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O pensamento complexo como forma de
apreender a realidade em suas múltiplas
dimensões: diversidade, diferença e inclusão
Filoso�a e História da Educação
1. Introdução
A diversidade é uma das maiores riquezas do ser humano no planeta e a existência de indivíduos
diferentes numa cidade, num país, com suas diferentes culturas, etnias e gerações fazem com que o
mundo se torne mais completo.
“Temos o direito de ser iguais sempre que as diferenças nos inferiorizem, temos o direito de
ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracterize”.
(Boaventura Santos)
Imagine se os mais de 6,5 bilhões de habitantes do planeta fossem iguais. Não teria graça, não é
mesmo?
Mas essa convivência só se torna possível se as diferenças forem respeitadas. O artigo 2º da
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), aprovada na Assembleia Geral das Nações
Unidas em 10 de dezembro de 1948, diz que não deve haver, em nenhum momento, discriminação
por raça, cor, gênero, idioma, nacionalidade, opinião ou qualquer outro motivo.
É possível que a extrema pobreza e a desigualdade sejam eliminadas, mas questões fundamentais
ainda precisam ser enfrentadas, como a violência, a prostituição infantil, o trabalho escravo e
diversos outros problemas.
No Brasil, a proteção e a promoção dos direitos de todo ser humano são articuladas e colocadas em
prática com o auxílio da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SDH), da Presidência da
República. O órgão é responsável por colocar em prática princípios estabelecidos em estatutos e
pela proteção dos direitos de cidadãos, das criança, dos adolescente, dos idosos, das minorias e das
pessoas com deficiência.
Imagine se fôssemos todos iguais?
Diversidade, Inclusão e Convívio.
https://cead.uvv.br/conteudo/wp-content/uploads/2019/04/aula_filedu_top10_img01.png
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2. Diversidade
Vivemos em um país e um mundo marcado pela diversidade, pelo pluralismo de etnias, povos,
identidades, subjetividades e representações. O diverso é algo que compõe a condição humana e
está intrinsecamente ligado à ideia de humanidade, que só existe e só é possível na diversidade. A
diversidade pode ser entendida a partir de diferentes formas, sendo mais comumente relacionada
às noções de variedade, pluralidade e diferença. O diverso, portanto, é o diferente na medida em
que ele também é igual a mim, enquanto eu sou o diferente do outro.
A diversidade é um dado, uma constatação da humanidade. O problema central e fundamental da
diversidade gira em torno da forma pelo qual lidamos com essa diversidade, ou seja, com o
diferente, com o outro. A cultura brasileira, apesar de ter construído historicamente mitos sobre o
modo como lidamos com a diferença, é marcada por um sentimento de intolerância em relação ao
outro. Não é incomum escutarmos notícias de agressões e mortes que acontecem com as pessoas
mais vulneráveis dessa sociedade, o que desconstrói qualquer concepção mitológica sobre o modo
como nos relacionamos com a diferença.
Numa época marcada por intercâmbios culturais e o encurtamento de distâncias geográficas a
diversidade passa a fazer cada vez mais parte do nosso cotidiano. No entanto, o medo do contato
com o outro (diferente) pode fazer aflorar o fundamentalismo cultural, fazendo com que a
intolerância seja elevada a princípio e dispositivo de determinada relação social. Desse modo, a
interculturalidade e a construção de uma sociedade aberta ao plural e ao diverso se vê ameaçada
pelo fundamentalismo e por práticas culturais fechadas à compreensão e respeito ao diverso.
Esse medo do diferente é alimentado por uma série de preconceitos e pré-julgamentos que 
desumanizam sem, entretanto, conhecer. É verdade que se vive num tempo marcado pela afirmação
das identidades culturais – tendo em vista os diversos significados que ela pode ter –, no entanto, a
identidade não pode ser vista apenas na sua dimensão estática, mas também na sua dinamicidade,
ou seja, nos correntes processos de identificação que ocorrem com grande frequência (HALL,
2004).
Há décadas se fala no plano jurídico tanto nacional quanto internacional sobre o direito à
diversidade, ou mesmo da produção de políticas públicas com o respeito à diversidade. Nessa
perspectiva, pensar em um direito à diversidade hoje em dia implica em concebê-lo a partir de uma
intervenção cultural, no plano do simbólico e da representação. Desse modo, os direitos à
diversidade, bem como as políticas de diversidade, devem ser pensados com fulcro na
transformação sociocultural e nas potencialidades que uma convivência harmônica, com respeito à
diversidade, pode trazer não para um ou outro, mas para o conjunto da sociedade.
