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Plano de Aula 3

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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO
Profª Andréa Cleto
PLANO DE AULA 3 – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO
Plano de Aula 3
1. COMPETÊNCIA E JURISDIÇÃO
A jurisdição é o poder dever do estado de prestar a tutela jurisdicional a todo aquele que tenha uma pretensão resistida por outrem, aplicando a regra jurídica ao conflito.
Já competência é mera divisão do trabalho jurisdicional, ou seja, é o limite em que cada órgão jurisdicional pode, legitimamente, exercer essa função estatal. 
Chiovenda enumerou 3 critérios para distribuição de competência, que influenciaram o ordenamento jurídico brasileiro. São eles:
Critério Objetivo: O critério objetivo ou do valor da causa (competência pelo valor) ou da natureza da causa (competência por matéria);
2) Critério Funcional: O critério funcional extrai-se da natureza especial e das exigências especiais das funções que se chama o magistrado a exercer num processo;
3) Critério Territorial: O critério territorial relaciona-se com a circunscrição territorial designada à atividade de cada órgão jurisdicional.
Há um certo consenso na doutrina processual brasileira de que os critérios da competência são:
a) Competência em razão da natureza da relação jurídica (competência em razão da matéria ou objetiva): nesta espécie, é determinante a natureza da relação jurídica controvertida para aferição da competência. Na Justiça do Trabalho, a competência material vem disciplinada no art. 114 da CRFB/88e também no art. 652 da CLT;
b) Competência em razão da qualidade das partes envolvidas na relação jurídica controvertida (competência em razão da pessoa):
Como destaca Candido Rangel Dinamarco: Certas qualidades das pessoas litigantes são levadas em conta pela Constituição e pela lei, muitas vezes na fixação das regras da chamada competência em razão da pessoa (ratione personae). 
c) Competência em Razão do Lugar (competência territorial): No processo do trabalho, a competência territorial vem disciplinada no art. 651 da CLT, sendo regra geral o local da prestação de serviços;
d) Competência em Razão do Valor da Causa: A competência em razão do valor leva em consideração o montante pecuniário da pretensão, ou seja, o valor do pedido. É relativa à luz do CPC. No processo do trabalho, o valor dos pedidos serve para determinar o rito processual.
OBS: Na Justiça do Trabalho, por não existirem órgãos especiais destinados a demandas de pequenas causas, como acontece nos juizados especiais cíveis (estaduais e federais), o valor da causa não determina a competência do órgão jurisdicional, pois tanto as causas sujeitas ao rito ordinário como ao sumaríssimo são processadas pelo mesmo órgão jurisdicional.
e) Competência em Razão da Hierarquia dos Órgãos Judiciários (competência interna ou funcional): Se dá em razão da “natureza e exigências especiais das funções exercidas pelo juiz no processo”. No processo do trabalho, a competência funcional vem disciplinada na CLT e nos Regimentos Internos dos TRT’s e do TST.
2. COMPETÊNCIA TRABALHISTA
Depois de longa tramitação no Congresso Nacional, foi aprovada a Emenda de Reforma do Judiciário (EC nº 45 de 08/12/2004). Dentre várias alterações na estrutura do poder judiciário, houve um aumento considerável na competência material da Justiça do Trabalho (art. 114 da CRFB/88).
Sob o ponto de vista institucional, a competência ampliada fortaleceu a Justiça do Trabalho como instituição e ressaltou sua importância social, inclusive como uma das mais importantes instituições de distribuição de renda do país. Além disso, no ano de 2019 a Justiça do Trabalho bateu recorde, com recolhimento superior a 4 bilhões em custas e emolumentos, previdência social, imposto de renda, multas aplicadas e restituições. 
Apesar do alargamento da competência da Justiça do Trabalho após a EC nº 45/2004, continuaram ficando de fora da competência da Justiça do Trabalho: 
1) as ações previdenciárias;
2) as ações criminais movidas pelo Estado em razão dos crimes contra a organização do trabalho, bem como , em nenhuma situação, sem qualquer exceção, nos termos da decisão proferida pelo STF na ADI 3684.
