critérios: (1) pelo comportamento clínico (benignos ou malignos}; (2) pelo aspecto microscópico (critério histormorfológico}; (3) pela origem da neoplasia (critério histogenético). Nem sempre esses elementos são usados na denominação da lesão, sendo comuns alguns epônirnos, corno tumor de Wilms, linfoma de Hodgkin, tumor de Burkitt. Na forma mais usual de denominar um tumor, toma-se o nome da célula, do tecido ou do órgão reproduzido e acrescentam-se os sufixos -oma, -sarcoma ou -carcinoma: lipoma (tumor benigno que reproduz lipócitos); hemangioma (tumor que reproduz vasos sanguíneos); condrossarcoma (tumor maligno que forma cartilagem). Maysa Veiga – Odontologia - UFPE NEOPLASIAS BENIGNAS Os tumores benignos têm grande interesse prático por sua frequência e pelas consequências que podem trazer. Seja por seu volume, seja por sua localização ou outras propriedades, tumores benignos podem causar vários transtornos para o paciente (obstrução de órgãos ou estruturas ocas, compressão de órgãos, produção de substâncias em maior quantidade etc.), inclusive sua morte. Nesse sentido, o termo "benigno" deve ser entendido com reservas. Em geral possui uma boa diferencial celular e o tumor reproduz bem o tecido que lhe deu origem, possui uma taxa de divisão celular pequena (baixo índice mitótico) e seu tumor tem crescimento lento. Em tumores benignos, as células crescem unidas entre si, não se infiltram nos tecidos vizinhos e formam uma massa geralmente esférica. Esse crescimento é do tipo expansivo e provoca compressão de estruturas adjacentes, que podem sofrer hipotrofia. Com frequência, forma-se uma cápsula fibrosa em torno do tumor, resultante de compressão do estroma adjacente. Por isso mesmo, a neoplasia fica mais ou menos bem delimitada e pode ser completamente removida por cirurgia. Em geral, tumores benignos não recidivam após ressecção cirúrgica. O crescimento lento do tumor permite o desenvolvimento adequado de vasos sanguíneos, assegurando boa nutrição das células. Desse modo, degenerações, necroses e hemorragias são pouco comuns. Por essa razão e pelo fato de não se infiltrar nem destruir tecidos vizinhos, o tumor benigno não leva a ulceração. Além disso, não compromete a nutrição do hospedeiro e nem produz substâncias que podem produzir anemia ou caquexia. Lógico que se tratando de neoplasias podem haver exceções, como o adenoma pleomórfico de glândulas salivares. Por outro lado, células de tumores benignos não se disseminam espontaneamente, mas podem ser levadas a distância. Por traumatismos ou por grande aumento da pressão intracavitária, cistadenomas papilíferos do ovário podem romper-se e liberar células ou papilas na cavidade peritoneal. Por tudo isso, essas neoplasias não podem ser classificadas como benignas ou malignas apenas por seus aspectos morfológicos; componentes da biologia da lesão, seu componente clínico e suas formas de evolução são também muitas vezes indispensáveis para se rotular um tumor como benigno ou maligno. ASPECTOS MORFOLÓGICOS Cistadenoma seroso do ovário, lesão cística volumosa de parede delgada e bem vascularizada. Maysa Veiga – Odontologia - UFPE Os tumores benignos são geralmente bem delimitados dos tecidos adjacentes e frequentemente apresentam uma cápsula de tecido conjuntivo. Exceções existem, como alguns gliomas (tumores do sistema nervoso) e tumores vasculares, que têm limites pouco precisos e não possuem cápsula. Adenocarcinoma nodular do rim. Apesar de parcialmente encapsulado, o tumor infiltra-se no parênquima renal. Os tumores malignos, em geral, são pouco delimitados e comumente invadem os tecidos e estruturas vizinhos. Os tumores sólidos apresentam-se macroscopicamente sob quatro tipos, cujo conhecimento é útil para os diagnósticos anatômico, por imagens (radiologia, ultrassonografia, tomografia etc.) e clínico. ➔ Nodular: tumor forma uma massa expansiva que tende a ser esférica. Esse tipo é visto caracteristicamente em tumores benignos (como na imagem abaixo que são pólipos no intestino grosso) e em