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Surgimento e Institucionalização do Serviço Social no Brasil

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Prévia do material em texto

Autora: Profa. Luciana Helena Mariano Lopes
Colaboradoras: Profa. Amarilis Tudela
 Profa. Profa. Glaucia Aquino
 Profa. Daniela Emilena Santiago
Surgimento e Institucionalização 
do Serviço Social no Brasil: 
Reconceituação
Professora conteudista: Luciana Helena Mariano Lopes
Luciana Helena Mariano Lopes é natural de Sorocaba – SP, assistente social graduada pela Pontifícia Universidade 
Católica de São Paulo no ano de 2006. Atuante e com ampla experiência na área de serviço social, com ênfase em 
política social e políticas públicas – assistência social, na qual atua desde sua formação. É pós‑graduada em direitos 
sociais e competências profissionais pela Universidade de Brasília – UnB.
Atua como assistente social na área de proteção social básica desde 2007, no Centro de Referência de Assistência 
Social – CRAS no interior de São Paulo, desenvolvendo ações protetivas, acompanhamento sociofamiliar, visitas 
domiciliares, grupos socioeducativos, entre outros, além de desenvolver atividades como perito social no Fórum da 
região. Tem grande engajamento em ações afetas à assistência social, sendo membro do Conselho Municipal, bem 
como na área de Criança e Adolescente, em que é presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente. 
Atualmente, é professora assistente na Universidade Paulista – UNIP, em Sorocaba, no curso de serviço social, em que 
leciona as disciplinas de Avaliação do Trabalho Profissional, Observação Orientada e Serviço Social e Políticas Públicas. 
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
L864 Lopes, Luciana Helena Mariano
Surgimento e Institucionalização do Serviço Social no Brasil: 
Reconceituação. / Luciana Helena Mariano Lopes. ‑ São Paulo: Editora 
Sol, 2020.
120 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230.
1.Serviço social 2.Panorama histórico 3.Institucionalização 
I. Título
CDU 361
U505.47 – 20
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcello Vannini
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Tatiane Souza
Sumário
Surgimento e Institucionalização do Serviço Social no 
Brasil: Reconceituação
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 O CONTEXTO HISTÓRICO EM QUE SE INTRODUZIU O SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL ...............9
2 O CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO DA PRIMEIRA REPÚBLICA ................................................................ 10
3 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS PARA A IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO 
SOCIAL BRASILEIRO............................................................................................................................................ 13
3.1 A questão social na Primeira República ...................................................................................... 15
3.2 As primeiras respostas quanto à questão social ...................................................................... 18
4 A IGREJA CATÓLICA NO BRASIL FACE AO CONTEXTO HISTÓRICO E SUA REAÇÃO 
RENOVADORA ...................................................................................................................................................... 20
4.1 A reação católica .................................................................................................................................. 21
4.2 A doutrina social da Igreja ............................................................................................................... 23
4.2.1 A carta encíclica Rerum Novarum ................................................................................................... 24
4.2.2 A visão organicista das relações sociais ........................................................................................ 26
4.2.3 Relação Igreja‑Estado ........................................................................................................................... 28
Unidade II
5 A ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL DE SÃO PAULO NO PERÍODO DE 1936 A 1945 .................... 34
5.1 Contexto histórico – décadas de 1910, 1920 e 1930 ............................................................ 34
5.2 O Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (Ceas): passos para a 
especialização na prestação da assistência ....................................................................................... 38
5.3 A Escola de Serviço Social de São Paulo ..................................................................................... 42
5.4 A Escola de Serviço Social do Rio de Janeiro ............................................................................ 46
5.5 O serviço social e as Primeiras Instituições Assistenciais: breve histórico .................... 48
5.5.1 Legião Brasileira de Assistência (LBA) ............................................................................................. 51
5.5.2 Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)............................................................. 53
5.5.3 O Serviço Social da Indústria (Sesi) ................................................................................................. 54
5.5.4 A Fundação Leão XIII ............................................................................................................................. 55
6 A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PRÁTICA PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS ............ 56
6.1 A busca pela atualização ................................................................................................................... 57
6.2 Os congressos do serviço social na década de 1940 ............................................................. 59
6.3 A expansão da profissão e a ideologia desenvolvimentista ................................................ 61
6.4 O II Congresso Brasileiro de Serviço Social e a descoberta 
do desenvolvimentismo ............................................................................................................................ 63
6.5 O serviço social e o Movimento de Reconceituação ............................................................. 65
6.5.1 Araxá: a afirmação da perspectiva modernizadora .................................................................. 69
6.5.2 Teresópolis: a cristalização da perspectiva modernizadora ................................................... 71
6.5.3 O método de Belo Horizonte: intenção de ruptura .................................................................. 72
6.6 O serviço social entre os anos de 1930 e 1970 sob a influência 
sócio‑histórica: notas introdutórias .................................................................................................... 73
6.6.1 A influência das principais correntes filosóficas ........................................................................ 74
6.6.2 Tomismoe neotomismo ....................................................................................................................... 76
6.6.3 Positivismo ................................................................................................................................................. 78
6.6.4 Fenomenologia ........................................................................................................................................ 79
Unidade III
7 O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA ............. 88
7.1 A Reconceituação do Serviço Social no Brasil ........................................................................ 94
8 A PERSPECTIVA MODERNIZADORA E A REATUALIZAÇÃO DO CONSERVADORISMO ......... 98
8.1 A intenção de ruptura e o aporte ao marxismo ...................................................................104
7
APRESENTAÇÃO
Prezado aluno,
O objetivo desta disciplina é proporcionar ao aluno o conhecimento e o aprofundamento quanto aos 
fenômenos históricos até a institucionalização do serviço social.
Quando se rememora ao surgimento do serviço social no Brasil e sua institucionalização, o que 
se pretende?
É primordial ressaltar que, por trabalharmos com seres humanos, que são e fazem história, apreender 
o contexto histórico do serviço social brasileiro é de vital importância para uma primeira aproximação 
com a carreira escolhida e pretendida, pois é a partir do movimento do real, desse movimento histórico 
que se verificam a gênese do serviço social e sua contextualização com a própria história brasileira.
É a partir disso que essa profissão é contextualizada, bem como sua importância na história da 
sociedade, para os futuros assistentes sociais, pois nossa profissão não surgiu de uma mera invenção 
humana, mas sim de um contexto histórico tal que marca sua relevância e importância para a sociedade 
brasileira e no contexto mundial.
Quando se fala de institucionalização, fala‑se da criação e relevância de uma dada profissão, ou seja, 
em nosso caso, significa como e quando o serviço social foi visto como uma profissão relevante e de 
importância para a sociedade.
Esta disciplina pretende proporcionar a apreensão crítica dos fenômenos históricos, políticos, 
econômicos e culturais que permearam o serviço social desde sua gênese, os quais expuseram a 
emergência em ofertar respostas às expressões da questão social.
Objetiva‑se explicitar a emergência da questão social no Brasil a partir da Primeira República e as 
formas de enfrentamento por parte do Estado brasileiro.
As relações sociais apresentam‑se como relações entre classes sociais distintas e predeterminadas, 
que delimitam um perfil social da população brasileira no contexto da Primeira República.
O período entre 1930 e 1960, com o aprofundamento do capitalismo na sociedade brasileira, sistema 
que marcou a diferença entre as classes sociais e os seus antagonismos, orientava à emergência e à 
institucionalização do serviço social no Brasil.
Procurava‑se nesse momento desvendar o significado social dessa instituição e das práticas 
desenvolvidas em seu âmbito, além da formação do mercado de trabalho para o assistente social e os 
modelos de intervenção profissional.
Iniciamos nossos estudos aqui relembrando o contexto sócio‑histórico que introduziu a prática do 
serviço social no Brasil. A partir dessa contextualização, serão incorporados à questão social no contexto 
8
Unidade I
da Primeira República, adentrando a Era de Vargas, a influência da Igreja Católica nessa gênese, como 
também os movimentos ocorridos no seio da Igreja.
Abordaremos também a primeira escola de serviço social brasileira, os aspectos históricos, políticos 
e sociais que determinaram a emergência de sua fundação.
Discutiremos ainda a respeito das primeiras e das principais instituições e organizações sociais 
que emergiram nessa época e como o modelo político e econômico era determinante para sua criação 
e efetivação.
Retomaremos ainda o tema da institucionalização da prática do assistente social e a atualização que o 
contexto histórico‑político exigia da profissão. Vamos relembrar as principais influências filosóficas do serviço 
social, como também os movimentos internos da própria profissão e a compreensão crítica dos Documentos 
de Araxá, Teresópolis, Sumaré, Alto da Boa Vista e BH, bem como do Movimento de Reconceituação e das 
principais correntes filosóficas: positivismo/estruturalismo, fenomenologia e materialismo histórico dialético.
INTRODUÇÃO
Qual é o propósito do serviço social? Por que falar da institucionalização do serviço social no Brasil? 
Essas devem ser as primeiras questões que surgem ao adentrarmos o universo deste livro‑texto.
A institucionalização do serviço social no Brasil deu‑se a partir da década de 1930, primeiramente 
com a iniciativa de grupos particulares, em evidência a ação da Igreja Católica. Sua primeira marca 
estava atrelada à visão caritativa estabelecida pela Igreja, à benesse, à benemerência.
Até aqui, sem muitas novidades... Mas, por que essa motivação? Por que institucionalizar uma profissão?