O contato com as culturas diferentes é algo necessário, oportuno e importante para qualquer
pessoa/grupo social, tendo em vista que nenhuma cultura é (e também nunca será) completa, como
já disse Santos (2002). Assim, o contato com outras culturas permite compreender melhor o
contexto sociocultural que as pessoas se encontram inseridas, como também conhecer diferentes
formas de expressão cultural. É o contato que gera a empatia e trocas de experiências e visões de
mundo, alimentando o respeito e a compreensão do outro diferente.
Pensar a diversidade como direito implica em transcender os limites da tolerância e construir
relações sociais que se pautem no respeito ao outro e na compreensão de que o diverso é
fundamental, necessário e contingente. Trata-se de uma causa mais que necessária em um mundo
onde o preconceito e a intolerância crescem todos os dias, e inclusive ganham projeção na esfera
política, o que pode resultar em significativos retrocessos sociais (HALL, 2004).
A diversidade, entendida como direito e trabalhada no plano da cultura, tem a potencialidade de
desenvolver sociedades mais compreensivas e menos xenófobas, abrindo espaço para o crescimento
e aprimoramento cultural coletivo e o aprofundamento da experiência democrática.
A escola não tem conseguido acompanhar o ritmo de informações que ocorrem na complexidade da
sociedade atual. Há um grande esforço de profissionais da educação em buscar novas formas de
atrair a atenção do aluno na sala de aula. Deparamo-nos, diariamente, com diversas situações
delicadas que não temos, de imediato, um posicionamento conciso.
Na maioria das vezes, nossa falta de segurança e não aprofundamento sobre determinados temas
nos direcionam para uma postura não satisfatória ao nosso senso crítico. Logo, continuamos a
manter a função da escola de reprodutora de estereótipos ultrapassados que não condizem mais
com o perfil da sociedade contemporânea. Ou seja, a escola continua a ignorar o trabalho com
temas relacionados à diversidade, ao preconceito racial, às questões de gêneros, sexualidade e
orientação sexual.
Precisamos de capacitação para conviver com a diversidade social no ambiente escolar, respeitando
as distintas visões de mundo e valores, fortalecendo as ações de combate à discriminação e aos
diversos tipos de preconceitos existentes na sociedade. Diante disso, devemos assimilar conceitos
que envolvem as temáticas da diversidade, etnia, gênero e sexualidade. Esse embasamento teórico
possibilita uma reflexão na sala de aula para debater sobre temas polêmicos como racismo, a
equidade de gênero, sexualidade e orientação sexual.
O ser humano apresenta diversificadas características comportamentais que influenciam as suas
ações na sociedade. A nossa formação, enquanto pessoa, ocorre por meio dos conhecimentos que
adquirimos no convívio com outros atores sociais. Quando nascemos, já somos inseridos em um
contexto pré-determinado pela identidade cultural ao grupo que fazemos parte. Desse modo,
estamos aptos à aquisição de informações para trilhar o nosso caminho durante nossa vida, tendo
em vista que, ao longo dessa caminhada, devemos nos tornar seres humanos mais íntegros.
No entanto, podemos observar que não é bem assim que as coisas funcionam, pois somos
integrantes de um modelo econômicocapitalista que estimula a competitividade e o acúmulo de
bens materiais. Logo, somos movidos pelo desejo de sermos sempre melhores do que o outro, o que
nos leva à obsessão de que devemos nos posicionar em um patamar sempre acima do outro
indivíduo. Por isso, passamos a defender a nossa cultura, as nossas crenças, os nossos costumes e
as nossas tradições como o padrão a ser seguido, sem reconhecer a importância das demais
culturas, vivenciando assim, a prática do etnocentrismo. Segundo consta no Livro de Conteúdo
Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 24):
O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como “certo” ou
“errado”, “feio” ou “bonito”, “normal” ou “anormal” os comportamentos e as formas de ver o
mundo dos outros povos, desqualificando suas práticas e até negando sua humanidade.
Nessa perspectiva, conviver em sociedade com tantas diferenças quer seja de gênero, de linguagem,
de raça e etnia, dentre outras, acaba gerando determinados tipos de discriminação e preconceitos.