malignos originados em órgãos compactos. ➔ Vegentante: é encontrado em tumores benignos ou malignos que crescem em superfície (pele ou mucosas). Forma-se uma massa de crescimento exofítico, que pode assumir vários tipos: poliposo, papilomatoso ou em couve-flor (como na imagem abaixo Tumor vegetante e papilífero do reto). As neoplasias vegetantes tendem a ulcerar-se precocemente. ➔ Infiltrativo: é praticamente exclusivo de tumores malignos. Embora em todos os cânceres haja infiltração de tecidos vizinhos (o tumor não respeita limites), o tipo infiltrativo é assim chamado para ressaltar o aspecto macroscópico predominante da lesão. Nele ocorre infiltração maciça da região acometida, mas sem formar nódulos ou vegetações. Por isso, o órgão torna-se espessado, mas fica menos deformado do que nas outras formas. Quando se origina em órgãos ocos, e especialmente quando é do tipo anular (que compromete toda a circunferência do órgão), provoca estenose (como na imagem abaixo de um Adenocarcinoma infiltrativo do cólon do tipo anular e estenosante). Uma variedade do tipo infiltrativo é o câncer cirroso, no qual há formação de grande quantidade de estroma conjuntivo, como acontece no câncer da mama. Maysa Veiga – Odontologia - UFPE ➔ Ulcerado:é aquele que sofre ulceração precoce; é quase exclusivo de neoplasias malignas. A lesão cresce infiltrando-se nos tecidos adjacentes e ulcera-se no centro, formando uma cratera que geralmente tem bordas endurecidas, elevadas e irregulares. Em muitos casos, especialmente em tumores malignos, observam-se combinações desses tipos, como, por exemplo, neoplasia ulcerovegetante, etc. Todo tumor é formado por dois componentes: clones de células neoplásicas propriamente ditas (parênquima tumoral) e estroma conjuntivovascular. No início, só existem células neoplásicas; à medida que a lesão cresce, surge o componente estromático (vasos sanguíneos e tecido conjuntivo que nutrem esse clone de células neoplásicas). Tumores com até 1 a 2 mm não possuem vasos; a partir desse tamanho, formam-se vasos sanguíneos na neoplasia (angiogênese). As neoplasias não possuem inervação. A dor sentida pelos pacientes cancerosos é devida a infiltração ou compressão de terminações nervosas existentes em tecidos vizinhos. O câncer no panorama brasileiro é a segunda maior causa de morte, o qual mostra uma importância de medidas de prevenção primária (os fatores que estão envolvidos com essa carcinogênese) e a importância de um diagnóstico precoce para um prognóstico com maior chance de sobrevivência. O processo de transformação neoplásica envolve muitas etapas sendo um fenômeno complexo pois envolve alterações no DNA e alterações em mecanismos que controlam a expressão gênica. É um processo complexo, multifásico e dependente de fenômenos genéticos e epigenéticos (resultante do acúmulo de mutações) que culminam com o surgimento de clones de células imortalizadas com capacidade de se multiplicar autonomamente, de invadir tecidos vizinhos e de realizar metástases. Essas células tem como característica a imortalidade pois não respondem aos fatores de crescimento, não entram em um estado de senescência e secretam estímulos para realizar mitoses. Não sofre envelhecimento pois não respondem os fatores que as guiariam para a via apoptótica. O aparecimento dessas neoplasias malignas tem como fatores = geográficos e ambientais além de culturais também (fumo invertido na Índia). Idade na maioria das vezes acima de 55 anos (depende da exposição crônica aos fatores carcinogênicos). Predisposição genética ao câncer. Condições predisponentes não hereditárias (inflamação crônica e condição potencialmente maligna). MECANISMOS DE AÇÃO DOS CARCINÓGENOS Maysa Veiga – Odontologia - UFPE Ação direta = radiações, vírus e substâncias químicas X Ação indireta = radicais livres, produtos da dieta, substâncias químicas. RESUMÃO DE COMO ACONTECE A EXPANSÃO CLONAL/CARCINOGÊNESE ➔ Depende de uma sequência de falhas primeiro no reparo do DNA que sofreu um dano químico, físico ou biológico, depois