A institucionalização do serviço social se dá em um momento peculiar, quando se exigem respostas a 
demandas colocadas pela classe trabalhadora emergente. Primeiramente, por meio dos serviços sociais, 
das ações destes grupos específicos. Depois, como resposta profissional qualificada, respaldada teórico 
e metodologicamente.
Pois bem, é nesse universo que o convido a mergulhar, a fim de que conheça ainda mais a respeito 
da profissão de assistente social, a qual você escolheu seguir.
9
SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
1 O CONTEXTO HISTÓRICO EM QUE SE INTRODUZIU O SERVIÇO SOCIAL 
NO BRASIL
O serviço social no Brasil surgiu na década de 1930 – juntamente com a implantação das Leis Sociais 
– por iniciativa da Igreja Católica. As Leis Sociais eram uma regulamentação das leis trabalhistas, forçada 
pelos rumos que o mercado de trabalho nos moldes capitalista tomavam – a força de trabalho era vista 
como mercadoria, trocada por um salário preestabelecido pelo capital, que a explorava.
Com o crescimento da classe trabalhadora e do tamanho da família que a compunham, a insatisfação 
ocasionada pela condição em que estas se encontravam na sociedade capitalista obrigou o Estado e a 
Igreja a promoverem algumas concessões e modificações, que, na verdade, tinham como pano de fundo 
o controle das massas.
A questão social é fruto dessa relação de desigualdade entre as classes, refere‑se à sua formação 
enquanto classe social e de seu reconhecimento pelo Estado e em seu relacionamento com esta.
Nos anos de 1930, com o Estado Novo então instituído, defronta‑se com duas demandas emergentes: 
absorver e controlar os setores urbanos emergentes e buscar, nesses mesmos setores, legitimação política. 
Para isso, adota‑se uma política de massa, incorporando parte das reivindicações da população, porém 
controlando a autonomia dos movimentos reivindicatórios do proletariado emergente, por meio de 
canais institucionais, absorvendo‑os na estrutura corporativista do Estado (SILVA e SILVA, 1995).
Ainda segundo Silva e Silva (1995, p. 24‑25), no momento em que é vivenciado nacionalmente, o 
serviço social é um projeto embrionário de intervenção profissional, apresentando‑se como estratégia 
de qualificação do laicato da Igreja Católica, que crescia por meio da ampliação de suas ações caritativas 
aos mais necessitados. Procurava‑se, com isso, atender ao imperativo da justiça e da caridade, em 
cumprimento da missão política do apostolado social, em face do projeto de cristianização da sociedade, 
cuja fonte de justificação e fundamento é encontrada na Doutrina Social da Igreja.
Dessa forma, a intervenção profissional do assistente social estava dirigida, sobretudo, às situações 
de “pobreza” e aos “pobres ou desajustados”. O objetivo central era levá‑los a um maior ajustamento 
à ordem social vigente – visãoem que a pobreza se caracteriza um caso de polícia. Nesse contexto, a 
intervenção do serviço social se realizava preferencialmente no âmbito individual, trabalhando sobre as 
“características individuais” dos sujeitos que apresentavam algum tipo de “desajuste social”.
Portanto, a intervenção tinha um forte traço moralizador, que se travestia de “educador”; tratava‑se 
de uma verdadeira “reforma moral”.
Unidade I
10
Unidade I
Conforme Verdès‑Leroux,
o projeto profissional dos anos 30 baseava‑se na educação da classe 
operária, fornecendo‑lhes regras de bom senso e razões práticas 
de moralidade, corrigindo‑lhes seus preconceitos, ensinando‑lhes a 
racionalidade, disciplinando‑os em seus trajes, seus lares, nos orçamentos 
domésticos, na maneira de pensar. A função do assistente social nesse 
período – embebido pelo caráter militante católico – encontra‑se na missão 
ideológica da classe dominante, ou seja, na feitura da personalidade do 
indivíduo de acordo com a visão de mundo da burguesia adaptada sob a 
forma de certo humanismo cristão (1986, p. 15).
Dessa forma, foi implantado o trabalho de agentes sociais para atuarem no controle social dos que 
só tinham a sua força de trabalho para vender.
Segundo Iamamoto e Carvalho (2003), a implantação do serviço social apresenta‑e no decorrer 
desse processo histórico, o qual se iniciou a partir dos anos de 1920‑1930, nessa gênese como iniciativa 
particular de grupos e frações de classe, que se manifestavam, principalmente, por intermédio da 
Igreja Católica.
Exemplo de aplicação
Na sua compreensão, qual a influência do período histórico para o surgimento do serviço social?
2 O CONTEXTO SOCIOPOLÍTICO DA PRIMEIRA REPÚBLICA
A política do café com leite delimitava e marcava o período da Primeira República. São Paulo e Minas 
Gerais eram os principais atores do cenário econômico brasileiro nesse período.
Os estados de menor força política apresentam‑se excluídos do poder político da época, poder este 
formado pelos estados de maior concentração econômica. Já os estados como Rio Grande do Sul, Rio 
de Janeiro, Pernambuco e Bahia estavam em busca de seu espaço, atuando individualmente ou em 
conjunto. Estes estados, considerados na época de “segunda grandeza”, nas eleições presidenciais de 
1922, uniram‑se com o intuito de romper com o predomínio de Minas Gerais e São Paulo, a tão famosa 
política do café com leite.
Para tal, foi criado um movimento político de oposição chamado na época de Reação Republicana, 
que veio a lançar um candidato para concorrer as eleições, lançando o nome do fluminense Nilo Peçanha 
contra o candidato oficial, o mineiro Artur Bernardes.
Um dos princípios da Reação Republicana era ser oposição, defendendo maior independência do 
Poder Legislativo frente ao Executivo, além do fortalecimento das Forças Armadas e de alguns direitos 
11
SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
sociais do proletariado urbano, tudo isso apresentado na forma de um discurso acalorado e liberal em 
defesa da regeneração da República brasileira.
Até aí não havia grandes novidades. Mesmo com o discurso acalorado e com todo empenho, o que 
era visível era que a lei de ferro das sucessões presidenciais da Primeira República iria manter‑se, 
que a oposição iria concorrer, perder e reclamar das fraudes sem resultado. Porém, a história mostrou‑se 
diferente com a vitória da oposição, que pela primeira vez organizou‑se em uma chapa de oposição 
forte, com o apoio de importantes grupos regionais, como também com a adesão de diversos militares 
descontentes com o presidente Epitácio Pessoa, que havia nomeado um civil para a chefia do Ministério 
da Guerra.
A Reação Republicana desenvolvia sua campanha baseada em comícios populares nos maiores 
centros do país. O mais importante deles foi o comício na capital federal, quando Nilo Peçanha foi 
ovacionado pelas massas.
O clima naquela época só veio a esquentar e exaltar ainda mais os ânimos por mudanças. Em 
outubro de 1921, foram publicadas na imprensa carioca cartas atribuídas a Artur Bernardes em que este 
fazia comentários desrespeitosos sobre os militares, o que acirrou os ânimos e abriu caminho para que 
alguns oficiais iniciassem movimentos para impedir a vitória do candidato oficial.
Mesmo com todo esse movimento, a vitória foi de Artur Bernardes, porém nem a Reação Republicana 
nem os militares aceitaram o resultado, contestando seu resultado, mas o governo manteve‑se inflexível 
e não aceitou a proposta da oposição de rever o resultado eleitoral, sendo o confronto inevitável.
Em julho de 1922, algumas unidades militares do Rio de Janeiro e do Mato Grosso levantaram‑se 
contra o governo, mas foram derrotadas pela falta de articulação e de base política. Era o início do 
movimento tenentista. O governo reagiu decretando Estado de Sítio.
 Saiba mais
Para compreender ainda mais sobre o período histórico, vale a pena 
assistir a Estado de sítio, de Costa Gravas, e O país dos tenentes, de João 
Batista de Andrade.
O clima de tensão política perdurou durante toda a gestão do presidente Artur Bernardes, que 
tomava a cada dia condutas que vinham a cercear a oposição. Entre elas está a censura da imprensa, a 
prisão de centenas de oposicionistas civis e militares e seu desterro para campos de internamento no 
Norte do país. Com os grupos dissidentes vigiados e controlados, coube aos militares a vanguarda das 
ações contra o governo.
Anos mais tarde, um outro movimento eclode, a Coluna Prestes.
12
Unidade I
 Observação
A Coluna Prestes foi um movimento ocorrido entre os anos de 1925 
e 1927, encabeçado por líderes tenentistas, os quais realizavam jornadas 
para o interior do país pregando ao povo a necessidade da destituição do 
presidente, a reformulação econômica e social do país, a nacionalização 
das empresas estrangeiras fixadas no Brasil e o aumento de salários de 
trabalhadores em todos os setores rurais e industriais.
A crise política ganha novos rumos na sucessão presidencial de 1930, motivada pela cisão causada 
pela atitude de Washington Luís em indicar para sua sucessão o paulista Júlio Prestes, e não um mineiro 
como era a característica desta política. Seu interesse com essa atitude era de que se continuasse seu 
plano de estabilização financeira, rompendo assim com a aliança que havia dominado por décadas a 
política brasileira.
O rompimento do pacto Minas‑São Paulo teve como resultado direto o fortalecimento e a 
reorganização da oposição, formando a Aliança Liberal, lançando as candidaturas do gaúcho Getúlio 
Vargas para a presidência e do paraibano João Pessoa para a vice‑presidência.
