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1 NOTAS DE AULA UC ELEMENTOS ESTRUTURAIS DE AÇO I / 2021 MÓDULO 6 BARRAS FLETIDAS EM PERFIS SOLDADOS E LAMINADOS IMPORTANTE: ESSAS NOTAS DE AULA SÃO COMPLEMENTARES A SEÇÃO 5.4 DA ABNT NBR8800:2008 6.1 Dimensionamento A vigas, elementos horizontais de transmissão de cargas para pilares ou outras vigas, são o principal elemento estrutural sujeito a flexão (Figura 1). No entanto, a flexão raramente ocorre sozinha, e as vigas também estão sujeitas ao esforço cortante. Figura 1 - Vigas No dimensionamento das barras submetidas a momento fletor e força cortante, devem ser atendidas as seguintes condições: RdSd MM (1) 2 RdSd VV (2) onde: MSd é o momento fletor solicitante de cálculo; MRd é o momento fletor resistente de cálculo; VSd é o esforço cortante solicitante de cálculo; VRd é o esforço cortante resistente de cálculo. As vigas devem ser verificadas aos estados limites últimos de acordo com o seguinte: em função do momento fletor, o colapso pode ocorrer por plastificação total da seção transversal, por flambagem da viga como um todo ou por flambagem local de elementos comprimidos (mesa e alma) da seção transversal. Em função da força cortante, o colapso pode se dar por escoamento ou por flambagem dos elementos resistentes a esse esforço. Por outro lado, dentre os estados limites de serviço a serem verificados nos elementos submetidos à flexão, a flecha é o predominante. Os limites admissíveis são apresentados no anexo C da norma ABNT NBR 8800:2008. 6.2 Plastificação total da seção transversal Nas figuras a seguir apresenta-se o comportamento de uma viga biapoiada (Figura 2) de seção transversal qualquer, submetida a um carregamento qualquer e fletida em relação ao eixo x. Vamos analisar o comportamento da seção mais solicitada – seção C- (de maior momento fletor), quando se aumenta progressivamete a intensidade do carregamento. Figura 2 – Viga biapoiada Inicialmente a viga está em regime elástico devido ao baixo carregamento, e as máximas tensões que ocorrem nas extremidades da seção transversal são inferiores ao limite de escoamento (<fy), conforme Figura 3a. Aumentando o carregamento, a viga ainda permanece em regime elástico até que a face superior da seção atinja o limite de escoamento (Figura 3b). O momento fletor correspondente ao início do escoamento é dado por: A B C z x y Mmáx Momento Fletor 3 yy fWM (3) Onde W é o módulo de resistência (mínimo) elástico da seção, relativo ao eixo de flexão.No entanto, de acordo com a norma as vigas reais possuem tensões residuais intrínsecas ao processo de fabricação do aço. Assim, o comportamento elástico permanece apenas até que a tensão na face comprimida atinja o valor da tensão limite de escoamento subtraído do valor da tensão residual. Então, o momento fletor correspondente ao início do escoamento, considerando elementos estruturais com tensões residuais (r) é dado por: )( ryr fWM (4) Aumentando um pouco mais o carregamento o escoamento vai se propagando para o interior da seção transversal na região de momento máximo (seção C da viga), conforme Figura 3c. Nessa fase, a partes mais externas da seção estão plastificadas. A plastificação avança até que atinja-se o momento plástico, Mpl. Toda a seção acima da linha neutra fica plastificada por compressão e toda a seção abaixo da linha neutra fica plastificada por tração. As deformações aumentam indefinidamente sob momento constante, formando assim a denominada rótula plástica. Como a viga deste exemplo é biapoiada, a formação da rótula plástica torna a viga hipostática e provoca o colapso (Figura 3d). Figura 3 – Formação da rótula plástica Início do escoamento (Figura 3a) Propagação do escoamento (Figura 3b) Formação da rótula plástica (Figura 3c) Colapso (Figura 3d) x x y y x x y y x x y y x x y y G Face comprimida Face tracionada Linha neutra elástica < fy Linha neutra elástica = fy Linha neutra elástica = fy Linha neutra elástica = fy 4 O momento fletor que provoca a formação da rótula plástica é denominado momento plástico, Mpl é dado por: ypl fZM (5) Onde Z é o módulo resistente plástico da seção e pode ser obtido no manual do fabricante. 6.3 Flambagem lateral com torção (FLT) Os elementos estruturais sujeitos a flambagem por flexão, também estão sujeitos a flambagem lateral com torção. Este tipo de flambagem é caracterizado por uma translação lateral () acrescida de uma torção (). A parte comprimida da seção apresenta a tendência de deformações laterais que provocam a rotação da seção. O impedimento de um dos deslocamentos, translação ou torção, já impede a ocorrência do fenômeno. Quanto maior for o comprimento destravado da viga, Lb, (comprimento situado entre duas seções contidas lateralmente) menor o momento fletor resistente da viga à flambagem lateral por torção. Se as contenções forem apenas os apoios, então o comprimento Lb será o vão teórico da viga. Figura 4 – Flambagem lateral com torção Fonte: Bezzera et al, 2013 Há situações em que a viga pode estar travada continuamente em toda a extensão do vão, então o comprimento destravado será igual a zero, Lb =0 e não há possibilidade de ocorrer FLT. Essa situação é típica de lajes de concreto fixadas à viga por meio de conectores de cisalhamento (“stud bolt”, por exemplo), conforme Figura 5. 