mutações no genoma das células somáticas causando 3 grandes fatores que influenciam de forma direta = Ativação de proto-oncogenes (genes que controlam a proliferação celular) + Inativação dos genes supressores de tumor + Alterações em genes que regulam a apoptose. Isso vai gerar uma proliferação celular desregulada e uma diminuição do apoptose levando a uma expansão clonal. Após a expansão clonal ocorrerá a angiogênese, mutações adicionais e evasão do sistema imune para gerar a progressão tumoral pois uma neoplasia maligna tem capacidade de aumentar seu tamanho sendo conferido apenas a ela a capacidade de invadir outros tecidos e de metástase. BASE MOLECULAR Dano genético não letal Expansão clonal Proto-oncogenes, genes supressores de tumor, genes que regulam a apoptose e genes de reparo do DNA Processo de múltiplas etapas ➔ Carcinogênese viral Vírus de RNA = HTLV1 (Leucemia de células T do adulto), VHC (Carcinoma Hepatocelular) Vírus de DNA = HPV (Colo de útero), EBV (Linfoma de Hodgkin), VHB (Carcinoma Hepatocelular) ➔ Carcinogênese Química Tabaco e Aflatoxinas produzem mutações no gene p53 ➔ Carcinogênese Física Radiação ionizantes (leucemias) MUTAÇÃO Modificação súbita e hereditária no conjunto gênico de um organismo não explicável pela recombinação da variabilidade genética pré- existente. Uma alteração em uma proteína. Nem todas as mutações vão estar relacionadas com o surgimento das neoplasias. “A célula neoplásica maligna vai assumir características marcantes = autonomia nos seus Maysa Veiga – Odontologia - UFPE sinais de crescimento porque ela super expressa os genes que secretam fatores de crescimento que fazem uma estimulação autócrina. Se comunicam com o parênquima para que ocorra a angiogênese, não respondem aos fatores inibidores de crescimento, evadem da apoptose, células sempre jovem, fazem invasão e metástase.” ONCOGENES Genes cuja expressão seria responsável pelo aparecimento das neoplasias proto-oncogenes. Em estado natural comando a divisão celular de maneira ordenada e fisiológica (controle do ciclo celular). Quando sofrem mutações, rearranjos, translocações ou alterações que alterem a sua expressão passam a ser oncogenes. Ex.: genes produtores da ciclina os quais comandam a entrada da célula no ciclo celular. Crescimento celular desordenado. GENES SUPRESSORES DE TUMOR p53 → atua no checkpoint do ciclo celular vai ser um gene guardião do genoma pois ele está tanto envolvido com a supressão do tumor quanto com a via apoptótica. Ele para a célula para que exista o reparo do DNA e se não for reparado em G1 ele vai encaminhar para a apoptose. Defeitos no gene p53 são seguramente a forma mais comum de alteração genética em tumores humanos (pelo menos 50% das neoplasias humanas têm alguma alteração no gene p53). Além de se associarem à origem de várias neoplasias, alterações no p53 atuam também na progressão tumoral, pois são mais comuns em cânceres avançados e/ou já com metástases do que naqueles em estádio inicial. RB → diminuição do ciclo celular quando tivermos o aumento da expressão do RB. O RB vai estar ligado a um fator de crescimento e ele não deixa essa célula fazer transcrição. Quando o RB estiver fosforilado ele vai se soltar do fator de crescimento essa célula vai se multiplicar. Quando o RB sofre mutação existe uma atuação parecida com essa fosforilação ocorrendo esse desenvolvimento tumoral. Proteína que se liga ao fator de transcrição E2F, inibindo-o NF1 → envolvido com o desenvolvimento de neoplasias de origem neural. PTCH WT1 GENES DE REPARO DO DNA Vão ser sinalizados pelo p53 e ter os pareamentos adequados de toda sequencia de nucleotídeos para serem corrigidos de maneira correta. Se existe uma mutação, vai acontecer uma falha São genes que codificam moléculas que participam do reconhecimento e do reparo de lesões no DNA, o câncer da mama apresenta Maysa Veiga – Odontologia - UFPE instabilidade genômica em regiões repetitivas do DNA chamadas microssatélites A instabilidade deve-se a falhas no sistema que mantém