Em março de 1930 realizaram‑se as eleições, e a história mais uma vez foi a mesma: venceu a 
candidatura oficial, em que, de março a outubro, sete meses de tensão política fizeram eclodir a 
derrubada de Washington Luís com a Revolução de 1930.
O período da Primeira Guerra Mundial foi marcado pela expansão da indústria brasileira, consequência 
do declínio do comércio internacional, reflexo da crise de 1929.
Com o aumento das atividades industriais, cresceu o contingente de trabalhadores organizados, 
fortalecendo o movimento operário, aumentando as greves.
Em decorrência disso, o debate sobre a questão social e sobre as medidas necessárias para 
enfrentá‑la ganhou considerável espaço no cenário político nacional e internacional, que, segundo 
Iamamoto e Carvalho (2003, p. 125), surgiu ligada diretamente à generalização do trabalho livre dentro 
da sociedade.
O Poder Legislativo dá início a um debate com vistas a encaminhar a aprovação de um Código de 
Trabalho a fim de atender as reivindicações dos trabalhadores, o que não chegou a acontecer.
É fato que para muitos políticos a questão social não era percebida como sendo de natureza 
econômica ou mesmo social, era tida como um problema de moral e de higiene, desenvolvendo ações 
ligadas a temas de educação e saúde. Com o tempo, entretanto, as questões educacional e sanitária 
ganharam suaárea própria e abriram‑se novas discussões sobre as reformas educacionais e o 
movimento sanitarista.
13
SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
Segundo Iamamoto e Carvalho (idem, p. 126), a questão social representa, em síntese, a questão 
da formação da classe trabalhadora e de sua entrada no cenário político, da necessidade de seu 
reconhecimento pelo Estado e da implementação de políticas públicas.
A fim de que esta classe fosse atendida, duas importantes legislações foram introduzidas na segunda 
metade dos anos 1920: a Lei de Férias (1925) e a Lei de Regulamentação do Trabalho de Menores 
(1926/27). A primeira visava obrigar os empresários a concederem 15 dias de férias a seus empregados, 
sem prejuízo do ordenado, mas foi sistematicamente desrespeitada. Já o Código do Menor estipulava 
a maioridade a partir dos 18 anos e propunha uma jornada de trabalho de seis horas. Ao contrário da 
Lei de Férias, enfrentou uma reação apenas parcial, com relação aos limites de idade (de 14 anos) e ao 
horário de trabalho estipulados.
O cumprimento da legislação social, entretanto, deixava muito a desejar, em razão da ausência 
de fiscalização adequada, em que apenas os trabalhadores organizados conseguiram garantir sua 
aplicação. Entretanto, essas melhorias restringiam‑se aos grandes centros do país, como São Paulo 
e o Distrito Federal, portanto não tinham caráter nacional. Mesmo a criação do Conselho Nacional 
do Trabalho, em 1923, concebido como um órgão específico para tratar de questões dessa natureza, 
não resolveu o problema. O Conselho teve atuação de caráter meramente consultivo, não chegando a 
operar como planejador de uma legislação social. Só a partir de 1928 o órgão adquiriu poderes para 
atuar como árbitro de conflitos trabalhistas.
Até a inauguração da Era Vargas, o direito social brasileiro só abrangia alguns poucos aspectos da 
questão trabalhista e menos ainda da questão previdenciária, sendo sua maior aplicabilidade após a 
Revolução de 1930.
3 ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS PARA A IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO 
SOCIAL BRASILEIRO
A institucionalização do serviço social como profissão tem sua origem nesse contexto contraditório, 
em que processos sociais, políticos e econômicos marcam a evolução das relações sociais no processo de 
consolidação do capitalismo monopolista.
O modelo econômico brasileiro de meados das décadas de 1920 e 1930 era o agroexportador, que 
tinha como objetivo abastecer o mercado europeu com produtos agrícolas de origem tropical, sendo os 
principais produtos brasileiros de exportação o café, a borracha, o açúcar e o algodão. Porém, no período 
da Primeira Guerra Mundial houve um crescimento na indústria nacional devido às dificuldades criadas 
pela disputa do mercado internacional, tanto para as exportações dos produtos agrícolas quanto para 
as importações dos manufaturados.
O Brasil na década de 1920 vivia o período da Primeira República marcado por ações fortemente 
repressoras. A repressão policial, peculiar da Primeira República, apresentava o fracasso do plano da 
burguesia em conter o avanço do movimento operário, necessitava de mecanismos mais sólidos para 
combater as contradições sociais. É aí que se evidencia a necessidade da intervenção do Estado.
14
Unidade I
A economia brasileira, portanto, entre a segunda metade do século XIX até os anos 1930 
caracterizava‑se por um modelo agroexportador, passando depois disso a adotar um modelo industrial, 
de substituição de importação, modelo urbano‑industrial. A mudança do sistema agrário‑comercial 
para o industrial produziu profundas alterações sociais, principalmente com a mudança do estilo de 
vida rural para um urbano‑industrial, levando à crescente urbanização, fenômeno que só faz agravar 
problemas e conflitos sociais, solicitando ações das instâncias majoritárias.
Esses fatores favoreceram a produção interna de bens industrializados, como também o crescimento 
dos centros urbanos em torno das indústrias, gerando a formação da classe operária no país, 
acompanhada por um processo de marginalização. A população pobre passou a ocupar as periferias 
das cidades, sem as condições mínimas de vida; faltando‑lhes todas as políticas estruturantes e sociais 
(moradia, saneamento, educação, saúde etc.). Essa acentuada pobreza contribuiu para o aparecimento 
dos movimentos sociais, que passaram a contestar a ordem estabelecida.
O cenário internacional vivenciava nesse mesmo período uma crise do comércio internacional com 
a Crise da Bolsa de Valores de Nova York em 1929, ocasionando para o Brasil mudanças na sua estrutura 
econômica. Isso porque, devido às inúmeras falências bancárias e industriais na Europa, os investimentos 
foram paralisados, o que significou para os países da América Latina o fim da entrada de capitais e a 
queda em suas exportações. Isso foi um caos para a produção cafeeira do Brasil, já que o controle 
político e econômico ainda estava nas mãos de fazendeiros.
Somada a essa crise, o movimento de outubro de 1930 apresentou‑se como o divisor de águas 
para a trajetória da sociedade brasileira, demonstrando a emergência no deslocamento para outras 
atividades econômicas.
É, portanto, nesse contexto, década de 1920‑1930, que o Brasil vivia um período marcado pelo 
aprofundamento do modelo de Estado intervencionista, sob a égide do capitalismo monopolista 
internacional e por uma política nacional que privilegiava o crescimento industrial. O desenvolvimento 
material desencadeava a expansão do proletariado e a necessidade de respostas, de uma política de 
controle que absorvesse esse segmento.
A Revolução de 1930 pôs fim à Primeira República com a posse do governo por Getúlio Vargas, após 
um golpe organizado por seus partidários. Seu governo foi caracterizado por ser forte e centralizador 
e por investir grandemente no desenvolvimento da indústria de base, para garantir a estrutura de que 
o capitalismo necessitava para expandir‑se. Com isso o governo conseguiu modernizar a economia 
nacional, acelerando o processo de industrialização.
Devido ao desenvolvimento da industrialização, a classe operária apresenta um crescimento 
exorbitante. Os operários se aglutinaram nos centros urbanos vivendo em condições insalubres, precárias 
e desumanas, próximos das indústrias, sujeitos a excessivas horas de trabalho. Um momento de crescente 
miséria e exploração de homens, mulheres e crianças.
O trabalho apresentou‑se como uma questão delicada na República Velha, devido aos avanços da 
industrialização, às condições de trabalho, as quais eram bastante precárias, sem leis que regulamentassem 
15
SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
a relação patrão‑empregado, as jornadas de trabalho eram longas, não havia férias nem aposentadoria 
ou descanso semanal remunerado, não havia proteção no trabalho para mulheres e crianças, e muitas 
fábricas tinham o ambiente insalubre.
 Lembrete
É importante ressaltar que nesse período as atenções eram segmentadas.
Quanto à área de educação, seu atendimento coube a um grupo elitizado, formados na tradição 
iluminista, reproduzindo o modelo europeu. Porém, a Igreja Católica exercia sem freios o controle da 
vida moral e cultural do país, e ainda tinha influência sobre o sistema educacional brasileiro.
Na saúde, o movimento de maior expressão foi o movimento sanitarista, importante marco no 
“processo civilizador” de construção do Estado Nacional Brasileiro e na mudança da relação entre Estado 
e sociedade. A população não via com bons olhos a iniciativa dos sanitaristas, que queriam acabar com 
as epidemias que assolavam as periferias das grandes cidades, surgindo assim várias revoltas, como a 
da Vacina.
 Lembrete
O movimento médico‑sanitarista criou uma explicação alternativa para 
a condição social do país, antecipando as ideias e percepções de reformas 
políticas, institucionais e sociais – “Estado de bem‑estar social”.
3.1 A questão social na Primeira República
A questãosocial emerge com generalização do trabalho livre, tornando a força de trabalho 
mercadoria. O operário e sua família vendem sua força de trabalho à classe dominante, estando 
sujeitos à grande exploração do capital. Exploração esta que impulsionou a luta do proletariado por 
melhores condições de vida, pois as condições de trabalho eram péssimas, cuja jornada diária era 
sempre calculada de acordo com as necessidades das empresas, e o operário e sua família trabalhavam 
somente para comer. Além do mais, não tinham férias nem auxílio‑doença, e seu lazer e cultura 
ficavam a cargo da filantropia e/ou caridade.