De acordo com o Livro de Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 197), preconceito é
“qualquer atitude negativa em relação a uma pessoa ou a um grupo social que derive de uma ideia
preconcebida sobre tal pessoa ou grupo”.
Podemos dizer que, na maioria das vezes, a não aceitação ao diferente ocorre por meio do nosso
complexo de superioridade em definir aquilo que na nossa concepção é a “verdade”. Aliás,
defendemos princípios morais e éticos que estão enraizados na nossa cultura justamente por não
querer aceitar e/ou conviver com as diferenças.
Na verdade, esse nosso pensar, muitas vezes, vão de encontro com as novas concepções de vida em
sociedade. Por isso, temos que reconhecer que muitos conceitos precisam ser revistos, tendo em
vista as mudanças que estão ocorrendo na sociedade contemporânea.
Vale ressaltar que, na concepção do pensador Michel Foucault (2008b), a verdade é algo que ocorre
por meio das relações de força. Nesse caso, os estereótipos criados na sociedade brasileira em que
situam a mulher como inferior e submissa ao homem, negro como indivíduo que possui capacidade
de fazer os trabalhos braçais, gays e prostitutas como indivíduos que perturbam a integridade
moral da sociedade, nordestino que representa o analfabetismo do país, índios como selvagens,
entre outros, foi estabelecido por um grupo de dominantes que buscou impor a cultura e ditou as
regras de convivência e comportamento de nosso país ao seu modo.
No entanto, devemos considerar que o próprio Foucault (2008b) defende que o poder deve ser
analisado como algo que só funciona em cadeia, pois não se concentra somente no Estado, mas sim,
nas diversas partes da sociedade. Portanto, coloca-se o poder como algo positivo. Dessa maneira, o
saber é produzido pelas relações de forças que se deram em uma determinada época, e a produção
do saber articula-se ao poder, este por sua vez, cria elementos que controlam o dizer.
Por exemplo, temos o conhecimento de que os negros são penalizados na educação, por meio da
exclusão do sistema formal de ensino, assim como, nas outras esferas da vida social. Tal atitude
tem suscitado das políticas públicas ações que venham trazer contributos como forma de coibir
e/ou amenizar qualquer forma de preconceito contra a pessoa humana. Pois, com base no Livro de
Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009) a desigualdade é um fenômeno social que produz
uma hierarquização entre indivíduos ou grupos, não permitindo um tratamento igualitário a todos
no que se refere a oportunidades, acesso a bens e recursos.
Porém, na contemporaneidade, o negro ainda não conseguiu a igualdade de direitos como ser
humano. Pois, ele continua sendo excluído, visto como símbolo de falta de inteligência e incapaz de
viver na sociedade elitista. Prova disso, é o mercado de trabalho que prioriza, na maioria das vezes,
o padrão estético em que o público, principalmente, o elitizado recusa-se de aceitar o negro como
apto a atuar em cargos de prestígio social.
Nesse contexto, devido o débito histórico de nosso país que sempre maltratou o negro, se faz
necessário que o Brasil crie políticas que viabilizem a inserção do negro nas universidades, no
mercado de trabalho e, consequentemente, na sociedade, a fim de amenizar o sofrimento que foi
causado às pessoas de pele negra.
Segundo o Livro de Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 196):
O racismo é uma doutrina que afirma não só a existência das raças, mas também a
superioridade natural e, portanto, hereditária, de umas sobre as outras. A atitude racista, por
sua vez, é aquela que atribui qualidade aos indivíduos ou aos grupos conforme o seu suposto
pertencimento biológico a uma dessas diferentes raças e, portanto, de acordo com as suas
supostas qualidades ou defeitos inatos e hereditários.
Nessa perspectiva, para que se reverta esse quadro de discriminação e preconceito que está
agregado na sociedade brasileira, se faz necessário que a sociedade civil manifeste o desejo de
mudança. Para isso, a população deve reivindicar de forma organizada para que o nosso país seja
mesmo o da diversidade, e faça isso valer, para que todos os nossos cidadãos e cidadãs respeitem a
diferença e tenham direitos iguais, independentemente da região geográfica, situação econômica,
gênero, cor da pele, etnia a qual pertença, etc.
É interessante mencionarmos que a classificação social que diferencia e possibilita a discriminação
e preconceito sobre mulheres, negros, nordestinos, indígenas, homossexuais, bissexuais, travestis e
transexuais vem de um processo de socialização que determina quais padrões devemos seguir com
base em um princípio de verdade que estabelecem conceitos e estereótipos que controlam e ditam a
forma de comportamento das pessoas.