a fidelidade genômica durante a replicação celular e manifesta-se nas células cancerosas pela presença de alelos com pequenas variações de tamanho GENES DA APOPTOSE Estão envolvidos tanto com a via intrínseca quanto extrínseca. A apoptose é essencial para regular a população celular normal em um indivíduo. A apoptose resulta de estímulos variados, fisiológicos ou patológicos, internos ou externos às células. Numerosos genes regulam a apoptose, cujos produtos a inibem ou a favorecem. Em uma neoplasia, o maior número de células pode ser devido a redução da apoptose. Em alguns tumores, alterações nos genes antiapoptóticos são o principal mecanismo oncogênico. Em muitos tumores humanos ocorrem modificações em genes de proteínas pró- ou antiapoptóticas, resultando emredução da apoptose. Mutações no gene p53 também resultam em diminuição da apoptose, por reduzirem a expressão de genes pró- apoptóticos, como o BAX. ETAPAS DA CARCINOGÊNESE Iniciação → A iniciação corresponde à transformação celular, ou seja, as mudanças induzidas por cancerígenos físicos, químicos ou biológicos que causam modificações genômicas nas células e alteram suas respostas ao microambiente, tornando-as potencialmente capazes de multiplicar-se de modo autônomo. Uma célula iniciada torna-se menos responsiva a fatores que inibem a proliferação celular, a indutores de diferenciação celular ou à apoptose. No entanto, uma célula apenas iniciada não origina tumor. (DANO GENÉTICO) Promoção → A promoção consiste em proliferação ou expansão das células iniciadas. A multiplicação das células iniciadas é fenômeno indispensável para a "fixação" da alteração genômica e para o aparecimento da neoplasia. Ao lado disso, a multiplicação celular aumenta a probabilidade de novas mutações. Ao contrário da iniciação, a promoção é um processo demorado. A ação do promotor é reversível, pois, caso sua aplicação seja interrompida antes de completada a promoção, o efeito não se manifesta. Os agentes promotores atuam pelo tempo de exposição e pela intensidade das reações teciduais que provocam. Os promotores são substâncias que têm em comum a propriedade de irritar tecidos e de provocar reações inflamatória e proliferativa. (PROLIFERAÇÃO CELULAR) Progressão → Após seu surgimento, um câncer sofre, com frequência, modificações biológicas que o tornam, em geral, cada vez mais agressivo e mais maligno. Esse fenômeno é chamado progressão tumoral. Entre outros fatores, a progressão tumoral também depende de mutações sucessivas nas células, as quais resultam na aquisição de propriedades mais agressivas. O câncer é formado por células heterogêneas. Numerosas evidências indicam que, com o tempo, vão surgindo continuamente populações celulares diferentes dentro da massa neoplásica (MANIFESTAÇÃO CLÍNICA DA DOENÇA) Disseminação → Primeiro a célula se destaca do tumor primário, adere membrana basal e matriz extracelular secretando enzimas que degradam essa matriz para passar entre a mesma até que faça adesão em uma nova membrana basal de um vaso seja ele linfático ou sanguíneo caindo dentro do mesmo, e caso haja presença de células do sistema imunológico ele precisa sobreviver a ação dessas células, sobrevivendo a essas células, ele irá fazer adesão em um novo órgão a distância estimulando assim a neoformação a distância e assim criar um tumor metastático neste novo órgão. (INVASÃO E METÁSTASE) Maysa Veiga – Odontologia - UFPE AGENTES INICIADORES X PROMOTORES Iniciadores = físicos, químicos e biológicos. Promotores = Os promotores são substâncias que têm em comum a propriedade de irritar tecidos e de provocar reações inflamatória e proliferativa. INVASÃO E METÁSTASE Formação de uma nova lesão tumoral a partir da primeira, mas sem continuidade entre as duas. ➔ Via linfática: principal via de disseminação, o primeiro sítio das metástases é o linfonodo mais próximo na via de drenagem do tumor, alteração do volume. É a principal via de disseminação inicial de carcinomas. Como regra, o primeiro sítio das metástases é o primeiro