Com a Proclamação da República, ocorrida em 15 de novembro de 1889, um importante processo de 
transformação e de questões sociais, políticas e econômicas ocorreu por meio da união de duas forças: 
o exército e os fazendeiros de café.
Essas forças se unem por razões diferentes, mas pelo mesmo objetivo: a extinção do governo Imperial; 
extinção ocorrida sem a participação do povo.
16
Unidade I
Os diferentes interesses entre o exército e os fazendeiros causaram sua desunião, pois o exército 
estava movido pela razão corporativista e ideológica, na busca de afirmação como instituição importante, 
já os fazendeiros eram movidos por interesses econômicos.
Na luta que esses grupos travaram, os militares conquistaram o poder. Entre os primeiros decretos do 
governo militar estavam o banimento da Família Real, a separação entre a Igreja e o Estado, a instituição 
do casamento, a grande nacionalização e a criação da bandeira republicana com o lema positivista 
“Ordem e Progresso”.
Em 1891 é promulgada a primeira Constituição Republicana dos Estados Unidos do Brasil, que 
estabelece como forma de governo a República Federativa Presidencialista, com os seguintes princípios 
básicos: o federalismo, o presidencialismo e o regime de representatividade. Dessa forma, o país 
passa a ter 20 estados autônomos, a ser chefiado pelo governo da federação, que seria o presidente, 
e a ter eleições diretas de acordo com as normas eleitorais. Seu artigo 5º diz que a União deveria 
prestar “socorros públicos” – quando solicitada pelos Estados – e nos casos de calamidade pública 
(MESTRINER, 2008).
Essa Constituição tem um sentido administrativo e não social, pois a proteção fica restrita somente 
aos funcionários públicos, e em caso de invalidez.
Os direitos sociais dos trabalhadores já haviam sido editados anteriormente à Proclamação da 
República, mas é somente com a Constituição de 24/02/1891 que vão ser legitimados enquanto 
direitos reclamáveis.
 Saiba mais
Para aprofundamento do assunto, assista a 
Guerra de Canudos, de Sérgio Resende.
Baile perfumado, de Paulo Caldas e Lírio Ferreira. 
Neste período político, era evidente a “política dos governadores”, no entanto não impedia a luta 
dos grupos oligárquicos pela presidência da República, em que a disputa era entre os Estados de 
São Paulo e Minas Gerais pela chefia do Poder Executivo, elegendo oito dos treze presidentes na 
Primeira República.
Nesse momento, a mão de obra estrangeira passa a ser usada na lavoura de café e também na 
indústria; formam‑se grandes contingentes de trabalhadores estrangeiros assalariados, tanto nas 
fazendas como nas indústrias. Com isso, há uma desvalorização dos salários pagos a esses trabalhadores 
por conta do crescimento da mão de obra disponível, levando os trabalhadores a uma situação de 
extrema pobreza.
17
SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
Muitos imigrantes, para enfrentar a pobreza e para sobreviver, buscavam agregar‑se às famílias mais 
abastadas a fim de terem supridas suas necessidades básicas, em troca, prestavam todos os tipos de serviços.
O fortalecimento da indústria determinou o desenvolvimento da vida urbana, na qual surgiram novas 
forças sociais e políticas, como: a burguesia industrial, as classes médias urbanas e a classe operária.
A capacidade de articulação e organização dos trabalhadores em prol de ajuda mútua acabou por 
revelar o poder que esta classe, unida, possuía, iniciando um período de manifestações que vão gerar 
greves, como as de 1917 e 1919. Com isso, o Estado percebe a necessidade de reprimir tais manifestações 
e começa a tratar a “questão social” como caso de polícia.
Diante dessas situações, o Estado promulga alguns decretos a fim de amenizar os conflitos, 
tais como: regulação das condições sanitárias das indústrias, assim como o trabalho de menores e 
mulheres. Porém, essas medidas são pontuais e sem nenhuma expressão, por não apresentar uma 
fiscalização efetiva.
Com a intenção de regulamentar algumas medidas assistenciais, determinadas indústrias tomam a 
iniciativa de executar ações assistenciais de modo privado, porém não recebem respaldo do Estado nem 
do patronato para implementá‑las.
Mesmo com todo processo que sinalizava mudanças, é apenas no ano de 1919 que é implantada a 
primeira medida de Legislação Social, a qual responsabiliza as empresas pelos acidentes de trabalho, 
porém não são apresentadas mudanças significativas. A fim de se prevenir, o patronato criou 
companhias seguradoras, responsáveis pelo pagamento dos benefícios, mas igualmente fontes de 
acumulação de capital.
Em 1920 foi criada a Comissão Especial de Legislação Social da Câmara dos Deputados, com a 
função de analisar toda e qualquer iniciativa legislativa na área trabalhista. A lei de criação das Caixas de 
Aposentadorias e Pensões, de 1923, é considerada a primeira lei de previdência social. Também conhecida 
como Lei Eloy Chaves, nome do autor do projeto, ela concedia aos trabalhadores associados às Caixas 
ajuda médica, aposentadoria, pensões para dependentes e auxílio funerário. Essa lei beneficiou, de início, 
apenas os trabalhadores ferroviários. Somente três anos mais tarde seus benefícios foram estendidos 
aos trabalhadores das empresas portuárias e marítimas.
 Observação
A Lei Eloy Chaves foi um marco para o início da Previdência Social 
no Brasil.
Criam‑se as Caixas de Aposentadorias e Pensões para os empregados das empresas de estrada de 
ferro do país e também o Conselho Nacional do Trabalho. Essas leis tornam‑se importantes instrumentos 
de justiça social na Constituição de 1934.
18
Unidade I
É neste período, que a “questão social” começa a ser entendida como alvo de intervenção 
mais organizada.
Nessa época, como relata Yazbek (2009), a “questão social” é compreendida à luz do pensamento 
social da Igreja como questão moral, como um conjunto de problemas sob a responsabilidade individual 
dos sujeitos que os vivenciam, embora situados dentro de relações capitalistas. Esse enfoque conservador, 
individualista, “psicologizante” e moralizador da questão demanda para seu enfrentamento uma 
pedagogia psicossocial, que encontrará no serviço social efetivas possibilidades de desenvolvimento.
Na gênese do serviço social, os referenciais que orientavam sua ação eram pautados na doutrina 
social da Igreja, no ideário franco‑belga de ação social e no pensamento de São Tomás de Aquino (século 
XII): o tomismo e o neotomismo (retomada, em fins do século XIX, do pensamento tomista por Jacques 
Maritain na França e pelo Cardeal Mercier na Bélgica, tendo em vista “aplicá‑lo” às necessidades de 
nosso tempo). É, pois, nessa relação com a Igreja Católica que o serviço social brasileiro vai fundamentar 
a formulação de seus primeiros objetivos político‑sociais, orientando‑se por posicionamentos de cunho 
humanista conservador, contrários aos ideários liberal e marxista, na busca de recuperação da hegemonia 
do pensamento social da Igreja em face da questão social (YAZBEK, 2009).
A partir daí, a Igreja Católica começa a desenvolver ações assistenciais de grande expressão, diante 
do desinteresse ao Estado. Expandem‑se a participação dos leigos e o movimento da Ação Católica em 
todo país
Exemplo de aplicação
A partir do contexto já explicitado e estudado, qual a sua concepção quanto à questão social? Como 
você a verifica – suas expressões– nesse período?
3.2 As primeiras respostas quanto à questão social
A partir de 1930, com uma crise econômica ameaçando o mundo, o Estado é impelido para um novo 
posicionamento frente à sociedade e se apresenta, mais claramente, na mediação da relação capital/trabalho. 
Sob a aparência de mediador, implementava uma política que viabilizava os ditames do capitalista.
A entrada do Estado na relação capital/trabalho também o direcionou a assumir responsabilidades 
pela manutenção, reprodução, qualificação e controle das classes populares e trabalhadoras.
Na história brasileira percebe‑se a entrada do Estado na área da assistência com a institucionalização 
dos seguros sociais (a exemplo a Lei Eloy Chaves, 1923). A partir de então, o Estado passava a reconhecer 
a questão social como uma questão a ser resolvida no campo da política.
O Estado passa a necessitar da nova técnica social e do serviço social para a operacionalização 
da política de assistência social. Nesse sentido, a origem do serviço social se atrela ao processo de 
19
SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
responsabilização do Estado no campo assistencial. A assistência, cada vez mais sob a responsabilidade 
do Estado, é oferecida à sociedade como benevolência, reforçando a imagem de Estado benfeitor.
Tratava‑se de um período em que o poder presidencial era supremo devido ao governo ditatorial.
A intervenção do Estado tanto no trabalho quanto na economia apresenta‑se através da criação de 
instituições estatais e de economia mista. Nesse mesmo contexto, abria‑se um importante mercado de 
trabalho dentro do aparato estatal e na esfera privada.
Os efeitos da exploração capitalista do trabalho assalariado são reconhecidos pela sociedade e 
passam a ser identificados como problemas sociais, e são esses problemas sociais que vão justificar a 
ação profissional do assistente social.