Foucault (2008b, p. 14) delimita que “‘por verdade’, entender um conjunto de procedimentos
regulados para a produção, a lei, a repartição, a circulação e o funcionamento dos enunciados”. A
verdade é o conhecimento que pode receber ou não, uma comprovação científica, mas que é
utilizado como um enunciado no meio social para impor obediência. A verdade está relacionada aos
sistemas de poder.
A respeito de poder, Foucault (2008b, p. 8) acrescenta que:
O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não pesa só
como força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz ao prazer, forma
saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva que atravessa todo o
corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem por função reprimir.
Desse modo, o poder não deve ser visto somente como forma de repressão, mas como algo que
possa produzir transformações sociais, como forma de reivindicação dos direitos por meio de lutas,
além de delimitar a verdade que é posta no meio social. Na concepção desse autor, o poder é visto
como algo positivo, porque institui verdades por meio de relações de força, e, portanto, possibilita a
construção do saber.
Devemos ressaltar que a escolha da opção sexual que o indivíduo assume é determinada pela
cultura, pois uma vez inserido no meio social ele absorve o comportamento da coletividade. Dessa
forma, a identidade pessoal é afetada e se transforma conforme os princípios morais vigentes na
sociedade em um determinado lugar e em uma dada época. Isso nos remete ao conceito de
Formação Discursiva (FD) definido por Foucault (2008a), que conceitua como um espaço de
contradição e confronto em que o sujeito não migra de uma formação para outra e a produção de
sua identidade se dá como resultado desses entrecruzamentos das diferentes FDs.
Com base em Foucault (2008a), compreendemos que a FD é aquilo que determina por meio de uma
posição dada, numa conjuntura sócio-histórica de uma determinada época, aquilo que pode e deve
ser dito. Assim, ela não é um espaço estrutural fechado, pois é constantemente invadida por
elementos que vêm de outros lugares, de outras FDs.
Portanto, é a cultura que constrói o gênero, classificando aquiloque são atividades masculinas e
femininas. De acordo com o Livro de Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 47):
Cultura é um fenômeno unicamente humano que refere-se à capacidade que os seres humanos
têm de dar significado às suas ações e ao mundo que os rodeia. A cultura é compartilhada
pelos indivíduos de um determinado grupo, não se relacionando a um fenômeno individual.
Por outro lado, cada grupo de seres humanos, em diferentes épocas e lugares, atribui
significados diferentes a coisas e passagens de vida aparentemente semelhantes.
Nessa perspectiva, sabemos que as mudanças de comportamento do ser humano em relação ao
preconceito e diversos tipos de discriminação ocorrerão por meio de uma luta intensa para
transformar essa situação. Tais mudanças podem ocorrer mais rapidamente em determinados
países devido à expansão da informação por meio das atuais formas de tecnologia, como por
exemplo, a utilização da internet que pode contribuir para acelerar esse processo de transformação
social para que se possa acabar com o preconceito e a discriminação. Um exemplo disso é a parada
LGBT em São Paulo que reuni milhares de pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis,
Transexuais e Transgêneros que vão às ruas reivindicarem por igualdade de direitos. Dessa forma,
o movimento LGBT é noticiado pela mídia no mundo inteiro, e cada vez mais é fortalecido.
Sobre essa última denominação, Bento (2006, p. 20) acrescenta que:
A transexualidade não é uma experiência identitária a-histórica, ao contrário, revela com toda
dor e dramaticidade os limites de uma ordem de gênero que se fundamenta na diferença
sexual. Quando se retira o conteúdo histórico dessa experiência, apaga-se as estratégias de
poder articuladas para determinar que a verdade última dos sujeitos está no seu sexo. A
transexualidade é uma das múltiplas expressões identitárias que emergiram como uma
resposta inevitável a um sistema que organiza a vida social fundamentada na produção de
sujeitos “normais/anormais” e que localiza a verdade das identidades em estruturas corporais.
Como podemos ver, a transexualidade é um fenômeno que ocorre por meio das relações de poder. O
transexual é um sujeito que surgiu ao longo da história como uma resposta daquilo que a sociedade
estabeleceu como gênero masculino ou feminino que, fugindo desse padrão, o indivíduo é
considerado anormal. Isso ocorre porque o sujeito assume uma identidade sexual que foge ao
padrão corporal biologicamente aceitável no meio social.