5 Figura 5 – Viga com trecho com contenção lateral contínua 6.4 Flambagem local Os elementos componentes do perfil submetidos à tensões de compressão, também estão sujeitos à flambagem local. No caso de seções do tipo I (mais comum), a flambagem local pode se dar na mesa comprimida (FLM – Flambagem local da mesa) e na alma (FLA – Flambagem local da alma). Na Figura 5 a seguir pode-se visualizar um curva de resistência para FLM. De acordo com esta figura, no caso de mesas de perfis I, se o parâmetro de esbeltez for inferior à p, não ocorre flambagem local na mesa e o momento fletor resistente nominal é igual ao de plastificação da seção transversal, Mpl. A curva para FLA é um pouco diferente desta da Figura 5, mas vale o mesmo raciocínio anterior: se o parâmetro de esbeltez for inferior à p, não ocorre flambagem local na alma e o momento fletor resistente nominal é igual ao de plastificação da seção transversal. As seções das vigas são divididas em 3 classes conforme a influência da flambagem local: Seção compacta (≤p): atinge o momento de plastificação total pode configurar uma rótula plástica; Seção semicompacta (p<≤r): a flambagem local ocorre após ter desenvolvido plastificação parcial, mas sem apresentar significativa rotação; Seção esbelta (>p): a ocorrência da flambagem local impede que seja atingido o momento de início de plastificação. Laje fixada na mesa superior (comprimida) Conectores 6 Figura 6 – Curva de resistência para FLM 6.5 Momento fletor resistente de cálculo, MRd O momento fletor resistente de cálculo, MRd, deve ser determinado de acordo com o Anexos G ou H da norma. O anexo G é utilizado para a verificação de vigas de alma não-esbelta (caso mais comum de edifícios) e o anexo H para a verificação de vigas de alma esbelta. Para que a viga seja considerada de alma não-esbelta o coeficiente de esbeltez tem que ser inferior a r. Para assegurar a validade da análise elástica, o momento fletor resistente de cálculo não pode ser tomado maior que 1,50 W fy /a1, sendo W o módulo de resistência elástico mínimo da seção transversal da barra em relação ao eixo de flexão. O momento fletor resistente e os valores dos parâmetros de esbeltez são dadospela tabela G.1 da norma. Para perfis I com dupla simetria e fletidos em relação ao eixo de maior momento de inércia (caso mais comum em vigas – Figura 6), os valores de momento e esbeltez são dados pela Figura 7. Figura 7 – Viga fletida em relação ao eixo de maior momento de inércia Mpl Mr Ix = 94695cm4 Iy = 10136cm4 x x y y tw = 8,0mm tf = 9,5mm 400mm 6 5 0 m m 7 Figura 8 – Parâmetros referentes ao momento fletor resistente de seções I com dupla simetria A tensão residual r = 30% de fy, ou seja, r = 0,3 x fy. As notas relacionadas a Figura 7 anterior (trecho da Tabela G.1 da norma) são as seguintes: Cw é a constante de empenamento e dada por: J (ou It) é a constante de torção. Pode ser obtido diretamente no catálogo do fabricante ou calculado de acordo com as propriedades geométricas da seção do perfil. Na expressão de Mcr, Cb é denominado pela norma como um fator de modificação para diagrama de momento fletor não-uniforme (Cb), para o comprimento destravado (Lb) analisado. Para as situações mais usuais, Cb é dado por: 8 onde: Mmax é o valor do momento fletor máximo solicitante de cálculo, em módulo, no comprimento destravado; MA é o valor do momento fletor solicitante de cálculo, em módulo, na seção situada a um quarto do comprimento destravado, medido a partir da extremidade da esquerda; MB é o valor do momento f1etor solicitante de cálculo, em módulo, na seção central do comprimento destravado; MC é o valor do momento fletor solicitante de cálculo, em módulo, na seção situada a três quartos do comprimento destravado, medido a partir da extremidade da esquerda; Rm é igual a 1,00 em perfis com dupla simetria; Iyc é o momento de inércia da mesa comprimida em relação ao eixo de simetria (como a curvatura é reversa, esse momento de inércia refere-se à mesa de menor momento de inércia); Iy é o momento de inércia da seção transversal em relação ao eixo de simetria Referência bibliográfica BEZERRA, E. M.; SILVA, ANA LYDIA R. de C.; FAKURY, R. H.; VERÍSSIMO, G. de S. Momento fletor resistente de vigas casteladas de aço à flambagem lateral com torção. Revista da Estrutura de Aço. CBCA. Volume 2. Número 2. P. 95-114. 2013. 9 ANEXO A Exemplo de cálculo de Cb de uma viga biengastada: Mmáx = Diagrama de Momento Fletor qd 10 ANEXO B Pré-dimensionamento de uma viga Deve-se considerar, inicialmente, para fins de pré-dimensionamento, que o momento fletor solicitante de cálculo é o máximo valor desse esforço solicitante e que o perfil escolhido atingirá o momento de plastificação Mpl, o que representa a melhor situação em termos de economia de material. Exemplo: vamos considerar uma viga biapoiada com Momento Fletor Solicitante Máximo igual a 1945,8kNm e fy =350MPa. RdSd MM yxpl a pl Rd fZM M M ; 1 3 2 1 37,6115 )/(35 1,1)(194580 cmZ cmkN kNcm Z f M Z x x y aSd x Então, temos que adotar um perfil que possua um valor de módulo resistente plástico no mínimo igual a 6115,37cm3. Analisando um catalogo de viga soldada (VS) – ver imagem a seguir - poderíamos adotar como uma primeira tentativa o perfil 750x157, que apresenta um Zx = 6209cm3, ligeiramente superior ao valor encontrado no pré- dimensionamento. 11
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