O Estado respondeu a essa questão social como questão de polícia, presente na repressão maciça. Além 
disso, promulga alguns decretos e leis: a Lei de Férias (15 dias) e o Código de Menores (regulamentando 
as horas de trabalho das crianças). As empresas também começaram a oferecer uma precária assistência 
aos operários, por meio de vilas operárias, ambulatórios, creches, escola, entre outros.
A década de 1940 foi marcada pela implantação do Estado Novo (1937‑1945), sendo considerado 
no campo político um governo ditatorial, já que o mesmo fechou o Congresso Nacional e impôs uma 
nova Constituição com características antidemocráticas, além da aplicação da censura e de um regime 
de caráter populista. Porém, o país fez grandes avanços econômicos, com a modernização industrial 
e de infraestrutura, como também foram beneficiados os trabalhadores com leis trabalhistas que lhes 
garantiam diversos direitos.
O período que se iniciou em 1945 foi marcado pelo ingresso do país no cenário político democrático, 
mesmo diante da precariedade institucional, política e social que vivia o país. O governo empreende 
uma política nacionalista, visando levar o Brasil a um desenvolvimento industrial autônomo, fazendo 
crescer a indústria nacional, a produção agrícola, a produção industrial e os salários.
A implantação e o desenvolvimento das grandes instituições sociais e assistenciais criarão as 
condições para a existência de um crescente mercado de trabalho para o campo das profissões de cunho 
social, permitindo um desenvolvimento rápido do ensino especializado de serviço social.
Nesta lógica contraditória entre o capital e o trabalho, a questão social representa não só as desigualdades, 
mas também o processo de resistência e luta dos trabalhadores, que vem a revelar desigualdades sociais, 
políticas, econômicas, culturais, bem como expõe a luta pelos direitos da maioria da população, ou como 
os homens resistem à subalternização, à exclusão e à dominação política e econômica.
Segundo essa perspectiva, a reprodução das relações sociais é a reprodução de determinado modo de 
vida, do cotidiano, de valores, de práticas culturais e políticas e do modo como se produzem e se expressam 
as ideias nessa sociedade. É importante ter em mente que essas ideias expressam‑se em práticas sociais, 
políticas, culturais e padrões de comportamento que permeiam toda a trama de relações da sociedade.
20
Unidade I
Em síntese, essa perspectiva traz à luz que o exercício profissional desenvolve‑se no contexto de 
relações entre classes. Yazbek (2009) conclui afirmando que
o serviço social participa tanto do processo de reprodução dos interesses de 
preservação do capital quanto das respostas às necessidades de sobrevivência 
dos que vivem do trabalho. Não se trata de uma dicotomia, mas do fato de 
que ele não pode eliminar essa polarização de seu trabalho, uma vez que as 
classes sociais e seus interesses só existem em relação. Relação que, como já 
afirmamos, é essencialmente contraditória e na qual o mesmo movimento 
que permite a reprodução e a continuidade da sociedade de classes cria as 
possibilidades de sua transformação.
4 A IGREJA CATÓLICA NO BRASIL FACE AO CONTEXTO HISTÓRICO E SUA 
REAÇÃO RENOVADORA
Após os movimentos sociais que emergiram no período pós‑guerra, a questão social por definitivo 
é posta perante a sociedade – protoformas para a intervenção do serviço social, legitimada segundo 
respostas do Estado.
O processo perfilado nessa época é acelerado no período subsequente, década marcada pela presente 
mobilização da Igreja Católica, por meio do movimento católico leigo.
O cenário do final do século XIX na Europa foi marcado por uma situação social de miséria e 
exploração decorrentes da industrialização e do desenvolvimento do capitalismo. Como vimos na 
análise da Rerum Novarum, essa situação ressalta a dimensão que se dá à questão social, reconhecida 
como tempos de crise marcados pela decadência moral e dos costumes cristãos (AGUIAR, 1995, p. 17), 
exigindo posicionamento da Igreja. Tratando a questão social como questão operária, os apelos do papa 
Leão XIII na encíclica Rerum Novarum foram reeditados na encíclica Quadragésima Anno (1931), por 
meio da qual o papa Pio XI conclama os operários cristãos a se unirem pela restauração dos costumes e 
pela reforma social sob a égide do cristianismo.
É nesse contexto que surge o serviço social, como um departamento especializado da Ação Social, 
embasada em sua doutrina social.
O serviço social no Brasil surgiu na década de 1930 – por iniciativa da Igreja Católica – juntamente 
com a implantação das Leis Sociais, após os grandes movimentos sociais, colocando definitivamente a 
questão social na sociedade.
A presença da Igreja se dá face ao seu engajamento quanto ao antagonismo de classes na sociedade, 
evidenciada como uma “reação” sua perante os rumos que a sociedade trilhava.
Esse processo de reformulação da atividade político‑religiosa – com a Contrarreforma, a Igreja perdeu 
seu papel enquanto partido – iniciou‑se a partir do final da República Velha e tinha como objetivo a 
recuperação dos privilégios perdidos com o fim do Império.
21
SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
Como analisa Azevedo (2004):
As análises de conjuntura refletem a autoconsciência histórica da Igreja no 
Brasil. A legitimidade religiosa e política da Igreja no Brasil é o resultado 
de um longo processo, que acompanha a própria história do Brasil, desde 
1500. O poder estabelecido, no período colonial, promoveu um modelo de 
catolicismo, conhecido como cristandade. Nele, a Igreja era uma instituição 
subordinada ao Estado e a religião oficial funcionava como instrumento de 
dominação social, política e cultural.
A participação da Igreja se dá num contexto mais amplo, tendo‑a como Instituição Social de 
caráter religioso, portadora de uma doutrina universalizante, preocupada com os antagonismos entre 
as classes.
 Saiba mais
Para aprofundamento desse tema, assista ao filme Lutero, de direção de 
Eric Till. 
4.1 A reação católica
A IgrejaCatólica inicia um percurso, um processo a fim de reinserir‑se enquanto organização 
política. Esse movimento está demarcado nos primeiros anos da década de 1920, concomitantemente 
a outras manifestações – fundação do Partido Comunista, realização da Semana de Arte Moderna, as 
Revoltas Tenentistas.
A primeira manifestação dessa tomada de decisão, dessa reação, foi desenvolvida pelo padre Júlio 
Maria. Direcionado pelos textos de Leão XIII, ele apregoava a recatolização da nação e que a Igreja 
assumisse a questão social. Sua pregação, porém não sensibilizava.
A maior repercussão reativa foi a expressa pela pastoral de dom Sebastião Leme. Ele lançou as 
bases do que seria intitulado programa de reivindicações da mobilização católica, sugestionando o 
restabelecimento da Nação Católica.
 Observação
Nação Católica: supremacia da Igreja sobre o Estado.
A Igreja brasileira aos poucos coloca em prática as diretrizes anunciadas pelos papas Leão XIII, 
Pio X e Pio XI, que têm em dom Leme – cuja capacidade de liderança conquistou intelectuais e 
22
Unidade I
possibilitou a aproximação com o governo civil – o principal ícone para a formação do laicato 
como estratégia para a recristianização da sociedade. Dom Leme, juntamente com outros bispos, 
fundou a Confederação Católica, instituição que se configurava “promessa de solução de um 
problema vital: a transformação dos nossos católicos – sinceros, mas inoperantes – num exército 
conquistador, que sob as ordens da hierarquia se lançaria ao combate pelo reino de Cristo” 
(AGUIAR, 1995, p. 22).
A revista A Ordem, criada em 1921, e o Centro Dom Vital de 1923, apresentavam‑se como os principais 
aparatos de mobilização do laicato a fim de combater o anticlericalismo, o positivismo e o laicismo das 
instituições republicanas, expressões perigosas para a Igreja.
Entre todas as ações da Igreja, a Ação Católica configura‑se um movimento de leigos cuja 
missão é a divulgação da doutrina da Igreja em direção da reforma social. Com o direcionamento 
e o posicionamento político claros, tendo em vista a reconstrução da sociedade, ou seja, o retorno 
ao ideal da Idade Média, os valores e costumes efetivamente poderiam fazer frente ao liberalismo 
e ao comunismo.
O Centro Dom Vital soma‑se à Confederação Católica – tinha por finalidade coordenar e centralizar 
politicamente o apostolado leigo, dimensionando a sua influência social.
A Ação Católica, por meio do trabalho da Confederação Católica no Brasil e de vários segmentos da 
sociedade organizou‑se em:
• Juventude Feminina Católica;
• Juventude Católica Brasileira;
• Liga Feminina de Ação Católica para maiores de 30 anos e casadas; e
• Homens da Ação Católica para maiores de 30 anos e casados de qualquer idade.
Em síntese, a Ação Católica no Brasil é a principal ação da Igreja no início do século XX e tem 
como características:
• a intenção de reconstruir a ordem social;
• divulgar a doutrina social – “única verdade religiosa integral” (MARITAIN apud AGUIAR, 1995, 
p. 55);
• formar uma igreja universal;
• retomar uma ordem social do passado;
• formar o laicato para a ação catequizadora;
23
SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
• formar chefes e líderes, pois se entende que a elite tem poder de influência na vida social; e
• realizar a reforma social de cima para baixo (respeito à hierarquia).
Ao fim da República Velha era ainda mais evidente a identidade entre a Igreja e o Estado, crescendo 
a área de influência da Igreja com o respaldo do governo.