linfonodo na via de drenagem linfática do tumor, chamado linfonodo sentinela. Por isso mesmo, as primeiras metástases linfonodais de um câncer do pulmão aparecem nos linfonodos do hilo pulmonar, enquanto as do câncer do quadrante superior externo da mama surgem primeiro nos linfonodos axilares. Após comprometimento da cadeia linfonodal mais próxima, outros linfonodos situados imediatamente adiante podem ser acometidos. Algumas vezes, no entanto, as metástases "saltam" o primeiro linfonodo e aparecem no seguinte ou surgem em linfonodos não relacionados topograficamente com a sede do tumor. É o caso, por exemplo, de metástases supraclaviculares de um câncer gástrico. Os linfonodos com metástases em geral encontram-se aumentados de volume e às vezes se tornam confluentes, formando massas volumosas; linfonodos ou massas podem ser palpados se estiverem localizados em cadeias superficiais ou ser detectados por exames de imagens (radiografia, ultrassonografia, tomografia etc.) quando em cadeias profundas. Nem toda linfadenomegalia próxima de um câncer significa metástase ➔ Via sanguínea: anatomia, propriedades das células tumorais. Células cancerosas que penetram na corrente sanguínea podem ser levadas a qualquer parte do corpo. Embora o processo de metastatização não seja aleatório nem determinado somente pela anatomia da circulação, tumores de órgãos tributários do sistema porta dão metástases inicialmente no fígado. Em cânceres localizados próximo da coluna vertebral (p. ex., da tireoide), as células malignas podem ganhar o plexo venoso paravertebral e originar metástases nas vértebras. No entanto, só o critério anatômico não explica a localização Maysa Veiga – Odontologia - UFPE preferencial de metástases, pois, como já foi comentado, estas dependem de fatores ligados às células malignas e ao nicho pré-metastático. O número de células malignas que conseguem penetrar em um vaso sanguíneo é muito maior do que o número daquelas que originam metástases. Aliás, a presença de células malignas na circulação não indica obrigatoriamente a formação de metástase. De acordo com estudos experimentais, a imensa maioria (>99%) das células cancerosas na circulação morre por fatores diversos, principalmente por apoptose, resposta imunitária do hospedeiro, defesa não imunitária (macrófagos, células NK) e choque mecânico que sofrem com a parede vascular. A sobrevivência das células nos vasos é, pois, um elemento importante no aparecimento de metástases. ➔ Outras vias: O transporte de células neoplásicas pode ser feito também por canais, duetos ou cavidades naturais; os movimentos das vísceras ou dos líquidos dessas cavidades deslocam as células para diferentes sítios, onde podem implantar-se. Quando atingem a pleura ou o peritônio, por exemplo, células neoplásicas podem originar metástases na serosa e nos órgãos subjacentes. Quando as metástases de carcinomas são difusas no peritônio, fala-se em carcinomatose peritoneal. Células de tumores mucossecretores dos ovários ou do apêndice cecal podem cair na cavidade peritoneal, implantar-se na serosa e produzir grande quantidade de material gelatinoso, formando o chamado pseudomixoma peritoneal. Outro tipo particular de disseminação por via peritoneal é o tumor de Krukenberg, no qual se formam metástases bilaterais nos ovários a partir de cânceres de órgãos abdominais. Metástases podem implantar-se no trajeto de feridas cirúrgicas ou de agulhas utilizadas para punções- biópsias. Felizmente, essa complicação de biópsias por punção com agulha fina ou grossa é pouco frequente, não invalidando seu uso como método prático e eficaz para diagnóstico de muitos tumores. ➔ Metástase: é a formação de uma nova lesão tumoral a partir da primeira, mas sem continuidade entre as duas. A formação de metástases é um processo complexo que depende de inúmeras interações entre células malignas e componentes dos tecidos normais, especialmente do estroma. A formação de metástases envolve: (a) destacamento das células da massa tumoral