 
3) a competência para apreciar as relações de trabalho entre o Poder Público e seus servidores, que seguem o regime estatutário (em decorrência de decisão do STF na ADI nº 3395). 
4) os honorários de profissão liberal, incluindo os advocatícios (contratuais) não são de competência da Justiça do Trabalho, conforme Súmula nº 363 do STJ.
3. COMPETÊNCIA MATERIAL TRABALHISTA
Segundo Mauro Schiavi, o termo relação de trabalho pressupõe trabalho prestado por conta alheia, em que o trabalhador (pessoa física) coloca sua força de trabalho em prol de outra pessoa (física ou jurídica), podendo o trabalhador correr ou não os riscos da atividade. Desse modo, estão excluídas as modalidades de relação de trabalho em que o trabalho for prestado por pessoa jurídica, porquanto nessas modalidades, embora haja relação de trabalho, o trabalho humano não é o objeto dessas relações jurídicas, e sim um contrato de natureza civil ou comercial.
3.1 Competência em Razão da Matéria
É firmada pela natureza da relação jurídica material deduzida em juízo.
A determinação da competência material da Justiça do Trabalho é fixada em decorrência da causa de pedir e do pedido. O próprio STF já assentou que a fixação da competência material da Justiça do Trabalho depende exatamente daquilo que o autor leva para o processo, isto é, repousa na causa de pedir e no pedido deduzidos em juízo, mesmo se a decisão de mérito que vier a ser prolatada envolver a aplicação de normas de direito civil.
3.1.1 Competência Material Original
I)Ações oriundos da relação do trabalho (art. 114, I da CRFB/88)
OBS: Relação de Consumo
A relação de consumo está excluída do âmbito de atuação da Justiça do Trabalho, pois o objeto da relação de consumo é o produto ou serviço, e não o trabalho propriamente dito.
OBS: Ações Decorrentes da Cobrança de Honorários
O STJ, em 2008, editou a Súmula 363 que dispõem: “Compete a Justiça Estadual processar e julgar a ação de cobrança ajuizada por profissional liberal contra cliente.”
II) Entes de Direito Público Externo (art. 114, I da CRFB/88)
Sempre foi polêmica a questão da competência da Justiça do Trabalho para ações movidas por empregados que prestam serviços em prol de entes de direito público externo situados em território nacional, uma vez que estes entes têm imunidade de jurisdição, não estando sujeitos, portanto, à jurisdição brasileira, mas sim à dos seus países de origem. 
O STF, tem entendido, acertadamente, que os entes de direito público externo, quando contratam empregados brasileiros, praticam atos de gestão não abrangidos pela imunidade de jurisdição que compreende apenas os atos de império. 
III) Servidores da Administração Pública (art. 114, I da CRFB/88)
A Justiça do Trabalho não tem competência para apreciar as relações de trabalho entre o Poder Público e seus servidores, que seguem o regime estatutário (em decorrência de decisão do STF na ADI nº 3395).
IV) Ações que envolvam exercício do direito de greve (art. 114, II da CRFB/88)
Ações envolvendo o exercício do direito de greve: qualquer que seja a demanda, individual ou coletiva, se a causa de pedir for o exercício do direito de greve, bem como as suas consequências, a competência será da Justiça do Trabalho. 
OBS: Súmula Vinculante nº 23 do STF que trata da matéria, em especial, das ações possessórias.
V) Ações sobre representação sindical (art. 114, III da CRFB/88)
O art. 114, III da CRFB/88 (com redação dada pela EC nº 45/2004), tem a seguinte redação: “as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores.” 
Após a Emenda, a Justiça Laboral passa a deter competência para processar e julgar não só as ações sobre representação sindical (externa — relativa à legitimidade sindical, e interna — relacionada à escolha dos dirigentes sindicais), como também os feitos intersindicais eos processos que envolvam sindicatos e empregadores ou sindicatos e trabalhadores.
 
VI) Mandado de segurança, habeas corpus e habeas data (art. 114, IV da CRFB/88)
• Mandado de Segurança 
O Mandado de Segurança é uma ação constitucional, de natureza mandamental, processada por rito especial destinada a tutelar direito líquido e certo contra ato de autoridade praticado com ilegalidade ou abuso de poder.