Com o movimento de 1930 iniciaria um novo período de mobilização do movimento católico. E é entre 
os anos de 1931‑1935 que a mobilização atingiria seu ponto culminante, readquirindo seus privilégios.
Sob a liderança de Alceu Amoroso Lima, o Centro Dom Vital aparece como exponencial para o 
movimento laico católico.
A interpretação de Alceu Amoroso Lima1, acerca do papel do serviço social, revela o ideário da época:
A sociedade sofre de dois males: o parasitismo e a insegurança. O 
parasitismo leva o homem a ser um parasita social, serve‑se dele sem o 
servir, constituindo um elemento de esgotamento e não de rendimento 
social, apenas de consumo, e não de produção. Quanto à insegurança, ela 
surge nas sociedades em transição, isto é, quando as instituições vigentes 
vacilam e a estrutura social sofre abalos exagerados sempre que procura 
novas fórmulas sociais ou que acontecimentos introduzem novos fatores de 
desordem, de dissolução ou de inovação coletiva – a sociedade perde o seu 
equilíbrio e tudo passa a ter uma existência precária e insegura.
4.2 A doutrina social da Igreja
A III Conferência Geral do Episcopado Latino‑Americano, realizada em Puebla, em 1979, define a 
doutrina social da Igreja como um “conjunto de orientações doutrinais e critérios de ação que […] 
tem sua fonte na Sagrada Escritura, na doutrina dos santos padres e dos grandes teólogos da Igreja e 
no magistério, especialmente dos últimos papas”. O objeto da doutrina social da Igreja é “a dignidade 
pessoal do homem, imagem de Deus, e a tutela de seus direitos inalienáveis”. E sua finalidade consiste na 
“promoção da libertação total da pessoa humana, em sua dimensão terrena e transcendente”.
A existência de uma doutrina social da Igreja justifica‑se pela compreensão da comunidade cristã como 
“sujeito responsável pela evangelização, libertação e promoção humana”. A encíclica Rerum Novarum, 
escrita em 1891 por Leão XIII – considerada a primeira encíclica papal que dá início ao magistério social 
– deixa isso claro: “não se pense que a Igreja se deixa absorver de tal modo pelo cuidado das almas, que 
põe de parte o que se relaciona com a vida terrestre e mortal”.
1Escritor carioca (1893‑1983) conhecido pelo pseudônimo de Tristão de Athayde. Na década de 1930, ele se firma 
como o mais influente pensador católico brasileiro. Como crítico literário, é um dos divulgadores do Modernismo. Tem 
obras em diversas áreas, como pedagogia, teologia, história, filosofia e sociologia. Converte‑se ao catolicismo em 1928 
e torna‑se presidente do Centro Dom Vital, organização de prestígio nos meios religiosos e culturais. Democrata‑cristão, 
preside, de 1935 a 1945, a Ação Católica Brasileira, grupo com militância política. 
24
Unidade I
Frente aos “sinais dos tempos”, a doutrina social da Igreja não se compreende como 
manifestação de verdades atemporais, mas como expressão conjuntural da posição da Igreja. 
Enquanto ponto de partida, a encíclica Rerum Novarum exerce um papel fundamental na 
construção sequencial da doutrina social da Igreja. Ela é a primeira expressão de um explícito 
magistério social da Igreja e, por isso, torna‑se referência incontornável para as encíclicas sociais 
que a seguem. Não é à toa que repetidas encíclicas são publicadas em datas comemorativas da 
Rerum Novarum e expressam, já em seus nomes, essa referência: a Quadragesimo Anno, de Pio XI 
(1931), a Octogesima Adveniens, de Paulo VI (1971) e, finalmente, a Centesimus Annus, de João 
Paulo II (1991).
Aprofundar, portanto, a compreensão da Rerum Novarum corresponde à tentativa de abrir 
uma porta interpretativa da complexa arquitetura da doutrina social da Igreja. A presente reflexão 
se propõe a contextualizar a Rerum Novarum em seu contexto histórico e a sistematizar seu 
conteúdo a partir da tentativa de desvelar a sua matriz de análise. Tal esforço se justifica pela 
importância que a Rerum Novarum teve, não apenas dentro do conjunto da doutrina social da 
Igreja, mais que isso: ela desenvolveu papel importante no surgimento do serviço social, que, 
pouco a pouco, vai ocupando espaço dentro da proposta da Igreja do “exercício do assistencialismo 
sob a ótica da conciliação de classe” (MANRIQUE apud WEHRLE, 2007). Portanto, compreender mais 
profundamente a carta encíclica Rerum Novarum significa aproximar‑se de forma crítica das raízes 
da profissão de assistente social.
4.2.1 A carta encíclica Rerum Novarum
A carta encíclica Rerum Novarum refere‑se,literalmente, à destruição “do século passado” 
e à “violência das revoluções políticas”. Calculando a partir de sua publicação, em 15 de maio 
de 1891, essa encíclica representa uma tentativa atrasada (em mais de 100 anos) de digerir o 
alvorecer da modernidade.
Efetivamente, o último quartel do século XVIII e o século XIX foram um tempo traumático para 
a Igreja Católica. Em 1789 eclode a Revolução Francesa e coloca fim ao Ancien Régime, isto é, ao 
modelo absolutista‑feudal. Concomitantemente, a Inglaterra acelera seu processo de industrialização, 
abrindo caminho para “os progressos incessantes da indústria […] e para a alteração das relações entre 
os operários e os patrões (Rerum Novarum)”.
Em 1847, na Alemanha, Karl Marx e Friedrich Engels fundam a Liga Comunista e, em 1848, publicam 
o Manifesto Comunista, como clara expressão da “opinião mais avantajada que os operários formam de 
si mesmos e da sua união mais compacta” (idem).
Sem dúvida, a Igreja era o principal aparelho ideológico da aristocracia feudal.
Seu “Deus criador e conservador do mundo” espelhava‑se na organização absolutista‑feudal, 
tornando o exercício do poder “[...] uma espécie de mandato realizado por delegação divina. A autoridade 
vem de Deus e é uma participação da sua autoridade suprema” (idem).
25
SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
Evidentemente,
essa concepção cristã do mundo entrou em colapso quando as novas 
condições econômicas e sociais, suscitadas pelo desenvolvimento comercial 
e industrial, asseguraram espaços institucionais para a articulação e 
propagação do pensamento moderno (GIOLO apud WEHRLE, 2007).
É inquestionável que as reflexões da Rerum Novarum manifestam marcas profundas do embate
entre a tradição católica e a ideia de liberdade que a Revolução Francesa 
carregara de um conteúdo “humanista” e ateu: todas as crises religiosas do 
século XIX são dominadas pelos debates espinhosos entre a tradição das 
igrejas e as aplicações da liberdade no plano político e social (op. cit.).
No entanto, a Rerum Novarum não tem na sua mira prioritária os Estados liberais nem 
faz referência literal ao capitalismo. Claro que aponta para os efeitos sociais desastrosos da 
Revolução Industrial, mas fixa sua “metralhadora giratória” na resposta socialista à “condição 
dos operários” (idem).
Fica nítido o posicionamento ambíguo da Rerum Novarum, que ainda insiste em se negar a encontrar 
seu lugar na modernidade. Mesmo mais de cem anos depois da Revolução Francesa, a carta encíclica de 
Leão XIII cita Maquiavel e expressa que “a quem quer regenerar uma sociedade qualquer em decadência, 
se prescreve com razão que a reconduza a suas origens” (idem). No mesmo sentido, essa encíclica faz 
repetidas referências à ideia de “regresso” (à vida e às instituições do cristianismo) e “restauração” 
e manifesta de forma explícita seu saudosismo dos tempos destruídos pela sede “das coisas novas” 
(tradução literal de Rerum Novarum2).
Apesar de não se conformar com os novos tempos e os ventos modernos, a Igreja romana conduzida 
por Leão XIII articula agilmente uma estratégia para superar a perda de sua legitimidade na sociedade 
moderna. Nesse sentido, a Igreja acaba por admitir que não poderia “continuar rejeitando in totum 
as realizações do pensamento liberal e da modernidade, sob pena de comprometer sua sobrevivência 
institucional” (GIOLO apud WEHRLE, 2007).
Ao mesmo tempo, passados cem anos da Revolução Francesa, a burguesia revolucionária já não é 
nem revolucionária nem progressista. Ao contrário, ela agora trabalha para continuar no exercício do 
poder e, portanto, está preocupada em conservar seus espaços conquistados.
O antagonismo entre progresso e reação, que marca desde as origens 
a evolução da sociedade burguesa, apresenta, a partir de 1848, um novo 
aspecto: as tendências progressistas, antes decisivas, passam a subordinar‑se 
a um movimento que inverte todos os fatores de progresso (que certamente 
2O nome das cartas encíclicas é tradicionalmente mantido em latim e sempre corresponde às primeiras palavras do 
texto do referido documento. 
26
Unidade I
continuam a existir) ao transformá‑los em fonte do aumento cada vez maior 
da alienação humana (COUTINHO apud WEHRLE, 2007).
Assim, os porta‑vozes da sede “de coisas novas” transformam‑se em uma classe conservadora, interessada 
na perpetuação do existente. Enquanto em uma primeira etapa a burguesia representava objetivamente 
os interesses da totalidade do povo – voltada que estava ao combate à reação absolutista‑feudal –, agora 
o proletariado surge na história como classe autônoma, em si e para si, capaz de resolver, em sentido 
progressista, as novas contradições geradas pelo próprio capitalismo triunfante.