Quando se trata de formação de opinião, direcionamo-nos mais uma vez para a escola, e sabemos
que, no ambiente escolar, ainda existem muitas dificuldades dos educadores em lidar com
temáticas polêmicas, uma vez que nós não estamos capacitados para explorar assuntos que estão
cada vez mais presentes na vida dos estudantes, como por exemplo, a sexualidade. Na verdade, é
difícil assumirmos uma postura crítica em defesa da igualde dos direitos humanos no tocante a
liberdade de escolha da sexualidade, quando não temos fundamentação teórica e prática para
discutir um tema dessa natureza.
Vale ressaltar que, no espaço escolar, a discriminação sofrida pelo jovem em sala de aula gera
muito desconforto que, consequentemente, resulta no abandono do aluno das suas atividades
educacionais. Isso ocorre porque ele não consegue suportar a zombaria de seus colegas. Então, o
jovem gay, lésbica, bissexual, travesti ou transexual se ausenta do espaço que, na verdade, deveria
oferecer conforto e conhecimento para melhorar a vida dele e contribuir para a transformação da
conjuntura social em que todos tenham o mesmo direito independentemente da sua opção sexual.
De fato, o professor não precisa ser um simpatizante do movimento LGBT nem tampouco levantar a
bandeira em prol desse movimento, mas deve pelo menos ter a maturidade de tratar com respeito a
opção sexual de cada indivíduo, como também saber lidar com os diversos assuntos que envolvem
temática sexualidade e trabalhá-los de forma que contribuam para que o aluno possa desconstruir
preconceitos com relação a opção sexual diversa.
3. Inclusão
De acordo com o Minidicionário Aurélio (2004), incluir (inclusão) significa” conter ou trazer em si;
compreender, abranger. Fazer tomar parte; inserir, introduzir. Fazer constar de lista, de série, etc.;
relacionar.”
Para Monteiro (2001): “[...] A inclusão é a garantia, a todos, do acesso contínuo ao espaço comum
da vida em sociedade, uma sociedade mais justa, mais igualitária, e respeitosa, orientada para o
acolhimento a diversidade humana e pautada em ações coletivas que visem a equiparação das
oportunidades de desenvolvimento das dimensões humanas (MONTEIRO, 2001, p. 1).”
De acordo com Mantoan (2005), inclusão: “É a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro
e, assim, ter o privilégio de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação
inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os
que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança
que é discriminada por qualquer outro motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no
cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com,
é interagir com o outro.” Em se tratando de educação partimos do pressuposto de que inclusão é a
ideia de que todas as crianças têm o direto de especiais. A fim de mudar a sua prática educativa, a
escola deverá desenvolver estratégias de ensino diferenciadas que possibilitem o aluno a aprender e
se desenvolver adequadamente.
Já Carvalho (2002, p. 111) preconiza que
“a proposta inclusiva pressupõe uma ‘nova’ sociedade e, nela, uma escola diferente e melhor do
que a que temos.” E diz ainda, “Mas, aceitar o ideário da inclusão, não garante ao bem
intencionado mudar o que existe, num passe de mágica. A escola inclusiva, isto é, a escola para
todos deve estar inserida num mundo inclusivo onde as desigualdades não atinjam os níveis
abomináveis com os quais temos convivido.”
A escola é o espaço primordial para se oportunizar a integração e melhor convivência entre os
alunos, os professores e possibilita o acesso aos bens culturais. Portanto, é preciso que a escola
busque trabalhar de forma democrática, oferecendo oportunidades de uma vida melhor para todos
independente de condição social, econômica, raça, religião, sexo, etc. Todos os alunos têm direito
de estarem na escola, aprendendo e participando, sem ser discriminado ou ter que enfrentar algum
tipo de preconceito por motivo algum.
Segundo Haddad (2008) “[...] o benefício da inclusão não é apenas para crianças com deficiência, é
efetivamente para toda a comunidade, porque o ambiente escolar sofre um impacto no sentido da
cidadania, da diversidade e do aprendizado.”