original; (b) deslocamento dessas células através da matriz extracelular (MEC); (c) invasão de vasos linfáticos ou sanguíneos; (d) sobrevivência das células na circulação; (e) adesão ao endotélio vascular no órgão em que irão se instalar; (f) saída dos vasos nesse órgão (diapedese); (g) proliferação no órgão invadido; (h) induçãode vasos para o suprimento sanguíneo da nova colônia. Esses processos ou etapas dependem de alterações na expressão de vários genes e de sinais gerados no estroma, não só do tumor como também do órgão em que a metástase se forma. A princípio, tais eventos foram considerados aleatórios, ou seja, qualquer célula que se destacasse do tumor poderia migrar, cair na circulação e instalar-se ao acaso em qualquer órgão. No entanto, Maysa Veiga – Odontologia - UFPE observações em autópsias, feitas ainda no século XIX, mostraram que certas neoplasias formam metástases preferencialmente em alguns órgãos, enquanto outros, como baço, estômago e músculos esqueléticos, são sedes pouco comuns de metástases. O destacamento dessas células se dá muitas vezes de profundas modificações na expressão de moléculas de adesão: perda de algumas caderinas (caderina E), expressão de caderinas N e R e mudança na expressão de integrinas, com inibição daquelas que mantêm as junções entre as células e expressão daquelas que aumentam a ancoragem das células à matriz extracelular, favorecendo a emissão de pseudópodes para deslocamento. Nicho pré-metástatico: em modelos experimentais e em alguns tumores humanos, verificou-se que o tumor primitivo induz em órgãos a distância alterações que os preparam para receber a metástase, antes de as células tumorais circulantes a eles chegarem. Em modelo de inoculação subcutânea de células do carcinoma de Lewis (que forma metástases pulmonares), observou-se que, antes da proliferação de células malignas nos pulmões, nos locais das futuras metástases existe colonização por células mieloides VEGFRl +. ESTADIAMENTO TUMORAL Os parâmetros de estadiamento devem incluir os fatores relacionados ao tumor e ao hospedeiro quais sejam: 1. Órgão e tecido de origem do tumor; 2. Classificação histopatológica do tumor; 3. Extensão do tumor primário: tamanho ou volume; invasão de tecidos adjacentes; comprometimento de nervos, vasos ou sistema linfático; 4. Locais das metástases detectadas; 5. Dosagem de marcadores tumorais; 6. Estado funcional do paciente. SISTEMA DE ESTADIAMENTO TUMORAL (TNM) Em sua evolução natural, o câncer tende a invadir primeiro o órgão em que se originou, depois as estruturas adjacentes e, finalmente, sítios a distância. O estadiamento clínico visa estabelecer o grau de desenvolvimento e disseminação de um câncer no indivíduo, a fim de sobretudo orientar as medidas terapêuticas e estabelecer seu prognóstico. Alguns procedimentos são utilizados para se fazer o estadiamento de uma neoplasia. O sistema mais empregado no estadiamento de neoplasias é o TNM, no qual T indica o tamanho do tumor (p. ex., em centímetros), N significa a existência de metástases em linfonodos e M refere-se à presença de metástases em outros órgãos. T0 é usado para carcinoma in situ; T1 a T4 significam tumores com dimensões crescentes. NO indica ausência de metástases em linfonodos; quando presentes e de acordo com as cadeias comprometidas, são representadas por Nl a N3. Quando não há metástases em outros órgãos, fala-se em MO; quando presentes, indica-se por Ml. A avaliação desses parâmetros baseia-se em dados clínicos, em achados de exames por imagens (radiografia, tomografia etc.) e em exploração cirúrgica. A combinação desses critérios forma a base para o estadiamento clínico do câncer. Para muitas neoplasias (tumor de Wilms, linfomas, câncer do útero etc.), existem critérios particulares para se estabelecer o estadiamento clínico. T – CARACTERÍSTICAS DO TUMOR PRIMÁRIO N – CARACTERÍSTICAS DOS LINFONODOS DAS CADEIAS DE DRENAGEM LINFÁTICA DO ÓRGÃO EM QUE O TUMOR SE LOCALIZA Maysa Veiga – Odontologia - UFPE M- PRESENÇA OU AUSÊNCIA DE METÁSTASES A DISTÂNCIA