Assim, a transformação conservadora da burguesia revolucionária e a necessidade da Igreja de 
assegurar uma estratégia de sobrevivência foram fatores decisivos para um entendimento entre Igreja e 
Estado burguês. E juntos encontraram no avanço socialista seu inimigo comum.
O conservadorismo católico assumia, progressivamente, matizes liberais, enquanto os liberais pareciam‑se 
cada vez mais com os conservadores. Tanto os católicos quanto os liberais conservadores passaram a 
interpretar o socialismo como o autêntico herdeiro do radicalismo revolucionário iluminista (que, segundo 
eles, representava uma constante ameaça a todo o poder constituído) (GIOLO apud WEHRLE, 2007).
Assim, podemos entender a carta encíclica Rerum Novarum como expressão clara dessa reação 
católico‑liberal ao crescente movimento socialista.
4.2.2 A visão organicista das relações sociais
Manrique afirma corretamente que “a encíclica Rerum Novarum se divide em duas partes: a solução 
proposta pelo socialismo e a solução proposta pela Igreja” (MANRIQUE apud WEHRLE, 2007). No entanto, 
mais que apontar uma proposta de sistematização simplificada do conteúdo da Rerum Novarum, importa 
apontar traços importantes da matriz de análise utilizada pela encíclica papal.
Nesse sentido é possível detectar uma visão pressuposta do mundo e da pessoa humana que 
perpassa a totalidade do documento de forma transversal. Trata‑se de uma compreensão organicista 
das relações sociais.
A partir dessa compreensão pressuposta, a Rerum Novarum atualiza na sua conjuntura específica o 
“velho mito do paraíso perdido”, isto é, aponta tendências conjunturais como fatores de destruição de 
um aparente equilíbrio anterior. Aponta o abismo social consequente desse “desvio” do caminho natural 
e deslegitima a resposta socialista como proposta válida de superação da “miséria imerecida” (op. cit.) 
dos operários. À negação da proposta socialista como alternativa real, segue a afirmação da Igreja como 
caminho único de solução da questão social. A Rerum Novarum defende a restauração do papel da Igreja 
e busca um caminho de regresso. Para isso, destaca um conjunto de princípios como eixos orientadores 
da construção de uma conciliação de classes. Ressalta, de forma impressionante e apaixonada, a defesa 
do direito natural à propriedade privada e não hesita em apontar uma desigualdade natural e necessária 
entre os seres humanos. Para finalizar, a carta encíclica distribui tarefas aos operários, aos patrões e 
ao Estado e afirma que a simples obediência ao “roteiro proposto” trará a solução para a melhoria da 
condição dos operários.
27
SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
A carta encíclica define o conjunto de relações sociais como corpo social e compreende a vida 
social como um organismo fechado. Compara a vida social com o corpo humano, que, apesar da 
real diversidade, compõe um todo orgânico que integra e adapta a diversidade de membros em uma 
maravilhosa simetria. Assim, compreende que a vida social tende naturalmente e espontaneamente 
a uma convivência harmoniosa e a um perfeito equilíbrio. Portanto, a desigualdade entre pobres e 
ricos não constitui em si um problema. Ao contrário: “os pobres, como mesmo título que os ricos, são, 
por direito natural, cidadãos, isto é, pertencem ao número das partes vivas de que se compõem, por 
intermédio das famílias, o corpo inteiro da nação” (op. cit.).
Assim, a forma de organização do corpo social constitui um todo orgânico fechado, que carrega 
em si uma espontânea tendência a um equilíbrio natural. Esse equilíbrio natural não tem relação 
nenhuma com um anseio por igualdade entre as pessoas. Ao contrário, acaba por sacralizar as formas 
concretas de organização do corpo social. Pois “a autoridade vem de Deus e é uma participação da 
sua autoridade suprema”.
A Rerum Novarum abre seu olhar para a “condição dos operários”, mas se opõe diametralmente à 
alteração, à transformação e à “subversão completa do edifício social”. A negativa frente à proposta 
socialista da subversão do edifício social indica, mais uma vez, que a estrutura existente desse edifício 
se encontra, no olhar da Rerum Novarum, no trilho do direito natural e demanda apenas a correção dos 
excessos extremados, isto é, a melhora da condição dos operários e a aproximação das duas classes.
Segundo análise feita por Wehrle (2007), a carta encíclica entra em rota condenatória da 
proposta socialista:
• A solução socialista é sumamente injusta por violar os direitos legítimos dos proprietários e por 
viciar as funções do Estado.
• Recusa aos operários o direito de possuir, na qualidade de proprietário, o fruto de seu trabalho.
• A substituição por parte dos socialistas da providência paterna pela providência do Estado vai 
contra a justiça natural e quebra os laços da família.
• Imposição da propriedade coletiva significa tornar a situação dos operários mais precária, 
retirando‑lhes a livre disposição do seu salário e roubando‑lhes toda esperança e toda a 
possibilidade de engrandecerem seu patrimônio e melhorarem sua situação.
• Além da injustiça do seu sistema, a servidão para todos os cidadãos e, como consequência 
necessária, as riquezas estancadas na sua fonte; enfim, em lugar dessa igualdade tão sonhada, a 
igualdade na nudez, na indigência e na miséria.
• Deve‑se absolutamente repudiar a teoria socialista da propriedade coletiva, pois é prejudicial 
àqueles membros a que se quer socorrer, contrária aos direitos naturais dos indivíduos, como 
desnaturando as funções do Estado e perturbando a tranquilidade pública.
28
Unidade I
Sublinha Wehrle (2007) ainda a identificação que a Rerum Novarum faz da propriedade privada 
enquanto instrumento necessário para a melhoria da condição dos operários. Essa identificação 
mostra uma falta total de compreensão da propriedade privada enquanto elo essencial no processo 
de acumulação capitalista. A Rerum Novarum vende como remédio para combater o abismo social o 
próprio vírus causador deste.
Não conseguindo compreender a inversão completa empreendida, a carta encíclica segue condenando 
a proposta socialista por se encontrar em “oposição flagrante à justiça”. Portanto, a inversão analítica 
leva a uma clara inversão nas conclusões. A proposta socialista é vista como “aberração”, seus defensores 
são identificados como “homens perversos” e sua análise é taxada de “discursos artificiosos”, que fazem 
dos operários “joguetes de esperanças enganosas e de aparências mentirosas”.
Quem prometa ao pobre uma vida isenta de sofrimentos e de trabalhos, toda 
de repouso e de perpétuos gozos, certamente engana o povo e lhe prepara 
laços, onde se ocultam, para o futuro, calamidades mais terríveis que as do 
presente (op. cit.).
4.2.3 Relação Igreja-Estado
Durante o período Colonial e depois da independência, a Igreja Católica na América Latina, inclusive 
no Brasil, dependia economicamente do poder estatal, não lhe cabendo o direito de contestar a ordem 
vigente. Quando isso acontecia, a repressão não tardava, por meio de prisões ou degredos. A criação 
das dioceses, o recolhimento do dízimo e o pagamento do clero eram atribuições do Estado. Essa 
situação caracterizava a subordinação do clero ao poder da monarquia portuguesa, sem possibilidade 
de questionamentos, uma vez que estava estabelecida a relação de dependência econômica da Igreja 
Católica em relação ao Estado.
Com o advento da República (1889), o governo provisório decretou a separação entre a Igreja 
Católica e o Estado. O rompimento marcou o começo de um novo relacionamento entre o poder 
civil e o religioso. A ala progressista da Igreja Católica brasileira acreditava que a separação do 
Estado poderia auxiliar na construção de uma identidade própria, desvinculada do poder político. 
Contudo, a desestruturação administrativa contribuiu para o reatamento com o Estado, algumas 
décadas mais tarde.
Em carta pastoral, o episcopado brasileiro aceitou a separação por não ter como reverter o 
processo; manifestou seu respeito ao poder constituído, aplaudiu, muito discretamente, a nova 
ordem e acenou para uma possível conciliação com a nova forma de governo. Na verdade, a Igreja 
Católica queria a independência, mas se sentia ameaçada em relação à sua sobrevivência econômica. 
Não contar mais com o apoio do Estado para as questões econômicas e criar mecanismos próprios 
de gerar recursos financeiros tornaram‑se uma tarefa árdua para a Igreja, uma vez que não estava 
preparada para assumi‑la.
Nos primeiros anos da República, a Igreja no Brasil ficou de certo modo alienada da realidade 
brasileira. Essa postura, de certa forma, beneficiou os grupos dominantes, principalmente as oligarquias 
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SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
responsáveis pela sustentação da República café com leite3, mantendo o controle do poder político nas 
esferas estadual e nacional. A maioria da população brasileira ficou alheia ao acesso à riqueza nacional, 
permanecendo marginalizada da sociedade.
O governo republicano, em defesa do laicato na esfera estatal, procurou quebrar o monopólio 
da Igreja Católica e desafiou o poder de organização e força do catolicismo e sua influência sobre 
a população brasileira. Apesar do esforço dos republicanos para diminuir os espaços da Igreja por 
meio da proibição do ensino religioso nas escolas e da quebra do monopólio católico diante da 
liberdade religiosa, a Igreja conseguiu manter boa base no meio rural, onde vivia a maioria da 
população brasileira.