Na Constituição Federal (1988), a educação já era garantida como um direito de todos e um dos
seus objetivos fundamentais era, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.” No (artigo 3º, inciso IV) da
Constituição Federal (1988), como também no artigo 205, a educação é declarada como um direito
de todos, devendo ela garantir o pleno desenvolvimento da pessoa, o seu exercício de cidadania e a
qualificação para o trabalho. A educação inclusiva é reconhecida como uma ação política, cultural,
social e pedagógica a favor do direito de todos a uma educação de qualidade e de um sistema
educacional organizado e inclusivo. À escola cabe a responsabilidade em atender as diferenças,
considerando que para haver qualidade na educação é necessário assegurar uma educação que se
preocupe em atender a diversidade.
Mantoan (2005, p.18) nos afirma que, se o que pretendemos é que a escola seja inclusiva, é urgente
que seus planos se redefinam para uma educação voltada para a cidadania global, plena, livre de
preconceitos e que reconhece e valoriza as diferenças. A educação inclusiva visa desenvolver valores
educacionais e metodologias que permitam desenvolveras diferenças através do aprender em
conjunto, buscando a remoção de barreiras na aprendizagem e promovendo a aprendizagem de
todos, principalmente dos que se encontram mais vulneráveis, em contraposição com a escola
tradicional, que sempre foi seletiva, considerando as diferenças como uma anormalidade e,
desenvolvendo um ensino homogeneizado (CARVALHO, 2002).
Corroborando a afirmação de Carvalho, Araújo (1988, p. 44) diz:
“[...] a escola precisa abandonar o modelo no qual se esperam alunos homogêneos, tratando
como iguais os diferentes, e incorporar uma concepção que considere a diversidade tanto no
âmbito do trabalho com os conteúdos escolares quanto no das relações interpessoais. É preciso
que a escola trabalhe no sentido de mudar suas práticas de ensino visando o sucesso de todos
os alunos, pois o fracasso e o insucesso escolar acabam por levar os alunos ao abandono,
contribuindo assim com um ensino excludente.”
A educação inclusiva, dentro de um processo responsável, precisa garantir a aprendizagem a todas
as pessoas, dando condições para que desenvolvam sentimentos de respeito à diferença, que sejam
solidários e cooperativos.
Mantoan (2008, p.2) defende a tese de que temos de combater a descrença e o pessimismo dos
acomodados e mostrar que a inclusão é uma grande oportunidade para que alunos, pais e
educadores demonstrem as suas competências, poderes e responsabilidades educacionais. As
ferramentas estão aí, para que as mudanças aconteçam, urgentemente, e para que reinventemos a
escola, desconstruindo a máquina obsoleta que a dinamiza, os conceitos sobre os quais ela se
fundamenta os pilares teórico-metodológicos em que ela se sustenta. Em busca de uma escola de
qualidade, objetivando uma educação voltada para a emancipação e humanização do aluno, é
fundamental que o sistema educacional prime por uma educação para todos, onde o enfoque seja
dado às diferenças existentes dentro da escola.
 
A lei preconiza a universalização da educação para todos, garantindo o direito ao acesso, a
permanência e ao sucesso dos alunos. No entanto, a realidade educacional contemporânea coloca a
escola pública como o palco da diversidade, pois ali se encontram alunos de diferentes grupos. A
diferença entre os grupos é visível e o trabalho pedagógico precisa voltar-se à diferença,
oportunizando o direito de educação para todos. Vale destacar que o trabalho com a diversidade
está ligado à proposta de inclusão, que emerge como um grande desafio para a educação, pois,
pensar em inclusão pressupõe uma série de fatores, principalmente os que dizem respeito aos
alunos.
Assim, pensar em inclusão, não é só dirigir o olhar para os alunos com necessidades especiais, mas
sim, para todos aqueles alunos que estão nas salas de aula, que muitas vezes sofrendo preconceitos
e discriminações por pertencer a este ou aquele grupo. Trabalhar com uma proposta de diversidade,
propiciando oportunidades de inclusão a todos os alunos na escola, não é uma tarefa fácil, uma vez
que não se resume apenas na garantia do direito de acesso. É preciso que lhes sejam garantidas as
condições de permanência e sucesso na escola.
Para que o processo de inclusão ocorra satisfatoriamente é preciso que haja investimento em
educação, senão é um projeto fadado ao insucesso, pois a escola precisa oferecer estrutura
adequada para que ele ocorra. A dura realidade das condições de trabalho e os limites da formação
profissional, o número elevado de alunos por turma, a rede física inadequada, o despreparo para
ensinar “alunos especiais” ou diferentes são fatores a ser considerados no processo de inclusão que
garanta a participação de todos os alunos e o sucesso, evitando-se assim o alto número de alunos
evadidos e até os retidos no ano letivo.