• Habeas Corpus
Habeas Corpus é uma ação constitucional de caráter penal e de procedimento especial, isenta de custas e que visa a evitar ou cessar violência ou ameaça na liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. 
• Habeas Data
Habeas Data é definido como direito que assiste a todas as pessoas de solicitar judicialmente a exibição dos registros públicos ou privados, nos quais estejam incluídos seus dados pessoais, para que deles tomem conhecimento e, se necessário for, sejam retificados os dados inexatos ou obsoletos ou que impliquem em discriminação. 
VII) Ações de indenização de dano moral e patrimonial decorrente da relação do trabalho (súmula 392 TST e art. 114, VI da CRFB/88)
* AÇÕES INDENIZATÓRIAS POR DANOS MORAIS 
OBS: Dano Moral em Ricochete
As pessoas que sofrem o dano moral não precisam ser os atores sociais da relação de emprego ou de trabalho para postularem a reparação de danos morais na Justiça do Trabalho, basta que o fato decorra dessa relação. 
No ano de 2015 o TST alterou a redação da Súmula 392 para incluir, expressamente, na competência da Justiça do Trabalho, as ações de indenização por dano moral e material decorrentes do acidente de trabalho ou doenças a ele equiparadas, ainda que proposta pelos dependentes ou sucessores do trabalhador falecido.
* AÇÕES ACIDENTÁRIAS
	AÇÕES	COMPETÊNCIA
	Ações acidentárias (lides previdenciárias) derivadas de acidente de trabalho promovidas pelo trabalhador segurado(seguro de acidente de trabalho) em face da seguradora INSS. (empregado x empregador)
 	Justiça Comum
	Ações promovidas pelo empregado segurado em face do empregador postulando indenização pelos danos morais e materiais sofridos em decorrência do acidente do trabalho. art. 7º, XXVIII CRFB/88 (empregado x empregador)	Justiça do Trabalho
	Ação regressiva ajuizada pelo INSS em face de empregador causador do acidente de trabalho que tenha agido de forma negligente no cumprimento das normas de segurança e medicina do trabalho. (INSS x empregador)	Justiça Federal
VIII) Ações relativas as penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho (art. 114, VII da CRFB/88).
Como o dispositivo faz menção às penalidades impostas aos empregadores, tais cominações são as previstas na CLT, nos arts. 626 a 653.
Exemplos: ações declaratórias, ações anulatórias, medidas cautelares, mandados de segurança e também, por parte da União, das execuções fiscais das multas administrativas. 
IX) A execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças proferidas (art. 114, VIII da CRFB/88) 
O STF fixou entendimento que a competência da Justiça do Trabalho abrange somente a parcela previdenciária das decisões condenatórias, não incidindo sobre os salários pagos durante o vínculo de emprego, conforme se constata no Informativo nº 519/2008.
A Súmula nº 368 do STF prevê que apenas as verbas devidas em decorrência de sentença condenatórias serão objeto de execução na Justiça Especializada.
Caso haja acordo em processo trabalhista, após o trânsito em julgado, as contribuições previdenciárias serão calculadas com base no valor do acordo, nos termos da OJ nº 376 da SDI-1 do TST. 
IX) Outras Controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da Lei (art. 114, IX da CRFB/88) 
- Competência Material Derivada
Exemplos:
• art. 652 III, da CLT- contratos de empreitada em que o empreiteiro seja operário ou artífice.
• art. 643, § 3º c/c art. 652, ambos da CLT
• art. 455 CLT ação dos empregados contra o empreiteiro principal pelo inadimplemento por parte do primeiro.
• Súmula 300 do TST - cadastramento no PIS
• FGTS (Súmula nº 176 do TST) - levantamento de depósito
4. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM
- HIPÓTESES DE INEXISTÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO NA LOCALIDADE
- APLICAÇÃO DO ART. 112 DA CRFB/88 
Em comarcas onde não exista Vara do Trabalho, a lei pode atribuir a função jurisdicional trabalhista aos Juízos de Direito (art. 668, CLT), com recurso para o respectivo TRT (art. 112 da CRFB/88).
OBRIGADA!
Profª Andréa Cleto
Instagram: profandreacleto

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