Nas primeiras décadas do século XX, vigorava o modelo republicano liberal, que beneficiava uma 
minoria, em virtude da política econômica agroexportadora. Nesse momento a Igreja assumiu um 
discurso nacionalista, pois percebia que a população rural não era beneficiada pelo modelo econômico 
vigente, que privilegiava a burguesia cafeeira. Apesar de todos os esforços, a Igreja Católica teve que 
esperar mais quatro anos para concretizar esse anseio.
Foi com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, que houve uma mudança no relacionamento 
entre o Estado e a Igreja. Esse período marcou uma nova fase para a política econômica brasileira, 
centrada no nacionalismo. A Primeira Guerra Mundial (1914‑1918) mostrou a fragilidade do sistema 
capitalista e as consequências desastrosas de um conflito mundial, estando em jogo a disputa pela 
hegemonia econômica mundial. Acrescente‑se a essa conjuntura a quebra da Bolsa de Valores de Nova 
York (1929), que desestabilizou o sistema capitalista, trazendo pânico e desespero às economias de 
vários países. Essa crise influenciou os movimentos nacionalistas da década de 1930, destacando‑se o 
nazismo na Alemanha e o fascismo na Itália.
No Brasil, a década de 1930 foi marcada por uma intensa valorização da economia interna. A crise 
de 1929 atingiu diretamente os cafeicultores e desvalorizou o principal produto de exportação: o café. 
Em razão dessa desvalorização e do fechamento do mercado externo, incentivou‑se o desenvolvimento 
de empresas nacionais e criaram‑se obstáculos à entrada do capital estrangeiro.
Nesse contexto, a Igreja desperta o interesse do governo de Vargas, por causa de sua força e 
penetração junto ao povo. AIgreja católica tinha nas mãos o povo, em razão da ação pastoral que 
realizava nos segmentos sociais.
Como os segmentos populares também interessavam ao governo populista de Vargas, este viu 
a possibilidade de aproximação do povo valendo‑se do canal institucional da Igreja Católica. Esse 
interesse comum aproximou a Igreja do Estado, após vários anos de separação. A inauguração do 
Cristo Redentor, em 1931, foi o marco da retomada do lugar da Igreja junto ao Estado. Segundo 
Lima (1986), essa aproximação foi selada com a Constituição de 1934, que reatou as relações entre o 
Estado e a Igreja Católica, resultando em um trabalho de parceria.
3Denominação atribuída ao acordo de alternância de presidentes oriundos dos estados de São Paulo e Minas Gerais, 
cujas principais atividades eram a agricultura cafeeira e a pecuária, respectivamente.
30
Unidade I
É com esse espírito de cooperação que nos anos 1930 floresceu um movimento dentro da Igreja que 
fortaleceu o catolicismo brasileiro: o da Ação Católica, um novo jeito de ser da Igreja que marcou a ação 
pastoral até o golpe militar de 1964.
A Ação Católica foi oficialmente fundada no Brasil em 1935. Foi o primeiro programa oficial no que 
diz respeito a uma ação pastoral nacional. A Ação Católica era um movimento internacional, tido como 
algo especial na Igreja. Seu objetivo era formar o apostolado da Igreja, renovado em seu método, em sua 
aplicação, para enfrentar as novas condições impostas pelo momento histórico. A ação fundamentava‑se 
na ideia de que, por meio da participação dos leigos, seria possível construir uma igreja mais próxima do 
cotidiano das pessoas comuns. Essa participação dos leigos na Igreja mexeu com toda a sociedade. No 
campo político, os católicos fundaram, em 1930, a Liga Eleitoral Católica (LEC), que tinha por objetivos alistar, 
organizar e instruir o eleitorado católico e assegurar o voto católico para os candidatos que aceitassem o 
programa da Igreja e concordassem em defendê‑lo na convenção da futura Assembleia Constituinte.
Na eleição de 1933, para compor a Assembleia Constituinte, a maioria dos candidatos apoiados pela 
LEC foi eleita. A Igreja Católica tinha interesse na eleição de candidatos comprometidos com a causa 
católica, pois só assim seria possível manter o vínculo entre a instituição religiosa e o Estado.
A Ação Católica foi, desde a década de 1930 até meados da década de 1960, a forma organizativa 
da Igreja Católica, tanto no campo como na cidade. Independentemente da idade, todos os católicos 
estavam envolvidos com o projeto de evangelização defendido pela Ação Católica.
A Igreja Católica respondeu a questão social por meio das primeiras organizações, dentre 
elas, destacam‑se, segundo Baierl (2005), a Associação de Senhoras Católicas (Rio de Janeiro – 
1920) e a Liga das Senhoras Católicas (São Paulo – 1923), que executavam a tarefa de socializar 
o proletariado no capitalismo.
São as Ligas das Senhoras Católicas, em São Paulo, e a Associação das Senhoras Brasileiras, no Rio, 
segundo Baierl (2005), que vão assumir a educação social dos trabalhadores urbanos brasileiros, dentro 
de uma perspectiva de assistência preventiva e do apostolado social.
 Observação
A Igreja nesse contexto apresenta‑se como “sócia” do Estado.
Os movimentos a partir de 1932 diversificavam sua influência e ampliavam o aparato do 
movimento católico. A Igreja delimita uma nova visão quanto à sociedade, segundo Iamamoto e 
Carvalho (2003, p. 158):
um todo unificado através das conexões orgânicas existentes entre seus 
elementos, que se sedimentam através de tradições, dogmas e princípios 
morais de que ela é depositária. Família, corporação, nação etc., os grupos 
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SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
sociais naturais, são organismos autônomos e não apenas mera soma dos 
indivíduos que os constituem, pois possuem uma unidade independente. 
Indivíduos e fenômenos sociais coexistem, em coesão orgânica com a 
sociedade em sua totalidade.
Nesse sentido, a intervenção do Estado na questão social é legítima, cabendo à Igreja a reunificação 
e recristianização da sociedade.
 Resumo
O serviço social emerge durante o período da Primeira República, no 
responder das expressões da questão social.
Nesse período, o serviço social apresenta‑se atrelado às ações estatais, 
de cunho benemerente, que nada mais eram do que o modo de atenuar 
as expressões da classe trabalhadora descontente com sua situação de 
classe explorada.
A questão social era vista como questão de polícia e merecedora 
respostas urgentes.
A Igreja Católica é apresentada como parceira do Estado, agindo por 
meio de ações que tinham como metas respostas quanto às expressões da 
questão social.
A resposta da Igreja Católica à questão social se deu por meio das 
primeiras organizações, muitas vezes em substituição às ações do Estado.
 Exercícios
1. (Enade 2004) A interlocução do serviço social brasileiro com a tradição teórica cuja origem se 
encontra na obra de Karl Marx:
A) Iniciou‑se com o surgimento das primeiras escolas superiores para a formação de profissionais.
B) Foi estimulada pela influência que os cientistas sociais funcionalistas exerceram sobre os 
assistentes sociais.
C) Não se desenvolveu durante os vinte anos (1964‑1984) em que o país esteve submetido a um 
regime ditatorial.
32
Unidade I
D) Consolidou‑se na produção teórica divulgada nacionalmente a partir da década de 1980.
E) Está vinculada ao fortalecimento das tendências profissionais de características pós‑modernas.
Resposta correta: alternativa D.
Análise das alternativas
Para resolução desta questão faz‑se necessário conhecimento prévio do contexto sócio‑histórico do 
serviço social e da influência deste na formação ideológica da profissão.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: o surgimento das primeiras escolas de serviço social não demarcou nem abarcou a teoria 
crítica de início, pois elas partiam de uma mobilização de grupos específicos, tais como a Igreja, a qual imprimia 
na formação do assistente social uma marca peculiar, permeada de características advindas de questões 
morais e a críticas, de sacerdócio. Apenas a partir de sua inserção no âmbito da universidade, da pesquisa e da 
interlocução com as ciências sociais, elas reafirmaram o processo de renovação crítica e sua tradição teórica.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a influência funcionalista marca sim o serviço social, porém, como referenda o 
enunciado, a marca que a teoria de Marx imprime é a da crítica, diferentemente do funcionalismo.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: é neste período que se iniciam as primeiras nuances da mudança e renovação crítica 
para a profissão, mesmo sendo um período de vanguarda para os movimentos da própria profissão, 
início da reconceituação, entre outros.
D) Alternativa correta.
Justificativa: é apenas a partir da produção teórica do serviço social que se fortalece o movimento 
que enuncia mudanças estruturais da profissão.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a pós‑modernidade é o ápice da apropriação da teoria social crítica, sendo que sua 
instalação ocorreu na década de 1980.
2. (Enade 2004) No início da institucionalização do serviço social no Brasil a questão social é 
evidenciada como fruto da relação de desigualdade entre as classes, questão de sua formação enquanto 
classe, de seu reconhecimento pelo Estado e em seu relacionamento com esta. Já no marco do que se 
tem denominado teoria social crítica, a questão social é:
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SURGIMENTO E INSTITUCIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL: RECONCEITUAÇÃO
A) Produzida pela ineficácia de métodos de gestão social.
B) Constitutiva do desenvolvimento do capitalismo, pois ela não se suprime se este se conserva.
C) Uma disfunção ou ameaça à ordem e à coesão social.
D) Uma situação natural, resultante de conflitos individuais, que expressam o desejo da igualdade social.
E) Uma expressão que nasce para designar o fenômeno do pauperismo

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