De acordo com o documento Diretrizes Nacionais para a Educação Especial (2001, p. 23), os
princípios norteadores de uma educação inclusiva são a preservação da dignidade humana; a busca
de identidade e o exercício de cidadania.
É de extrema relevância que a escola, especialmente a pública, reconheça as diferenças, valorizando
as especificidades e potencialidades de cada um, reconhecendo a importância do ser humano,
lutando contra os estereótipos, as atitudes de preconceito e discriminação em relação aos que são
considerados diferentes dentro da escola. É preciso que todos tenham clareza de que sempre vai
haver diferenças, mas é possível minimizá-las, desde que haja interesse em propiciar uma educação
de qualidade a todos.
Portanto, é preciso haver uma transformação da realidade com o objetivo de diminuir a exclusão
dos alunos, especiais ou não do sistema educacional. É necessário que se proponha ações e medidas
que visem assegurar os direitos conquistados, a melhoria da qualidade da educação, o investimento
em uma ampla formação dos educadores, a remoção de barreiras físicas e atitudinais, a previsão e
provisão de recursos materiais e humanos entre outras possibilidades.
Como diz Mantoan (2008, p. 20),
“O essencial, na nossa opinião, é que todos os investimentos atuais e futuros da educação
brasileira não repitam o passado e reconheçam e valorizam as diferenças na escola. Temos de
ter sempre presente que o nosso problema se concentra em tudo o que torna nossas escolas
injustas, discriminadoras e excludentes, e que, sem solucioná-lo, não conseguiremos o nível de
qualidade de ensino escolar, que é exigido para se ter uma escola mais que especial, onde os
alunos tenham o direito de ser (alunos), sendo diferentes.”
Precisamos ser otimistas e transformar em realidade o sonho de uma educação para todos, nos
convencendo das potencialidades e capacidades dos seres humanos, acreditando que, somando
nossas diferenças, poderemos provocar mudanças significativas na educação e na sociedade,
diminuindo preconceitos e estereótipos e tornando nosso país mais humano, fraterno, justo e
solidário.
4. Conclusão
Com base no exposto, podemos afirmar que, quando nascemos, já somos inseridos em uma
sociedade que já se encontra estruturada. Então, somos moldados a compor essa conjuntura. A
nossa passividade em seguir e obedecer às regras sociais implica na continuação de um modelo que
escraviza o indivíduo e reproduz estereótipos que foram enraizados ao longo de séculos.
Nesse caso, devemos ser conscientes de que a escola sozinha não é responsável para transformar e
mudar uma conjuntura social, mas que ela tem uma parcela de contribuição para que isso ocorra. É
interessante mencionarmos que deve haver certa coerência, harmonia e parceria de escola, família,
igreja, mídia, sindicato, associações, etc. que compartilhe com as mesmas ideias de contribuir para
a formação pessoal e intelectual do sujeito como construtor do conhecimento e de sua felicidade.
Assim, pensar em preparar o indivíduo para exercer cidadania é refletir questões que propicie a
qualidade de vida do ser humano enquanto sujeito capaz de ter a liberdade de decidir sobre a sua
própria sexualidade, sobre que atividades no mercado de trabalho deseja desenvolver
independentemente do gênero ou cor da pele.
No entanto, temos que despertar que somos sujeitos que podemos contribuir significativamente
para a transformação da sociedade, no sentido de acabar com todas as formas de preconceito. Para
que isso ocorra, sabemos que são muitas as dificuldades, porque quando propomos a mudança
estamos ameaçando pessoas que possuem determinados privilégios e que vivem violando os
direitos de outros seres humanos de possuírem uma vida melhor.
Portanto, a escola como instituição formadora de opinião e com o dever de formar o aluno para a
cidadania, não pode continuar propagando ideias, conceitos que alimentem o preconceito e a
discriminação contra a pessoa humana. Em pleno século XXI, não dá mais para se pensar em um
ensino pautado para a prática excludente, onde reina uma visão monolítica de sociedade. Já é hora
de tentar reverter essa situação de discriminação contra mulheres, negros, nordestinos, indígenas,
homossexuais, bissexuais, travestis, transexuais, entre outros, afim de que a escola possa, de fato,
direcionar o ensino para a formação de cidadãos e cidadãs com plena consciência de que devemos
conviver pacificamente e respeitar toda raça e cultura humana.
5. Referências
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